Combate Classista

Teoria Marxista, Política e História contemporânea.

sábado, 24 de abril de 2010

Sobre os Manuscritos Economico-filosóficos - A Práxis como conceito fundamental do marxismo.

A Práxis como conceito fundamental do marxismo.
Santhiago Amélio Marimbondo

O trabalho como essência da práxis, mais a práxis não sendo reduzida ao trabalho.

A práxis como conceito fundante e fundamental do marxismo.

A partir do conceito de práxis é que se é possível pela primeira vez na história uma apreensão materialista (a concepção materialista como realização de uma concepção científica da realidade, como apreendendo sua objetividade, Lênin e o Materialismo e Empiriocriticismo, a impossibilidade de uma ciência burguesa efetiva, tanto na natureza quanto na história, posto esta classe ter que mascarar a realidade, a ciência como ideologia) tanto da natureza quanto da sociedade.

Através do conceito de práxis Marx começa a delinear uma ontologia do ser social, uma epistemologia e uma ontologia das ciências sociais. Diferente da sociologia burguesa essa nova concepção de mundo não isola o homem de suas relações com a natureza.

A economia como ciência social por excelência, postos que é na economia que se expressa a relação social através da qual os homens se apropriam de seu ambiente natural.

Diferença entre os manuscritos econômicos filosóficos e o capital: no primeiro esta se construindo uma epistemologia e uma ontologia da economia política, enquanto no segundo esta se construindo uma economia política crítica.

O conceito de Práxis na antiguidade

O conceito de práxis permeia a história da filosofia. Já na antiguidade clássica os filosofos gregos tinham desenvolvido um conceito de práxis, mas este era limitado por suas condições sociais. Dado o total afastamento das classes dominantes do trabalho prático, material, o fato de este trabalho material ser exercido por escravos, considerados não humanos, ou menos humanos, a conseqüente desvalorização do trabalho manual, a estaticidade da sociedade, a praticamente não existente mobilidade social, que faz com que as relações sociais sejam entendidas como algo dado, natural, o conceito de práxis como sendo deformado.

O demiurgo platônico como expressão deste conceito de práxis deformado.

A influencia da teoria das quatro causas e da concepção de teleologia no trabalho de Aristóteles como altamente influentes na concepção de práxis e de trabalho em Marx.
A extensão do conceito de teleologia e de práxis à natureza em Aristóteles, e em certa medida em Platão, base para a concepção metafísica da natureza.

Mudanças no conceito de práxis com a ascensão da burguesia

A burguesia como classe mais imediatamente ligada à produção material.
A burguesia como classe que dissolve as antigas relações sociais legadas pela idade media, sua posição social aparece como fruto de sua atividade de seu trabalho, não como algo dado, como natural: a ética protestante.

A entrada do homem como objeto da especulação filosófica e científica, a realidade social não é mais fruto da vontade divina, ou algo dado pela natureza, mas fruto da ação humana.
As diferentes maneiras como o conceito de práxis se desenvolve nos principais países da Europa são expressão de como vai se dar a luta da burguesia com sua respectiva aristocracia ao longo se sua luta por emancipação econômica e política.

Práxis e economia política

A revolução inglesa é a primeira grande revolução burguesa na Europa, ela acontece ainda com um burguesia pouco desenvolvida, incapaz de formular seus interesses de classe de maneira clara e coerente, se da, portanto, no marco de uma luta religiosa, de uma luta pela liberdade de credo.

Pelo fato de seu poço desenvolvimento a vitória da burguesia não é completa e não lhe da todo o poder político, ela ainda tem que dividi-lo com a antiga aristocracia, no marco de uma monarquia constitucional.

A economia política inglesa surge então como arma ideológica da burguesia em sua luta contra a aristocracia.

Os economistas tentam mostrar que toda a riqueza (entre os economistas clássicos, Smith e Ricardo, não há uma separação entre riqueza e valor) é criada pelo trabalho e tentam desembaraçar este trabalho de todas as suas amarras, permitindo a ele desenvolver o máximo de riqueza possível.

Tentam assim descobrir as leis que regulam a produção e distribuição da riqueza social (salário, lucro e renda da terra) e tentam eliminar todos os gastos que possam ser vistos como improdutivos, gastos com despesas públicas, com a manutenção de uma classe ou estamento de ocioso, etc.

