TERCEIRO CONGRESSO DA III
INTERNACIONAL (junho de 1921)
TESE SOBRE A SITUAÇÃO MUNDIAL E A TAREFA DA INTERNACIONAL
COMUNISTA
I. Fundo da questão
1. O movimento revolucionário, ao
final da guerra imperialista e desde esta guerra, se distingue por sua amplitude
sem precedentes na história. Março de 1917, derrota do czarismo. Maio de 1917,
imensa luta grevista na Inglaterra. Novembro de 1917, o proletariado russo toma
o poder de Estado. Novembro de 1918, queda das monarquias alemã e
austro-húngara. O movimento grevista toma conta de uma série de países europeus
e se desenvolve particularmente ao longo do ano seguinte. Em março de 1919, a
República Soviética se instala na Hungria. Ao final do mesmo ano, formidáveis
greves de metalúrgicos, mineiros e ferroviários abalam os Estados Unidos. Na
Alemanha, após os combates de janeiro e março de 1919, o movimento grevista
atinge seu ponto culminante seguido da insurreição de Kapp, em março de 1920.
Na França, o momento da mais alta tensão se dá no mês de maio de 1920. Na
Itália, o movimento do proletariado industrial e rural cresce sem cessar e
chega a setembro de 1920 conduzido pelos operários das usinas, fábricas e
propriedades rurais. O proletariado tcheco, em dezembro de 1920, usou a arma da
greve geral política. Em março de 1921, sublevação dos operários da Alemanha
Central e greve dos operários mineiros na Inglaterra.
O movimento atinge proporções
particularmente grandes e uma intensidade mais violenta nos países antes
beligerantes e sobretudo nos países vencidos, mas se estende também aos países
neutros. Na Ásia e na África, ele suscita ou reforça a indignação
revolucionária de numerosas massas coloniais.
Esta poderosa onda não consegue,
entretanto, derrotar o capitalismo mundial, nem mesmo o capitalismo europeu.
2. Durante o intervalo entre o 2º e
o 3º Congresso da Internacional Comunista, uma série de sublevações e lutas da
classe operária terminam em derrota parcial (avanço do exército vermelho sobre
Varsóvia em agosto de 1920, movimento do proletariado italiano em setembro de
1920, sublevação dos operários alemães em março de 1921).
O primeiro período do movimento
revolucionário após a guerra caracteriza-se por sua violência elementar, pela
imprecisão muito significativa dos objetivos e pelo extremo pânico que toma
conta das classes dirigentes; ele parece estar terminado em larga medida. O
sentimento de poder de classe que tem a burguesia e a solidez exterior de seus
órgãos de Estado estão indubitavelmente reforçados. O medo do comunismo
enfraqueceu, senão está totalmente desaparecido. Os dirigentes da burguesia
gabam o poder de seu aparelho de Estado e passam, em todos os países, à
ofensiva contra as massas operárias, tanto no plano econômico como no plano
político.
3. Em razão dessa situação, a
Internacional Comunista coloca para si e para a classe operária as seguintes
questões: em que medida as novas relações entre a burguesia e o proletariado
correspondem realmente às relações mais profundas de suas respectivas forças? A
burguesia tem condições de restabelecer o equilíbrio social destruído pela
guerra? Existem razões para supor que após uma época de comoção política e
lutas de classes venha unia época prolongada de restabelecimento e crescimento
do capitalismo? Não decorre disso a necessidade de revisar o programa ou a
tática da Internacional Comunista?
II. A Guerra, a Prosperidade Especulativa e a Crise
nos Países Europeus
4. As duas dezenas de anos que precederam a guerra foram uma época de
ascensão capitalista particularmente poderosa. Os períodos de prosperidade se
distinguem por sua intensidade; os períodos de depressão ou crise, ao
contrário, por sua brevidade. De uma maneira geral, a fonte se elevou
bruscamente; as nações capitalistas enriqueceram.
Apertando o mercado mundial com seus truques, cartéis e consórcios, os
senhores dos destinos do mundo perceberam que o desenvolvimento enfurecido da
produção deveria obedecer aos limites do poder de compra do mercado capitalista
mundial; eles zelaram sair dessa situação por meios violentos; a crise sangrenta
da guerra mundial deveria substituir um longo e ameaçador período de depressão
econômica com o mesmo resultado de antes, isto é, a destruição das forças de
produção. A guerra, entretanto, reuniu o extremo poder destrutivo de seus
métodos com a duração imprevisivelmente longa de seu emprego. O resultado foi
que ela não destruiu somente, no sentido econômico, a produção supérflua, mas
enfraqueceu, abalou, arruinou o mecanismo fundamental da produção na Europa.
Ela contribuiu, ao mesmo tempo, para o grande desenvolvimento capitalista do
Estados Unidos e para a ascensão febril do Japão. O centro de gravidade da
economia mundial passou da Europa para a América.
5. O período após a cessação do massacre que durou quatro anos, período
de desmobilização de transição do estado de guerra ao estado de paz,
inevitavelmente acompanhado de uma crise econômica, conseqüência do esgotamento
e do caos da guerra, apareceu aos olhos da burguesia - com razão como o maior
dos perigos. Na verdade, durante os dois anos que se seguiram à guerra. Os
países por ela devastados se tornaram palco de poderosos movimentos
proletários. O fato de que não foi inevitável a crise, ao que parece, que se
produziu alguns meses após a guerra, mas um reerguimento econômico, foi uma das
causas principais de a burguesia não ter conservado sua posição dominante. Este
período durou em torno de um ano e meio. A indústria ocupou a quase totalidade
dos Operários desmobilizados. Contudo, em regra geral, os salários não
acompanhavam os preços dos artigos de consumo, apesar de se elevarem o
suficiente para criarem a ilusão de conquistas econômicas.
Foi exatamente esse impulso econômico de 1919-1920 que, amenizando a
fase mais aguda de liquidação da guerra, resultou num extraordinário
recrudescimento da segurança burguesa e levantou a questão do advento de uma
nova época de desenvolvimento orgânico do capitalismo. Entretanto, o
soerguimento de 1919-1920 não marcou o início da restauração econômica
capitalista após a guerra, mas a continuação da situação artificial da
indústria e do comércio criada pela guerra e que abalou a economia capitalista.
6. A guerra imperialista estourou na época em que a crise industrial e
comercial, que se iniciara na América (1913), começava a invadir a Europa.
O desenvolvimento normal do ciclo industrial foi interrompido pela
guerra que se tornou o fator econômico mais poderoso. A guerra criou para os
setores fundamentais da indústria um mercado completamente livre de toda
concorrência. O grande comprador adquiria tudo o que se lhe oferecia. A
fabricação dos meios de produção se transformou em fabricação dos meios de
destruição. Os artigos de consumo pessoal eram adquiridos a preços cada vez
mais elevados por milhões de indivíduos que, não produzindo nada, só faziam
destruir. Era esse o processo de destruição; mas, em virtude das contradições
monstruosas da sociedade capitalista, esta ruína tomou a forma de
enriquecimento. O Estado tomava empréstimo sobre empréstimo, fazia emissão
sobre emissão; e o orçamento, antes calculado em milhões, passou para a casa
dos bilhões. Máquinas e construções eram usadas e não eram substituídas. A
terra estava mal cultivada. Obras essenciais na cidades e nas estradas de ferro
foram interrompidas. Ao mesmo tempo, o número dos valores do Estado, os bônus
do Tesouro e os fundos cresciam sem cessar. O capital fictício inchou na mesma
medida em que o capital produtivo era destruído. O sistema de crédito, meio de
circulação das mercadorias, se transformou num meio de mobilizar os bens
nacionais e comprometeu os bens que deveriam ser criados pelas gerações
futuras. Com medo de uma crise que seria uma catástrofe, o Estado capitalista
agiu depois da guerra da mesma maneira que agira durante ela: novas emissões,
novos empréstimos, regulamentação dos preços de compra e venda dos artigos mais
importantes, garantia dos lucros, mercadoria com preços reduzidos, múltiplos
impostos somados aos salários...e, com tudo isso, censura militar e ditadura de
agaloados.
7. Ao mesmo tempo, a cessação das hostilidades e o restabelecimento das
relações internacionais revelaram a demanda considerável das mais diversas
mercadorias sobre toda a superfície do globo. A guerra deixara imensos estoques
de produtos, enormes somas de dinheiro concentradas nas mãos dos fornecedores e
especuladores que as empregaram onde momentaneamente o lucro era maior.
Seguiu-se uma febril atividade comercial, ainda que, com a elevação inusitada
dos preços e os dividendos fantásticos, nenhum dos ramos fundamentais da
indústria européia tenha se reaproximado dos níveis anteriores à guerra.
8. Ao custo da destruição do sistema econômico, crescimento do capital
fictício, baixa do câmbio, especulação em vez de saneamento dos problemas
econômicos, o governo burguês, agindo de acordo com os consórcios e com os truques
da indústria, conseguiu adiar o início da crise econômica no momento em que se
acabava a crise política de desmobilização e o primeiro exame das conseqüências
da guerra.
Obtendo assim uma trégua importante, a burguesia acreditou que o perigo
da crise estava descartado por tempo indeterminado. Um otimismo extremo se
apoderou dos espíritos; parecia que os desejos de reconstrução deveriam
inaugurar uma época de prosperidade industrial, comercial e, sobretudo, de
especulações felizes. O ano de 1920 foi o ano das esperanças perdidas.
No início, no setor financeiro, no
setor comercial em seguida e, enfim, no Setor industrial, a crise eclodiu em
março de 1920 no Japão, em abril nos Estados Unidos (uma ligeira queda nos
preços havia começado em janeiro); passou para a Alemanha, França e Itália,
sempre em abril, e os países neutros da Europa; se manifestou ligeiramente na
Alemanha e se espalhou por todo o mundo capitalista na segunda metade de 1920.
9. É essencial para a compreensão da situação mundial entender que a
crise de 1920 não é uma etapa do ciclo "normal", industrial, mas uma
reação mais profunda contra a prosperidade fictícia do tempo da guerra e dos
dois anos seguintes, prosperidade baseada na destruição e no esgotamento.
A alternância normal entre as crises e os períodos de prosperidade
persistia anteriormente à guerra seguindo a curva do desenvolvimento
industrial. Durante os últimos sete anos, porém, as forças produtivas da
Europa, longe de se elevarem, caíram brutalmente.
A destruição das bases da economia deve manifestar-se primeiramente em
toda a superestrutura. Para chegar a alguma coordenação interior, a economia da
Europa deverá se restringir e diminuir durante alguns anos. A curva das forças
produtivas cairá da sua altura fictícia atual. Períodos de prosperidade neste
caso, só podem acontecer por um curto período e com um caráter de especulação.
As crises serão longas e penosas. A crise atual na Europa é uma crise de
subprodução. É a reação da miséria contra os esforços para produzir, traficar e
viver em situação análoga àquela da época capitalista precedente.
10. Na Europa, a Inglaterra é o país mais forte e que menos sofreu com
a guerra. Não se poderia, entretanto, mesmo em relação a ela, falar de um
restabelecimento do equilíbrio capitalista após a guerra. Graças à sua
organização mundial e à sua situação de triunfadora, a Inglaterra obteve alguns
sucessos comerciais e financeiros após a guerra, melhorou sua balança
comercial, elevou o valor da libra esterlina e obteve um excedente de receitas
sobre as despesas nos orçamentos, mas no setor industrial retrocedeu. O
rendimento do trabalho e as receitas nacionais são incomparavelmente menores do
que antes da guerra. O ramo industrial mais importante, o do carvão, agrava-se
cada vez mais, piorando a situação dos outros setores. Os movimentos grevistas
incessantes não são a causa; são a conseqüência da ruína da economia inglesa.
11. A França, a Bélgica, a Itália, estão irreparavelmente arruinadas
pela guerra: As tentativas de restaurar a economia da França às expensas da
Alemanha é uma verdadeira extorsão acompanhada da opressão diplomática que, sem
salvar a França, tende apenas a esgotar definitivamente a Alemanha (em carvão,
máquinas, gado, outro). Esta medida é um sério golpe contra a economia da
Europa continental em seu conjunto. A França ganha bem menos do que perde a
Alemanha, e despenca para a ruína econômica, ainda que tenha restabelecido
grande parte das culturas agrícolas e alguns setores da indústria (por exemplo,
a indústria de produtos químicos) tenham se desenvolvido consideravelmente
durante a guerra. As dívidas e as despesas do Estado (por causa dos gastos
militares) atingiram dimensões incríveis. Ao final do último período de
prosperidade o câmbio francês caiu 60%. O restabelecimento da economia francesa
está entravado pelas pesadas perdas de vidas humanas causadas pela guerra,
perdas impossíveis de recuperar em função do pequeno crescimento da população
francesa. Assim também acontece, mais ou menos, com as economias da Bélgica e da
Itália.
12. O caráter ilusório do período de prosperidade é evidente sobretudo
na Alemanha; num lapso de tempo durante o qual os preços se elevaram ao
sêxtuplo (cm uni ano e meio), a produção do país continuou a cair rapidamente.
A participação da Alemanha, triunfante na aparência, no comércio internacional
no período anterior à guerra pagou um duplo preço: dissipação do capital
fundamental da nação (pela destruição do aparelho de produção, de transporte e
de crédito) e rebaixamento sucessivo do nível de vida da classe operária. Os
lucros dos exportadores alemães se exprimem por uma perda do ponto de vista da
economia pública. Sob a forma de exportação, o que houve foi a venda pura e
simples do próprio país. Os senhores capitalistas se asseguram de uma parte
sempre crescente da riqueza nacional que diminui sem cessar. Os operários
alemães se transformam nos cules da Europa.
13. Assim como a independência política fictícia (os pequenos países
neutros repousa sobre o antagonismo existente entre as grandes potências, sua
prosperidade econômica depende do mercado mundial, cujo caráter fundamental era
determinado, antes da guerra, pela Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e
França. Durante a guerra, a burguesia dos pequenos países neutros da Europa
obteve benefícios monstruosos. Mas a destruição e a ruína dos países
beligerantes da Europa ocasionaram a ruína econômica dos pequenos países
neutros. Suas dívidas aumentaram, seus câmbios baixaram; a crise arrastou um a
um, lance após lance.
III Os Estados Unidos, o Japão, Países Coloniais e
Rússia dos Sovietes
14. O desenvolvimento dos Estados Unidos durante a guerra se deu em
sentido contrário ao do desenvolvimento da Europa. Como a participação na
guerra foi sobretudo uma participação de fornecedores. Os Estados Unidos nada
sentiram dos efeitos devastadores da guerra. A influência indiretamente
destruidora da guerra sobre os transportes, a economia rural etc., foi bem mais
fraca nesse país do que na Inglaterra - sem falar na França e na Alemanha. De
outra parte, os Estados Unidos exploraram da maneira mais completa a supressão
ou o enfraquecimento da concorrência européia e colocaram suas indústrias mais
importantes em um nível de desenvolvimento inesperado (petróleo, construção
naval, automóveis, carvão). Não são apenas o petróleo ou os cereais, mas,
também, o carvão que mantêm hoje a maior parte dos países da Europa sob a
dependência americana.
Se até a guerra os Estados Unidos exportava principalmente produtos
agrícolas e matérias-primas (dois terços da exportação total), presentemente,
ao contrário, ela exporta principalmente produtos industriais (60% da sua
exportação). Se até a guerra a América era devedora, atualmente ela é credora
do mundo inteiro. Aproximadamente a metade da reserva mundial de ouro flui para
lá. O papel determinante no mercado mundial deixou de ser a libra esterlina
para ser o dólar.
15. Enquanto isso, o capital americano também está desequilibrado. O
extraordinário progresso da indústria americana foi determinado exclusivamente
pelo conjunto das condições mundiais: supressão da concorrência européia e,
principalmente, demanda do mercado militar da Europa. Se a Europa, arruinada,
não pôde, mesmo após a guerra, voltar à condição de concorrente dos Estados
Unidos, isto é, à sua situação anterior cm relação ao mercado mundial, ela só
pode assumir uma parte insignificante de sua importância anterior; passou a ser
mercado para os Estados Unidos. Os Estados Unidos se tornaram, em medida
infinitamente maior do que antes da guerra país exportador. O aparelho
produtivo superdesenvolvido durante a guerra não pôde ser plenamente utilizado
por causa da falta de mercado. Algumas indústrias estão transformadas em
indústrias sazonais que só podem dar trabalho aos operários durante uma parte
do ano. A crise, nos Estados Unidos, é o começo de uma profunda e durável ruína
econômica resultante da queda da Europa. Eis o resultado da destruição da
divisão mundial do trabalho.
16. O Japão também aproveitou a guerra para ampliar seu espaço no
mercado mundial. Seu desenvolvimento é incomparavelmente mais limitado que o
dos Estados Unidos e, em vários setores, reveste-se de uma característica
totalmente artificial. Se suas forças produtivas fossem suficientes para a
conquista de um mercado esvaziado pela concorrência, elas seriam insuficientes
para manter esse mercado em sua luta com os países capitalistas mais poderosos.
Resultou daí a crise aguda que foi precisamente o começo de todas as outras
crises.
17. Os países marítimos exportadores de matérias-primas, e entre eles
os países coloniais (América do Sul, Canadá, Austrália, Índia, Egito etc.)
aproveitaram a interrupção das comunicações internacionais para desenvolver sua
indústria. A crise mundial também os atinge atualmente. O desenvolvimento da
indústria nacional nesses países transformou-se numa fonte de novas
dificuldade. comerciais para a Inglaterra e toda a Europa.
18. No setor comercial e do crédito, e isto não apenas na Europa, mas
também em escala mundial, não há razão para crer num restabelecimento do equilíbrio
após a guerra.
A decadência econômica da Europa continua, mas a destruição das bases
da economia européia se manifestará apenas nos próximos anos.
O mercado mundial está desorganizado. A Europa tem necessidade de
produtos americanos, mas não pode dar a América algo equivalente. A Europa está
anêmica, a América está hipertrofiada O câmbio-ouro está suprimido. A
depreciação do câmbio dos países europeus (que atinge até 99%) é um obstáculo
quase insuportável para o comércio internacional. As flutuações contínuas e
imprevistas do câmbio transformam a produção capitalista numa especulação
desenfreada. O mercado mundial não tem mais equivalente geral. O
restabelecimento do valor ouro na Europa só poderá ser obtido pela elevação da
exportação e diminuição da importações. A Europa arruinada é incapaz dessa
transformação. Por sua vez, a América se defende das importações artificiais da
Europa (dumping) elevando as tarifas aduaneiras.
A Europa é uma casa de loucos. A maioria dos países promulga
interdições de suas tarifas protetoras. A Inglaterra estabelece leis
proibitivas contra a exportação alemã e toda a vida econômica exportação e
importação, e multiplica da Alemanha está à mercê do bando de especuladores da
Elite, sobretudo a França. O território da Áustria - Hungria está dividido por
uma dezena de barreiras alfandegárias. A meada dos tratados de paz está cada
vez mais emaranhada.
19. O desaparecimento da Rússia soviética enquanto mercado para os
produtos industriais e enquanto fornecedora de matérias primas contribuiu, em
grande medida, para romper o equilíbrio da economia mundial. O retorno da
Rússia ao mercado mundial não pode ocasionar grandes alterações. O organismo
capitalista da Rússia se encontrava, em relação aos meios de produção, na mais
estreita dependência da indústria mundial, e esta dependência acentuou-se ainda
mais em relação aos países da Elite durante a guerra, ainda que a indústria
interior da Rússia esteja totalmente mobilizada. O bloqueio rompeu de um golpe
todos esses laços vitais. Resta saber como este país, esgotado e arruinado por
três anos de guerra civil, poderá organizar os novos setores da indústria sem
os quais os antigos ficarão totalmente arruinados pelo esgotamento de seu
material fundamental. Junta-se a isso a absorção pelo exército vermelho de
centenas de milhares dos melhores operários e, em medida considerável, dos mais
qualificados. Nessas condições, nenhum outro regime, cercado pelo bloqueio,
reduzido por guerras incessantes, recolhendo uma herança de ruínas, poderia manter
a vida econômica e criar unia administração centralizada. Mas não se pode
duvidar que a luta contra o imperialismo pagou o preço do esgotamento
prolongado das forças produtivas da Rússia em vários ramos fundamentais da
economia. Somente agora, após o relaxamento do bloqueio e o restabelecimento de
algumas formas iniciais normais de relações entre a cidade e o campo, o poder
soviético teve a possibilidade de uma direção centralizada constante e
inflexível tendo em vista o reerguimento do país.
IV Tensão dos Antagonismos Sociais
20. A guerra, que determinou uma destruição sem precedentes na história
das forças produtivas, não parou o processo de diferenciação social; ao
contrário, a proletarização das amplas camadas intermediárias, compreendida aí
a nova classe média (empregados, funcionários etc.) e a concentração da
propriedade nas mãos de uma pequena minoria (trustes, cartéis, consórcios etc.)
fizeram, durante Os últimos sete anos, progressos monstruosos nos parques que
mais sofreram com a guerra. A questão Stinnes se transformou em unia questão
essencial da vida econômica alemã.
A alta dos preços em todos os mercados, concomitante à baixa
catastrófica do câmbio em todos os países europeus beligerantes, atestou, no
fundo, uma nova repartição da renda nacional em detrimento da classe operária,
dos funcionários, dos empregados, dos pequenos capitalistas e, de um modo
geral, de todas as categorias de indivíduos com renda mais ou menos
determinada.
Assim, em relação aos seus recursos materiais, a Europa foi reconduzida
a uma dúzia de anos atrás e a tensão dos antagonismos sociais, que não pode ser
comparada ao que era antes, longe de ser detida em ser curso, se acentuou com
uma rapidez extraordinária. Este fato capital já é suficiente para destruir
toda esperança de um desenvolvimento prolongado e pacífico das forças
democráticas; a diferenciação progressiva - de um lado, a
"stinnesação" e, de outro, a proletarização e a pauperização -,
baseada na ruína econômica, determina o caráter tenso, conclusivo e cruel da
luta de classes.
O caráter atual da crise só faz prolongar nesse aspecto o trabalho da
guerra e o impulso especulativo que a seguiu.
21. A alta dos preços dos produtos agrícolas, criando a ilusão de um
crescimento geral da economia rural, provocou um crescimento real das rendas e
da fortuna dos proprietários Os fazendeiros puderam, com efeito, com o papel
depreciado que eles tinham acumulado em grandes quantidades, pagar as dividas
contraídas no tempo normal. Apesar da alta enorme do preço da terra do abuso
desavergonhado do monopólio dos meios de subsistência apesar, enfim, do
enriquecimento dos grandes proprietários e camponeses ricos, a regressão da
economia rural da Europa é indiscutível: esta é uma regressão multiforme que se
traduz na transformação de terras aráveis em campinas, na destruição da
pecuária, na aplicação do sistema de alqueires. Esta regressão teve também Como
causas a insuficiência, a carestia e a alta dos preços dos artigos
manufaturados, enfim - na Europa Central e Oriental - a redução sistemática da
produção é uma reação contra as tentativas do poder estatal de monopolizar o
controle dos produtos agrícolas. Os camponeses ricos, e em parte os médios,
criam organizações políticas e econômicas para se proteger contra as cargas da burguesia
e para ditar ao Estado uma política de tarifas e impostos unilateral e
proveitosa exclusivamente aos proprietários, unia política que entrava a
reconstrução capitalista. Cria-se assim, entre a burguesia urbana e a burguesia
rural, unia oposição que enfraquece o poder da classe burguesa como um todo. Ao
mesmo tempo, unia grande parte dos camponeses pobres está proletarizada, o
interior se converte num exército de descontentes e a consciência de classe do
proletariado rural cresce.
De outro lado, o empobrecimento geral da Europa, que a torna incapaz de
comprar a quantidade necessária de cereais americanos, anuncia uma pesada crise
da economia rural transatlântica. Observa-se um agravamento da situação do
camponês e do pequeno fazendeiro não somente na Europa mas, também, nos Estados
Unidos, Canadá, Argentina, Austrália, África do Sul.
22. A situação dos funcionários e empregados, seguida da diminuição do
seu poder aquisitivo, agravou-se mais duramente que a situação geral do
proletariado. As condições de vida dos funcionários subalternos e médios,
completamente arruinadas, transformaram estes elementos em fermento de
descontentamento político. Eles conhecem a solidez do mecanismo de Estado a que
servem. "A nova classe média", que segundo os reformistas
representava o centro das forças conservadoras, torna-se bem cedo, durante a
época da transição, fator revolucionário.
23. A Europa capitalista perdeu finalmente sua primazia econômica no
mundo. De outra parte, seu relativo equilíbrio de classes repousava sobre uma
vasta dominação. Todos os esforços dos países europeus (Inglaterra e, em parte,
a França), para recuperar a condição anterior, só poderão agravar o caos e a
incerteza.
24. Enquanto, na Europa, a concentração da propriedade se dá sobre
ruínas, nos Estados Unidos esta concentração e os antagonismos de classe
atingiram um nível extremo sobre o fundo de um febril enriquecimento
capitalista. As bruscas mudanças da situação, além da incerteza geral sobre o
mercado mundial, dão à luta de classes em solo americano um caráter
extremamente tenso e revolucionário. A um apogeu capitalista, sem precedentes
na história, deve suceder um apogeu da luta revolucionária.
25. A emigração dos operários e camponeses para o outro lado do oceano
serviu sempre de válvula de segurança ao regime capitalista da Europa. Ela
aumentou nas épocas de depressão prolongada e após o fracasso dos movimentos
revolucionários. Mas, atualmente a América e a Austrália tentam conter cada vez
mais a imigração. A válvula de segurança não funciona mais.
26. O desenvolvimento enérgico do capitalismo no Oriente,
particularmente na Índia e na China, criou novas bases sociais para a luta
revolucionária. A burguesia desses países restringiu ainda mais seus laços com
o capital estrangeiro. Sua luta contra o imperialismo estrangeiro, luta do
concorrente mais fraco, tem um caráter semifictício. O desenvolvimento do
proletariado indiano paralisa as tendências revolucionárias nacionais da
burguesia capitalista. Mas, ao mesmo tempo, as numerosas fileiras de camponeses
têm na vanguarda comunista consciente os verdadeiros chefes revolucionários
A união da opressão militar nacionalista combinada ao imperialismo
estrangeiro, a exploração capitalista combinada à burguesia indiana e à
burguesia estrangeira, assim como a sobrevivência da servidão feudal, criam as
condições nas quais o proletariado nascente se desenvolverá rapidamente,
colocando-se à frente do amplo movimento dos camponeses.
O movimento popular revolucionário na Índia e nas outras e colônias se
tornou parte integrante da revolução mundial dos trabalhadores integrando-se à
sublevação do proletariado dos países capitalistas do Novo ou do Velho Mundo.
V. Relações Internacionais
27. A situação geral da economia da Europa e, antes de tudo, a ruína da
Europa, determinam um largo período de pesadas dificuldades econômicas, de
agitações, crises parciais e gerais etc. As relações internacionais, tal como
se estabeleceram em função da guerra e do Tratado de Versalhes, tornam a
situação sem saída.
O imperialismo foi engendrado pelo desejo das forças produtivas de
suprimir as fronteiras dos Estados nacionais e criar único território europeu e
mundial de economia única. O resultado do conflito dos imperialismo inimigos
foi o estabelecimento, na Europa Central e Oriental, de novas fronteiras, novas
aduanas e novos exércitos. No sentido econômico e prático, a Europa foi
reconduzida à Idade Média.
Sobre um território esgotado e arruinado mantém-se atualmente um
exército uma vez e meia maior que em 1914. Eis o apogeu da "paz
armada".
28. A política dominante da França sobre o continente europeu pode ser
dividida em duas partes: uma, atestando a raiva cega do usurário pronto a
esganar seu devedor insolvente e, outra representada pela cupidez da grande
indústria saqueadora em vias de criar, com a ajuda das bacias do Sarre, do Ruhr
e da Alta-Silésia, as condições favoráveis a um imperialismo financeiro em
falência.
Esses esforços, contudo, vão de encontro aos interesses da Inglaterra.
A tarefa desta consiste em separar o carvão alemão do minério francês, cuja
reunião é, todavia, uma condição indispensável à regeneração da Europa.
29. O Império Britânico parece estar hoje no auge do poderio. Manteve
suas antigas possessões e conquistou novas. O momento atual, porém, mostra com
precisão que a situação predominante da Inglaterra está em contradição com sua
decadência econômica efetiva. A Alemanha, com seu capitalismo incomparavelmente
mais progressivo em relação à técnica e à organização, está esmagada pela força
armada. Mas os Estados Unidos, economicamente senhores das duas América,
assumem, diante da Inglaterra, a condição de adversário triunfante e mais
ameaçador que a Alemanha. Graças a uma melhor organização e a uma técnica
superior, o rendimento do trabalho nas indústrias dos Estados Unidos é
incomparavelmente superior ao da Inglaterra. Os Estados Unidos produzem 65% a
70% do petróleo consumido no mundo inteiro e do qual dependem os automóveis, os
tratores e os aviões. A situação secular e praticamente de monopólio da
Inglaterra sobre o mercado do carvão está definitivamente arruinada; a América
tomou o primeiro lugar. Suas exportações para a Europa aumentam de forma
ameaçadora. Sua frota comercial é quase igual a da Inglaterra. Os Estados
Unidos não querem mais se resignar ao monopólio mundial dos cabos, pertencente
à Inglaterra. No domínio industrial, a Grã-Bretanha passa à ofensiva e, sob o
pretexto de lutar contra a concorrência malsã da Alemanha, se arma de medidas
protecionistas contra os Estados Unidos. Enfim, a frota militar da Inglaterra,
com grande número de unidades velhas, está parada em seu desenvolvimento. O
governo Harding retomou o programa do governo Wilson relativamente às
construções navais, o que dará, nos próximos dois ou três anos, a hegemonia dos
mares à bandeira dos Estados Unidos.
A situação é tal que, ou a Inglaterra será automaticamente empurrada
para o último plano e, apesar de sua vitória sobre a Alemanha, se tornará uma
potência de segunda ordem, ou bem - e ela se acredita já obrigada - empenhará,
num futuro muito próximo, todas as forças adquiridas no passado numa luta de
morte contra os Estados Unidos.
É nesta perspectiva que a Inglaterra mantém sua aliança com o Japão e
se esforça, ao preço de concessões cada vez maiores, para adquirir o apoio, ou
pelo menos, a neutralidade da França.
O crescimento do papel internacional - nos limites do continente - da
França no último ano é causado não pelo seu fortalecimento, mas por um
enfraquecimento internacional da Inglaterra.
A
capitulação da Alemanha em maio último na questão das contribuições de guerra
assinala uma vitória temporária da Inglaterra e assegura a queda econômica
ulterior da Europa Central, sem excluir, num futuro próximo, ai ocupação pela
França da bacia do Ruhr e da Alta-Silésia.
30. O antagonismo entre o Japão e os Estados Unidos, provisoriamente
dissimulado pela participação na guerra contra a Alemanha, desenvolve
abertamente suas tendências nesse momento. O Japão está, por causa da guerra,
próximo das costas americanas, tendo recebido ilhas de grande importância
localizadas no Pacífico.
A crise da indústria japonesa rapidamente desenvolvida desvelou
novamente a questão da emigração. O Japão, país de população densa e pobre de
recursos naturais, está obrigado a exportar mercadorias e homens. Em ambos os
casos, ele se choca com os Estados Unidos, na Califórnia, na China, na ilha de
Jap.
O Japão despende mais da metade de sua receita com o exército e com a
frota. Na luta da Inglaterra com a América, o Japão desempenhará no mar o papel
que a França desempenhou em terra na guerra contra a Alemanha. O Japão se
aproveita atualmente do antagonismo contra a Grã-Bretanha e a América, mas a
luta decisiva desses dois gigantes pela dominação do mundo se decidirá
finalmente em seu detrimento.
31. O grande massacre recente foi europeu por suas causas e seus
participantes. O eixo da luta era o antagonismo entre a Inglaterra e a
Alemanha. A intervenção dos Estados Unidos alargou o quadro da luta, mas não o
desviou de sua tendência fundamental e o conflito europeu foi resolvido às
custas do mundo inteiro. A guerra, que resolveu a sua maneira a contenda entre
a Inglaterra e a Alemanha, não só resolveu a questão das relações entre os
Estados Unidos e a Inglaterra, mas colocou-a em primeiro plano. A última guerra
foi o prefácio europeu da guerra verdadeiramente mundial que decidirá sobre a dominação
imperialista excessiva.
32. Este é apenas um dos eixos da política mundial. Há outro eixo: a
Federação dos Sovietes russos e a III Internacional nasceram em conseqüência da
última guerra. O grupamento das forças revolucionárias internacionais está
inteiramente dirigido contra todos os grupamentos imperialistas.
A manutenção da aliança entre a Inglaterra e a França ou, ao contrário,
sua destruição, tem o mesmo preço do ponto de vista da paz que a renovação da
aliança anglo-japonesa, que a entrada (ou a recusa em entrar) dos Estados
Unidos na Sociedade das Nações. O proletariado verá uma grande garantia de paz
no grupo passageiro, cúpido e desleal dos países capitalistas cuja política,
evoluindo em torno do antagonismo anglo-americano, prepara uma sangrenta
explosão.
A conclusão, para alguns países capitalistas, de tratados de paz e
convenções comerciais com a Rússia soviética não significa a renúncia da
burguesia mundial à destruição da República dos Sovietes, longe disso. Só se
pode ver aí uma mudança talvez passageira de formas e métodos de luta. O golpe
de estado japonês no Extremo Oriente significa talvez o começo de um novo
período de intervenção armada.
É absolutamente evidente que, quanto mais o movimento revolucionário
proletário mundial se abranda, mais as contradições da situação internacional -
econômica e política - estimulam a burguesia a tentar de novo um desenlace
pelas armas em escala mundial. Isso significa que o "restabelecimento do
equilíbrio capitalista" após a nova guerra se baseará num esgotamento
econômico e num retrocesso da civilização de tal dimensão que, em comparação
com a situação atual da Europa, esta parecerá o cúmulo do bem-estar.
33. Posto que a experiência da última guerra confirmou com uma certeza
terrificante que "a guerra é um cálculo enganoso" - verdade que
contém todo pacifismo, tanto socialista como burguês - a preparação da nova
guerra, preparação econômica, política, ideológica e técnica, segue a passos
largos em iodo o mundo capitalista. O pacifismo humanitário anti-revolucionário
se tornou uma força auxiliar do militarismo.
Os social-democratas de todos os matizes e os sindicalistas de Amsterdã
incutem no proletariado internacional a convicção da necessidade de se adaptar
às regras econômicas e ao direito internacional dos países, tal como foram
estabelecidos após a guerra, e aparecem como os auxiliares insignes. da
burguesia imperialista na preparação do novo massacre que ameaça destruir
definitivamente a civilização humana.
VI A Classe Operária Após a Guerra
34. No fundo, a questão do restabelecimento do capitalismo se resume
assim: a classe operária está disposta a fazer, em condições incomparavelmente
mais difíceis, os sacrifícios indispensáveis para assegurar as condições de sua
própria escravidão, mais estreita e mais dura que antes da guerra?
Para restaurar a economia européia, substituindo o aparelho de produção
destruído durante a guerra, uma nova invenção do capitalismo será necessária.
Isso só será possível se o proletariado estiver pronto para trabalhar mais em
condições de vida muito inferiores. Eis o que os capitalistas pedem, eis o que
aconselham os chefes traidores da Internacional amarela: primeiro, ajudar na
restauração do capitalismo; depois, lutar pela melhoria da situação dos
operários. Mas o proletariado da Europa não está disposto a esse sacrifício,
ele exige uma melhoria de suas condições de vida, o que atualmente está em
contradição absoluta com as possibilidades objetivas do capitalismo. Dai as
greves e insurreições sem fim e a impossibilidade de restaurar a economia
européia. Para restabelecer o curso da mudança significa ante tudo, para os
países europeus (Alemanha, França, Itália, Áustria, Hungria, Polônia, Bálcãs),
desembaraçarem-se de cargas superiores às suas forças, isto é, decretar sua
falência; é também dar um poderoso impulso á luta de todas as classes por uma
nova divisão da renda nacional. Restabelecer o valor do câmbio é, no futuro,
diminuir as despesas do Estado em detrimento das massas (renunciar a fixar o
salário mínimo, o preço dos artigos de consumo geral); é impedir a circulação
dos artigos de primeira necessidade em favor de artigos mais baratos, vindos do
estrangeiro, aumentando a exportação, diminuindo os custos de produção, isto é,
mais uma vez reforçar a exploração sobre a massa operária. Toda medida séria no
sentido de restabelecer o equilíbrio rompido das classes dá um novo impulso à
luta revolucionária. A questão de saber se o capitalismo pode se regenerar
torna-se uma questão de luta entre forças vivas: aquelas das classes e dos
partidos. Se, das duas classes fundamentais, a burguesia e o proletariado, uma,
a última, renunciar à luta revolucionária, a outra, a burguesia, reencontrará,
no fim das contas, indubitavelmente, um novo equilíbrio capitalista -
equilíbrio de decomposição material e moral - em meio a novas crises, novas
guerras, em meio ao empobrecimento de países inteiros e à morte de dezenas de
milhões de trabalhadores.
A situação atual do proletariado internacional, porém, dá poucos
motivos para prognosticar esse equilíbrio.
35. Os elementos sociais de estabilidade, conservação, tradição,
perderam a maior parte de sua autoridade sobre o espírito das massas
trabalhadoras. Se a social-democracia e as tradições conservam ainda alguma
influência sobre uma parte considerável do proletariado, graças à herança do
aparelho de organização, esta influência é inteiramente inconsistente. A guerra
modificou não apenas o estado de espírito, mas a própria composição do
proletariado, e essas modificações são totalmente incompatíveis com a
organização anterior à guerra.
Na maioria dos países domina ainda a burocracia operária extremamente
desenvolvida, estreitamente unida, que elabora seus próprios métodos e
procedimentos de dominação e se liga por milhares de laços às instituições e
aos órgãos do Estado capitalista.
Há também um grupo de operários, o melhor colocado na produção,
ocupando ou contando ocupar postos de administração, e que são o apoio mais
seguro da burocracia operária.
Além disso, existe a velha geração dos social-democratas e
sindicalistas, na maioria operários qualificados, ligados à sua organização por
dezenas de anos de lutas e que não podem se decidir a romper com ela, apesar de
suas traições e sua falência. Todavia, no interior dos setores da produção, os
operários qualificados estão misturados aos operários não qualificados, as
mulheres sobretudo.
Seguem-se milhões de operários que fizeram o aprendizado da guerra, que
se familiarizaram com o manuseio de armas e estão prontos, na sua maioria, para
lutar contra o inimigo de classe, com a condição, porém, de uma preparação
séria, prévia, de uma firme direção, elementos indispensáveis ao sucesso.
Depois, milhões de novos operários, operários atraídos para a indústria
durante a guerra que comunicam ao proletariado não somente seus preconceitos
pequeno-burgueses mas, também, suas aspirações impacientes por melhores
condições de vida.
Há também milhares de jovens operários e operárias educados durante a
tempestade revolucionária, mais acessíveis a palavra comunista, queimando de
desejo de agir.
Em último lugar, um gigantesco exército de desempregados, na maioria
operários não-qualificados ou semi-qualificados, que refletem vivamente nessas
flutuações o curso da economia capitalista e mantêm a ordem burguesa sob
constante ameaça.
Esses elementos do proletariado tão diversos em sua origem e caráter
não foram e não estão treinados no movimento de após a guerra ou simultâneo a
ela. Daí as hesitações, as flutuações, os progressos e os recuos da luta
revolucionária. Mas, em sua esmagadora maioria, a massa proletária cerra
fileiras em meio à ruína de todas as antigas ilusões, em meio à assustadora
incerteza da vida cotidiana, diante da onipotência do capital concentrado,
diante dos métodos de pilhagem e extorsão do Estado militarizado. Essa massa,
que conta com milhões de homens, procura uma direção firme e clara, um nítido
programa de ação; essa massa acredita no papel decisivo que o partido
comunista, coerente e centralizado, é chamado a desempenhar.
36. A situação da classe operária foi evidentemente agravada durante a
guerra. Alguns grupos de operários prosperaram. As famílias em que alguns
membros puderam trabalhar nas usinas durante a guerra conseguiram manter e
elevar seu nível de vida. Mas, de um modo geral, o salário não aumentou na
proporção do custo de vida.
Na Europa Central, durante a guerra, o proletariado passou por
privações crescentes. Nos países continentais da Entente, a (queda do nível de
vida foi menos brutal até os últimos anos. Na Inglaterra, em meio a uma luta
enérgica, durante o último período da guerra, o proletariado parou o processo
de agravamento das suas condições de vida.
Nos Estados Unidos, a situação de algumas camadas da classe operária
melhorou, algumas camadas conservaram sua antiga situação ou sofreram um
rebaixamento em seu nível de vida.
A crise se abateu sobre o proletariado do mundo inteiro com uma força
aterradora. A redução dos salários excedeu a queda dos preços. O número de
desempregados e semi-empregados se tornou enorme, sem precedentes na história
do capitalismo. As freqüentes mudanças nas condições de existência pessoal
influem muito desfavoravelmente sobre o rendimento do trabalho, mas elas
excluem a possibilidade de estabelecer o equilíbrio das classes sobre o terreno
fundamental, quer dizer, no da produção. A incerteza das condições de vida,
refletindo a inconsistência geral das condições econômicas nacionais e mundiais,
constitui, presentemente, o mais forte fator revolucionário.
VII Perspectivas e Tarefas
37. A guerra não determinou imediatamente a revolução proletária. A
burguesia aponta esse fato, com certa aparência de razão, como sua maior
vitória.
