Resenha do texto Origens, modalidades e formas de racismo, um dos textos de apoio para o
II Curso: Pan Africanismo e a esquerda diante da luta de classes
De forma geral acho que o texto tem alguns problemas graves.
Ele tenta defender que o racismo contra os negros sempre existiu, pra isso se baseia no Aristóteles e em uma passagem da bíblia.
Não tenho acordo com esta definição. Não manjo quase nada de historia antiga, só me lembro das aulas no colegial, onde se dizia que grupos europeus, mesmo antes das cidades estados, Grécia, Atenas, viviam em guerras com outros povos, tártaros, mouros, etc... Como fruto destas guerras por alimentos, territórios mais favoráveis, armas, etc... se faziam guerras e escravizavam os prisioneiros. Todos os povos extra-europa que podiam oferecer risco, eram vistos como inimigos e possíveis prisioneiros. Nao tenho como afirmar que não existi, por parte dos europeus, alguma diferenciação dos estrangeiros como negros e brancos, mas não acho que este não era o sistema dominante. Não sei se o Império Romano tinha algum desprezo maior pela população do continente africano, mas creio que seja bem possível, certamente tinha níveis distintos de se relacionar com negros, indianos, japonese e chineses.... Isso certamente a depender da forca de seus exércitos...
Mesmo depois, durante o feudalismo, a partir do seculo VI, a escravidão da era clássica não foi superada, pelo contrario, ela tornou-se servidão... vassalos do rei e tal...
Mas, com o enfraquecimento e falência do feudalismo, o enriquecimentos dos comerciantes dos burgos, e servidão entrou em crise profunda. Ai começa uma outra historia. No continente africano também existiam reis e rainhas, nobreza e tal.... Também tinham servos. Os relações entre os ferentes reinos dava-se no âmbito de relações entre mais fortes e mais fracos... Portugal foi o pioneiro na comora de servos africanos para servirem ao rei de Portugal. Isso nos anos de 1400. A coroa portuguesa não tinha gente suficiente para mandar nos navios, nas grandes navegações (que começa por volta de 1300 - como forma de fugir da crise de produção de alimentos), e conseguir ao mesmo tempo manter o numero de bracos suficientes para manutenção da sociedade portuguesa. Ai estava o germe da volta da escravização em grande escala. Por conta da sua posição geográfica e relações mais antigas com o continente africano, Portugal sera o maior intermediário destas relações.
As grandes navegações e a disputa entre Portugal e Espanha, o países que mais desenvolveram técnicas de navegação (caravela, astrolábio e bussola), deixavam Portugal em desvantagem, pois Portugal tinha um contingente populacional muito menor. Assim não tinha mão de obra suficiente para povoar os países que ocupava... No período das grandes navegações a escravidão ganha então novo folego, os índios de todo continente americano são escravizados por centenas de anos.... (tem aquele filme do Colombo que mostra bem isso). Mas Portugal viu uma vantagem maior em sequestrar a população africana (com apoio dos mercenários e elite do continente) e extradita-la pra outro continente.... Assim, como sabemos, no Brasil... a população africana escravizada ficava impossibilitada de voltar pra seu pais e para sua família. Tem um filme que vale ver, mas que eh super pesado, Amistad.
No Brasil, a elite colonial, coros, nobreza e seus consortes, viam os indios como barbaros, nao europeus que podiam ser totalmente escravizados, vendidos e tal... Simultaneamente, mesmo principio foi aplicado a população negra. Os negros e negras os bracos e as pernas da coroa e da nobreza... Seguia-se a milenar logica segundo a qual só eram realmente humanos a população europeia branca, índios, indianos, chineses, japoneses, eram mercadorias ou inimigos... não eram vistos como humanos. Apenas a raca branca era constituída por humanos genuínos. Essa crença garantia uma vida sem culpa... Sobre essa crença constituíram-se as teorias raciais, que só referendavam as relações sociais que já estavam a centenas de anos em curso... Depois que se desistiu da escravização dos índios, a escravidão e seu sistema recai com todo o peso sobre os ombros da população africana....
A própria abolição foi conduzidas por duas forcas, uma interna e outra externa. A interna era constituída pelas revoltas e rebeliões negras, a externa pelo imperialismo Ingles e frances, que queriam novos mercados consumidores. No Brasil, buscou-se agarrar-se as teorias raciais para justificar a desigualdade entre negros e brancos. Criou-se a lei de terras em 1850 para garantir que a população negra não plantasse e colhesse pra si mesma, pois isso levaria a uma redução drástica da mão de obra no pais. Assim, vejo o racismo como uma forma de explicar a desigualdade entre negros e brancos, uma vez que os negros foram expulsos das terras onde trabalhavam, substituídos nos mais variados locais de trabalho, foram obrigados a viver em quilombos e favelas... (Veja um documentário no you tube Brasil, uma historia inconveniente). Mas o pais continuou a viver a contradição do processo de escravização, pois foi o pais que mais importou negros sequestrados... E como se explica que nas favelas só existam praticamente negros e seus descendentes.... como se explica que entre os sem terra a maioria seja negra... nos trabalhos mais precários da sociedade eh ocupado por negros e negras... Foram as politicas publicas, dirigidas pela elite colonial, e depois pela burguesia brasileira durante todo o seculo XX que determinou o racismo.
Enfim, acho que se não considerarmos o processo do fim do feudalismo e os interesses das grandes navegações, fica muito mais difícil compreender os motivos da escravização da população do continente africano e mesmo da população indígena que tiveram seus países invadidos pelos colonizadores... E como consequência, se não se considera as consequências do processo pos abolição, uma abolição que não indenizou as vitimas sequestradas e extraditadas, fica muito mais difícil compreender as bases do racismo e seus maiores culpados, primeiro a Coroa Portuguesa, depois a burguesia brasileira, que, como sabemos, branca e europeia...
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