Peter Schwarz
Em 1923, uma situação revolucionária extremamente
favorável desenvolveu-se na Alemanha. Em 21 de dezembro, o Partido Comunista
Alemão (KPD), em estreita colaboração com a Internacional Comunista (Comintern
ou, ainda, III Internacional), preparou uma insurreição e cancelou-a no último
minuto. Trotsky, depois, falou de "um clássico exemplo de como é possível
perder uma situação revolucionária excepcional de importância histórica e
mundial". [1]
A derrota alemã de 1923 teve conseqüências de longo
alcance. Graças a ela, a burguesia alemã consolidou seu domínio e estabilizou a
situação por seis anos. Quando a próxima grande crise irrompeu, em 1929, a
classe trabalhadora foi totalmente desorientada pela direção stalinista do KPD.
Isso levou diretamente aos eventos fatais que culminaram na ascensão de Hitler
ao poder. A nível mundial, a derrota do Outubro Alemão aprofundou o isolamento
da União Soviética e constituiu, portanto, um importante fator psicológico e
material que fortaleceu a ascensão da burocracia stalinista.
A palestra de hoje irá se concentrar nas lições
estratégicas e táticas do Outubro Alemão, lições que se transformaram
rapidamente em um assunto polêmico de disputa entre a Oposição de Esquerda e a
Troika liderada por Stalin, Zinoviev e Kamenev. Antes de tratarmos desses
assuntos, faz-se necessário relatar os eventos de 1923.
A Alemanha em 1923
Todas as questões básicas que empurraram o
imperialismo à Primeira Guerra Mundial em 1914 — acesso a mercados e
matéria-prima para sua indústria dinâmica e a reorganização da Europa sob sua
hegemonia — continuaram sem solução em 1923. Além de terem perdido a guerra com
um tremendo custo de vidas humanas e recursos materiais, a Alemanha foi
obrigada pelo acordo de Versalhes a pagar quantias imensas em reparação ao seu
maior rival, a França, assim como a outras potências imperialistas.
Os anos imediatamente após a Guerra, de 1918 a
1921, caracterizaram-se por uma série de levantes revolucionários que somente
foram abafados pelos esforços conjuntos da Social-Democracia e das forças
paramilitares de direita. Em 11 de janeiro de 1923, as tropas francesas e
belgas ocuparam o Ruhr e reascenderam a crise social e política na Alemanha.
O governo francês justificou a ocupação militar do
centro da indústria alemã de aço e carvão declarando que a Alemanha não havia
cumprido com suas obrigações de pagar as reparações de guerra. O governo alemão
— um regime de extrema direita liderado pelo industrialista Wilhelm Cuno e
tolerado pelo Partido Social-Democrata — reagiu chamando resistência pacífica.
Na prática, isso significou o boicote das forças de ocupação pelas as
autoridades locais e as companhias do Ruhr. O governo continuou a pagar os
salários da administração local e ofereceu subsídios aos barões do carvão e do
aço para compensar suas perdas.
O resultado desses enormes gastos e da ausência de
carvão e aço do Ruhr, produtos de extrema necessidade, foi o colapso completo
da moeda alemã. O marco, já altamente inflado, era negociado a 21.000 por dólar
no início do ano. Ao final do ano, quando a inflação alcançou seu ápice, a taxa
de câmbio chegou a quase 6 trilhões de marcos por dólar — um número com 12
casas decimais!
O impacto social e político da hiperinflação foi
explosivo. A sociedade alemã foi polarizada de forma jamais vista. Para os
trabalhadores, a inflação era uma ameaça à vida. Quando recebiam seus salários
ao final da semana, estes mal cobriam o valor do papel sobre o qual as enormes
somas eram impressas. As esposas aguardavam nos portões das fábricas para
correrem ao mercado mais próximo e comprarem algo antes que o dinheiro perdesse
seu valor no dia seguinte.
Só para dar um exemplo: um ovo custava 300 marcos
no dia 3 de fevereiro. Em 5 de agosto, custava 12.000 marcos e, três dias
depois, 30.000 marcos. Mesmo sendo os salários ajustados com a inflação, o
salário médio calculado em dólares caía 50% ao longo de 6 meses. Ao mesmo
tempo, o número de desempregados inflava — de menos que 100.000 ao início do
ano a 3,5 milhões de desempregados e 2,3 milhões de trabalhadores em empregos a
curto-prazo ao final do ano.
Mas os trabalhadores não eram os únicos arruinados
pela hiperinflação. Aqueles que viviam em pensões perderam todos os seus meios
de subsistência. Aqueles que haviam economizado um pouco de dinheiro perdiam
tudo da noite para o dia. Para sobreviver, muitos tinham que vender suas casas,
jóias e tudo mais que houvessem guardado durante toda a vida, apenas para
descobrirem, no dia seguinte, que o rendimento não valia mais nada.
Arthur Rosenberg, que escreveu a primeira história
oficial da república de Weimar, em 1928, afirmou: "A expropriação sistemática
das classes médias alemãs, não por um governo socialista, mas por um Estado
burguês dedicado à defesa da propriedade privada, foi um dos maiores roubos da
história mundial". [2]
Do outro lado do abismo social estava um grupo de
especuladores, aproveitadores e industrialistas que fizeram enorme fortuna com
a inflação. Qualquer um que obtivesse acesso a moedas estrangeiras ou a ouro
poderia exportar mercadorias alemãs ao exterior e colher lucros enormes, devido
aos baixos salários. Essas eram as forças por detrás do governo Cuno. O mais
famoso deles foi Hugo Stinnes, que comprou 1.300 fábricas e fez bilhões nesse
período. Stinnes também foi, nos bastidores, um grande articulador político.
A polarização social e a falência das classes
médias fez surgir uma aguda polarização política.
O Partido Social-Democrata Alemão (SPD) perdeu
rapidamente tanto membros quanto eleitores e desintegrou-se. Desde a derrubada
do Kaiser pela Revolução de Novembro de 1918, ele havia se aliado ao alto
comando militar e às forças paramilitares de direita, as Freikorps, para
reprimir a revolução proletária e assassinar seus líderes mais destacados —
Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
O SPD era o único partido na Alemanha que defendia
a república de Weimer incondicionalmente. Todos os outros partidos burgueses
preferiram uma forma mais autoritária de dominação. Friedrich Ebert, líder do
SPD, foi o primeiro presidente da República de Weimer. Ele ocupou o gabinete
presidencial até sua morte, em 1925, isto é, durante todo o período do qual
tratamos nesta palestra.
O papel contra-revolucionário do SPD afastou muitos
trabalhadores e levou-os ao Partido Comunista Alemão, o KPD. Mas, no início de
1923, os sindicatos e camadas de trabalhadores mais conservadoras ainda
apoiavam o SPD. Com o impacto da inflação, isso mudou rapidamente.
O historiador Rosenberg, membro dirigente do KPD em
1923 (mais tarde Rosenberg juntou-se ao SPD), escreve: "Durante o ano de
1923, o SPD perdeu forças de forma constante... Os sindicatos, em especial, que
sempre haviam sido o principal pilar de influência do SPD, estavam em total
desintegração... Milhões de trabalhadores alemães não queriam mais ouvir ou
falar das velhas táticas sindicais e abanaram as associações... A desintegração
dos sindicatos era sinônimo da paralisia do SPD". [3]
Enquanto o SPD se desintegrava, trabalhadores
social-democratas ouviam atentamente o que os comunistas tinham para dizer.