Apesar do caráter cientifico de sua obra no momento histórico em que esta inserido, pelo fato de mostrar a superioridade do sistema de produção burguês em relação ao feudal, com o desenvolvimento das contradições da sociedade burguesa a economia perde cada vez mais seu caráter científico ainda estando nos marcos do regime burguês. Ao colocar o ponto de vista burguês como insuperável ela tem que mascarar as contradições da sociedade burguesa, não a aprende em sua objetividade.

Esboço de uma concepção materialista da história na teoria moral de Smirth.
A maior coerência lógica de Ricardo em relação a Smith (ex: a relação da lei do valor e dos preços de produção) ao preço de uma restrição dos objetos de estudo.

Práxis e o pensamento político francês

A burguesia francesa faz sua revolução num estagio muito mais avançado de seu desenvolvimento do que a inglesa, alem de ter a revolução gloriosa como exemplo histórico.

A França não passa por uma efetiva reforma religiosa.

Isso dará a revolução francesa um caráter mais radical, mais político, impossibilitara uma aliança entre burguesia e aristocracia na forma de uma monarquia constitucional.

Não permitirá também que esta revolução se de no marco da ilusão ideológica da reforma religiosa, lhe dará uma marca claramente política, de luta contra as antigas relações sociais e políticas e a formação de novas.

O homem é o criador das instituições políticas.

Práxis e o idealismo alemão

Os ecos da revolução francesa chegarão numa Alemanha ainda muito atrasada, o mais atrasado dos países da Europa ocidental.

Assim, o que para os franceses eram problemas práticos, a serem resolvidos com uma ação política efetiva virá para os alemãos problemas abstratos, a serem resolvidos pela força da abstração filosófica. Os problemas práticos se tornam problemas da razão pratica.

A práxis passa a ser entendida como ação moral, através da qual a realidade se concilia com as exigências da razão pura.

Conceito de práxis em Kant como atividade moral, a razão pratica como chamada a resolver as contradições da razão pura. A antinomia entre sujeito e objeto, entre fenômeno e coisa em si superada e conciliada pelas necessidades morais, ‘praticas’, a prova da existência de Deus, da liberdade, como necessidades da razão pratica.

A "Crítica da Razão Pura" (Kritik der reinen Vernunft), publicada inicialmente em 1781
Publicada em 1788, a "Crítica da Razão Prática",


A Crítica do Julgamento, ou Crítica do Juízo, (em alemão, Kritik der Urteilskraft) é um livro escrito pelo filósofo Immanuel Kant, em 1790.

No idealismo subjetivo de Fitch novamente a práxis é entendida como ação moral, mas não mais limitada pela objetividade do sujeito trancendental kantiano. Sua filosofia é expressão do período revolucionário, jacobino, da revolução francesa, sua principal obra é de 1792.
"a vontade humana é livre, e a felicidade não é o fim do nosso ser, mas a dignidade de ser feliz”

Hegel, dialética e práxis.

A filosofia hegeliana representa a consolidação do poder da burguesia na revolução francesa representada pela ascensão de Napoleão, em 1798, sua proclamação como imperador, a restauração do cristianismo como religião oficial do estado.

Sua primeira obra publicada data de 1801 e é uma critica a filosofia de Fitich, a seu aspecto revolucionário.

Mas, contraditoriamente, por seu caráter conservador a filosofia de Hegel vai se desenvolver num caráter proto-materialista, como colocará Lênin em seus cadernos filosóficos, e neste sentido será um desenvolvimento do conceito de práxis.

Esta deixa de ser entendida como atividade puramente moral, mas como atividade contemplativa através da qual o homem conhece a realiade, entendida de maneira mistificada como espírito absoluto.

Esta atividade pratica ainda não é meramente especulativa, mas efetivamente pratica, através de sua atividade sobre o ambiente, natural e social, o homem conhece e desenvolve o espírito, a fenomenologia do espírito, ciência do conhecimento, da expressão e desenvolvimento do espírito, não é puramente especulativa, mas também pratica, a dialética do senhor e do escravo, o senhor como dependente da ação do escravo, que transfoema efetivamente o mundo.

Mas apesar deste desenvolvimento o conceito de práxis em Hegel ainda é deformado, a práxis efetiva, com maior valor ontológico é a práxis do senhor, atividade através da qual ele reconhece as leis do desenvolvimento do espírito como leis do pensamento, onde se da a conciliação entre a realidade natural e a social.