Apenas um espírito pequeno-burguês e limitado pode ver a falência do
programa da Internacional Comunista no fato do proletariado europeu não ter
derrotado a burguesia durante a guerra ou imediatamente após seu término. O
desenvolvimento da Internacional Comunista na revolução proletária não implica
a fixação dogmática de uma data determinada no calendário da revolução, nem a
obrigação de conduzir mecanicamente a revolução à data fixada. A revolução era
e continua sendo uma luta de forças vivas sobre bases historicamente dadas. A
destruição do equilíbrio capitalista pela guerra cm escala mundial criou as
condições favoráveis para as forças fundamentais da revolução, para o
proletariado. Todos os esforços da Internacional Comunista foram e continuam
sendo dirigidos para a utilização completa desta situação.
As divergências entre a Internacional Comunista e os social-democratas
dos dois grupos não consiste em que tenhamos determinado unia data fixa para a
revolução, ainda que os social-democratas neguem o valor da utopia e do
putschismo (tentativas insurrecionais); essas divergências residem no fato de
os social-democratas reagirem contra o desenvolvimento revolucionário efetivo,
ajudando de todas as maneiras os governos, assim como na oposição contribuírem
para o restabelecimento do equilíbrio do Estado burguês, enquanto os comunistas
aproveitam todas as ocasiões, meios e métodos para derrotar e esmagar o Estado
burguês com a ditadura do proletariado.
Ao longo dos dois anos e meio após a guerra, o proletariado dos diferentes
países manifestou tanta energia, tanta disposição para a luta, tanto espírito
de sacrifício, que teria podido cumprir largamente sua tarefa e realizar uma
revolução triunfante se à frente da classe operária estivesse um partido
comunista realmente internacional, bem preparado e fortemente centralizado.
Contudo, diversas causas históricas e as influências do passado colocaram à
testa do proletariado europeu, durante e depois da guerra, a organização da II
Internacional, que se transformou e permanece sendo um instrumento político nas
mãos da burguesia.
38. Na Alemanha, mais ou menos no final de 1918 e início de 1919, o
poder pertencia de fato à classe operária. A social-democracia - majoritários e
independentes - e os sindicatos jogaram toda sua influência tradicional e todo
o seu aparelho para repor esse poder nas mãos da burguesia.
Na Itália, o movimento revolucionário impetuoso do proletariado tem
crescido durante os últimos dezoito meses e só se ressente do caráter
pequeno-burguês de um partido socialista, da política de traição da fração
parlamentar, do oportunismo descarado das organizações sindicais que permitiram
à burguesia restabelecer seu aparelho, mobilizar sua guarda branca, passar ao
ataque contra o proletariado momentaneamente desencorajado pela falência de
seus antigos órgãos dirigentes.
O poderoso movimento grevista dos últimos anos na Inglaterra está em
constante choque com as forças armadas do Estado, que intimida os chefes dos
sindicatos. Se esses chefes permanecessem fiéis à causa da classe operária,
apesar de todas essas faltas, seria possível colocar o mecanismo dos sindicatos
a serviço dos combates revolucionários. Desde a última crise da “Tríplice
Aliança" surgiu a possibilidade de um confronto revolucionário com a burguesia
que foi entravado pelo espírito conservador, a covardia e a traição dos chefes
sindicais; se o organismo dos sindicatos ingleses realizasse nesse momento, em
favor do socialismo, somente a metade do trabalho que realiza no interesse do
capital, o proletariado inglês tomaria o poder e, apesar dos sacrifícios,
poderia se lançar na tarefa de reorganização sistemática do país.
O que acabamos de dizer se aplica em grande medida a todos os países
capitalistas.
39. É absolutamente incontestável que a luta revolucionária do
proletariado pelo poder manifesta atualmente, em escala mundial, um certo
relaxamento, um certo abrandamento. Não era permitido esperar, contudo, uma
ofensiva revolucionária após a guerra, uma vez que ela não se desenvolvia
seguindo uma linha ininterrupta. O desenvolvimento político tem também seus
ciclos, seus altos e baixos. O inimigo não fica passivo; ele também combate. Se
o ataque do proletariado não é coroado de sucesso, a burguesia passa
imediatamente ao contra-ataque. A perda de algumas posições conquistadas sem
dificuldade pelo proletariado ocasiona uma certa depressão em suas fileiras.
Mas se é incontestável que na época em que vivemos a curva do desenvolvimento
capitalista é, de modo geral, descendente com movimentos passageiros de ascenso,
a curva da revolução é ascendente com alguns baixos.
A restauração do capitalismo tem por condição sine qua non a
intensificação da exploração, a perda de milhões de vidas humanas, o
rebaixamento ao mais baixo nível (Exizetenzminimum) das condições médias de
vida, a insegurança perpétua do proletariado, o que é um fator constante de
guerra e revolta. E sob a pressão dessas causas e nos combates que elas
engendram que cresce a vontade das massas de destruir a sociedade capitalista.
40. A tarefa capital do Partido Comunista na crise que atravessamos é
dirigir os combates ofensivos do proletariado, amplia-los, aprofundá-los,
agrupá-los e transformá-los - segundo o processo de desenvolvimento - em
combates políticos voltados para o objetivo final. Mas se os acontecimentos se
desenvolverem mais lentamente e um período de ascensão suceder à crise
econômica atual, num número mais ou menos grande de países, isso não será, de
forma alguma, interpretado como a chegada de uma época de
"organização". Durante o longo tempo em que o capitalismo existirá,
as flutuações de desenvolvimento serão inevitáveis. Essas flutuações
acompanharão o capitalismo em sua agonia como o acompanharam em sua juventude e
maturidade.
No caso do proletariado ser empurrado pelo ataque do Capital na atual
crise, ele passará á ofensiva desde que venha a se manifestar alguma melhoria
de sua situação. Sua ofensiva econômica que, neste último caso, será
inevitavelmente guiada, sob todas as palavras de ordem de desforra contra as
mistificações do tempo da guerra, contra a pilhagem e ultrajes sofridos durante
a crise, terá, por essa mesma razão, a mesma tendência a transformar em guerra
civil aberta a luta defensiva atual.
41. Não importa que o movimento revolucionário, ao longo do próximo
período, siga um curso mais animado ou mais brando, o partido comunista, nos
dois casos, deverá ser um partido de ação. Ele está à frente das massas
combatentes, formula firme e claramente palavras de ordem de combate, denuncia
as palavras de ordem equivocadas da social-democracia. O partido comunista deve
se esforçar, em todas as alternativas de combate, para reforçar pelos meios de
organização seus novos pontos de apoio; deve formar as massas em manobras
ativas, armá-las de novos métodos e novos procedimentos, baseados no choque
direto e aberto com as forças do inimigo. Aproveitando cada momento de descanso
para assimilar a experiência da fase precedente da luta, o partido comunista
deve se esforçar para aprofundar e alargar as conquistas de classe e ligá-las em
escala nacional e internacional à idéia do objetivo e da ação prática, de
maneira que no momento culminante do proletariado sejam vencidas todas as
resistências à ditadura e da revolução social.
TESE SOBRE A TÁTICA
1. Delimitação da Questão
"A nova Associação Internacional dos operários foi fundada para
organizar as ações comuns dos proletários dos diferentes países, ações cujo
objetivo comum é a derrubada do capitalismo, estabelecimento da ditadura do
proletariado e de uma República Internacional dos Sovietes tendo em vista a
supressão completa das classes e da realização do socialismo, primeiro degrau
da sociedade comunista."
Esta definição dos objetivos da Internacional Comunista, colocada em
seus estatutos, delimita claramente todas as questões de tática que estão por
ser resolvidas.
Trata-se da tática a empregar em nossa luta pela ditadura do
proletariado. Trata-se dos meios a empregar para conquistar a maior parte da
classe operária para os princípios do comunismo, dos meios a utilizar para
organizar os elementos mais importantes do proletariado na luta pela realização
do comunismo, trata-se das relações com as camadas pequeno-burguesas
proletarizadas, dos meios e procedimentos a adotar para desmontar o mais
rapidamente possível os órgãos do poder burguês, reduzi-los a ruínas e encetar
a luta final internacional pela ditadura do proletariado.
A questão da ditadura em si, como única via de acesso à vitória, está
fora de discussão. O desenvolvimento da revolução mundial mostrou claramente
que há uma única alternativa na situação histórica atual: ditadura capitalista
ou ditadura proletária.
O 3º Congresso da Internacional Comunista retoma o exame das questões
da tática nas novas condições, já que em boa parte dos países a situação
objetiva assumiu uma extraordinária agudeza revolucionária e vários grandes
partidos comunistas se formaram, mas não possuem ainda a direção efetiva do
grosso da classe operária na luta revolucionária real.
2. Às Vésperas de Novos Combates
A revolução mundial, isto é, a destruição do capitalismo, a
concentração das energias revolucionárias do proletariado e a sua organização
em força agressiva e vitoriosa exigirá um período muito longo de combates
revolucionários.
A agudeza dos antagonismos, a diferença da estrutura social e dos
obstáculos a enfrentar segundo os países, o alto grau de organização da
burguesia nos países de alto desenvolvimento capitalista da Europa Ocidental e
da América do Norte, são razões suficientes para que a guerra mundial não
conduza imediatamente à vitória da revolução mundial. Os comunistas tiveram,
portanto, razão ao declarar, ainda durante a guerra, que o período do
imperialismo conduzirá a uma longa série de guerras civis no interior dos
diversos países capitalistas e guerras entre os Estados capitalistas de uma
parte, os Estados proletários e os povos coloniais explorados de outra parte.
A revolução mundial não é um processo que siga em linha reta; é a
dissolução lenta do capitalismo e a sapa revolucionária cotidiana, que se
intensificam em certos momentos e se concentram em crises agudas.
O curso da revolução mundial tornou-se mais arrastado pelo fato de que
poderosas organizações e partidos operários, a saber os partidos e sindicatos
social-democratas, fundados pelo proletariado para guiar sua luta contra a
burguesia, se transformaram durante a guerra cm instrumentos de influência
contra-revolucionária e de imobilização do proletariado e assim permaneceram
até o fim da guerra. Isso permitiu à burguesia mundial suportar facilmente a
crise da desmobilização, permitiu-lhe despertar na classe operária uma
esperança de melhoria de sua situação nos limites do capitalismo durante o
período de prosperidade aparente de 1919-1920, o que foi a causa da derrota das
sublevações de 1919 e do abrandamento dos movimentos revolucionários de
1919-1920.
A crise econômica mundial, que surgiu em meados de 1920 e que se
estende até hoje sobre todo o mundo, aumentando em todos os lugares o
desemprego, prova ao proletariado internacional que a burguesia não tem condições
de reconstruir o mundo. A exasperação de todos os antagonismos políticos
mundiais, a campanha rapace da França contra a Alemanha, as rivalidades
anglo-americana e americano-japonesa com a corrida armamentista que se segue,
mostram que o mundo capitalista em agonia cambaleia novamente em direção à
guerra mundial. A Sociedade das Nações, truste internacional dos países
vencedores para a exploração dos concorrentes vencidos e dos povos coloniais,
esta minada pela concorrência americana. A ilusão com que a social democracia
internacional e a burguesia sindical desviaram as massas operarias da luta
revolucionária, a ilusão de que poderiam obter gradual e politicamente o poder
econômico e o direito de se auto administrar renunciando à conquista do poder
político pela luta revolucionaria está morrendo.
Na Alemanha, as comédias de socialização promovidas pelo governo
Scheidermann-Nolke, procurando deter o avanço decisivo do proletariado, chegam
ao fim. As frases sobre a socialização tinham lugar no sistema bem real de
Stinnes, com a submissão da indústria alemã à ditadura capitalista e sua corja.
O ataque do governo prussiano sob a direção do social-democrata Severing contra
os mineiros da Alemanha central configura o início da ofensiva geral da
burguesia alemã ante a possibilidade de reação à redução dos salários do
proletariado alemão.
Na Inglaterra, todos os planos de nacionalização foram por água abaixo.
Em vez de realizar os projetos de nacionalização da comissão de Sankey, o
governo apoia com tropas o nocaute contra os mineiros ingleses.
O governo francês adia sua bancarrota econômica com uma expedição de
rapina à Alemanha. Não pensa numa reconstrução sistemática de sua economia
nacional. Mesmo a reconstrução das costas devastadas do Norte da França, na
medida em que ela é empreendida, serve apenas para o enriquecimento dos
capitalistas privados.
Na Itália, a burguesia montou o ataque contra a classe operária com a
ajuda dos bandos brancos fascistas.
Em todos os lugares a democracia burguesa está desmascarada, mais
completamente porém nos velhos Estados democrático-burgueses do que nos novos,
em conseqüência do desmoronamento imperialista. Guardas brancas, arbítrio
ditatorial do governo contra os mineiros grevistas na Inglaterra fascistas e
Guarda Régia na Itália, Pinkertons, exclusão dos deputados socialistas dos
parlamentos, "Lei de Lynch" nos Estados Unidos, terror branco na
Polônia, Iugoslávia, Romênia, Letônia, Estônia, legalização do terror branco na
Finlândia, Hungria, nos países Balcânicos, "leis comunistas" na
Suíça, França etc..., em todos os lugares a burguesia procura fazer recair
sobre a classe operária as conseqüências da crescente anarquia econômica,
prolongando a jornada de trabalho e reduzindo os salários. Em todos os lugares
a burguesia encontra auxiliares nos chefes da social-democracia e da
Internacional Sindical de Amsterdã. Esses últimos podem retardar o despertar
das massas operárias para um novo combate e a chegada de novas ondas
revolucionárias, mas não podem impedi-los.
Já se vê o proletariado alemão se preparar para o contra-ataque, apesar
da traição dos chefes "trade-unionistas", mantendo-se heroicamente,
durante longas semanas, na luta contra o capital mineiro. Vemos como a vontade
de combate cresce nas fileiras avançadas do proletariado italiano depois da
experiência que ele teve com a política hesitante do grupo Serrati, vontade de
combate que se expressa na formação do Partido Comunista da Itália. Vemos como
na França, após a cisão, após a separação dos social-patriotas e dos centristas,
o Partido Socialista começa a passar da agitação e da propaganda do comunismo
para manifestações de massa contra os apetites rapaces do imperialismo francês.
Na Tchecoslováquia, assistimos à greve política de dezembro, envolvendo, apesar
da falia de uma direção única, um milhão de operários e tendo como conseqüência
a formação de um Partido Comunista tcheco, partido de massas. Em fevereiro
tivemos na Polônia uma greve de ferroviários, dirigida pelo Partido Comunista
que teve como resultado uma greve geral e assistimos à decomposição do Partido
Socialista Polonês social-patriota.
Dai é necessário esperar não o abrandamento da revolução mundial ou
refluxo de suas ondas, mas o contrário: nas circunstâncias dadas, uma
exasperação imediata dos antagonismos sociais e combates sociais é o que há de
mais verossímil.
3. A Tarefa Mais Importante do Momento
A conquista da influência preponderante sobre a maior parte da classe
operária, a introdução no combate de frações determinantes desta classe é, no
momento atual, o problema mais importante da Internacional Comunista.
Estamos diante de uma situação econômica e política objetivamente
revolucionária, na qual a crise mais aguda pode estourar de repente (após uma
grande greve, uma revolta colonial, uma nova guerra ou mesmo na grande crise
parlamentar etc.). O maior número de operários não está ainda sob a influência
do comunismo, sobretudo nos países em que o poder particularmente forte do
capital financeiro deu origem a vastas camadas de operários corrompidos pelo
imperialismo (por exemplo, na Inglaterra e nos Estados Unidos) e onde a
verdadeira propaganda revolucionária entre as massas recém começa.
Desde o primeiro dia de sua fundação, a Internacional Comunista
repudiou as tendências sectárias, prescrevendo aos partidos filiados, por
pequenos que fossem, colaborar com os sindicatos, participar na luta contra a
burocracia reacionária do interior dos próprios sindicatos e transformá-los em
organizações revolucionárias das massas proletárias, em instrumentos de combate.
Desde o seu primeiro ano de existência, a Internacional Comunista prescreveu
aos Partidos Comunistas não se fecharem nos círculos de propaganda, mas colocar
a serviço da educação e da organização do proletariado todas as possibilidades
que a constituição do Estado burguês é obrigada a deixar abertas: liberdade de
imprensa, liberdade de reunião e de associação e todas as instituições
parlamentares burguesas, por mais lamentáveis que sejam, para fazer delas
armas, tribunas, praças de guerra do comunismo. Em seu 2° Congresso, a
Internacional Comunista, nas resoluções sobre a questão sindical e a utilização
do parlamento, repudia abertamente todas as tendências sectárias.
As experiências desses dois anos de luta dos Partidos Comunistas
confirmaram em todos os pontos a justeza do ponto de vista da Internacional
Comunista. Essa, por sua política, levou os operários revolucionários a se
separarem não apenas dos reformistas declarados mas, também, dos centristas.
Desde que os centristas formaram a sua Internacional 2 1/2, que se alia
publicamente aos Scheidermann, aos Jouhaux e aos Hendersons no terreno da
Internacional Sindical de Amsterdã, o campo de batalha se tornou mais claro
para as massas proletárias, o que facilitará os combates que estão por vir.
O comunismo alemão, graças à tática da Internacional Comunista (ação
revolucionária nos sindicatos, carta aberta etc...), de uma simples tendência
política que era nos combates de janeiro e março de 1919, se transformou em um
grande partido das massa revolucionárias. Ele adquiriu nos sindicatos uma
influência tal que a burocracia sindical foi forçada a excluir numerosos
comunistas dos sindicatos com medo da influência revolucionária da sua ação
sindical, e de ela provocar a odiosa cisão.
Na Tchecoslováquia, os comunistas conseguiram ganhar para sua causa a
maioria dos operários organizados.
Na Polônia, o Partido Comunista, principalmente graças ao trabalho de
sapa nos sindicatos, soube não apenas entrar cm contato com as massas, mas se
tornar seu guia na luta, apesar das perseguições monstruosas que obrigaram as
organizações comunistas a uma existência absolutamente clandestina.
Na França, os comunistas conquistaram a maioria no interior do Partido
Socialista.
Na Inglaterra, termina o processo de consolidação dos grupos comunistas
organizados segundo as diretrizes táticas da Internacional Comunista e a
influência crescente dos comunistas obriga os socialistas-traidores a tentar
tornar impossível a entrada dos comunistas no Labour Party.
Os grupos comunistas sectários; (como o K.A.P.P.D. etc.) não
encontraram um único sucesso. A teoria do reforço do comunismo pela propaganda
e agitação apenas, pela fundação de sindicatos comunistas distintos, está
falida. Em nenhum lugar, nenhum Partido Comunista de qualquer influência pôde
ser fundado dessa maneira.
4. A Situação no Interior da Internacional Comunista
Na via conducente à formação de partidos comunistas de massas, a
Internacional Comunista não foi suficientemente longe. E mesmo nos dois países
mais importantes do capitalismo vitorioso tudo está por fazer nesse domínio.
Nos Estados Unidos da América do Norte, onde antes da guerra, por
razões históricas, não existia nenhum movimento revolucionário de alguma
amplitude os comunistas têm diante de si tarefas primordiais e simples: a
formação de um núcleo comunista e sua ligação com as massas operárias. A crise
econômica que deixou 5 milhões de operários sem trabalho, forneceu à
Internacional Comunista um terreno muito favorável. Consciente do perigo que o
ameaça de radicalização do movimento operário e de sua influência pelos
comunistas, o capital americano tenta quebrar o jovem movimento comunista com
perseguições bárbaras, tenta anulá-lo e levá-lo à ilegalidade, na qual, pensa
ele, esse movimento sem contato com as massas degenerará numa seita de
propaganda e se consumirá.
A Internacional Comunista chama a atenção do Partido Comunista
Unificado da América para o fato de que a organização ilegal deve se constituir
apenas no que se refere às reuniões, no sentido de clarificar as posições para
as forças comunistas mais ativas, mas o Partido Unificado tem o dever de tentar
por todos os meios e todas as vias sair de suas organizações ilegais e se
reunir às grandes massas operárias em fermentação; ele tem o dever de encontrar
as formas e os meios próprios para concentrar politicamente essas massas em sua
vida pública na luta contra o capital americano.
O movimento comunista inglês ainda não conseguiu, apesar da
concentração de suas forças em um Partido Comunista, se tornar um partido de
massas.
A desorganização duradoura da economia inglesa, o agravamento inusitado
do movimento grevista, o descontentamento crescente das grandes massas
populares em relação ao regime de Lloyd George, a possibilidade de uma vitória
do Labour Party e do Partido Liberal nas próximas eleições parlamentares, tudo
isso abre novas perspectivas para o desenvolvimento revolucionário na
Inglaterra e coloca diante dos comunistas ingleses questões de extrema
importância.
A primeira e principal tarefa do Partido Comunista da Inglaterra é se
tornar um partido de massas. Os comunistas ingleses devem se colocar firmemente
sobre o terreno do movimento de massas existente de fato e que se desenvolve
sem cessar; eles devem é penetrar em todas as particularidades concretas desse
movimento e fazer das reivindicações isoladas ou parciais dos operários o ponto
de partida de sua própria agitação e propaganda incansável e enérgica.
O poderoso movimento grevista põe à prova, aos olhos de centenas de
milhares e de milhões de operários, o grau de capacidade, fidelidade,
constância e consciência das trade-unions e seus chefes. Nessas condições, a
ação dos comunistas no seio dos sindicatos adquire uma importância decisiva.
Nenhuma crítica ao Partido, vinda de fora, conseguirá mesmo em pequena medida,
exercer sobre as massas uma influência semelhante àquela que pode ser exercida
pelo trabalho cotidiano e constante dos núcleos comunistas nos sindicatos, pelo
trabalho de desmascaramento e descrédito dos traidores e burgueses do
trade-unionismo, que na Inglaterra, mais do que nos outros países, faz o jogo
político do capital.
Se, em outros países, a tarefa do Partido Comunista consiste em
importante medida em tomar a iniciativa das ações de massa, na Inglaterra a
tarefa do Partido Comunista consiste, antes de tudo, a partir das ações de
massas que se desenvolvem de fato, em mostrar por seu próprio exemplo e provar
que os comunistas são capazes de expressar justa e corajosamente os interesses,
os desejos e os sentimentos dessas massas.
Os Partidos Comunistas de massas da Europa Central e Ocidental se
encontram em plena elaboração de seus métodos de agitação e propaganda
revolucionária, em plena formação de métodos de organização respondendo ao seu
caráter de combate, enfim, em plena transição da propaganda e da agitação
comunista à ação. Esse processo está entravado pelo fato de que em um bom
número de países a entrada no campo do comunismo de operários que se tornaram
revolucionários se deu sob a direção de líderes que ainda não superaram suas
tendências centristas e que não estão em condições de levar uma agitação eficaz
e a propaganda comunista entre o povo, temem mesmo esta propaganda, porque
sabem que ela conduzirá os Partidos aos combates revolucionários.
Essas tendências centristas levaram o Partido a uma cisão na Itália. Os
chefes do Partido e os sindicatos agrupados em torno de Serrati em vez de
transformarem os movimentos espontâneos da massa operária e sua atividade
crescente em uma luta consciente pelo poder, deixaram esses movimentos
afundarem. O comunismo não tem por isso um meio de sacudir e concentrar as
massas operárias para o combate. Por temerem o combate esperam diluir a
propaganda e a agitação comunistas e conduzi-las aos eixos centristas. Eles
reforçam a influência dos centristas como Turatti e Trêves no Partido e como
Aragona nos sindicatos. Como eles não se distinguem dos reformistas nem pela
palavra nem pelos atos, eles não se separam deles. Preferem se separar dos
comunistas. A política da tendência Serrati, reforçando de uma parte a
influência dos reformistas, criou, de outra parte, o duplo perigo de reforçar
os anarquistas e os sindicalistas e de engendrar tendências anti-parlamentares
radicais unicamente em palavras dentro do próprio Partido.
A cisão de Livourne, a formação do Partido Comunista da Itália, a
concentração de todos os elementos realmente comunistas sobre o terreno das
decisões do 20 Congresso da Internacional Comunista num Partido Comunista,
farão do comunismo nesse país uma força de massas, contanto que o Partido
Comunista da Itália combata sem trégua e sem fraqueza a política oportunista do
serratismo e se dê assim a oportunidade de ficar ligado às massas do
proletariado nos sindicatos, nas greves, nos enfrentamentos com as organizações
contra-revolucionárias dos fascistas, fundindo os movimentos dessas massas e
transformando em combates cuidadosamente preparados suas ações espontâneas.
Na França, onde o veneno chauvinista da "defesa nacional" e,
em seguida, a embriaguez da vitória foram mais fortes que nos outros lugares; a
reação contra a guerra se desenvolveu mais lentamente que nos outros países.
Graças à influência da Revolução russa, das lutas revolucionárias nos países
capitalistas e à experiências das primeiras lutas do proletariado francês
traído por seus chefes, o Partido Socialista evoluiu em sua maioria na direção
do comunismo, antes mesmo de ter sido colocado pelo rumo dos acontecimentos
diante das questões decisivas da ação revolucionária. Esta situação será tanto
melhor quanto mais largamente utilizada pelo Partido Comunista Francês que
liquidará categoricamente, em seu próprio seio, sobretudo nos meios dirigentes,
os resquícios da ideologia do pacifismo nacionalista e do reformismo
parlamentar. O Partido deve, não somente em relação ao passado, se reaproximar
das massas e de suas camadas oprimidas e dar a expressão claras, completa e
inflexível de seus sofrimentos e desejos. Em sua luta parlamentar, o Partido
deve romper categoricamente com as formas impregnadas de desprezo pelo
parlamento francês, conscientemente forjados pela burguesia para hipnotizar e
intimidar os representantes da classe operária. Os parlamentares franceses
devem se esforçar, em todas as suas intervenções, para arrancar o véu
nacional-democrata, republicano e tradicionalmente revolucionário e apresentar
nitidamente toda questão como uma questão de interesse para a impiedosa luta de
classes.
A agitação prática deve tomar um caráter muito mais concentrado, mais
tenso e mais enérgico. Ela não deve se dispersar em situações e combinações
cambiantes e variáveis da política cotidiana. De todos os acontecimentos,
pequenos ou grandes, ela deve sempre tirar as próprias conclusões fundamentais
e revolucionárias e inculcá-las nas massas operárias, mesmo as mais atrasadas.
Essa é a única condição a observar numa atitude verdadeiramente revolucionária
para que o Partido Comunista deixe de aparecer - e de ser na realidade - como
simples ala esquerda desse bloco radical longuettista que oferece com uma
insistência e um sucesso cada vez maior seus serviços à sociedade burguesa para
protegê-la dos abalos que se anunciam na França com uma lógica inflexível.
Abstraindo a questão de saber se esses acontecimentos revolucionários decisivos
chegarão mais ou menos cedo, um Partido Comunista moralmente educado,
inteiramente penetrado da vontade revolucionária, encontrará a possibilidade,
mesmo na época atual de preparação, de mobilizar as massas operárias no terreno
político e econômico e dar à sua luta um caráter mais claro e mais vasto.
As tentativas feitas pelos elementos revolucionários impacientes e
politicamente inexperientes, querendo empregar nessas questões e para objetivos
isolados os métodos extremos que, por sua essência, constituem os métodos da
sublevação revolucionária decisiva do proletariado (assim a proposição de
convidar a classe de 1919 a não responder à mobilização), essas tentativas
podem, em caso de aplicação, reduzir a nada por longo tempo a preparação
realmente revolucionária do proletariado para a conquista do poder. É um dever
do Partido Comunista Francês, assim como de todos os partidos análogos,
repudiar esses métodos extremamente perigosos. Mas esse dever não deve, em
nenhum caso, dar lugar à inatividade do Partido. Bem ao contrário.
Reforçar a ligação do Partido com as massas é antes de tudo, ligá-lo
mais estritamente aos sindicatos. O objetivo não consiste em submeter mecânica
e exteriormente os sindicatos ao Partido e este renunciar à autonomia
decorrente do caráter de sua ação; consiste em que os elementos verdadeiramente
revolucionários, reunidos no Partido Comunista, dêem, ainda que nos limites dos
sindicatos, uma tendência correspondente aos interesses comuns do proletariado,
lutando pela conquista do poder.
Considerando esse fato, o Partido Comunista Francês deve lazer a
crítica - de forma amigável, mas decisiva e clara - de todas as tendências
anarco-sindicalistas que rejeitam a ditadura do proletariado, ressaltando a
necessidade de uma união de sua vanguarda em uma organização dirigente, centralizada,
isto é, em um Partido Comunista, assim como de todas as tendências
sindicalistas transitórias que, sob o manto da carta de Amiens, elaborada oito
anos antes da guerra, não conseguem mais dar hoje uma resposta clara e nítida
às questões essenciais da nova época de pós-guerra.
O ódio que se manifesta no sindicalismo francês contra o espírito de
certa política é antes de tudo um ódio bem justificado contra os parlamentares
"socialistas-tradicionais". Mas o caráter absolutamente
revolucionário do Partido Comunista dá-lhe a possibilidade de lazer compreender
a necessidade da união política com o objetivo de a classe operária conquistar
o poder.
A fusão do grupamento sindicalista revolucionário com a organização
comunista em seu conjunto é uma condição necessária e indispensável de toda
luta séria do proletariado francês.
Só se conseguirá superar e descartar as tendências a uma ação prematura
e vencer a imprecisão de princípios e o Separatismo da organização dos
sindicalistas-revolucionários quando o próprio Partido, como dissemos acima, se
tornar, tratando de forma verdadeiramente revolucionária toda questão da vida e
da luta cotidiana das massas operárias, um centro de atração para elas.
Na Tchecoslováquia, as massas trabalhadoras, ao longo desses dois anos
e meio, estão em grande parte libertas das ilusões reformistas e nacionalistas.
Em setembro último, a maioria dos operários social-democratas se separou dos
chefes reformistas Em dezembro, um milhão de operários aproximadamente dos três
milhões e meio de trabalhadores industriais da Tchecoslováquia se opôs, em uma
ação revolucionária de massas, ao governo capitalista de seu país. No mês de
maio desse ano, o Partido Comunista Tchecoslovaco se constituiu com
aproximadamente 350.0000 membros ao lado do Partido Comunista da Boêmia alemã
já formado, contando com aproximadamente 600.000 membros. Os comunistas
constituem assim uma grande parte não só do proletariado mas de toda a
população. O Partido Comunista Tchecoslovaco está colocado hoje diante do problema
de atrair, através de unia agitação verdadeiramente comunista, as massas
operárias mais vastas, de instruir os membros novos e antigos, por sua
propaganda comunista clara e sem timidez, sobre a necessidade de unir os
operários de todas as nacionalidades da Tchecoslováquia para formar um front
continuo dos proletários contra o nacionalismo, essa cidadela da burguesia na
Tchecoslováquia, e transformar, no futuro, essa força assim criada do
proletariado ao longo dos combates contra as tendências opressivas do
capitalismo e contra o governo numa potência invencível. O Partido Comunista da
Tchecoslováquia estará tanto mais prontamente à altura dessa missão quanto mais
souber com clareza e decisão vencer todas as tradições e preconceitos
centristas, levando uma política que o educará revolucionariamente.
Concentrando as maiores massas do proletariado, estará em condições de preparar
ações de massas vitoriosas. O Congresso decide que os Partidos Comunistas
Tchecoslovaco e alemão-boêmio devem fundir suas organizações e formar um
Partido único dentro de um prazo a ser determinado pelo Comitê Executivo.
O Partido Comunista Unificado da Alemanha nasce da união do grupo
Spartacus com as massas operárias dos Independentes de esquerda. Ainda que já
seja um grande partido de massas, tem a missão imensa de aumentar sua
influência sobre as grandes massas, de fortalecer as organizações das massas
proletárias, conquistar os sindicatos, quebrar a influência do Partido
social-democrata e da burocracia sindical e descobrir, nas lutas futuras do
proletariado, os líderes dos movimentos de massas. Esta tarefa principal do
Partido exige que ele aplique aí todos os seus esforços de adaptação,
propaganda e organização, que conquiste as simpatias da maioria do
proletariado, sem o que, dado o poder do capital alemão, será impossível a
vitória do comunismo na Alemanha.
O Partido Unificado da Alemanha ainda não se mostrou à altura dessa
tarefa no que concerne à amplitude e ao conteúdo da agitação. Ele ainda não
soube seguir com lógica o rumo que tomou em sua "carta aberta",
opondo os interesses práticos do proletariado à política traidora dos partidos
social-democratas e da burocracia sindical. A imprensa e a organização do
Partido carregam ainda a marca de sociedades, e não de instrumentos e
organizações de luta. As tendências centristas que se expressam ainda nesse
Partido e que também não foram superadas levaram, de uma parte, o Partido a uma
situação tal que, colocado diante da necessidade de combate, teve que entrar
nele sem preparo suficiente e sem conseguir manter a ligação moral com as
massas não-comunistas. As exigências de ação que brevemente serão impostas ao
Partido Comunista Unificado da Alemanha pelo processo de destruição da economia
alemã, pela ofensiva do capital contra as massas operárias, só serão
satisfeitas se o Partido, longe de opor a seu objetivo de ação seus objetivos
de agitação e organização, mantiver o espírito de combatividade em sua
organização, se der à sua agitação um caráter realmente popular, se colocar sua
organização em condições, desenvolvendo sua ligação com as massas, colocando da
maneira mais criativa a situação da luta e prepara não menos cuidadosamente
esta luta.
Os Partidos da Internacional Comunista se tornarão partidos
revolucionários de massas se souberem vencer o oportunismo, seus remanescentes
e suas tradições em suas próprias fileiras, procurando ligar-se estreitamente
às massas operárias combatentes, obedecendo a seus objetivos nas lutas práticas
do proletariado, rechaçando ao longo dessas lutas a política oportunista de
conciliação e redução de antagonismos insuperáveis, que impede de ver a relação
real das forças e as verdadeiras dificuldades do combate. Os Partidos
Comunistas nasceram da cisão dos antigos Partidos Social-democratas. Esta cisão
resultou da traição desses partidos durante a guerra, na aliança com a
burguesia e numa política hesitante que procurou evitar toda luta. Os
princípios dos Partidos Comunistas formam o único terreno sobre o qual as
massas operárias poderão de novo se reunir, pois esses princípios expressam os
desejos de luta do proletariado. Portanto, atualmente os partidos e as
tendências social-democratas e Centristas representam a divisão do
proletariado, enquanto os Partidos Comunistas constituem um elemento de união.
Na Alemanha são os centristas que estão separados da maioria do seu
partido, pois essa seguiu a bandeira do comunismo. Com medo da influência
unificadora do comunismo, os social-democratas e os Independentes da Alemanha,
assim como a burocracia sindical social-democrata, recusaram-se a colaborar em
ações comuns com os comunistas na defesa dos interesses mais elementares do
proletariado. Na Tchecoslováquia, foram os social-democratas que fizeram ir
pelos ares o antigo partido logo que se deram conta do triunfo do comunismo. Na
França, foram os longuetistas que se separaram da maioria dos operários
socialistas, enquanto o Partido Comunista se esforçava para unir os operários
socialistas e sindicalistas. Na Inglaterra, foram os reformistas e os
centristas que perseguiram os comunistas do Labour Party, temendo sua
influência e sabotaram a concentração dos operários em sua luta contra os
capitalistas. Os Partidos Comunistas se tornaram assim os elementos de união do
proletariado em sua luta por seus interesses' conscientes do seu papel, eles
acumularam novas forças.
5. Combates e Reivindicações Parciais
Os Partidos Comunistas só podem se desenvolver na luta. Mesmo os
menores Partidos Comunistas não devem se limitar à mera propaganda e agitação.
Eles devem se constituir, em todas as organizações de massa do proletariado, em
vanguarda das massas atrasadas e hesitantes, formulando para elas os objetivos
Concretos do combate, incitando-as a lutar por suas necessidades vitais,
indicando a maneira de conduzir a batalha, o que, por si só, revela a traição
de todos os partidos não comunistas. Somente sabendo se colocar à frente do
proletariado em todos os seus combates, os Partidos Comunistas poderão ganhar
efetivamente as grandes massas proletárias para a luta pela ditadura.
Toda agitação e propaganda, toda ação do Partido Comunista, devem estar
penetradas da convicção de que, sobre o terreno do capitalismo, é impossível
qualquer melhoria da situação das massas proletárias; somente a derrota da
burguesia e a destruição do Estado capitalista permitirão trabalhar para
melhorar a situação da classe operária e restaurar a economia nacional
arruinada pelo capitalismo.
Essa convicção, por fim, não deve permitir que se renuncie ao combate
pelas reivindicações vitais atuais e imediatas do proletariado, esperando que
ele tenha condições de defendê-las por sua ditadura. A social-democracia que
hoje, no momento em que o capitalismo não está em condições de assegurar aos
operários nada mais do que uma existência de escravos contentes, apresenta o
velho programa social-democrata das reformas pacificas, reformas que devem ser
realizadas pela via pacífica sobre o terreno e nos limites do capitalismo em
falência. Esta social-democracia engana conscientemente as massas operárias. O
capitalismo, em sua fase de destruição, não só é incapaz de assegurar aos
operários as condições mínimas de existência, mas também os social-democratas,
os reformistas de todos os países, provam diariamente que não têm a menor
intenção de levar o mais ínfimo combate pela mais modesta das reivindicações
contidas em seu programa.
Reivindicar a socialização ou a nacionalização dos mais importantes
setores da indústria, como fazem os partidos centristas, é também enganar as
massas populares. Os centristas não apenas induzem as massas em erro,
procurando persuadi-las de que a sociabilização pode tirar os principais ramos
da indústria das mãos do capital sem que a burguesia seja vencida, mas procuram
ainda desviar os operários da luta vital, real por necessidades mais imediatas,
fazendo-os esperar uma tomada progressiva das indústrias, uma após a outra,
após o que começará a construção "sistemática" do edifício econômico.
Eles retrocedem assim ao programa mínimo da social-democracia, isto é, à
reforma do capitalismo, que é hoje uma verdadeira intrujice
contra-revolucionária.
Se no programa de nacionalização - por exemplo, da indústria do carvão
- exerce ainda algum papel a idéia lassaliana de fixar todas as energias do
proletariado numa reivindicação única, para fazer dela uma alavanca da ação
revolucionária, conduzindo por seu desenvolvimento à luta pelo poder, nesse
caso nós estaremos metidos num delírio: a classe operária sofre hoje em todos
os países capitalistas flagelos tão numerosos e tão assustadores, que é impossível
combater todas essas cargas esmagadoras e seus golpes perseguindo um objeto
muito sutil e talvez imaginário. Ao contrário, é preciso tomar cada necessidade
das massas como ponto de partida das lutas revolucionárias que, em seu
conjunto, poderão constituir a poderosa corrente da revolução social. Os
Partidos Comunistas não colocam à frente desse combate um programa mínimo para
fortalecer e melhorar o edifício vacilante do capitalismo. A ruína desse
edifício é seu alvo, sua tarefa atual. Mas para cumprir essa tarefa, os
Partidos Comunistas devem fazer reivindicações, cuja realização constitua uma
necessidade imediata e urgente para a classe operária e eles devem defender
essas reivindicações na luta das massas, sem se inquietar em saber se elas são
ou não compatíveis com a exploração usurária da classe capitalista.
Os Partidos Comunistas devem levar em consideração não Só a capacidade
de existência e concorrência da indústria capitalista, não só a força de
resistência das finanças capitalistas, mas a extensão da miséria que o
proletariado não pode e não deve suportar. Se essas reivindicações respondem às
necessidades vitais das amplas massas proletárias, se essas massas estão
convictas de que sem a realização dessas reivindicações sua existência é
impossível, então a luta por essas reivindicações se tornará o ponto de partida
da luta pelo poder. Em lugar do programa mínimo dos reformistas e dos
centristas, a Internacional Comunista coloca a luta pelas necessidades
concretas do proletariado, um sistema de reivindicações que em seu conjunto
destroem o poderio da burguesia, organizam o proletariado e constituem as
etapas da luta pela ditadura do proletariado. Nesse sistema nenhuma
reivindicação isolada dá sua expressão às necessidades das amplas massas, ainda
que essas massas não se coloquem ainda conscientemente sobre o terreno da
ditadura do proletariado.
Na medida em que luta por essas reivindicações abrange e mobiliza
massas cada vez maiores, na medida em que essa luta opõe os interesses vitais
das massas aos interesses vitais da sociedade capitalista, a classe operária
toma consciência da verdade que, se ela quiser viver, o capitalismo deverá
morrer. Esta constatação fará crescer nela a vontade de combater pela ditadura.
E tarefa dos Partidos Comunistas ampliar as lutas que se desenvolvem em nome
dessas reivindicações concretas, aprofundá-las e uni-las entre si. Toda ação
parcial empreendida pelas massas operarias por reivindicações parciais, toda
guerra econômica séria, provoca imediatamente a mobilização de toda a burguesia
para proteger seus interesses ameaçados e para tornar impossível qualquer
vitória, ainda que parcial, do proletariado. (Auxílio técnico dos fura-greves
burgueses durante a greve dos ferroviários ingleses, fascistas). A burguesia
mobiliza igualmente todo o aparato do Estado para combater os operários
(militarização dos operários na Polônia, leis de exceção durante a greve dos
mineiros na Inglaterra). Os operários que lutam por suas reivindicações
parciais passam a combater automaticamente toda a burguesia e seu aparelho de
Estado. Na medida em que as lutas por reivindicações parciais, em que as lutas
parciais dos diversos grupos operários crescem como luta geral da classe
operária contra o capitalismo, o Partido Comunista tem o dever de propor
palavras de ordem mais elevadas e mais gerais, até atingir aquela da destruição
direta do adversário.
Estabelecendo suas reivindicações parciais, os Partidos Comunistas
devem velar para que essas reivindicações articuladas com os interesses das
massas, não se limitem a levar as massas á luta, mas que elas sejam de natureza
tal que levem as massas a se organizarem.