Dentro do SPD desenvolveu-se uma ala esquerda pronta para colaborar com o KPD.
Como veremos, governos de coalizão da esquerda do SPD e KPD foram formados na
Saxônia e Turíngia por um breve período de outubro. Enquanto o número de
filiados do SPD diminuía, a influência do KPD crescia. Seus filiados cresceram
de 225 mil para 295 mil dentro de um ano.
Não houve eleições nacionais entre 1920 e 1924,
portanto não há estimativas confiáveis do apoio eleitoral do KPD. Mas, uma
eleição ocorrida no pequeno estado rural de Mecklenburg-Strelitz nos dá uma
idéia. Em 1920, o SPD recebeu 23.000 votos e o SPD-Independente (USPD, que mais
tarde juntou-se ao KPD), 2.000. O KPD não participou. Em 1923, ambos, o SPD e o
KPD, receberam aproximadamente 11.000 votos. No Saar, uma região mineira antes
dominada pelo catolicismo, o KPD aumentou sua votação entre 1922 e 1924 de 14.000
a 39.000.
Dentro dos sindicatos, a influência comunista
crescia proporcionalmente à custa do SPD. Quando os delegados do congresso da
União dos Trabalhadores Metalúrgicos da Alemanha foram eleitos em Berlim, o KPD
teve muito mais votos do que o SPD. Receberam 54.000 votos, enquanto que o SPD
obteve 22.000 — menos que a metade do KPD. De acordo com um líder do KPD, em
junho o partido tinha 500 seções nos principais sindicatos. Aproximadamente,
720.000 metalúrgicos apoiavam os comunistas. O historiador da Alemanha
ocidental, Hermann Weber, comenta em seu livro sobre a história do KPD: "O
ano de 1923 mostrou uma crescente influência do KPD, que tinha provavelmente a
maioria dos trabalhadores socialistas por detrás". [4]
O KPD antes de 1923
Em 1923 o KPD era tudo, exceto um partido
unificado. Tinha apenas quatro anos de idade, mas já havia passado por eventos
tumultuosos, diversas mudanças na direção, rachas e fusões e estava afetado por
intensas divisões internas.
Seu líder teórico e político mais brilhante foi,
sem sombra de dúvida, Rosa Luxemburgo, que fora assassinada apenas duas semanas
antes da fundação do partido — uma perda irreparável. Luxemburgo era uma
revolucionária de enorme coragem e integridade. Seus escritos sobre o
revisionismo e sua luta contra o giro à direita da Social-Democracia — que
vislumbrou antes e mais precisamente do que Lênin — são parte do que já foi
escrito de melhor na literatura marxista.
Mas, assim como Trotsky — e por mais tempo que ele
— Luxemburgo não tirou as mesmas conclusões organizativas que Lênin tirou,
corretamente, do revisionismo. Mesmo depois de 4 de Agosto de 1914, quando
formou o Gruppe Internationale, mais tarde chamado de Spartakusbund [Liga
Espártaco], Luxemburgo não rompeu formalmente com o SPD. Seu slogan era:
"Não abandone o partido, mude o rumo do partido".
Em 1915, os espartaquistas rejeitaram o chamado de
Lênin por uma nova internacional na Conferência de Zimmerwald e, mais tarde, em
Março de 1919, o delegado do KPD para o primeiro congresso da Terceira
Internacional, Hugo Eberlein, absteve-se na votação para a fundação de uma nova
internacional. Ele fora instruído pelo KPD a votar contra, mas foi persuadido
em Moscou de que a decisão era correta — então absteve-se.
Quando o SPD-Independente (USPD) foi formado em
1917, por membros do SPD pertencentes ao Reichstag [Parlamento Alemão] que
foram expulsos do SPD por se recusarem a votar por novos créditos para a
guerra, Luxemburgo e a Liga Espártaco uniram-se a essa organização centrista
com uma facção. Fizeram isso apesar do fato de que entre os lideres mais
proeminentes do USPD estavam Karl Kautsky e Eduard Bernstein, líder teórico do
revisionismo alemão.
Luxemburgo justifica isso em um artigo declarando
que a Liga Espártaco não se uniu ao USPD para dissolver-se em uma oposição
enfraquecida. "Ela se uniu ao novo partido — confiante no agravamento cada
vez maior da situação social e trabalhando por isso — para impulsionar o
partido adiante, para ser sua consciência encorajadora... e para tomar a liderança
do partido", escreveu ela. [5]
Luxemburgo atacou severamente a Esquerda de Bremen
— liderada por Karl Radek e Paul Frölich, posteriormente biógrafo de Luxemburgo
— que se recusou a entrar para a USPD e a descreveu como uma perda de tempo.
Ela denunciou sua defesa de um partido independente como um Kleinküchensystem
["sistema de pequenas cozinhas", no sentido da fragmentação] e
escreveu: "É uma pena que esse sistema de pequenas cozinhas esqueceu-se do
principal, as condições objetivas, que, em última análise, são decisivas e
serão decisivas para a ação das massas... Não é suficiente que um punhado de
pessoas tenha a melhor receita em seus bolsos e saibam como conduzir as massas.
O pensamento das massas deve ser libertado das tradições dos últimos 50 anos.
Isso só é possível com um grande processo de continua auto-crítica interna do
movimento como um todo". [6]
Foi somente em Dezembro de 1918, um mês depois que
três líderes do USPD uniram-se a um governo provisório, liderado pelos lideres
de direita do SPD Friedrich Ebert e Philipp Scheidemann, que os espartaquistas
romperam com o USPD. O Governo de Ebert tornou-se o executor da revolução de
Novembro. Ele logo se aliou ao comando militar. O USPD, que já tinha cumprido
seu papel, não era mais necessário.
No final do ano, em meio a violentas lutas
revolucionárias, o KPD foi finalmente fundado pela Liga Espártaco, pela
Esquerda de Bremen e mais outras organizações de esquerda.
O atraso na fundação de um verdadeiro partido
revolucionário, independente dos Social-Democratas e dos centristas se deu por
conta, até certo ponto, das muitas tendências ultra-esquerdistas que surgiram
na Alemanha no inicio dos anos 1920. A traição do SPD — primeiro em 1914,
quando apoiou a guerra e, depois, em 1918, quando afogou a revolução em sangue
— levou a uma reação entre os trabalhadores que, na ausência de uma organização
resoluta de cunho Bolchevique, buscaram diferentes formas ultra-esquerdistas ou
mesmo anarquistas. Esse problema iria atormentar o KPD por um longo tempo.
No congresso de fundação do KPD, Luxemburgo estava
com uma minoria em relação a participar das eleições para a assembléia
nacional. A maioria era contra. Também havia muitas outras tendências
ultra-esquerdistas fora do partido.
Em Abril de 1920, depois de uma revolta armada de
trabalhadores em Ruhr, a esquerda rachou e formou o KAPD [Partido Comunista
Operário da Alemanha], promovendo idéias ultra-esquerdistas,
anti-parlamentaristas e anarquistas. O KAPD levou consigo uma considerável
parcela dos membros do KPD — de acordo com algumas fontes, a maioria. Mas se
desintegrou rapidamente, já que não tinha um programa coerente. A Internacional
Comunista, com algum sucesso, tentou reaver as seções ainda sãs do KAPD e até
mesmo os convidou para um de seus congressos.