A filosofia hegeliana como primeira grande síntese na modernidade do conceito de práxis.
Seu caráter conservador se da pelo fato de tentar conciliar de maneira imediata realidade e pensamento.

Em sua filosofia a realidade tal como aparece no pensamento é imediatamente a realidade em si, a superação da contradição proposta por Kant entre uma realidade em si e uma realidade para si se da pela negação da contradição. As leis lógicas, as leis da aprensão subjetiva da realidade são expressão imediata da própria realidade.

A realidade objetiva é entendida como processo de desenvolvimento e reconhecimento da própria subjetividade, cada momento da história da cultura é um momento do espírito que conhece a si mesmo.

Diferente da dialética materialista, que vê na própria dialética uma expressão subjetiva, portanto distorcida e limitada da realidade material, concreta, objetiva, a dialética idealista se vê como reconhecimento particular do movimento próprio, inerente, da realidade, não existe distância entre a expressão subjetiva e a realidade objetiva do movimento do espírito.
Daí seu caráter conservador: a história é entendida como processo através do qual o espírito reconhece a si mesmo, a histórica passa a ter um caráter místico, quando em seu processo de desenvolvimento o espírito chega a este reconhecimento de si, ou seja, quando reconhece a realidade como expressão de seu desenvolvimento, chega-se ao fim do processo histórico, a história passa a ter uma finalidade.

A dialética idealista é mais simples que a materialista, posto que pode substituir pela descoberta das mediações efetiva através do qual se desenvolve a realidade, mediações mistificadas, ideais.

A perspectiva de uma dialética idealista leva ao conservadorismo porque no processo de reconhecimento de si do espírito realidade e pensamento, ser e dever ser, se reconciliam.

Feuerbach e práxis especulativa.

O pensamento de Feurebach é expressão de um primeiro acenso da classe trabalhadora na Europa, o movimento cartista inglês, as lutas políticas do proletariado francês, ao mesmo tempo expressão dos primeiros movimentos da burguesia alemã no seu processo de emancipação política.

É também expressão das limitações destes processos.

O conceito de práxis em Feuerbach como mais superficial que em Hegel, a práxis entendida como ação moral e especulativa novamente.

O materialismo dele como algo puramente contemplativo.

A concepção de materialismo de Feuerbach como a-histórica, o materialismo como ‘verdadeira’ relação subjetiva do homem com a natureza.

A essência humana em Feuerbach como algo a-histórico, a diferença do homem e dos animais sendo entendida como genérico-especulativa, o homem contempla a si mesmo como gênero, através da religião, da filosofia, o animal simplesmente vive de maneira imediata essa generalidade.


Práxis e essência humana

Em Marx a práxis é entendida de maneira nova, como atividade através da qual o homem transforma seu ambiente e nesta ação transforma a si mesmo.

Práxis criativa e reiterativa.

A práxis como atividade inerentemente criativa, onde o homem cria o ambiente natural como ambiente humano, a práxis reiterativa como deformação desta criatividade inerente a práxis.

Práxis e alienação

A práxis reiterativa como expressão da alienação desta práxis, a práxis cria uma realidade objetiva exterior aos indivíduos, tanto materiais quanto relações sociais, estas passam a se contrapor aos indivíduos, uma realidade humanamente criada passa a se colocar como algo independente dos homens e que os controla, o capital como sua expressão mais genuína.

Práxis e estranhamento.

Esta alienação passa e gerar um sentimento de estranhamento do trabalhador em relação ao seu produto, tanto os materiais quanto as relações sociais.

Práxis e eticidade

Através de sua atividade prática o homem passa a compreender não só o mundo natural exterior a si, mas passa a compreender a si mesmo como individuo e a relações sociais engendradas por sua práxis, passa a poder julgar a legitimidade ou não das relações sociais, já que elas são fruto da ação humana por que não poderiam os homens construí-las diferentes do que são?

Passa-se a entender a relações sociais como expressão das relações que os homens estabelecem entre si para se apropriar de seu ambiente, relações que tem base na economia, mas que sobre esta base constroem toda uma gama de superestruturas pisicológicas, ideais.
Através do conhecimento da necessidade ou não das relações sociais engendradas pelos homens para se apropriar de seu ambiente estes podem julgar a legitimidade das superestruturas morais que a justificam, ou seja, analisar a eticidade ou não de certas regras morais.