Todas as palavras de ordem concretas, com origem nos interesses
econômicos das massas operárias, devem ser introduzidas no plano da luta pelo
controle operário, que não será um sistema de organização burocrático, mas a
luta contra o capitalismo levada pelos sovietes industriais e os sindicatos
revolucionários. Apenas pela construção de organizações industriais deste tipo,
apenas pela união em setores da indústria em centros industriais, a luta das
massas operárias poderá adquirir unidade orgânica, que se fará oposição à
social-democracia e seus líderes sindicais, que se evitará a divisão das
massas. Os sovietes industriais somente cumprirão essa tarefa se nascerem da
luta pelos objetivos econômicos comuns às mais amplas massas operárias, se eles
criarem a ligação entre todos os elementos revolucionários do proletariado: o
Partido Comunista, os operários revolucionários e os sindicatos em via de desenvolvimento
revolucionário.
Toda objeção às reivindicações parciais desse gênero, toda acusação de
reformismo sob o pretexto dessas lutas parciais, decorrem dessa mesma
incapacidade de compreender as condições vivas da ação revolucionária que já se
manifestou na oposição de certos grupos comunistas à participação nos
sindicatos e na utilização do parlamento. Não se trata de se limitar a pregar
sempre ao proletariado os objetivos finais, mas de fazer progredir uma luta
concreta, que só pode conduzir à luta por esses objetivos finais. Dizer que as
reivindicações parciais estão desvinculadas da base e são estranhas às
exigências revolucionárias, é resultado, sobretudo do fato de as pequenas
organizações fundadas pelos comunistas di-los de esquerda, como asilos da pura
doutrina, terem sido obrigadas a levar adiante as reivindicações parciais,
quando desejaram entrar nas lutas das massas operárias que eram mais numerosas
do que aquelas agrupadas em torno de si e só tomaram parte nas lutas das
grandes massas para influenciá-las.
A natureza revolucionária da época atual consiste precisamente em que
as condições de vida das massas operárias são incompatíveis com a existência da
sociedade capitalista, e por esta razão a luta pelas reivindicações mais
modestas assume proporções de uma luta pelo comunismo.
Enquanto os capitalistas aproveitam o exército sempre crescente de
desempregados para exercer pressão sobre o trabalho organizado, tendo cm vista
a redução dos salários, os social-democratas, os independentes e os líderes
oficiais dos sindicatos abandonam covardemente os desempregados,
considerando-os simplesmente sujeitos da beneficência governamental e sindical,
caracterizando-os politicamente como lupem-proletariado. Os comunistas devem
perceber claramente que, nas condições atuais, o exército industrial de reserva
constitui um fator revolucionário de valor colossal. A direção desse exército
deve ser tomada pelos comunistas. Auxiliados pela pressão exercida pelos
desempregados sobre os sindicatos, os comunistas devem apressar a renovação dos
sindicatos, em primeiro lugar livrando-os da influência dos líderes traidores.
O Partido Comunista, unindo os desempregados à vanguarda do proletariado na
luta pela revolução socialista, evitará que os elementos mais revolucionários e
mais impacientes dos desempregados se joguem em atos isolados e desesperados, e
tornará toda a massa capaz de apoiar, em condições favoráveis, o ataque
iniciado por um grupo de proletários, de desenvolver esse conflito para além
dos limites dados; em uma palavra, ele transformará essa massa de exército
industrial de reserva em exército ativo da revolução.
Assumindo com a maior energia a defesa dessa categoria de operários,
descendo às profundezas da classe operária, os Partidos Comunistas não representam
os interesses de uma categoria contra os de outra, representam os interesses
comuns da classe operária, traída pelos chefes contra-revolucionários, em
proveito dos interesses momentâneos da aristocracia operária: mais larga é a
camada de desempregados e de trabalhadores a tempo reduzido, mais seu interesse
se transforma em interesse comum da classe operária, mais os interesses
passageiros da aristocracia operária devem se subordinar a esses interesses
comuns. O ponto de vista que se apóia sobre os interesses da aristocracia
operária se volta como unia arma contra os desempregados, abandona esses
últimos à sua sorte, divide a classe operária e é contra-revolucionário. O
Partido Comunista, como representante do interesse geral da classe operária, não
poderá se furtar a reconhecer e lazer valer pela propaganda este interesse
comum. Ele só pode representar eficazmente este interesse geral conduzindo, em
determinadas circunstâncias, o grosso da classe operária mais oprimida e mais
empobrecida no combate contra a resistência da aristocracia operária.
6. A Preparação da Luta
O caráter do período de transição impõe aos Partidos Comunistas o dever
de elevar ao mais alto ponto seu espírito de combate. Cada combate isolado pode
conduzir a um combate pelo poder. O Partido só poderá adquirir a causticidade
necessária se der ao conjunto de sua propaganda o caráter de um ataque e
apaixonado contra a sociedade capitalista, se ele souber se ligar nessa
agitação às mais amplas massas do povo, se ele souber falar-lhe de maneira que
elas possam adquirir a convicção de estar sob a direção de uma vanguarda que
luta efetivamente pelo poder. Os órgãos e os manifestos do Partido Comunista
não devem ser publicações que procurem provar teoricamente a justeza do
comunismo; eles devem ser gritos de apelo à revolução proletária. A ação dos
comunistas não deve tender a discutir com o inimigo ou a persuadi-lo, mas
desmascará-lo sem reserva e sem piedade, desmascarar os agentes da burguesia,
sacudir a vontade de combate das massas operárias e levar as camadas
pequeno-burguesas e semiproletárias do povo a se juntar ao proletariado. Nosso
trabalho de organização nos sindicatos e nos partidos não deve visar a uma
construção numérica de nossas fileiras; ele deve estar penetrado do sentimento
das lutas próximas. Só assim o Partido, em todas as suas manifestações de vida,
e em todas as suas forma de organização, será a vontade de combate
materializada, estará em condições de cumprir sua missão nos momentos em que as
condições necessárias estiverem unidas às maiores ações combativas.
Nos locais onde o Partido Comunista representa uma força massiva, onde
sua influência se estende para além das suas organizações, atingindo amplas
massas operárias, ele tem o dever de incitar pela ação, as massas ao combate.
Grandes partidos de massas não poderão se contentar em criticar a carência de
outros Partidos e opor as reivindicações comunistas às deles. Sobre eles,
enquanto partidos de massas, repousa a responsabilidade do desenvolvimento toda
revolução. Nos locais onde a situação das massas operárias se torna cada vez
mais intolerável, os Partidos Comunistas devem tentar tudo para levar as massas
operárias a lutarem por seus interesses. E pelo fato de que, na Europa
Ocidental e na América, onde as massas operárias estão organizadas em
sindicatos e em partidos políticos, onde, consequentemente, os Partidos
Comunistas só poderão contar, até nova ordem, com movimentos espontâneos em
casos muitos raros, que eles (os Partidos Comunistas) têm o dever, usando toda
a sua influência nos sindicatos, aumentando a pressão sobre os outros Partidos,
de procurar desencadear o combate pelos interesses imediatos do proletariado.
Se os Partidos não-comunistas se mostrarem constrangidos em participar desse
combate, a tarefa dos comunistas consistirá em preparar antecipadamente as
massas operárias para uma possível traição por parte dos Partidos
não-comunistas durante uma das fases ulteriores ao combate, estendendo e
agravando o máximo possível a situação, a fim de ser capaz de continuar o
combate, se for o caso, sem os outros Partidos (ver a carta aberta do V. K. P.
D., que pode servir de ponto de referência exemplar para outras ações). Se a
pressão do Partido Comunista nos sindicatos e na imprensa não for suficiente
para levar o proletariado ao combate num front único, é então dever do Partido
Comunista tentar levar apenas grandes frações das massas operárias. Esta
política independente consiste em defender os interesses vitais do proletariado
por sua fração mais consciente e mais ativa, e só terá êxito, só conseguirá
sacudir as massas atrasadas, se os objetivos do combate provierem da situação
concreta, se forem compreensíveis às amplas massas e se essas massas virem
nesses objetivos os seus próprios, estando assim em condições de se bater por
eles.
O Partido Comunista não deve, entretanto, se limitar a defender o
proletariado contra os perigos que o ameaçam, a aparar os golpes dirigidos
contra as massas operárias. O Partido Comunista é, no período da revolução
mundial, por sua própria essência, um Partido de ataque, um Partido de assalto
á sociedade capitalista: ele tem o dever, a partir de uma luta defensiva contra
a sociedade capitalista, de aprofundar essa luta, ampliá-la e transformá-la em
ofensiva. Além disso, o Partido tem o dever de fazer tudo para conduzir de uma
só vez as massas a esta ofensiva, estando dadas as condições favoráveis.
Aquele que se opõe em princípio à política de ofensiva contra a
sociedade capitalista viola as diretrizes do comunismo.
Essas condições consistem, primeiramente, na exasperação dos combates
no campo da própria burguesia, nos planos nacional e internacional. Se as lutas
internas, no seio da própria burguesia assumirem uma proporção tal que se possa
prever que a classe operária terá pela frente forças adversas fracionadas e
divididas, Partido deve tomar a iniciativa, após uma preparação minucioso no
domínio político, e se possível na organização interior, de conduzir as massas
ao combate.
A segunda condição para as saídas, os ataques ofensivos sobre um largo
front, é a grande fermentação existente em categorias determinantes da classe
operária, fermentação que permite prever que a classe operária estará pronta a
lutar contra o governo capitalista. Se é indispensável, ainda que o movimento
cresça em extensão, acentuar as palavras de ordem, é igualmente um devei para
os dirigentes comunistas do combate, no caso do movimento tomar um caminho
inverso, retirar da luta as massas combatentes com o máximo de ordem e coesão.
A questão de saber se o Partido Comunista deve empregar a ofensiva ou a
defensiva depende de circunstâncias concretas. O essencial é que ele esteja
penetrado por um espírito combativo, que triunfe sobre a passividade centrista,
que necessariamente faça penetrar a propaganda do Partido na rotina
semi-reformista. Esta disposição constante para a luta deve ser a
característica dos grandes Partidos Comunistas não só porque sobre eles, e
também sobre as massas, repousa a carga do combate, mas também em virtude do
conjunto da situação atual: desagregação do capitalismo e pauperização
crescente das massas. É necessário reduzir esse período de desagregação, se não
se deseja que todas as bases materiais do comunismo sejam anuladas e que toda a
energia das massas operárias seja destruída durante esse período.
7. Os Ensinamentos da Ação de Março
A ação de março foi uma luta imposta ao Partido Comunista Unificado da
Alemanha pelo ataque do governo contra o proletariado da Alemanha Central.
Durante esse primeiro grande combate que o Partido Comunista Unificado
sustentou após a sua formação, ele cometeu uma série de erros. O principal
consistiu em que, sem destacar claramente o caráter defensivo dessa luta,
forneceu aos inimigos sem escrúpulos do proletariado, à burguesia, ao Partido
Social-democrata e ao Partido Independente, um pretexto para denunciar o
Partido Unificado ao proletariado como um promotor de putsch. Este erro foi
ainda exagerado por um certo número de camaradas do partido, apresentando a
ofensiva como o método essencial de luta do Partido Comunista Unificado da
Alemanha na situação atual. Os órgãos oficiais do partido, bem como seu
presidente, o camarada Brandler, já se levantam contra essas faltas.
O III Congresso da Internacional Comunista considera a ação de março do
Partido Comunista Unificado da Alemanha como um passo adiante. O Congresso é de
opinião que o Partido Comunista Unificado estará cada vez mais em condições de
executar com sucesso suas ações de massas, que, no futuro, saberá adaptar
melhor suas palavras de ordem à situação real, que estudará mais cuidadosamente
esta situação e agirá com mais unidade.
O
Partido Comunista Unificado da Alemanha, no interesse de uma apreciação
minuciosa das possibilidades de luta, deverá levar em consideração os fatos e
as reflexões, e pesar cuidadosamente a justeza das opiniões que indiquem as
dificuldades de ação. Mas, a partir do instante em que uma ação for decidida
pelas autoridades do partido, todos os camaradas deverão se submeter às
decisões do partido e executar essas ações. A crítica a essas ações não pode
começar sem que elas tenham sido executadas e só pode ser exercida no interior
do partido e através de suas instâncias, levando em consideração a situação em
que se encontra o partido em relação a seus inimigos de classe.
Desde o
momento em que Levi tem menosprezado essas exigências evidentes da disciplina e
as condições impostas para a crítica do partido, o Congresso aprova a sua
exclusão do partido e considera como inadmissível toda colaboração política dos
membros da Internacional Comunista para com ele.
8. Formas e Métodos de Combate Direto
As formas e métodos de combate, suas proporções, assim como a questão
da ofensiva ou da defensiva, dependem de algumas condições que não podem ser
criadas arbitrariamente. As experiências anteriores da revolução mostraram
diferentes formas de ações parciais:
1) Ações parciais de setores isolados do proletariado, ação dos
mineiros, dos ferroviários etc. Na Alemanha, Inglaterra, dos operários
agrícolas etc...
2) Ações parciais do conjunto dos operários com objetivos limitados (a
ação durante as jornadas de Kapp, a ação dos mineiros ingleses contra a
intervenção militar do governo inglês durante a guerra russo-polonesa).
Do ponto de vista territorial, essas lutas parciais podem englobar regiões
isoladas, países inteiros ou vários países.
A ação de março foi uma luta heróica levada por centenas de milhares de
proletários contra a burguesia. E colocando-se vigorosamente em defesa dos
operários da Alemanha Central, o Partido Comunista Unificado da Alemanha prova
que ele é realmente o partido do proletariado revolucionário alemão.
Todas essas formas de combate estão destinadas, ao longo do processo
revolucionário em cada país, a se sucederem umas às outras por várias vezes. O
Partido Comunista não pode, evidentemente, se recusar às ações parciais
territorialmente limitadas, mas seus esforços devem tender a transformar todo
combate local mais importante em uma luta geral do proletariado. Também tem o
dever, para defender os operários de um setor da indústria que estejam em luta,
de chamar para um novo ataque, se possível, toda a classe operária, assim como
é obrigado, para defender os operários em luta por uma questão dada, a
mobilizar, sempre que possível, os operários dos outros centros industriais. A
experiência da revolução mostra que quanto maior o campo de batalha, maiores
são as perspectivas de vitória. Em sua luta contra a revolução mundial, a
burguesia se desenvolve e se apóia, de uma parte, sobre as organizações de
guardas brancas, de outra parte no esmagamento efetivo da classe operária e
sobre a lentidão real na formação do front proletário. Quanto maiores são as
massas do proletariado que entram na arena, maior é o campo de batalha - e mais
o inimigo deverá dividir e disseminar suas forças. Mesmo que os outros partidos
da classe operária venham em auxílio de uma parte do proletariado em apuros,
não são capazes, atualmente, de engajar a totalidade de suas forças na luta
para sustentá-la, sua única intervenção obriga os capitalistas a dividir suas
forças militares, pois eles não podem saber qual a extensão e qual rumo tomará
a sua participação no combate ao restante do proletariado.
Durante o ano passado, ao longo do qual nós observamos uma ofensiva
cada vez mais arrogante do capital contra o trabalho, vimos ao mesmo tempo em
todos os países a burguesia, não contente com o trabalho seus organismos
políticos, criar organizações de guardas brancas, legais ou semilegais, mas
sempre com a proteção do Estado e que desempenham um papel determinante em todo
grande conflito econômico e político.
Na Alemanha, é Orgesch, sustentado pelo governo e compreendendo os
partidos de todos os matizes de Stinnes a Scheidermann.
Na Itália, são os fascistas, cujas proezas "heróicas" de
bandidos modificaram o estado de espírito da burguesia e criaram a ilusão de
uma transformação completa das relações entre as forças políticas.
Na Inglaterra, o governo de Lloyd George, para se opor ao perigo
grevista, se dirigiu aos voluntários, cuja tareia consiste em "proteger a
propriedade e a liberdade de trabalho", tanto pela substituição dos
grevistas como pela destruição de suas organizações.
Na França, o jornal semi-oficial Le Temps, inspirado pela corja de
Millerand, conduz uma propaganda enérgica em favor do desenvolvimento das
"ligas cívicas" já existentes e da implantação de métodos fascistas
em solo francês.
As organizações de fura-greves e assassinos que o regime americano de
liberdade mantém possuem um órgão dirigente sob a forma da Legião Americana,
que subsiste após a guerra.
A burguesia, que conta com sua força e que se gaba de sua solidez, sabe
perfeitamente, através de seus governantes, que ela só obtém assim um momento
de repouso e que nas condições atuais toda grande greve tende a se transformar
em guerra civil e em luta imediata pelo poder.
Na luta do proletariado contra a ofensiva do capital, é dever dos
comunistas não só tomar os primeiros lugares e instruir os combatentes a
compreenderem os objetivos essenciais para realizar uma revolução mas, também,
se apoiar nos melhores e mais ativos elementos nas empresas e sindicatos para
criar seu próprio grupo operário e suas próprias organizações de luta para opor
resistência aos fascistas e fazer a "juventude dourada" da burguesia
perder o hábito de agredir os grevistas.
Em razão da importância excepcional das tropas de ataque
contra-revolucionário, o Partido Comunista e os núcleos comunistas nos
sindicatos, devem prestar a máxima atenção à questão do trabalho de união e
instrução, de vigilância constante a exercer sobre os órgãos de luta, sobre as
forças das guardas brancas, Estados-maiores, seus depósitos de armas, a ligação
de seus quadros com a polícia, com a imprensa e os partidos políticos, e da
preparação prévia de todas as particularidades necessárias de defesa e
contra-ataque.
O Partido Comunista deve, desta maneira, inculcar nas mais amplas
camadas do proletariado, por atos e palavras, a idéia de que todo conflito
econômico ou político pode, no caso de um concurso favorável de circunstâncias,
se transformar em guerra civil ao longo da qual será tarefa do proletariado
tomar o poder político.
O Partido Comunista, diante dos atos de terror branco e da raiva da
ignóbil caricatura de justiça dos tribunais, manterá constantemente no seio do
proletariado a idéia de que ele não deve, no momento da sublevação, se deixar
enganar pelos apelos do adversário à doçura, mas, ao contrário, por atos de
jurisdição popular organizada, dar expressão à justiça proletária e ajustar
suas contas com os carrascos de sua classe. Mas no momento em que o
proletariado está apenas no início de seu trabalho, quando se trata ainda de
mobilizar para a agitação através das campanhas políticas e greves, o uso de
armas e atos de sabotagem só são úteis quando servem para impedir o avanço das
tropas contra as massas proletárias combatentes ou deslocar o adversário de uma
posição mais vantajosa na luta direta. Atos de terrorismo individual, quaisquer
que sejam, devem ser apreciados como prova, como sintoma da efervescência
revolucionária e, ainda que defensáveis em vista da "lei de Lynch" da
burguesia e seus lacaios social-democratas, não são capazes, de forma alguma,
de elevar o nível de organização e a disposição de combate do proletariado,
pois eles criam nas massas a ilusão de que atos heróicos isolados podem suprir
a luta revolucionária do conjunto do proletariado.
9. A Atitude em Relação as Camadas Médias do
Proletariado
Na Europa Ocidental não existe outra classe que, fora do proletariado,
possa ser um fator determinante da revolução mundial, como foi o caso da
Rússia, onde a classe camponesa estava destinada, desde o início, graças à
guerra e à falta de terra, a ser fator decisivo no combate revolucionário ao
lado da classe operária.
Na Europa Ocidental há partidos de camponeses, de grandes frações da
pequena burguesia urbana, uma larga camada desse novo Terceiro Estado,
compreendendo os empregados etc..., que estão em condições de vida cada vez
mais intoleráveis. Sob a pressão da elevação do custo de vida, da crise de
habitação, da incerteza de sua situação, essas massas entram numa fermentação
que as faz saírem de sua inatividade política e as coloca no combate entre a
revolução e a contra-revolução. A ruína do capitalismo nos países vencidos, a
bancarrota do pacifismo e das tendências social-reformistas no campo da
contra-revolução declarada nos países vitoriosos, empurram uma parte dessas
camadas médias para o campo da revolução. O Partido Comunista deve conceder a
essas camadas uma atenção permanente.
Conquistar o pequeno camponês para as idéias comunistas, conquistar e
organizar o trabalhador agrícola, eis uma das condições preliminares mais
essencial para vitória da ditadura do proletariado, pois ela permite
transportar a revolução dos centros industriais aos campos e criar para ela
pontos de apoio os mais importantes para resolver a questão do abastecimento,
que é a questão vital da revolução.
A conquista de círculos cada vez mais vastos de empregados do comércio
e da indústria, de funcionários inferiores e de círculos intelectuais
facilitará à ditadura do proletariado, durante o período de transição entre o
capitalismo e o comunismo, a solução de questões técnicas, organização da
indústria, administração econômica e política. Ela levará a desordem às
fileiras do inimigo e cessará o isolamento do proletariado diante da opinião
pública.
Os Partidos Comunistas devem observar atentamente a fermentação das
camadas pequeno-burguesas; devem utilizar essas camadas de maneira mais
apropriada, mesmo que elas não estejam libertas das ilusões pequeno-burguesas.
Elas devem incorporar as frações dos intelectuais e empregados livres dessas
ilusões ao front proletário e colocá-las a serviço do arrebatamento das massas
pequeno-burguesas em fermentação.
A ruína econômica e o abalo das finanças públicas que dela resulta
compele a própria burguesia a abandonar a base de seu próprio aparelho
governamental, os funcionários inferiores e médios, a um empobrecimento
crescente. Os movimentos econômicos que se produzem nesses setores, atingem
diretamente a estrutura do Estado burguês, e mesmo que ele se fortaleça
ocasionalmente, fica cada vez mais impossibilitado de assegurar a existência
material do proletariado mantendo seus sistemas de exploração. Tomando a defesa
das necessidades econômicas dos funcionários médios e inferiores com toda a
força de ação e sem considerar o estado das finanças públicas, os Partidos
Comunistas executam o trabalho preliminar eficaz para a destruição das
instituições governamentais burguesas e preparam os alicerces do edifício
governamental proletário.
10. A Coordenação Internacional da Ação
Para que todas as forças da Internacional Comunista possam se colocar
em ação, a fim de romper o front da contra-revolução internacional e acelerar a
vitória da revolução, é necessário se esforçar para dar à luta revolucionária
uma direção internacional única.
A Internacional Comunista impõe a todos os Partidos Comunistas o dever
de se prestar reciprocamente o apoio mais enérgico no combate. As lutas
econômicas que se desenvolvem exigem, onde quer que ocorram, a intervenção do
proletariado dos Outros países. Os comunistas devem atuar fios sindicatos para
que esses últimos impeçam por todos os meios não somente a introdução dos
fura-greves, mas também boicotem a exportação para os países cm que uma parte
importante do proletariado esteja em luta. No caso do governo capitalista de um
outro país tomar medidas de violência contra um outro país para pilhá-lo ou
subjugá-lo, é dever dos Partidos Comunistas não se contentar com simples
protestos, mas fazer tudo para impedir a expedição de extorsão do seu governo.
O III Congresso da Internacional Comunista saúda os Comunistas
franceses por suas manifestações vendo nelas o começo de sua ação contra o
papel contra-revolucionário rapace do capital francês. Ele lembra seu dever de
trabalhar com todas as suas forças para que os soldados franceses dos países
ocupados compreendam seu papel de carrasco a serviço do capital francês e se
sublevem contra a missão vergonhosa que lhes é atribuída. É tarefa do Partido
Comunista Francês fazer entrar na consciência do povo francês que, tolerando a
formação de um exército de ocupação francês imbuído de espírito nacionalista,
nutre seu próprio inimigo. Nas regiões ocupadas, as tropas se exercitam para
logo em seguida afogar em sangue o movimento revolucionário da classe operária
francesa. A presença de tropas negras em solo francês e regiões ocupadas impõe
ao Partido Comunista Francês tarefas particulares. Esta presença dá ao Partido
Francês a possibilidade de atingir esses escravos coloniais, de explicar-lhes
que eles servem seus exploradores e seus carrascos e incitá-los à luta contra o
regime dos colonizadores, de estabelecer por seu intermédio relações com as
populações das colônias francesas.
O Partido Comunista Alemão, por sua ação, deve fazer o proletariado
compreender que nenhuma luta contra sua exploração pelo capital ententista é
possível sem derrotar o governo capitalista alemão que, apesar de sua gritaria
contra a Entente, se constitui no serviçal e no executor da política do capital
da Entente. Apenas por uma luta violenta e sem reservas contra o governo
alemão, que não encontra uma saída para o imperialismo alemão em bancarrota,
mas que se aplica em desobstruir o terreno das ruínas do imperialismo alemão, o
V.K.P.D. estará em condições de aumentar nas massas proletárias da França a
vontade de lutar contra o imperialismo francês.
A Internacional Comunista, que denunciou ao proletariado internacional
as intenções do capital da Entente nas indenizações de guerra como uma campanha
de pilhagem contra as massas trabalhadoras dos países vencidos, que enfraqueceu
as tentativas longuetistas e dos independentes alemães para dar uma certa forma
a essa pilhagem que é muito dolorosa para as massas operárias, que os denunciou
como uma covarde capitulação diante dos tubarões da Bolsa da Entente, a
Internacional Comunista mostra ao mesmo tempo ao proletariado francês e alemão
a única via capaz de conduzir à reconstrução da regiões destruídas, à
indenização das viúvas e órfãos, convidando os proletários dos dois países à
luta contra seus exploradores.
A classe operária alemã só pode ajudar o proletariado russo em sua
difícil luta se, por sua luta vitoriosa, acelerar a união da Rússia agrícola
com a Alemanha industrial.
É dever dos Partidos Comunistas de todos os países, cujas tropas
participam da escravidão e despedaçamento da Turquia, colocar em ação todos os
meios para revolucionar essas tropas.
Os Partidos Comunistas dos países balcânicos têm o dever de empregar
todas as forças das massas sob sua influência para substituir o nacionalismo
pela criação de uma confederação balcânica comunista, de não se omitir em nada
para aproximar o momento da vitória. O triunfo dos Partidos Comunistas na
Bulgária e na Sérvia, que derrotará o ignóbil regime de Horty e eliminará o
caráter feudal dos "boyars" romenos estenderá à maioria dos países
vizinhos desenvolvidos a base agrícola necessária à revolução italiana.
Sustentar sem reservas a Rússia dos Sovietes permanece como o dever
predominante dos comunistas de todos os países. Eles não devem apenas se
levantar a maneira mais enérgica contra qualquer ataque contra a Rússia
Soviética; eles devem também se empenhar com toda a sua energia para suprimir
os obstáculos que os países capitalistas interpõem às relações da Rússia
Soviética com o mercado mundial e com todos os povos. É necessário que a Rússia
Soviética consiga restabelecer sua economia, atenuar a imensa miséria causada
por três anos de guerra imperialista e três anos de guerra civil, é necessário
que ela recupere a capacidade de trabalho de suas massas populares para que
possa ajudar no advento de Estados proletários do Ocidente, fornecendo-lhes
víveres e matérias-primas e protegendo-os do estrangulamento pelo capital
norte-americano.
Não é apenas com manifestações por ocasião de acontecimentos
particulares, mas aperfeiçoando a ligação internacional entre os comunistas em
sua luta comum constante sobre um front ininterrupto que consiste o papel da
política universal da Internacional Comunista. Sobre qual setor desse front
acontecerá o levante vitorioso do proletariado - na Alemanha capitalista com
seu proletariado submetido a uma opressão extrema da burguesia alemã e
ententista e colocada diante da alternativa de morrer ou vencer, será nos
países agrícolas do sudeste, ou na Itália, onde a demolição da burguesia está
bastante avançada - não se pode afirmar de antemão. É dever da Internacional
Comunista intensificar ao extremo o esforço sobre todos os setores do front
mundial do proletariado, e é dever dos Partidos Comunistas fazer tudo para
apoiar as lutas decisivas de cada seção da Internacional Comunista com todos os
meios que estiverem ao seu alcance. Esta ligação deve acontecer antes de tudo,
tão logo uma grande crise comece num país, e os outros Partidos Comunistas se
esforçarão para aguçar e fazer extravasar todos os conflitos interiores.
11. A Ruína das Internacionais 2 e 2 e 1
O terceiro ano de existência da Internacional Comunista testemunhou uma
derrota completa dos Partidos Social-democratas e dos líderes sindicais
reformistas, que foram desmascarados e postos a nu.
Mas este ano viu também sua tentativa para se agruparem em uma
organização e tomar a ofensiva contra a Internacional Comunista.
Na Inglaterra, os chefes do Labour Party e das trade-unions mostraram
durante a greve dos mineiros que seu objetivo não consiste noutra coisa que
confundir conscientemente o front proletário em formação e defender os
capitalistas contra os operários. A ruína da Tríplice Aliança forneceu a prova
de que os líderes sindicais reformistas não estão nem um pouco dispostos a
lutar pela melhoria da sorte do proletariado nos limites do capitalismo.
Na Alemanha, o Partido Social-democrata, saído do governo, provou que é
incapaz de conduzir uma simples oposição de propaganda, tal como fez a antiga
social-democracia antes da guerra. A cada gesto de oposição, este Partido
preocupava-se unicamente em não desencadear nenhuma luta da classe operária.
Encontrando-se ainda supostamente em oposição ao Reich, o Partido
Social-democrata organizou na Prússia a expedição das guardas brancas contra os
mineiros da Alemanha central, a fim de provocá-los para a luta armada, o que
ele mesmo confessou, antes que as fileiras comunistas estivessem em condições
de combate. Diante da capitulação da burguesia alemã perante a Entente, diante
do fato evidente de que essa burguesia só saberá executar as condições ditadas
pela Entente tornando completamente intolerável a existência do proletariado
alemão, a social-democracia alemã, voltou ao governo para ajudar a burguesia a
transformar o proletariado alemão em rebanho de idiotas.
Na Tchecoslováquia, a social-democracia mobiliza o exército e a polícia
para tirar dos operários comunistas a posse de seus prédios e instituições.
O Partido Socialista Polonês, com sua tática enganosa, ajuda Pilsudski
a organizar sua expedição de pilhagem contra a Rússia Soviética. Ele ajuda seu
governo a jogar nas prisões milhares de comunistas, procurando expulsá-los dos
sindicatos, onde, apesar de todas as perseguições, reúnem ao seu redor massas
cada vez maiores.
Os social-democratas belgas permanecem num governo que participa da
escravização completa do povo alemão.
Os partidos e os grupos centristas da Internacional 2 e 1 não se mostram
menos odiosos que os partidos da contra-revolução.
Os Independentes da Alemanha repudiam brutalmente a convocação do
Partido Comunista de levar em comum a luta contra o agravamento das condições
de vida da classe operária, apesar das divergências de princípios. Ao longo das
jornadas de março, eles tomaram deliberadamente o partido do governo das
guardas brancas contra os operários da Alemanha central para, em seguida, após
denunciar à opinião pública burguesa as fileiras avançadas do proletariado como
um bando de ladrões e salteadores, se lamentam do hipocritamente desse mesmo
terror branco. Apesar de terem assumido, no Congresso de Halle, o compromisso
de sustentar a Rússia Soviética, os Independentes empreendem uma campanha de
calúnias em sua imprensa contra a República dos Sovietes da Rússia. Eles entram
para as fileiras da contra-revolução com Wrangel, Miloukov e Bourtsev,
sustentando o levante de Cronstadt contra a República dos Sovietes, levante que
manifesta os fins de uma nova tática da contra-revolução internacional em
relação à Rússia: destruir o Partido Comunista da Rússia, a alma, o coração, a
coluna vertebral e o sistema nervoso da República Soviética para matar essa
última e em seguida varrer seu cadáver.
Juntos aos alemães Independentes, os longuetistas franceses se associam
a esta campanha e se juntam publicamente à contra-revolução francesa, que, como
se sabe, inaugurou esta nova tática em relação à Rússia.
Na Itália, a política dos grupos de centro, de Seirati e de Aragona, a
política de recuo diante de toda luta deu novo alento à burguesia e também a
possibilidade em meio aos bandos brancos fascistas, de dominar a vida na
Itália.
Os partidos do centro e da social-democracia diferem entre si apenas
pelas frases, a união dos dois grupos numa Internacional única só
momentaneamente não está consumada.
Os partidos centristas uniram-se em fevereiro numa associação
internacional separada com uma plataforma política e estatutos especiais. Esta
Internacional 2 e 1 oscila entre as
palavras de ordem da democracia e da ditadura do proletariado. Na prática ela
não ajuda apenas a classe capitalista em cada país, cultivando o espírito de
indecisão na classe operária, mas diante das ruínas acumuladas pela burguesia
internacional, diante da submissão de uma parte do mundo à vontade dos países
capitalistas vitoriosos da Entente, ela oferece seus conselhos à burguesia para
realizar seu plano de pilhagem sem desencadear as forças revolucionárias das
massas populares. A Internacional 2 e 1 se distingue da II Internacional unicamente por juntar ao medo comum
do poder do capital que une reformistas e centristas, o medo de perder,
formulando claramente seu ponto de vista, o que ainda lhe resta de influência
sobre as massas ainda indecisas, mas de sentimento revolucionário. A identidade
política essencial dos reformistas e dos centristas encontra sua expressão na
defesa comum da Internacional Sindical de Amsterdã, último bastião da burguesia
mundial. Unindo-se, em todos os lugares onde exercem influência sobre os
sindicatos, aos reformistas e à burocracia sindical para combater os
comunistas, respondendo às tentativas de revolucionar os sindicatos com a
exclusão dos comunistas e com a cisão dos sindicatos, os centristas provam que,
tanto como os social-democratas, eles são adversários decididos da luta do
proletariado e aliados da contra-revolução.
A Internacional Comunista deve, como fez até o presente, empreender a
luta mais decidida não somente contra a Internacional Sindical de Amsterdã, mas
também contra a Internacional 2 e 1. Apenas essa luta sem misericórdia mostra cotidianamente às massas que
as necessidades mais simples e mais imediatas dos social-democratas e
centristas estão longe da classe operária, que a Internacional Comunista pode
tirar desses agentes da burguesia sua influência sobre a classe operária, que
eles não têm a menor intenção de lutar para vencer o capitalismo, nem de lutar
pela classe operária.
Para essa luta ser vitoriosa, ela deve sufocar no germe toda tendência
e todo ataque centrista em suas próprias fileiras e provar por sua ação
cotidiana que ela é a Internacional da ação comunista não da frase e da teoria
comunistas. A Internacional Comunista é a única organização do proletariado
internacional capaz, por seus princípios, de dirigir a luta contra o
capitalismo. Ela deve fortalecer sua coesão interna, sua direção internacional,
sua ação, para que possa atender aos objetivos a que se propôs em seus
estatutos: a organização de ações comuns dos proletários de diferentes países
que perseguem um objetivo comum: a destruição do capitalismo e o
estabelecimento da ditadura do proletariado e de uma República Soviética
Internacional.
RESOLUÇÃO SOBRE O
RELATÓRIO DO COMITÊ EXECUTIVO
É com satisfação que o Congresso toma conhecimento do relatório do
Comitê Executivo e constata que a política e a atividade do Comitê Executivo,
no decorrer do ano, teve por objetivo a realização das decisões do 2°
Congresso. O Congresso aprova em particular a aplicação, pelo Comitê Executivo,
nos diferentes países, das 21 condições formuladas pelo 2º Congresso. Aprova
igualmente a atividade do Comitê Executivo no sentido de favorecer a formação
de grandes Partidos Comunistas de massas e a luta decidida contra as tendências
oportunistas que se manifestaram nesses partidos.
1. Na Itália, a atitude tomada pelo grupo de líderes em torno de
Serrati imediatamente após o 2º Congresso Mundial mostrou que ele não tinha
vontade de realizar seriamente as decisões do Congresso Mundial e da
Internacional Comunista. Esse É apenas o papel desempenhado pelo grupo de
líderes durante as lutas de setembro; sua atitude em Livourne e, mais ainda, a
política adotada posteriormente, demonstraram claramente que eles desejam se
servir do comunismo, como de uma insígnia, escondendo sua política oportunista.
Nessas condições, a cisão ê inevitável. O Congresso aprova a intervenção
decidida e firme do Executivo nesse caso, que tem para a Internacional
Comunista uma importância de princípio. Aprova a decisão do Comitê Executivo,
reconhecendo imediatamente o Partido Comunista da Itália como única seção
comunista nesse pais.
Confirmando as decisões em virtude das quais Partido Socialista
Italiano aderiu à III Internacional, aceitando sem reservas os princípios
fundamentais, o 18º Congresso protesta contra a exclusão desse partido da
Internacional Comunista - exclusão que foi-lhe notificada pelo representante do
Executivo, seguida de divergências de visão sobre questões locais e detalhes
que se poderia e deveria superar através de explicações amigáveis e de um entendimento
fraternal.
Confirmando sua adesão plena e inteira à III Internacional, declara
remeter a questão ao próximo Congresso para solucionar o conflito e se
compromete, desde já, submeter-se à sua decisão e aplicá-la.
Após a saída dos comunistas do Congresso de Livourne, o Congresso
adotou a seguinte resolução, apresentada por Bentivoglio:
O 3º Congresso Mundial da Internacional Comunista está persuadido de
que esta resolução se impõe aos grupos do chefe Serrati pelos operários
revolucionários. O Congresso espera que os elementos revolucionários e
proletários façam todo possível, após as decisões do 3º Congresso Mundial, para
colocar essas decisões em execução.
O Congresso Mundial, em resposta ao convite do Congresso de Livourne,
declara categoricamente:
Desde longo tempo que o PSI não havia excluído aqueles que participaram
da conferência, o Partido Socialista Italiano não pode participar da
Internacional Comunista.
Se esta condição preliminar e inarredável for cumprida, o Congresso
Mundial encarregará o Comitê Executivo de empreender as diligências necessárias
para unir o PSI, purificado dos elementos reformistas, e o PCI numa seção
unificada da Internacional Comunista.
2. Na Alemanha, o Congresso do Partido Socialista Independente tendeu a
ser em Halle a continuidade às decisões do 2º Congresso Mundial que executou o
balanço da evolução do movimento operário. A intervenção do Executivo tendia à
formação de um partido comunista na Alemanha e a experiência mostrou que esta
política era justa.
O Congresso aprova inteiramente a atitude do Executivo nos
acontecimentos ulteriores que se desenvolveram no interior do Partido Comunista
Unificado da Alemanha. O Congresso espera do Comitê Executivo que ele aplique
também os princípios da disciplina revolucionária internacional.
3. A admissão do Partido Comunista Operário da Alemanha, na condição de
partido simpatizante da Internacional Comunista, tinha por objetivo assegurar
por esta prova o desenvolvimento do partido no sentido da Internacional
Comunista. O período decorrido é suficiente para concluir em relação a isso. É
tempo de solicitar ao Partido Comunista Operário da Alemanha a filiação, num
prazo determinado, ao partido comunista ou, em caso contrário, decidir sua
exclusão da Internacional Comunista no que respeita a partido simpatizante.
4. O Congresso aprova a maneira como o Comitê Executivo aplicou as 21
condições ao Partido Francês, o que permitiu subtrair grandes massas operárias
no caminho do comunismo à influência dos oportunistas longuetistas e centristas
e acelerar essa evolução. O Congresso espera do Executivo que ele contribua
assim para o desenvolvimento do Partido a fim de fortalecer a clareza de seus
princípios e sua força combativa.
5. Na Tchecoslováquia, o Comitê Executivo agiu com paciência, levando
em conta a totalidade da situação do desenvolvimento revolucionário de um
proletariado que já deu provas de sua vontade e sua qualidade de combate. O
Congresso aprova a resolução do CE. Que ele vele pela aplicação integral,
também no Partido Tchecoslovaco, das 21 condições e que se empenhe na formação,
num breve período, de um Partido Comunista forte. É necessário realizar o mais
rápido possível a luta sistemática pela conquista dos sindicatos e sua
reunificação internacional.
"O Congresso aprova a atividade do Executivo no Oriente Próximo e
no Extremo Oriente e saúda o início da propaganda enérgica do Executivo nesses
países. O Congresso estima que é necessário intensificar aí o trabalho de
organização".
Enfim, o Congresso repudia os argumentos opostos pelos adversários
abertos ou mascarados do comunismo contra uma forte centralização internacional
do movimento comunista. Ele, ao contrário, é de opinião que os Partidos
Comunistas, indissoluvelmente ligados, têm necessidade de uma direção política
central, dotada de mais iniciativa e energia ainda, o que pode ser assegurado
pelo envio ao CE de suas melhores forças. Assim, por exemplo, a intervenção do
Executivo na questão do desemprego e das indenizações não foi nem tão rápida
nem tão eficaz. O Congresso espera que o Executivo, sustentado por uma
colaboração reforçada dos partidos afiliados, melhore o sistema de ligação com
os partidos. A participação reforçada dos delegados dos partidos no Executivo
permitir-lhe-á melhor cumprir as tarefas crescentes que lhe cabem.
TESES SOBRE A ESTRUTURA,
OS MÉTODOS E A AÇÃO DOS PARTIDOS COMUNISTAS
I. Generalidades
1. A organização do Partido deve se adaptar às condições e aos
objetivos de sua atividade. O Partido Comunista deve ser a vanguarda, o
exército dirigente do proletariado, durante todas as fases de sua luta de
classes revolucionária, e durante o período de transição em direção à
realização do socialismo, primeiro degrau da sociedade comunista.
2. Não pode haver nele uma forma de organização imutável e
absolutamente conveniente para todos os partidos comunistas. As condições da
luta proletária se transformam constantemente e, conforme essas transformações,
as organizações da vanguarda do proletariado devem também procurar
constantemente formas novas e adequadas. As particularidades históricas de cada
país determinam também formas especiais de organização para os diferentes
países.
Sobre esta base deve se desenvolver a organização dos Partidos
Comunistas e não tender à formação de algum novo partido modelo no lugar
daquele já existente ou procurar uma forma de organização absolutamente correta
ou com estatutos ideais.
3. A maioria dos Partidos Comunistas, assim como a Internacional
Comunista e o conjunto do proletariado revolucionário do mundo inteiro,
concordam, nas condições de sua luta, que devem lutar contra a burguesia
dominante. A vitória sobre ela, a conquista do poder arrancado à burguesia,
constitui para esses partidos e para sua Internacional o objetivo principal.