Entretanto, em 1919 foi principalmente o USPD que
se beneficiou com o giro a esquerda da classe operária. Na eleição de 1920 ao
Reichstag, o SPD recebeu 6 milhões de votos, o USPD 5 milhões e o KPD 600,000.
O USPD foi um clássico partido centrista. A direção
caminhava para a direita, cruzando com trabalhadores que caminhavam para a
esquerda. Muitos trabalhadores que apoiavam o USPD admiravam a União Soviética.
Os lideres de direita do USPD encontravam-se cada vez mais isolados. Com suas
21 condições para associação, o Segundo Congresso da Internacional Comunista
aprofundou os rachas dentro do USPD.
Em Dezembro de 1920, a maioria finalmente se uniu
ao KPD — ou VKPD [Partido Comunista Unificado da Alemanha], como ficou
conhecido por algum tempo. A minoria, mais tarde, voltou a se unir ao SPD. A
fusão com o USPD aumentou cinco vezes a quantidade de membros do KPD e o
transformou num partido de massas. Mas, os novos membros trouxeram consigo
muitos vícios do passado e tradições centristas do USPD.
Em Março de 1921, uma revolta fracassada na
Alemanha Central — a chamada Märzaktion [Ação de Março] — provocou uma nova
crise nas fileiras do KPD. Depois que o governo nacional enviou unidades
policiais até as fábricas para desarmar os operários, o KPD e o KAPD chamaram
greve geral e a derrubada do governo nacional. Esse levante foi claramente
prematuro e acabou numa derrota sangrenta.
Aproximadamente 2.000 trabalhadores foram mortos na
luta e na violenta repressão que se seguiu. Por conseguinte, Paul Levi, amigo
próximo de Rosa Luxemburgo e um dos principais líderes do partido, que
corretamente se opôs ao levante desde o começo, impiedosamente atacou o partido
em publico. Ele foi expulso e, depois, voltou ao SPD.
Os eventos do Março Alemão foram o foco do debate
no Terceiro Congresso da Internacional Comunista, realizado de 22 de Junho a 21
de Julho de 1921, em Moscou. Trotsky mais tarde descreveu o Congresso como um
"marco" e resumiu sua significância da seguinte forma: "Ele
apontou o fato de que os recursos dos partidos comunistas, tanto politicamente
quanto organizativamente, não foram suficientes para a conquista do poder. Ele
promoveu o slogan ‘Às massas,' isto é, a conquista do poder através de uma
conquista anterior das massas, realizada com base na vida cotidiana e nas
lutas. As massas continuam vivendo sua vida cotidiana em uma época
revolucionaria, mesmo que de uma maneira diferente..." [7]
O Terceiro Congresso desenvolveu exigências
transitórias, a tática da Frente Única e a palavra de ordem de Governo Operário,
para ganhar a confiança dos trabalhadores que ainda apoiavam os
Social-Democratas. Insistia-se na necessidade de trabalhar nos sindicatos.
Isso foi de encontro com a resistência furiosa das
tendências de esquerda e ultra-esquerda dentro do KPD, que promoviam a chamada
"teoria ofensiva" e rejeitavam qualquer forma de compromisso, assim
como o trabalho no parlamento e nos sindicatos. Eles eram apoiados por Nikolai
Bukharin, que seria mais tarde o líder da Oposição de Direita, que defendia uma
"ofensiva revolucionaria ininterrupta". Foi em resposta a essas
tendências que Lênin escreveu seu folheto "Esquerdismo: Doença Infantil do
Comunismo".
Ao estudarmos esses conflitos, é notável que Lênin, assim como Trotsky, tenha
tentado uma aproximação extremamente paciente das diferentes facções no KPD.
Eles tentaram educar, explicar, integrar e prevenir rachas prematuros.
Contiveram os esquentados da esquerda e da direita, que queriam expulsar seus
oponentes. Tentaram manter Levi no partido até que seu comportamento
provocativo tornou a tarefa impossível.
Durante o Terceiro Congresso, eles passaram horas
discutindo em pequenos grupos com diferentes facções da KPD. Ao mesmo tempo em
que eram intransigentes em relação à esquerda infantil, também perceberam certo
conservadorismo na liderança do partido, a qual essas esquerdas atacavam. Em
outras palavras, Lênin e Trotsky tentaram desenvolver uma direção balanceada e
experiente, treinada para lidar com contradições e reagir rapidamente assim que
uma situação se alterasse, o que entra em choque com as praticas que a
Comintern desenvolveu sob a direção de Stalin.
Os eventos do Ruhr
Retomemos alguns eventos de 1923.
Um ano e meio após o Terceiro Congresso da
Internacional Comunista (Comintern ou III Internacional), os conflitos internos
ao Partido Comunista Alemão (KPD) ainda não estavam resolvidos. Após a ocupação
do Ruhr pelo exército francês, os conflitos entre a direção majoritária do
partido e a oposição de esquerda irromperam novamente e com toda a força. As diferenças
emergiram sobre a questão do apoio dado pelo KPD ao governo da ala esquerda do
Partido Social-Democrata Alemão (SPD) na Saxônia, bem como sobre a política a
ser adotada na região do Ruhr, ocupada pelos franceses.
No momento, o partido era dirigido por Heinrich
Brandler, membro fundador da Liga Espártaco [Spartakusbund]. Enquanto muitos
dos esquerdistas passavam para a direita, uma nova facção de esquerda se
agrupava sob direção de Ruth Fischer, Arkadi Maslow e — em menor grau — Ernst
Thälmann. Fischer e Maslow eram ambos jovens intelectuais que ingressaram no
movimento após a guerra. Tinham a maioria da seção de Berlin atrás de si.
Thälmann era um trabalhador que ingressara no KPD por meio do SPD-Independente
(USPD) e era dirigente do partido em Hamburgo.
No dia 10 de Janeiro, caiu o governo do SPD na
Saxônia e o KPD conduziu uma campanha por uma frente única e um governo dos
trabalhadores. Enquanto isso, a maioria do SPD defendia uma coalizão com
partidos burgueses e apenas uma minoria de esquerda defendia a aliança com o
KPD. Este, por sua vez, desenvolveu uma forte e vigorosa agitação e publicizou
um "Programa dos Trabalhadores" que incluía as seguintes demandas:
confisco das propriedades da antiga família real; armamento dos trabalhadores;
desmantelamento do judiciário, da polícia e da administração governamental
(parlamento); chamado por um congresso dos conselhos de fábricas e pelo
controle dos preços pelos comitês eleitos.
Tais reivindicações ganharam apoio dentro do SPD,
onde a ala esquerda tornou-se maioria. Ela aceitava o "Programa dos
Trabalhadores" com apenas uma exceção: a dissolução do parlamento e a
convocação de um congresso de conselhos de fábricas. Com base nisso, retirando
esses pontos do programa, um governo do SPD foi criado com apoio do KPD.
Esse passo foi apoiado pela maioria do KPD,
inclusive por Karl Radek, no momento uma importante figura dirigente da
Internacional, mas bastante denunciado pela esquerda do KPD. Estes viam seu
apoio ao governo da Saxônia não como uma tática momentânea para ganhar os
trabalhadores social-democratas, mas como uma adaptação aos social-democratas
de esquerda, os quais consideravam iguais aos de direita. Suas suspeitas não
eram sem razão. Como mostraram os eventos ulteriores, em 21 de Outubro, Brandler
desmantelou a insurreição em preparo porque os social-democratas diziam não
estar prontos para apoiá-la.
