Alessandro de Moura
Se por um
lado não devemos apoiar o impeachment,
por outro lado, não devemos apoiar o governismo. Precisamos lutar contra as
políticas da direita e seu "golpe branco", mas também contra as
políticas anti-trabalhadores levadas a cabo pelo Governo Federal. Ou seja,
precisamos sim participar dos atos e mobilizações contra a direita, só não dá
para fazer isso indo ao encontro dos atos convocados e dirigidos pelo governo e
seus aliados.
Sabemos
que essa disputa entre a esquerda e direita do status quo não
resolve em nada as principais misérias estruturais do país (derivadas da
escandalosa concentração de renda, concentração de terras e concentração
imobiliária). Então, em princípio, entrar nessa polarização, entre aderir ou
não ao governismo, é algo como escolher com qual molho seremos
devorados... Se não tem trabalhadores no poder, tem patrão, concentração
de renda, pacotes de ajustes que atacam direitos, maior favorecimento à
super-exploração e repressão. São disputas abertas na casa grande pela
manutenção da senzala.
Por mais
pressões e confusões políticas que se apresentem nesse cenário polarizado, onde
se espera a defesa do PT como forma de unificar a esquerda, o fato é que não dá
pra confiar em uma mudança estratégica-política advinda do PT, um setor que administra
as misérias sociais em prol do patronato, dos banqueiros, industriais e
latifundiários, não pode romper com a estrutura fundiária, concentração
mobiliária, capital financeiro e privatizações. Não dá pra apoiar qualquer
setor da burguesia e seu secretariado político-sindical.
Apoiar o
governo nesse momento de crise é uma opção frente à polarização de duas
tendências administrativas do capitalismo nacional. Mas que se faça sem ilusões
e mea-culpa... A fração dirigente do PT, à frente do Governo Federal, surgiu em
1978-1979 como intermediária entre multidões operarias radicalizadas e os
interesses da ditadura. Como mediadora com os interesses burgueses de
auto-reforma. Ainda que a base proletária lhe obrigasse a sustentar um programa
mais à esquerda, surfou na onda do ascenso das lutas desviando a radicalidade
das bases para as disputas parlamentares dos cargos de administração da ordem
burguesa e do capital financeiro.
A partir
de 1989, o núcleo dirigente do PT, que conciliava com os interesses administrativos
da classe dominante, venceu a base radicalizada e definiu um programa
reformista precário e restrito. Com isso, ainda na primeira metade da década de
1990 setores expressivos da esquerda de base abandonaram o Partido. De 1994 em
diante, essa tendência avolumou-se.
Assim,
durante a década de 1990, com expulsão e afastamento de setores combativos e
revolucionários, mudança do programa e busca pela chegada aos postos de comando a qualquer custo, o PT
tornou-se um partido burguês.
A Carta
ao povo brasileiro selou novas dissidências e pavimentou o caminho do
servilismo. Uma vez no leme do Governo Federal, optou-se abertamente por
atender aos interesses do agronegócio, latifundiários, do capital financeiro,
banqueiros e industriais... Lula chegou a dizer que "foi necessário um
sindicalista pra ensinar os capitalistas a fazer capitalismo". Em seu
discurso na Avenida Paulista no dia 18 de março de 2016, reafirmou sua forma de
gestão do Estado:
O que eu posso fazer é conversar, é dialogar. É
dialogar com trabalhador, com sem terra, com com-terra, com pequeno empresário,
com mega-empresário, com grande empresário, com fazendeiro, com banqueiro. Eles
sabem que, nunca na história do Brasil, um presidente conversou tanto com eles.
E eles sabem que, nunca na história do Brasil, eles ganharam tanto dinheiro
como ganharam quando eu fui presidente da república nesse país. (Lula, discurso
na Av. Paulista, 18/03/2016. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=VzLZGFZ2AvE).
O PT e
Lula ajudaram tanto os capitalistas que, nesse momento de crise deveriam pedir
pros capitalistas lhes ajudarem a sair dessa lama. A burguesia deveria se sentir
em dívida com ele. Burguesia ingrata. Aceitou o colaboracionismo do PT e depois
jogou fora!
