tag:blogger.com,1999:blog-1935059960289428792024-03-18T21:20:37.945-07:00Combate ClassistaTeoria Marxista, Política e História contemporânea.Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.comBlogger75125tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-59915995998424618692022-10-06T03:03:00.014-07:002022-10-06T04:22:10.655-07:00Eleições 2022 no Brasil: breve nota para um balanço crítico<p></p><p class="yiv1575218458ydpf5b85cc8MsoNormal" style="background-color: white; color: #1d2228; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;"><span style="font-family: New serif; font-size: medium;">Alessandro de Moura</span></p><p class="yiv1575218458ydpf5b85cc8MsoNormal" style="background-color: white; color: #1d2228; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;"><br /></p><p align="center" class="yiv1575218458ydpf5b85cc8MsoNormal" style="background-color: white; color: #1d2228; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;"><span style="font-family: New serif;"><span style="font-size: 21.3333px;"><br /></span></span><span style="font-family: "New serif"; font-size: 16pt; line-height: 22.8267px;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><span style="font-family: "New serif"; font-size: 16pt; line-height: 22.8267px;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGIH4AeZOwiZcjEbnZBvQobhpsQ_vHl21UtES9vpoUeF2mxCfvrLRIQMik_yKcPbkRw3ZCd4TR_Fir5h2J6k87WJ2H9qEsewotBv7GO_Y_720HXtA5_OUe_lRwxKarSzouCV4YbeKFC6E8KlrUBkaSDFdb4hH3CI7-sBF2FS-Xhju4lXwsmhzfxB5Vjw/s675/FB_IMG_1665051047714.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="675" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGIH4AeZOwiZcjEbnZBvQobhpsQ_vHl21UtES9vpoUeF2mxCfvrLRIQMik_yKcPbkRw3ZCd4TR_Fir5h2J6k87WJ2H9qEsewotBv7GO_Y_720HXtA5_OUe_lRwxKarSzouCV4YbeKFC6E8KlrUBkaSDFdb4hH3CI7-sBF2FS-Xhju4lXwsmhzfxB5Vjw/w320-h192/FB_IMG_1665051047714.jpg" width="320" /></a></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: x-large; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O</span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> comportamento eleitoral da primeira rodada de
2022 mostrou como o discurso conservador continua colando forte pelo Brasil
afora, sobretudo em São Paulo, Estado mais rico e desenvolvido do país. Os
grandes meios de comunicação e setores da Igreja tiveram papel central na
composição desse quadro. Mas, dentro dele, o reformismo lulista recuperou votos
em relação a 2018. Com isso, os candidatos prediletos alcançam votação
significativa. O partido que ocupa a máquina estatal tende a ter uma vantagem
na largada. Mas, frente ao desgaste e descontentamento com o governo Bolsonaro,
Lula recebeu 48,4% dos votos válidos. Certamente, parte da população espera que
Lula possa, de alguma forma, trazer de volta o período de crescimento decorrido
na primeira década dos anos 2000. O PT, considerando os índices de desaprovação
do governo Bolsonaro, apostou numa vitória rápida, mas foi surpreendido com
metade do eleitorado votando no direitista (43,2% dos votos válidos).</span></div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">Embora se deva considerar a influência da
conjuntura, é necessário pontuar a responsabilidades sócio-históricas que o PT
tem no quadro político do presente. Sobretudo por atuar continuamente como um
partido da patronal, dos acordos por cima, negociatas etc., mas também por
fazer uso dos mesmos discursos, das mesmas práticas e até da mesma estética de
campanha. Tudo isso sem projeto nacional que pautasse as demandas populares
históricas e sem se construir trabalhos nas bases.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim, o PT atuou como um partido burguês no alto
das superestruturas, tal qual os demais representantes das classes dominantes.
Isso impacta diretamente na construção da sua identidade partidária, na forma
como o eleitorado compreende o perfil do partido e de seus candidatos. Por
isso, é muito difícil diferenciá-lo dos outros partidos burgueses. Agravando o
cenário, como agente coletivo (condutor político), educa as diversas frações da
classe trabalhadora a votarem pelo imediato. Pelo mínimo, perdido na pequena
política. Pelo que se passou nas últimas semanas, pelas últimas política sociais,
sempre segundo as regras e métodos do jogo parlamentar burguês. Isso desarma as
bases partidárias e dificulta qualquer forma de atuação delas na defesa do
partido, com isso, consequentemente, o PT não consegue gerar o engajamento que
precisa nos momentos críticos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">O partido é sujeito ativo na construção da
passividade em seu próprio eleitorado. Ele nem sequer utilizou seu aparato
sindical no impulsionamento necessário, nem nos últimos 4 anos e nem mesmo
nesse ano eleitoral para confrontar o governo direitista. A orientação suprema
era para “esperar o momento das eleições”, “não provocar os adversários”,
enquanto isso, deveria reinar a passividade e a servilidade na luta de classes
e na luta política. Assim se construiu a apatia da ação, tudo foi continuamente
canalizado para as eleições. Parece que não se tem mais sindicato, central
sindical ou federação, deixou-se de falar em greve, ações de rua, mobilização.
Tudo isso soa como palavrão aos dirigentes da sigla. Os chefes do partido sabem
que a luta social educa politicamente, e é determinante para o protagonismo
antagonista, mas, ao mesmo tempo, uma base atuante acaba pressionando o
partido, seu arco de alianças e sua movimentação política. Apartando-se dos
locais de trabalho e da construção corpo a corpo, todo a politização ficou a
cargo do horário eleitoral e dos debates. Tudo por cima. E, ainda assim, se
espera que os setores da classe trabalhadora se engajem simplesmente pelo voto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">Outro aspecto precisa ser considerado em relação
aos candidatos. O PT, nos anos 1980, até a primeira metade da década de 1990,
era um partido de massas, com base sindicais que atuavam nas greves, com base
popular nos movimentos de bairro, lutas populares, na esquerda católica, nas
lutas anti-racistas etc. Os quadros políticos, vereadores e deputados, eram
pessoas oriundas das lutas sociais, da luta de classes ou do combate e
enfrentamento direto, com importante protagonismo social e político. Isso dava
cara de mandato popular a sua atuação nas instituições do Estado. Muito diferente
do que temos hoje. Agora, nas eleições de 2022, o que se pode esperar dos
candidatos petistas? Ninguém sabe... Por que confiar neles? No que eles se
diferenciam das outras candidaturas burguesas? É muito difícil de se precisar.
Como se pode esperar que o partido e seus candidatos sejam acolhidos e
defendidos pelas massas trabalhadoras nesse contexto?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">Nos 1980 o PT ganhou influência nas bases
católicas, nesse contexto usou essas bases contra os grupos combativos que
construíam o partido e suas lutas. O projeto da Articulação-PT e da
Articulação-Sindical sempre foi atuar independente do controle das bases
auto-organizadas e isolar as alas combativas que se auto-organizavam em seu
interior. Queriam a autonomia total para negociar com o empresariado e com os
velhos coronéis da política. Fizeram isso tanto no sindicalismo (contra a
Oposição sindical metalúrgica de SP) como nos movimentos de bairro. Nessa longa
batalha conseguiram garantir autonomia quase total em relação ao protagonismo
das bases. Mas o custo dessa prática de esterilização das bases, com atuação
por cima dos interesses históricos da classe trabalhadora, foi alto a longo
prazo. Como uma faca de dois gumes, isso matou o movimento combativo de base,
que era o diferencial do PT no início dos anos 1980, era o seu escudo e sua
lança.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">A ausência de um projeto político nacional, de um
programa político-econômico para se enfrentar os principais problemas
históricos e dilemas nacionais, a falta de formas de engajamento para a luta
social, deixou as massas trabalhadoras abandonadas em suas necessidades
estruturais mais profundas. Sobrou um amplo espaço vazio que, no contexto da
crise internacional, acabou sendo ocupado por alas direitistas e de extrema
direita. Essas tendências encontraram espaço de crescimento, dissimularam suas
intencionalidades estratégicas e se colocam na ofensiva em variadas formas de
ativismo, arregimentando apoio para uma crítica geral às instituições do
Estado, ainda que por um viés conservador, os setores da direita e extrema-direita,
ofereceram bandeiras para engajamentos em pautas amplas e relativamente
obscuras contra “a política tradicional”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;">Claro que essa intencionalidade de governar
independente das mobilizações de base, sua ausência nas lutas cotidianas e
históricas, bem como os pactos com as classes dominantes, não explicam tudo.
Pois vivemos movimentos de acomodação nas bases também, uma certa apatia
política crescente, fruto de um processo mais longo, com determinantes
nacionais e internacionais. Mas, o que se evidencia é que o PT e seus
dirigentes políticos de destaque não investiram energias para a ativação de
suas bases e nem pretendem fazê-lo. A resposta política que precisamos não pode
então ser dada por este partido ou por seus parceiros políticos. Ou as massas
trabalhadoras constroem alternativas combativas e ocupam as ruas, ou ficarão ao
sabor das disputas nos “andares superiores” das classes dominantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://www.facebook.com/alessandromouracs?__cft__%5b0%5d=AZXFTCJwfyRMILYj7Hgg4-aD8AaA0jfi9fHa4iejfSaTyIIZk2w3wKzVov8svbLFqtViYHn2DFX5xT3PH-XUMHigUW71Y0yzX2g3e9j2q0Zg--gyftUVrq7IaYAKtJ_bKjhZYkqh-zsZUZ3X-ZC_oAbvCG6fbcrB_ExGD9-aDYXJ_Q&__tn__=-%5dK-R">Alessandro
de Moura</a> é professor e sociólogo.<o:p></o:p></span></p>Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-68270829804794802132022-03-15T08:28:00.003-07:002022-03-15T08:34:44.274-07:00Educação em Marx: formação da consciência, escola e luta de classes<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Educação em Marx: formação da consciência, escola e luta
de classes<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Alessandro de Moura<a href="file:///C:/Users/Sala%20Professores/Downloads/Artigo%20Marx%20e%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20-%20ultima%20versao.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No presente ensaio, abordamos a compreensão elaborada
por Marx sobre a formação da consciência e a partir disso, evidenciamos suas
ideias sobre educação escolar e ensino público. Dentro desse contexto,
relacionamos suas contribuições com as de Vygotsky e Gramsci. Por fim, para
além da educação pública e gratuita, apontamos as dificuldades estruturais enfrentadas
pela escola na sociedade de classes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A formação social da consciência
em Marx<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Para Karl Marx, a formação do pensamento está
totalmente relacionada ao meio externo, com as interações que se estabelecem ao
longo da existência humana compreendida como processos de subjetivação e
objetivação. Tal aspecto pode ser observado desde os textos da juventude até os
últimos escritos do autor. No</span> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Manuscritos
econômico-filosóficos</i>, de 1844, Marx já denotava a inseparável relação
entre realidade material e a formação da consciência:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) Assim como plantas, animais, pedras, ar, luz
etc., formam teoricamente uma parte da consciência humana, em parte como
abjetos da consciência natural, em parte como objetos da arte - sua natureza
inorgânica, meios de vida espirituais, que ele tem de preparar prioritariamente
para a fruição e para a digestão -, formam também praticamente uma parte da
vida humana e da atividade humana. (...). (MARX, 2004, p. 84).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Em outro trecho, aprofunda o
caráter social na formação da percepção e da aprendizagem humana:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) O homem se apropria da sua essência omnilateral
de uma maneira omnilateral, portanto como um homem total. Cada uma das suas
relações <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humanas</i> com o mundo, ver,
ouvir, cheirar, degustar, sentir, pensar, intuir, perceber, querer, ser ativo,
amar, enfim todos os órgãos da sua individualidade, assim como os órgãos que
são imediatamente em sua forma como órgãos comunitários, são no seu
comportamento <i style="mso-bidi-font-style: normal;">objetivo</i> ou no seu <i style="mso-bidi-font-style: normal;">comportamento para com o objeto</i> a
apropriação do mesmo, a apropriação da efetividade <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humana</i>; seu comportamento para com o objeto é o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">acionamento da efetividade humana</i> (por
isso ela é precisamente tão multíplice (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">vielfach</i>)
quanto multíplices são as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">determinações
essenciais</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">atividades</i> humanas),
eficiência humana e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sofrimento</i>
humano, pois o sofrimento, humanamente apreendido, é uma autofruição do ser
humano. (Idem, p. 108).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">O que cada geração apreende e
acumula de substantivo, como ganho social, é incorporado como cultura
sócio-histórica e transmitido às novas gerações, como afirma o autor: “os
sentidos e o espírito do outro homem se tornaram a minha <i style="mso-bidi-font-style: normal;">própria</i> apropriação. Além destes órgãos imediatos formam-se, por
isso, órgãos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sociais</i>, na <i style="mso-bidi-font-style: normal;">forma </i>da sociedade, logo, por exemplo, a
atividade em imediata sociedade com outros etc., tornou-se um órgão da minha <i style="mso-bidi-font-style: normal;">externação</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">de vida</i> e um modo da apropriação da vida <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humana</i>”. (MARX, 2004, p. 109). Em outro parágrafo, enfatiza que:
“(...) não só os cinco sentidos, mas também os assim chamados sentidos
espirituais, os sentidos práticos (vontade, amor etc.), numa palavra o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sentido</i> humano, a humanidade dos sentidos,
vem a ser primeiramente pela existência do seu objeto, pela natureza <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humanizada</i>”. (MARX, 2004, p. 110). De
tal maneira, “A natureza é o corpo inorgânico do homem”. (Idem, p. 84). Por
fim, complementa que: “A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">formação</i> dos
cinco sentidos é um trabalho de toda a história do mundo até aqui”. (MARX,
2004, p. 110). Nesse sentido, na inter-relação de singularidades e
universalidades, a cultura é compreendida como parte da natureza de cada
indivíduo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Desde o início da vida, o ser
humano entra em contato com o meio exterior, com uma realidade estruturada,
pré-estabelecida. Nesse processo, aprende a decifrá-la enquanto constrói
explicações e organização mental para todo o existente fora de si, ao mesmo
tempo em que se localiza como sujeito de ação e com isso, molda sua estrutura
interna de sentimentos, pensamentos e atividades. Para o autor, conforme afirma
na terceira tese <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ad Feuerbach</i>, os
seres humanos, frutos do meio em que vivem, são também os seres que modificam
estes meios de vida, constroem-no e o transformam de acordo com suas
necessidades sociais e históricas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Assim, o mundo exterior ao sujeito
é compreendido como base de todo pensamento e atuação, a realidade material é a
plataforma de onde deriva toda compreensão e ação humana. E com isso, a própria
filosofia é parte do desdobramento da intervenção sobre o mundo, é fruto de uma
dinâmica concreta da relação entre a humanidade atuante sobre a natureza
interna e externa. Conforme destacou Marx n’<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
ideologia alemã</i>: “(...) Desde o início, portanto, a consciência já é um
produto social e continuará sendo enquanto existirem homens”. (2007, p. 35). Em
síntese, o ser humano, em qualquer meio que viva, absorve e elabora saberes
sobre a realidade material e espiritual para atuar sobre a realidade externa:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A produção de ideias, de representações, da
consciência, está, em princípio, imediatamente entrelaçada com a atividade
material e com o intercâmbio material dos homens, com a linguagem da vida real.