No Ruhr, o KPD distanciava-se bastante do SPD, que
dava amplo apóio à campanha de "resistência passiva" do governo de
Wilhelm Cuno. O Governo Cuno, por sua vez, colaborava com as gangues
paramilitares — apoiadas secretamente pelo exército e composta de elementos
claramente fascistas — encorajando-as a realizar atos de sabotagem contra os
franceses. Tais medidas atraíam reacionários e fascistas de toda Alemanha para
o Ruhr. O SPD encontrou-se, portanto, em verdadeira aliança com tais forças.
O KPD denunciou o nacionalismo do SPD como um
repetição de sua política de 1914, quando votou pelos créditos da guerra
imperialista, e opôs-se fortemente a ela. Chamava pela luta tanto contra a
ocupação francesa quanto contra o governo berlinense. Uma edição do Rote Fahne
[Bandeira Vermelha — Jornal do KPD] trazia como manchete: "Lutar contra
Poincaré e Cuno no Ruhr e em Spree". Tais linhas logo se confirmaram, quando
os trabalhadores começaram a se rebelar contra as insuportáveis condições
sociais, protestando contra a ocupação francesa, contra os industrialistas
locais, bem como contra o governo de Berlin.
Mas, logo os líderes da esquerda do KPD assumiram
uma posição diferente, agitando-a nos encontros do partido em Ruhr. Ruth
Fischer defendia um chamado para que os trabalhadores tomassem as fábricas e
minas; pela tomada do poder político e o estabelecimento da República
Democrática dos Trabalhadores do Ruhr. Esta República poderia, então, tornar-se
base para um exército dos trabalhadores que, por sua vez, iria "marchar
até a Alemanha central, tomar o poder em Berlin e destruir de uma vez por todas
a contra-revolução nacionalista". [8]
Sua linha era, na verdade, aventureira, repetição
da ação de Março de 1921. Um levante no Ruhr teria permanecido isolado e sem
apoio no resto da Alemanha. Além disso, o Ruhr estava cheio de organizações
fascistas e paramilitares que não aceitariam passivamente um levante operário.
Os franceses, por sua vez, olhavam com bons olhos os protestos contra o governo
alemão, mas assumiriam outra posição em relação a uma insurreição operária.
Diante do crescimento da briga entre as facções do
KPD, Zinoviev, então secretário da Internacional Comunista, convidou ambos os
lados para Moscou, onde assumiram um compromisso. Assim, a Internacional
concordava com o apoio dado ao SPD, embora criticasse algumas formulações do
apoio, indicando que essa deveria ser uma tática apenas momentânea. Em relação
ao Ruhr, rejeitou os planos de Fischer.
A resolução acordada, aprovada por unanimidade, não
dava indicações de que a direção da Internacional estava atenta à velocidade
dos eventos na Alemanha, ou mesmo que tirava muitas conclusões de tais eventos.
Pelo contrário, a resolução dizia: "As diferenças surgidas do lento
desenvolvimento revolucionário da Alemanha e das dificuldades objetivas às
quais conduz, alimentam, simultaneamente, divergências de direita e de
esquerda". [9]
A "Linha Schlageter"
Em junho, Radek introduziu uma nova linha que,
posteriormente, confundiu e desorientou o KDP — era a chamada "Linha
Schlageter".
O KPD preocupava-se, há certo tempo, com o
crescimento do fascismo na Alemanha. Em 22 de outubro, Mussolini tomou o poder
em Roma, após uma campanha violenta de seus destacamentos armados, os fasci,
contra as organizações operárias e trabalhadores militantes.
Na Alemanha, anteriormente, a extrema-direita
limitava-se apenas a remanescentes do exército imperial e a pequenos partidos
anti-semitas. Mas, em 1923, começava a crescer e ganhar base social, embora
muito menor que a de Hitler na década de 1930. Atividades contra os
"Criminosos de novembro", contra os judeus e estrangeiros encontraram
apoio entre elementos deslocados da pequeno-burguesia, bem como entre alguns
trabalhadores pauperizados pelo impacto da inflação. No Ruhr, membros da
extrema-direita apresentavam-se como heróicos combatentes contra a ocupação
francesa.
A Baviera, em particular, com suas largas áreas
rurais, tornou-se praticamente um baluarte da extrema-direita. Após a repressão
sangrenta à Republica Soviética de Munique, em 1919, a região tornou-se antro
de organizações nacionalistas, fascistas e paramilitares.
Em 7 de abril, Albert Schlageter, um membro da
Freikorps, foi preso pelo exército francês em Düsseldorf porque tinha
participado de ataques com bomba a estradas de ferro. Foi sentenciado à morte
por uma corte militar e executado em 26 de maio. A direita imediatamente o
tornou um mártir. Na reunião do Comitê Executivo da Internacional Comunista
(ECCI), em junho, Radek propôs que o KPD disputasse os trabalhadores e os
elementos pequeno-burgueses seduzidos pelo fascismo, juntando-se a essa
campanha e adaptando-se ao nacionalismo dos fascistas.
"As massas pequeno-burguesas, os intelectuais
e técnicos que desempenharão um importante papel na revolução assumem a posição
de um antagonismo nacional ao capitalismo, que os está relegando",
defendeu Radek. "Se nós queremos ser um partido dos trabalhadores, capaz
de empreender a luta pelo poder, temos que achar um caminho que possa nos
aproximar das massas, e devemos encontra-lo não por meio da diminuição de
nossas responsabilidades, mas pela defesa de que a classe trabalhadora sozinha
pode salvar a nação". [10]
Mais tarde, na reunião, elogiou solenemente
Schlageter que, enquanto "um valente soldado da contra-revolução",
ainda "merece sinceras homenagens da nossa parte, como soldados da
revolução." "O ocorrido a este mártir do nacionalismo alemão não deve
ser esquecido, ou meramente honrado em breves palavras", disse Radek.
"Nós precisamos fazer de tudo para proteger os homens que, como
Schlageter, estão prontos para dar suas vidas por uma causa comum, vindo a ser
não viajantes no vazio, mas viajantes na direção de um futuro melhor para toda
a humanidade".
A Linha Schlageter foi eleita pela Rote Fahne e
predominou por diversas semanas. Ela criou uma grande confusão entre as
fileiras comunistas, as quais tinham resistido até então às pressões
nacionalistas. Por outro lado, não há a mínima indicação de que tenha
enfraquecido as fileiras nazistas — com a exceção de alguns poucos e
desorientadas nacional-bolcheviques, que entraram para o KPD e criaram muitos
problemas antes que fosse possível livrar-se deles novamente. A campanha-Schageter
proveu de ampla munição a propaganda anticomunista do SPD e tornou muito
difícil para o Partido Comunista Francês (PCF) organizar a solidariedade entre
os soldados franceses para com os trabalhadores alemães.
A greve contra Cuno
Enquanto Radek desenvolveu a Linha Schlageter, a
luta de classes na Alemanha se intensificou. Em junho e julho, agitações e
greves contra a alta dos preços estouraram por todo o país. Participavam com
freqüência centenas de milhares de trabalhadores, entre eles setores que nunca
antes tinham participado de uma luta social. Para dar um exemplo: No começo de
junho, 100.000 trabalhadores rurais e 10.000 diaristas entraram em greve em
Brandenburgo.