Portanto, o essencial para o trabalho de organização dos Partidos
Comunistas nos países capitalistas, é definir uma organização que torne
possível a vitória da revolução proletária sobre as classes possuidoras e que a
assegure.
4. Nas ações comuns, é indispensável para o sucesso ter uma direção,
isto é necessário sobretudo em função dos grandes combates da história mundial.
A organização de Partidos Comunistas é a organização da direção comunista da
revolução proletária.
Para bem guiar as massas, o Partido tem necessidade de uma boa direção.
A tarefa essencial de organização que se impõe a nós é a seguinte: formação,
organização e educação de um Partido Comunista puro e realmente dirigente para
guiar o movimento revolucionário proletário.
5. A direção da luta social-revolucionária supõe, nos Partidos
Comunistas e em seus órgãos dirigentes, a combinação do maior poder de ataque e
da mais perfeita adaptação às condições cambiantes da luta.
Uma boa direção supõe, além do mais, a ligação da maneira mais absoluta
e mais estreita com as massas proletárias. Sem essa Ligação, o Comitê diretor
não guiará jamais as massas, só poderá, no melhor dos casos, segui-las.
Essas relações orgânicas devem ser obtidas nas organizações do Partido
Comunista pelo centralismo democrático.
II. O Centralismo Democrático
6. O centralismo democrático na organização do Partido Comunista deve
ser uma verdadeira síntese, uma fusão da centralização e da democracia
operária. Essa fusão só pode ser obtida por uma atividade comum permanente, por
uma luta igualmente comum e permanente do conjunto do Partido.
A centralização no Partido Comunista não deve ser formal e mecânica;
deve ser uma centralização da atividade comunista; isto é, a formação de uma
direção poderosa, pronta para o ataque e ao mesmo tempo capaz de adaptação.
Uma centralização formal ou mecânica será apenas a centralização do
"poder" nas mãos de uma burocracia para dominar os outros membros do
partido ou as massas do proletariado revolucionário exteriores ao partido. Mas
só os inimigos do comunismo podem pretender que, por essas funções de direção
da luta proletária e pela centralização dessa direção, o Partido Comunista
queira dominar o proletariado revolucionário. Isso é uma mentira e, além do
mais, no interior do Partido a luta pela dominação ou um antagonismo de
autoridades é incompatível com os princípios adotados pela Internacional
Comunista relativamente ao centralismo democrático.
Nas organizações do velho movimento operário não-revolucionário, se
desenvolveu um dualismo da mesma natureza que nas organizações do Estado
burguês. Falamos do dualismo entre a burocracia e o "povo". Sob a
influência burguesa, as funções se isolaram e a comunidade do trabalho foi
substituída por uma democracia puramente formal, e a própria organização se dividiu
em funcionários ativos e numa massa passiva. O movimento operário
revolucionário herda do meio burguês, até um certo ponto, inevitavelmente, esta
tendência ao formalismo e ao dualismo.
O Partido Comunista deve superar radicalmente esses antagonismos por um
trabalho sistemático, político e de organização pelas melhorias e revisões
repetidas.
7. Um grande Partido Socialista, transformando-se em Partido Comunista,
não deve se limitar a concentrar em sua direção central a função de autoridade,
deixando subsistir para o resto o antigo estado de coisas. Se a centralização
não deve ser letra morta, mas se transformar em fato real é necessário que sua
realização se cumpra de maneira que ela seja, para os membros do partido, um
reforço e um desenvolvimento, realmente justificados, de sua atividade e de sua
combatividade comum. De outro modo, ele aparecerá para as massas como simples
burocratização do Partido e provocará assim uma oposição a toda centralização,
toda direção e toda disciplina estrita. O anarquismo é antípoda do
burocratismo.
Uma democracia puramente formal no Partido não pode descartar nem as
tendências burocráticas, nem as tendências anárquicas, pois é precisamente
sobre a base desta democracia que a anarquia e a burocracia se desenvolveram no
movimento operário. Por esta razão, a centralização, isto é, o esforço para
obter uma direção forte, não pode ter sucesso se se tentar obtê-la no terreno
da democracia formal. É então indispensável, antes de tudo, desenvolver e
manter contato vivo e relações mútuas entre o Partido e as massas do
proletariado que lhe pertencem.
III O Dever do Trabalho dos Comunistas
8. O Partido Comunista deve ser uma escola de trabalho do marxismo
revolucionário. É pelo trabalho cotidiano comum nas organizações do Partido que
se estreitarão os laços entre os diferentes grupos e os diferentes membros.
Nos Partidos Comunistas legais, falta ainda hoje a participação regular
da maioria dos membros no trabalho político cotidiano. É o seu maior defeito e
a causa de uma incerteza perpétua de seu desenvolvimento.
9. O perigo que sempre ameaça um Partido operário que ensaia seus
primeiros passos em direção à transformação comunista é o de se contentar com a
aceitação de um programa comunista e substituir sua propaganda e sua doutrina
precedente por aquela do comunismo e de somente substituir os funcionários
hostis a esta doutrina. Mas a adoção de um programa comunista é apenas a
vontade de ser comunista. Se a isso não se acrescentarem ações comunistas e se,
na organização do trabalho político, a passividade da massa dos membros for
mantida, o Partido não cumprirá a mínima parte do que promete ao proletariado
pela aceitação de um programa comunista. A primeira condição de uma realização
séria desse programa é, pois, o exercício de todos os membros no trabalho
cotidiano permanente.
A arte da organização comunista consiste em utilizar tudo e todos na
luta proletária de classes, em repartir racionalmente entre todos os membros do
Partido o trabalho político e, por seu intermédio, levar as grandes massas do
proletariado ao movimento revolucionário, a manter firmemente em suas mãos a
direção do conjunto do movimento, não pela força do poder, mas pela força da
autoridade, isto é, aquela da energia, da experiência, da capacidade e da
tolerância.
10. Todo Partido Comunista deve, então, em seus esforços para ter
apenas membros verdadeiramente ativos, exigir de cada um dos que figuram em
suas fileiras que coloque à disposição de seu partido sua força e seu tempo, na
medida em que possa dispor, nas circunstâncias dadas, e sempre consagrar ao
partido o melhor de si. Para ser membro do Partido Comunista, é necessário, de
maneira geral, além da convicção comunista, cumprir também as formalidades da
inscrição, primeiro como candidato e, em seguida, como membro. É necessário
pagar regularmente as cotizações estabelecidas, a assinatura do jornal do
Partido etc. Mas o mais importante é a participação de cada um no trabalho
político cotidiano.
11. Todo membro do Partido deve, de maneira geral, em vista do trabalho
político cotidiano, ser incorporado num pequeno grupo de trabalho: num comitê,
numa comissão, grupo de estudos, fração ou núcleo. Apenas dessa maneira o
trabalho político pode ser repartido, dirigido e cumprido regularmente.
Não é preciso dizer que é necessário participar das reuniões gerais das
organizações locais. É mau, nas condições legais, procurar substituir essas
reuniões periódicas por representações locais; é preciso, ao contrário, que
todos os membros sejam obrigados a assistir regularmente a essas reuniões. Mas
isso não é suficiente. A preparação regular dessas reuniões impõe um trabalho
feito em pequenos grupos ou por camaradas especialmente encarregados, assim
como a preparação da utilização eficaz das reuniões gerais dos operários,
manifestações e ações de massas do proletariado. As tarefas múltiplas desta
atividade só podem ser tentadas e realizadas com intensidade por pequenos
grupos. Sem esse trabalho constante, ainda que medíocre, do conjunto dos
membros, repartido entre os pequenos grupos operários, os esforços mais zelosos
na luta de classes do proletariado só podem tornar vãs todas as tentativas para
influenciar essas lutas; elas não podem levar à concentração necessária de
todas as forças revolucionárias num Partido Comunista unido e capaz de agir.
12. É preciso fundar células comunistas para o trabalho cotidiano nos
diferentes domínios da atividade política do Partido: para a agitação a
domicílio, para os estudos do Partido, para o serviço de imprensa, distribuição
de literatura, serviços dos novos, contatos etc.
As células comunistas são grupos para o trabalho comunista cotidiano
nas empresas, fábricas, sindicatos, associações proletárias, unidades
militares etc., em todos os lugares onde há alguns membros ou candidatos ao
Partido Comunista. Se houver vários deles numa mesma empresa ou sindicato, a
célula se tornará uma fração cujo trabalho será dirigido pelo grupo de célula.
Se for preciso formar primeiramente uma fração mais vasta e de oposição
geral, ou se for preciso simplesmente fazer parte de uma organização já
existente, os comunistas deverão se esforçar para obter a direção para sua
célula.
A estruturação de uma célula comunista e a ação pública na qualidade de
comunista estão subordinadas à observação escrupulosa e à análise dos perigos e
vantagens que apresenta a situação particular em foco.
13. É uma tarefa especialmente difícil para um Partido de massas
comunista estabelecer o dever geral do trabalho no Partido e a organização
desses pequenos grupos de trabalho. E certamente essa tarefa não será cumprida
numa noite, pois ela exige perseverança infatigável, reflexão madura e muita
energia.
O que é particularmente importante é que esta organização seja feita
desde o início com a maior atenção e após madura reflexão. Será fácil repartir
o trabalho em cada organização se todos os membros seguirem um esquema formal
em pequenas células e convidar essas células a atuarem na vida cotidiana do
Partido. Um tal início será pior do que a inação. Provocará logo a desconfiança
e o afastamento dos membros do Partido contra essa importante transformação.
É necessário recomendar que os dirigentes do Partido elaborem, após
consulta aprofundada com os organizadores assíduos, as primeiras linhas
diretrizes dessa transformação. Os organizadores devem ser ao mesmo tempo
comunistas absolutamente convencidos e zelosos e estar extremamente
esclarecidos sobre a situação do movimento nos principais centros do país.
Após, os organizadores ou os comitês de organização, que receberem as
instruções necessárias, devem se dedicar a preparar regularmente o trabalho no
próprio local, devem escolher e designar os chefes de grupos e tomar as
primeiras medidas para essa transformação. Em seguida, deve-se colocar as
tarefas definidas e concretas para as organizações, os grupos de operários,
células e os diferentes membros. Isso deve ser feito de tal maneira que essas
tarefas apareçam para eles como úteis, desejáveis e práticas. Se necessário,
pode-se mostrar com exemplos práticos como se executam as tarefas. Assim
procedendo, eles compreenderão contra quais erros deverão se guardar de maneira
especial.
14. É necessário realizar esse novo modo de organização, passo a passo,
na vida. Eis porque não é necessário fundar muitos núcleos novos ou grupos de
operários nas organizações locais. Em primeiro lugar, é preciso se assegurar,
com base nos resultados de uma incursão prática, que as células formadas nas
diferentes usinas e fábricas mais importantes funcionam regularmente e que os
grupos operários indispensáveis sejam criados nos outros domínios da atividade
do Partido e que eles se consolidem em certo nível (por exemplo, no serviço de
informação, de ligação, na agitação a domicílio, movimento de mulheres,
distribuição de panfletos, imprensa, movimento dos desempregados etc.). Em todo
caso, não se pode destruir o quadro da antiga organização antes que a nova
esteja estabelecida.
Mas durante todo esse trabalho a tarefa fundamental de organização
comunista deve ser conduzida da forma mais enérgica possível em todos os lugares.
Isso exige grandes esforços não apenas da parte das organizações ilegais. Até
que ela seja realidade, até que haja uma vasta rede de células, frações e
grupos operários em todos os pontos vitais da luta de classe proletária, até
que cada membro do partido poderoso e consciente de seus objetivos tome parte
no trabalho revolucionário cotidiano e que este ato de participação seja para
os membros uma questão de hábito natural, até esse momento, o partido não deve
permitir nenhum descanso nesses esforços para a execução dessa tarefa.
15. Esta tarefa fundamental de organização obriga os órgãos dirigentes
a guiar continuamente e a influenciar sistematicamente o trabalho do Partido e
fazê-lo de unia forma completa e sem intermediários. Resulta daí, para os camaradas
que estão à frente das organizações do partido, a obrigação de empreender os
trabalhos mais diversos. O órgão central dirigente do Partido Comunista deve
não somente velar para que todos os camaradas estejam ocupados, mas também deve
ir em sua ajuda, dirigir seu trabalho, segundo um plano ordenado e com
conhecimento prático, orientando-os no caminho correto em todas as condições e
circunstâncias especiais. Em sua própria atividade, o centro deve igualmente se
esforçar para encontrar os erros cometidos e, baseando-se na experiência
adquirida, procurar sempre melhorar seus métodos de trabalho, não perdendo de
vista o objetivo da luta.
16. Nosso trabalho político geral é a luta prática ou teórica ou a
preparação dessa luta. A especialização desse trabalho foi muito deficiente até
o presente. Há domínios muito importantes sobre os quais o Partido até agora
fez apenas esforços acidentais, por exemplo, quase nada foi feito pelos
Partidos legais contra a polícia política. A instrução dos camaradas do Partido
se faz, de modo geral, de maneira acidental e secundária e de uma maneira
superficial, de tal modo que a maior parte das decisões mais importantes do
Partido, assim como o programa e as resoluções da Internacional Comunista são
desconhecidos das grandes camadas dos membros do Partido. O trabalho de
instrução deve ser ordenado e aprofundado sem cessar por todo o Sistema das
organizações do Partido, todos os grupos de trabalho, a fim de obter por esses
esforços sistemáticos um nível cada vez mais elevado de especialização.
17. A prestação de contas é um dever dos mais indispensáveis para as
organizações comunistas. Ela se impõe também a todas as organizações e órgãos
do Partido, assim como a cada membro individualmente. A prestação de contas
deve ser feita regularmente. Nessas ocasiões, é preciso lazer relatórios sobre
o cumprimento de missões especiais confiadas pelo Partido. É importante fazer
essas prestações de contas de forma sistemática, a ponto de esse procedimento
se enraizar no movimento comunista como uma de suas melhores tradições.
18. O Partido deve fazer regularmente um relatório à direção da
Internacional Comunista. As diferentes organizações do partido devem fazer seu
relatório ao Comitê imediatamente superior (por exemplo, relatório mensal da
organização local ao respectivo Comitê do Partido).
Cada célula, fração e grupo aberto deve fazer um relatório ao órgão do
Partido sob cuja direção efetiva se encontre. Os membros individualmente, que
publicam um semanário, no núcleo ou no grupo de trabalho (e mesmo a seu
superior hierárquico) ao qual ele pertence, relativamente ao cumprimento de
missões especiais, devem endereçar seu relatório a quem o encarregou da tarefa.
Este tipo de prestação de contas deve acontecer na primeira
oportunidade, oralmente se o Partido ou o mandante não exigirem relatório
escrito. Os relatórios devem ser concisos e conter os fatos. O órgão que o
recebe assume a responsabilidade de sua conservação e seu conteúdo só será
publicado se não houver perigo. Ele é igualmente responsável pela comunicação
dos relatórios importantes ao órgão dirigente do Partido sem devolução.
19. Não é necessário dizer que esses relatórios do Partido não se devem
limitar a dar conhecimento do que o relator fez, mas também conter comunicações
a respeito das circunstâncias observadas durante sua atividade e que possam ser
importantes para nossa luta. Devem mencionar particularmente as observações que
possam ocasionar uma mudança ou melhoria de nossa tática futura. É necessário
também propor neles as melhorias e as necessidades que se fizerem sentir no
decorrer da atividade.
Em
todas os células, frações e grupos de trabalho comunistas, os relatórios
recebidos por essas organizações ou a serem feitos por elas devem se tornar um
hábito.
Nas células e grupos de trabalho, deve-se velar para que os membros
individualmente ou os grupos recebam regularmente a missão especial de observar
e relatar o que acontece nas organizações do adversário e particularmente nas
organizações operárias pequeno-burguesas e nos Partidos
"Socialistas".
IV Propaganda e Agitação
20. Nossa tarefa mais importante antes do levante revolucionário
declarado é a propaganda e a agitação revolucionária. Esta atividade e sua
organização é conduzida freqüentemente ainda da antiga maneira formalista. Em
manifestações ocasionais, reuniões de massas e sem cuidado com o conteúdo
revolucionário concreto dos discursos e panfletos.
A propaganda e a agitação comunista deve, antes de tudo, se enraizar
nos meios mais profundos do proletariado. Elas devem ser engendradas pela vida
concreta dos operários, seus interesses comuns, particularmente por suas lutas
e esforços.
O que dá mais força à propaganda comunista é seu conteúdo
revolucionário. De acordo com esse ponto de vista, é preciso considerar sempre
o mais atentamente possível as palavras de ordem e a atitude a tomar nas
questões concretas em situações diversas. A fim de que o Partido possa tomar
sempre uma posição justa, é necessário dar um curso de instrução prolongada não
somente aos propagandistas e agitadores, ministrado por profissionais, mas
também aos outros membros.
21. As principais formas de propaganda e agitação são: conversas
pessoais, participação nos combates dos movimentos operários - sindicais e
políticos, ação pela imprensa e a literatura do partido. Cada membro de um
Partido legal ou ilegal deve, de uma ou de outra forma, participar regularmente
dessa atividade.
A propaganda pessoal verbal deve ser conduzida em primeiro lugar à
maneira de agitação a domicílio organizada sistematicamente e confiada a grupos
constituídos especialmente para esse fim. Nenhuma casa na área de influência da
organização local do Partido deve ficar de fora dessa agitação. Nas cidades
mais importantes uma agitação de rua, especialmente organizada, com distribuição
de folhetos e cartazes, pode dar bons resultados. Também nas usinas e fábricas
deve-se organizar uma agitação pessoal regular, conduzida pelos núcleos e
frações do Partido e acompanhada da distribuição de literatura.
Nos países onde a população reprime as minorias nacionais, o dever do Partido é prestar toda
atenção à agitação e propaganda e à agitação nas camadas proletárias dessas
minorias. A agitação e a propaganda deverão naturalmente ser conduzidas na
língua das minorias nacionais respectivas. Para atingir esse objetivo, o
Partido deverá criar as organizações apropriadas.
22. Quando a propaganda comunista se faz nos países capitalistas em que
a maioria do proletariado não tem ainda nenhuma inclinação revolucionária
consciente, é preciso encontrar métodos de ação cada vez mais perfeitos para ir
ao encontro da compreensão do operário ainda não-revolucionário, mas começando
a sê-lo, e para abrir-lhe as portas do movimento revolucionário. A propaganda
comunista deve se servir de seus princípios nas diferentes situações para se
sustentar no espírito do operário, durante sua luta interior contra as
tradições e tendências burguesas, mas que são para ele um elemento de progresso
revolucionário.
Ao mesmo tempo a propaganda comunista não deve se limitar aos pedidos
ou esperanças das massas proletárias tais como são hoje, isto é, restritas e
indecisas. Os germes revolucionários desses pedidos e esperanças formam apenas
ponto de partida de que precisamos para influenciá-las. Pois é somente nessa
combinação que se pode explicar o comunismo ao proletariado de uma maneira mais
compreensível.
23. É preciso levar a agitação comunista entre as massas proletárias,
de tal maneira que os proletários militantes reconheçam nossa organização
comunista como a que deve dirigir leal e corajosamente, com previdência e
energia, seu próprio movimento em direção a um objetivo comum.
Para isso, os comunistas devem tomar parte em todas as lutas
espontâneas e movimentos da classe operária e assumir como sua a missão de salvaguardar
os interesses dos operários em todos os seus conflitos com os capitalistas a
respeito da jornada de trabalho etc. Os comunistas devem ocupar-se
energicamente das questões concretas da vida dos operários, ajudá-los a se
desembaraçar dessas questões, chamar sua atenção para os casos de abusos mais
importantes, ajudá-los a formular exatamente e de forma prática suas
reivindicações aos capitalistas e, ao mesmo tempo, desenvolver entre eles o
espírito de solidariedade e a consciência da comunidade de interesse dos
operários de todos os países como uma classe unida que constitui parte do
exército mundial do proletariado.
Apenas participando desse trabalho miúdo e cotidiano absolutamente
necessário, jogando todo seu espírito de sacrifício nos combates do
proletariado, o 'Partido Comunista' pode se transformar em verdadeiro Partido
Comunista. Apenas por esse trabalho os comunistas se distinguirão desses
partidos socialistas de mera propaganda e alistamento que já tiveram sua época
e cuja atividade consiste apenas em reuniões, discursos sobre as reformas e a
exploração das possibilidades parlamentares. A participação consciente e
devotada de toda a massa dos membros de um partido na escola das lutas e
contendas cotidianas entre os explorados e os exploradores é a premissa
indispensável não somente de conquista, mas, numa medida mais larga, da
realização da ditadura do proletariado. Somente se colocando à frente das
massas operárias em suas guerrilhas constantes contra o ataque do capital o
Partido Comunista pode se tornar a vanguarda da classe operária, aprender
sistematicamente a dirigir de fato o proletariado e adquirir os meios de
preparar conscientemente a derrota da burguesia.
24. Os comunistas devem estar mobilizados em grande número para
participar do movimento dos operários, sobretudo durante as greves e os locautes
e reuniões de repercussão massiva.
Os comunistas cometem uma falta muito grave se acatam o programa
comunista e na batalha revolucionária final assumem uma atitude passiva e
negligente ou mesmo hostil em relação às lutas cotidianas que os operários
travam pelas melhorias, ainda que pouco importantes, de suas condições de
trabalho. Por miúdas e modestas que sejam as reivindicações pelas quais os
operários se batem hoje contra os capitalistas, os comunistas não devem jamais
se furtar ao combate. Nessa atividade de agitação, não se deve fazer crer que
os comunistas são instigadores cegos de greves estúpidas e outras ações
insensatas, mas devemos merecer dos operários militantes a reputação de sermos
os melhores companheiros de luta.
25. A prática do movimento sindical mostrou que os núcleos e frações
comunistas são, muito freqüentemente, confusos e só sabem o que fazer diante
das questões mais simples. É fácil, ainda que estéril, pregar sempre os
princípios gerais do comunismo para cair na via do sindicalismo vulgar nas
questões concretas. Com tais ações, facilita-se o jogo dos dirigentes da
Internacional Amarela de Amsterdã.
Os comunistas devem, ao contrário, determinar sua atitude segundo os
dados materiais de cada questão que se coloca. Por exemplo, em vez de se opor
por princípio a todo contrato de salário do trabalho operário, eles devem,
antes de tudo, levar diretamente a lula pelas modificações materiais do texto
desses contratos, apoiados pelos chefes de Amsterdã. É verdade que é preciso
condenar e combater resolutamente todos os entraves que impedem os operários de
se colocarem em luta. Não se deve esquecer que é justamente esse o objetivo dos
capitalistas e seus cúmplices de Amsterdã: amarrar as mãos dos operários
através de cada contrato de salário. Por isso é evidente que o dever comunista
é expor esse objetivo aos operários. Mas, em geral, o melhor meio para que os
comunistas se contraporem a esse objetivo é propor um salário que não esmague
os operários.
Essa mesma atitude é, por exemplo, muito útil em relação às caixas de
assistência e às instituições de seguro dos sindicatos operários. A coleta de
fundos para a luta e a distribuição de subvenções em tempo de greve pelas
caixas mutuais não são ações más em si mesmas, e se opor, em princípio, a esse
gênero de atividade será algo deslocado. Somente é preciso dizer que essas
coletas de dinheiro e esse meio de dispensá-lo, que estão de acordo com as
recomendações dos chefes de Amsterdã, estão em contradição com os interesses
das classes revolucionárias. Com relação às caixas sindicais, de hospital etc.,
é preciso que os comunistas exijam a supressão das cotizações especiais e,
igualmente, a supressão de todas as condições de obrigação em caixas
voluntárias. Mas se nós proibirmos os membros de dar dinheiro para ajudar as
organizações de assistência aos doentes, a parcela desses membros que desejam
continuar a assegurar por seus donativos a ajuda combinada com essas
instituições não nos compreenderá se os proibirmos sem qualquer explicação. É
preciso livrar essas pessoas, pela propaganda pessoal intensiva, de sua
tendência pequeno-burguesa.
26. Não há nada a esperar de conversas com os chefes dos sindicatos e
dos diferentes partidos operários social-democratas e pequeno-burgueses. Contra
isso deve-se organizar a luta com toda a energia, mas o único meio seguro e
vitorioso de combatê-los consiste em desligar deles seus adeptos e mostrar aos
operários o serviço de escravos cegos que seus chefes social-traidores prestam
ao capitalismo. Deve-se, portanto, sempre que possível, colocar primeiro esses
chefes numa situação em que eles sejam obrigados a se desmascarar e atacá-los,
após esses preparativos, da forma mais enérgica.
Não é suficiente jogar no rosto dos chefes de Amsterdã a injúria de
“amarelos". Seu caráter de "amarelos” deve ser mostrado
detalhadamente com exemplos práticos. Sua atividade nas uniões operárias, no
Bureau Internacional de Trabalho da Liga das Nações, nos ministérios e administrações
burguesas, suas palavras mentirosas nos discursos pronunciados nas conferências
e parlamentos, as passagens essenciais de seus numerosos artigos pacificadores
nas centenas de jornais e revistas, mas sobretudo na maneira hesitante e
oscilante de conduzir quando se trata de preparar e conduzir os menores
movimentos salariais e as lutas operárias tudo isso oferece ocasião de expor a
conduta desleal e traidora dos chefes de Amsterdã e chamá-los de
"amarelos". Pode-se fazê-lo apresentando proposições, moções e
discursos.
É preciso que os núcleos e frações do partido façam sistematicamente os
ataques práticos. Os comunistas não devem se deixar frear pelas explicações da
burocracia sindical inferior que procura se defender de sua fraqueza - que
aparece por vezes, apesar de toda a sua boa vontade - rejeitando a censura
sobre os estatutos, as decisões das conferências e as ordens recebidas de seus
comitês centrais. Os comunistas devem constantemente exigir dessa burocracia
inferior respostas claras e indagar o que faz para afastar os obstáculos que
ela alega existir e se está pronta para lutar para sua destruição.
27. As frações e os grupos de operários devem se preparar
cuidadosamente para a participação dos comunistas nas assembléias e
conferências das organizações sindicais. Devem, por exemplo, elaborar suas
próprias proposições, escolher seus relatores e oradores para sua defesa,
propor como candidatos os camaradas capazes, experimentados e enérgicos etc.
As organizações comunistas devem, igualmente, através de seus grupos
operários, se preparar cuidadosamente para as eleições, demonstrações, festas
políticas, operárias etc., organizadas pelos partidos inimigos. Mesmo quando se
tratar de assembléias gerais organizadas pelos próprios comunistas, os grupos
operários comunistas devem, no maior número possível, agir segundo um plano
único, tanto antes como durante as assembléias, a fim de estarem seguros de
aproveitar plenamente essas assembléias do ponto de vista da organização.
28. Os comunistas devem também sempre tentar atrair para a esfera de
influência do partido os operários não organizados e inconscientes. Nossos
núcleos e frações devem fazer tudo para que surja o movimento entre os
operários, para fazê-los entrar nos sindicatos e ler nosso jornal. Podemos nos
servir igualmente de outras uniões operárias na qualidade de intermediários
para propagar nossa influência (por exemplo, as sociedades de ensino e os
círculos de estudos, as sociedades esportivas, teatrais, uniões de
consumidores, organizações de vítimas da guerra etc.).
Nos locais onde o Partido Comunista é obrigado a agir ilegalmente, tais
uniões operárias podem, com a aprovação e sob o controle do órgão do partido
dirigente, ser formadas fora do partido, pela iniciativa dos seus membros
(Associações de Simpatizantes). As organizações comunistas da Juventude e
Mulheres podem também, graças a seus cursos, conferências, excursões, festas,
piqueniques de domingos etc., despertar em muitos operários, até agora
indiferentes às questões políticas, o interesse por sua organização comum e, em
seguida, fazê-los participar de um trabalho útil para nosso partido (por
exemplo, a distribuição de folhetos, proclamações e outros, distribuição de
jornais do partido, livros etc.). Pela participação ativa nos movimentos
comuns, os operários se livrarão mais facilmente de suas tendências
pequeno-burguesas.
29. Para conquistar as camadas semiproletárias da massa operária e
torná-las simpatizantes do proletariado revolucionário, os comunistas devem se
valer sobretudo da contradição de seus interesses, socialmente opostos aos dos
grandes proprietários, dos capitalistas e do Estado capitalista. Eles devem,
através de conversas contínuas, desembaraçar essas camadas intermediárias de
sua desconfiança para com a revolução proletária. Para chegar a esse resultado,
será preciso por vezes conduzir essa propaganda durante um certo tempo. É
preciso testemunhar um interesse sensível por suas exigências de vida, é
preciso organizar bureaux de informações gratuitas para eles e ir em sua ajuda
para superar as pequenas dificuldades das quais não podem sair sozinhos. É
preciso levá-los às instituições especiais que servirão para instruí-los
gratuitamente etc. Todas essas medidas poderão aumentar a confiança no
movimento comunista. Ao mesmo tempo, é preciso ser muito prudente e agir
infatigavelmente contra as organizações e pessoas hostis que têm autoridade em
um dado lugar ou que possuem uma influência sobre os pequenos camponeses,
artesãos e outros elementos semiproletários. É preciso caracterizar os inimigos
mais próximos, aqueles que os explorados conhecem como seus opressores por sua
própria experiência, é preciso caracterizá-los como os representantes dos
crimes capitalistas em sua totalidade. Os propagandistas e agitadores comunistas
devem utilizar ao extremo, e de forma compreensível para todos, todos os
elementos e fatos cotidianos que colocam a burocracia de Estado em conflito
direto com o ideal da democracia pequeno-burguesa e o "Estado de
direito".
Todas as organizações do campo devem repartir entre seus membros as
tarefas de agitação a domicílio que devem desenvolver na esfera de sua
atividade em todas as cidades, cortes municipais e fazendas e casas separadas.
30. Para a propaganda no exército e na frota do Estado capitalista,
será preciso procurar em cada país os métodos mais apropriados. A agitação
antimilitarista no sentido pacifista é má, pois ela não pode senão encorajar a
burguesia em seu desejo de desarmar o proletariado. O proletariado rejeita a
princípio e combate da maneira mais enérgica todas as instituições militaristas
do Estado burguês e da classe burguesa em geral. Por outro lado, o proletariado
aproveita-se dessas instituições (exército, sociedades de preparação militar,
milícia de defesa civil etc.) para exercitar militarmente os operários para as
lutas revolucionárias. A agitação ostensiva não deve ser dirigida contra a
formação militar da juventude operária, mas contra as arbitrariedades dos
oficiais. O proletariado deve utilizar da forma mais enérgica possível todas as
possibilidades de se apossar das armas.
O antagonismo de classes que se manifesta nos privilégios materiais dos
oficiais e no mau tratamento dispensado aos soldados deve tornar-se claro para
esse últimos. Por outro lado, na agitação entre os soldados, é preciso
esclarecer como todo seu futuro está estreitamente ligado à sorte da classe
explorada. No período avançado da fermentação revolucionária, a agitação a
favor da eleição democrática dos comandos pelos soldados e pelos marinheiros e
a favor da formação de sovietes de soldados pode ser muito eficaz para minar as
bases da dominação da classe capitalista.
A máxima atenção e energia são necessárias na agitação contra as tropas
especiais que a burguesia arma para a guerra civil e, em particular, contra
seus bandos de voluntários armados. A decomposição social deve ser demonstrada
sistematicamente e no tempo hábil nos locais onde essa decomposição social e
seu meio corrompido o permitem. Quando esses bandos ou tropas possuem um
caráter de classe uniformemente burguês como, por exemplo, nas tropas compostas
exclusivamente de oficiais, é preciso desmascará-los para o conjunto da
população, torná-los desprezíveis e odiosos, de forma a provocar sua dissolução
interior seguida do isolamento que a ação de propaganda provocará.
V Organização das Lutas Políticas
31. Para um Partido Comunista, não há momento em que a organização do
Partido possa ficar inativa. A utilização orgânica de toda situação política e
econômica e de toda modificação dessa situação deve ser levada ao nível de uma
estratégia e de uma tática organizada.
Se o Partido é ainda frágil, ele tem, entretanto condições de
aproveitar os eventos políticos ou grandes greves que abalam toda a vida
econômica para levar uma ação de propaganda radical sistemática e metodicamente
organizada. Uma vez que um Partido tomou sua decisão numa situação desse
gênero, ele deve pôr em movimento para esta campanha, com toda a energia, todos
os seus membros e todos os setores do seu movimento.
Em primeiro lugar, será preciso utilizar todas as ligações que o
Partido tenha criado para o trabalho de suas células e seus grupos de
propaganda para organizar reuniões nos principais centros políticos ou
grevistas, reuniões nas quais os oradores do Partido deverão mostrar aos
assistentes que os princípios comunistas são o meio para sair das dificuldades
da luta. Grupos de trabalho especiais deverão preparar nos mínimos detalhes
todas essas reuniões. Se não for possível organizar reuniões por si, os
camaradas devidamente preparados deverão se apresentar como os principais
oradores nas reuniões gerais dos grevistas ou dos proletários, levando o
combate sob qualquer forma que se apresente.
Se há possibilidade de ganhar a maioria, ou pelo menos grande parte da
reunião, para nossos princípios, esses deverão ser formulados em proposições e
resoluções bem redigidas e corretamente justificadas. Uma vez apresentadas,
será necessário fazer com que sejam admitidas pelo menos por fortes minorias em
todas as reuniões que acontecerem com a mesma finalidade na localidade em
questão ou em outras. Assim obteremos a concentração das camadas proletárias em
movimento que no momento sofrem somente nossa influência moral, e nós as
faremos aceitar a nova direção.
Após essas reuniões, os grupos de trabalho que participaram de sua
preparação e sua utilização deverão se reencontrar não apenas para fazer um
relatório ao Comitê Diretor do Partido, mas também para tirar das experiências
e erros eventualmente cometidos os ensinamentos necessários à atividade
ulterior.
Segundo as situações, as palavras de ordem práticas deverão ser levadas
ao conhecimento das massas operárias interessadas, por meio de cartazes e
folhetos, ou panfletos detalhados, remetidos diretamente aos elementos em luta
e nos quais o comunismo esteja aclarado pelas divisas adaptadas à situação.
Para distribuir os panfletos, são necessários grupos especialmente organizados;
esses grupos deverão ser unidos e escolher o momento oportuno para esta
operação. A distribuição dos folhetos dentro e diante dos locais de trabalho,
nos estabelecimentos públicos, nas habitações comuns dos operários que
participam do movimento, nos cruzamentos, nas agências de emprego e nas
estações, deverá ser acompanhada tanto quanto possível de uma discussão em termos
francos, de forma, a ser entendida pelas massas operárias em movimento. Os
panfletos detalhados deverão ser divulgados tanto quando possível em lugares
cobertos, nas oficinas, habitações e, de modo geral, onde se possa esperar uma
atenção continuada.
Esta propaganda intensa deve ser apoiada por uma ação paralela em todas
as assembléias de sindicatos ou entidades do movimento. Se os comunistas forem
os organizadores dessas assembléias, deverão providenciar oradores e relatores
preparados para tanto. Os jornais do Partido devem constantemente colocar à
disposição do movimento a maior porção de suas colunas e seus melhores
argumentos, o conjunto do aparelho partidário deverá, durante todo o tempo que
durar o movimento, estar inteiramente, e sem descanso, a serviço da idéia geral
que o anima.
32. As manifestações e as ações demonstrativas exigem uma direção muito
devotada e muito ágil, que tenha sempre em mira o objetivo dessas ações e
esteja a qualquer momento em condições de perceber se a manifestação obteve seu
maior efeito ou se, na situação dada, é possível intensificá-la, alargando-a
para realizar uma ação de massas sob a forma de greves demonstrativas e em
seguida greves de massas. As manifestações pacifistas durante a guerra nos
ensinaram que, mesmo após o esmagamento desse tipo de manifestação, um
verdadeiro Partido proletário de luta, mesmo ilegal, não deve hesitar nem parar
quando se trata de um grande objetivo, despertando necessariamente nas massas
um interesse crescente.
As manifestações de rua encontram mais apoio nos estabelecimentos
maiores. Tão logo esteja criado um certo estado de espírito comum, por meio do
trabalho preparatório metódico de nossas células e frações, seguido de uma
propaganda oral ou por panfletos, os homens de confiança do nosso Partido nas
empresas, os líderes de núcleos e frações, deverão ser convocados pelo Comitê
Diretor para uma conferência ou discutirão a operação conveniente para o dia
seguinte, o momento exato de realizar, o caráter das palavras de ordem, as
perspectivas da ação, sua intensificação e o momento da cessação e da sua
dissolução. Um grupo de funcionários munidos de instruções precisas e
especialistas em questões de organização deverá constituir o eixo da
manifestação da partida do local de trabalho ao deslocamento do movimento de
massas. A fim de que esses funcionários mantenham o contato vivo entre eles e
possam receber constantemente as diretrizes políticas necessárias a cada
momento, trabalhadores responsáveis do Partido devem participar metodicamente,
entre as massas, da manifestação. Esta direção política e organizada da
manifestação constitui a condição mais favorável para a renovação e
eventualmente para a intensificação da ação e sua transformação em grandes
ações de massa.
33. Os Partidos Comunistas que já desfrutam de uma certa solidez
interior, que dispõem de um grupo de funcionários provados e de um número
considerável de partidários nas massas, devem fazer tudo para destruir, através
de grandes campanhas, a influência dos líderes socialistas-traidores e colocar
a maioria dos operários sob direção comunista. As campanhas devem ser
organizadas diferentemente segundo o que as lutas atuais permitem ao Partido
Comunista agir como guia do proletariado e de se colocar à frente do movimento
onde reine uma estagnação momentânea. A composição do Partido será também um
elemento determinante para os métodos de organização das ações.
É assim que, para ganhar, mais do que isso não era possível nas
diferentes circunscrições, as camadas socialmente decisivas do proletariado, o
Partido Comunista Unificado da Alemanha, como jovem Partido de massas, recorreu
ao meio da "carta aberta". A fim de desmascarar os chefes
socialistas-traidores, o Partido Comunista se dirigiu, no momento em que a
miséria e os antagonismos de classe se agravavam, às outras organizações do
proletariado para exigir delas uma resposta clara diante do proletariado para a
questão de saber se eles estavam dispostos, com suas organizações aparentemente
tão poderosas, a empreender a luta comum cm acordo com o Partido Comunista,
pelas reivindicações mínimas, por um miserável pedaço de pão, contra a miséria
evidente do proletariado.
Tão logo o Partido Comunista comece uma campanha semelhante, ele deve
tomar todas as medidas para provocar um eco para sua ação nas mais amplas
camadas das massas proletárias. Todas as frações profissionais e todos os
funcionários sindicais do Partido devem, em todas as reuniões dos operários,
por empresa ou sindicato, em todas as reuniões públicas em geral, colocar em discussão
as reivindicações do proletariado.
Em todos os lugares onde nossas frações e núcleos desejem obter para
nossas reivindicações a aprovação das massas, folhetos, panfletos e cartazes
deverão ser distribuídos com habilidade a fim de excitar a opinião. A imprensa
de nosso Partido, durante as semanas que durar a campanha, deve esclarecer o
movimento, ora brevemente, ora com mais detalhes, mas sempre sob aspectos
novos. As organizações deverão prover a imprensa de informações correntes
relativas ao movimento e zelar energicamente para que os redatores não se
descuidem dessa campanha do Partido. As frações do Partido no Parlamento e
instituições municipais deverão também se colocar sistematicamente a serviço
dessas lulas. Elas deverão provocar a discussão pelas proposições
correspondentes nas assembléias deliberativas, seguindo as orientações do
Partido. Os deputados deverão agir e se sentir como membros das massas
combatentes, como seus porta-vozes no campo de seus inimigos de classe, como
funcionários responsáveis e como trabalhadores do Partido.
Assim que a ação concentrada organizada e coerente de todos os membros
do Partido tiver provocado um número de ordens e do dia de aprovação sempre
maior e aumentando sem cessar ao longo de algumas semanas, o Partido se
encontrará diante dessa grave questão: organizar, concentrar organicamente as
massas que aderem às nossas palavras de ordem.
Se o movimento tomar um caráter sindical, é preciso, antes de tudo, se
aplicar em aumentar nossa influência nos sindicatos, prescrevendo às nossas
frações comunistas atacar, após boa preparação, diretamente a direção sindical
local para derrotá-la ou levar a luta organizada com base nas palavras de ordem
do nosso Partido.
Onde houver comitês ou conselhos de fábrica ou outras instituições
análogas, será preciso agir de maneira que essas instituições participem da
luta. Uma vez que um certo número de organizações locais sejam ganhas para essa
luta sob a direção comunista em função dos interesses vitais do proletariado,
essas organizações, cujas reuniões gerais forem decididas no mesmo sentido,
enviarão seus delegados. A nova direção assim consolidada sob a influência
comunista ganha, por esta concentração de grupos ativos do proletariado
organizado, uma nova forma de ataque, que deve ser utilizada para empurrar para
a frente a direção dos Partidos Socialistas e dos sindicatos, ou, pelo menos,
para anulá-las a partir de agora organicamente.
Nas regiões onde nosso Partido dispõe de suas melhores organizações e
onde ele encontrou as mais numerosas aprovações para suas palavras de ordem, é
preciso, com uma pressão organizada sobre os sovietes locais, concentrar todas
as lutas econômicas isoladas que acontecem nessa região e também os movimentos
desenvolvidos por outros grupos e transformá-las numa ampla luta única,
ultrapassando, daí por diante, o limite dos interesses profissionais
particulares e perseguindo algumas reivindicações elementares comuns, a fim de
realizar essas reivindicações com a ajuda das forças reunidas de todas as organizações
da região.
Num semelhante movimento, o Partido Comunista será o verdadeiro guia do
proletariado pronto para a luta, enquanto a burocracia sindical e os Partidos
Socialistas que se opuserem a um movimento organizado com um tal acordo serão
batidos não somente pela perda de toda autoridade política ou moral mas,
também, pela destruição efetiva de sua organização.