O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem,
aqui, como emanação direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a
produção espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política, das
leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo. Os homens são os
produtores de suas representações, de suas ideias e assim por diante, mas os
homens reais, ativos, tal como são condicionados por um determinado
desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele
corresponde, até chegar às suas formações mais desenvolvidas. A consciência não
pode jamais ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser consciente dos
homens é o seu processo de vida real. (...). (MARX, 2007, p. 94).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Também em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O capital</i>, publicado em 1867, Marx reafirmou que todo o ser humano
é um ser que aprende e se desenvolve intelectualmente por meio da relação com o
meio que lhe é exterior:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 18pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) o homem se espelha primeiramente num outro
homem. É apenas por intermédio da relação com Paulo como seu igual que Pedro se
relaciona consigo mesmo como ser humano. Além disso, no entanto, Paulo também
vale para ele, em carne e osso, em sua corporeidade paulina, como forma de
manifestação do gênero humano. (MARX, 2013, p. 129).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Como as formas de pensamento,
derivadas das múltiplas relações, são exteriorizadas e se objetivam em práticas
sociais, a própria essência do ser humano é social, histórica e processual.
Segundo o pedagogo Lev Vygotsky <span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">(1896-1934)</span>:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) o processo de internalização consiste numa série
de transformações. (...) a) Uma operação que inicialmente representa uma
atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. (...) b) Um
processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. (...). A
transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o
resultado de uma longa série de eventos ocorrido ao longo do desenvolvimento.
(...). (VYGOTSKI, 2003, p. 75).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Foi nesse sentido que Gramsci, no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Caderno do cárcere</i> (n.º 11), afirmou que
todos os seres humanos são filósofos, mesmo que nem todos o exerçam
conscientemente: “(...) todos são filósofos, ainda que a seu modo,
inconscientemente - já que, até mesmo na mais simples manifestação de uma
atividade intelectual qualquer, na “linguagem”, está contida uma determinada
concepção do mundo (...)”. (GRAMSCI, 2001, p. 93). Ou, no mesmo sentido, todos
os homens são intelectuais, ainda que poucos o tomem de forma profissional,
conforme apontou no caderno 12 da mesma obra:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Por isso, seria possível dizer que todos os homens são
intelectuais, mas nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais
(assim, o fato de que alguém possa, em determinado momento, fritar dois ovos ou
costurar um rasgão no paletó não significa que todos sejam cozinheiros ou
alfaiates). Formam-se assim, historicamente, categorias especializadas para o
exercício da função intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos
sociais, mas sobretudo em conexão com os grupos sociais mais importantes, e
sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social
dominante. (...). (GRAMSCI, 2001, pp. 18-19).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">A história da humanidade tem sua
dinâmica diretamente influenciada pelas formas como se desdobram os processos
sociais e interativos e, consequentemente, por suas ações sobre a realidade. Ou
seja, a realidade, fruto das ações humanas, transforma-se de acordo com as
interações dos sujeitos e tais interações constituem a interação social. Neste
processo de interação entre os seres humanos e natureza, como produção de seus
meios de subsistência, o ser humano acaba por produzir a si mesmo e a própria
vida material coletiva, e desta forma, faz-se como um ser que se autoproduz em
um movimento contínuo e infinito. <span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Marx denota que as novas gerações
recebem um mundo já estruturado pelas gerações que a precederam, no entanto,
essas mesmas gerações, atuando no presente prático, social e político, têm em
suas mãos a capacidade de transformação da realidade social e política.
Conforme podemos ler em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A ideologia alemã</i>:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) cada geração recebe da geração passada, uma
massa de forças produtivas, capitais e circunstâncias que, embora seja, por um
lado, modificada pela nova geração, por outro lado prescreve a esta última suas
próprias condições de vida e lhe confere um desenvolvimento determinado, um
caráter especial - que portanto, as circunstâncias fazem os homens, assim com
os homens fazem as circunstâncias. Essa soma de forças de produção, capitais e
formas sociais de intercâmbio, que cada indivíduo e cada geração encontram como
algo dado, é o fundamento real [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">reale</i>]
daquilo que os filósofos representam como "substância" e
"essência do homem", aquilo que eles apoteosam e combateram (...).
(MARX, 2007, p. 43).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">No entanto, segundo a perspectiva
de Marx, embora todo ser humano seja dotado de capacidades de elaboração
intelectual complexa sobre o mundo, as condições de difusão de seu produto e
das formas de compreensão não são homogêneas. A interpretação da realidade
sócio-material é disputada por variados grupos e corporações que compõem a
totalidade sociocultural humana, envolvendo capital público e privado. Os
grupos hegemônicos lutam pela difusão de sua própria visão de mundo e
interesses, e assim, a produção de sentido sobre a realidade social se dá em
níveis muito desiguais. Determinados grupos podem obter condições mais
propícias para difusão de sua perspectiva de mundo e construir hegemonia social
sobre determinadas perspectivas:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) A classe que tem à sua disposição os meios de
produção materiais dispõem também dos meios de produção espiritual, de modo que
a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles
aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes não são
nada mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes
apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de
uma classe a classe dominante, são as ideias da dominação. (...). (MARX, 2007, p.
47).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Desta forma, para Marx, as classes
sociais que monopolizam os meios de produção material da vida, monopolizam
também os meios de produção de discurso e de difusão de padrões, de forma de
vida, modelos educacionais, conteúdos ministrados nos centros de ensino, nas
escolas e universidades. A classe dominante busca forjar consensos que
favoreçam a manutenção da ordem socioeconômica posta. Por isso, já no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Manifesto comunista</i>, publicado em 1848,
Marx e Engels afirmavam que: “Os comunistas não inventaram a intromissão da
sociedade na educação; apenas procuram modificar seu caráter arrancando a
educação da influência da classe dominante”. (MARX: ENGELS, 2005, p. 55).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A
formação social da mente em Vygotsky<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Para Marx, a educação deve ter,
como objetivo central, o desenvolvimento das múltiplas capacidades humanas
latentes. <span style="color: black;">Nos primeiros anos de vida, a criança apreende
e elabora uma grande diversidade de signos, significados e sentidos e, nesse
processo, imerso em relações variadas com os adultos, na convivência familiar e
comunitária, compõem-se as bases da socialização, como apontou </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Vygotsky</span><span style="color: black;">:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">É por meio de outros, por intermédio do adulto que a
criança se envolve em suas atividades. Absolutamente, tudo no comportamento da
criança está fundido, enraizado no social. [...] Assim, as relações da criança
com a realidade são, desde o início, relações sociais. Neste sentido,
poder-se-ia dizer que o bebê é um ser social no mais elevado grau. (VYGOTSKY,
2010, p. 16).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Nesse sentido, Gramsci, no caderno
12, também denotava que as crianças refletem o meio social de sua convivência,
de suas experiências sociais:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) Mas a consciência da criança não é algo
“individual” (e muito menos individualizado): é o reflexo da fração de
sociedade civil da qual a criança participa, das relações sociais tais como se
aninham na família, na vizinhança, na aldeia, etc. A consciência individual da
esmagadora maioria das crianças reflete relações civis e culturais diversas e
antagônicas às que são refletidas pelos programas escolares. (...). (GRAMSCI,
2001, p. 44).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Para Vygotsky, a socialização da
criança pressupõe a transformação de fenômenos e compreensões sociais
(interpsíquicos) com estímulos externos, em fenômenos intrapsíquicos. De tal
maneira, f</span>enômenos e ferramentas socioculturais são incorporados e
interiorizados de forma individualizada, particularizada. Interiorizam-se as
estruturas de pensamento e ação. Ou seja, t<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">odo o desenvolvimento humano tem origem nas relações
sociais e históricas exteriores, que por sua vez, desencadeiam processos
interiores: “Através dos outros constituímo-nos. Em forma puramente lógica a
essência do processo do desenvolvimento cultural consiste exatamente nisso”.
(Vygotsky, 2000, p. 24). Ainda, s</span>egundo o autor:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 10pt;">(...) todas
as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no decurso do
desenvolvimento da criança: a primeira vez, nas atividades coletivas, nas
atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas; a segunda, nas
atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou
seja, como funções intrapsíquicas. (</span></i><span style="font-size: 10pt;">VYGOTSKY,
2010, p. 97- grifado no original).<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Nesse processo, c<span style="color: black;">ada nova geração é, desde a mais tenra idade, socializada
com as formas de existência de cada período que lhe é correspondente, com seus
avanços contínuos e com a base técnica produtiva vigente. A partir disso, fica
claro o ponto de partida segundo o qual “(...) </span>a aprendizagem da criança
começa muito antes da aprendizagem escolar. A aprendizagem escolar nunca parte
do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história”.
(VYGOTSKY, 2010, p. 93). <span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Apoiando-se em formulações centrais de Marx, Vygotsky também considerou
que, ao nascer, o ser humano defronta-se com uma estruturação social posta, uma
totalidade concreta composta de instituições sociais, valores, normas, leis
etc. É nesta interação sócio-histórica produz a própria personalidade humana.</span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A personalidade torna-se para si aquilo que ela é em
si, através daquilo que ela antes manifesta como seu em si para os outros. Este
é o processo de constituição da personalidade. Daí está claro, porque
necessariamente tudo o que é interno nas funções superiores ter sido externo:
isto é, ter sido para os outros, aquilo que agora é para si. Isto é o centro de
todo o problema do interno e do externo. (VYGOTSKY, 2000, p. 24).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Diante
disso, todos os elementos que a mente humana processa e desenvolve estão
diretamente relacionados à realidade exterior, vivida, percebida e compartilhada.
Segundo o autor:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) falar sobre processo externo significa falar do
social. Qualquer função psicológica superior foi externa – significa que ela
foi social; antes de se tornar função, ela foi uma relação social entre duas
pessoas. Meios de influência sobre si – inicialmente meio de influência sobre
os outros e dos outros sobre a personalidade. (VYGOTSKY, 2000, pp. 24-25).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">É em
consequência disso que se pode afirmar que tudo o que é mental é fruto de
relações sociais, segundo Vygotsky: “Em forma geral: a relação entre as funções
psicológicas superiores foi outrora relação real entre pessoas. Eu me relaciono
comigo tal como as pessoas relacionaram-se comigo”. (Idem, p. 25). Assim:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Todas as formas da comunicação verbal do adulto com a
criança tornam-se mais tarde funções psicológicas. Lei geral: qualquer função
no desenvolvimento cultural da criança aparece em cena duas vezes, em dois
planos – primeiro no social, depois no psicológico, primeiro entre as pessoas
como categoria interpsicológica, depois – dentro da criança. (VYGOTSKY, 2000,
p. 26).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Então, “Por trás de todas as funções superiores e suas
relações estão relações geneticamente sociais, relações reais das pessoas”. (VYGOTSKY,
2000, p. 26). Segundo o autor, não se trata apenas de assimilação da ordem
externa, mas de uma interação dialética, ativa na formação da própria
personalidade individual: “O mais básico consiste em que a pessoa não somente
se desenvolve, mas também constrói a si”. (Idem, p. 33).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A importância da educação
escolar para o desenvolvimento<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">A escola
funde-se no processo de formação social da mente, ampliando e direcionando
curiosidades, estimulando a multilateralidade do conhecimento para além da vida
imediata de cada criança, amplia as possibilidades de incorporação de sistemas
conceituais. A vida escolar coloca as crianças e jovens em contato com uma
série de conteúdos universais organizados, sistemáticos, ministrados de forma
didática sequencializada, que desenvolverão suas capacidades potenciais.
Estimula a imaginação, propõe novos desafios, metas e problematizações. Segundo
Vygotsky, “</span>Cada matéria escolar tem uma relação própria com o curso do
desenvolvimento da criança, relação que muda com a passagem da criança de uma
etapa para outra. (...)”. (VYGOTSKY, 2010, p. 100). <span style="color: black;">Esse
processo possibilita a amplificação na aquisição de novas sínteses elaboradas. Ainda
de acordo com o autor: “(...) </span>A relação entre pensamento e linguagem
modifica-se no processo de desenvolvimento tanto no sentido quantitativo quanto
qualitativo” (...). (Idem, p. 43). <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Vygotsky
destaca a importância de se verificar o conhecimento que o estudante já possuí,
seu nível de desenvolvimento real. O educador parte desta base de conhecimentos
já acumulada pelo estudante, estabelecendo pontes entre o conteúdo já adquirido
em outros processos de aprendizagem (a partir das relações com outros
indivíduos e ambientes sociais); e o novo conteúdo inicial que o estudante já
está elaborando na zona proximal de forma embrionária, relacionando-os com
aqueles que o estudante é capaz de internalizar, ou seja, seu nível de
desenvolvimento potencial. (VIGOTSKY, 2000). Os novos conteúdos assimilados e
as novas funções cerebrais desenvolvidas interagem constantemente em novos
processos, qualitativamente mais complexos. Assim, criam-se bases para associar
novos conhecimentos de uma nova ordem de complexidade. Sempre que se cria um
novo estímulo que envolve o sujeito, lança-se uma nova base para novas reações,
interações e interpretações e, assim, para o desenvolvimento intelectual
progressivo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Destaca-se que a educação escolar,
com equipes especializadas e contínuos processos de aprendizagem e
desenvolvimento, estabelece mediações <span style="color: black;">dentro de uma
base social e intelectual estabelecida pela própria sociedade, com demandas do
presente e tendências futuras. Como apontou o autor: “(...) </span>devemos
esperar de antemão que, em linhas gerais, o próprio tipo de desenvolvimento
histórico do comportamento venha a estar na dependência direta das leis gerais
do desenvolvimento histórico da sociedade humana. (...)” (VYGOTSKY, 2010, p. 46).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O
direito à educação universal, gratuita e de qualidade<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">Além
dessa importância fundamental no desenvolvimento da mente, posteriormente, no
mercado de trabalho, a falta da educação escolar formal será também um elemento
de diferenciação na distribuição dos empregos e na remuneração salarial para os
adultos. Aqui, a baixa frequência escolar, além de limitar o contato das
crianças com os conteúdos oferecidos nas instituições educacionais, é utilizada
como argumento para se pagar piores salários nos trabalhos mais intensos,
precários e com menos direitos trabalhistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">Centralmente,
foi refletindo sobre o desenvolvimento humano múltiplo que Marx reafirmou</span>
a necessidade de se abolir o trabalho infantil que impede a socialização
necessária e o ensino socialmente demandado. Do ponto de vista de Marx, o
trabalho só pode ser permitido na adolescência em caráter restrito, como
atividade pedagógica, como forma de estágio remunerado e com poucas horas
diárias. (MARX, 1866).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Desde o Manifesto de 1848, Marx já
defendia a “Educação pública e gratuita a todas as crianças; abolição do
trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da
educação com a produção material etc.”. (MARX: ENGELS, 2005, p. 58). No entanto,
para se garantir o acesso universal à educação escolar, é necessário que se
garanta que toda a estrutura material esteja à disposição da classe
trabalhadora. Por isso, Marx destacou que na Comuna de Paris, em 1871 (em que
se praticou a primeira experiência de poder operário), se “(...) ordenou que
todos os materiais didáticos, como livros, mapas, papel etc., fossem dados
gratuitamente aos professores, que doravante passam a recebê-lo das respectivas
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">mairies</i> [prefeituras] às quais
pertencem. (MARX, 2019, p. 117). Outro ponto que mereceu destaque na comuna foi
a implantação de uma educação laica e sem ensino religioso: <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma vez livre do exército permanente e da polícia – os elementos da
força física do antigo governo –, a Comuna ansiava por quebrar a força espiritual
de repressão, o “poder paroquial”, pela desoficialização [<i>disestablishment</i>]
e expropriação de todas as igrejas como corporações proprietárias. </span><span style="font-size: 10pt;">Os padres foram devolvidos ao retiro da vida privada,
para lá viver das esmolas dos fiéis, imitando seus predecessores, os apóstolos.
