Combate Classista

Teoria Marxista, Política e História contemporânea.

sexta-feira, 18 de março de 2016

A carne é fraca, assim como a memória: apoiar ou não o governismo e o petismo nesse momento de crise?


Depois de cerca de 10 anos de crescimento econômico (ancorado na exportação de bens primários), com superfaturamento dos banqueiros, agronegócio e industriais, a crise econômica e desaceleração da economia mundial iniciada em 2008, adentrou ao solo brasileiro chacoalhando a estabilidade política e iniciando uma nova etapa histórica da luta de classes. Nesse cenário coloca-se a pergunta que não quer calar: devemos apoiar ou não o governo nessa fase crítica? Como produto da polarização entre governistas e anti-governistas, cresce a onda de que todos devem apoiar os atos governistas em defesa da presidente e seu quase Super-Ministro Lula.

         Se por um lado não devemos apoiar o impeachment, por outro lado, não devemos apoiar o governismo. Precisamos lutar contra as políticas da direita e seu "golpe branco", mas também contra as políticas anti-trabalhadores levadas a cabo pelo Governo Federal. Ou seja, precisamos sim participar dos atos e mobilizações contra a direita, só não dá para fazer isso indo ao encontro dos atos convocados e dirigidos pelo governo e seus aliados.

           Sabemos que essa disputa entre a esquerda e direita do status quo não resolve em nada as principais misérias estruturais do país (derivadas da escandalosa concentração de renda, concentração de terras e concentração imobiliária). Então, em princípio, entrar nessa polarização, entre aderir ou não ao governismo, é algo como escolher com qual molho seremos devorados... Se não tem trabalhadores no poder, tem patrão, concentração de renda, pacotes de ajustes que atacam direitos, maior favorecimento à super-exploração e repressão. São disputas abertas na casa grande pela manutenção da senzala.

         Por mais pressões e confusões políticas que se apresentem nesse cenário polarizado, onde se espera a defesa do PT como forma de unificar a esquerda, o fato é que não dá pra confiar em uma mudança estratégica-política advinda do PT, um setor que administra as misérias sociais em prol do patronato, dos banqueiros, industriais e latifundiários, não pode romper com a estrutura fundiária, concentração mobiliária, capital financeiro e privatizações. Não dá pra apoiar qualquer setor da burguesia e seu secretariado político-sindical.

        Apoiar o governo nesse momento de crise é uma opção frente à polarização de duas tendências administrativas do capitalismo nacional. Mas que se faça sem ilusões e mea-culpa... A fração dirigente do PT, à frente do Governo Federal, surgiu em 1978-1979 como intermediária entre multidões operarias radicalizadas e os interesses da ditadura. Como mediadora com os interesses burgueses de auto-reforma. Ainda que a base proletária lhe obrigasse a sustentar um programa mais à esquerda, surfou na onda do ascenso das lutas desviando a radicalidade das bases para as disputas parlamentares dos cargos de administração da ordem burguesa e do capital financeiro.

        A partir de 1989, o núcleo dirigente do PT, que conciliava com os interesses administrativos da classe dominante, venceu a base radicalizada e definiu um programa reformista precário e restrito. Com isso, ainda na primeira metade da década de 1990 setores expressivos da esquerda de base abandonaram o Partido. De 1994 em diante, essa tendência avolumou-se.

       Assim, durante a década de 1990, com expulsão e afastamento de setores combativos e revolucionários, mudança do programa e busca pela chegada aos postos de comando a qualquer custo, o PT tornou-se um partido burguês.

   A Carta ao povo brasileiro selou novas dissidências e pavimentou o caminho do servilismo. Uma vez no leme do Governo Federal, optou-se abertamente por atender aos interesses do agronegócio, latifundiários, do capital financeiro, banqueiros e industriais... Lula chegou a dizer que "foi necessário um sindicalista pra ensinar os capitalistas a fazer capitalismo". Em seu discurso na Avenida Paulista no dia 18 de março de 2016, reafirmou sua forma de gestão do Estado:
O que eu posso fazer é conversar, é dialogar. É dialogar com trabalhador, com sem terra, com com-terra, com pequeno empresário, com mega-empresário, com grande empresário, com fazendeiro, com banqueiro. Eles sabem que, nunca na história do Brasil, um presidente conversou tanto com eles. E eles sabem que, nunca na história do Brasil, eles ganharam tanto dinheiro como ganharam quando eu fui presidente da república nesse país. (Lula, discurso na Av. Paulista, 18/03/2016. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=VzLZGFZ2AvE).
      O PT e Lula ajudaram tanto os capitalistas que, nesse momento de crise deveriam pedir pros capitalistas lhes ajudarem a sair dessa lama. A burguesia deveria se sentir em dívida com ele. Burguesia ingrata. Aceitou o colaboracionismo do PT e depois jogou fora!

     Lula e o PT não governaram para a classe trabalhadora. Se a luta de classes continuar radicalizando-se daqui pra frente, o PT e seu núcleo dirigente continuarão opondo-se diametralmente aos interesses históricos estruturais e fundamentais da classe trabalhadora. Dessa forma, o que está em jogo é: defesa ou não de uma forma de governo que operou "políticas sociais" temporárias, em um período de ampla expansão da economia internacional, mas que é pata esquerda da dominação burguesa e patronal no país. Não dá pra esquecer que as duas frações em disputa são formas de gestão das misérias centenárias do Brasil.