34. Se o Partido Comunista for obrigado a assumir a direção das massas
num momento em que os antagonismos políticos e econômicos estiverem
superexcitados e provocarem novos movimentos e novas lutas, pode-se renunciar a
estabelecer reivindicações particulares e dirigir apelos simples e concisos
diretamente aos membros dos Partidos Socialistas e sindicatos, convidando-os a
não fugir da luta contra os patrões, apesar dos conselhos de seus chefes
burocratas, dada a miséria e a opressão crescente, para evitar a ruína
completa. Os órgãos dos Partidos devem sempre mostrar e acentuar durante esse
movimento que os comunistas estão prontos a participar na condição de chefes
das lutas atuais ou futuras dos proletários reduzidos à miséria e que acorrerão
em socorro de todos os oprimidos, desde que isso seja possível na situação.
Será necessário provar cotidianamente que o proletariado não poderá subsistir
sem essas lutas e nenhuma das antigas organizações procura evitar ou impedir
essa situação.
As frações sindicais e profissionais devem sempre apelar para o
espírito de combate de seus camaradas comunistas nas reuniões, fazendo-os
compreender claramente que não se pode hesitar nunca. Mas o essencial, durante
uma campanha desse gênero, é a concentração e a unificação orgânica das lutas e
dos movimentos. Não somente os núcleos e as frações comunistas das empresas e
sindicatos levados à luta devem constantemente manter entre eles o contato mais
estreito mas, também, as direções devem imediatamente colocar à disposição dos
movimentos que se produzem os funcionários e os militantes ativos do Partido,
encarregados, de acordo com os militantes do movimento, de generalizar, ampliar
e intensificar, ao mesmo tempo que dirigir, todos esses movimentos. A principal
tarefa da organização consiste em ressaltar o que há de comum entre essas
diferentes lulas para poder assim chegar, em caso de necessidade, a uma luta
geral pelos meios políticos.
Durante a generalização e intensificação das lutas será necessário
criar órgãos únicos de direção. Nos casos de alguns sindicatos, em que o comitê
de greve burocrático venha a faltar com sua tarefa, será preciso que os
comunistas obtenham a tempo, exercendo a pressão necessária, a substituição
desses burocratas por comunistas que assumam a direção firme e decidida desta
luta. Desde que se consiga combinar várias lutas, será preciso instituir uma
direção comum para o conjunto da ação, e então os comunistas deverão, sempre
que possível, assumir essa direção. Esta unidade de direção pode ser facilmente
obtida se for feita uma preparação apropriada pela fração comunista nos
sindicatos ou nas empresas, pelos sovietes de usinas, pelas assembléias
plenárias desses sovietes, mas mais particularmente pelas assembléias gerais de
grevistas.
Se o movimento, seguido de sua generalização e da entrada em ação dos
organismos patronais e das autoridades públicas, assumir um caráter político,
será preciso começar imediatamente a propaganda e a preparação administrativa
com vistas à eleição possível e verdadeiramente necessária dos sovietes
operários; ao longo desse trabalho, todos os órgãos do Partido devem ressaltar
com a máxima intensidade a idéia de que apenas por órgãos semelhantes da classe
operária, saídos diretamente de suas lutas, se dará a verdadeira libertação do
proletariado com o desprezo que convém votar à burocracia sindical e seus
auxiliares do Partido Socialista.
35. Os Partidos Comunistas já suficientemente fortes, e em particular
os grandes partidos de massas, devem através de medidas tomadas previamente,
estar sempre prontos para grandes ações políticas. Ao longo dessas ações
demonstrativas e das lutas econômicas, bem como ao longo das ações parciais, é
preciso utilizar sempre, da maneira mais enérgica, as experiências de
organização fornecidas por esses movimentos para um contato mais firme com as
grandes massas. As lições de todos os novos grandes movimentos devem ser
discutidas e estudadas com cuidado nas conferências ampliadas de funcionários,
dirigentes e militantes responsáveis do Partido com os delegados das usinas, a
fim de estabelecer relações cada vez mais estreitas e mais seguras, através dos
delegados de usinas). A melhor garantia que as ações políticas de massas não
serão empresas prematuras e só o serão na medida permitida pelas circunstâncias
e pela influência atual do Partido, consiste nas relações de confiança entre
funcionários e militantes responsáveis do Partido e os delegados de usinas.
Sem esse contato estreito entre o Partido e as massas proletárias,
trabalhando entre as grandes e médias empresas, o Partido Comunista não
conseguirá realizar grandes ações de massas e movimentos verdadeiramente
revolucionários. Se, na Itália, o levante incontestavelmente revolucionário do
ano passado, que encontrou sua expressão mais forte na ocupação das usinas,
fracassou foi certamente por uma parte, por causa da traição da burocracia
sindical e pela insuficiência da direção política do Partido mas, também,
porque não havia entre o Partido e as usinas uma ligação intimamente organizada
por meio de delegados de usinas politicamente informados e se interessando pela
vida do Partido. O movimento dos mineiros ingleses deste ano foi, sem dúvida,
extraordinariamente, ele também, vítima desse mesmo defeito que diminuiu seu
valor político.
VI A Imprensa do Partido
36. A imprensa comunista deve ser desenvolvida e melhorada pelo Partido
com uma energia infatigável.
Nenhum jornal poderá ser reconhecido como órgão comunista se não
estiver submetido às diretrizes do Partido. Esse princípio deve ser aplicado
também para as produções literárias como livros, brochuras, escritos periódicos
etc., levando em consideração seu caráter científico, de propaganda ou outro.
O Partido deve se esforçar para ter bons jornais antes de ter muitos.
Todo Partido Comunista deve ter um órgão central, sempre que possível diário.
37. Um jornal comunista não deve jamais se tornar uma empresa
capitalista como são os jornais burgueses pretensamente “Socialistas".
Nosso jornal deve ser independente das instituições de crédito capitalistas. A
organização ágil da publicidade por anúncios, que pode melhorar
consideravelmente as condições de existência do nosso jornal, não deve ficar na
dependência das grandes empresas de publicidade. Logo, uma atitude inflexível
em todas as questões sociais proletárias dará aos jornais de nosso Partido de
massas uma força e uma consideração absolutas. Nosso jornal não deve servir
para satisfazer o gosto sensacionalista nem a diversão de um público variado.
Ele não deve fazer concessões à crítica dos literatos pequeno-burgueses ou aos
virtuoses do jornalismo para criar uma clientela de salão.
38. Um jornal comunista deve, antes de tudo, defender Os interesses dos
operários oprimidos e lutadores. Deve ser nosso melhor propagandista e
agitador, o propagandista dirigente da revolução proletária.
Nosso jornal tem por tarefa reunir as experiências adquiridas nas
atividades de todos os membros do Partido e fazer disso um guia político para
revisão e melhoria dos métodos de ação comunista. Essas experiências devem ser
trocadas nas reuniões de redatores de todo o pais, reuniões que procurem criar
a maior unidade de tom e tendência no conjunto da imprensa do Partido. Assim,
essa imprensa, como qualquer jornal em particular, será o melhor organizador do
nosso trabalho revolucionário.
Sem esse trabalho consciente de organização e de coordenação dos
jornais comunistas, e em particular do órgão central, colocar em prática a
centralização democrática e uma sadia divisão do trabalho no interior do
partido e, por conseqüência, também o cumprimento da missão histórica possível.
39. O jornal comunista deve tentar ser uma empresa comunista, isto é,
uma organização proletária de combate, uma associação de operários
revolucionários, de todos os que escrevem regularmente para o jornal, que o
compõem, imprimem, administram, distribuem, reúnem o material de informação,
discutem e elaboram nas células, enfim, que agem cotidianamente para
distribuí-lo etc...
Para fazer do jornal uma verdadeira organização de combate, uma
poderosa e viva associação de trabalhadores comunistas, impõem-se várias
medidas práticas.
Todo comunista se liga estreitamente a seu jornal, trabalhando e se
sacrificando por ele. Ele é sua arma cotidiana que, para servir, deve se
transformar cada vez mais forte e afiado. Somente graças aos sacrifícios
financeiros e materiais, o jornal comunista conseguirá se manter. Os membros do
Partido devem constantemente fornecer os meios necessários para sua organização
e para sua melhoria, até que ele seja distribuído nos grandes partidos legais e
sólido o suficiente para organização do movimento comunista.
Não é suficiente ser um agitador e um recrutador zeloso para o jornal,
é preciso também se transformar em colaborador útil. É preciso informar o mais
rápido possível tudo o que mereça ser observado, do ponto de vista social e
econômico, na fração sindical e nas células, do acidente de trabalho à reunião
profissional, dos maus-tratos dispensados aos jovens aprendizes até o relatório
comercial da empresa. As frações sindicais devem informar sobre as reuniões e
sobre as decisões e medidas mais importantes tomadas por essas reuniões, pelos
secretariados das Uniões, assim como sobre as atividades dos nosso adversários.
A vida pública das reuniões e da rua oferece aos militantes atentos do Partido
ocasião de observar com senso crítico os detalhes, cuja utilização pelos
jornais tornará clara aos mais indiferentes nossa atitude em relação às
exigências da vida.
A comissão de redação deve tratar com o maior carinho e zelo essas
informações sobre a vida dos operários e suas organizações e utilizá-las como
breves comunicações, dando a nosso jornal o caráter de uma verdadeira
comunidade de trabalho, viva e forte, ou para, à luz desses exemplos práticos
da vida cotidiana dos operários, tornar compreensíveis os ensinamentos do
comunismo, o que constitui a via mais rápida para chegar a tornar viva e Intima
a idéia do comunismo entre as grandes massas operárias. Na medida do possível,
a comissão de redação deverá estar à disposição dos operários que venham a
visitar nosso jornal nas horas mais favoráveis do dia, para acolher suas
necessidades e suas queixas relativas à miséria de sua existência, para
anotá-las com cuidado e servir-se delas para dar vida ao jornal. Certamente, na
sociedade capitalista, nenhum dos nossos jornais se transformará numa
verdadeira associação de trabalho comunista. Pode-se, entretanto, mesmo nas
condições mais difíceis, organizar um jornal revolucionário operário partindo
desse ponto de vista. Isto está provado pelo exemplo do Pravda, de nossos
camaradas russos, durante os anos de 1912-1913. Esse jornal se constitui
realmente numa organização permanente e ativa dos operários revolucionários
conscientes nos centros mais importantes do Império russo. Esses camaradas
redigiam, editavam e distribuíam conjuntamente o jornal; a maioria entre eles
economizando o dinheiro necessário para as despesas pelo trabalho e pelo
salário de seu trabalho. O jornal, por seu turno, pôde lhes dar o que eles
desejavam, o que eles tinham necessidade nos momentos de luta e que hoje lhes
serve ainda no trabalho e na luta. Tal jornal, com efeito, pode ser para os
membros do Partido e para todos os operários revolucionários o que eles chamam
"nosso jornal".
40. O elemento essencial da atividade da imprensa de combate comunista
é a participação direta nas campanhas conduzidas pelo Partido. Se, em certo
momento, a atividade do Partido estiver concentrada em determinada campanha, o
jornal do Partido deve colocar a serviço dessa campanha todas as suas colunas,
suas rubricas e não apenas os artigos de fundo. A redação deve encontrar, em
todos os domínios, material para empreender essa campanha e alimentá-la da
forma mais conveniente.
41. O recrutamento para nosso jornal deve ser seguido conforme um
sistema estabelecido. Antes de mais nada, é preciso utilizar todas as situações
nas quais os operários estejam vivamente integrados no movimento, e nas quais a
vida política e social esteja mais agitada, seguida de algum evento político e
econômico. Assim, depois de cada greve ou locaute, durante os quais o
jornal defendeu franca e energicamente os interesses dos operários em luta,
deve-se organizar, imediatamente após o fim da greve, um trabalho de
recrutamento homem a homem entre os que tenham participado da greve. Não apenas
as frações comunistas dos sindicatos e das profissões envolvidas no movimento
grevista devem levar a propaganda do jornal em seu meio através de listas e
assinaturas mas, também, na medida do possível, deve-se procurar as listas dos
operários que tenham feito a greve, bem como seus endereços, a fim de que os
grupos especiais encarregados dos interesses do jornal possam levar uma
agitação a domicílio.
Do mesmo modo, após toda campanha política eleitoral pela qual seja
despertado o interesse das massas operárias, deve ser levada uma campanha de
agitação a domicílio, de casa em casa, pelos grupos de trabalhadores
especialmente incumbidos desta tarefa nos diferentes bairros operários.
Durante as épocas de crise política ou econômica latentes cujos efeitos
se façam sentir nas massas operárias sob a forma de aumento de preços, de
desemprego e outras misérias, deve-se tentar, após uma propaganda hábil contra
essa situação, obter, se possível, por intermédio das frações sindicais,
grandes listas de operários organizados nos sindicatos, a fim de que o grupo
especial do jornal possa continuar sistematicamente a agitação a domicílio. A última
semana do mês é a mais conveniente para o trabalho de recrutamento. Toda
organização local que deixe passar esta última semana do mês, ainda que isso
aconteça uma vez por ano, sem prosseguir na propaganda em favor da imprensa,
comete um atraso culposo na extensão do movimento comunista. O grupo especial
encarregado dos interesses do jornal não deve deixar passar nenhuma reunião
pública de operários, nenhuma grande manifestação sem, desde o início, e também
durante os intervalos e ao final, agir da maneira mais ativa para obter
assinaturas para nosso jornal. As frações sindicais devem cumprir esta tarefa
também em todas as reuniões de seus sindicatos, nas células e frações sindicais
nas reuniões por categoria.
42. Nosso jornal deve ser constantemente defendido pelos membros do
Partido contra todos os seus inimigos.
Todos os membros devem levar uma luta impiedosa contra a imprensa
capitalista, revelar sua venalidade, suas mentiras, sua vileza reticente e suas
intrigas.
A imprensa social-democrata e socialista independente deve ser vencida
e desmascarada em sua atitude traidora pelos exemplos da vida cotidiana,
através de ataques contínuos, mas sem se envolver em pequenas polêmicas de
fração. As frações sindicais e outras devem se aplicar organizadamente a
subtrair à influência perturbadora e paralisante dos jornais social-democratas
aos membros dos sindicatos e de outras associações operárias. O trabalho de
assinaturas para o nosso jornal, assim como a agitação a domicílio ou nas
empresas, deve igualmente ser dirigido com habilidade contra a imprensa dos
socialistas traidores.
VII A Estrutura do Conjunto do Partido
43. Para a ampliação e consolidação do Partido, não se deverá
estabelecer divisões segundo um esquema formal, geográfico, será preciso, sobretudo,
levar em conta a estrutura econômica e política real das regiões em questão e
dos meios técnicos de comunicação. A base desse trabalho deve ser nas capitais
e nos centros proletários da grande indústria.
No momento de organização de um novo Partido, constatam-se
freqüentemente, desde o início, os esforços que tendem a estender o tecido das
organizações do Partido sobre todo o país. Apesar das forças muito limitadas à
disposição dos organizadores, isso se aplica, na maioria das vezes, a
dispersá-lo aos quatro ventos. A força de atração e o crescimento do Partido
ficam assim enfraquecidos. Ao cabo de alguns anos chega-se, é verdade, a ter
todo um sistema de bureaux muito vasto, mas o mais comum é o Partido não
conseguir se fixar firmemente em nenhuma das cidades industriais mais
importantes do país.
44. Para dar ao Partido a maior centralização possível, é preciso tão
somente decompor sua direção como um todo numa hierarquia, comportando
numerosos graus completamente subordinados uns aos outros. É preciso se aplicar
a construir em todo centro econômico, político ou de comunicação, uma malha que
se estenda sobre a larga periferia desta cidade e sobre a região econômica ou
política dependente. O Comitê do Partido, que é nesta cidade como a cabeça de
um corpo, dirige o trabalho do Partido na região e exerce sua direção política,
deve se apoiar, com o mais estreito contato, nas massas comunistas da sede.
Os organizadores nomeados pelas conferências das regiões ou pelo
Congresso Regional do Partido e confirmados pela direção central devem
participar regularmente da vida do Partido na sede de sua região. O Comitê
Regional do Partido deve constantemente ser reforçado por trabalhadores
escolhidos entre os membros da sede, de sorte que se estabeleça um contato vivo
e estreito entre o comitê político do Partido dirigente da região e as massas
comunistas de sua sede. Logo que chegue a um certo estado de organização, é
preciso que o Comitê da região seja ao mesmo tempo a direção política da sede
desta região. De sorte que os comitês dirigentes do Partido nessas organizações
regionais, de acordo com o Comitê Central, tenham o papel de órgãos
verdadeiramente dirigentes nas organizações do Partido. A extensão de uma
circunscrição política do Partido não deve naturalmente ser determinada pela
extensão material da região. O que é preciso considerar, antes de tudo, é a
possibilidade dos Comitês regionais do Partido dirigirem concentricamente todas
as organizações locais da região. Quando isso não for possível, é preciso repartir
a região e fundar um novo Comitê regional do Partido.
Naturalmente, nos grandes países, o Partido tem de alguns órgãos de
ligação entre a direção central e as diferentes direções regionais (direção
provincial, direção departamental etc.) e entre a direção regional e as
diferentes organizações locais (direção de circunscrição e de cantão). Em
algumas circunstâncias, pode ser útil dar a um ou a outro desses órgãos
intermediários um papel dirigente; por exemplo, numa grande cidade contando com
um número considerável de membros. De modo geral, esse tipo de descentralização
deve ser evitado.
45. As grandes unidades do Partido (circunscrições) são constituídas
pelas organizações locais do Partido: pelos "grupos locais" do campo
e das pequenas cidades e pelos "distritos" ou "raio" dos
diferentes bairros das grandes cidades.
Uma organização local do Partido que, nas condições legais, não está em
condições de manter reuniões gerais de seus membros, deve ser dissolvido ou
dividido.
Nas organizações locais do Partido, os membros devem ser repartidos em
função do trabalho cotidiano do Partido em diferentes grupos de trabalho. Nas
organizações maiores, talvez seja útil reunir os grupos de trabalho em
diferentes grupos coletivos. Num mesmo grupo coletivo é preciso, geralmente,
incluir todos os membros que, em seu local de trabalho ou na vida cotidiana, se
encontrem e mantenham contato entre si. O grupo coletivo tem por tarefa
distribuir o trabalho geral do Partido entre os diferentes grupos de trabalho,
receber os relatórios, formar os candidatos para o Partido em seu meio etc.
46. O Partido, em seu conjunto, está sob a direção da Internacional
Comunista. As diretrizes e as resoluções da direção internacional nas questões
que interessam aos partidos são endereçadas: 1) ou à direção central geral do
Partido; ou 2) por intermédio da direção central, ou comitê dirigente tal ou
qual ação especial; ou, enfim, 3) a todas as organizações do Partido.
As diretrizes e as decisões da Internacional são obrigatórias para o
Partido e, também, não é preciso dizer, para cada um de seus membros.
47. O Comitê Central do Partido (conselho central ou comissão) é
responsável perante o Congresso do Partido e perante a direção da Internacional
Comunista. O Comitê Central reduzido, bem como o Comitê completo ou ampliado, o
conselho ou a comissão são eleitos, em regra geral, pelo congresso do Partido.
Se o congresso do Partido julgar necessário, poderá encarregar a direção
central para eleger unia direção limitada composta pelo Bureau político e pelo
Bureau de organização. A política e os negócios correntes do Partido são
dirigidos, sob a responsabilidade da direção limitada, por esses dois Bureaux.
A direção reduzida convoca regularmente reuniões gerais do Comitê Diretor para
tomar decisões de grande importância e alto porte. A fim de tomar conhecimento
da situação política geral com a seriedade necessária e conhecer exatamente a
capacidade de ação do Partido, de ter sobre isso uma visão exata e clara, é
indispensável nas eleições da direção central do Partido, considerar as
proposições apresentadas pelas diferentes regiões do país. Pela mesma razão, as
opiniões táticas divergentes de caráter sério não devem ser relegadas nas
eleições para a direção central. Ao contrário, é preciso agir de maneira que as
opiniões divergentes estejam representadas no Comitê Diretor pelos seus
melhores defensores. A direção reduzida deve, entretanto ser coerente com essas
concepções e para ser firme e segura não deve se basear somente em sua
autoridade, mas também em uma maioria sólida evidente e numerosa no conjunto do
Comitê Central.
Graças a uma constituição bastante ampla de sua direção central, o
grande Partido legal terá logo seu Comitê Central sobre a melhor das bases: uma
disciplina firme e a confiança absoluta dos membros; além do mais, ele poderá
assim combater e sanar os males e fraquezas que possam surgir entre os
funcionários; poderá evitar igualmente a acumulação desses tipos de infecções
no Partido e a necessidade de uma operação talvez catastrófica que se imporá em
seguida ao congresso.
48. Cada Comitê do Partido deve estabelecer em seu interior uma divisão
do trabalho eficaz, a fim de poder conduzir efetivamente o trabalho político
nos diferentes domínios. Em relação a isso, pode ser necessário instituir, para
alguns domínios, direções especiais (por exemplo, para a propaganda, para o
serviço do jornal, para a luta sindical, para a agitação nas campanhas, para a
agitação entre as mulheres, para a ligação, para a assistência revolucionária
etc.). As diferentes direções especiais estão submetidas ou à direção central,
ou ao Comitê Regional do Partido. O controle da atividade, assim como a boa
composição de todos os comitês subordinados, pertencem ao Comitê Regional do
Partido e, em último lugar, à direção central. Os membros empregados no
trabalho político do Partido, assim como os parlamentares, são diretamente
subordinados ao Comitê Diretor. Pode ser útil alterar de tempos em tempos as
ocupações e o trabalho dos camaradas funcionários do Partido (por exemplo, os
redatores, os propagandistas, os organizadores etc.) sem dificultar muito seu
funcionamento. Os redatores e os propagandistas devem participar, durante um
período prolongado, da ação política regular do Partido em um dos grupos
especiais de trabalho.
49. A direção central do Partido, assim como a da Internacional
Comunista, têm o direito de exigir a qualquer momento informações completas de
todas as organizações comunistas, de seus comitês e seus diferentes membros. Os
representantes e os delegados da direção central devem ser admitidos em todas
as reuniões e em todas as assembléias com voz consultiva e com direito de veto.
A direção central do Partido deve constantemente ter à sua disposição delegados
(comissários) a fim de poder instruir e informar as diferentes direções
regionais ou departamentais, não somente por circulares sobre a política e a
organização ou por correspondências, mas também oralmente, diretamente. Uma
comissão de revisão, composta por camaradas provados e instruídos, deve funcionar
próxima a cada direção regional: esta comissão deve exercer o controle sobre o
caixa e a contabilidade e fazer relatórios regulares ao comitê ampliado
(conselhos ou comissões).
Toda organização e todo órgão do Partido, assim como todo membro, tem o
direito de comunicar a qualquer momento e diretamente à direção central do
Partido ou a Internacional seus desejos, iniciativas, observações ou
reivindicações.
50. As diretrizes e as decisões dos órgãos dirigentes do Partido são
obrigatórias para as organizações subordinadas e para os diferentes membros.
A responsabilidade dos órgãos dirigentes e seu dever de se proteger
contra os atrasos e abusos de parte das organizações dirigentes só podem ser
determinados formalmente e em parte. Quanto menor sua responsabilidade formal,
por exemplo, nos Partidos ilegais, mais devem procurar conhecer a opinião dos
demais membros do Partido, procurar informações sólidas e regulares e só tomar
decisões após reflexão madura e séria.
51. Os membros do Partido devem, em sua ação pública, agir sempre como
membros disciplinados de uma organização combatente. Sempre que surgirem
divergências de opinião sobre a maneira mais correia de agir, deve-se decidir
sobre essas divergências, sempre que possível, antes da ação, no interior das
organizações do Partido e somente agir após ter tomado essa decisão. A fim de
que toda decisão do Partido seja aplicada com energia por todas as organizações
e todos os membros é preciso, sempre que possível, chamar as massas do Partido
para a discussão e decisão das diferentes questões. As organizações e as
instâncias do Partido têm o dever de decidir de que forma e em que medida tal
ou qual questão pode ser discutida pelos diferentes camaradas diante da opinião
pública do partido (na imprensa, nas brochuras). Mas, mesmo que esta decisão da
organização ou da direção esteja errada, segundo o ponto de vista de alguns
camaradas, estes não devem jamais esquecer em sua ação pública que a pior
infração disciplinar e a falta mais grave que se pode cometer durante a luta é
romper a unidade na luta comum ou enfraquecê-la.
É dever supremo de todo membro do Partido defender contra todos a
Internacional Comunista. Aquele que esquece isso e que, ao contrário, ataca
publicamente o Partido ou a Internacional Comunista deve ser tratado como um
adversário do Partido.
As decisões da Internacional Comunista devem ser aplicadas sem demora
pelos Partidos afiliados, mesmo no caso de alteração dos estatutos e decisões
do Partido, conforme os próprios estatutos.
VIII A Combinação de Trabalho Legal com Trabalho
Ilegal
52. As variações funcionais podem acontecer segundo as diferentes fases
da revolução na vida corrente de um Partido Comunista. Mas, no fundo, não há
diferença essencial na estrutura que devem se esforçar para obter um partido
legal e um partido ilegal.
O Partido deve se organizar de tal maneira que possa se adaptar
prontamente às modificações das condições da luta.
O Partido Comunista deve se transformar numa organização de combate
capaz, de uma parte, de evitar, em campo aberto, um inimigo com forças
superiores concentradas sobre um ponto e, de outra parte, de utilizar as
dificuldades deste inimigo para atacá-lo onde ele se encontra. Seria um grande
erro preparar-se exclusivamente para os levantes e os combates de rua ou para
os períodos de maior opressão. Os comunistas devem cumprir seu trabalho
revolucionário preparatório em todas as situações e estar sempre prontos para a
luta, pois é praticamente impossível prever a alternância dos períodos de ação
e de calmaria; é possível aproveitar esta previsão para reorganizar o Partido,
porque a mudança muito rápida de atitude provoca surpresa.
53. Os Partidos Comunistas legais dos países capitalistas em geral
ainda não compreenderam suficientemente como sua a tarefa de preparação para os
levantes revolucionários, para o combate pelas armas e, em geral, para a luta
ilegal. Frequentemente se constrói a organização do Partido tendo em mira uma
ação legal prolongada e segundo as exigências das tarefas legais cotidianas.
54. Nos Partidos ilegais, ao contrário, frequentemente não se
compreende que é necessário utilizar as possibilidades da ação legal e
construir o Partido de tal sorte que tenha uma ligação viva com as massas
revolucionárias. Os esforços do Partido têm a tendência de se transformar num
trabalho de Sísifo ou numa conspiração impotente.
Esses dois erros, tanto aquele do Partido ilegal como o do Partido
legal, são graves. Todo Partido Comunista legal deve saber se preparar, da
maneira mais enérgica, para a necessidade de uma existência clandestina e estar
particularmente armado para os levantes revolucionários. E, de outra parte,
cada Partido Comunista ilegal deve saber utilizar todas as possibilidades do
movimento operário legal para se transformar, por um trabalho político
intensivo, no organizador e verdadeiro guia das grandes massas revolucionárias.
A direção do trabalho legal e do trabalho ilegal deve estar constantemente nas
mãos da direção central do Partido.
55. Nos Partidos legais, assim como nos ilegais, o trabalho ilegal é
frequentemente conhecido como a fundação e a manutenção de uma organização
fechada, exclusivamente militar e isolada do resto da política e da organização
do Partido. Esta concepção é completamente equivocada. No período pré-revolucionário,
a formação da nossa organização de combate deve ser principalmente o resultado
do conjunto da ação comunista do Partido. O Partido em seu conjunto deve se
transformar numa organização de combate para a revolução.
As organizações revolucionárias isoladas de caráter militar, nascidas
prematuramente antes da revolução, mostram muito facilmente uma tendência à
dissolução e à desmoralização, pois falta no Partido um trabalho imediatamente
útil.
56. Para um Partido ilegal, é evidentemente da mais alta importância
evitar que seu membros e órgãos sejam descobertos; é preciso, portanto, evitar
que eles sejam fichados pelas imprudências na distribuição dos materiais e no
recolhimento das cotizações. Um Partido ilegal não deve se servir na mesma
medida que um Partido legal das formas abertas de organização para seus fins
conspirativos; ele deve, entretanto, se aplicar a poder fazê-lo cada vez mais.
Todas as medidas deverão ser tomadas para impedir os elementos
duvidosos e pouco seguros de penetrar no Partido. Os meios a serem empregados
com essa finalidade dependem do caráter do Partido, legal ou ilegal, perseguido
ou tolerado, em via de crescimento ou estagnado. Um meio que em algumas
circunstâncias pode ser eficaz é o sistema de candidatura. As pessoas que procuram
ser admitidas no Partido o são na qualidade de candidatos, mediante
apresentação de dois membros do Partido e segundo a forma como cumpra as
tarefas que lhes forem confiadas elas serão ou não admitidas.
A burguesia infiltrará inevitavelmente provocadores e agentes nas
organizações ilegais. É preciso levar contra eles uma luta constante e
minuciosa: um dos melhores métodos consiste em combinar a ação legal com a ação
ilegal. Um trabalho revolucionário legal de uma certa duração é o melhor meio
de perceber o grau de confiança que cada um merece, sua consciência, sua
coragem, energia, pontualidade; é possível saber assim quem pode ser
encarregado de um trabalho ilegal que corresponda ao máximo de sua capacidade.
Um Partido ilegal deve se preparar cada vez mais contra qualquer
surpresa (por exemplo, colocando em segurança os endereços dos contatos;
destruindo, em regra geral, as cartas; conservando em local abrigado os
documentos necessários; instruindo conspirativamente os agentes de ligação
etc.).
57. Nosso trabalho político geral deve ser repartido de maneira que
mesmo antes do levante revolucionário aberto se desenvolvam e se fortaleçam as
raízes de uma organização de combate que corresponda às exigências desta fase.
É particularmente importante que em sua ação a direção do Partido Comunista
tenha sempre em vista essas exigências, que tente, na medida do possível,
representá-las em primeiro lugar. Certamente não se pode fazer dela uma idéia
exata e clara, mas isso não é razão para negligenciar o ponto essencial da
direção da organização comunista.
Se uma mudança funcional sobrevier no Partido Comunista no momento do
levante revolucionário declarado, o Partido melhor organizado poderá se
encontrar diante de problemas extremamente difíceis e complicados. Pode
acontecer de se ver obrigado, num intervalo de alguns dias, a mobilizar o
Partido para uma luta armada; mobilizar não somente o Partido, mas também as
reservas, organizar os simpatizantes e toda a retaguarda, isto é, as massas
revolucionárias não organizadas. Talvez não seja a questão de formar um
exército vermelho regular. Nós devemos vencer sem exército previamente
construído, somente com as massas colocadas sob a direção do Partido. Porém, se
o nosso Partido não estiver preparado previamente por sua organização, a luta
mais heróica não servirá para nada.
58. Nas situações revolucionárias, observou-se várias vezes que as
direções centrais revolucionárias não se mostraram à altura de sua tarefa.
Organizado em nível inferior, o proletariado pôde mostrar qualidades magníficas
durante a revolução; mas, em seu Estado-maior, a desordem, o caos e a
impotência reinam na maior parte das vezes. Chega a faltar a mais elementar
divisão do trabalho, o serviço de informação é frequentemente péssimo e
apresenta mais inconvenientes que utilidade; o serviço de ligação não merece
nenhuma confiança. Quando há necessidade de correio secreto, transporte,
abrigos, gráfica clandestina, eles são obtidos por um acaso feliz. Toda
provocação por parte do inimigo organizado tem chance de dar certo.
Não será de outra forma se o Partido revolucionário não estiver
devidamente preparado. Assim, por exemplo, a vigilância e a descoberta da
polícia política exigem uma experiência especial; um aparelho para a ligação
secreta só poderá funcionar pronta e seguramente se existir um longo
treinamento. Em todos os domínios da atividade revolucionária especial,
qualquer Partido Comunista legal deve fazer preparações secretas, por mínimas
que sejam.
Em grande parte, neste domínio também, o aparelho necessário pode ser
desenvolvido por uma ação legal, se se cuidar, durante o funcionamento deste
aparelho, para que ele possa imediatamente se transformar em aparelho ilegal.
Assim, por exemplo, a organização encarregada da distribuição, perfeitamente
regulada, dos panfletos legais, publicações e cartas pode ser transformada em
aparelho secreto de ligação (serviço de correio secreto, alojamentos secretos,
transportes conspirativos etc.).
59. O organizador comunista deve enxergar adiante todo membro do
Partido e todo militante revolucionário em seu papel histórico futuro de
soldado de nossa organização de combate, durante a época da revolução. Assim
ele pode se aplicar, melhor e antecipadamente, no núcleo do qual faz parte, ao
trabalho correspondente a seu posto e a seu serviço futuros. Sua ação atual
deve, todavia, constituir um serviço útil em si e necessário à luta presente, e
não somente um exercício que o operário prático não compreenderá imediatamente;
mas esta atividade é em parte também um exercício, tendo em vista as exigências
mais essenciais da luta final de amanhã.
RESOLUÇÃO SOBRE A
ORGANIZAÇÃO DA INTERNACIONAL COMUNISTA
O Comitê Executivo da Internacional Comunista deve ser organizado de
tal maneira que possa tomar posição sobre todas as questões da ação do
proletariado. Ultrapassando os limites dos apelos gerais de forma que eles
estejam lançados desde agora sobre essa ou aquela questão em discussão, o
Comitê Executivo deve, cada vez mais, procurar encontrar os meios e as vias
para desenvolver sua iniciativa prática quanto à ação comum das diferentes
seções nas questões internacionais da organização e propaganda em discussão. A
Internacional Comunista deve se transformar numa Internacional de fato, numa
Internacional dirigente das lutas comuns e cotidianas do proletariado
revolucionário de todos os países. As condições indispensáveis para isso são as
seguintes:
1. Os Partidos que aderirem a Internacional Comunista devem fazer tudo
para manter o contato mais estreito e mais ativo com o Comitê Executivo; eles
não devem apenas enviar para o interior do Executivo os melhores representantes
de seus países, mas também fazer chegar ao Executivo de forma permanente as
informações mais prudentes e mais circunspectas, a fim de que ele possa tomar
posição, apoiando-se em documentos e informações aprofundadas sobre os
problemas políticos que venham a surgir. Para a elaboração frutífera desses
materiais, o Executivo deve organizar seções especiais para os diferentes
setores. Além do mais, deve ser criado um Instituto Internacional de Economia e
Estatística do movimento operário e do comunismo perto do Executivo.
2. Os Partidos que aderirem devem manter as relações mais estreitas
para sua informação mútua e sua ligação orgânica, em particular quando esses
Partidos são vizinhos e igualmente interessados nos conflitos políticos
engendrados pelos antagonismos capitalistas. O melhor meio de estabelecer essas
relações atualmente é o envio recíproco das resoluções das mais importantes
conferências e o intercâmbio geral de militantes bem escolhidos. Esse intercâmbio
deve se constituir em prática permanente e imediata de toda seção em condições
de agir.
3. O Executivo deve provocar a fusão necessária de todas as seções
nacionais num Partido internacional coerente, de propaganda e ação proletárias
comuns, e para isso publicar, na Europa Ocidental, nas línguas mais
importantes, uma correspondência política, com a ajuda da qual o ideal
comunista assumirá um valor cada vez mais claro e uniforme. O Executivo, por
unia informação fiel e regular, fornecerá às diferentes seções a base de uma
ação enérgica e simultânea.
4. O envio de representantes autorizados às seções permitirão ao Comitê
Executivo apoiar de fato a tendência a uma verdadeira Internacional da luta
cotidiana e comum do proletariado de todos os países. Esses representantes
terão como tarefa informar o Executivo das condições particulares nas quais os
Partidos Comunistas deverão lutar nos países capitalistas ou coloniais. Eles
deverão velar para que esses Partidos conservem o contato mais íntimo também com
o Executivo e entre si. O Executivo, assim como os Partidos, deverão velar para
que as relações mútuas entre os Partidos e os camaradas de confiança ou por
correspondência, sejam freqüentes e rápidas, de maneira a tomar uma posição
unânime em todas as questões de importância.
5. Para estar em condições de desdobrar uma atividade também
consideravelmente aumentada, o Executivo deve ser grande. mente ampliado. As
seções que nesse congresso obtiveram 40 votos, assim como o Comitê Executivo da
Internacional da Juventude Comunista, terão cada um dois votos no Executivo; as
seções que tiveram 30 e 20 votos no congresso terão um. O Partido Comunista da
Rússia dispõe, como antes, de cinco votos. Os representantes das outras seções
têm voto consultivo. O presidente do Executivo é eleito pelo Congresso. O
Executivo está encarregado de designar três secretários, que serão escolhidos
tão logo seja possível nas diferentes seções. Além disso, os membros delegados
ao Comitê Executivo pelas diferentes seções estão obrigados a tomar parte como
relatores na expedição do trabalho corrente, ou seja, encarregando-se do estudo
de tal ou qual tema. Os membros do Pequeno Bureau de negócios são eleitos por
um voto especial do Comitê Executivo.
6. A sede do Executivo é na Rússia, primeiro Estado proletário. O
Executivo, para centralizar mais solidamente a direção política e orgânica de
toda a Internacional, deverá, todavia, procurar estender o círculo de sua
influencia através de conferencias que organizará fora da Rússia.
RESOLUÇÃO SOBRE A AÇÃO DE
MARÇO E SOBRE O PARTIDO COMUNISTA UNIFICADO DA ALEMANHA
O 3º Congresso Mundial constata com satisfação que as resoluções mais
importantes, e particularmente a parte da resolução sobre tática referente à
ação de março, ardentemente discutida, foram adotadas por unanimidade e que
mesmo os representantes da oposição alemã, em sua resolução sobre a ação de
março, se colocaram de fato sobre um terreno idêntico àquele do Congresso.
O Congresso viu isso como uma prova de que um trabalho coerente e uma
colaboração íntima sobre a base das decisões do 3º Congresso são não apenas
desejadas, mas também possíveis no interior do Partido Comunista Unificado da
Alemanha. O Congresso estima que toda divisão das forças no seio do Partido
Comunista Unificado da Alemanha, toda formação de frações, sem falar de cisão,
constitui o maior perigo para o conjunto do movimento.
O Congresso espera da Direção Central e da maioria do Partido Comunista
Unificado da Alemanha uma atitude tolerante para com a antiga oposição,
apelando para que ela aplique lealmente as decisões tomadas pelo 3º Congresso;
este está persuadido de que a Direção Central fará todo o possível para reunir
todas as forças do Partido.
O Congresso pede à antiga oposição que dissolva imediatamente toda
organização de fração, subordine absoluta e completamente sua fração
parlamentar à Direção Central, subordine inteiramente a imprensa às
organizações respectivas do Partido, cesse imediatamente qualquer colaboração
(em revistas etc.) com Paul Levi, excluído do Partido e da Internacional
Comunista.
O Congresso encarrega o Executivo de seguir atentamente o
desenvolvimento ulterior do movimento alemão e tomar imediatamente as medidas
mais enérgicas no caso da menor infração à disciplina.
TESES SOBRE A TÁTICA DO
PARTIDO COMUNISTA NA RÚSSIA
1. a Situação Internacional da República Federativa
dos Sovietes Na Rússia
A situação internacional da RFSR está caracterizada atualmente por um
certo equilíbrio que, extremamente instável, criou entretanto uma conjuntura
original na política universal.
Esta originalidade consiste no que segue: de uma parte, a burguesia
internacional está tomada de uma ira e uma hostilidade furiosa em relação à
Rússia Soviética e está pronta para, a qualquer instante, se precipitar para
esmagá-la. De outra parte, todas as tentativas de intervenção armada, que
custaram a essa burguesia centenas de milhões de francos, terminaram em
completo fracasso, apesar do Poder dos Sovietes ser então mais fraco que hoje,
e de os grandes proprietários e os capitalistas russos colocarem exércitos
inteiros sobre o território da RFSR. A oposição contra a guerra com a Rússia
Soviética está extremamente fortificada em todos os países capitalistas,
nutrindo o movimento revolucionário do proletariado e envolvendo as massas mais
amplas da democracia pequeno-burguesa. A diversidade de interesses existente
entre os diferentes Estados imperialistas se exasperou e se exaspera a cada dia
de forma mais profunda. O movimento revolucionário, entre as centenas de milhões
de pessoas oprimidas do Oriente cresce com uma força notável. Em consequência
de todas essas condições, o imperialismo internacional não tem condições para
sufocar a Rússia Soviética apesar de ser mais forte que ela e está obrigado
reconhecê-la e a entrar em relações comerciais com ela.
O resultado foi um equilíbrio talvez extremamente oscilante,
extremamente instável, mas um equilíbrio que permite à República Socialista
existir, por um tempo curto evidentemente, em seu círculo capitalista.
2. As Relações das Forças Sociais no Mundo
Com a base neste estado de coisas, as relações entre as forças sociais
no mundo inteiro se estabelecem da seguinte maneira:
A burguesia internacional, privada de conduzir uma guerra declarada
contra a Rússia Soviética, fica na expectativa, espreitando o momento ou as
circunstâncias que lhe permitirão empreender esta guerra.
O proletariado dos países capitalistas avançados, em todos os lugares,
tem adiante de si uma vanguarda composta pelos Partidos Comunistas que cresce,
marchando sem descanso para a conquista da maioria do proletariado em cada
país, arruinando a influência dos antigos burocratas trade-unionistas e os
privilegiados da classe operária americana e ocidental, corrompidos pelos
privilégios imperialistas.
A democracia pequeno-burguesa dos países capitalistas, representada em
sua parte avançada pelas Internacionais dois e dois e meio: é atualmente o
sustentáculo principal do capitalismo, na medida em que sua influência se
estende ainda sobre a maioria ou sobre uma parte considerável dos operários e
empregados da indústria e do comércio, que acreditam, no caso de uma revolução,
que perderão seu bem-estar relativo, resultante dos privilégios do
imperialismo. Mas a crise econômica crescente piora em todos os lugares a
situação das massas, e esta circunstância, acrescida à fatalidade cada vez mais
evidente de novas guerras imperialistas, se o capitalismo subsistir, torna este
pilar cada vez mais vacilante.