Todas as instituições de ensino foram abertas ao povo gratuitamente e ao mesmo
tempo purificadas de toda interferência da Igreja e do Estado. Assim, não
somente a educação se tornava acessível a todos, mas a própria ciência se
libertava dos grilhões criados pelo preconceito de classe e pelo poder
governamental. (MARX, 2019, p. 57).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Para Marx, “ao remover dela o
elemento religioso e clerical, a Comuna tomou a iniciativa da emancipação
mental do povo”. (MARX, 2019, p. 117). A religião difunde uma visão mística da
totalidade social e política, e ainda, ao mesmo tempo, o alto escalão das
variadas instituições religiosas se atrela aos altos núcleos de poder
empresarial, de dominação, controle e repressão sobre a classe trabalhadora. Nesse
aspecto, a religião é utilizada para forjar a domesticação nas multidões
humanas aos grupos dominantes, sendo uma força repressiva ocultada pela sua
forma sacramental. (c.f. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sobre a questão
judaica</i>). Gramsci, no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Caderno do
cárcere</i> (n.º 11), afirmava: “(...) A escola — em todos os seus níveis — e a
Igreja são as duas maiores organizações culturais em todos os países, graças ao
número de pessoas que utilizam”. (GRAMSCI, 2001, p. 122).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">As reflexões sobre o caráter
público da educação e a luta social a ser travada por ela foi refletida por
Marx em diversos momentos. Em 1866, quando finalizava o Livro I d’<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O capital</i>, Marx escreveu também algumas
orientações sobre educação para a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Primeira
Internacional</i>, documento que recebeu o título de “Instruções para os Delegados
do Conselho Geral Provisório...”. Esse texto dialoga diretamente com os itens 3
e 9 do capítulo 13 <i style="mso-bidi-font-style: normal;">d’O capital</i>, em
que se discute educação e trabalho juvenil. No referido texto da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Internacional, </i>Marx, defensor de uma
legislação universal para “proteção física e espiritual da classe
trabalhadora”, reafirma, dentro de tal espectro, a importância de se garantir
uma educação universal. (MARX, 1866).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">Se
existe um exército de mão de obra formado por milhões de homens adultos, por
que o empresariado insiste em empregar crianças ao invés de seus pais?
Certamente porque se pode pagar salários exageradamente mais baixos, abusando
da exploração e repressão nos locais de trabalho. No capítulo 13 d’<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O capital</i>, Marx, por meio de relatórios
oficiais parlamentares, expõe como o empresariado tenta burlar de variadas
formas os limites para se empregar crianças e forçá-las a regimes de trabalho
com altíssimos níveis de exploração e baixos salários. Nesse capítulo, Marx
enfatizou que o capital avança para submeter ao seu domínio, e à produção de
lucros, todos os membros das famílias trabalhadoras. Faz isso de formas
ilegais, inclusive, infringindo as regras que a própria sociedade burguesa
criou. Isso se torna especialmente grave em relação às crianças, pois lhes é
roubado o espaço e o tempo de recreação, aprendizagem e desenvolvimento. (MARX,
2015, p. 468). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">O
trabalho prematuro aparta as crianças dos múltiplos processos de formação e
aprendizagem para aprisioná-las às tarefas assalariadas unilaterais,
forçando-as a trabalhar como adultos. Faz com que as crianças e adolescentes se
desgastem física e psicologicamente, exploradas até a exaustão, prejudicando
inclusive seus processos de socialização, aprendizagem e formação. Prejuízos
físico-intelectuais que podem ter efeitos deletérios duradouros. A sociedade se
recente de tais crueldades contra as crianças e adolescentes, por isso cobra
medidas protetivas. Neste sentido, Marx aponta que a demanda por regulamentação
de proteção trabalhista é uma forma de “reação consciente e planejada da
sociedade”. (MARX, 2015, p. 551).</span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Marx aponta que, como os pais não
receberem salários suficientes para sustentar seus filhos, acabam sofrendo pressões
constantes que empurram as crianças para o mercado de trabalho. Outro elemento
a se considerar é o caráter de formação profissional: como não podem pagar por
escolas técnicas que preparem os filhos para profissões futuras, os pais acabam
entregando seus filhos aos cuidados dos patrões para que tenham uma “formação
profissionalizante”. Por tais perspectivas, o trabalho infantil é imposto às
famílias trabalhadoras por determinações estruturais. Conforme escreveu n’<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O capital</i>:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Não foi, no entanto, o abuso da autoridade paterna que
criou a exploração direta ou indireta de forças de trabalho imaturas pelo
capital, mas, ao contrário, foi o modo capitalista de exploração que,
suprimindo a base econômica correspondente à autoridade paterna, converteu esta
última num abuso. (...). (MARX, 2015, p. 560).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 2cm;">Então, para se enfrentar
essas contradições, é necessário atender reivindicações salariais dos
trabalhadores adultos, para que possam arcar com as despesas do lar de maneira
satisfatória. Também é preciso criar novos postos de trabalho, diminuindo as
horas diárias, para que todos possam trabalhar e, consequentemente, diminuir
também o exército de reserva de mão de obra. Por outro lado, é preciso criar um
número adequado de escolas técnicas gratuitas e com remuneração pela produção,
escolas que sejam acessíveis a todos, assegurando ainda uma ampla proteção social
das crianças e da juventude. Para isso, é fundamental a criação,
aperfeiçoamento e manutenção de políticas públicas de proteção às crianças que,
além de garantir educação gratuita, assegure ajuda de custo aos estudantes
(transporte, material escolar, vestimenta, alimentação e serviço de saúde
etc.).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">Ainda
por meio do documento da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Internacional</i>,
Marx apontou que as demandas educacionais da classe trabalhadora só podem ser
atendidas através da ação coletiva, de pressão direta, que obrigue à criação e
manutenção de políticas públicas direcionadas, sobretudo porque é muito mais
difícil que cada trabalhador individualmente possa arcar com os custos da vida
escolar de cada filho. Para o autor: “(...) Isto só poderá ser efetuado
convertendo a <em>razão social </em>em <em>força social </em>e,
em dadas circunstâncias, não existe outro método de o fazer senão através
de <em>leis gerais </em>impostas pelo poder do Estado”. (MARX, 1866).
<em><span style="font-style: normal; mso-bidi-font-style: italic;">As lutas sociais
articuladas pela classe trabalhadora adulta é imprescindível para se garantir
tais demandas: “</span>O direito </em>das crianças e dos jovens tem de ser
feito valer. Eles não são capazes de agir por si próprios. É, no entanto, dever
da sociedade agir em nome deles”. (MARX, 1886). Para Marx, a educação pública é
uma demanda histórica da própria classe trabalhadora:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-size: 10pt;">(...) a parte mais esclarecida da classe
operária compreende inteiramente que o futuro da sua classe, e, por
conseguinte, da humanidade, depende completamente da formação da geração
operária nascente. Eles sabem, antes de tudo o mais, que as crianças e os
jovens trabalhadores têm de ser salvos dos efeitos esmagadores do presente
sistema. (MARX, 1886).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;">Outro aspecto importante para
Marx, é pensar uma forma de educação que não se limite às bases teóricas, mas
que tenha um tripé formado por “educação mental”, “educação física” e
“instrução tecnológica”. Compreende então que “<span style="color: black;">A
combinação de trabalho produtivo pago, educação mental, exercício físico e
instrução politécnica, elevará a classe operária bastante acima do nível das
classes superior e média”. (MARX, 1866). Para isso, propõe que durante a
adolescência sejam introduzas duas horas de trabalho assistidas e que se
aumente essas horas ao passar dos anos. Só após a maioridade se poderia integrar
os jovens ao mercado de trabalho com jornada de trabalho adulta. Com isso, na
última fase da aprendizagem escolar, por meio de estágios remunerados, os
estudantes já terão passado por experiências práticas que complementam e
completam a sua própria formação teórico-prática.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 2cm;"><span style="color: black;">Essa
mesma problematização foi tomada por Gramsci nos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cadernos do cárcere</i>, (principalmente no caderno 12), em que o autor
debate o problema de se ter uma escola essencialmente teórico-abstrata, por um
lado, e por outro, uma escola técnica profissionalizante. Para o autor italiano,
tratava-se de pensar uma “escola unitária” que unificasse o ensino técnico e
científico, estimulando a curiosidade dos estudantes, bem como a introdução à
pesquisa. (GRAMSCI, 2001). Todos os custos e despesas deveriam ser assumidos
pelo Estado, como forma de desonerar as famílias trabalhadoras. Segundo o
autor:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A escola unitária requer que o Estado possa assumir as
despesas que hoje estão a cargo da família no que toca à manutenção dos
escolares, isto é, requer que seja completamente transformado o orçamento do
ministério da educação nacional, ampliando-o enormemente e tornando-o mais
complexo: a inteira função de educação e formação das novas gerações deixa de
ser privada e torna-se pública, pois somente assim ela pode abarcar todas as
gerações, sem divisões de grupos ou castas. (...).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(GRAMSCI, 2001, p. 36).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black;">A escola na sociedade de classes é essencialmente desigual<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Outro elemento a se considerar é
que, mesmo com uma rede de escolas públicas e gratuitas, as desigualdades
persistem na sociedade capitalista. Foi nesse sentido que o sociólogo Georg
Snyders no livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Escola, classes e luta
de classes</i>, enfatizou que é necessário “compreender como participa a escola
na luta de classes”. (SNYDERS, 2005, p. 13). Embora composta de uma ampla gama
de potencialidades, a escola tende a ser uma forma de reafirmação das
estruturas de classe:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) a burguesia proporciona exatamente aos
trabalhadores tanta cultura quanto o seu próprio interesse exige. E não é
muita. Escola de classes porque as lutas sociais não se detêm respeitosamente
no limiar do recinto escolar. Não é a educação também determinada pela
sociedade? Escola que não deixará de ser escola de classe senão pela revolução
social, condição da revolução escolar (...). (SNYDERS, 2005, p. 30).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">A escola não cria as
desigualdades, mas, sendo ela organizada de acordo com os interesses da classe
dominante, acaba reafirmando os mesmos mecanismos de dominação de classe. Para
o autor: “(...) </span>A burguesia esforça-se, na medida do possível, por
submeter a escola aos seus próprios objetivos de classe, por impedir acima de
tudo que ela possa contribuir para a emancipação do proletariado (...). (Idem,
p. 30).<span style="color: black;"> Nesse sentido, o autor critica à ideia de
ascensão social por meio da educação como forma antissistema:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Existe um determinado número de casos de mobilidade
social - e todos os professores citam o exemplo de determinado aluno vindo de
muito <i style="mso-bidi-font-style: normal;">baixo</i>, que graças ao seu
trabalho, ao seu zelo e aos seus <i style="mso-bidi-font-style: normal;">dotes</i>,
conseguiu tão brilhante situação. Mas, na realidade, a classe dominante
conserva ciosamente nas suas mãos o controle desta seleção, que não faz perigar
de forma alguma o conjunto das hierarquias estabelecidas. Precisamente por se
tratar de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">casos</i>, esses poucos vão ser
absorvidos pelo meio ambiente, modelar-se segundo regras constituídas, arriscam-se
mesmo a ficar fortemente algemados a um sistema que lhe permitiu vencer,
sair-se bem. (SNYDERS, 2005, p. 23).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="color: black;">Ainda,
como a escola está inserida na sociedade de classes, profundamente desigual, é
impossível que possa oferecer condições de aprendizagem iguais para todas as
classes e frações de classe: “(...) </span>Enquanto existir uma sociedade de
classes, a escola será inevitavelmente escola de classes. A burguesia tenta
transformar a escola de massas em instrumento capaz de subjugar os
trabalhadores”. (Idem, pp. 31-32).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Mesmo que se trate apenas dos
estudantes oriundos da classe trabalhadora, é necessário considerar também que
tal classe é composta por diversas clivagens sociais. A classe trabalhadora é
múltipla, engloba desde os setores mais precarizados, exército de mão de obra
de reserva, subproletariado, setores com empregos estáveis e até setores que
vivem com salários acima da renda média nacional. (Confira: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O capital</i>, livro I, cap. 13). As
crianças oriundas das distintas camadas da classe trabalhadora se encontram na
mesma escola pública, na sala de aula. Neste entremeio, quanto mais
precarizadas as condições de trabalho e de vida de determinados setores da
classe trabalhadora, mais dificuldades seus filhos tendem a enfrentar em sua
trajetória escolar. A origem social desigual influencia diretamente os
processos de aprendizagem e desenvolvimento. Ou seja, a escola trabalha em cima
de habilidades e dificuldades já instituídas, atuando de forma limitada na
reversão de tal quadro, e isso, por si, já impede uma educação igualitária.