Em 8 de agosto, o Chanceler Cuno se dirigiu ao
Reichstag [Parlamento]. Exigia novos cortes e ataques sobre a classe
trabalhadora e combinava tais demandas com voto de confiança. O SPD buscava
salvar-se abstendo-se de votar. Em seguida, tendo início em Berlim,
desenvolveu-se uma espontânea onda de greves exigindo a renúncia do governo de
Cuno. Em 10 de agosto, uma conferência de representantes de sindicatos, sob
pressão do SPD, rejeitou o chamado por uma greve geral. Mas, no dia seguinte,
uma conferência de conselhos de fábrica, apressadamente convocada pelo KPD,
tomou a iniciativa e anunciou uma greve geral. Três milhões e meio de
trabalhadores participaram. Em diversas cidades, aconteceram batalhas com os
policiais e dezenas de trabalhadores mortos. No dia seguinte, o governo Cuno
renunciou. As leis burguesas foram profundamente abaladas. "Nunca houve um
período na história moderna alemã que foi tão favorável para uma revolução
socialista como no verão de 1923", escreveu Arthur Rosenberg.
Momentaneamente, o SPD salvou a burguesia. Contra considerável resistência nas
suas próprias fieiras, entrou num governo de coalizão liderado por Gustav
Stresemenn do Deutsche Volkspartei (DVP — Partido Popular Alemão), um grande
partido de negócios.
Preparando a revolução
Somente então, após as greves contra Cuno, em
agosto, o KPD e a Internacional Comunista percebeu a oportunidade
revolucionária que havia se desenvolvido na Alemanha. Em 21 de agosto — ou
seja, exatamente dois meses antes da insurreição cancelada por Brandler — o
Bureau Político do Partido Comunista Russo decidiu preparar-se para uma
revolução na Alemanha. Formou uma "Comissão de Obrigações
Internacionais" para supervisionar o trabalho na Alemanha. Ela era
composta por Zinoviev, Kamenev, Radek, Stalin, Trotsky e Chicherin — e, depois,
Dzerzhinsky, Pyatakov e Skolnikov.
Nos dias e semanas que se seguiram, houve numerosas
discussões e contínua correspondência com os líderes do KPD, que freqüentemente
viajavam a Moscou. Suporte financeiro, logístico e militar foi organizado para
armar centenas de operários, preparados nos meses anteriores. Em outubro,
Radek, Pyatakov e Skolnikov foram mandados para a Alemanha, para preparar o
levante.
Mas foi Trotsky, acima de tudo, quem lutou
incansavelmente para superar o fatalismo e a complacência existentes na seção
alemã e no Partido Russo. Enquanto isso, Stalin escreveu a Zinoviev: "Na
minha opinião, os alemães precisam ser contidos e não encorajados", e
"Para nós, seria uma vantagem os fascistas entrarem em greve antes".
Trotsky insistiu que e insurreição devia ser preparada em um período de semanas,
ao invés de meses, e a data definitiva devia ser escolhida. [11]
O que a primeira vista parecia apenas uma proposta
organizativa — a escolha de uma data — era, na realidade, uma grande proposta
política. De acordo com a preocupação de Trotsky, a principal tarefa no momento
era concentrar todas as energias e atenções do partido no preparo da revolução.
De uma preparação propagandística mais geral, ela tinha de passar à preparação
prática da insurreição.
Durante o encontro do Bureau Político do Partido
Russo, em 21 de agosto, Trotsky disse: "O quão longe vai o ânimo das
massas revolucionárias alemãs? A sensação de que estão no caminho da revolução
— tal sentimento existe. O problema posto é o problema da preparação. O caos
revolucionário não pode ser selado com borracha. A questão é: ou começamos a
revolução, ou a organizamos". Trotsky alertou sobre o perigo de que
fascistas bem organizados poderiam esmagar ações descoordenadas de
trabalhadores, e exigiu: "O KPD precisa escolher um tempo limite para a preparação,
para a preparação militar e — em tempo correspondente — para agitação
política".
Tal linha sofreu maior oposição por parte de
Stalin. Este argumentava contra um tempo planejado, alegando que "os
trabalhadores continuam acreditando na Social-democracia" e que o governo
poderia durar por outros oito meses. [12]
Brandler, em uma carta para o Comitê Executivo da
Internacional datada de 28 de agosto, também sustentava um longo período:
"Eu não acredito que o governo Stresemann vai viver muito mais",
escreveu. "Entretanto, não acredito que a próxima onda, que já se
aproxima, vai decidir a questão do poder. (...) Nós devemos tentar concentrar
nossas forças para que possamos, se for inevitável, assumir a luta em seis
semanas. Mas, ao mesmo tempo, fazer os preparativos para estarmos prontos com o
trabalho mais sólido em cinco meses". Além disso, acrescentou que
acreditava que um período de seis a oito meses seria o mais provável. [13]
Em discussões posteriores entre a comissão russa e
a liderança alemã, um mês depois, Trotsky voltou ao assunto do cronograma.
Interrompeu a discussão sobre a posição a respeito do problema do Ruhr, e
disse: "Eu não compreendo por que tanta relevância é dada para o caso
Ruhr. (...) O problema, agora, é tomar o poder na Alemanha. Essa é a tarefa, o
restante decorrerá disso".
Trotsky respondeu, então, às preocupações de que os
trabalhadores alemães lutariam por reivindicações econômicas, mas não tão
facilmente por objetivos políticos. "A inibição política é nada mais que
certa dúvida, por conta das marcas que as derrotas anteriores deixaram no
cérebro das massas", disse. "O partido só pode ganhar a classe
trabalhadora alemã para a luta revolucionária decisiva — e a situação está
aqui, agora —, se convencer uma larga seção da classe trabalhadora, sua
direção, de que também é organizacionalmente capaz de liderar a vitória no
sentido mais concreto da palavra... A expressão de tendências fatalistas pelo
partido, aí é que está o grande perigo".
Trotsky explicou, em seguida, que o fatalismo pode
assumir diferentes formas: primeiro, se diz que a situação é revolucionária, o
que é repetido todos os dias. Isso se torna usual e a política passa a ser
esperar pela revolução. Então, se dá armas aos trabalhadores e se diz que isso
levará ao conflito armado. Mas, ainda assim, é apenas o "fatalismo
armado".
Através da informação repassada por seus camaradas
alemães, Trotsky concluiu que eles concebiam a tarefa como fácil demais.
"Se a revolução é para ser mais do que uma perspectiva confusa", disse
ele, "se é para ser a tarefa principal, deve ser tomada por uma tarefa
prática, organizativa... É preciso estabelecer uma data, preparar e
lutar." [14]
Em 23 de setembro, Trotsky publicou, inclusive, um
artigo no Pravda: "Pode uma Contra-revolução ou Revolução ser Feita com
Tempo Marcado?" Trotsky discutia a questão em termos gerais, sem mencionar
a Alemanha, já que o pedido de definição de uma data para a revolução alemã por
um representante-chave da direção, como ele, poderia provocar uma crise internacional
ou mesmo uma guerra. Mas, mesmo assim, o artigo é uma contribuição à discussão
sobre a Alemanha.
A revolução perdida
Uma data para o levante foi finalmente definida: 9
de novembro. Mas, os eventos ganhavam velocidade.
Em 26 de setembro, o chanceler Stresemann anunciou
o fim da resistência passiva contra a ocupação francesa do Vale do Ruhr.