As massas laboriosas dos países coloniais e semicoloniais, massas que
compõem a enorme maioria da população do globo, foram levadas à vida política
no início do século XX, graças às revoluções da Rússia, Turquia, Pérsia e
China. A guerra imperialista de 1914-1918 e o Poder dos Sovietes na Rússia
transformam definitivamente essas massas em um fator ativo da política
universal e da destruição revolucionária do imperialismo, ainda que se obstinem
em não vê-lo os pequenos-burgueses esclarecidos da Europa e da América, entre
eles os líderes das Internacionais dois e dois e meio. A Índia britânica está à
frente desses países, e a revolução cresce tanto mais rapidamente quanto uma
parte do proletariado industrial e ferroviário se torna mais considerável e
outra parte se torna mais selvagem pelo terror exercido pelos ingleses, que
recorrem cada vez mais às mortes em massa (Amristar*), às flagelações públicas etc...
*Refere-se à matança de índios da cidade Amristar, em
13 de abril de 1919, quando tropas inglesas dispararam contra as massas
inermes. O balanço foi de 400 mortos e 1200 feridos. Atos semelhantes tiveram
lugar também em outras cidades da Índia.
3. As Relações de Forças Sociais na Rússia
A situação política interior da Rússia Soviética está determinada pelo
fato de que nesse país nós vemos, pela primeira vez ao longo da história
universal, a existência, durante vários anos, de duas classes apenas: o
proletariado educado durante várias dezenas de anos por uma indústria mecânica
muito jovem, mas nem por isso moderna e grande, e a classe dos pequenos
camponeses, compondo a enorme maioria da população.
Os grandes proprietários rurais e os grandes capitalistas não
desapareceram na Rússia. Mas eles foram submetidos a uma completa expropriação,
completamente derrotados politicamente enquanto classe, e seus destroços se
escondem entre os empregados governamentais do poder dos Sovietes. Sua
organização de classes conservou-se apenas no estrangeiro, sob a forma de uma
emigração que varia provavelmente de um milhão e meio a dois milhões de pessoas
e que possui mais de meia centena de jornais cotidianos em todos os partidos
burgueses e "socialistas" (isto é, pequeno-burgueses), assim como os
restos de um exército de múltiplas ligações com a burguesia internacional. Essa
emigração trabalha com todas as suas forças e com todos os meios para arruinar
o Poder dos Sovietes e restaurar o capitalismo na Rússia.
4. O Proletariado e a Classe Camponesa na Rússia
Dada esta situação interior, o proletariado russo, enquanto classe
dominante, deve se propor principalmente agora a determinar judiciosamente e
realizar as medidas indispensáveis para dirigir o campesinato, para manter uma
aliança firme com ele, para percorrer as numerosas etapas sucessivas
conducentes à coletivização total da agricultura. Esta tarefa na Rússia é
particularmente difícil, tanto em virtude do caráter atrasado de nosso país,
como por sua desolação extrema após sete anos de guerra imperialista e civil.
Mas, apesar desta particularidade, esta tarefa é um dos problemas mais difíceis
da organização socialista; tais problemas se colocarão em todos os países
capitalistas, com a única exceção talvez da Inglaterra. Entretanto, mesmo no
que concerne à Inglaterra, é impossível esquecer que, se a classe dos pequenos
agricultores arrendatários é excepcionalmente pouco numerosa, em contrapartida
encontra-se aí uma proporção excepcionalmente elevada de operários e empregados
levando uma existência pequeno-burguesa, graças à escravidão de fato de
centenas de milhões de habitantes das colônias "pertencentes" à
Inglaterra.
Por isso, do ponto de vista da evolução da revolução proletária
universal, enquanto processo de conjunto, a importância do período atravessado
pela Rússia consiste em que ele permite provar e verificar pela prática a
política de um proletariado que tem nas mão o poder governamental em relação a
uma massa pequeno-burguesa.
5. A Aliança Militar entre o Proletariado e o
Campesinato na Rússia
Os fundamentos das relações recíprocas racionais entre o proletariado e
a classe camponesa foram estabelecidos na Rússia Soviética entre 1917-1921,
ainda que a invasão dos capitalistas e dos grandes proprietários, sustentados
por toda a burguesia mundial e pelos partidos da democracia pequeno-burguesa
(socialistas-revolucionários e mencheviques), engendrou, fixou e precisou a aliança
militar do proletariado e da classe camponesa para a defesa do Poder dos
Sovietes. A guerra civil é a forma mais aguda da luta de classes, e quanto mais
essa luta cresce, mais rapidamente e mais claramente a prática mostra às
camadas, mesmo as mais atrasadas, da classe camponesa que esta classe só pode
ser salva pela ditadura do proletariado, ainda que os
socialistas-revolucionários e os mencheviques joguem o papel de valetes dos
grandes proprietários e dos capitalistas.
Mas se a aliança militar do proletariado e do campesinato foi - e não
poderia ser de outra forma - a primeira forma de sua aliança sólida, isto não
impede que ela se mantenha algumas semanas como uma certa aliança econômica
dessas duas classes. O camponês recebeu do Estado operário toda a terra e a
proteção contra o grande proprietário e o explorador camponês; os operários
receberam dos camponeses produtos alimentícios e crédito, esperando o
restabelecimento da grande indústria.
6. Como Restabelecer as Relações Econômicas Racionais
entre o Proletariado e o Campesinato
Uma aliança inteiramente racional e estável do ponto de vista
socialista entre os pequenos camponeses e o proletariado só pode se estabelecer
no dia em que os transportes e a grande indústria, completamente restabelecidos,
permitirão ao proletariado dar aos camponeses, em troca dos produtos
alimentícios, todos os objetos que eles necessitam para seu uso e para a
melhoria das condições de exploração da terra. Dada a desolação imensa do país,
foi absolutamente impossível esperar por isso. As requisições constituíram a
medida governamental mais acessível a um Estado insuficientemente organizado
para lhe permitir se manter numa guerra absolutamente difícil contra os grandes
proprietários. A má colheita de 1920 piorou a miséria já por demais pesada dos
camponeses, tornando absolutamente necessária uma mudança imediata de
orientação no sentido do imposto alimentar.
Este imposto moderado deu imediato alívio à situação dos camponeses e,
ao mesmo tempo, o interesse em estender a área cultivada e melhorar seus
processos de cultivo.
O imposto alimentar constitui uma etapa intermediária entre a
requisição de todos os excedentes de cereais do camponês e a troca racional dos
produtos entre a indústria e a agricultura que prevê o socialismo.
7. A Natureza e as Condições de Admissão pelo Poder
dos Sovietes, do Capitalismo e as Concessões
O imposto alimentar, por sua própria essência, equivaleu para o
camponês à liberdade de dispor dos excedentes com o pagamento do imposto. Na
medida em que o Estado não for mais capaz de oferecer aos camponeses os
produtos da indústria socialista em troca do total de seus excedentes, na mesma
medida a liberdade de comércio que daí resulta equivalerá, inevitavelmente, a
uma liberdade de desenvolvimento para o capitalismo.
Entretanto, nos limites indicados, a coisa não é de modo algum temível
para o socialismo, contanto que os transportes e a grande indústria fiquem mas
mãos do proletariado. Ao contrário, o desenvolvimento do capitalismo sob o
controle e a regulamentação do Estado proletário (isto é, o desenvolvimento do
capitalismo "de Estado", no sentido da palavra) é vantajoso e
indispensável num país pequeno camponês extremamente arruinado e atrasado
(naturalmente até um certo ponto apenas), para que isso resulte numa aceleração
imediata do progresso da cultura camponesa.Isso se refere mais ainda às
concessões. Sem operar nenhuma desnacionalização, o Estado operário entrega
para arrendamento algumas minas, alguns setores florestais, explorações
petrolíferas etc... a capitalistas estrangeiros, a fim de receber deles um
suplemento de utensílios e máquinas que lhe permita aumentar a recuperação da
grande indústria soviética.
A indenização acordada com os concessionários sob a forma de uma
percentagem levantada em parte sobre os produtos de alto custo é, sem qualquer
dúvida, um tributo pago pelo Estado operário à burguesia internacional. Sem
dissimular de forma alguma es se fato, nós devemos compreender nitidamente que
é vantajoso para nós esse tributo, se por ele obtivermos mais rapidamente a
recuperação da nossa grande indústria e a melhora séria da sorte dos operários
e camponeses
8. Os Sucessos de Nossa Política Alimentar
A política alimentar da Rússia Soviética no período de 1917 a 1921 foi
sem dúvida muito grosseira, imperfeita, e deu lugar a muitos abusos. Numerosos
erros foram cometidos ao colocá-la em prática, mas ela era a única possível nas
condições dadas, se considerarmos o conjunto da situação. E ela cumpriu sua
missão histórica: salvou a ditadura proletária num país arruinado e atrasado. É
um fato inegável que ela vem sendo aperfeiçoada progressivamente. No primeiro
ano em que nosso poder foi completo (1º de agosto de 1918 a 1º' de agosto de
1919), o Estado colheu 110 milhões de libras de cereais. No segundo ano - 220
milhões, no terceiro ano - mais de 285.
Munidos hoje de uma experiência prática, nós nos propusemos colher, e
esperamos consegui-lo, 400 milhões de libras (o imposto alimentar foi fixado em
240 milhões. Somente com a condição de ser efetivamente o detentor de uma
reserva alimentar suficiente, o Estado estará em condições, do ponto de vista
econômico, de garantir uma recuperação, lenta mas regular, da grande indústria,
e constituir um sistema financeiro racional.
9. A Base Material do Socialismo e o Plano de
Eletrificação da Rússia
A única base material que pode ter o socialismo é a grande indústria
mecânica, capaz de reorganizar a agricultura. Mas não poderemos nos limitar a
esta proposição geral. É preciso concretizá-la. A grande indústria,
correspondendo ao nível da técnica moderna e capaz de reorganizar a
agricultura, depende da eletrificação de todo o país. Nós temos o dever de
executar os trabalhos científicos preparatórios desse plano de eletrificação
para a República Federativa dos Sovietes da Rússia, e nós os temos executado.
Com a colaboração de mais de 200 dos melhores especialistas engenheiros e
agrônomos da Rússia, esse trabalho está terminado, impresso num grosso volume e
aprovado em seu conjunto pelo 8º Congresso Pan-Russo dos Sovietes, em dezembro
de 1920. Hoje estamos prontos para a convocação de um Congresso Pan-Russo de
eletrotécnicos, que se reunirá no mês de agosto de 1920 e examinará
detalhadamente esse trabalho, o qual receberá então a sanção definitiva do
Estado. Os trabalhos de eletrificação considerados prioritários se estenderão
por dez anos e exigirão 370 milhões de jornadas de trabalho aproximadamente.
Em 1918, nós tínhamos apenas oito estações elétricas recentemente
construídas com 4557 quilowatts. Em 1919, essa cifra se elevou a 36, com 6148
quilowatts, e em 1920 a cem com 8699 quilowatts.
Por modesto que seja esse início para nosso imenso país, os
fundamentos, entretanto, estão colocados, o trabalho começou e avança cada vez
mais. O camponês russo, após a guerra imperialista, após um milhão de
prisioneiros que se familiarizaram na Alemanha com a técnica moderna e
aperfeiçoada, após a dura, mas aproveitável experiência de três anos de guerra
civil, já não é mais como era antes. A cada mês ele vê com mais clareza e
evidência que só a direção do proletariado é capaz de libertar a massa de
pequenos agricultores da escravidão do capital para conduzi-la ao Socialismo.
10. O Papel da “Democracia Pura” das Internacionais 2
e 2 ½, dos Socialistas Revolucionários e dos Mencheviques enquanto Aliados do
Capital
A ditadura do proletariado não significa a cessação da luta de classes,
mas sua continuação sob nova forma, com armas novas. Enquanto subsistirem as
classes, enquanto a burguesia, derrotada num país, desfecha seus ataques contra
o socialismo no mundo inteiro, esta ditadura é indispensável. A classe dos
pequenos proprietários não pode deixar de passar por uma série de oscilações
durante o período de transição. As dificuldades da situação transitória, a
influência da burguesia, suscitam, inevitavelmente, flutuações na mentalidade
dessa massa. É ao proletariado, enfraquecido e até certo ponto deslocado pela
desorganização de sua base vital, a indústria mecânica, que cabe a tarefa,
muito difícil e a maior de todas, de resistir a despeito dessas flutuações e
levar a bom termo sua obra de libertar o trabalho do jugo do capital.
As flutuações da pequena burguesia encontram sua expressão na política
dos Partidos da democracia pequeno-burguesa, isto é, nos Partidos das
Internacionais dois e dois e meio, representadas na Rússia pelos
"socialistas revolucionários" e os mencheviques. Esses Partidos, que
têm hoje seus Estados-maiores e seus jornais no estrangeiro, fazem bloco com a
contra-revolução burguesa e são seus fiéis servidores.
Os chefes inteligentes da grande burguesia russa, Miliukov à frente, o
líder do partido cadete ("Constitucional-Democrata"), apreciaram com
uma clareza, exatidão e isenção completas o papel desempenhado pela democracia
pequeno-burguesa, vale dizer, os socialistas revolucionários e os mencheviques.
A propósito do motim de Kronstadt, que manifestou a união das forças dos
mencheviques, dos socialistas-revolucionários e dos guardas-brancos, Miliukov
se pronunciou a favor da divisa: "os Sovietes são os Bolcheviques".
Desenvolvendo esse pensamento, ele escreveu: "Honra e praça livre aos S-R
e aos mencheviques (Pravda, 1921, número... de Paris), pois a eles cabe a
tarefa de fazer o primeiro deslocamento do poder descartando-se dos
bolcheviques". Miliukov, chefe da grande burguesia, leva judiciosamente em
conta as lições fornecidas por todas as revoluções, que mostraram que a
democracia pequeno-burguesa é incapaz de manter o poder, pois ela jamais deixou
de ser uma máscara para a ditadura da grande burguesia e apenas um degrau
conducente à autocracia da grande burguesia.
A revolução proletária da Rússia confirma uma vez mais esta lição das
revoluções de 1789-1794 e de 1848-49, e confirma também as palavras de F.
Engels, escrevendo a Bebel: "...A democracia pura... no momento da
revolução adquire por um tempo limitado uma importância temporária... como
último suspiro de saúde para todo o sistema econômico burguês e mesmo feudal...
Em 1848, de março a setembro, toda a massa feudal e burocrática jamais parou de
sustentar os liberais para manter a obediência das massas revolucionárias. Em
todos os casos, durante a crise e no dia seguinte à crise, nosso único
adversário será toda a massa reacionária, agrupada em torno da democracia pura,
e esta verdade, segundo meu ponto de vista, não deve em nenhum caso ser perdida
de vista" (publicado em russo no jornal O Trabalho Comunista, Nº 360 de 9
de junho de 1921, no artigo de Adoratski intitulado: Marx e Engels sobre a
democracia e em alemão no livro: Friedrich Engels, Testamento Político, Berlim,
1920. Biblioteca Internacional da Juventude n0 12, páginas 18-19.
RESOLUÇÃO SOBRE A TÁTICA
DO PARTIDO COMUNISTA DA RÚSSIA
O Terceiro Congresso Mundial da Internacional Comunista, depois de ter
ouvido o discurso do camarada Lênin sobre a tática do Partido Comunista da
Rússia e depois de ter tomado conhecimento das teses que a ele estão anexadas,
declara:
O Terceiro Congresso Mundial da Internacional Comunista admira o
proletariado russo, que lutou durante quatro anos pela conquista do poder
político. O Congresso aprova por unanimidade a política do Partido Comunista da
Rússia que, desde o início, reconheceu em todas as situações o perigo que o
ameaçava, que permaneceu fiel aos princípios do marxismo revolucionário, que
soube sempre encontrar meios de aplicá-los, que hoje ainda, após o fim da
guerra civil, concentra sempre, por sua política para a classe camponesa, na
questão das concessões e a reconstrução da indústria, todas as forças do
proletariado, dirigido pelo Partido Comunista da Rússia, com o objetivo de
manter a ditadura do proletariado na Rússia até o momento em que o proletariado
da Europa Ocidental vier em sua ajuda.
Exprime sua convicção de que é apenas graças a essa política consciente
e lógica do Partido Comunista da Rússia que a Rússia Soviética é a primeira e a
mais importante cidadela da revolução mundial; o Congresso reprova a política
de traição dos partidos mencheviques, que encabeçaram, graças à sua oposição
contra a Rússia Soviética e à política do Partido Comunista da Rússia, a luta
da reação capitalista contra a Rússia, e que traiam de retardar a revolução
social no mundo inteiro
O Congresso Mundial convoca o proletariado de todos os países a se
perfilarem ao lado dos operários e camponeses russos para realizar a Revolução
de Outubro no mundo inteiro.
Viva a luta pela ditadura do proletariado! Viva a Revolução Socialista
mundial!
A INTERNACIONAL COMUNISTA
E A INTERNACIONAL SINDICAL VERMELHA
(A Luta Contra a Internacional Amarela de Amsterdã)
A burguesia mantém a classe operária na escravidão não só
pela força bruta, mas também por suas mentiras refinadas. A escola, a igreja, o
parlamento, as artes, a literatura, a imprensa cotidiana, são poderosos
instrumentos dos quais se serve a burguesia para embrutecer as massa operárias
e fazer penetrarem as idéias burguesas entre o proletariado.
Entre essas idéias burguesas que a classe dominante
conseguiu insinuar entre as massas trabalhadoras, se encontra a idéia da
neutralidade dos Sindicatos, de seu caráter apolítico, estranho a todo partido.
Desde as últimas décadas da história contemporânea e, em
particular, desde o fim da guerra imperialista, em toda a Europa e na América,
os sindicatos são as organizações mais numerosas do proletariado: em certos
países eles envolvem toda a classe operária sem exceção. A burguesia compreende
perfeitamente que o destino do regime capitalista depende hoje da atitude
desses sindicatos com relação à influência burguesa universal e seus criados
social-democratas para manter, custe o que custar, os sindicatos cativos das
idéias burguesas.
A burguesia não pode convidar abertamente os sindicatos
operários para sustentarem os partidos burgueses. Eis porque ela os convida a
não sustentar nenhum partido, inclusive o partido do comunismo revolucionário.
A divisa da "neutralidade" ou do
"apoliticismo" dos sindicatos já tem atrás de si um longo passado. Ao
longo de uma dezena de anos esta idéia burguesa foi inculcada nos sindicatos da
Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos e outros países, tanto pelos líderes dos
sindicatos burgueses à la Hirsch-Dunker, quanto pelos dirigentes dos sindicatos
clericais e cristãos, como pelos dirigentes dos sindicatos pretensamente livres
da Alemanha, como pelos líderes das velhas e pacificas trade-unions inglesas, e
muitos outros partidários do sindicalismo. Leghien, Gompers, Jouhaux, Sidney
Webb, durante dezenas de anos, pregaram a neutralidade dos sindicatos.
Na realidade, os sindicatos jamais foram neutros, jamais
puderam sê-lo e nunca o serão. A neutralidade dos sindicatos só pode ser nociva
à classe operária, mas ela é irrealizável. No dualismo entre o trabalho e o
capital, nenhuma grande organização pode ficar neutra. Em consequência, os
sindicatos não podem ser neutros entre os partidos burgueses e o Partido do
proletariado. Os partidos burgueses percebem isso claramente. Mas assim como a
burguesia tem necessidade que as massas acreditem na vida eterna, tem também
necessidade que se creia, igualmente, que os sindicatos podem ser apolíticos e
podem conservar a neutralidade em relação ao Partido Comunista operário. Para
que a burguesia possa continuar a dominar e a pressionar os operários para
tirar deles a mais-valia, ela não tem necessidade apenas do padre, do policial,
do general, ela precisa também da burocracia sindical, do "líder
operário" que prega nos sindicatos operários a neutralidade e a
indiferença à luta política.
Mesmo antes da guerra imperialista, a falsidade dessa idéia
de neutralidade se tornava cada vez mais evidente para os proletários
conscientes da Europa e da América. Na medida em que os antagonismos sociais se
exasperam, a mentira se torna mais gritante. Quando começou a carnificina
imperialista, os antigos chefes sindicais foram obrigados a tirar a máscara da
neutralidade e caminhar ao lado da "sua" burguesia.
Durante a guerra imperialista, todos os social-democratas e
sindicalistas, que tinham passado anos a pregar a indiferença política,
colocaram esses sindicatos a serviço da mais sangrenta e mais vil política dos
partidos burgueses. Eles, ontem campeões da neutralidade, são vistos agora como
os agentes declarados de tal partido político, salvo apenas o partido da classe
operária.
Depois do fim da guerra imperialista, esses mesmos chefes
social-democratas e sindicalistas tentam novamente impor aos sindicatos a
máscara da neutralidade e do apoliticismo. Passado o perigo militar, esses
agentes da burguesia se adaptam às circunstâncias novas e tentam ainda desviar
os operários da via revolucionária, colocando-os numa via mais vantajosa para a
burguesia.
O econômico e o político estão sempre indissoluvelmente
ligados. Esse laço é particularmente indissolúvel em épocas como a que
atravessamos. Não existe uma única questão da vida política que não deva
interessar ao partido e ao sindicato operário. Inversamente, não há uma questão
econômica importante que possa interessar ao sindicato sem interessar ao
partido operário.
Quando, na França, o governo imperialista decreta a
mobilização de algumas classes para ocupar a bacia do Ruhr e para oprimir a
Alemanha, um sindicato francês realmente proletário pode dizer que essa é uma
questão estritamente política, que não deve interessar aos sindicatos? Um
sindicato francês verdadeiramente revolucionário pode se declarar
"neutro" ou "apolítico" nessa questão?
Ou então, inversamente, quando na Inglaterra, se produz um
movimento puramente econômico como a última greve dos mineiros, o Partido
Comunista tem o direito de dizer que esta questão não lhe diz respeito e que
interessa unicamente aos sindicatos? Quando a luta contra miséria e a pobreza é
engrossada por milhões de desempregados, quando se é obrigado a colocar
politicamente a questão da requisição dos alojamentos burgueses para aliviar as
necessidades do proletariado, quando as massas cada vez mais numerosas de
operários são obrigadas, pela própria vida, a colocar na ordem do dia o
armamento do proletariado, quando num ou noutro país os operários organizam a
ocupação de fábricas e usinas, - dizer que os sindicatos não devem se envolver
na luta política, ou devem se manter "neutros" entre todos os
partidos, é na realidade servir à burguesia.
Apesar de toda a diversidade de suas denominações, os
partidos políticos da Europa e da América podem ser divididos em três grandes
grupos: 1) partidos da burguesia; 2) partidos da pequena burguesia; 3) partido
do proletariado (os comunistas). Os sindicatos que se proclamam
"apolíticos" e "neutros" não fazem senão ajudar os partidos
da pequena burguesia e da burguesia.
II
A associação sindical de Amsterdã é uma organização onde se
encontram e se dão as mãos as Internacionais dois e dois e meio. Esta
organização é considerada com esperança e solicitude por toda a burguesia
mundial. A grande idéia da Internacional Sindical de Amsterdã é no momento a
neutralidade dos sindicatos. Não é por acaso que essa divisa serve à burguesia
e seus criados social-democratas ou sindicalistas de direita como meio para
tentar reunir novamente as massas operárias do Ocidente e da América. Enquanto
a Segunda Internacional, passando abertamente para o lado da burguesia,
praticamente falida, a Internacional de Amsterdã, tentando novamente defender a
idéia da neutralidade, tem ainda algum sucesso.
Sob a bandeira da "neutralidade", a Internacional
Sindical de Amsterdã assume os encargos mais difíceis e mais sujos da
burguesia: estrangular a greve dos mineiros na Inglaterra (como aceitou fazê-lo
I.H. Thomas que é ao mesmo tempo o presidente da 2ª. Internacional e um dos
líderes em maior evidência da Internacional Sindical Amarela de Amsterdã),
rebaixar os salários, organizar a pilhagem sistemática dos operários alemães
para os pecados de Guilherme e da burguesia imperialista alemã. Leipart e
Grassmann, Wisscl e Bauer, Robert Schmidt e J.H. Thomas, Alberí Thomas e
Jouhaux, Daszynski e Zulavski - repartem seus papéis: uns, antigos chefes
sindicais, participam hoje dos governos burgueses na qualidade de ministros, de
comissários governamentais ou de funcionários, enquanto os outros, inteiramente
solidários com os primeiros, ficam à lesta da Internacional Sindical de
Amsterdã para pregar aos operários a neutralidade política.
A Internacional Sindical de Amsterdã é atualmente o
principal apoio do capital mundial. É impossível combater vitoriosamente esta
fortaleza do capitalismo sem compreender antes a necessidade de combater a
idéia mentirosa do apoliticismo e da neutralidade dos sindicatos. A fim de ter
uma arma conveniente para combater a Internacional Amarela de Amsterdã, é
preciso, antes de tudo, estabelecer relações claras e precisas entre o partido
e os sindicatos em cada país.
III
O Partido Comunista é a vanguarda do proletariado, a
vanguarda que reconheceu perfeitamente as vias e os meios para libertar o
proletariado do jugo capitalista e que, por esta razão, aceitou conscientemente
o programa comunista.
Os sindicatos são uma organização mais massiva do
proletariado, que tendem cada vez mais a abranger sem exceção todos os
operários de cada setor da indústria e a fazer entrar para sua fileiras não
somente os comunistas conscientes, mas também as categorias intermediárias e
mesmo setores atrasados dos trabalhadores que, aos poucos, apreendem pela
experiência da vida o comunismo.
O papel dos sindicatos, no período que precede o combate do
proletariado para a tomada do poder, no período desse combate e, depois, após a
conquista do poder, difere quanto às relações, mas sempre, antes, durante e
depois, os sindicatos permanecem como uma organização mais vasta, mais massiva,
mais geral que o partido, em relação a esse último eles desempenham, até um
certo ponto, o papel da circunferência em relação ao centro.
Antes da conquista do poder, os sindicatos verdadeiramente
proletários organizam os operários, principalmente sobre o terreno econômico,
para a conquista de melhorias possíveis, para o completo desmoronamento do
capitalismo, mas colocam no primeiro plano de sua atividade a organização da
luta das massas proletárias contra o capitalismo, tendo em vista a revolução
proletária.
Durante a revolução proletária, os sindicatos
verdadeiramente revolucionários, de mãos dadas com o partido, organizam as
massas para tomar de assalto as fortalezas do capital e se encarregam do primeiro
trabalho de organização da produção socialista.
Após a conquista e a afirmação do poder proletário, a ação
dos sindicatos se transporta sobretudo para o domínio da organização econômica
e eles consagram quase todas as suas forças à construção do edifício econômico
sobre bases socialistas, tornando possível assim uma verdadeira escola prática
do comunismo.
Durante esses três estágios da luta do proletariado, os
sindicatos devem sustentar sua vanguarda, o Partido Comunista, que dirige a
luta proletária em todas as suas etapas. Para isso, os comunistas e os
elementos simpatizantes devem constituir no interior dos sindicatos grupos
comunistas inteiramente subordinados ao Partido Comunista em seu conjunto.
A tática que consiste em formar grupos comunistas em cada
sindicato, formulada pelo 2º Congresso Universal da Internacional Comunista,
foi executada inteiramente durante o ano passado e deu resultados consideráveis
na Alemanha, na Inglaterra, na França, na Itália e em vários outros países. Se,
por exemplo, grupos importantes de operários, pouco experientes e
insuficientemente provados na política, saem dos sindicatos social-democratas
livres da Alemanha, porque perderam toda esperança de obter uma vantagem
imediata com sua participação nesses sindicatos livres, isso não deve, em
nenhuma hipótese, mudar a atitude de princípio da Internacional Comunista em
relação à participação comunista no movimento profissional. O dever dos
comunistas é explicar a todos os proletários que a saída não é abandonar os
velhos sindicatos para criar novos ou se dispersarem numa poeira de homens
desorganizados, mas revolucionar os sindicatos, expulsar deles o espírito
reformista e a traição dos líderes oportunistas, para fazer deles uma arma
ativa do proletariado revolucionário.
IV
Durante o próximo período, a tarefa capital de todos os
comunistas é trabalhar com energia, perseverança, obstinação, para conquistar a
maioria dos sindicatos; os comunistas não devem em nenhum caso se deixar
desencorajar pelas tendências reacionárias que se manifestam nesse momento no
movimento sindical, mas se aplicar na participação mais ativa em todos os
combates, na conquista dos sindicatos para o comunismo, apesar de todos os
obstáculos e todas as oposições.
A melhor medida da força de um Partido Comunista é a
influência real que ela exerce sobre as massas operárias dos sindicatos. O
partido deve saber exercer a influência mais decisiva sobre os sindicatos sem
submetê-los à menor tutela. O partido tem células comunistas em tais ou quais
sindicatos, mas o sindicato enquanto tal não está submetido ao partido. Apenas
por um trabalho contínuo, firme e devotado dos núcleos comunistas no seio dos
sindicatos é que o Partido pode chegar a criar um estado de coisas tal que os
sindicatos seguirão voluntariamente, com prazer, os conselhos do partido.
Um excelente processo de fermentação se observa nesse
momento nos sindicatos franceses. Os operários se recuperam enfim da crise do
movimento operário e aprendem hoje a condenar a traição dos socialistas e dos sindicalistas
reformistas.
Os sindicalistas revolucionários estão ainda imbuídos, em
certa medida, de preconceitos contra a ação política e contra a idéia do
partido político proletário. Eles professam a neutralidade política tal como
ela foi expressa em 1906 na " Carta de Amiens". A posição confusa e
falsa desses elementos sindicalistas-revolucionários implica maior perigo para
o movimento. Se conquistar a maioria, esta tendência não saberá o que fazer, e
ficará impotente diante dos agentes do capital, dos Jouhaux e dos Dumoulin.
Os sindicalistas-revolucionários franceses não terão linha
de conduta firme enquanto o Partido Comunista não a tiver. O Partido Comunista
Francês deve se aplicar em estabelecer uma colaboração amigável com os melhores
elementos do sindicalismo-revolucionário. Ele deve contar em primeiro lugar com
seus próprios militantes, deve formar núcleos em todos os lugares onde haja
três comunistas. O partido deve empreender uma campanha contra a neutralidade.
Da maneira mais amigável, mas também mais resoluta, o partido deve sublinhar os
defeitos da atitude do sindicalismo-revolucionário. Apenas dessa maneira
pode-se revolucionar o movimento sindical na França e estabelecer sua
colaboração estreita com o partido.
Na Itália temos uma situação semelhante: a massa dos
operários sindicalizados está animada de um espírito revolucionário, mas a
direção da Confederação do Trabalho está nas mãos de reformistas e centristas
declarados, que estão alinhados com Amsterdã. A primeira tarefa dos comunistas
italianos é organizar uma ação cotidiana animada e perseverante no seio dos
sindicatos e se aplicar sistemática e pacientemente a desvelar o caráter
equivocado e vacilante dos dirigentes, a fim de tirar-lhes os sindicatos.
As tarefas que cabem aos comunistas italianos com relação
aos elementos revolucionários sindicalistas da Itália são, em geral, as mesmas
dos comunistas franceses.
Na Espanha, temos um movimento sindical poderoso,
revolucionário e também consciente de seus objetivos e temos um Partido
Comunista ainda jovem e relativamente frágil. Dada esta situação, o partido
deve tentar se fortalecer nos sindicatos, o partido deve ajudá-los com seus
conselhos e sua ação, deve esclarecer o movimento sindical e ligar-se a ele através
de laços amigáveis, tendo em vista a organização comum de todos os combates.
Acontecimentos da maior importância se desenvolvem no
movimento sindical inglês que se revolucionariza muito rapidamente. O movimento
de massas se desenvolve. Os antigos chefes dos sindicatos perdem rapidamente
suas posições. O partido deve fazer os maiores esforços para se afirmar nos
grandes sindicatos, como a Federação dos Mineiros etc. Todo membro do partido
deve militar em algum sindicato e deve, através de um trabalho orgânico,
perseverante e ativo, orientá-lo em direção ao comunismo. Nada deve ser
negligenciado para estabelecer a ligação mais estreita com as massas.
Nos Estados Unidos, observamos o mesmo desenvolvimento, mas
um pouco mais lento. Em nenhum caso os comunistas devem se limitar a deixar a
Federação do Trabalho, organismo reacionário: eles devem, ao contrário, colocar
mãos à obra para penetrar nos antigos sindicatos e revolucioná-los. É
importante colaborar com os melhores elementos dos IWW, mas esta colaboração
não exclui a luta contra seus preconceitos.
Um poderoso movimento sindical se desenvolve espontaneamente
no Japão, mas ele se ressente da falta de uma direção clara. A tarefa principal
dos elementos comunistas do Japão é sustentar esse movimento e exercer sobre
ele uma influência marxista.
Na Tchecoslováquia, nosso partido tem a maioria da classe
operária, enquanto o movimento sindical permanece ainda, em grande parte, nas
mãos dos social-patriotas e dos centristas e, de outra parte, está cindido por
nacionalidades. Esse é o resultado da falta de organização e de clareza por
parte dos sindicalizados, ainda que animados do espírito revolucionário. O
partido deve fazer tudo para pôr um fim a essa situação e conquistar o
movimento sindical para o comunismo. Para atingir esse objetivo, é
absolutamente indispensável criar núcleos comunistas, assim como um órgão
sindical comunista central para todos os países. É necessário, para isso,
trabalhar energicamente e fundir num todo único as diferentes uniões cindidas
pelas nações.
Na Áustria e na Bélgica, os social-patriotas souberam tomar
com habilidade e firmeza a direção do movimento sindical, que é o principal
ponto de combate. É nessa direção que os comunistas devem colocar sua atenção.
Na Noruega, o partido, que tem a maioria dos operários, deve
tomar seguramente nas mãos o movimento sindical e descartar os elementos
centristas das direções.
Na Suécia o partido tem que combater resolutamente não
apenas o reformismo, mas também a corrente pequeno-burguesa que existe no
socialismo e deve aplicar nessa ação toda a sua energia.
Na Alemanha, o partido tem grandes condições para conquistar
gradualmente os sindicatos. Nenhuma concessão deve ser feita àqueles que
preconizam a saída dos sindicatos. Isso é fazer o jogo dos social-patriotas. Às
tentativas de excluir os comunistas importa opor uma resistência vigorosa e
obstinada; os maiores esforços devem ser feitos para conquistar a maioria nos
sindicatos.
V
Todas essas considerações determinam as relações que devem
existir entre a Internacional Comunista e a Internacional Sindical Vermelha.
A Internacional Comunista não deve apenas dirigir a luta
política do proletariado no sentido estrito do termo mas, também, toda sua
campanha de libertação, seja qual for a forma que ela assuma. A Internacional
Comunista não pode ser apenas a soma aritmética dos Comitês Centrais dos
Partidos Comunistas dos diferentes países. A Internacional Comunista deve
inspirar e coordenar a ação e os combates de todas as organizações proletárias,
profissionais, cooperativas, sovietistas, educativas etc., além das
estritamente políticas.
A Internacional Sindical Vermelha, diferente da
Internacional Amarela de Amsterdã, não pode, em caso algum, aceitar o ponto de
vista da neutralidade. Uma organização que desejar ser neutra, diante das
Internacionais dois, dois e meio e três, será inevitavelmente um joguete nas
mãos da burguesia. O programa de ação da Internacional Sindical Vermelha, que
está exposto abaixo e que o Terceiro Congresso Universal da Internacional
Comunista submete à atenção do Primeiro Congresso Universal dos Sindicatos
Vermelhos, será defendido na realidade unicamente pelos Partidos Comunistas,
unicamente pela Internacional Comunista. Por esta única razão, para insuflar o
espírito revolucionário no movimento profissional de cada país, para executar
lealmente sua nova tarefa revolucionária, os sindicatos vermelhos de cada país
serão obrigados a trabalhar de mãos dadas, em contato estreito, com o Partido
Comunista desse mesmo país, e a Internacional Sindical Vermelha deverá
coordenar em cada país sua ação com aquela da Internacional Comunista.
Os preconceitos de neutralidade, independência,
apoliticismo, de indiferença pelos partidos, que são o pecado dos sindicalistas
revolucionários legais da França, Espanha, Itália e alguns outros países, não
são objetivamente outra coisa que um tributo pago aos ideais burgueses. Os
sindicatos vermelhos não podem triunfar sobre Amsterdã, não podem
consequentemente, triunfar sobre o capitalismo, sem romper de uma vez por todas
com esta idéia burguesa de independência e de neutralidade.
Do ponto de vista da economia das forças e da concentração
mais perfeita dos golpes, a situação ideal será a constituição de uma
Internacional proletária única, agrupando os partidos políticos e todas as
outras formas de organização operária. Não há dúvida de que o futuro pertence a
esse tipo de organização. Mas, no momento atual, de transição, com a variedade
e a diversidade dos sindicatos, é preciso nos diferentes países, constituir uma
união autônoma dos sindicatos vermelhos, aceitando o conjunto do programa da
Internacional Comunista, mas de uma forma mais livre que os partidos políticos
pertencentes a esta Internacional.
A Internacional Sindical Vermelha que será organizada sobre
essas bases, terá direito ao apoio integral do 3° Congresso Universal da
Internacional Comunista. Para estabelecer uma ligação mais estreita entre a
Internacional Comunista e a Internacional Vermelha dos Sindicatos, o Terceiro
Congresso Universal da Internacional Comunista propõe uma representação mútua
permanente de três membros da Internacional Comunista no Comitê Executivo da
Internacional Sindical Vermelha e vice-versa.
O programa de ação dos Sindicatos Vermelhos, segundo a
opinião da Internacional Comunista, é aproximadamente o seguinte:
Programa
de Ação
1. A crise aguda na economia mundial, a queda catastrófica
dos preços dos principais produtos, a subprodução que coincide com a escassez
das mercadorias, a política agressiva da burguesia em relação à classe
operária, uma tendência obstinada em rebaixar os salários e conduzir a classe
operária a várias dezenas de anos atrás, a irritação das massas que se
desenvolve sobre esse terreno, de uma parte, e a impotência dos velhos sindicatos
operários e seus métodos, de outra parte - todos esses fatos impõem aos
sindicatos revolucionários de todos os países tarefas novas. São necessários
novos métodos de luta econômica nesse período de desagregação capitalista: é
preciso que os sindicatos operários adotem uma política econômica agressiva,
para repelir a ofensiva do capital, fortificar as antigas posições e passar à
ofensiva.
2. A ação direta das massas revolucionárias e suas
organizações contra o capital constitui a base da tática sindical. Todas as
conquistas dos operários estão em relação direta com a ação direta e a pressão
revolucionária das massas. Pela expressão "ação direta" é preciso
entender toda sorte de pressões diretas exercidas pelos operários sobre os
patrões e o Estado, a saber: boicote, greves, ações de rua, demonstrações,
ocupação de usinas, oposição violenta à saída de produtos das empresas, levante
armado e outras ações revolucionárias próprias para unir a classe operária na
luta pelo socialismo. A tarefa dos sindicatos revolucionários consiste,
portanto, em fazer da ação direta um meio de educar e preparar as massas
operárias para a luta pela revolução social e pela ditadura do proletariado
3. Esses últimos anos de luta mostraram com uma particular
evidência toda a fraqueza das uniões estritamente profissionais. A adesão
simultânea dos operários de uma empresa a vários sindicatos enfraquece-os
durante a luta. É preciso passar, e esse deve ser o ponto inicial de uma luta
incessante - da organização puramente profissional à organização por
indústrias: "Uma empresa - um sindicato", tal é a palavra de ordem no
domínio da estrutura sindical. É preciso tender à fusão dos sindicatos
similares pela via revolucionária, colocando a questão diretamente para os
sindicalizados das fábricas e empresas, levando mais tarde o debate até as
conferências locais e regionais e aos congressos nacionais
4. Cada fábrica, cada usina deve se transformar num bastião,
numa fortaleza da revolução. A antiga forma de ligação entre os sindicalizados
e seu sindicato (delegados sindicais que recebiam as cotizações,
representantes, pessoal de confiança etc.) deve ser substituída pela criação de
comitês de fábrica e usinas. Esses devem ser eleitos por todos os operários da
empresa, seja qual for o seu sindicato e suas convicções políticas. A tarefa
dos partidários da Internacional Sindical Vermelha é levar os operários da
empresa a participarem da eleição de seu órgão representativo. As tentativas
para eleger os comitês de fábrica e de usinas apenas pelos comunistas têm como
resultado o afastamento das massas "sem partido"; eis porque essas
tentativas devem ser categoricamente condenadas. Isso seria um núcleo e não um
comitê de fábrica. A parcela revolucionária deve reagir e influir, por
intermédio dos núcleos, comitês de ação e simples membros, sobre a assembléia
geral e sobre o comitê de fábrica eleito.
5. A primeira tarefa que é preciso propor aos operários e
comitês de fábricas e usinas é exigir a manutenção, às expensas da empresa, dos
empregados dispensados do trabalho. Não se deve tolerar que os operários sejam
postos na rua sem que o estabelecimento se ocupe deles. O patrão deve pagar a
seus desempregados seu salário completo: eis a exigência em torno da qual é
preciso organizar não apenas os desempregados, mas sobretudo os empregados que
continuam trabalhando na empresa, explicando-lhes, ao mesmo tempo, que a
questão do desemprego não pode ser resolvida nos limites do capitalismo e que o
melhor remédio contra o desemprego é a revolução social e a ditadura do
proletariado.
6. O fechamento das empresas é atualmente, na maior parte
dos casos, um meio de depurá-las dos elementos suspeitos - a luta deve então se
fazer contra o fechamento das empresas e os empregados devem verificar as
causas do fechamento. É preciso criar Comissões especiais de controle sobre as
matérias-primas, sobre os materiais necessários à produção e os recursos
financeiros disponíveis nos bancos. As Comissões de controle especialmente
eleitas devem estudar da maneira mais atenta as relações financeiras entre a
empresa em questão e as outras empresas, e a supressão do segredo comercial
deve ser proposta aos operários como uma tarefa prática.