Segundo o autor:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A ação da escola exerce-se sobre crianças cujo modo de
vida, educação familiar, primeira educação, são extremamente diversos: a
cultura das classes privilegiadas aproxima-se da cultura escolar, os seus
hábitos assemelham-se aos hábitos e aos ritos escolares - e preparam-nas, pois,
diretamente, para as aprendizagens escolares. Os seus filhos vão assimilar a
contribuição da escola à maneira de uma herança, é-lhes familiar, faz parte do
seu elemento natural. (SNYDERS, 2005, p. 23).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black;">Também Gramsci, no já referido
caderno 12, apontava no mesmo sentido:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-size: 10pt;">Decerto, a criança de uma família
tradicional de intelectuais supera mais facilmente o processo de adaptação
psicofísico; quando entra na sala de aula pela primeira vez, já tem vários
pontos de vantagem sobre seus colegas, possui uma orientação já adquirida por
hábitos familiares: concentra a atenção com mais facilidade, pois tem o hábito
da contenção física, etc. (GRAMSCI, 2001, p. 52).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Em relação a tais bases
pré-escolares, Snyders destaca que: “aqueles que não se beneficiam dele bem
cedo ficam desarmados, desamparados perante a cultura escolar”. (SNYDERS, 2005,
p. 24). Desta forma, para que se avance na melhora do sistema educacional é
necessário admitir-se a extrema desigualdade social, que por sua vez impõe a
desigualdade de condições nas salas de aula. Snyders aponta que é hipocrisia
argumentar que a educação oferece condições iguais a todos os estudantes:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Daí a hipocrisia da ideologia igualitária, quando
finge ignorar tudo que se passa fora da escola e como dentro dela as
disparidades têm livre curso: omitindo proporcionar a todos o que alguns devem
à sua família, o sistema escolar perpetua e sanciona as desigualdades iniciais.
Ainda mais: ele <i style="mso-bidi-font-style: normal;">duplica-as</i> na medida
em que as consagra através de resultados escolares, pois estes depressa se
transformam em apreciação da pessoa em si: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ele
não é inteligente... visto que não triunfou na escola</i>. (Idem, p. 24-25).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A desigualdade no acesso à
educação e nos processos de aprendizagem e desenvolvimento tende a ser
negligenciada pelas classes dominantes, isso porque é funcional que se tenha
uma massa de trabalhadores com poucos anos escolares e com baixa qualificação,
para que exerçam atividades simples com baixos salários e ausência de direitos.
Uma parte da juventude deverá ser direcionada diretamente para o exército de
reserva do mercado de trabalho: “(...) os excluídos do ensino, os que são
recusados pela escola, pouca esperança têm de acesso a situações de interesse;
em breve terão dificuldade em encontrar trabalho, a não ser que se alistem no
exército da reserva de mão de obra ocasional e precária”. (SNYDERS, 2005, p.
29). <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Por outro lado, o autor assevera
que as dificuldades que acercam a escola na sociedade de classes não significam
que as classes dominantes detêm controle absoluto da escola e de tudo o que se
passa de experiências em seu convívio diário. Todas as contradições sociais que
se expressam na sociedade também estão presentes na realidade escolar. Segundo
o autor:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A escola não é um feudo da classe dominante; ela é
terreno da luta entre a classe dominante e a classe explorada; ela é o terreno
em que se defrontam as forças do progresso e as forças conservadoras. O que lá
se passa reflete a exploração e a luta contra a exploração. A escola é,
simultaneamente, reprodução das estruturas existentes, correia de transmissão
da ideologia oficial, domesticação - mas também ameaça à ordem estabelecida e
possibilidade de libertação. O seu aspecto reprodutivo não a reduz a zero: pelo
contrário, marca o tipo de combate a ser travado, a possibilidade desse combate
que já foi desencadeado e que é preciso continuar. É esta dualidade,
característica da luta de classes, que institui a possibilidade objetiva da
luta. (SNYDERS, 2005, pp. 102-103).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mas, confluindo com a perspectiva
de Marx, Snyders também destaca que, como a escola é parte de uma totalidade
social maior, suas determinações não podem ser revolucionadas apenas a partir
das suas próprias internalidades. Portanto, as pautas por transformações na
escola devem ser somadas às lutas sociais:<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A luta pela escola nunca pode estar separada das lutas
sociais no seu conjunto, da luta das classes na sociedade total, da luta contra
a divisão em classes. Certamente, não cabe à pedagogia fazer a revolução; com
toda a certeza só haverá uma sã pedagogia numa sociedade sã - e a nossa não o
é.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(...) uma escola progressista tem
necessidade de ser apoiada pelo conjunto de uma sociedade progressista. (...).
(SNYDERS, 2005, pp. 104-105).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Snyders é enfático em relação à
necessidade de combinar as lutas escolares com as lutas sociais que envolvam
amplos contingentes: “(...) Repetiremos que a solução da crise da pedagogia não
virá da pedagogia; mas acrescentaremos que também não há avanço pedagógico sem
progresso no próprio seio da escola, lutas pedagógicas, sindicais e,
finalmente, também políticas”. (SNYDERS, p. 106). <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Ao analisarmos os escritos de
Marx e Vygotsky, ficou claro o pressuposto de que o ser humano é um ser ativo
na produção da própria subjetividade no meio coletivo. Desde o início da vida,
ele aprende a partir da própria experiência com a realidade material e com as
relações sociais com os adultos. Apesar do ser humano aprender e se desenvolver
independentemente das instituições escolares, essas proporcionam um salto na
sua capacidade cognitiva, na aprendizagem e no desenvolvimento de sínteses
elaboradas. Por isso, Marx e diversos outros autores tomaram como central a
luta social pela educação pública, gratuita e de qualidade, que proporcione o desenvolvimento
de múltiplas capacidades humanas. Snyders, retomando tal fio de análise, relembra
que mesmo com o acesso universal à educação, a estratificação social
determinada pela sociedade de classes impõe desigualdade no ensino e
aprendizagem, por isso as lutas travadas nas escolas precisam ser combinadas
com as lutas sociais gerais em prol da emancipação social e política da classe
trabalhadora.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Referências <o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: #1d2228; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">JUQUIM, P. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Propostas para a reconstrução da escola</i>. Seara nova. 1975.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">LUKÁCS, G. <i>As
bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem</i>. Temas de Ciências
Humanas. 1975.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">LURIA, A.
R. <i>Pensamento e linguagem</i>. Porto alegre. Artes Médicas. 1986.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">MARX, K. <i>A
guerra civil na França</i>. São Paulo, Boitempo, 2019.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. <i>O
capital - crítica da economia política</i>. Boitempo, 2013.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. </span><i><span style="color: black;">Sobre a questão judaica</span></i><span style="color: black;">.
Editora Boitempo: São Paulo, 2010.</span><span style="color: #1d2228;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. <i>A
Ideologia Alemã. </i>Boitempo. 2007.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="color: #1d2228;">______.
Manuscritos Econômico-Filosóficos</span></i><span style="color: #1d2228;">.<i> </i>São
Paulo: Editora Boitempo. 2004.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;"> ______. <i>Diferença
entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro</i>. Boitempo. 2018.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black;">______. <i>Crítica
da filosofia do direito de Hegel</i>. Editora Boitempo: São Paulo, 2005.</span><span style="color: #1d2228;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">MARX, K.:
ENGELS, F. <i>Manifesto comunista</i>. Boitempo. 2005.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Instruções para os Delegados do Conselho
Geral Provisório</i>. 1866.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">MONACORDA. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marx e a pedagogia moderna</i>. Alínea
editora. 2010.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">MOURA, A. <span style="mso-bidi-font-style: italic;">A ruptura de Marx com Hegel: Crítica da
filosofia do direito de Hegel</span>. In: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Filosofia
política, conhecimento e educação</i>. CHAGAS, F. et ali. Editora Fi, 2020. pp.
30-59.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">PEREIRA, L.:
FORACCHI, M. <i>Educação e sociedade</i>. Editora Nacional. 1979<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">PONCE, A. <i>Educação
e luta de classes</i>. Editora Cortez. 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">ROSSI, W. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Capitalismo e educação</i>. Editora Moraes.
1986.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">SAVIANI,
D. <i>Escola e democracia</i>. São Paulo: Cortez. 1982.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">SNYDERS,
G. <i>Escola, classes e luta de classes</i>. Editora Centauro. São Paulo.
2005.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">TEDESCO, J.
C. <i>A sociologia da educação</i>. Autores associados. 1995.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">VIGOTSKI, L.
S. Escritos sobre educação. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Coleção
educadores</i>. Ed. Massangana. 2010.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. <i>A
formação social da mente: o desenvolvimento de processos psicológicos
superiores</i>. São Paulo: Martins Fontes. 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______. <i>Pensamento
e linguagem</i>. São Paulo. Martins Fontes. 2001.<o:p></o:p></span></p>
<p class="yiv0464011285ydp5adafdbemsonormal" style="background: white; line-height: 150%; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #1d2228;">______.
Manuscrito de 1929. <i>Educação & Sociedade</i>, ano XXI, nº 71,
Julho/2000.<o:p></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><div style="text-align: justify;"><br /></div><!--[if !supportFootnotes]-->
<hr size="1" style="text-align: left;" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Sala%20Professores/Downloads/Artigo%20Marx%20e%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20-%20ultima%20versao.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Professor convidado no Programa de Pós-graduação da PUC-SP. Pós-doutorando em
história econômica pela USP. Doutor em ciências sociais pela Unesp-Marília.
Professor na rede pública de educação no interior e na capital paulista.
Estudioso da obra de Marx, marxismo, movimento operário e revoluções.<o:p></o:p></p>
</div>
</div>Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-65943246715603040792021-10-23T08:07:00.013-07:002021-12-13T10:42:48.769-08:00 Marx sobre a Comuna de Paris de 1871: auto-organização operária e dissolução do Estado burguês<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-3rO3gxd6oaUuhppRinC-5EW2ReotqFt8OQzIyxdITyJpGv-DfMQpQLJtcRl4MI-5ErWj_0oPJvpAwNlljEEevIZJNxRWnAYfUsJIgCJ_MfAWGkXn-sIflO-Yn_YfBfwPalgRf3xVDwM7/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="376" data-original-width="701" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-3rO3gxd6oaUuhppRinC-5EW2ReotqFt8OQzIyxdITyJpGv-DfMQpQLJtcRl4MI-5ErWj_0oPJvpAwNlljEEevIZJNxRWnAYfUsJIgCJ_MfAWGkXn-sIflO-Yn_YfBfwPalgRf3xVDwM7/w400-h215/Foto+comuna+de+paris.jpg" width="400" /></a></div><p></p></blockquote><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: right; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;">Prof. Dr. Alessandro de Moura</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;">A análise de Marx sobre a Comuna de Paris está dividida em três partes. </span><span style="color: black; font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Foi</span></span></span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;"> constituída de três mensagens da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) escritas por Marx. O objetivo dos três documentos era orientar os trabalhadores e dirigentes da AIT, dando ciência das resoluções aprovadas no Conselho Geral da organização.</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">A Associação </span></span></span>Internacional dos Trabalhadores (AIT) criada em setembro de 1864 por Marx, Engels e diversos outros militantes revolucionários Europeus de <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">variadas </span></span></span></span>correntes políticas e teóricas (sobretudo proudhonianos, bakuninistas e blanquistas). Sua linha programática foi escrita pelo próprio Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">sob o título </span></span></span><i>Mensagem Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores</i>. Assim, antes de aprofundarmos na analise de Marx sobre a comuna, cabe uma breve descrição dessa organização internacional.</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b>A Primeira Internacional dos trabalhadores - 1864</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">No referido artigo Marx aponta que, de 1848 em diante, após a derrota da <i>Primavera dos Povos </i>(analisada por Marx em <i>As lutas de classe na França)</i>, o lucro dos grandes capitalistas multiplicou-se consideravelmente, produzindo um "inebriante aumento da riqueza" das classes dominantes, que, por sua vez, "aumentou a concentração de terras em poucas mãos", mas, por outro lado, as massas trabalhadoras, "as classes do trabalho", continuavam em condições precárias de vida, de moradia, de saúde e de trabalho (MARX, 1864). Dentro disso, Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">compreende </span></span></span>a fundação da Primeira Internacional <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">como</span></span></span> fruto de um balanço do processo de luta de classes experienciado <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">n</span></span></span>o período 1848-1864. Então, a missão da Internacional era conectar a classe trabalhadora de diversos países para a luta <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">internacional</span></span></span></span> articulada. Segundo o autor:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A experiência passada mostrou como a falta de cuidado por este laço de fraternidade, que deve existir entre os operários de diferentes países e incitá-los a permanecer firmemente ao lado uns dos outros em toda a sua luta pela emancipação, será castigada pela derrota comum dos seus esforços incoerentes. Este pensamento incitou os operários de diferentes países, congregados em 28 de Setembro de 1864 numa reunião pública em St. Martin's Hall, a fundar a Associação Internacional. (Marx, 1864).</span></p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Isso posto,</span></span></span> a Associação Internacional dos Trabalhadores foi a primeira forma de Partido Internacional do Proletariado, que, como descreveu Marx, tinha por objetivo articular a política externa da classe trabalhadora, implementando a consigna "Trabalhadores de todo o mundo uni-vos", já contida no Manifesto do Partido Comunista publicado por Marx e Engels em 1848. Por meio <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">da Internacional</span></span></span></span> esperava-se: 1) articular os diversos grupos revolucionários da Europa e, 2) difundir o programa teórico-prático da revolução proletária, com táticas e uma estratégia revolucionária que orientasse claramente a tomada do poder. De acordo com Mandel<sup><a class="sdfootnoteanc" href="#sdfootnote1sym" name="sdfootnote1anc" style="font-size: 7.6px;"><sup>1</sup></a></sup>, seriam duas as atribuições da Internacional, 1) Unificar as lutas internacionais e 2) difundir <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">o</span></span></span> programa revolucionários para as diversas lutas operárias em cada país:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.3cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.3cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;">Marx reconheceu a dupla função que a Primeira Internacional teria, efetivamente, na evolução do movimento operário internacional: por um lado, </span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;"><i>agrupar todas as organizações operárias reais </i></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;">existentes no mundo; por outro, infundir-lhes </span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;"><i>uma mais clara consciência comunista </i></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;">quanto aos seus objetivos e quanto aos meios de ação que deviam ser empregados para alcançar esses objetivos. (MANDEL, 1954).