Argumentou que não havia outra maneira de controlar a hiperinflação. Isso
provocou a extrema-direita. No mesmo dia, o governo da Baviera decretou estado
de emergência e instalou uma ditadura liderada por Ritter von Kahr. Von Kahr
colaborou com os nazistas de Hitler e, imitando a marcha de Mussolini sobre
Roma, planejou uma marcha em Berlim para instalar uma ditadura nacional. Kahr
tinha o apoio do comandante das tropas da Reichswehr [Defesa do Império],
posicionadas na Baviera.
O governo de Berlim reagiu estabelecendo sua
própria forma de ditadura. Todo o poder executivo foi transferido ao Ministro
da Defesa, que o delegou ao General Hans von Seeckt, comandante da Reichswehr.
Seeckt simpatizava com a extrema-direita e se recusava a disciplinar os
comandantes bávaros rebelados. Líderes industriais, como Hugo Stinnes, apoiavam
o plano de uma ditadura nacional, optando por Seeckt como ditador.
Em 13 de outubro, o Reichstag, depois de vários
dias de discussão, aprovou um ato autorizando a abolição pelo governo das
conquistas sociais da revolução de novembro, incluindo a jornada de 8 horas. O
SPD votou a favor do ato. Enquanto os ministros do SPD e outros planejavam
novos ataques aos direitos dos trabalhadores, um golpe que lhes poderia custar
a vida era preparado.
A Saxônia e a Turíngia eram os centros da
resistência da classe trabalhadora contra tais preparações
contra-revolucionárias. Nos dois estados, em 10 e 16 de outubro,
respectivamente, o KPD juntou-se aos governos da esquerda do SPD. Isso era
parte do plano elaborado em Moscou. Pela entrada em um governo de coalizão, o
KPD esperava fortalecer sua posição e ter acesso a armas.
Mas, apesar do fato de que ambos os governos eram
formados de acordo com a lei existente e dirigidos por uma maioria parlamentar,
o comandante da Reichswehr na Saxônia, General Müller, se recusava a reconhecer
a autoridade de ambos os governos. Em concordância com o governo berlinense,
submeteu a polícia ao seu próprio comando.
Ameaçado pela Baviera, que faz fronteira com a
Saxônia e a Turíngia no sul, e pelo governo central em Berlim, situado ao
norte, o KPD teve de adiantar seus planos para a revolução. Chamou um congresso
de conselhos de fábrica em Chemnitz, Saxônia, no dia 21 de outubro. O congresso
deveria convocar uma greve geral e dar o sinal para a insurreição em toda a
Alemanha.
Mas, como os social-democratas de esquerda não
concordavam, Brandler cancelou os planos e interrompeu o levante. A maioria dos
delegados teriam apoiado a convocação da greve geral, como Brandler escreveu em
uma carta privada a Clara Zetkin, sua confidente próxima. Mas, mesmo assim, ele
não quis agir sem o apoio dos social-democratas de esquerda.
"Durante a conferência de Chemnitz eu percebi
que não poderíamos, sob quaisquer circunstâncias, partir para a luta decisiva,
uma vez que não havíamos conseguido convencer a esquerda do SPD a assinar a
decisão de greve geral", escreveu Brandler. "Contra a massiva
resistência, eu mudei o curso e evitei que nós, Comunistas, fossemos ao combate
sozinhos. É claro que poderíamos ter recebido uma maioria de dois terços em
favor de uma greve geral na conferência de Chemnitz. Mas, o SPD teria deixado a
conferência, e seus slogans confusos, sobre como a intervenção do Reich contra
a Saxônia tinha simplesmente o propósito de ocultar a intervenção do Reich
contra a Baviera, teriam quebrado nosso espírito de luta. Então, eu
conscientemente lutei por um compromisso desagradável". [15]
A decisão de cancelar a revolução não chegou em
Hamburgo a tempo. Lá, uma insurreição foi organizada, mas permaneceu isolada e
foi derrotada dentro de 3 dias.
Embora o congresso de Chemnitz ainda estivesse
reunido, o Reichswehr começou a ocupar a Saxônia. Conflitos armados causaram a
morte de vários trabalhadores. Em 28 de outubro, o presidente Friedrich Ebert —
um social-democrata — deu ordens ao Reichsexekution contra a Saxônia. Ordenou a
remoção forçada do governo da Saxônia — encabeçado por Erich Zeigner, também um
social-democrata — pelo Reichswehr. A indignação pública foi tão massiva, que o
SPD foi obrigado a retirar-se do governo Stresemann em Berlim. Alguns dias
depois, o Reichswehr entrou na Turíngia e removeu o governo local.
A deposição desses dois governos de esquerda por
Ebert e Seeckt encorajou a extrema-direita da Baviera. No dia 8 de novembro,
Adolf Hitler proclamou a "revolução nacional" em Munique e ensaiou um
golpe. Seu objetivo era forçar o ditador da Baviera, Kahr, a marchar em Berlim
e, lá, tomar o poder. Hitler foi apoiado pelo General Ludendorff, um dos mais
altos comandantes militares da Primeira Guerra Mundial.
O golpe Hitler-Ludendorff falhou. Berlim já havia
se movido tanto para a direita que a direita da Baviera não precisava mais de
uma figura tão dúbia como Hitler. Ebert se acomodou ao golpe, delegando o
comando sobre todas as forças armadas e o poder executivo a Seeckt. Embora as
instituições da República de Weimar ainda existissem formalmente, a Alemanha
seria, então, governada por uma ditadura militar de facto até março de 1924.
Por que o KPD perdeu a revolução?
Uma fácil resposta a esta pergunta é lançar toda a
culpa sobre Brandler. Essa foi a reação de Zinoviev e de Stálin, que o
transformaram num bode expiatório. Simultaneamente, acusaram o KPD (Partido
Comunista Alemão) de ter fornecido informações erradas sobre a situação na
Alemanha, informações exageradas sobre seu potencial revolucionário. Desse
modo, contestaram toda a avaliação sobre a qual havia se baseado o plano de
insurreição.
Menos de três semanas após a insurreição ser
abortada, Stálin e Zinoviev começaram a reinterpretar os eventos na Alemanha.
Assim o fizeram para encobrir seus próprios papeis no processo e iniciar seu
combate fracional contra a Oposição de Esquerda, que começava a se articular
(em 15 de outubro, surgia o primeiro documento importante da Oposição de
Esquerda, a Declaração dos 46. Ao final de novembro, Trotsky escrevia O Novo
Curso).
Trotsky rejeitou a abordagem simplista feita por
Zinoviev e Stálin. Mesmo não concordando com a decisão de Brandler de abortar a
insurreição, não a tomava como um evento isolado. Ao final do processo, Karl
Radek, que estava presente em Chemnitz como representante da Internacional
Comunista (Comintern ou III Internacional), bem como o Zentrale alemão, a
direção central do partido, também concordavam com Brandler.
A insistência de Brandler de que a revolução
falharia — e de que os comunistas ficariam isolados caso começassem a
insurreição sem o apoio dos social-democratas de esquerda — estava de acordo
com erros anteriores atribuídos não somente a Brandler, mas à Internacional
como um todo. Tanto a Internacional, dirigida por Zinoviev, quanto a direção do
KPD (seu setor majoritário e seu setor esquerdista) desempenharam por longo
tempo um papel passivo, tipicamente "centrista" diante dos eventos na
Alemanha. Apesar das condições sociais e políticas terem mudado enormemente
após a ocupação francesa do Ruhr, em janeiro, eles continuaram trabalhando com
os métodos desenvolvidos no ano anterior, quando a revolução não estava
imediatamente na agenda do partido.