7. Um dos meios de impedir o fechamento em massa das
empresas, com o fim de rebaixar os salários e agravar as condições de trabalho,
pode ser a ocupação da fábrica ou da usina e a continuação de sua produção a
despeito do patrão.
Diante da atual escassez de mercadorias, é particularmente
importante impedir toda parada na produção, também os operários não devem
tolerar um fechamento premeditado das fábricas e usinas. Segundo as condições
locais, as condições da produção, a situação política e a intensidade da luta
social, a tomada das empresas pode e deve ser acompanhada de outros métodos de
ação sobre o capital. A gestão da empresa tomada deve ser colocada nas mãos do
comitê de fábrica ou de usina e do representante especialmente designado pelo
sindicato.
8. A luta econômica deve ser levada sob a palavra de ordem
de aumento dos salários e melhoria das condições de trabalho, que devem ser
levadas a um nível sensivelmente superior àquele de antes da guerra. As
tentativas para reconduzir os operários às condições de trabalho anteriores às
da guerra devem ser rebatidas da forma mais decidida e mais revolucionária. A
guerra teve como resultado o esgotamento da classe operária: a melhoria das
condições de trabalho é uma condição indispensável para reparar essa perda de
forças. As alegações dos capitalistas que colocam como causa a concorrência
estrangeira não devem ser levadas em consideração: os sindicatos
revolucionários não devem abordar a questão dos salários e das condições do
ponto de vista da concorrência entre os aproveitadores das diferentes nações,
eles devem se colocar no ponto de vista da conservação e proteção da força de
trabalho.
9. Se a tática redutora dos capitalistas coincide com uma
crise econômica no país, o dever dos sindicatos é não se deixar abater por
questões separadas. A princípio, é preciso ensaiar na luta os operários dos
estabelecimentos de utilidade pública (mineiros, ferroviários, operários do
gás, eletricitários etc.) para que a luta contra a ofensiva do capital toque,
desde o início, os pontos nevrálgicos do organismo econômico. Aqui, todas as
formas de resistência são necessárias e, conforme o objetivo, desde a greve
parcial intermitente, até a greve geral, se estendendo à grande indústria sobre
um plano nacional.
10. Os sindicatos devem se propor como uma tarefa prática a
preparação e a organização de ações nacionais por indústrias. A parada dos
transportes ou da extração da hulha, realizada segundo um plano internacional,
é um poderoso meio de luta contra as tentativas reacionárias da burguesia de
todos os países.
Os sindicatos devem observar atentamente a conjuntura
mundial para escolher o momento mais propício para sua ofensiva econômica; eles
não devem esquecer um só instante o fato de que uma ação internacional só será
possível com a criação de sindicatos revolucionários, sindicatos que não tenham
nada em comum com a Internacional Amarela de Amsterdã.
11. A crença no valor absoluto dos contratos coletivos,
propagada pelos oportunistas de todos os países, deve encontrar a resistência
áspera e decidida do movimento sindical revolucionário. Os patrões violam os
contratos coletivos sempre que podem. Um respeito religioso pelos contratos
coletivos testemunha a profunda penetração da ideologia burguesa entre os
líderes da classe operária. Os sindicatos revolucionários não devem renunciar
aos contratos coletivos, mas devem perceber seu valor relativo, devem sempre
considerar o método a adotar para romper esses contratos sempre que isso for
vantajoso para a classe operária.
12. A luta das organizações operárias contra o patrão individual
e coletivo deve se adaptar às condições nacionais e locais, deve utilizar toda
a experiência da luta de libertação da classe operária. Toda greve importante
não deve ser somente bem organizada, os operários devem, desde o primeiro
momento, criar quadros especiais para combater os fura-greves e fazer oposição
à ofensiva provocadora das organizações brancas de todas as nuances, apoiadas
pelos Estados burgueses. Os fascistas na Itália, a ajuda técnica na Alemanha,
as guardas cívicas formadas por antigos oficiais e suboficiais na França e
Inglaterra - todas essas organizações têm por objetivo a desmoralização, a
derrota das ações da classe operária, uma derrota que não se limitará a uma
simples substituição dos grevistas, mas buscará a derrocada material de sua
organização e o massacre dos líderes do movimento. Nessas condições, a
organização de batalhões de greve especiais, de destacamentos especiais de
defesa operária, é uma questão de vida ou morte para a classe operária.
13. As organizações de combate assim criadas não devem se
limitar a combater as organizações dos patrões e fura-greves, elas devem se
encarregar de deter todas as encomendas e mercadorias expedidas com destino à
usina em greve por outras empresas e se opor à transferência de comando a
outras usinas e empresas. Os sindicatos dos operários dos transportes são
chamados a desempenhar seu papel particularmente importante: cabe a eles a
tarefa de entravar o transporte das mercadorias, o que não será possível sem a
ajuda unânime de todos os operários da região.
14. Toda luta econômica da classe operária no próximo
período deve se concentrar na palavra de ordem do controle operário sobre a
produção, que se deve realizar antes que o governo ou as classes dominantes
inventem algum sucedâneo de controle. É preciso combater violentamente todas as
tentativas das classes dominantes e dos reformistas para criar associações
paritárias, comissões paritárias e um estrito controle sobre a produção deve
ser feito: somente ele dará os resultados determinados. Os sindicatos
revolucionários devem combater resolutamente a chantagem e a extorsão exercidas
em nome da socialização pelos chefes dos velhos sindicatos com a ajuda das
classes dominantes. Toda a verborréia desses senhores sobre a socialização
pacifica tem a finalidade única de desviar os operários dos atos
revolucionários e da revolução social.
15. Para distrair a atenção dos operários de suas tarefas
imediatas e despertar neles veleidades pequeno-burguesas, colocam-nos diante da
idéia de participação nos lucros, isto é, da restituição aos operários de uma
pequena parte da mais-valia criada por eles; essa palavra de ordem de perversão
operária deve receber sua crítica severa e implacável. ("Não à
participação nos lucros, destruição do lucro capitalista", tal é a palavra
de ordem dos sindicatos revolucionários.).
16. Para entravar ou quebrar a força combativa da classe
operária, os Estados burgueses aproveitaram a possibilidade de militarizar
provisoriamente algumas usinas ou setores inteiros da indústria sob o pretexto
de protegê-las por sua importância vital. Alegando a necessidade de se
preservar tanto quanto possível contra as perturbações econômicas, os Estados
burgueses introduziram, para proteger o Capital, cortes de arbitragem e
comissões de conciliação obrigatórias. Também no interesse do Capital, e para
fazer recair inteiramente sobre os operários o peso dos custos da guerra, eles
introduziram um novo sistema de percepção de impostos; eles são retidos sobre o
salário do operário pelo patrão, que desempenha assim o papel de preceptor. Os
sindicatos devem levar uma luta das mais obstinadas contra essas medidas
governamentais que só servem aos interesses da classe capitalista.
17. Os sindicatos revolucionários que lutam para melhorar as
condições de trabalho, elevar o nível de vida das massas e estabelecer o
controle operário devem constantemente perceber que, no quadro do capitalismo,
esses problemas permanecerão sem solução; eles também devem, arrancando passo a
passo concessões das classes dominantes, obrigá-las a aplicar a legislação
social, colocar claramente as massas operárias diante do fato de que só a
derrota do capitalismo e a instauração da ditadura do proletariado são capazes
de resolver a questão social. Assim, nem uma ação parcial, nem uma greve
parcial nem o menor conflito devem passar sem deixar traços em relação a isso.
Os sindicatos revolucionários devem generalizar esses conflitos, elevando
constantemente a consciência das massas até a necessidade e a inevitabilidade
da revolução social e da ditadura do proletariado.
18. Toda luta econômica é uma luta política, isto é, uma
luta levada por toda uma classe. Nessas condições, por mais consideráveis que
sejam as camadas operárias envolvidas na luta, esta não poderá ser realmente
revolucionária, não poderá ser realizada com o máximo de utilidade para a
classe operária em seu conjunto, se os sindicatos não estiverem de mãos dadas,
unidos e em colaboração estreita com o Partido Comunista do país. A teoria e a
prática da divisão da ação da classe operária em duas metades autônomas é muito
perniciosa, sobretudo no momento revolucionário atual. Cada ação exige o máximo
de concentração de forças, que só é possível com a condição da mais alta tensão
de toda energia revolucionária da classe operária, isto é, de todos os seus
elementos comunistas e revolucionários. As ações isoladas do Partido Comunista
e dos sindicatos revolucionários estão de antemão destinadas ao fracasso e a
derrota. Por isso, a unidade de ação, a ligação orgânica entre os Partidos
Comunistas e os sindicatos operários constituem a condição preliminar do
sucesso da luta contra o capitalismo.
TESES
SOBRE A AÇÃO DOS COMUNISTAS NAS COOPERATIVAS
1) À época da revolução proletária, as cooperativas
revolucionárias devem ter dois objetivos: a) ajudar os trabalhadores em sua
luta para a conquista do poder político; b) onde esse poder já estiver
conquistado, ajudar os trabalhadores a organizar a sociedade socialista.
2) As antigas cooperativas trilhavam a via do reformismo e
evitavam por todos os meios a luta revolucionária sob todas as suas formas.
Elas pregavam a idéia de uma entrada gradual no "socialismo", sem
passar pela ditadura do proletariado.
As antigas cooperativas pregam a neutralidade política,
ainda que, na realidade, escondam sob esta insígnia sua subordinação à política
da burguesia imperialista.
Seu internacionalismo existe apenas nas palavras. Na
verdade, elas substituem a solidariedade internacional dos trabalhadores pela
colaboração da classe operária com a burguesia de cada país.
Por toda essa política, as antigas cooperativas, longe de
concorrer para o desenvolvimento da revolução, entravam-na e, longe de ajudar o
proletariado em sua luta, atrapalham-no.
3) As diversas formas de cooperativas não podem, em nenhum
nível, servir aos objetivos revolucionários do proletariado. As mais
convenientes para isso são as cooperativas de consumo. Mas, mesmo entre essas
últimas, são muitas as que agrupam elementos burgueses. Essas cooperativas não
estarão nunca ao lado dos operários em sua luta revolucionária. Só a cooperação
operária nas cidades e no campo pode ter esse caráter.
4) A tarefa dos comunistas no movimento cooperativo consiste
no que segue: 1) propagar as idéias comunistas; 2) fazer da cooperação um
instrumento de luta da classe pela revolução, sem destacar as diversas
cooperativas de seu agrupamento central.
Em todas as cooperativas, os comunistas devem estar
organizados em frações, propondo-se a formar em cada país um centro da
cooperação comunista.
Esses agrupamentos e seu centro devem ter uma ligação
estreita com o Partido Comunista e seus representantes na cooperativa. O centro
deve, igualmente, elaborar os princípios da tática comunista no movimento
cooperativo nacional, dirigir e organizar esse movimento.
5) Os objetivos práticos que atualmente deve se propor à
cooperação revolucionária do Ocidente surgirão ao longo do trabalho. Mas, desde
agora, pode-se indicar, entre eles:
a) Propagar, por documentos e discursos, as idéias
comunistas, levar uma campanha para livrar as cooperativas da direção e da
influência da burguesia e dos oportunistas.
b) Aproximar as cooperativas do Partidos Comunistas, dos
sindicatos revolucionários. Fazer as cooperativas participarem da luta
política, direta e indiretamente, tomando parte nas demonstrações e campanhas
políticas do proletariado. Sustentar materialmente os Partidos Comunistas e sua
imprensa. Sustentar materialmente os operários em greve ou vítimas de locaute.
c) Combater a política imperialista da burguesia, em
particular a intervenção dos negócios da Rússia Soviética e outros países.
d) Criar relações não somente de pensamento, de organização,
mas também de negócios, entre as cooperativas operárias dos diferentes países.
e) Exigir a conclusão imediata dos tratados de comércio e
reatamento de relações comerciais com a Rússia e as outras Repúblicas
Soviéticas.
f) Participar o mais amplamente possível nas trocas
comerciais com essas Repúblicas.
g) Participar da exploração das riquezas naturais das
Repúblicas Soviéticas, encarregando-se de concessões sobre seu território.
6) Após o triunfo da revolução proletária, as cooperativas
devem se desenvolver plenamente.
Desde já o exemplo da Rússia Soviética permite esboçar alguns
traços característicos:
a) As cooperativas de consumo deverão se encarregar da
distribuição dos produtos, segundo os planos do governo proletário. Essa função
dará ás cooperativas um impulso inusitado até então.
b) As cooperativas devem servir de laço orgânico entre as
explorações isoladas dos pequenos produtores (camponeses e artesãos) e os
serviços econômicos do Estado proletário. Esses últimos, por intermédio das
cooperativas, dirigirão o trabalho de suas pequenas explorações de acordo com
um plano conjunto. Em particular as cooperativas de consumo recolherão os
gêneros alimentícios e as matérias-primas dos pequenos produtores para
repassá-los aos consumidores e ao Estado.
c) As cooperativas de produção podem agrupar pequenos
produtores nas fábricas ou grande explorações comuns permitindo o uso de
máquinas e procedimentos técnicos aperfeiçoados. Elas darão à pequena produção
a base técnica que permitirá edificar sobre esse fundamento a produção
socialista, o que permitirá aos pequenos produtores se desembaraçarem de sua
mentalidade individualista para desenvolver neles o espírito coletivista.
7) Levando em conta o papel imenso que as cooperativas devem
desempenhar durante a revolução proletária, o Terceiro Congresso da
Internacional Comunista lembra aos partidos, grupos e organizações comunistas,
que eles devem continuar a trabalhar energicamente para propagar o ideal da
cooperação, dos grupamentos de cooperativas em um instrumento da luta de
classes, e formar um front único das cooperativas com os sindicatos
revolucionários.
O Congresso encarrega o Comitê Executivo da Internacional de
formar uma seção cooperativa encarregada de colocar em prática o programa acima
indicado. Na medida das necessidades, essa seção deverá convocar conferências e
congressos para realizar a missão revolucionária das cooperativas.
Resolução
do III Congresso da Internacional Comunista sobre a Ação das Cooperativas
O III Congresso da Internacional encarrega o Comitê
Executivo de criar uma seção cooperativa que deverá preparar, segundo as
necessidades, a convocação de consultas, conferências e congressos cooperativos
internacionais, para realizar na Internacional os objetivos determinados nas
teses.
A seção deverá, por outro lado, seguir os seguintes
objetivos práticos:
a) Reforçar atividade cooperativa dos trabalhadores do campo
e da indústria, constituindo cooperativas de artesãos semiproletários, levando
os trabalhadores a procurarem a direção e a melhoria em comum de sua
exploração.
b) Levar a luta pela remessa às cooperativas da repartição
de víveres e objetos de consumo em todo o país.
c) Levar a propaganda dos princípios e dos métodos da
cooperação revolucionária e dirigir a atividade da cooperação proletária para o
apoio material da classe operária combatente.
d) Favorecer o estabelecimento de relações comerciais e
financeiras internacionais entre cooperativas operárias e organizar sua
produção comum.
RESOLUÇÃO
SOBRE A INTERNACIONAL COMUNISTA E O MOVIMENTO DA JUVENTUDE COMUNISTA
1. O movimento da juventude socialista nasceu sob a pressão
da exploração capitalista da juventude trabalhadora e do sistema ilimitado do
militarismo burguês. Ele nasceu como reação às tentativas de envenenamento da
juventude trabalhadora pelas idéias burguesas nacionalistas e contra a
negligência e o esquecimento pelo qual se tornaram culpados o partido
social-democrata e os sindicatos na maioria dos países diante das exigências
econômicas, políticas e espirituais da juventude.
Em quase todos os países, as organizações da juventude
socialista foram criadas sem a participação dos partidos social-democratas e
dos sindicatos, que se tornaram cada vez mais oportunistas e reformistas, e em
alguns países essas organizações se formaram mesmo contra a vontade desses
partidos e sindicatos. Esses viram como um grande perigo o aparecimento das
juventudes socialistas revolucionárias independentes e tentaram reprimir esse
movimento mudando-lhe o caráter e impondo-lhe sua política, exercendo sobre ele
uma tutela burocrática e tentando privá-lo de sua independência.
2. De outro lado, a guerra imperialista e a atitude tomada
na maior parte dos países pelos partidos social-democratas veio a aumentar o
abismo entre os partidos social-democratas e as juventudes internacionais e
revolucionárias e acelerar o conflito. A situação da juventude trabalhadora
piorou durante a guerra por causa da mobilização, da exploração reforçada nas
indústrias militares e por causa da militarização no front. A melhor parte da
juventude socialista tomou posição resoluta contra a guerra e o nacionalismo,
se separou do partidos social-democratas e começou uma ação política própria
(Conferências Internacionais da Juventude em Berna, em 1915, em Iéna em 1916).
Em seu combate contra a guerra, os melhores grupos
revolucionários dos operários adultos sustentaram as juventudes socialistas que
se tornaram um ponto de concentração das forças revolucionárias. Elas assumiram
assim as funções dos partidos revolucionários que faltavam. Elas se tornaram a
vanguarda no combate revolucionário e tomaram a forma de organizações políticas
independentes.
3. Com o aparecimento da Internacional Comunista e de
Partidos Comunistas nos diferentes países, o papel das juventudes
revolucionárias em todo o movimento do proletariado se modificou. Por sua
situação econômica, e graças a traços psicológicos particulares, a juventude
operária é mais acessível aos ideais comunistas e apresenta um entusiasmo
revolucionário maior que seus irmão mais velhos, os operários. Todavia, são os
Partidos Comunistas que assumem o papel de vanguarda que era desempenhado pelos
jovens no que se refere à ação política independente e à direção política. Se
as organizações das juventudes comunistas continuassem a existir como
organizações independentes do ponto de vista político e desempenhando um papel
dirigente, teríamos dois partidos comunistas concorrentes que se distinguiriam
entre si apenas pela idade de seus membros.
4. O papel atual da juventude consiste em que ela deve
reunir os jovens operários, educá-los no espírito comunista para as primeiras
filas da batalha comunista. Passou o tempo em que a juventude poderia se
limitar a um bom trabalho de pequenos grupos de propaganda, compostos de poucos
membros. Existe hoje, além da agitação e da propaganda, levadas com
perseverança e com novos métodos, um meio de conquistar as amplas massas de
jovens operários; trata-se de provocar e dirigir os combates econômicos.
As organizações da juventude devem alargar e reforçar o
trabalho de educação não se conformando com sua nova missão. O princípio
fundamental da educação comunista no movimento da juventude consiste na
participação ativa em todas as lutas revolucionárias, participação que deve
estar estreitamente ligada à escola marxista.
Um outro dever importante das juventudes à época atual é
destruir a ideologia centrista e social-patriota entre a juventude operária e
desembaraçá-la dos tutores e chefes social-democratas. Ao mesmo tempo, elas
devem fazer tudo para ativar o processo de rejuvenescimento resultante do
movimento de massas, delegando-o rapidamente, nos Partidos Comunistas, aos seus
membros mais velhos.
A grande diferença fundamental que existe entre as
juventudes comunistas e as juventudes centristas e social-patriotas se torna
aparente pela participação ativa em todos os problemas da vida política e nos
combates e ações revolucionárias, e também pela colaboração na construção dos
Partidos Comunistas.
5. As relações entre as juventudes e os Partidos Comunistas
diferem radicalmente daquelas que existem entre as organizações da juventude
revolucionária e os partidos social-democratas. A maior uniformidade e a
centralização mais estrita são necessárias na luta comum pela realização rápida
da revolução proletária. A direção política não pode pertencer senão à
Internacional. É dever das organizações da juventude comunista se subordinar a
esta direção política, ao programa, à tática e às diretrizes e se incorporar ao
front revolucionário comum. Dados os diferentes níveis de desenvolvimento
revolucionário dos Partidos Comunistas, é necessário que em casos excepcionais
a aplicação desse princípio esteja subordinada a uma decisão especial do Comitê
Executivo da Internacional Comunista e da Internacional da Juventude, levando
em conta as condições particulares. As juventudes comunistas, que começaram a
organizar suas fileiras segundo as regras da centralização mais estrita,
deverão se submeter à disciplina de ferro da Internacional Comunista. As
juventudes devem se ocupar de todas as questões políticas e táticas nas
organizações, devem tomar posição e, no interior dos Partidos Comunistas de seu
país, devem sempre agir não contra esses partidos, mas no sentido das decisões
tomadas por eles. Em caso de graves dissensões entre os Partidos Comunistas e
as juventudes, elas devem fazer valer seu direito de apelação ao Comitê
Executivo da Internacional Comunista. O abandono de sua independência política
não significa a abnegação total de sua independência orgânica, que é preciso conservar
por razões de educação.
Como para uma perfeita direção da luta revolucionária é
necessário o máximo de centralização e unidade, nos países onde a evolução
histórica colocou a juventude na dependência do partido, essas relações devem
ser mantidas a título de regra; as divergências entre os dois órgãos são
resolvidas pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista da Juventude.
6. Uma das tarefas mais urgentes e mais importantes da
juventude é se desembaraçar de todos os resquícios da idéia de seu papel
político dirigente, remanescente do período de absoluta autonomia. A imprensa e
todo o aparelho da juventude devem ser utilizados para impregnar os jovens
comunistas do sentimento e da consciência de que eles são os soldados e os
membros responsáveis de um único Partido Comunista.
As organizações da juventude comunista devem dedicar atenção
e tempo a esse trabalho que eles começaram, graças à conquista de grupos cada
vez mais numerosos de jovens operários, e transformá-lo em movimento de massas.
7. A colaboração política estreita entre as juventudes e os
Partidos Comunistas deve encontrar sua expressão numa ligação orgânica sólida
entre as duas organizações. É absolutamente necessária uma troca permanente e
recíproca de representantes entre os órgão dirigentes das juventudes e dos
partidos em todos os escalões: província, periferia, cantão e núcleos, nos
grupos de usinas e nos sindicatos, assim como a participação mútua em todas as
conferências e congressos. Desta maneira, o Partido Comunista terá a possibilidade
de exercer uma influência contínua sobre a atividade da juventude e sustentá-la
enquanto essa poderá, igualmente, ter uma influência real sobre a atividade do
partido.
8. As relações entre a Internacional Comunista e
Internacional da Juventude são ainda mais estreitas que aquelas entre a
Internacional Comunista e os Partidos Comunistas. O papel da Internacional
Comunista da Juventude consiste em centralizar e dirigir o movimento da
juventude comunista, em sustentar e encorajar moral e materialmente as
diferentes uniões, em criar novas organizações da juventude comunista onde elas
não existem ainda e fazer a propaganda internacional do movimento da juventude
comunista e de seu programa. A Internacional Comunista da Juventude constitui
uma parte da Internacional Comunista e nesta condição ela está subordinada à
decisões do Congresso e do Executivo da Internacional Comunista. Dentro desses
limites, ela executa seu trabalho e age como intermediária e intérprete da
vontade política da Internacional Comunista em todas as seções desta última.
Pela troca constante e mútua e uma colaboração estreita e contínua, pode-se
assegurar um controle constante da parte da Internacional Comunista e o
trabalho mais fecundo da Internacional Comunista da Juventude sobre todos os
terrenos de sua atividade (direção do movimento, agitação, organização,
fortalecimento e sustentação das organizações da juventude comunista).
Declaração
sobre Max Hoelz
Ao
Proletariado Alemão
Aos dois mil anos de prisão e penas correcionais que
infligiu aos combatentes de março, a burguesia alemã acrescenta a pena de
prisão perpétua para MAX HOELZ
A Internacional Comunista é contra o terror e atos de
sabotagem individual que não servem aos objetivos de luta da guerra civil,
condena a guerra de franco-atiradores levada por fora da direção política do
proletariado revolucionário. Mas a Internacional Comunista vê em Max Hoelz um
dos mais corajosos rebela-dos contra a sociedade capitalista, cuja fúria se
expressa pelas condenações à prisão e cuja ordem se manifesta pelo excesso da
canalha que serve de base a seu regime. Os atos de Max Hoelz não correspondem
aos objetivos perseguidos; o terror branco só será aniquilado pelo levante das
massas operárias, só assim o proletariado conquistará a vitória. Seus atos,
porém, foram ditados por seu amor ao proletariado, por seu ódio contra a
burguesia. O Congresso envia suas saudações fraternas a Max Hoelz, e o
recomenda à proteção do proletariado alemão, expressando sua esperança de vê-lo
lutar nas fileiras do Partido Comunista pela causa da libertação dos operários,
manifesta sua esperança de que chegará o dia em que os proletários alemães
abrirão as portas de sua prisão.
MANIFESTO
DO CE DA INTERNACIONAL COMUNISTA
Novo
Trabalho; Novas Lutas
Aos
proletários, homens e mulheres de todos os países!
O III Congresso da Internacional Comunista terminou, a
grande revista do proletariado comunista terminou. Ele mostrou que durante o
ano que passou o comunismo se tornou, em vários países onde ele apenas inicia,
um grande movimento estimulante das massas que ameaça o poder do Capital. A
Internacional Comunista que, em seu Congresso de fundação, representava fora da
Rússia, apenas pequenos grupos de camaradas; que no II Congresso, do ano
passado, ainda procurava seu caminho, dispõe hoje, não apenas na Rússia, mas
também na Alemanha, Polônia, Tchecoslováquia, Itália, França, Noruega,
Iugoslávia, Bulgária, de partidos que empunham as bandeiras das massas cada vez
maiores e que se concentram sem cessar. O III Congresso se dirige aos
comunistas de todos os países para convidá-los a seguir o caminho no qual eles
estão engajados e fazer tudo para reunir nas fileiras da Internacional
Comunista milhões de operários e operárias. Pois o poder do capital só será
vencido se o ideal do comunismo se tornar uma força estimulante da grande
maioria do proletariado guiado pelos Partidos Comunistas de massas que devem
formar um círculo de ferro em torno da classe operária combatente. "Às
massas", eis o primeiro grito de luta lançado pelo III Congresso aos
comunistas de todos os países.
A
Caminho de Novas Grandes Lutas
As massas
afluem para nós, pois o capitalismo mundial lhes mostra com uma evidência
gritante que ele não pode prolongar sua existência sem destruir cada vez mais a
ordem social, aumentar o caos, a miséria e a escravidão das massas. Diante da
crise econômica mundial, que joga milhões de operários na rua, a gritaria dos
criados social-democratas da capital são derrubadas. O chamado que a classe
burguesa dirige há anos aos operarias "Trabalharem, sem parar", esse
grito cessam, pois o grito "trabalho" se torna o grito de guerra da
classe operária e ele não será atendido pelo capitalismo em ruínas, pois o
proletariado se ampara nos meios de produção criados por ele. O mundo capitalista
se encontra diante do abismo terrível de novas guerras. Os antagonismos
americana-japonês, anglo-americano, anglo-francês, franco-alemão,
polaco-alemão, os antagonismos no Oriente Próximo e no Extremo Oriente empurram
o capitalismo para o armamento incessante. Eles colocam a seguinte questão: “A
Europa pode retomar o caminho da guerra mundial?” O capitalismo não teme o
massacre de milhões de indivíduos. Desde a fim da guerra, por sua política,
pelo bloqueio da Rússia, eles condenaram à morte milhões de seres humanos. O
que eles temem é que uma nova guerra leve definitivamente as massas para as
fileiras do exército da revolução mundial, temem que uma nova guerra conduza à
sublevação final da proletariado mundial. Eles procuram então uma forma de agir
antes da guerra, conduzindo uma detente cheia de intrigas e acordos
diplomáticos. Mas detente sobre um ponto é tensão sobre outros. As negociações
entre a Inglaterra e a América sobre a limitação de armamentos navais dos dois
países criam um front contra o Japão. A aproximação franco-inglesa abandona a
Alemanha á França e a Turquia à Inglaterra. Os resultados dos esforços do
capital mundial, que tenta pôr um pouco de ordem no caos mundial, não é a Paz,
mas a perturbação crescente e a escravidão dos povos vencidos pela capital dos
vencedores. A imprensa do capital mundial fala atualmente de calmaria e de
detente na política mundial, porque a burguesia da Alemanha se submete às
condições ditadas pelos Aliados e porque, para salvar seu poder, ela joga o
povo alemão aos chacais da Bolsa de Paris e de Londres. Mas, ao mesmo tempo, a
imprensa da Bolsa está cheia de novidades sobre o agravamento da ruína
econômica da Alemanha, sobre os impostos enormes que recairão como granizo
sobre as massas condenadas ao desemprego, impostos que encarecerão mais e mais
os artigos alimentícios e de vestuário. A Internacional Comunista que, por sua
política, parte do estudo imparcial e objetivo da situação mundial - pois o
proletariado só chegará á vitória pela observação clara e objetiva do campo de
batalha - a Internacional Comunista diz ao proletariado de todos os países: o
capitalismo se mostrou até agora incapaz de assegurar a ordem. O que ele
empreende nesse momento não pode levar a uma consolidação, uma nova ordem, mas
prolongar seus sofrimentos e a agonia dó capitalismo. A revolução mundial
avança. O segundo grito que o Congresso Mundial da Internacional Comunista
lança aos proletários de todas as paises é esse: Vamos para grandes lutas,
armem-se para novos combates.
Construir
a frente única proletária
A burguesia mundial é incapaz de assegurar aos operários a
trabalha, n pão, a casa e o vestuário: mas da mostra grande capacidade de
organização da guerra contra o proletariado mundial. Desde o momento de sua
primeira grande desorientação, desde que ela conseguiu suportar sem medo os
operários que regressavam da guerra, desde que da conseguiu faze-los voltar às
usinas, esmagar seu primeiros levantes, renovar sua aliança de guerra com as
social-democratas e os traidores socialistas contra o proletariado e assim
dividi-los, ela empregou todas as suas forças para organizar guardas-brancas
contra o proletariado c desarmar esse último. Armada até as dentes, a burguesia
mundial está pronta não apenas a se opor pelas armas a toda sublevação do
proletariado, mas também a provocar, se for necessária, sublevações prematuras
do proletariado que se prepara para a luta; ela deseja esmaga-lo antes que
esteja formado o front comum invencível. A Internacional Comunista deve opor
sua estratégia à estratégia da burguesia mundial. Contra o dinheiro do capital
mundial que opõe ao proletariado organizando seus bandos armados, a
Internacional Comunista dispõe de uma arma infalível: as massas do
proletariado, a front único e firme do proletariado. Os estratagemas e a
violência da burguesia não terão sucesso se milhares de operários avançarem em
fileiras cerradas para o combate. Os caminhos de ferro sobre os quais a
burguesia transporta suas tropas brancas estarão parado; o terror branco se
apoderará então de uma parte das próprias guardas-brancas e o proletariado
tirará suas armas para a lutar contra as outras formações de guardas-brancas.
se conseguirmos levar o proletariado à luta, unido num front único, o capital e
a burguesia mundial, perderão as chances de vitória, a fé na vitória que só
podem lhe dar a traição da social-democracia, a divisar da classe operária. A
vitória sobre o capital mundial ou melhor o caminho para esta vitória é a
conquista dos corações da maioria da classe operária. O III Congresso Mundial
da Internacional Comunista convoca os Partidos Comunistas de todos os paises,
os comunistas dos sindicatos, a fazerem esforços, todos os esforços para livrar
as maiores massas operarias da influência dos Partidos Social-democratas e da
burguesia sindical traidora. Esse objetivo só será alcançado se os comunistas
de todos os países se mostrarem combatentes da vanguarda da classe operária
durante essa época difícil, na qual cada dia apresenta às massas operárias
novas privações e novas misérias, que leva-as a lutarem por um pedaço de pão a
mais, que leva-as a lutarem contra a carga cada vez mais insuportável que impõe
o capitalismo. É preciso mostrar à massa trabalhadora que só os comunistas
lutam pela melhoria de sua situação e que a social-democracia e a burocracia
sindical reacionária estão dispostas a deixar o proletariado na condição de
presa da fome em vez de levá-lo ao combate. Poderemos bater os traidores do
proletariado, os agentes da burguesia no terreno da discussão teórica, da
democracia e da ditadura; nós os esmagaremos nas questões do pão, dos salários,
do vestuário e da habitação. E o primeiro campo de batalha, o mais importante,
sobre o qual poderemos batê-los, é aquele do movimento sindical; eles serão
vencidos na luta que levaremos contra a Internacional Sindical Amarela de
Amsterdã e pela Internacional Sindical Vermelha. É a luta pela conquista das
posições inimigas em nosso próprio campo; é a questão da formação de um front
de combate para fazer oposição ao capital mundial. Preservem suas organizações
de toda tendência centrista, mantenham vivo o espírito de combate entre vocês.
Somente na luta pelos interesses mais simples, mais
elementares das massas operárias, poderemos formar um front unido do
proletariado contra a burguesia. Apenas nessa luta poderemos pôr fim às
divisões no seio do proletariado, divisões que constituem a base sobre a qual a
burguesia pode prolongar sua existência. Mas esse front do proletariado só será
poderoso e apto para o combate se for mantido pelos Partidos Comunistas, cujo
espírito deve ser unido e firme; e a disciplina, sólida e severa. Por isso, o
III Congresso Mundial da Internacional Comunista, ao mesmo tempo que lançou aos
comunistas de todos os países o grito de "Às massas!" "Formem o
front unido do proletariado!" recomendou: "Mantenham seus fronts
livres dos elementos capazes de destruir a moral e a disciplina de combate das
tropas de ataque do proletariado mundial, dos partidos comunistas". O
Congresso da Internacional Comunista aprova e confirma a exclusão do Partido
Socialista da Itália, exclusão que deve ser mantida até que esse partido rompa
com os reformistas e os expulse de suas fileiras. O Congresso expressa também
sua convicção de que, se a Internacional Comunista deseja levar milhões de operários
ao combate, não deve tolerar a presença dos reformistas em suas fileiras. Os
objetivos dos reformistas não é a revolução triunfante do proletariado, mas a
reconciliação com o capitalismo e a reforma desse último. Os exércitos que
toleram a presença de chefes que desejam a reconciliação com o inimigo, são
traidores e estão vendidos ao inimigo por esses mesmos chefes. A Internacional
Comunista colocou sua atenção no fato de que todos os Partidos que excluíram os
reformistas mantêm ainda tendências que não podem sustentar definitivamente o
espírito do reformismo; se essas tendências não trabalham pela reconciliação
com o inimigo, elas não se aplicam entretanto muito energicamente em sua
agitação e em sua propaganda para preparar a luta contra o capitalismo, elas
não trabalham com suficiente energia e decisão para revolucionar as massas. Os
Partidos que não estão em condições, por seu trabalho revolucionário cotidiano,
de se transformarem em insufladores revolucionários das massas, que não estão
em condições de reforçar cotidianamente com paixão e ímpeto a vontade de luta
das massas, tais partidos deixarão escapar as situações favoráveis para a luta,
afundarão nas grandes lutas espontâneas do proletariado, como foi o caso da
ocupação das usinas na Itália e na greve de dezembro na Tchecoslováquia.
Os Partidos Comunistas devem formar seu espírito de combate,
devem ser o Estado-maior capaz de escolher imediatamente as situações
favoráveis da luta e tirar todas as vantagens possíveis por uma direção
corajosa dos movimentos espontâneos do proletariado. "Sejam a vanguarda
das massas operárias que se colocam em movimento, sejam seu coração e seu
cérebro". Esse é o grito que o III Congresso Mundial da Internacional
Comunista lança aos Partidos Comunistas. Ser a vanguarda é marchar à frente das
massas, como sua parte mais valorosa, mais prudente, mais clarividente. Somente
sendo a vanguarda, os Partidos Comunistas poderão formar o front unido do
proletariado, poderão dirigi-lo e triunfar sobre o inimigo.
Opor
a Estratégia do Proletariado à estratégia do Capital: Preparem Suas lutas!
O inimigo é poderoso, porque tem atrás de si séculos de
poder que ele criou na consciência de sua força e na vontade de manter esse
poder. O inimigo é forte, porque ele aprendeu durante séculos como dividir as
massas proletárias, como oprimi-las e vencê-las. O inimigo sabe como conduzir
vitoriosamente a guerra civil e, por isso, o III Congresso da Internacional
Comunista chama a atenção dos Partidos Comunistas de todos os países para o perigo
que representa a estratégia instruída da classe dominante e possuidora e para
os defeitos da estratégia da classe operária em luta pelo poder. Os
acontecimentos de março na Alemanha mostraram o grande perigo que existe em
deixar o inimigo empurrar para a luta, com sua astúcia, as primeiras fileiras
da classe operária, a vanguarda comunista do proletariado, antes que as grande
massas estejam em movimento. A Internacional Comunista saúda com satisfação o
fato de centenas de milhares de operários da Alemanha terem ido em auxílio aos
operários da Alemanha Central ameaçado de todos os lados. É no espírito de
solidariedade, na sublevação do proletariado de todos os países para a proteção
de uma parte ameaçada que a Internacional Comunista vê o caminho da vitória.
Ela saúda o fato de o Partido Comunista Unificado da Alemanha ter-se colocado à
frente das massas operárias que acorreram para defender seus irmãos ameaçados.
Mas, ao mesmo tempo, a Internacional Comunista considera como um dever dizer
franca e claramente aos operários de todos os países: mesmo que a vanguarda não
possa evitar o confronto, mesmo que essas lutas levem à mobilização de toda a
classe operária, esta vanguarda não poderá esquecer que ela não deve ir sozinha
e isolada para as lutas decisivas, que não pode ser constrangida a ir isolada
para o combate, ela deve evitar o choque armado com o inimigo, pois a única
fonte de vitória do proletariado sobre as guardas-brancas armadas é a massa. Se
a vanguarda não avança em massa dominando o inimigo, deve evitar, minoria
desarmada, de entrar em luta armada contra o inimigo. Os combates de março
forneceram uma lição sobre a qual a Internacional Comunista chama a atenção dos
proletários de todos os países. É preciso preparar as massas operárias para as
lutas iminentes, para uma agitação revolucionária ininterrupta, cotidiana,
intensa e vasta; é preciso entrar no combate com as palavras de ordem claras e
compreensíveis para as grandes massas proletárias. À estratégia do inimigo é
preciso opor uma estratégia prudente e refletida. A vontade de combate nas
fileiras da vanguarda, sua coragem e firmeza, não são suficientes. A luta deve
ser preparada, organizada, de maneira que apareça a eles como a luta por seus
interesses mais essenciais e de maneira que os mobilize imediatamente. Quanto
mais o capital mundial se sentir em perigo, mais tentará tornar impossível a
vitória da Internacional Comunista, isolando suas primeiras fileiras do
restante das grandes massas e, com isso, derrotando-a. A esse plano, a esse
perigo, é preciso contrapor uma agitação vasta e intensa das massas, conduzidas
pelos Partidos Comunistas, um trabalho de organização enérgico, através do qual
esses partidos assegurarão sua influência sobre as massas, uma fria apreciação
da situação do combate, uma tática refletida que deverá evitar a luta com
forças superiores e desfechar o ataque nas situações em que o inimigo estiver
dividido e a massa unida.
O III Congresso da Internacional Comunista sabe que a classe
operária não parará de formar Partidos Comunistas capazes de cair como um raio
sobre o inimigo no momento em que estiver mais oprimida, e evitar esse ataque
quando ele estiver em situação melhor, sabe que ela aprenderá com a experiência
das lutas. É, portanto, dever dos proletários de todos os países tentar
compreender e utilizar todas as lições, todas as experiências adquiridas pela
classe operária de um país às custas de grandes sacrifícios.
Manter
a Disciplina de Combate!
Os Partidos Comunistas de todos os países e a classe
operária não devem se preparar para um período de agitação e organização, eles
devem, ao contrário, se preparar para as grandes lutas que logo o capital
imporá ao proletariado para esmagá-lo e para fazê-lo carregar o peso de sua
política. Nessa luta, os Partidos Comunistas devem forjar uma disciplina de
combate severa e estrita. Os comitês centrais desses Partidos devem considerar
friamente e com reflexão todos os ensinamentos da luta, devem observar o campo
de batalha, concentrar sua maior reflexão no élan das massas. Devem forjar seu
plano de combate, sua linha tática com todo o espírito do Partido e levando em
consideração as críticas dos camaradas. Mas todas as organizações do Partido
devem seguir sem hesitação a linha prescrita pelo Partido. Cada palavra, cada
medida das organizações do Partido, devem estar subordinadas a esse objetivo.
As frações parlamentares, a imprensa do Partido, as organizações devem, sem
hesitação, seguir a ordem da direção do Partido.
A revisão mundial das fileiras da vanguarda comunista está
terminada. Ela mostrou que o Comunismo é uma potência mundial. Ela mostrou que
a Internacional Comunista deve também formar e instruir grandes exércitos do
proletariado, mostrou que grandes lutas são iminentes para esses exércitos, ela
anuncia a vitória do proletariado mundial e como se deve preparar e conquistar
essa vitória. Cabe aos Partidos Comunistas de todos os países fazer tudo para
que as decisões do Congresso, ditadas pela experiência do proletariado mundial,
formem a consciência geral dos comunistas de todos os países, a fim de que os
proletários comunistas, homens e mulheres, possam agir em suas lutas futuras
como os chefes de milhares de proletários não-comunistas.
Viva a Internacional Comunista! Viva a Revolução Mundial!
Ao trabalho para a preparação e organização da nossa
vitória!
O Comitê Executivo da Internacional Comunista.
Alemanha:
Heckert, Froelich; França: Souvarine; Tchecoslováquia: Bourian, Krcibich;
Itália: Terracini, Gennari; Rússia: Zinoviev, Bukharin, Radek, Lênin, Trotsky;
Ucrânia: Choumsky; Polônia: Warski; Bulgária: Popov; Iugoslávia: Markovicz;
Noruega: Schefflo; Inglaterra: Bell; América: Baldwin; Espanha: Merino, Gracia;
Finlândia: Sirola; Holanda: Jansen; Bélgica: Van Overstraeten; Suécia:
Tschilbum; Letônia: Stoutchka; Suíça: Arnhold; Áustria: Korislchoner; Hungria:
Bela Kun.