</span></span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;">O historiador apont</span><span style="color: black;">ou</span><span style="color: black;"> que o fato de </span><span style="color: black;">a Internacional</span><span style="color: black;">: “representar o movimento real dos trabalhadores como existia na época, foi de suma importância para Marx”. (</span><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">MANDEL, 1954</span></span></span><span style="color: black;">). Em 23 de novembro de 1871, depois da derrota da Comuna de Paris, Marx escreveu que “A internacional foi fundada para substituir as seitas socialistas ou semi-socialistas pela organização real da classe trabalhadora para a luta. Os estatutos originais e a declaração inaugural assim revelam-na à primeira vista”. (apud Mandel). A primeira Internacional obteve sucesso em nas duas linhas centrais defendidas por Marx:</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Quase todas as organizações operárias que existiam no mundo inteiro entraram em contato e foram aglutinadas a ela: a maior parte </span><span style="font-size: 10pt;"><i>das trade-unions </i></span><span style="font-size: 10pt;">britânicas, os partidos operários alemães (...), as correntes socialistas proudhonianas francesas e belgas, as organizações que surgiram do trabalho febril de Bakunin e seus amigos na Suíça, Itália e Espanha. (Mandel, 1954).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;">A quantidade de operários organizada na Internacional, bem como suas intervenções na luta de classes ao longo de sua breve existência, foi coroada com muitos êxitos, marcando o sucesso da tática central de seus fundadores:</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A Internacional ganha influência real sobre o movimento sindical em Londres, que representa mais de 100.000 trabalhadores organizados. Ela dirige a grande agitação pelo sufrágio universal, que alcançou seu ponto culminante no verão de 1866, com uma assembleia de 60.000 pessoas no Hyde Park. Ela intervém na política mundial, envia um comunicado de simpatia a Abraham Lincoln por ocasião da emancipação de escravos. Ela adverte, em 1869, trabalhadores ingleses e americanos contra a ameaça de guerra entre os dois países. Ela protesta contra a assassinato de trabalhadores pelo exército na Bélgica. Ela organiza um protesto internacional contra a guerra franco-alemã de 1870-71.</span></p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 0.64cm; margin-bottom: 0.09cm; margin-top: 0.09cm; text-align: justify; text-indent: 1.2cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR"><span style="background: rgb(255, 255, 255);">Para Mandel, o papel mais importante exercido pela primeira Internacional foi o impulso que dera à articulação internacional das lutas dos trabalhadores</span></span></span></span><span style="color: black;">. Segundo o autor: “Desde o momento em que os trabalhadores dos países da Europa Ocidental se familiarizaram com a existência da Internacional, não houve greve na qual os grevistas deixaram de dirigir a ela uma petição de ajuda e solidariedade”. (Mandel, 1954). Então, para o autor: “Nesse sentido, a AIT era uma Internacional política, uma federação sindical internacional e uma aliança de federações profissionais internacionais; ou pelo menos teve que desempenhar todos esses papéis na medida do possível”. Para além de suas tarefas estruturais, como </span><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">articuladora da luta de classes objetiva, a</span></span></span><span style="color: black;"> maior provação histórica enfrentada pela Internacional foi a Comuna de Paris, </span><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">que</span></span></span><span style="color: black;"> foi a </span><span style="color: black;"><i>primeira revolução proletária vitoriosa</i></span><span style="color: black;">, sustentada durante 71 dias. </span><span style="color: black;">Com isso, a Internacional, formada por pequenos grupos de operários dispersos pela Europa se viu diante de um dos maiores desafios do século XIX. </span><span style="color: black;">Conforme apontou Mandel:</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">O sucesso mais brilhante que a Internacional obteve no campo de ação foi, igualmente, o mais inesperado de todos eles, e o menos preparado conscientemente: o advento da Comuna de Paris. Embora seja verdade que a Internacional não tenha desempenhado nenhum papel decisivo na preparação e na direção da Comuna, também é verdade que o auge do movimento operário francês, especialmente em Paris, durante os anos e meses que antecederam a Comuna, foi muito influenciado pela Internacional para que se possa considerar objetivamente que a primeira revolução proletária vitoriosa foi a conquista lógica do seu trabalho.</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;">No contexto da Comuna de Paris, essa primeira revolução proletária vitoriosa potencializou a organização internacional dos trabalhadores. Dentro disso, entre os aspectos determinantes da primeira Internacional, Mandel aponta que:</span></p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.3cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.3cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;">O resultado mais positivo da ação ideológica de Marx e seus amigos no seio da AIT foi unificar as concepções políticas e doutrinárias da vanguarda operária em escala internacional (...). Antes de 1864, em torno de Marx e Engels havia apenas amigos pessoais. Depois de 1872, existiam núcleos marxistas organizados em quase todos os países da Europa. (Mandel, 1954).</span></span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;">No período de existência da Internacional não se contava ainda com partidos nacionais da classe trabalhadora. Nesse sentido a Internacional foi um importante articulador partidário de nível internacional e internacionalista. Isso fomentou a organização de partidos proletários em diversos países. Como destacou Mandel: “Para resumir o significado organizativo da Primeira Internacional, pode-se dizer que </span><span style="color: black;"><i>foi graças à constituição da Internacional que os partidos nacionais puderam ser formados posteriormente</i></span><span style="color: black;">”. (Idem).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;">Contraditoriamente, o</span> que levou a derrocada da AIT foi própria a derrota da Comuna de Paris, que embora tenham potencializado a organização proletária, acabou, por conta das diversas estratégias em seu seio, com implementação das linhas proudhonianas e blanquistas na Comuna, levaram à estratégia com pouca clareza e à crise profunda da Internacional.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Depois <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">da AIT </span></span></span>foi formada a Segunda Internacional em 1889, com importante protagonismo de Engels, mas essa também entrou em profunda crise em 1914, quando seus líderes (sobretudo Kautsky) decidiram apoiar a I guerra e romper com o programa de “luta contra a burguesia e paz entre os trabalhadores”. Kautsky apostava todas as fichas em sindicatos e partidos de massas voltados para as disputas parlamentares, entendendo que o superimperialismo levaria a uma fase de convivência pacífica entre as diversas frações da burguesia e da classe trabalhadora. Tratava-se então, apenas de conquistar melhores posições para os representantes do proletariado nas instituições do Estado burguês. A Terceira Internacional foi formada por Lênin e Trotsky em 1919 chocou-se frontalmente contra tal perspectiva e colocou todas as forças do proletariado internacional na luta pela revolução socialista. A última Internacional Comunista, a Quarta Internacional, foi fundada por Trotsky em 1938, mas dividiu-se em diversas tendências no pós-segunda guerra.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Feita essa breve introdução sobre o papel e a função da Internacional, passamos a análise das Cartas escritas por Marx sobre a Comuna.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><b style="font-size: 12pt; text-indent: 0cm;">Primeira mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) - sobre a guerra Franco-Prussiana (23 de junho de 1870)</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Nessa primeira mensagem Marx resgatou o objetivo central da Internacional, apontando que "a emancipação das classes trabalhadora exige sua confluência fraternal". (p. 21). Destacou que a Internacional, que já estava sob perseguição e Luís Bonaparte (Napoleão III), por ter-lhe feito oposição <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">na sua</span></span></span> tentativa de mudar da Constituição francesa em maio de 1870. Agora, novamente, a Internacional estava sendo perseguida, desta vez por sua posição contrária à guerra franco-prussiana, anunciada em 15 de julho de 1870.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx destaca que a AIT, em sua mensagem aos trabalhadores da França e da Alemanha, já denunciara o caráter de classe da guerra franco-prussiana: "sob o pretexto do equilíbrio europeu, da honra nacional, a paz do mundo é ameaçada por ambições políticas. Trabalhadores da França, Alemanha, Espanha! Unamos nossas vozes em um só grito de reprovação contra a guerra!" (AIT, apud MARX, 2019, p. 22). Essa consigna passou a ser peça chave da tradição marxista, ao invés de se envolver nas disputas fratricidas da burguesia internacional, o proletariado deveria voltar suas armas contra as sus próprias burguesias nacionais.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Em contraposição aos interesses dos dois Bonapartes da Europa (Luís na França e Bismarck <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">na Alemanha</span></span></span>) que <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">deflagraram </span></span></span>uma guerra de dinastias, a Internacional enfatizava: "queremos paz, trabalho e liberdade! (...) Irmãos da Alemanha! Nossa divisão resultaria apenas no completo triunfo do despotismo nos dois lados do Reno". (AIT, MARX, 2019, p. 22). No inicio do conflito, iniciado por Luís Bonaparte, Marx já <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">previa </span></span></span>que, independente de seu resultado, isso determinaria o fim governo bonapartista na França e dissolução do arco de alianças que o <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">sustentava</span></span></span> no poder:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Seja qual for o desenrolar da guerra de Luís Bonaparte com a Prússia, o dobre fúnebre do Segundo Império já soou em Paris. O Império terminará como começou, por uma paródia. Mas não nos esqueçamos de que foram os governos e as classes dominantes da Europa que permitiram a Luís Bonaparte encenar por dezoito anos a farsa feroz do </span><span style="font-size: 10pt;"><i>Império Restaurado</i></span><span style="font-size: 10pt;">. (MARX, 2019, p. 23).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">sublinha </span></span></span>que a guerra era travada como uma disputa pela hegemonia dinástica na Europa. A classe dominante francesa sentia-se intimidada pela unificação da Alemanha, inclinando-se para disputas bélicas: "O regime bonapartista, que até então só florescera de um lado do Reno, tinha agora a sua imitação do outro lado. De tal estado de coisas, o que poderia resultar senão a <i>guerra</i>?" (MARX, 2019, p. 23).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Frente ao ataque francês, a Alemanha se viu obrigada a se empenhar em uma guerra de defesa nacional, mas que, naturalmente, poderia desdobra-se em uma guerra ofensiva. No entanto, mesmo sendo uma guerra de dinastias, Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">analisava </span></span></span>que a classe trabalhadora seria a maior prejudicada por uma guerra entre as duas nações: "Se a classe trabalhadora alemã permitir que a guerra atual perca seu caráter estritamente defensivo e degenere em uma guerra contra o povo francês, a vitória ou a derrota se mostrarão igualmente desastrosas" (Idem). Isso porque as massas trabalhadoras seriam convocadas para a linha de frente, sendo absorvidas em uma guerra fratricida por interesses dinásticos dos dois bonapartes da Europa que disputam o domínio europeu.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Analisando a classe trabalhadora alemã, Marx acreditou que não seria possível formar um exército para combater contra a classe trabalhadora Francesa. Isso porque: "os princípios da Internacional estão largamente disseminados e muito firmemente enraizados no interior da classe trabalhadora alemã para que se conjeture um desfecho tão triste. As vozes dos trabalhadores franceses ecoaram na Alemanha". (MARX, 2019, p. 24). Essa assertiva baseava-se nas deliberações da assembleia de trabalhadores alemães em julho de 1870: "Somos os inimigos de todas as guerras, mas acima de tudo das guerras dinásticas". Também na assembleia de Chemnitz, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">decidiu-se</span></span></span>: "Atentos à palavra de ordem da Associação Internacional dos Trabalhadores: <i>Proletários de todos os países, uni-vos</i>, não devemos nunca nos esquecer de que os trabalhadores de <i>todos </i>os países são nossos <i>amigos </i>e que os déspotas de <i>todos </i>os países são nossos <i>inimigos"</i>. (Apud Marx, 2019, p. 24). Em Berlim, a seção da Internacional declarava: "prometemos que nem o toque dos clarins, nem o rugir do canhão, nem a vitória nem a derrota nos desviará de nosso trabalho comum pela união dos filhos do labor de todos os países". (Idem).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Por fim, como diretiva, Marx enfatizava a importância da solidariedade de classe contra as classes dominante: “(…) os trabalhadores da França e da Alemanha trocam mensagens de paz e de amizade; esse fato grandioso, sem paralelo na história do passado, abre a perspectiva de um futuro mais luminoso". (MARX, 2019, p. 25). O principio da solidariedade internacional dos trabalhadores é <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">compreendido </span></span></span>por Marx com aspecto central de uma nova forma de sociedade pautada nas demandas concretas dos explorados. <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Dentro disso, </span></span></span>a Internacional Comunista <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">deveria atuar como </span></span></span>vanguarda que soldava a solidariedade de classe. Assim, "A pioneira dessa nova sociedade é a Associação Internacional dos Trabalhadores". (MARX, 2019, p. 25).</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b>Segunda mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT)sobre a guerra franco-prussiana (setembro de 1870)</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Nesse documento, Marx apontou justamente a mudança do caráter da guerra por parte da Alemanha: como previsto, a guerra deixava de ser defensiva e tornava-se ofensiva. Bismarck, o chanceler de ferro, constatando sua superioridade bélica, decidiu tomar parte dos territórios da França e impor pesadas indenizações de guerra após ter conseguido prender Luís Bonaparte, junto com seu marechal Patrice Mac-Mahon e mais 83 mil de seus soldados franceses em Sedan (região de fronteira com a Alemanha). Uma vez dominado o exército francês, Bismarck recusou-se a assinar um tratado de paz e iniciou um cerco militar a Paris em 19 de setembro de 1870, seu objetivo imediato era a anexação de Alsácia e Lorena.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Entre as justificativas de Bismarck para anexação constava que a região havia pertencido ao povo germânico até 1648 (Sacro-império) e que era importante para a defesa estratégica do território alemão. Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">destacou</span></span></span> que Bismarck representava pautas e interesses da classe média e da opinião pública alemã nessa reconquista territorial. <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Enfatizou </span></span></span>que, embora a anexação traga vantagens defensivas para a Alemanha, a mudança de fronteiras sempre tende a gerar novos descontentamentos, que, por fim, produzem novos conflitos numa espiral sem fim:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) Se os limites tiverem de ser fixados por interesses militares, as reclamações não terão fim, pois toda linha militar é necessariamente defeituosa e pode ser melhorada pela anexação de uma porção adicional do território circundante; e, além disso, limites jamais podem ser fixados de modo definitivo e justo, pois têm sempre de ser impostos ao conquistado pelo conquistador e, por conseguinte, carregam consigo a semente de novas guerras. (MARX, 2019, p. 29).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Nessa disputa, reafirmando a linha estratégica da primeira carta à AIT, Marx defende a paz sem anexação e o reconhecimento da república francesa implantada após a prisão de Luís Bonaparte em Sedan. Marx destaca que os próprios trabalhadores alemães, organizados no Partido Social Democrata Alemão, se pronunciaram (em 5 de setembro de 1870) contra a anexação de Alsácia e Lorena pela Alemanha:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(…) E estamos conscientes de que falamos em nome da classe trabalhadora alemã. No interesse comum da França e da Alemanha, no interesse da civilização ocidental contra a barbárie oriental, os operários alemães não tolerarão pacientemente a anexação da Alsácia e da Lorena. (...) Estamos fielmente ao lado de nossos companheiros operários, em todos os países, para a internacional causa comum do proletariado! (Idem, p. 31).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">No entanto, Marx explicita as dificuldades para a nascente república francesa <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">em</span></span></span> conseguir conter o avanço alemão. Por outro lado, destaca que faltava força <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">à</span></span></span> classe operária alemã para impor tal perspectiva ao governo e sua base de apoio na burguesia e na classe média alemã. Se a classe trabalhadora alemã estivesse suficientemente fortalecida e organizada, Bismarck teria suas forças paralisadas.