Lula e o
PT não governaram para a classe trabalhadora. Se a luta de classes continuar
radicalizando-se daqui pra frente, o PT e seu núcleo dirigente continuarão
opondo-se diametralmente aos interesses históricos estruturais e fundamentais
da classe trabalhadora. Dessa forma, o que está em jogo é: defesa ou não de uma
forma de governo que operou "políticas sociais" temporárias, em um
período de ampla expansão da economia internacional, mas que é pata esquerda da
dominação burguesa e patronal no país. Não dá pra esquecer que as duas frações
em disputa são formas de gestão das misérias centenárias do Brasil.
Por isso é
ruim sustentarmos qualquer esperança de soluções advindas do Governo Federal (o
comitê de negócios das classes dominantes). Para construir uma alternativa real
de esquerda, é preciso partir de um balanço crítico, coerente e profundo do
"modo petista de governar", mas também ter clareza da necessidade de
ruptura com o governismo e, assim, buscar a construção de alternativas a partir
das bases, dos locais de trabalho e não servir de público e partícipes do
entorno dessa polarização entre os administradores da estruturação de classes e
de suas misérias sociais...
Assim, a
polarização: apoiar ou não o governismo, é falsa. O único caminho, de luta
independente em relação ao patronato, a burguesia e seus lacaios, é uma frente
de esquerda sem os governistas e demais serviçais do regime.
Apoiar o
governismo nos coloca em um dos blocos administrativos sem nos possibilitar
qualquer papel como sujeitos. Além disso, frente à polarização social, é
inevitável que surjam alternativas à esquerda nos próximos anos. Aí, quanto
menos tempo perdermos com esperanças no governismo, melhor. O central
nessa discussão, em toda essa polarização, é a independência de classe. Nós,
trabalhadores e trabalhadoras, só podemos confiar em nossas próprias forças. E
não na capacidade redentora de uma ou outra fração da administração do Estado
burguês. Se nesse momento não temos força, é preciso buscar reuni-la...
Tem se
usado o argumento de que não se trata apenas de apoiar o PT indo nos seus atos
públicos, mas sim lutar contra o fascismo ascendente. Mas para fazer isso é
necessário... engrossar as fileiras do governismo... É necessário lutar contra
a ascensão da direita, mas podemos fazer isso sem engrossar as fileiras do
governismo, para isso precisamos construir atos sem os lacaios da burguesia e
seus correligionários. O que, por outro lado, não quer dizer que não pode
encontrar críticos ao petismo nos atos governistas e até mesmo setores que
estão em fase de ruptura com o governismo pela esquerda... É com esses
setores que devemos construir uma alternativa que nos possibilite lutar contra
os ajustes recessivos planejados pelo empresariado, banqueiros, e
latifundiários que tem o congresso a seu favor.
Lembremos
que o PT governou apartado dos interesses e demandas estruturais dos
trabalhadores do campo e das cidades, longe das demandas da juventude, isso
produziu os descontentamentos que eclodiram nas Jornadas de junho de
2013. Agora o PT, em sua crise agônica, desespera-se para conseguir apoio para
manter-se no poder. Governou para a burguesia e agora quer apoio do povo para...
resistir aos setores da burguesia que assediam sua administração...
O que
precisamos é de uma via independente que levante um programa de lutas contra os
ajustes do governo federal. Por isso não acho que o apoio ao governo possa
ajudar nisso. A crise econômica e política vai se aprofundar, pois não há
possibilidade imediata de reversão do quadro econômico internacional. Com isso,
segue-se degradando a política interna; emprego, inflação com redução de
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o que, por sua vez, tende a gerar
novos descontentamentos com o Governo Federal. Ainda, sabemos que quem for para
as ruas engrossar as fileiras de defesa do governo, com uma perspectiva de
critica aos ajustes, terá suas opiniões e demandas sufocadas. Os atos
convocados pelo PT e correligionários são pra unificar a defesa do governo.
Precisamos
construir mobilizações e atos próprios, com independência de classe. Dessas
ações é que surgirão setores combativos independentes do patronato e do
governismo. Em síntese, embora se possa ter a sensação de ativismo ao
posicionar-se entre governismo e anti-governismo, de fato isso não significa a
defesa dos interesses históricos e políticos da classe trabalhadora do país,
pois para isso é necessário construir uma alternativa classista.