        Por isso é ruim sustentarmos qualquer esperança de soluções advindas do Governo Federal (o comitê de negócios das classes dominantes). Para construir uma alternativa real de esquerda, é preciso partir de um balanço crítico, coerente e profundo do "modo petista de governar", mas também ter clareza da necessidade de ruptura com o governismo e, assim, buscar a construção de alternativas a partir das bases, dos locais de trabalho e não servir de público e partícipes do entorno dessa polarização entre os administradores da estruturação de classes e de suas misérias sociais...

         Assim, a polarização: apoiar ou não o governismo, é falsa. O único caminho, de luta independente em relação ao patronato, a burguesia e seus lacaios, é uma frente de esquerda sem os governistas e demais serviçais do regime.

   Apoiar o governismo nos coloca em um dos blocos administrativos sem nos possibilitar qualquer papel como sujeitos. Além disso, frente à polarização social, é inevitável que surjam alternativas à esquerda nos próximos anos. Aí, quanto menos tempo perdermos com esperanças no governismo, melhor. O central nessa discussão, em toda essa polarização, é a independência de classe. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, só podemos confiar em nossas próprias forças. E não na capacidade redentora de uma ou outra fração da administração do Estado burguês. Se nesse momento não temos força, é preciso buscar reuni-la...

       Tem se usado o argumento de que não se trata apenas de apoiar o PT indo nos seus atos públicos, mas sim lutar contra o fascismo ascendente. Mas para fazer isso é necessário... engrossar as fileiras do governismo... É necessário lutar contra a ascensão da direita, mas podemos fazer isso sem engrossar as fileiras do governismo, para isso precisamos construir atos sem os lacaios da burguesia e seus correligionários. O que, por outro lado, não quer dizer que não pode encontrar críticos ao petismo nos atos governistas e até mesmo setores que estão em fase de ruptura com o governismo pela esquerda... É com esses setores que devemos construir uma alternativa que nos possibilite lutar contra os ajustes recessivos planejados pelo empresariado, banqueiros, e latifundiários que tem o congresso a seu favor.

   Lembremos que o PT governou apartado dos interesses e demandas estruturais dos trabalhadores do campo e das cidades, longe das demandas da juventude, isso produziu os descontentamentos que eclodiram nas Jornadas de junho de 2013. Agora o PT, em sua crise agônica, desespera-se para conseguir apoio para manter-se no poder. Governou para a burguesia e agora quer apoio do povo para... resistir aos setores da burguesia que assediam sua administração...

          O que precisamos é de uma via independente que levante um programa de lutas contra os ajustes do governo federal. Por isso não acho que o apoio ao governo possa ajudar nisso. A crise econômica e política vai se aprofundar, pois não há possibilidade imediata de reversão do quadro econômico internacional. Com isso, segue-se degradando a política interna; emprego, inflação com redução de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o que, por sua vez, tende a gerar novos descontentamentos com o Governo Federal. Ainda, sabemos que quem for para as ruas engrossar as fileiras de defesa do governo, com uma perspectiva de critica aos ajustes, terá suas opiniões e demandas sufocadas. Os atos convocados pelo PT e correligionários são pra unificar a defesa do governo.

     Precisamos construir mobilizações e atos próprios, com independência de classe. Dessas ações é que surgirão setores combativos independentes do patronato e do governismo. Em síntese, embora se possa ter a sensação de ativismo ao posicionar-se entre governismo e anti-governismo, de fato isso não significa a defesa dos interesses históricos e políticos da classe trabalhadora do país, pois para isso é necessário construir uma alternativa classista.

quinta-feira, 17 de março de 2016

MOVIMENTO OPERÁRIO E SINDICALISMO EM OSASCO, SÃO PAULO E ABC PAULISTA: RUPTURAS E CONTINUIDADES (1968-1980)

Tese de doutorado defendida na UNESP/Marília


RESUMO
O trabalho aborda as atividades do movimento operário e sindical na Grande São Paulo no período 1968-1980, analisando as greves de Osasco em 1968 e as comissões de fábricas São Paulo nos anos 1970 e o ciclo de greves no ABC paulista nos anos 1978-1980. Após o golpe militar de 1964, as comissões assumem nova importância para a reorganização do movimento sindical e operário, os processos de Osasco e o surgimento da Oposição Sindical Metalúrgica em São Paulo são experiências significativas desse processo. Realizamos uma série de entrevistas com alguns dos principais dirigentes da greve de 1968 em Osasco, militantes da Oposição Sindical Metalúrgica e militantes do movimento operário do ABC paulista. O movimento operário e sindical de São Paulo foi impactado pelos processos desdobrados em Osasco nos anos 1967-1968, sobretudo pela formação das comissões e grupos clandestinos. Sob influência desses processos desenvolveu-se em São Paulo a Oposição Sindical Metalúrgica, que inspirada nas greves de Osasco, organizará comissões de fábricas e grupos clandestinos. A expressão maior da Oposição Sindical Metalúrgica se dá em sua terceira fase, de 1975 a 1980. Por fim traçamos um paralelo com a forma de organização e linha sindical praticada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Esta opõe-se em muitos aspectos àquela "tradição" que, desde o golpe militar-burguês, vinha se desenvolvendo de Osasco a São Paulo. Apoiando-se na estrutura sindical estatal/oficial, opõem-se a criação de comissões independentes do Sindicato e centraliza toda a orientação das greves nas mãos da Diretoria do Sindicato do ABC.
Palavras-chave: Movimento operário em Osasco: Comissões de fábrica: Movimento operário em São Paulo: Oposição Sindical Metalúrgica: Movimento operário no ABC paulista.

Confira o texto completo no site da UNESP: http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/135966/000858805.pdf?sequence=1&isAllowed=y

 
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