Foi somente após longo tempo, no meio dos eventos
de Agosto, que mudaram de curso e começaram a preparar a insurreição. Isso
deu-lhes apenas dois meses para o preparo, mas este era de caráter
insuficiente, hesitante e deslocado.
Trotsky, num pronunciamento feito ao Congresso dos
Trabalhadores Médicos e Veterinários da URSS em junho de 1924, comentou o
seguinte sobre a derrota: "Qual foi a causa fundamental da derrota do
Partido Comunista Alemão?", perguntou. "Esta: não apreciaram
corretamente e no momento certo a crise revolucionária que se abriu com a
ocupação do vale do Ruhr e, especialmente, após o final da resistência passiva
(janeiro-junho de 1923). Perderam o momento crucial... Mesmo após o ataque ao
Ruhr, continuaram com seu trabalho de agitação e propaganda com base na fórmula
de Frente Única anterior ao ataque. Nesse meio tempo, a fórmula havia se
tornado completamente insuficiente. A influência política do partido crescia
automaticamente. Uma modificação tática era necessária".
"Era necessário mostrar às massas, e acima de
tudo ao partido, que se tratava, no momento, da imediata preparação para a
tomada do poder. Era necessário consolidar e dar forma organizativa à crescente
influência do partido, para estabelecer as bases de apoio para a tomada direta
do estado. Era necessário transferir toda a organização do partido para as
bases das células operárias. Era necessário formar novas células nas estradas-de-ferro.
Era necessário suscitar o quanto antes a questão do trabalho dentro do
exército. Era necessário, extremamente necessário, adaptar a tática de Frente
Única total e completamente a essas questões, dar-lhe um prazo mais decidido e
resoluto, bem como um caráter mais revolucionário. Nessa base, um trabalho
técnico-militar certamente poderia ter sido levado adiante..."
"A coisa mais importante, entretanto, era
esta: garantir em tempo a mudança tática decisiva para a tomada do poder na
Alemanha. O que não foi feito. Essa foi a principal — e fatal — omissão. Dela
surgiu a contradição central. De um lado, o partido esperava uma revolução,
enquanto que, de outro, por ter perdido os dedos nos eventos de março [Trotsky
se refere a 1921], evitou, até os últimos meses de 1923, a idéia de organizar a
revolução, ou seja, preparar a insurreição. A atividade política do partido
estava carregada de uma atmosfera pacífica, num momento em que a cena final se
aproximava."
"A data para a insurreição foi finalmente
fixada quando, como um todo, o inimigo já havia se valido do tempo perdido pelo
partido para fortalecer sua posição. A preparação técnica-militar do partido,
que começou numa velocidade febril, estava divorciada da atividade política do
partido, que esteve anteriormente carregada por uma atmosfera pacífica. As
massas não compreendiam o partido e não avançaram o passo junto dele. O partido
sentiu-se subitamente separado das massas, e ficou paralisado. Disso resultou a
imediata retirada da linha de frente, sem mesmo haver combate — a pior de todas
as derrotas." [16]
Teria sido possível organizar uma insurreição
vitoriosa em todo o país em 1923?
Há um grande número de relatos de dirigentes
comunistas alemães, assim como de líderes e especialistas militares da III
Internacional, presentes na Alemanha no momento, que declaram haver um péssimo
preparo para a insurreição. Os destacamentos de luta — conhecidos como Centenas
de Revolucionários — estavam formados e treinados, mas mal possuíam armas. O
aparato de propaganda do KPD — devido às perseguições e à repressão — estava em
estado lastimável. A comunicação e a coordenação do partido entre as diversas
regiões funcionavam muito mal.
Por outro lado, os trabalhadores que lutaram e
Hamburgo demonstraram um alto grau de coragem, disciplina e eficiência. Apenas
300 trabalhadores lutaram nas barricadas, mas alcançaram uma larga e positiva —
embora passiva — resposta por parte da população.
Em seu pronunciamento aos trabalhadores médicos e
veterinários, Trotsky ressaltou que a própria dinâmica do processo
revolucionário deve ser levada em conta. "Os comunistas tinham atrás de si
a maioria das massas trabalhadoras?", perguntou. "Essa é uma questão
que não pode ser respondida por meio de estatísticas. Somente pode ser respondida
pela dinâmica da revolução".
"As massas estavam com um espírito de
luta?", continuou Trotsky. "Toda a história do ano de 1923 não deixa
dúvida sobre isso". E concluiu: "Sob tais condições, as massas apenas
poderiam seguir adiante se existisse uma direção firme, auto-confiante, assim
como uma confiança das massas nessa direção. Discussões a respeito do ânimo das
massas, se era de luta ou não, possuem um caráter muito subjetivo e expressam
essencialmente a falta de confiança entre os líderes do próprio partido".
[17]
As lições de outubro
A capitulação sem luta foi certamente o pior
resultado possível dos eventos alemães. Ela desmoralizou e desorganizou o KPD e
criou as condições em que a elite dominante e os militares puderam continuar
com a ofensiva e consolidar seu poder. Trotsky, então, insistiu que as lições
da derrota alemã deviam ser tiradas duramente. Ele rejeitou os argumentos dos
bodes-expiatórios isolados, que eram somente para evitar as discussões
políticas mais fundamentais. Tirar tais lições não era somente indispensável
para preparar a liderança alemã para as oportunidades revolucionárias futuras,
que inevitavelmente surgiriam, mas também era crucial para todas as seções do
Internacional, que se deparariam com desafios e problemas muito similares.
Trotsky notou que as lições da Revolução Russa de
Outubro — a única revolução proletária bem sucedida na história — nunca tinham
sido devidamente traçadas. No verão de 1924, publicou o livro Lições de
Outubro, examinando o bem sucedido Outubro Russo sob a luz da derrota do
outubro alemão.
Ele insistiu na necessidade "de estudar as
leis e métodos da revolução proletária". Insistiu que existem questões que
todo Partido Comunista deve enfrentar quando entrar num período revolucionário:
"Regra geral, as crises no partido surgem a cada mudança importante, como
seu prelúdio ou conseqüência. É que cada período de desenvolvimento do partido
tem os seus traços especiais, exigindo determinados hábitos ou métodos de
trabalho. Uma mudança tática acarreta uma ruptura mais ou menos importante
nestes hábitos e métodos: aí reside a causa direta das frações e das crises
internas ao partido".
Trotsky então cita Lenin, que escreveu em julho de
1917: "A uma mudança brusca da história acontece muito frequentemente, até
aos partidos avançados, não chegarem a se habituar à nova situação num maior ou
menos espaço de tempo, repetindo as palavras de ordem que, embora justas ontem,
hoje perderam todo o seu sentido; coisa que acontece tão ‘subitamente' quanto a
mudança histórica."
"Conseqüentemente", concluiu Trotsky,
"surge o perigo: se a mudança tiver sido demasiadamente brusca ou
inesperada e o partido posterior tiver acumulado demasiados elementos de
inércia e de conservadorismo em seus órgãos dirigentes, este revelar-se-á
incapaz de assumir a direção no momento mais grave, para o qual se preparou
durante anos ou dezenas de anos. O Partido deixar-se-á corroer por uma crise e
o movimento se processará sem objetivo, semeando a derrota."