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Entre os problemas para a resistência da República francesa estavam o próprio caráter do novo regime, que era fruto de uma derrota internacional da monarquia seguido de um vácuo de governo. Esse processo não foi um desdobramento de uma revolução antimonárquica. Segundo o autor: "(…) Essa República não subverteu o trono, mas apenas tomou o seu lugar, que havia vacado. Ela foi proclamada não como uma conquista social, mas como uma medida nacional de defesa". (MARX, 2019, p. 32). Acrescenta que os governantes premiados com República "(…) tem pavor da classe trabalhadora", o que, por sua vez, torna impossível resistir ao avanço alemão. Assim, Marx apontava que "A classe trabalhadora francesa se move, portanto, sob circunstâncias de extrema dificuldade. Qualquer tentativa de prejudicar o novo governo na presente crise, quando o inimigo está prestes a bater às portas de Paris, seria uma loucura desesperada. (...)”. (p. 32). Isso porque, para Marx, a classe trabalhadora encontrava-se enfraquecida pelos anos do governo Bonaparte.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">À vista disso, o autor</span></span></span> defende que seria preciso que os trabalhadores franceses se reorganizem antes de qualquer investida mais profunda e decidida contra a República que acabava de surgir por força das circunstâncias. De imediato, para a classe trabalhadora, a República poderia implicar maiores liberdades organizativas e fortalecimento de sua atuação como classe. <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Conforme Marx</span></span></span>:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.2cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.2cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Que eles aperfeiçoem, calma e decididamente, as oportunidades da liberdade republicana para a obra de sua própria organização de classe. Isso lhes dotará de novos poderes hercúleos para a regeneração da França e para nossa tarefa comum – a emancipação do trabalho. De seus esforços e sabedoria depende o destino da República. (p. 32).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Ou seja, o autor indicava que o melhor para a classe trabalhadora francesa <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">seria buscar a auto-organização e </span></span></span>não se envolver com os chamados de guerra e mobilização do governo, mas ao mesmo tempo buscar aumentar sua própria força e articulação.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Embora defenda uma organização paciente por dentro da República francesa, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">tal diretiva </span></span></span>não <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">pode ser compreendida como </span></span></span>uma defesa da passividade do proletariado, pois esta mesma mensagem à Internacional termina com um alerta à classe trabalhadora: "(…) se permanecerem passivas, a terrível guerra atual será apenas o prenúncio de conflitos internacionais ainda mais mortíferos e conduzirá em todos os países a um renovado triunfo sobre os operários pelos senhores da espada, da terra e do capital". (MARX, 2019, p. 33).</p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><b>A guerra civil na frança (30 de maio de 1871)</b></p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b>3ª Mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Esse terceiro documento escrito por Marx é o balanço definitivo dos 71 dias da Comuna de Paris. A análise foi dividida em quatro seções, na primeira foram analisados os objetivos do grupo dirigente da República; Thiers, Trochu, Jales Frave etc. Marx caracteriza esse grupo como uma articulação de arrivistas, falsários e corruptos ao serviço das classes dominantes. São, sobretudo, mercenários anti-proletários. A frágil república era dirigida por corruptos e arrivistas.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Na primeira seção Marx aponta que, assim que foi proclamada a República na França, em 4 de setembro de 1870, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">deu-se</span></span></span> novo curso <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">à</span></span></span> vaga aberta no governo. Adolphe Thiers (ex-ministro de Luís Felipe e cruel repressor das massas), juntamente com o general bonapartista Louis Trochu rapidamente apresentaram-se como representantes da nova república. Como as lideranças da classe trabalhadora tinham sido atiradas nas prisões <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">por </span></span></span>Bonaparte ao longo dos anos revolucionários marcados pela Primavera dos povos, os arrivistas Thiers e Trochu foram tolerados no poder vago, mas apenas com o propósito de uma articulação emergencial de defesa nacional. No entanto, a defesa da república requeria armar a classe trabalhadora, o que por sua vez enfraquecia o bando de Thiers:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 3.75cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Paris não podia ser defendida sem armar sua classe trabalhadora, organizando-a em uma força efetiva e treinando suas fileiras na própria guerra. Mas Paris armada era a revolução armada. Uma vitória de Paris sobre o agressor prussiano teria sido uma vitória dos operários franceses sobre o capitalista francês e seus parasitas estatais. Neste conflito entre dever nacional e interesse de classe, o Governo de Defesa Nacional não hesitou um momento em transformar-se em um Governo de Defecção Nacional. (MARX, 2019, p. 35).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Isso levou o governo provisório a equilibra-se na dubiedade, o medo da classe trabalhadora por um lado, e o medo da restauração monárquica por outro. De início mostraram-se dispostos a capitulação e a entregar a república em troca da libertação de Bonaparte: "O primeiro passo que eles deram foi despachar Thiers em uma turnê errante por todas as cortes da Europa, a fim de implorar por uma mediação, oferecendo a permuta de uma república por um rei". (Idem, p. 35).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">O general Trochu <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">avaliava</span></span></span> como uma loucura tentar resistir ao avanço do exercito alemão e ao cerco de Paris. Não via outra alternativa que não fosse a capitulação como forma de atender as exigências de Bismarck. Conforme apontou Marx: "Assim, na própria noite da proclamação da República, o ‘plano’ de Trochu era conhecido por seus colegas e consistia na capitulação de Paris". (p. 36). Não havia então, verdadeiramente, qualquer intenção de um governo de defesa nacional e sim um plano de capitulação nacional. O chamado à defesa nacional era apenas uma moeda de troca nas negociações de capitulação.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">No entanto, nacionalmente, em discurso oficial de mobilização, Thiers, Trochu e Frave diziam à classe trabalhadora que estavam dispostos a resistir à subjugação alemã, que não <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">aceitariam</span></span></span> a ceder os territórios exigidos e nem os Fortes de defesa. Faziam isso para manterem-se à frente do poder na república porque era essa a demanda social e política. No entanto, enquanto nacionalmente se diziam bravos defensores da república, negociavam <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">primeiramente</span></span></span> a rendição a Bismarck. De acordo com Marx, mesmo com um discurso de mobilização nacional: "Jules Favre confessava que eles estavam a se ‘defender’ não dos soldados prussianos, mas dos operários de Paris". (p. 36). Então, a nascente república era dirigida por capturadores e arrivistas anti-proletários, que simplesmente encenavam a "farsa da defesa" como forma de controlar os ânimos nas classes trabalhadoras. Marx aponta que os principais dirigentes da Republica estavam envolvidos em diversos casos de corrupção, desvio de dinheiro público e enriquecimento ilícito perdoado pelos seus pares. A continuidade da guerra, tendo à frente um governo de capitulação e uma massa de trabalhadores armados deu o tom ao longo conflito político. Conforme analisou Engels em sua introdução às analises de Marx:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.3cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.3cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;"><span lang="pt-BR">(…) </span></span></span><span style="font-size: 10pt;">O Império desmoronou como um castelo de cartas, a República foi novamente proclamada. Mas o inimigo permanecia às portas; os exércitos do Império estavam ou definitivamente cercados em Metz ou aprisionados na Alemanha. Nesse momento crítico, o povo autorizou os deputados de Paris eleitos para o antigo corpo legislativo a atuar como “Governo da Defesa Nacional”. Isso foi concedido tanto mais prontamente quanto, para a finalidade da defesa, todos os parisienses capazes de manejar armas haviam sido alistados na Guarda Nacional e armados, de modo que, agora, os trabalhadores constituíam a grande maioria. Mas rapidamente aflorou a oposição entre o governo, constituído quase exclusivamente de burgueses, e o proletariado armado. Em 31 de outubro, batalhões de trabalhadores atacaram a prefeitura municipal e aprisionaram uma parte dos membros do governo; mediante traição, quebra da palavra por parte do governo e intervenção de alguns batalhões pequeno-burgueses, eles foram novamente postos em liberdade, e a fim de não precipitar a guerra civil interna em uma cidade já sitiada por potências bélicas estrangeiras, o governo de então foi deixado em seu lugar. (ENGELS, 2019, p. 190).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0.1cm; margin-top: 0.1cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">De acordo Marx e Engels, a </span></span></span>farsa da resistência só foi completamente desvelada em 28 de <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">janeiro</span></span></span> de 1871, quando Otto Bismarck e Jules Frave assinaram um acordo de armistício que estabelecia a capitulação de Paris, atendendo todas as exigências da Alemanha, como a indenização de 200 milhões de francos pela guerra, entrega dos fortes de Paris, entrega da artilharia e material de guerra. Além disso, a França deveria convocar a eleição de uma Assembleia Nacional para deliberar sobre a saída ou continuidade da guerra. De acordo com Engels: “Finalmente, em 28 de janeiro de 1871, a faminta Paris capitulou. Porém, com honras até então inéditas na história das guerras. As fortalezas foram rendidas, as muralhas externas desarmadas, as armas dos Regimentos de Linha e da Guarda Móvel entregues, os próprios soldados considerados prisioneiros de guerra”. (ENGELS, p. 190). Ainda, de acordo com Marx, a "(…) capitulação estipulou que a Assembleia Nacional devia ser eleita dentro de oito dias, de maneira que em muitas partes da França as notícias da eleição iminente chegaram somente em sua véspera". (MARX, p. 43).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0.1cm; margin-top: 0.1cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Essa capitulação "deu início à guerra civil que eles agora tinham de fazer, com a ajuda da Prússia, contra a República e Paris" (Idem, p. 43). Assim, "No caminho dessa conspiração erguia-se um grande obstáculo - Paris. Desarmá-la era a primeira condição de sucesso, e assim Paris foi intimada por Thiers a entregar suas armas". (MARX, p. 44). <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">As</span></span></span> massas trabalhadoras que compunham a Guarda Nacional continuaram armadas, sem aceitar o armistício de 28 de janeiro, por força das armas em mãos, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">acabaram</span></span></span> intimidando as tropas alemãs que cercavam a França, mas não lograram ocupar Paris. Isso por sua vez colocava em xeque o poder de comando do Governo Provisório De acordo com Engels:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.1cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.1cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(…) a Guarda Nacional conservou consigo suas armas e canhões e apenas cumpriu o armistício firmado com os vencedores. E estes mesmos não ousaram entrar triunfalmente em Paris. Eles só ousaram ocupar uma borda muito pequena de Paris, que além do mais consistia, em sua maior parte, de parques públicos, e isso por uns poucos dias! E durante esse tempo, aqueles que por 131 dias haviam mantido seu cerco à capital foram eles mesmos cercados pelos trabalhadores armados de Paris, a vigiar atentamente para que nenhum “prussiano” pudesse ultrapassar os estreitos limites daquela borda cedida aos conquistadores estrangeiros. Tal era o respeito que os trabalhadores de Paris inspiravam naquele exército diante do qual todos os exércitos do Império haviam deposto suas armas; e os aristocratas rurais [Junker] prussianos, que lá estavam para fazer vingança no centro da revolução, foram obrigados a pôr-se em pé respeitosamente e saudar justamente essa revolução armada! (ENGELS, pp. 190-191).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0.1cm; margin-top: 0.1cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Nesse processo, de acordo com Engels: “agora Thiers, o novo chefe de governo, percebeu que o domínio das classes proprietárias – dos grandes proprietários de terra e dos capitalistas – estaria em permanente perigo enquanto os trabalhadores de Paris conservassem as armas em suas mãos. Sua primeira medida foi uma tentativa de desarmamento”. (ENGELS, p. 191). As tropas de Versalhes foram enviadas para desarmar Paris no dia 18 de março de 1871, mas fracassaram, houve inclusive confraternização de tropas. O Governo Provisório viu-se incapaz de impor seus interesses. Frente a isso, "Thiers e Jules Favre, em nome da maioria da Assembleia de Bordeaux, solicitaram sem o mínimo pudor a imediata ocupação de Paris pelas tropas prussianas". (MARX, p. 46).</p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b>Seção II</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Em tal situação, Marx aponta, se "A Paris armada era o único obstáculo sério no caminho da conspiração contrarrevolucionária. Paris tinha, portanto, de ser desarmada. Nesse ponto, a Assembleia de Bordeaux era a sinceridade em pessoa". (MARX, 2019, p. 46). A princípio, os conspiradores capitulacionistas da Assembleia Nacional exigiram que a população depusesse as armas e as entregasse ao governo, não se preocupando em discutir o verdadeiro motivo do desarmando. Mas, a deposição de armas foi tomada pela população de Paris como a entrega da própria revolução:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">O confisco de sua artilharia devia evidentemente servir como o prelúdio do desarmamento de Paris e, portanto, da Revolução de 4 de setembro. Mas essa revolução tornara-se agora o estatuto legal da França. A República, sua obra, foi reconhecida pelo conquistador nas cláusulas da capitulação. Após a capitulação, ela foi reconhecida por todas as potências estrangeiras e a Assembleia Nacional foi convocada em seu nome. A revolução operária de Paris de 4 de setembro era o único título legal da Assembleia Nacional reunida em Bordeaux e de seu poder executivo. (MARX, p. 47).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Mesmo a Alemanha, em posição de guerra contra a França, reconhecia <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">o risco imposto pelos trabalhadores parisienses com armas nas mãos.</span></span></span> Era a única chance de resistência do povo francês ao avanço alemão. Por isso, o <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">armísticio </span></span></span>previa os seu desarmamento imediato. A Paris da Guarda Nacional era o coração da República nascente. Sem ela não haveria qualquer possibilidade de resistência:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A Assembleia Nacional, dotada de plenos poderes para acertar as condições da paz com a Prússia, foi apenas um episódio daquela revolução, cuja verdadeira encarnação continuava a ser a Paris armada que a havia iniciado, que por ela sofrera um cerco de cinco meses, com seus horrores da fome, e que fez de sua prolongada resistência, apesar do plano de Trochu, a base de uma obstinada guerra de defesa nas províncias. (MARX, Idem).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Então, para população, entregar ou não as armas à Assembleia Nacional, significava dar como derrotada a revolução ou seguir aprofundando-a:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">E Paris tinha agora de escolher: ou depor suas armas diante das ordens insultantes dos escravocratas de Bordeaux, reconhecendo assim que sua revolução de 4 de setembro não significara mais do que uma simples transferência do poder de Luís Bonaparte para seus rivais monárquicos, ou seguir em frente como o paladino francês do autossacrifício, cuja salvação da ruína e regeneração seriam impossíveis sem a superação revolucionária das condições políticas e sociais que haviam engendrado o Segundo Império e que, sob sua égide acolhedora, amadureciam até a completa podridão. Paris, esgotada por cinco meses de fome, não hesitou nem um momento. Heroicamente, resolveu correr todos os riscos de uma resistência contra os conspiradores franceses, mesmo com o canhão prussiano a encará-la a partir de seus próprios fortes. (pp. 47-48).