Práxis como elemento constitutivo da consciência de si dos homen, é em sua atividade que o homem se torna consciente de si, nas relações de trabalho o homem tem que aprender a se controlar, controlar seus impulsos, tem que comunicar suas descobertas aos outros homens, etc. Neste sentido a práxis é base da consciência dos homens. s

A moral deles e a nossa.

Quando a burguesia entra em seu processo de declineo, ela tenta mostrar a impossibilidade de qualquer eticidade, qualquer ação moral, neste sentido teria para ela o mesmo valor. Criticando o conceito de homem, ou de essência humana, dentro de uma linha niilista, seus ideólogos tentam mostrar que não a ação desumana, posto não existir um homem para ser tomado como parâmetro.

Assim ela justifica de maneira negativa as maiores atrocidades que ela passa cometer, da exploração mais desenfreada dos trabalhadores, mulheres crianças, sua sujeição a condição de coisa, até a barbárie nazista, por exemplo, estas ações não seriam desumanas, antiéticas, pois não há um ideal de homem ao qual se reportar.

“Se deus não existe tudo é permitido” para o ideólogo burguês. Desencantamento do mundo.
O homem não é um ideal a-histórico, mas uma realidade concreta. É concreto que seja desumano um individuo ter que catar comida no lixão enquanto existe uma superprodução de alimentos e grande parte destes sejam queimados.

A eticidade das regras morais são, portanto, históricas.

A vida como valor como atividade pratica.

A ética só é possível se partimos do pressuposto da vida como valor. A legitimidade de uma forma de agir em contraposição a outras só se da quando se julga que uma forma é afirmadora da vida enquanto outra não.

Mas a vida humana não é um valor natural, biológico, mas social. A vida é a ser vivida, porque existe a poesia, a filosofia, o esporte, e mesmo as coisas naturais que fazem da vida um valor são humanamente construídas, o sexo para os homens e mulheres tem uma significação distinta, o por do sol é belo para aquele que tem sensibilidade estética para apreciá-lo.

Práxis e revolução

A práxis é atividade eminentemente revolucionária, pois parte da realidade como tal, a apreende em sua objetividade tendo como pressuposto a necessidade de sua superação, a realidade só pode ser compreendida objetivamente através da ação pratica do sujeito, ação que só pode se dar transformando esta realidade.

Um ente só é um ente objetivo quando age objetivamente sobre outros entes e quando é atingido de maneira objetiva por estes. O homem portanto é um ser objetivo por ter necessidades, por ser um ente sensível, por sofrer uma ação da realidade que lhe é exterior, e por agir sobre esta realidade de maneira transformadora, por lhe impingir sua marca, por fazer dela algo humano, algo que só poderia existir como fruto de sua ação, de sua práxis.

A revolução é feita por homens?

Uma das principais justificações dos arrivistas, reformistas e pelegos de todas as nuances, dos stalinistas aos social-democratas num sentido mais clássico, para suas posições é a colocação de que as transformações sociais obedecem a leis objetivas, exteriores a ação e vontade dos indivíduos. Não se pode negar a objetividade das leis que regem o movimento da sociedade, a sua efetividade, concreticidade, materialidade, e, portanto, o fato de elas serem independentes da vontade individual. Mas isto de maneira alguma quer dizer, como querem nos fazer crer estes filisteus, que as revoluções acontecem independendemente da ação dos indivíduos, acontecem por razões objetivas, das quais os indivíduos, dotados de consciência e vontade, não fariam parte. Os indivíduos fazem a história dentro de relações concretas, determinadas, exteriores a sua vontade e a sua consciência, mas fazem a história, com vontade e consciência. Como já colocava Hegel: ‘nada na história é feito sem paixão’. Há uma interação múltipla entre a realidade objetiva e a ação subjetiva, que no seu próprio processo se torna objetiva, daqueles que são atingidos por essa objetividade.
A história não é feita simplesmente pela contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, ou por um ser social ontologicamente determinado e abstrato, mas por homens reais, que em suas condições de vida concretas sofrem os efeitos das crescentes contradições entre os meios materiais de produção e as relações sociais por ele engendradas, sofrem de maneira ontologicamente determinada, e por serem indivíduos reais, concretos, efetivos, dotados de sensibilidade, vontade e consciência, apreendem subjetivamente estas crescentes contradições e vêem a necessidade de superá-las através de sua ação real, concreta, efetiva, material.

A concepção materialista de história nada tem a ver com um determinismo, que apreende as transformações na história como expressão mecânica das contradições econômicas, nem nada tem a ver com um voluntarismo utópico-idealista, que vê na vontade do indivíduo, ou numa vanguarda de indivíduos, os fatores pra a mudança.