"Ora, a mudança mais brusca é aquela em que o
partido do proletariado passa da preparação, propaganda, organização e agitação
para a luta direta pelo poder, à insurreição armada contra a burguesia. Tudo o
que há de irresoluto, cético, conciliador e capitulacionista no interior do
partido ergue-se contra a insurreição e busca fórmulas teóricas para a sua
oposição, encontrando-as já preparadas nos adversários de ontem, os
oportunistas. Ainda vamos ter que observar muitas vezes este fenômeno no
futuro." [18]
Zinoviev e Stalin rejeitaram a análise de Trotsky.
Guiados por motivos fracionários e subjetivos, falsificaram os eventos na
Alemanha, cobrindo seus próprios rastros e fazendo de Brandler o
bode-expiatório para todos os erros. As conseqüências foram desastrosas. A
direção do KPD foi trocada — pela quinta vez em cinco anos — sem qualquer lição
ser tirada do processo.
Como Radek apontou — em disputa acalorada com
Stalin numa reunião do Comitê Central do partido Russo, em janeiro de 1924 —
quadros marxistas experientes foram trocados tanto por pessoas que tinham
experiência no centrista USPD (SPD-Independente) quanto por pessoas que mal
tinham experiência revolucionária. Henirich Brandler, um membro fundador da
Liga Espártaco (Spartakusbund) com uma história de 25 anos no movimento, foi
substituído por Ruth Fischer e Arkadi Maslow, jovens intelectuais vindos de um
rico ambiente burguês e sem passado revolucionário. A maioria do grupo central,
que agora formaria a nova direção, havia entrado no KPD apenas em dezembro de
1920, quando a esquerda do centrista USPD se uniu ao KPD.
A mudança na direção "acertou" o caminho
— após perseguições e novas modificações nos anos seguintes — para a total
subordinação do KPD aos ditados de Stalin. Tal fato revelou ter conseqüências
devastadoras 10 anos depois, quando a desastrosa linha do KPD pavimentou o
caminho de Hitler ao poder. O alinhamento de Stalin com a esquerda de Fischer e
Maslow foi particularmente cínico, uma vez que ele sempre havia ajudado as
posições mais direitistas durante o andamento dos eventos. Stalin ganhou a
aliança de Maslow, que estava sob investigação por ter dado informação à
polícia durante os eventos de março de 1921, assegurando que estaria limpo das
acusações.
Até mesmo a teoria do social-fascismo, que iguala a
social-democracia ao fascismo, achou sua primeira expressão num documento sobre
os eventos alemães, esquematizado por Zinoviev e adotado pelo presidente do
Comitê Executivo da Internacional contra a resistência da Oposição de Esquerda
em janeiro de 1924. O documento diz: "As camadas dirigentes da
social-democracia alemã apresentam nada mais que uma facção do fascismo alemão
sob uma máscara socialista". [19]
Depois que o partido falhou em mover a tempo da
tática de Frente Única à da luta pelo poder, Zinoviev e Stalin rejeitaram a
Frente Única como um todo. A teoria do social-fascismo, que rejeita qualquer
forma de Frente Única com o SPD contra os nazistas, foi revivida em 1929 e teve
um papel importante no desarmamento da classe trabalhadora na luta contra o
fascismo.
Em 1928, Trotsky mais uma vez repetiu as lições
básicas do Outubro Alemão. Criticando o esquema de programa para o Sexto
Congresso da Internacional Comunista, escreveu: "O papel do fator
subjetivo em um período de desenvolvimento lento e orgânico pode permanecer um
tanto subordinado. Assim, muitos provérbios de sobre a graduação do processo
podem surgir, como: ‘devagar, mas certo' e ‘não adianta dar murro em ponta de
faca' e muitos outros, que resumem toda a sabedoria tática de nossa época, que
abomina ‘pular etapas'. Mas, no momento em que as condições objetivas estão
maduras, a chave de todo o processo histórico passa para a condição subjetiva,
que é o partido. O oportunismo, que consciente ou inconscientemente
desenvolve-se com inspiração em épocas passadas, sempre tenta subestimar o
papel do fator subjetivo, que é: a importância do partido e da direção
revolucionária. Tudo isso nos foi completamente revelado nas discussões a
respeito do Outubro Alemão, no Comitê Anglo-Russo e na Revolução Chinesa. Em
todos esses casos, assim como em outros de menor importância, a tendência
oportunista evidenciou-se ao adotar uma via que cabia somente às ‘massas',
desprezando por completo o ‘topo' da direção revolucionária. Tal atitude, que é
falsa como um todo, opera com um efeito certamente fatal na época
imperialista." [20]
Notes:
1. Leon Trotsky, The Lessons of October, in The Challenge of the Left Opposition (1923-25), p. 201.
2. Arthur Rosenberg, (Entstehung und Geschichte der Weimarer Republik, Frankfurt am Main: Athenäum 1988), p. 395.
3. Ibid., p. 402.
4. Hermann Weber, (Die Wandlung des deutschen Kommunismus, Band 1, Frankfurt 1969), p. 43.
5. Rosa Luxemburg, (Rückblick auf die Gothaer Konferenz, in Gesammelte Werke, Band 4, Berlin 1974), p. 273.
6. Ibid., p. 274.
7. Leon Trotsky, (The Third International After Lenin, New Park: 1974), pp. 66-67.
8. Citado por Pierre Broué (The German Revolution 1917-1923, Haymarket Books: 2006) p. 702.
9. Citado por Broué, ibid., p. 705.
10. Citado por Broué, ibid., p. 726.
11. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003) p. 100.
12. Ibid., pp. 122-27.
13. Ibid., pp. 135-136.
14. Ibid., pp. 165-167.
15. Ibid., pp. 359.
16. Leon Trotsky, [Through What Stage Are We Passing, in The Challenge of the Left Opposition (1923-25), Pathfinder Press, 1975], pp. 170-71.
17. Ibid., p. 169.
18. Leon Trotsky, (Lessons of October, New Park Publications, 1971), pp. 4-7.
19. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003), p. 464.
20. Leon Trotsky, (The Third International after Lenin, New Park, 1974), p. 64.
1. Leon Trotsky, The Lessons of October, in The Challenge of the Left Opposition (1923-25), p. 201.
2. Arthur Rosenberg, (Entstehung und Geschichte der Weimarer Republik, Frankfurt am Main: Athenäum 1988), p. 395.
3. Ibid., p. 402.
4. Hermann Weber, (Die Wandlung des deutschen Kommunismus, Band 1, Frankfurt 1969), p. 43.
5. Rosa Luxemburg, (Rückblick auf die Gothaer Konferenz, in Gesammelte Werke, Band 4, Berlin 1974), p. 273.
6. Ibid., p. 274.
7. Leon Trotsky, (The Third International After Lenin, New Park: 1974), pp. 66-67.
8. Citado por Pierre Broué (The German Revolution 1917-1923, Haymarket Books: 2006) p. 702.
9. Citado por Broué, ibid., p. 705.
10. Citado por Broué, ibid., p. 726.
11. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003) p. 100.
12. Ibid., pp. 122-27.
13. Ibid., pp. 135-136.
14. Ibid., pp. 165-167.
15. Ibid., pp. 359.
16. Leon Trotsky, [Through What Stage Are We Passing, in The Challenge of the Left Opposition (1923-25), Pathfinder Press, 1975], pp. 170-71.
17. Ibid., p. 169.
18. Leon Trotsky, (Lessons of October, New Park Publications, 1971), pp. 4-7.
19. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003), p. 464.
20. Leon Trotsky, (The Third International after Lenin, New Park, 1974), p. 64.
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