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">No entanto, mesmo optando por resistir à capitulação implementada pela Assembleia Nacional, Marx aponta que a Paris armada queria evitar a guerra civil, mantendo-se em posição defensiva frente a Assembleia, evitando revidar e se impor firmemente ao bando de Thiers: "Ainda assim, em sua aversão à guerra civil a que Paris estava para ser arrastada, o Comitê Central continuava a persistir em uma atitude meramente defensiva, apesar das provocações da Assembleia, das usurpações do Executivo e da ameaçadora concentração de tropas em Paris e seus arredores". (MARX, 2019, p. 48). A Guarda Nacional não entendeu que a tentativa de confisco dos canhões, em 18 de março na praça Vendmor, já era o inicio da guerra civil em Paris. Com o fracasso da tentativa do confisco das armas, Thier convocou a guarda nacional, formada por 300 mil homens, a se unir ao seu governo. No entanto, apenas trezentas pessoas atenderam ao seu chamado. (p. 48).</p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><b>18 a 28 de março: fuga do governo provisório e início da Comuna de Paris</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Conforme apontado, as tropas </span></span></span>enviadas para desarmar Paris no dia 18 de março, ao invés de tomar as armas da Guarda Nacional, acabaram persuadidas pela população parisiense, o que por sua vez, deu-se lugar à confraternização das tropas do governo com as <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">massas</span></span></span> dos revolucionárias. O general Lecomte ordenou quatro vezes ao seu exercito que se abrisse fogo contra as mulheres e crianças na linha de frente, mas seu exército se negou e, por fim, fuzilou o general contrarevolucionário, o mesmo destino teve o general Clément Thomas no mesmo dia. Esse episódio de 18 de março “terminou com a derrota do exército e a fuga do governo para Versalhes, tendo todo o conjunto da administração recebido ordens para abandonar seus postos e acompanhar o governo em sua fuga”. (MARX, p. 67). Esse episódio marcou o início da Comuna: "A gloriosa revolução operária de 18 de março apoderou-se incontestavelmente de Paris. O Comitê Central era seu governo provisório". (p. 48). Assim: "Na aurora de 18 de março de 1871, Paris despertou com o estrondo: “Viva a Comuna!”. (MARX, p.54).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx comemora a corajosa instauração da comuna (oficialmente decretada no dia 28 de março de 1871), mas, ao mesmo tempo, o autor aponta que os revolucionários foram complacentes demais ao não prender os militares do governo que na “crise dos canhões” se opunham à confraternização e ordenavam massacrar Paris naquele 18 de março. As tropas voltaram tranquilamente para seus postos para se reorganizar contra a Comuna. Enquanto isso, “Simulando negociações de paz com Paris, Thiers ganhou tempo para preparar a guerra contra ela”. Para o Marx, o correto a se fazer seria prender a reação e marchar para Versalhes, ampliando a comuna. O autor aponta que, a partir desse dia, a burguesia reacionária, representada no Grupo da Ordem, temia uma imediata retaliação armada do proletariado. Como isso não ocorreu, esses elementos mais reacionários entenderam que os revolucionários <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">eram vacilantes</span></span></span>, e assim, se reorganizaram, inclusive dentro de Paris, para um ataque armado contra os revolucionários. <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Para </span></span></span>Marx, isso ficou evidente já no dia 22 de março de 1871:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Em 22 de março, uma turba revoltosa de emperiquitados partiu dos bairros luxuosos, tendo em suas fileiras todos os </span><span style="font-size: 10pt;"><i>petits crevés </i></span><span style="font-size: 10pt;">e, à dianteira, os homens notoriamente mais íntimos do império – os Heeckeren, os Coëtlogon, Henry de Pène etc. Sob o covarde pretexto de um protesto pacífico, esse bando, portando secretamente armas de duelistas, pôs-se em marcha, agredindo e desarmando as patrulhas e sentinelas da Guarda Nacional que encontravam pelo caminho e, ao desembocar na rue de la Paix, aos brados de “Abaixo o Comitê Central! Abaixo os assassinos! Viva a Assembleia Nacional!”, tentaram passar através do armado cordão de isolamento, a fim de tomar de assalto o quartel da Guarda Nacional na praça Vendôme. (MARX, 2019, p. 50).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">A Guarda Nacional dispersou-os com uma salva de tiros, sendo que, de acordo com o autor: "Uma carga foi bastante para pôr a correr, em fuga desesperada, aqueles estúpidos fanfarrões". (Idem, p. 51). Mas, novamente, as tropas da Guarda Nacional deixou que partissem tranquilamente. Marx <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">relembra </span></span></span></span>que, por muito menos que isso, Thiers mandou massacrar manifestações proletárias pacificas em 1848: "O Comitê Central de 1871 simplesmente ignorou os heróis da “manifestação pacífica”, de tal modo que, dois dias mais tarde, eles puderam se apresentar ao almirante Saisset para aquela outra manifestação, agora <i>armada</i>, que culminou na famosa debandada para Versalhes". (p. 52).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">ressalta</span></span></span> que essa magnanimidade dos operários armados com relação <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">às</span></span></span> investidas contrarevolucionárias foi um dos maiores erros da Comuna de Paris. Deveria se ter prendido, julgado e condenado os bandos reacionários ativos. O correto seria ter revidado à investida das tropas de Thiers nos dias 18 e 22 de março. Sobretudo porque Versalhes não tinha tropas para resistir ao exército da Comuna: "Em sua relutância em continuar a guerra civil iniciada por Thiers e sua investida impetuosa contra Montmartre, o Comitê Central cometeu, aí, um erro decisivo ao não marchar imediatamente sobre Versalhes, então completamente indefesa, pondo assim um fim às conspirações de Thiers e seus 'rurais'". (p. 52). Ao invés de avançar contra os adversários, que já não tinham tropas suficientes, a Comuna seguia permitindo que se reorganizassem livremente, permitindo inclusive que participassem das eleições internas da comuna no dia 26 de março.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Novamente, a complacência dos operários de Paris não encontrava reciprocidade Thiers, que negociou com Bismarck a libertação dos militares presos na Alemanha. A partir disso organizou um cerco contra a Comuna e passou para os bombardeamento no do dia 2 de abril, os comunards resistiram, houve confrontos e 1.500 soldados da comuna foram capturados. De acordoo com Marx: "A primeira leva de prisioneiros parisienses transferida a Versalhes foi submetida a atrocidades revoltantes (...) Os soldados de linha capturados foram massacrados a sangue-frio". (p. 52). No dia 7 de abril, como forma de parar os massacres, a Comuna ameaçou “proteger Paris contra as proezas canibalescas dos bandidos versalheses e de exigir olho por olho, dente por dente”. (p. 53). Mas isso nunca foi levado a pratica, assim não se freou Thiers e <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">o</span></span></span> bando da Assembleia Nacional e suas tropas:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(…) o fuzilamento de prisioneiros foi suspenso por um tempo. Mas tão logo Thiers e seus generais dezembristas perceberam que o decreto da Comuna sobre represálias não era mais que uma ameaça vazia, que até os gendarmes espiões detidos em Paris com o disfarce de guardas nacionais estavam sendo poupados, assim como os </span><span style="font-size: 10pt;"><i>sergents de ville </i></span><span style="font-size: 10pt;">pegos portando granadas incendiárias, reiniciou-se então o fuzilamento em massa dos prisioneiros, prosseguindo ininterruptamente até o fim. As casas em que se refugiaram os guardas nacionais foram cercadas por gendarmes, inundadas com petróleo (que aparece, aqui, pela primeira vez nesta guerra) e, em seguida, incendiadas; os corpos carbonizados foram recolhidos mais tarde pela ambulância da imprensa, em Les Ternes. Quatro guardas nacionais que se renderam a uma tropa de soldados montados em Belle Epine, em 25 de abril, foram posteriormente fuzilados, um por um, pelo capitão, homem de confiança de Gallifet. Scheffer, uma de suas quatro vítimas, a quem se havia dado como morto, arrastou-se até os postos avançados de Paris e testemunhou esse fato perante uma comissão da Comuna. (p. 53).</span></p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><b>Seção III</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">No </span></span></span>Manifesto de 18 de março lançado pelo comitê da Comuna na “crise dos canhões já se defendia a instauração de uma governo formado pelos trabalhadores:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">em meio a fracassos e às traições das classes dominantes, compreenderam que é chegada a hora de salvar a situação, tomando em suas próprias mãos a direção dos negócios públicos (...) Compreenderam que é seu dever imperioso e seu direito absoluto tornar-se donos de seus próprios destinos, tomando o poder governamental. (Apud Marx, 2019, p. 54).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Em 28 de março o proletariado parisiense ciava oficialmente </span></span></span>um Estado operário independente, paralelo ao Estado burguês sediado em Versalhes. Mas, de acordo com Marx, os trabalhadores concluíram não bastava ocupar o poder político em Paris mantendo sua estruturação burguesa, era necessário destruí-la. Não se tratava de "transferir a maquinaria burocrático-militar de uma mão para outra, como foi feito até então, mas sim em <i>quebrá-la</i>, e que esta é a precondição de toda revolução popular efetiva no continente. Esse é, também, o experimento de nossos heróicos correligionários de Paris<sup><a class="sdfootnoteanc" href="#sdfootnote2sym" name="sdfootnote2anc" style="font-size: 7.6px;"><sup>2</sup></a></sup>". (MARX, 2019). A Comuna de Paris apontou quais os caminhos para a destruição da maquina estatal burguesa. Evidenciando assim que: "a classe operária não pode simplesmente se apossar da máquina do Estado tal como ela se apresenta e dela servir-se para seus próprios fins". (Idem, p. 54). Marx destaca que a estrutura do Estado foi moldada desde os tempos da monarquia absoluta, adentrou ao controle do Parlamento controlado diretamente pelas classes proprietárias. Foi dessa estrutura que a burguesia se apoderou para a manutenção da dominação do capital sobre o trabalho. Para fundamentar a defesa da destruição do Estado burgues, Marx aborda desde o surgimento do Estado moderno, na monarquia absoluta, até o momento de tentativa de dissolução dele na Comuna:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0cm; margin-left: 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">O poder estatal centralizado, com seus órgãos onipresentes, com seu exército, polícia, burocracia, clero e magistratura permanentes – órgãos traçados segundo um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho –, tem sua origem nos tempos da monarquia absoluta e serviu à nascente sociedade da classe média como uma arma poderosa em sua luta contra o feudalismo. Seu desenvolvimento, no entanto, permaneceu obstruído por todo tipo de restos medievais, por direitos senhoriais, privilégios locais, monopólios municipais e corporativos e códigos provinciais. A enorme vassoura da Revolução Francesa do século XVIII varreu todas essas relíquias de tempos passados, assim limpando ao mesmo tempo o solo social dos últimos estorvos que se erguiam ante a superestrutura do edifício do Estado moderno erigido sob o Primeiro Império, ele mesmo o fruto das guerras de coalizão da velha Europa semifeudal contra a França moderna. Durante os regimes subsequentes, o governo, colocado sob controle parlamentar – isto é, sob o controle direto das classes proprietárias –, tornou-se não só uma incubadora de enormes dívidas nacionais e de impostos escorchantes, como também, graças à irresistível fascinação que causava por seus cargos, pilhagens e patronagens, converteu-se no pomo da discórdia entre as facções rivais e os aventureiros das classes dominantes; mas o seu caráter político mudou juntamente com as mudanças econômicas ocorridas na sociedade. (pp. 54-55).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;">No período da revolução industrial, da hegemonia burguesa, o Estado evidenciou seu caráter de classe na manutenção da dominação e exploração da classe trabalhadora:</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">No mesmo passo em que o progresso da moderna indústria desenvolvia, ampliava e intensificava o antagonismo de classe entre o capital e o trabalho, o poder do Estado foi assumindo cada vez mais o caráter de poder nacional do capital sobre o trabalho, de uma força pública organizada para a escravização social, de uma máquina do despotismo de classe. Após toda revolução que marca uma fase progressiva na luta de classes, o caráter puramente repressivo do poder do Estado revela-se com uma nitidez cada vez maior. (MARX, 2019, p. 55).</span></p><p align="left" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Os primeiros passos para a</span></span></span></span> destruição do Estado burguês</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">caracteriza a </span></span></span>Comuna de Paris como uma forma de antítese do Império de Bonaparte, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">como </span></span></span>a construção de uma "República social", uma contraposição organizada contra a dominação burguesa, imposta pela classe operária em autogoverno. <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Em sua reafirmação como poder proletário, </span></span></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">foi </span></span></span>necessário destruir as bases da dominação burguesa, <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">desmontar a estrutura d</span></span></span>o exército burguês e substituí-lo pelo povo armado:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Paris, sede central do velho poder governamental e, ao mesmo tempo, bastião social da classe operária francesa, levantara-se em armas contra a tentativa de Thiers e dos “rurais” de restaurar e perpetuar aquele velho poder que lhes fora legado pelo Império. Paris pôde resistir unicamente porque, em consequência do assédio, livrou-se do exército e o substituiu por uma Guarda Nacional, cujo principal contingente consistia em operários. Esse fato tinha, agora, de se transformar em uma instituição duradoura. Por isso, o primeiro decreto da Comuna ordenava a supressão do exército permanente e sua substituição pelo povo armado. (p. 56).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Além do exército, a polícia também perdeu seu caráter de perseguição e repressão à classe trabalhadora e a seus movimentos políticos. A própria polícia também tornou-se revogável: "Em vez de continuar a ser o agente do governo central, a polícia foi imediatamente despojada de seus atributos políticos e convertida em agente da Comuna, responsável e substituível a qualquer momento". (MARX, 2019, p. 57). Com isso, Paris se viu "livre do exército permanente e da polícia – os elementos da força física do antigo governo". (p.57). Além <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">de desmontar as instituições burguesas de</span></span></span></span> repressão física que agiam permanentemente contra a classe trabalhadora, buscou-se também suprimir o poder político da Igreja que dava sustentação espiritual a dominação de classe:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.2cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.2cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(…) a Comuna ansiava por quebrar a força espiritual de repressão, o “poder paroquial”, pela desoficialização [</span><span style="font-size: 10pt;"><i>disestablishment</i></span><span style="font-size: 10pt;">] e expropriação de todas as igrejas como corporações proprietárias. Os padres foram devolvidos ao retiro da vida privada, para lá viver das esmolas dos fiéis, imitando seus predecessores, os apóstolos. (MARX, 2019, p. 57).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">A Comuna também suprimiu os cargos parlamentares de longa duração, todos os cargos deveriam ser revogáveis a qualquer momento:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; break-before: auto; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.4cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A Comuna era formada por conselheiros municipais, escolhidos por sufrágio universal nos diversos distritos da cidade, responsáveis e com mandatos revogáveis a qualquer momento. A maioria de seus membros era naturalmente formada de operários ou representantes incontestáveis da classe operária. A Comuna devia ser não um corpo parlamentar, mas um órgão de trabalho, Executivo e Legislativo ao mesmo tempo. (…). (Idem, pp. 56-57).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Também foram abolidos os altos salários nos poderes públicos, bem como os salários miseráveis do proletariado:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; break-before: auto; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.3cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.3cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Dos membros da Comuna até os postos inferiores, o serviço público tinha de ser remunerado com <i>salários de operários</i>. Os direitos adquiridos e as despesas de representação dos altos dignitários do Estado desapareceram com os próprios altos dignitários. As funções públicas deixaram de ser propriedade privada dos fantoches do governo central. Não só a administração municipal, mas toda iniciativa exercida até então pelo Estado foi posta nas mãos da Comuna. (Idem, p. 57).