Suprassume (afhebung), na verdade, estas duas concepções unilaterais, e, portanto, reducionistas, do processo histórico, reconhecendo uma realidade objetiva, material, que determina, em última instância, as possibilidades da ação histórica, tanto de maneira objetiva quanto subjetiva. A necessidade objetiva e subjetiva da transformação, suas possibilidades, suas metas, são determinadas pelos problemas efetivos, concretos, que os homens de um determinado momento histórico enfrentam. Mas, apesar dos problemas e limites de uma dada formação econômico-social serem objetivos, e também o serem as possibilidades de sua resolução, a superação desta sociedade não se dá de uma maneira objetiva-passiva, mas, antes, através de uma objetividade na qual esta contida a ação subjetiva, que em seu processo se torna objetiva, dos homens que enfrentam as contradições desta sociedade.

Práxis e revolução permanente.

A práxis é inerentemente revolucionária por ser um processo teleológico. Parte da realidade imediata, em sua objetividade, para colocar em seu processo de ação sobre ela uma finalidade que ainda não existe e não poderia existir sem esta ação. É criadora do novo.

Para justificar a necessidade do socialismo num único país os stalinistas em geral usam um argumento falacioso, sofistico, trabalhando com as contradições do conceito de teleologia.

Para agir sobre seu ambiente, tanto natural quanto social, é necessário que os homens reflitam em seus cérebros o movimento próprio da realidade, as relações causais em que ele se dá. A partir da apreensão deste movimento, a transformação da causalidade natural em uma causalidade compreendida, formulam em suas mentes uma idéia que medeia e guia sua ação sobre o ambiente (previa ideação). Ao confrontar essa ideação com a realidade tem sempre que submetê-la ao limites efetivos e concretos para sua realização, que sempre existirão. Os stalinistas, em sua apreensão deste movimento, só podem ir até aqui, mas não compreendem, ou não querem entender por interesse, que até aqui não ultrapassam o ponto de vista idealista hegeliano, “o ponto de vista da economia política”. Se o movimento prático através do qual o homem transforma seu ambiente tivesse que parar na subsunção da ideação a realidade haveria necessariamente a reconciliação entre real e racional preconizada por Hegel.
O argumento dos stalinistas é desenvolvido no seguinte sentido: ao agir de maneira revolucionária em 1917 os bolcheviques apreenderam a realidade e, a partir daí, produziram uma idéia que mediou e guiou sua ação, a necessidade de uma revolução na Rússia. Ao realizarem esta revolução seu ideal, a necessidade de uma revolução mundial, se chocou com a realidade, a falta de condições objetivas pra tal revolução mundial, tiveram, portanto, que conciliar seu ideal com esta realidade objetiva, portanto se formula a teoria da necessidade da construção do socialismo num pais isolado, idéia e realidade se reconciliam.
A falácia e sofistica de tal argumento esta colocada pelo fato de que o processo prático através do qual a ação humana, mediada por uma previa ideação, transforma seu ambiente não termina com o choque entre a idéia e a realidade que limita sua ação. Ao enfrentar o limite da realização de sua idéia na realidade objetiva o homem, através de sua atividade prática, apreende novamente esta realidade e busca solucionar os problemas, os limites de sua ação, que não permitiram sua realização efetiva, esta nova prática enfrentará novos limites, que serão resolvidos novamente de maneira pratica, e, assim, de maneira permanente, numa sempre nova revolução dos métodos e da realidade.
Ao enfrentar, portanto, os problemas da não realização da revolução mundial por eles esperada, o não acontecimento da revolução na Alemanha, por exemplo, os bolcheviques não submetem sua posições a esta nova realidade de maneira imediata, mas apreendem esta nova objetividade e formulam respostas para sua superação.


Práxis e crise de direção.

Como colocado acima a práxis é ação humana, mediada pela consciência e vontade, pressupõe, portanto, seres humanos conscientes e voluntariosos. A revolução é uma forma de práxis, talvez sua forma mais essencial, mais efetiva. Pressupõe, e então, homens dotados de consciência e vontade revolucionárias. Na falta destes homens uma revolução não pode acontecer. As revoluções não acontecem simplesmente por causas objetivas exteriores aos indivíduos, mas porque estes indivíduos sentem estas causas como objetivamente revolucionárias.

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