Comitê Executivo da Internacional dos Jovens: Munzenberg,
Lekai.
Moscou, 17
de Julho de 1921
Princípios
Gerais
1. O 3º Congresso da Internacional Comunista, juntamente com
a 2ª Conferência das Mulheres Comunistas, confirma a opinião do 1º e 2º
Congressos relativamente à necessidade, para todos os Partidos Comunistas do
Ocidente e do Oriente, de reforçar o trabalho entre o proletariado feminino, em
particular a educação comunista das grandes massas de operárias que devem
entrar na luta pelo poder dos sovietes e pela organização da República Operária
Soviética.
Para a classe operária do mundo inteiro e, consequentemente,
para os operários, a questão da ditadura do proletariado é primordial.
A economia capitalista se encontra num impasse. As forças
produtivas não podem mais se desenvolver nos limites do regime capitalista. A
impotência da burguesia atrasou a indústria, aumentou a miséria das massas
trabalhadoras, fez crescer a especulação, acelerou a decomposição da produção,
o desemprego, a instabilidade dos preços, o custo de vida desproporcional aos
salários, provocou um recrudescimento da luta de classes em todos os países.
Nessa luta, é sobretudo a questão de saber quem deve organizar a produção, se
um punhado de burgueses e exploradores sobre as bases do capitalismo e da
propriedade privada, ou a classe dos verdadeiros produtores sobre a base comunista.
A nova classe ascendente, a classe dos verdadeiros
produtores, deve, conforme as leis do desenvolvimento econômico, tomar nas mãos
o aparelho de produção e criar novas formas econômicas. Somente assim se poderá
dar o máximo desenvolvimento às forças produtivas que a anarquia da produção
capitalista impede de dar a todo o rendimento de que elas são capazes.
Enquanto o poder estiver nas mãos da classe burguesa, o
proletariado será impotente para restabelecer a produção. Nenhuma reforma,
nenhuma medida, proposta pelos governos democráticos ou socialistas dos países
burgueses, serão capazes de salvar a situação e minorar os sofrimentos
insuportáveis dos operários, pois esses sofrimentos são um efeito natural da
ruína do sistema econômico capitalista e persistirão enquanto o poder estiver
nas mãos da burguesia. Só a conquista do poder pelo proletariado permitirá á
classe operária se apoderar dos meios de produção e assegurar assim a
possibilidade de restabelecimento da economia em seu próprio interesse.
Para adiantar a hora do enfrentamento decisivo do
proletariado com o mundo burguês agonizante, a classe operária deve se
conformar à tática firme e intransigente preconizada pela Terceira
Internacional. A realização da ditadura do proletariado deve ser a ordem do
dia. Eis o objetivo que deve definir os métodos de ação e a linha de conduta do
proletariado dos dois sexos.
Partindo do princípio de que a luta pela ditadura do
proletariado está na ordem do dia e que a construção do comunismo é a tarefa
atual nos países em que a ditadura já está nas mãos dos operários, o 3°
Congresso da Internacional Comunista declara, que, tanto a conquista do poder
pelo proletariado como a realização do comunismo nos países em que eles já se
livraram da opressão burguesa, não serão cumpridas sem o apoio ativo da massa
feminina do proletariado e semiproletariado.
De outra parte, o Congresso chama mais uma vez a atenção das
mulheres para o fato de que, sem o apoio dos Partidos Comunistas, as
iniciativas pela libertação das mulheres, o reconhecimento de sua igualdade
pessoal completa e a sua libertação verdadeira não são realizáveis.
2. O interesse da classe operária exige, nesse momento, com
uma força particular, a entrada das mulheres nas fileiras organizadas do
proletariado que combate pelo comunismo; ele o exige, na medida em que a ruína
econômica mundial se torna mais intensa e intolerável para toda a população
pobre das cidades e do campo, e na medida em que, para a classe operária dos
países burgueses capitalistas, a revolução social se impõe inevitavelmente,
enquanto o povo trabalhador da Rússia Soviética se detém na tarefa de
reconstruir a economia nacional sobre as novas bases comunistas. Essas duas
tarefas serão mais facilmente realizadas se as mulheres participarem ativamente
de forma consciente e voluntária.
3. Em todos os lugares em que a questão da conquista do
poder surgir diretamente, os Partidos Comunistas deverão saber apreciar o
grande perigo que representa para a revolução as massas inertes dos operários
sem experiência nos movimentos econômicos, dos empregados, dos camponeses
presos a concepções burguesas, da Igreja e dos preconceitos e sem ligação com o
grande movimento de libertação que é o comunismo. As grandes massas femininas
do Oriente e do Ocidente, não experimentadas nesses movimentos, constituem,
inevitavelmente, um apoio para a burguesia e um objeto para sua propaganda
contra-revolucionária. A experiência da revolução húngara, ao longo da qual a
consciência das massas femininas jogou um papel tão triste, deve servir de
advertência ao proletariado dos países atrasados que estão entrando no caminho
da revolução social.
A prática da República Soviética mostrou o quanto é
essencial a participação da operária e da camponesa, tanto na defesa da
República durante a guerra civil, como em todos os domínios da organização
soviética. Sabe-se a importância do papel que as operárias e as camponesas já
desempenharam na República Soviética, na organização da defesa, no reforço da
retaguarda, na luta contra a deserção e contra todas as formas de
contra-revolução, de sabotagem etc.
A experiência da República Operária deve ser aproveitada e
utilizada nos outros países.
De tudo o que acabamos de dizer, resulta a tarefa imediata
dos Partidos Comunistas: estender a influência do Partido e do comunismo às
vastas camadas da população feminina de seu país, através de um órgão especial
do Partido e de métodos particulares, permitindo abordar mais facilmente as
mulheres para livrá-las da influência das concepções burguesas e da ação dos
partidos coalizacionistas, para fazer delas verdadeiros combatentes pela
libertação total da mulher.
4. Impondo aos Partidos Comunistas do Ocidente e do Oriente
a tarefa imediata de reforçar o trabalho do Partido entre o proletariado
feminino, o 3º Congresso da Internacional Comunista mostra, ao mesmo tempo, ás
operárias do mundo inteiro, que sua libertação da injustiça secular, da
escravidão e da desigualdade, só se realizará com a vitória do comunismo.
O que o comunismo pode dar às mulheres, o movimento feminino
burguês não poderá dar. Durante o tempo em que existir a dominação do capital e
a propriedade privada, a libertação da mulher é impossível.
O direito ao voto não suprime a causa primeira da submissão
da mulher dentro da família e da sociedade e não lhe dá solução para o problema
das relações entre os dois sexos. A igualdade não formal, mas real, da mulher
só é possível num regime em que ela seja a dona de seus instrumentos de
produção e repartição, tomando parte da administração e trabalhando em
igualdade com os homens, em outros termos, essa igualdade só será realizada com
a derrota do sistema capitalista e sua substituição pelas formas econômicas
comunistas.
O comunismo criará uma situação na qual a função natural da
mulher, a maternidade, não entrará em conflito com as obrigações sociais e não
impedirá seu trabalho produtivo em proveito da coletividade. Mas o comunismo é,
ao mesmo tempo, o objetivo final de todo o proletariado. Consequentemente, a
luta do operário e da operária para esse fim comum deve, no interesse de ambos,
ser conduzida em comum e inseparavelmente.
5. O 3º Congresso da Internacional Comunista confirma os
princípios fundamentais do marxismo revolucionário, seguindo aqueles pontos
"especialmente femininos"; toda relação da operária com o feminismo
burguês, assim como todo apoio dado por ela à tática de meias-medidas e franca
traição dos social-coalizacionistas e dos oportunistas só enfraquecem as forças
do proletariado, retardando a revolução social e impedindo, ao mesmo tempo, a
realização do comunismo, isto é, a libertação da mulher.
Chegaremos ao comunismo pela união na luta de todos os
explorados e não pela união das forças femininas de classes opostas.
As massas proletárias femininas devem, em seu próprio
interesse, sustentar a tática revolucionária do Partido Comunista e participar
ativamente das ações de massa e da guerra civil sob todas as suas formas e
aspectos, tanto no plano nacional como internacional.
6. A luta da mulher contra sua dupla opressão: o capitalismo
e a dependência da família e do marido deve tomar, na fase que se aproxima, um
caráter internacional transformando-se em luta do proletariado dos dois sexos
pela ditadura e o regime soviético sob a bandeira da III Internacional.
7. Dissuadindo as operárias de todos os países a qualquer
colaboração e coalizão com as feministas burguesas, o 3º Congresso da
Internacional Comunista previne, ao mesmo tempo, que todo apoio dado por elas à
II Internacional ou aos elementos oportunistas que venham a se aproximar só
pode fazer grande mal ao movimento. As mulheres devem sempre se lembrar que sua
escravidão tem suas raízes no regime burguês. Para acabar com essa escravidão,
é preciso passar para uma nova ordem social.
Apoiando as Internacionais 2 e 2 1 e os grupos análogos, paralisa-se o
desenvolvimento da revolução, impede-se, consequentemente, a transformação
social, adiando a hora da libertação da mulher.
Quanto mais as massas feministas se afastarem com decisão e
sem possibilidade de retorno da II Internacional e da Internacional 2 1, mais a vitória da revolução social
estará assegurada. O dever das mulheres comunistas é condenar todos aqueles que
temem a tática revolucionária da Internacional Comunista e se aplicar
firmemente em exclui-los das fileiras cerradas da Internacional Comunista.
As mulheres devem também se lembrar que a II Internacional
sequer tentou criar uma organização destinada à luta pela libertação da mulher.
A união internacional das mulheres socialistas, na medida em que existe, foi
estabelecida fora dos limites da II Internacional, pela iniciativa das próprias
operárias.
A III Internacional formulou claramente, desde seu primeiro
congresso, em 1919, sua atitude sobre a questão da participação das mulheres na
luta pela ditadura, por sua iniciativa e com sua participação foi convocada a
primeira Conferência das Mulheres Comunistas e, em 1920, foi fundado o
Secretariado Internacional para a propaganda entre as mulheres, com
representação permanente no Comitê Executivo da Internacional Comunista. O
dever das operárias conscientes é romper com a II Internacional e com a
Internacional 2 1 e sustentar firmemente a política
revolucionária da Internacional Comunista.
8. O apoio que darão à Internacional Comunista as operárias
e empregadas deve se manifestar primeiramente nas fileiras dos Partidos
Comunistas de seus países. Nos países e nos Partidos em que a luta entre a II e
a III Internacional ainda não está terminada, o dever das operárias é
sustentar, com todas as suas forças, o partido ou grupo que segue a política da
Internacional Comunista e lutar impiedosamente contra todos os elementos
hesitantes ou abertamente traidores, sem atribuir a eles a menor autoridade. As
mulheres proletárias conscientes que lutam por sua libertação não devem permanecer
num partido que não esteja filiado à Internacional Comunista.
Todo adversário da III Internacional é um inimigo da
libertação da mulher.
Cada operária consciente do Ocidente e do Oriente deve se
alinhar sob a bandeira revolucionária da Internacional Comunista. Toda
hesitação das mulheres no sentido de derrotar os grupos oportunistas ou as
autoridades reconhecidas retarda as conquistas do proletariado sobre o terreno
da guerra civil, que assume o caráter de uma guerra civil mundial.
Métodos
de Ação entre as Mulheres
Partindo dos princípios acima indicados, o 3° Congresso da
Internacional Comunista estabelece que o trabalho entre as mulheres proletárias
deve ser levado pelos Partidos Comunistas de iodos os países sobre as bases
seguintes:
1. Admitir as mulheres como membros iguais em direito e
deveres em todos os outros Partidos e em todas as organizações proletárias
(sindicatos, cooperativas, conselhos de antigos funcionários de usinas etc.).
2. Perceber a importância que existe em fazer as mulheres
participarem ativamente de todos os planos da luta do proletariado (inclusive a
defesa militar), da edificação de novas bases sociais, da organização da
produção e da existência segundo os princípios comunistas.
3. Reconhecer a maternidade como uma função social, aplicar
todas as medidas necessárias à defesa da mulher na sua condição de mãe.
Declarando-se energicamente contra toda espécie de
organização em separado das mulheres no seio do Partido, sindicatos ou outras
associações operárias, o 3º Congresso da Internacional Comunista reconhece a
necessidade, para o Partido Comunista, de empregar métodos particulares de
trabalho entre as mulheres e estima útil formar em todos os Partidos Comunistas
órgãos especiais encarregados desse trabalho.
Nesse aspecto, o Congresso foi guiado pelas seguintes
considerações:
a) A servidão familiar da mulher não apenas nos países
burgueses capitalistas, mas também nos países onde já existe o regime
soviético, na fase da transição do capitalismo ao comunismo.
b) A grande passividade e o estado de atraso político das
massas femininas, defeitos explicáveis pelo distanciamento secular da mulher da
vida social e por sua escravidão na família.
c) As funções especiais impostas à mulher pela natureza,
isto é, a maternidade e as particularidades que daí decorrem para a mulher, com
a necessidade de maior proteção de suas forças e sua saúde no interesse de toda
a sociedade.
Esses órgãos para o trabalho entre as mulheres devem ser
seções ou comissões que funcionem próximos aos Comitês do Partido, a começar
pelo distrito. Esta decisão é obrigatória para todos os partidos filiados à
Internacional Comunista.
O 3º Congresso da Internacional Comunista indica como tarefa
dos Partidos Comunistas a serem cumpridas através das seções pelo trabalho
entre as mulheres:
1. Educar as grande massas femininas no espírito do
comunismo e levá-las às fileiras do Partido.
2. Combater os preconceitos relativos às mulheres nas massas
do proletariado masculino, reforçando no seu espírito o ideal de solidariedade
dos interesses dos proletários de ambos os sexos.
3. Afirmar a vontade da operária utilizando-a na guerra
civil sob todas as formas e aspectos, despertar sua atividade fazendo-a
participar das ações de massas, da luta contra a exploração capitalista nos
países burgueses (contra a carestia, a crise de habitação e o desemprego), na
organização da economia comunista e da existência em geral nas repúblicas
soviéticas.
4. Colocar na ordem do dia do Partido e instituições
legislativas as questões relativas à igualdade da mulher e sua diferença como
mulher.
5. Lutar sistematicamente contra a influência da tradição,
dos costumes burgueses e da religião, a fim de preparar o terreno para relações
mais sadias e harmoniosas entre os sexos e a saúde moral e física da humanidade
trabalhadora.
Todo o trabalho das seções femininas deverá ser feito sob a
responsabilidade dos comitês do Partido.
Entre os membros da comissão ou da direção das seções,
deverão figurar também, na medida do possível, camaradas comunistas homens.
Todas as medidas e todas as tarefas que se impõem às
comissões e seções dos operários deverão ser realizadas por elas de uma maneira
independente, mas, no pais dos Sovietes, por intermédio dos órgãos econômicos
ou políticos respectivos (seções dos Sovietes, Comissariados, Comissões,
Sindicatos etc.) e nos países capitalistas com a ajuda dos órgãos
correspondentes do proletariado (sindicatos, conselhos etc.).
Onde os Partidos Comunistas têm uma existência legal ou
semi-legal, eles devem formar um aparelho legal para o trabalho entre as
mulheres. Este aparelho deve estar subordinado e adaptado ao aparelho ilegal do
partido em seu conjunto. Lá, como no aparelho legal, cada Comitê deve
compreender uma camarada encarregada de dirigir a propaganda ilegal entre as
mulheres.
No período atual, os sindicatos profissionais e de produção
devem ser para os Partidos Comunistas o terreno fundamental do trabalho entre
as mulheres, tanto nos países onde a luta pela reversão do jugo capitalista não
está ainda terminada, como nas repúblicas operárias soviéticas.
O trabalho entre as mulheres deve ser levado segundo o
seguinte espírito: Unidade na linha política e na estrutura do partido, livre
iniciativa das comissões e das seções cm tudo o que possa levar a mulher à sua
completa libertação e igualdade, o que não só será plenamente atingido pelo
Partido como um todo. Não se trata de criar um paralelismo, mas complementar os
esforços do Partido para as iniciativas e atividades criativas das mulheres.
O
Trabalho Político do Partido entre as Mulheres nos Países de Regime Soviético.
O papel das seções nas repúblicas soviéticas consiste em
educar as massas femininas no espírito do comunismo, levando-as para as
fileiras do Partido Comunista; consiste ainda em desenvolver a atividade, a
iniciativa da mulher, levando-a ao trabalho de construção do comunismo e
fazendo dela uma firme defensora da Internacional Comunista.
As seções devem, por todos os meios, permitir a participação
feminina em todos os campos da organização soviética, desde a defesa militar da
República até os planos econômicos mais complicados.
Na República Soviética, as seções devem velar pela aplicação
das decisões do 3º Congresso dos Sovietes concernentes à participação das
operárias e camponesas na organização e construção da economia nacional, bem
como em todos os órgãos dirigentes, administrativos, controlando e organizando
a produção.
Por intermédio de seus representantes e pelos órgãos do
Partido, as seções devem colaborar na elaboração de novas leis e na modificação
daquelas que devem ser transformadas, tendo em vista a libertação real da
mulher. As seções devem dar prova de iniciativa para o desenvolvimento de
legislação que proteja o trabalho da mulher e dos menores.
As seções devem levar o maior número possível de operárias e
camponesas para a eleição dos Sovietes e velar para que elas sejam eleitas para
os Comitês Executivos.
As seções devem favorecer o sucesso de todas as campanhas
políticas e econômicas levadas pelo Partido.
É também papel das seções velar pelo aperfeiçoamento e
especialização do trabalho feminino, pela expansão do ensino profissional,
facilitando às operárias e camponesas o acesso aos estabelecimentos
correspondentes.
As seções observarão para que se dê a entrada das operárias
fias comissões para a proteção do trabalho nas empresas, reforçando a atividade
das comissões de seguro e proteção da maternidade e da infância.
As seções facilitarão o desenvolvimento de uma rede de
estabelecimentos públicos como creches, lavanderias, oficinas de consertos,
instituições de existência sobre as novas bases comunistas, que aliviarão para
as mulheres o fardo da época de transição, levarão sua independência material e
farão da escrava doméstica e familiar uma colaboradora livre e criadora de
novas formas de vida.
As seções deverão facilitar a educação dos membros femininos
dos sindicatos no espírito do comunismo por intermédio de organizações para o
trabalho entre as mulheres, constituídas pelas frações comunistas dos
sindicatos.
As seções velarão para que as operárias assistam
regularmente às reuniões dos delegados de usinas e de fábricas.
As seções repartirão sistematicamente os delegados do
Partido como estagiários nos diferentes ramos de trabalho: sovietes, economia
nacional, sindicatos.
NOS
PAÍSES CAPITALISTAS
As tarefas imediatas das comissões para o trabalho entre as
mulheres estão determinadas por condições objetivas. De uma parte, a ruína da
economia mundial, o agravamento prodigioso do desemprego, apresentando como
conseqüências particulares a diminuição da demanda de mão-de-obra feminina e
aumentando a prostituição, o custo de vida, a crise de habitação, a ameaça de
novas guerras imperialistas; de outra parte, as incessantes greves econômicas
cm todos os países, as tentativas de sublevação armada do proletariado, a
atmosfera cada vez mais sufocante da guerra civil se estendendo pelo mundo
inteiro, tudo isso aparece como prólogo da inevitável revolução social mundial.
As comissões femininas devem levar adiante as tarefas de
combate do proletariado, levar a luta pelas reivindicações do Partido
Comunista, devem fazer a mulher participar de todas as manifestações
revolucionárias dos comunistas contra a burguesia e os socialistas
coalizacionistas.
As comissões velarão para que não somente as mulheres sejam
admitidas com os mesmos direitos e deveres que os homens no Partido, nos
sindicatos e outras organizações operárias da luta de classes, combatendo toda
separação e toda particularização da operária, mas também para que os operários
e operárias sejam eleitos igualmente nos órgãos dirigentes dos sindicatos e
cooperativas.
As comissões ajudarão as grandes massas do proletariado
feminino e das camponesas a exercerem seus direitos eleitorais não só nas
eleições parlamentares como em outras em favor do Partido Comunista, fazendo
tudo para ressaltar o pouco valor que existe nesses direitos, tanto para o
enfraquecimento da exploração capitalista como para a libertação da mulher,
opondo ao parlamento o regime soviético.
As comissões deverão também velar para que as operárias, as
camponesas e as empregadas participem ativa e conscientemente das eleições dos
sovietes revolucionários, econômicos e políticos de delegados operários. Elas
se esforçarão para estimular a atividade política entre as donas-de-casa e
propagar a idéia dos Sovietes, particularmente entre as camponesas.
As comissões consagrarão maior atenção à aplicação do
princípio de trabalho igual, salário igual.
As comissões deverão levar os operários a essa campanha por
cursos gratuitos e acessíveis a todos e de forma a relevar o valor da mulher.
As comissões devem velar para que as mulheres comunistas
colaborem em todas as instituições legislativas municipais, para preconizar
nesses órgãos a política revolucionária do Partido.
Mas participando nas instituições legislativas, municipais
ou outros órgãos do Estado burguês, as mulheres comunistas devem seguir
estritamente os princípios e a tática do Partido. Elas devem se preocupar não
apenas em obter reformas sob o regime capitalista, mas em transformar todas as
reivindicações das mulheres trabalhadoras em palavras de ordem de maneira a
despertar a atividade das massas e dirigir essas reivindicações para a rota da luta
revolucionária e da ditadura do proletariado.
As comissões devem, nos Parlamentos e nas municipalidades,
permanecer em contato estreito com as frações comunistas e deliberar em comum
sobre todos os projetos etc. relativo às mulheres. As comissões deverão
explicar às mulheres o caráter atrasado e não-econômico do sistema de
negociações isoladas, o defeito da educação burguesa dada às crianças,
agrupando as forças dos operários nas questões da melhoria real da existência
da classe operária, questões suscitadas pelo Partido.
As comissões deverão favorecer a entrada no Partido
Comunista de operárias, membros dos sindicatos, e as frações comunistas desses
últimos deverão destacar para esse objetivo organizadores para o trabalho entre
as mulheres, agindo sob a direção do Partido e as seções locais.
As comissões de agitação entre as mulheres deverão dirigir
sua propaganda de maneira que as mulheres comunistas propaguem nas cooperativas
os ideais comunistas e, chegando à direção dessas cooperativas, consigam influenciar
e ganhar as massas, considerando que essas organizações terão grande
importância como órgãos de distribuição durante e após a revolução. Todo o
trabalho das comissões deve atender a um objetivo único: o desenvolvimento da
atividade revolucionária das massas a fim de chegar à revolução social.
NOS
PAÍSES ECONOMICAMENTE ATRASADOS (O ORIENTE)
O Partido Comunista, de acordo com as seções, deve obter nos
países de fraco desenvolvimento industrial o reconhecimento da igualdade de
direitos e deveres da mulher no Partido, nos sindicatos e outras organizações
da classe operária.
As seções e as comissões devem lutar contra os preconceitos,
os costumes e os hábitos religiosos que pesam sobre a mulher e levar uma
propaganda também entre os homens.
O Partido Comunista e suas seções ou comissões devem aplicar
os princípios da igualdade de direitos da mulher na educação das crianças, nas
relações familiares e na vida pública.
As seções procurarão apoio para o seu trabalho, antes de
tudo na massa de operários que trabalham a domicilio (pequena indústria),
trabalhadores das plantações de arroz, algodão e outras, favorecendo a
formação, em todos os lugares onde seja possível (em primeiro lugar, entre os
povos do Oriente que vivem nos confins da Rússia Soviética), de cooperativas de
produção, cooperativas da pequena indústria, facilitando a entrada de operários
das plantações nos sindicatos.
A elevação do nível geral de cultura das massas é um dos
melhores meios de lula contra a rotina e os preconceitos religiosos existentes
no país. As comissões devem também favorecer o desenvolvimento de escolas para
adultos e para crianças, facilitando o acesso das mulheres à educação. Nos
países burgueses, as comissões devem fazer uma agitação direta contra a
influência burguesa nas escolas.
Em todos os lugares em que for possível, as seções e as
comissões devem promover a propaganda a domicílio, organizar clubes de
operários e atrair para os clubes, os elementos femininos mais atrasados. Os
clubes devem ser focos de cultura e instrução, organizações modelo mostrando o
que a mulher pode fazer por sua própria libertação e independência (organização
de creches, jardins de infância, escolas primárias para adultos etc.).
Entre os povos nômades, deve-se organizar clubes ambulantes.
As seções devem, em conjunto com os Partidos, nos países de
regime soviético, contribuir para facilitar a transição da forma econômica
capitalista para a forma de produção comunista colocando o operário diante da
realidade evidente de que a economia doméstica e a família, tal como elas se
apresentam, só podem escravizá-los, enquanto o trabalho coletivo é a sua
libertação.
Entre os povos orientais da Rússia Soviética, as seções
devem velar para que seja aplicada a legislação soviética, igualando os direitos
da mulher aos do homem e defendendo a primeira em seus interesses. Com esse
objetivo, as seções devem facilitar às mulheres o acesso às funções de jurados
nos tribunais populares.
As seções devem igualmente fazer as mulheres participarem
das eleições dos Sovietes e velar para que as operárias e camponesas participem
dos Sovietes e dos Comitês Executivos. O trabalho entre o proletariado feminino
do Oriente deve ser conduzido segundo a plataforma da luta de classes. As
seções revelarão a impossibilidade das feministas encontrarem solução para as
diferentes questões da libertação da mulher; elas utilizarão as forças
intelectuais femininas (por exemplo, as professoras) para a expansão da
instrução nos países soviéticos do Oriente. Evitando sempre ataques grosseiros
e sem tato às crenças religiosas e às tradições nacionais, as seções e as
comissões que trabalham entre as mulheres do Oriente deverão lutar com clareza
contra a influência do nacionalismo e da religião sobre os espíritos.
Toda organização de operários deve se basear, no Oriente
como no Ocidente, não na defesa dos interesses nacionais, mas no plano de união
do proletariado internacional de ambos os sexos nas tarefas comuns de classe.
A questão do trabalho entre as mulheres do Oriente, sendo de
grande importância e, ao mesmo tempo, apresentando um novo problema para os
Partidos Comunistas, deve ser detalhado por uma instrução especial sobre os
métodos de trabalho entre as mulheres do Oriente, adequado às condições dos
países orientais. A Instrução será juntada às teses.
MÉTODOS
DE AGITAÇÃO E PROPAGANDA
Para cumprir a missão fundamental das seções, isto é, a
educação comunista das grandes massas femininas do proletariado e o
fortalecimento dos quadros de campeões do comunismo, é indispensável que todos
os Partidos Comunistas do Oriente e do Ocidente assimilem o princípio
fundamental do trabalho entre as mulheres que é o seguinte: "agitação e
propaganda efetivas".
Agitação efetiva significa, antes de tudo, ação para despertar
a iniciativa da operária, destruir sua falta de confiança em suas próprias
forças e, conduzindo-a ao trabalho prático de organização e luta, levá-la a
compreender pela realidade que toda conquista do Partido Comunista, toda ação
contra a exploração capitalista é um progresso para a melhoria da situação da
mulher. "Da prática à ação, ao reconhecimento do ideal comunista e seus
princípios teóricos", tal é o método com que os Partidos Comunistas e suas
seções femininas devem abordar as operárias.
Para serem realmente órgãos de ação e não apenas de
propaganda oral, as seções femininas devem se apoiar nos núcleos comunistas das
empresas e fábricas e designar, em cada núcleo comunista, um organizador
especial do trabalho entre as mulheres da empresa ou fábrica.
As seções deverão se relacionar com os sindicatos por
intermédio de seus organizadores, designados pela fração comunista do
sindicato, e realizar seu trabalho sob a direção das seções.
A propaganda efetiva dos ideais comunistas consiste, na
Rússia dos Sovietes, em fazer a operária, a desempregada e a empregada entrarem
em todas as organizações soviéticas, começando pelo exército e pela milícia e
em todas as instituições visando à libertação da mulher: alimentação pública,
educação social, proteção da maternidade etc. Uma tarefa particularmente
importante é a restauração econômica sob todas as suas formas, da qual é
fundamental a participação da operária.
A propaganda efetiva nos países capitalistas deverá, antes
de tudo, levar as operárias a participarem das greves, manifestações e da
insurreição sob todas as suas formas, que temperam e elevam a vontade e a
consciência revolucionárias, em todas as formas de trabalho ilegal
(particularmente nos serviços de ligação) na organização de sábados e domingos
comunistas, para os quais as operárias simpatizantes e as empregadas aprenderão
a se tornar úteis ao Partido pelo trabalho voluntário.
O princípio da participação das mulheres em todas as
campanhas políticas, econômica ou morais empreendidas pelo Partido Comunista
serve igualmente aos objetivos da propaganda efetiva. Os órgãos de propaganda
entre as mulheres, próximos ao Partido Comunista, devem estender sua atividade
às categorias mais numerosas de mulheres socialmente exploradas e presas nos
países capitalistas e, entre as mulheres dos Estados soviéticos, livrar seu
espírito preso por superstições e resquícios da velha ordem social. Eles
deverão se prender a todas as suas necessidades e sofrimentos, a todos os seus
interesses e reivindicações, pelo que as mulheres perceberão que o capitalismo
deverá ser esmagado como seu Inimigo mortal e que as vias deverão se
franqueadas ao comunismo, sua libertação.
As seções devem realizar metodicamente sua agitação e sua
propaganda pela palavra, organizando reuniões nas fábricas e reuniões públicas,
seja para as empregadas de diferentes ramos da indústria, seja para as
donas-de-casa e trabalhadoras de todas as categorias, por quarteirão, bairros
da cidade etc.
As seções devem velar para que as frações comunistas dos
sindicatos, das associações operárias, das cooperativas, elejam organizadores e
agitadores especiais para fazer o trabalho comunista nas massas femininas dos
sindicatos, cooperativas, associações. As seções devem velar para que nos
Estados Soviéticos, as operárias sejam eleitas para os conselhos de indústria e
todos os órgãos encarregados da administração, controle e direção da produção.
Enfim, as operárias devem ser eleitas para todas as organizações que, nos
países capitalistas, servem às massas exploradas e oprimidas em sua luta para a
conquista do poder político ou, nos Estados Soviéticos, que servem à defesa da
ditadura do proletariado e à realização do comunismo.
As seções devem delegar mulheres comunistas provadas nas
indústrias, colocando-as como operárias ou como empregadas nos locais onde um
grande número de mulheres trabalhem, tal como é praticado na Rússia Soviética;
instalam-se assim essas camadas nas grandes circunscrições e centros
proletários.
Seguindo o exemplo do Partido Comunista da Rússia Soviética,
que organiza reuniões de delegadas e conferências de delegadas sem partido, que
sempre têm um sucesso considerável, as seções femininas dos países capitalistas
devem organizar reuniões públicas de operárias, trabalhadoras de todo tipo, camponesas,
donas-de-casa, reuniões que tratem das necessidades e reivindicações das
mulheres trabalhadoras e que devem eleger comitês ad hoc, aprofundar as
questões levantadas em contato permanente com seus mandatários e as seções
femininas do Partido. As seções devem enviar seus oradores para participarem
das discussões nas reuniões dos partidos hostis ao comunismo.
A propaganda e a agitação em reuniões e outras instituições
similares devem ser completadas por uma agitação metódica e prolongada nas
casas. Todo comunista encarregado desta tarefa deverá visitar as mulheres em
suas casas, mas deverá fazê-lo regularmente ao menos uma vez por semana e a
cada ação importante dos Partidos Comunistas e das massas proletárias.
As seções devem criar e preparar uma literatura simples,
conveniente; brochuras e folhetos para exortar e agrupar as forças femininas.
As seções devem velar para que as mulheres comunistas
utilizem da maneira mais ativa todas as instituições e meios de instrução do
Partido. A fim de aprofundar a consciência e temperar a vontade das comunistas
ainda atrasadas e das mulheres trabalhadoras, levando-as à atividade, as seções
devem convidá-las para os cursos e discussões do Partido. Cursos separados,
sessões de leitura e discussão, só para as operárias, podem ser organizados
somente em casos excepcionais.
A fim de desenvolver o espírito de camaradagem entre
operárias e operários, é desejável não criar cursos e escolas especiais para as
mulheres comunistas: em cada escola do Partido, deve, obrigatoriamente, haver
um curso sobre os métodos de trabalho entre as mulheres. As seções têm o
direito de delegar um certo número de suas representantes aos cursos gerais do
Partido.
ESTRUTURA
DAS SEÇÕES
Serão organizadas para o trabalho entre as mulheres próximas
aos comitês regionais e de distrito e, enfim, próximas ao Comitê Central do
Partido.
Cada país escolhe os membros da seção. O mesmo se aplica aos
partidos dos diferentes países aos quais é dada a liberdade de lixar, segundo
as circunstâncias, o número de membros da seção apontados pelo Partido.
A direção da seção deverá ser, ao mesmo tempo, do Comitê
local do Partido. No caso de não haver essa acumulação, ela deverá caber a
todas as assembléias do Comitê com voz deliberativa sobre as questões
concernentes à seção das mulheres e com voz consultiva sobre as demais
questões.
Além das tarefas gerais já enumeradas, que cabem às seções e
comissões locais, elas serão encarregadas das seguintes funções: manutenção da
ligação entre as diferentes seções da região e com a seção central, reuniões de
informação sobre a atividade das seções e comissões da região, intercâmbio de
informações entre as diferentes seções da região e com a seção central,
reuniões de informação sobre a atividade das seções e comissões da região ou
província; distribuição das forças de agitação, mobilização das forças do
Partido para o trabalho entre as mulheres, convocação de conferências regionais
de mulheres comunistas no mínimo duas vezes por ano, com representantes de
seções a razão de duas por seção, enfim organização de conferências de
operárias e camponesas sem partido.
As seções regionais (de província) se compõem de cinco a
sete membros, os membros do Bureau são nomeados pelo Comitê correspondente do
Partido, sob apresentação á direção da seção; esta é eleita da mesma forma que
os outros membros do comitê distrital ou provincial para a conferência
correspondente do Partido.
Os membros das seções ou comissões são eleitos para a
conferência geral da cidade, do distrito ou da província, ou ainda são
designados pelas seções respectivas em contato com o Comitê do Partido. A
Comissão Central para o trabalho entre as mulheres se compõe de dois a cinco
membros entre os quais um ao menos e pago pelo Partido.
Além das funções enumeradas acima para as seções regionais,
a Comissão Central terá ainda as seguintes tarefas: instruções a serem dadas
aos militantes da localidade, controle do trabalho das seções, repartição, em
contato com os órgãos correspondentes do Partido, das forças para o trabalho
entre as mulheres, controle por intermédio de seu representante ou encarregado
das condições e desenvolvimento do trabalho feminino em torno das
transformações jurídicas ou econômicas necessárias na situação das mulheres,
participação dos representantes, dos encarregados, nas comissões especiais,
estudando a melhoria das condições de vida da classe operária, da proteção do
trabalho, da infância etc., publicação de uma "folha" central e
redação de jornais periódicos para as operárias, convocação ao menos uma vez
por ano dos representantes de todas as seções provinciais, organização de
excursões de propaganda por todo o país, envio de instrutores do trabalho entre
as mulheres, treinamento das operárias para participarem em todas as seções das
campanhas políticas e econômicas do Partido, ligação permanente com o
Secretariado Internacional das Mulheres Comunistas e celebração anual do Dia
Internacional da Operária.
Se a direção da seção das mulheres ligada ao Comitê Central
não é membro desse Comitê, ela tem o direito de assistir a todas as sessões com
voz deliberativa sobre as questões relativas à seção e com voz consultiva nas
demais questões. Ela é, ou nomeada pelo Comitê Central do Partido ou eleita no
congresso geral desse último. As decisões e as resoluções de todas as comissões
devem ser confirmadas pelo respectivo Comitê do Partido.
O
TRABALHO EM ESCALA INTERNACIONAL
A direção do trabalho dos Partidos Comunistas de todos os
países, a reunião das forças operárias, a solução das tarefas impostas pela
Internacional Comunista e a participação das mulheres de todos os países e
povos na luta revolucionária pelo Poder dos Sovietes e a ditadura da classe
operária em escala mundial, cabem ao Secretariado Internacional Feminino da
Internacional Comunista.
O número de membros da Comissão Central e o número de
membros com voz deliberativa são fixados pelo Comitê Central do Partido.
(Adotado
na sessão de 12 de junho, após o relato da camarada Kollontai e após a emenda
do camarada Zetkin)
A II Conferência Internacional das Mulheres Comunistas
propõe aos Partidos Comunistas de todos os países do Ocidente e do Oriente
elegerem, através de sua Seção Central Feminina, seguindo as diretrizes da III
Internacional, correspondentes internacionais.
O papel da correspondência de cada Partido Comunista é, como
as "diretrizes" indicam, manter relações regulares com as
correspondentes internacionais dos outros países, assim como com o Secretariado
Internacional Feminino de Moscou que é o órgão de trabalho do Executivo da III
Internacional. Os Partidos Comunistas devem fornecer às correspondentes
internacionais todos os meios técnicos e possibilidades de se comunicarem entre
elas e com o Secretariado de Moscou. As correspondentes internacionais se
reunirão uma vez a cada seis meses para deliberar e trocar opiniões com as
representantes do Secretariado Feminino Internacional. Entretanto, em caso de
necessidade, esse último poderá reunir esta conferência a qualquer tempo.
O Secretariado Internacional Feminino cumpre, de acordo com
o Executivo, e em contato estreito com as correspondentes internacionais dos
diferentes países, as tarefas fixadas pelas "direções". E deve,
principalmente, elevar, em cada país, pelo conselho e pela ação, o
desenvolvimento do movimento feminino comunista ainda frágil e dar uma direção
única ao movimento feminino de todos os países do Ocidente e do Oriente,
provocar e orientar, sob a direção e com o apoio enérgico dos comunistas, ações
nacionais e internacionais de natureza a intensificar e a estender a capacidade
das mulheres para a luta revolucionária do proletariado. O Secretariado
Feminino Internacional de Moscou deverá, no Ocidente, ser acrescido de um órgão
auxiliar, a fim de assegurar uma ligação mais estreita e regular com os
movimentos comunistas femininos de todos os países. Este órgão terá que fazer
os trabalhos preparatórios e suplementares para o Secretariado Internacional,
isto é, ele será puramente executivo e não terá o direito de decidir qualquer
questão. Ele está ligado pelas decisões e indicações do Secretariado Geral de
Moscou e do Executivo da Terceira Internacional. Com o órgão auxiliar da Europa
Ocidental, deve colaborar ao menos uma representante do Secretariado Geral.
Para tanto, a constituição e o campo de atividade do
Secretariado não são fixados pela direção essas questões serão reguladas pelo
Executivo da Terceira Internacional, de acordo com o Secretariado Feminino
Internacional, assim como a composição, a forma e o funcionamento do órgão
auxiliar.
(Adotado
na seção de 13 de junho, após o relato da camarada Kollontai)
A II Conferência Internacional das Mulheres Comunistas
declara:
A ruína da economia capitalista e da ordem burguesa repousam
sobre essa economia, assim como o progresso da revolução mundial fazem da luta
revolucionária pela conquista do poder político e pelo estabelecimento da
ditadura uma necessidade cada vez mais vital e imperiosa para o proletariado de
todos os países onde esse regime ainda reina, um dever que não poderá se
cumprir sem que as mulheres trabalhadoras participem dessa luta de uma maneira
consciente, resoluta e devotada.
Nos países onde o proletariado já conquistou o poder de
Estado e estabeleceu sua ditadura sob a forma dos sovietes, como na Rússia e na
Ucrânia, será necessário manter seu poder contra a contra-revolução nacional e
internacional e começar a edificação do regime comunista libertador, deve ser
obra também das mulheres adquirir uma consciência nítida e inquebrantável da
necessidade da defesa e edificação do Estado.
A Segunda Conferência Internacional das Mulheres Comunistas
propõe aos partidos de todos os países, conforme os princípios e decisões da
Terceira Internacional, colocar-se no trabalho com a maior energia, a fim de
despertar as massas femininas, reuni-las, instruí-las no espírito do comunismo
e levá-las às fileiras dos Partidos Comunistas e reforçar constantemente e
resolutamente sua vontade de ação e de luta.
Para chegar a esse objetivo, todos os Partidos da III
Internacional devem formar em iodos os seus órgãos e instituições, a começar
pelos mais inferiores, chegando aos mais elevados, seções femininas presididas
por um membro da direção do partido, cujo objetivo será o trabalho de agitação,
organização e instrução entre as massas operárias femininas, e que terão suas
representantes em todas as formações administrativas e diretivas do partido.
Essas seções femininas não formam organizações separadas; elas são órgãos de
trabalho encarregados de mobilizar e instruir as operárias para a luta e a
conquista do poder político e também para a edificação do comunismo. Elas agem
em todos os domínios e durante todo o tempo sob a direção do partido, mas
possuem também a liberdade de movimento necessária para aplicar os métodos e
formas de trabalho e para criar as instituições que são reclamadas pelas
características especiais da mulher e sua posição particular, sempre
subsistente na sociedade e na família.
Os órgãos femininos dos Partidos Comunistas devem sempre ter
consciência, em sua atividade, do objetivo de sua dupla tarefa:
1) levar as massas femininas, cada vez mais numerosas, mais
conscientes e mais firmemente decididas à luta de classes revolucionária de
todos os oprimidos e explorados contra o capitalismo e pelo comunismo.
2) fazer delas, após a vitória da revolução proletária, as
colaboradoras conscientes e heróicas da edificação comunista. Os órgãos
femininos do partido devem, em sua atividade, perceber que os meios de agitação
e instrução não são os discursos e os escritos, mas que é preciso, igualmente,
apreciar e utilizar como os meios mais importantes: a colaboração das mulheres
comunistas organizadas em todos os domínios da atividade - luta e edificação -
dos Partidos Comunistas; a participação ativa das mulheres operárias em todas
as ações e lutas do proletariado revolucionário, nas greves, insurreições
gerais, demonstrações de rua e revoltas à mão armada.
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