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Ainda, a Comuna instituiu o ensino gratuito, laico e universal, acessível a todos: "Todas as instituições de ensino foram abertas ao povo gratuitamente e ao mesmo tempo purificadas de toda interferência da Igreja e do Estado. Assim, não somente a educação se tornava acessível a todos, mas a própria ciência se libertava dos grilhões criados pelo preconceito de classe e pelo poder governamental". (p. 57).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx aponta que outra tarefa da Comuna era a descentralização do Poder em Paris: "o antigo governo centralizado também teria de ceder lugar nas províncias ao autogoverno dos produtores". (p. 57). Mas na iminência dos 71 dias de Comuna essa tarefa não pôde ser realizada: "No singelo esboço de organização nacional que a Comuna não teve tempo de desenvolver, consta claramente que a Comuna deveria ser a forma política até mesmo das menores aldeias do país e que nos distritos rurais o exército permanente deveria ser substituído por uma milícia popular, com um tempo de serviço extremamente curto". (p. 57).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Com todas essas incursões sobre as instituições sociais, Marx aponta que: "O regime comunal teria restaurado ao corpo social todas as forças até então absorvidas pelo parasita estatal, que se alimenta da sociedade e obstrui seu livre movimento. Esse único ato bastaria para iniciar a regeneração da França". (p. 59). Como foi articulada pela cidade, pelo poder operário: "regime comunal colocava os produtores do campo sob a direção intelectual das cidades centrais de seus distritos, e a eles afiançava, na pessoa dos operários, os fiduciários naturais de seus interesses". (p. 59). Aponta ainda que a Comuna tornou a administração estatal mais barata:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A Comuna tornou realidade o lema das revoluções burguesas – o governo barato – ao destruir as duas maiores fontes de gastos: o exército permanente e o funcionalismo estatal. Sua própria existência pressupunha a inexistência da monarquia, que, ao menos na Europa, é o suporte normal e o véu indispensável da dominação de classe. A Comuna dotou a República de uma base de instituições realmente democráticas. Mas nem o governo barato nem a “verdadeira República” constituíam sua finalidade última. Eles eram apenas suas consequências. (MARX, 2019, p. 59).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">O que tornou possível todos esses avanços foi justamente o poder operário na organização da sociedade, a forma política de autogoverno do proletariado que levava <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">à</span></span></span> emancipação política e econômica do trabalho em relação à dominação burguesa: "Eis o verdadeiro segredo da Comuna: era essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política enfim descoberta para se levar a efeito a emancipação econômica do trabalho". (p. 59). A Comuna construiu na prática a emancipação de classe eliminando seus parasitas, transformando todos os homens em produtores: "A Comuna, portanto, devia servir como alavanca para desarraigar o fundamento econômico sobre o qual descansa a existência das classes e, por conseguinte, da dominação de classe. Com o trabalho emancipado, todo homem se converte em trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser um atributo de classe". (p. 59). O autor destaca que a revolução proletária de Paris foi também fruto do protagonismo das mulheres parisienses:</p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; break-before: auto; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.3cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.3cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) as verdadeiras mulheres de Paris voltavam a emergir: heroicas, nobres e devotadas como as mulheres da antiguidade. Trabalhando, pensando, lutando, sangrando: assim se encontrava Paris, em sua incubação de uma sociedade nova e quase esquecida dos canibais à espreita diante de suas portas, radiante no entusiasmo de sua iniciativa histórica! (p. 66).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt;">Ainda, </span>Marx aponta que a Comuna tinha aspirações ainda mais profundas:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A Comuna, exclamam, pretende abolir a propriedade, a base de toda civilização! Sim, cavalheiros, a Comuna pretendia abolir essa propriedade de classe que faz do trabalho de muitos a riqueza de poucos. Ela visava a expropriação dos expropriadores. Queria fazer da propriedade individual uma verdade, transformando os meios de produção, a terra e o capital, hoje essencialmente meios de escravização e exploração do trabalho, em simples instrumentos de trabalho livre e associado. (MARX, 2019, p. 60).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx aponta que a classe trabalhadora parisiense em luta contra o velho regime, tinha clareza das dificuldade de se colocar em prática um plano social transicional:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">A classe trabalhadora não esperava milagres da Comuna. Os trabalhadores não têm nenhuma utopia já pronta para introduzir par </span><span style="font-size: 10pt;"><i>décret du peuple </i></span><span style="font-size: 10pt;">[por decreto do povo]. Sabem que, para atingir sua própria emancipação, e com ela essa forma superior de vida para a qual a sociedade atual, por seu próprio desenvolvimento econômico, tende irresistivelmente, terão de passar por longas lutas, por uma série de processos históricos que transformarão as circunstâncias e os homens. Eles não têm nenhum ideal a realizar, mas sim querem libertar os elementos da nova sociedade dos quais a velha e agonizante sociedade burguesa está grávida. (MARX, p. 60).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx destaca que, com a Comuna, “pela primeira vez na história, os simples operários ousaram infringir o privilégio estatal de seus ‘superiores naturais’”.(p. 61). Assim se instituía pela primeira vez a “República do trabalho”. Marx, infere que nesse processo, a classe trabalhadora demonstrou sua capacidade exercer hegemonia social sobre outros setores da sociedade: “essa foi a primeira revolução em que a classe trabalhadora foi abertamente reconhecida como a única classe capaz de iniciativa social, mesmo pela grande massa da classe média parisiense – lojistas, negociantes, mercadores –, excetuando-se unicamente os capitalistas ricos”. (p. 61). Isso porque, os setores de pequenos proprietários e classes médias viram “que havia apenas uma alternativa, a Comuna ou o Império, qualquer que fosse o nome sob o qual este viesse a ressurgir”. (p. 61). O mesmo valia para os camponeses, a vitória da Comuna era sua esperança contra os “rurais” das classes dominantes. Entre os benefícios da Comuna para os camponeses, Marx destaca:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) A Comuna teria isentado o camponês da maldita taxa, ter-lhe-ia dado um governo barato, teria convertido os seus atuais sanguessugas – o notário, o advogado, o coletor e outros vampiros judiciais – em empregados comunais assalariados, eleitos por ele e responsáveis perante ele. Tê-lo-ia libertado da tirania do </span><span style="font-size: 10pt;"><i>garde champêtre</i></span><span style="font-size: 10pt;"> [guarda rural], do gendarme e do prefeito, teria posto o esclarecimento do professor escolar no lugar do embrutecimento do pároco. E o camponês francês é, acima de tudo, um homem de cálculo. (...). (p. 62).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Por tais aspectos, Marx considera que a Comuna conseguia representar “todos os elementos saudáveis da sociedade francesa”. <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">Por isso</span></span></span> afirmava-se como “o verdadeiro governo nacional, ela era, ao mesmo tempo, como governo operário e paladino audaz da emancipação do trabalho, um governo enfaticamente internacional”. (MARX, 2019, p. 63).</p><p align="center" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><b>Seção IV</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Nessa última seção Marx enfoca no confronto final e na repressão à Comuna. Conforme apontado, após a fuga do governo de Thiers e do exército para Versalhes, passou-se a articulação da contrarrevolução para esmagar a Comuna. O governo lançou um chamado às províncias para formar um novo exército, mas os trabalhadores do campo e das cidades recusaram o apelo. Thiers <span style="color: black;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">também</span></span></span> apelou a Bismarck, solicitando a libertação dos militares presos ao longo da guerra. Solicitava a libertação dos prisioneiros unicamente com objetivo de reprimir Paris. Só assim Thiers conseguiu compor um forte exército capaz de derrotar a Paris operária. De acordo com Marx: “Quando o momento decisivo estava próximo, disse – à Assembleia: “Serei impiedoso!” – a Paris que ela estava condenada; e aos seus bandidos bonapartistas, que estes tinham licença estatal para vingar-se de Paris como bem o entendessem”. (p.72). No dia 21 maio de 1871 as tropas de Versalhes invadiram Paris, encontraram na resistência de Paris homens, mulheres e crianças dispostos a morrerem pela Comuna, os confrontos duraram 8 dias. De acordo com Marx:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">E assim foi. A civilização e a justiça da ordem burguesa aparecem em todo o seu pálido esplendor sempre que os escravos e os párias dessa ordem se rebelam contra seus senhores. Então essa civilização e essa justiça mostram-se como uma indisfarçada selvageria e vingança sem lei. Cada nova crise na luta de classes entre o apropriador e o produtor faz ressaltar esse fato com mais clareza. Mesmo as atrocidades da burguesia em junho de 1848 se esvanecem diante da infâmia de 1871. O abnegado heroísmo com que a população de Paris – homens, mulheres e crianças – lutou por oito dias desde a entrada dos versalheses reflete a grandeza de sua causa tanto quanto as façanhas infernais dessa soldadesca refletem o espírito inato da civilização da qual eles são os mercenários defensores. Esta gloriosa civilização, cujo grande problema é saber como se ver livre, finda a batalha, das pilhas de cadáveres que ela produziu! (pp. 72-73).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx compara o massacre à Comuna aos massacres no Império Romano no período dos triunviratos:</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 16px; margin-bottom: 0.42cm; margin-left: 4cm; margin-top: 0.42cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Para encontrar um paralelo para a conduta de Thiers e seus cães de caça temos de voltar aos tempos de Sula e dos dois triunviratos de Roma. Os mesmos morticínios em massa a sangue-frio, o mesmo desdém, no massacre, pela idade e pelo sexo, o mesmo sistema de tortura dos prisioneiros, as mesmas proscrições, mas agora de uma classe inteira, a mesma caça selvagem dos líderes na clandestinidade para evitar que qualquer um deles conseguisse escapar, as mesmas delações de inimigos políticos e privados, a mesma indiferença pela chacina de pessoas inteiramente estranhas à luta. Há somente uma diferença: os romanos não dispunham de </span><span style="font-size: 10pt;"><i>mitrailleuses </i></span><span style="font-size: 10pt;">para despachar em massa os proscritos e não tinham “a lei em suas mãos”, nem em seus lábios o brado de “civilização”. (p. 73).</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Marx aponta que a repressão e assassinato em massa na Comuna foi um dos mais violentos da história até então. Enquanto o massacre ocorria (e depois dele), o governo, o Partido da Ordem, os rurais e a burguesia, além do assassinato em massa de <span style="color: black;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><span lang="pt-BR">cerca de</span></span></span></span> 30 mil trabalhadores, ainda dedicaram-se a caluniar a Comuna e seus apoiadores: “Em cada um de seus sangrentos triunfos sobre os abnegados paladinos de uma nova e melhor sociedade, essa abominável civilização, baseada na escravização do trabalho, afoga os gemidos de suas vítimas em uma gritaria selvagem de calúnias reverberadas por um eco mundial. A serena Paris operária da Comuna é subitamente transformada em pandemônio pelos cães de caça da “ordem”. (p. 74).</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">Ainda sobre a resistência, Marx apontou que: “O povo de Paris morre entusiasticamente pela Comuna em quantidade não igualada por nenhuma batalha conhecida da história (...). As mulheres de Paris dão alegremente as suas vidas nas barricadas e no campo de fuzilamento (...). A moderação da Comuna durante os dois meses de seu governo indisputado só se iguala ao heroísmo de sua defesa”. (p. 74). Marx finaliza o documento sublinhando que “A Paris dos trabalhadores, com sua Comuna, será eternamente celebrada como a gloriosa precursora de uma nova sociedade”. (MARX, 2019, p. 79). Viva a Comuna de Paris!</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><br /></p><p align="justify" class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b>Bibliografia</b></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">LENIN, V. Em memória da comuna. Acesse: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1911/04/28.htm</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt;">LENIN. V. </span><span face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">A Comuna de Paris e as Tarefas da Ditadura Democrática. Acesse: </span></span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;">https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/07/17.htm</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; text-indent: 1.25cm;">LENIN. V. </span><span face="Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif" style="text-align: center;">Os Ensinamentos da Comuna. Acesse: </span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: left; text-indent: 1.25cm;">https://www.marxists.org/portugues/lenin/1908/03/23.htm</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">MARX, K. Guerra civil na França. Boitempo. SP. 2019.</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 47.2441px;">MARX, K. </span><i style="font-size: 12pt; text-indent: 47.2441px;">As lutas de classe na França. Boitempo.</i></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="text-indent: 47.2441px;">MARX, K. </span><i style="text-indent: 47.2441px;">Mensagem Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores</i><span style="text-indent: 47.2441px;">. 1864.</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 47.2441px;">MANDEL. E. </span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: black;"><span>La Primera Internacional y su lugar en la evolucion del movimiento obrero</span></span></span><span style="color: black;"><span>. 1954. Acesse: https://www.marxists.org/espanol/mandel/1954/primera_internacional.htm</span></span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman", serif;"><span>MOURA. A. </span></span><span face="SourceSansPro-Semibold" style="background-color: white; text-align: left;">Marx antes do marxismo - Diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro (1841). Acesse: </span><span style="text-align: left;"><span face="SourceSansPro-Semibold">https://www.esquerdadiario.com.br/Marx-antes-do-marxismo-Diferenca-entre-as-filosofias-da-natureza-em-Democrito-e-Epicuro-1841</span></span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman", serif;"><span>MOURA. A. </span></span><span face="SourceSansPro-Semibold" style="background-color: white;">Marx em defesa da liberdade de imprensa (1842). Acesse: </span><span face="SourceSansPro-Semibold">https://www.esquerdadiario.com.br/Marx-em-defesa-da-liberdade-de-imprensa-1842</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span face="SourceSansPro-Semibold">MOURA. A. </span><span face="SourceSansPro-Semibold" style="background-color: white;">A ruptura de Marx com Hegel: Critica da filosofia do direito de Hegel. Acesse: </span><span face="SourceSansPro-Semibold">https://www.esquerdadiario.com.br/A-ruptura-de-Marx-com-Hegel-Critica-da-filosofia-do-direito-de-Hegel</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: left;"><span face="SourceSansPro-Semibold">MOURA. A. Marx, O Estado e a liberdade religiosa - um debate sobre A questão judaica. Acesse: http://combateclassista.blogspot.com/2020/03/marx-o-estado-e-liberdade-religiosa.html</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;">TROTSKI, L. Lições da Comuna. 1921. Acesse: https://esquerdaonline.com.br/2021/03/16/licoes-da-comuna-por-leon-trotsky/</p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><span style="font-size: 12pt;">TROTSKI, L. </span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: BebasNeueRegular, arial, Georgia, serif; text-align: left;">A Comuna de Paris e a Rússia dos Sovietes. Acesse: </span><span style="font-size: 12pt; text-indent: 47.2441px;">https://esquerdaonline.com.br/2021/03/16/licoes-da-comuna-por-leon-trotsky/</span></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><br /></p><p class="western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 24px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1.25cm;"><br /></p><div id="sdfootnote1"><p align="justify" class="sdfootnote-western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; line-height: 13.3333px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a class="sdfootnotesym" href="#sdfootnote1anc" name="sdfootnote1sym">1</a> <span style="color: black;">Mandel, E. </span><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;"><span lang="pt-BR">La Primera Internacional y su lugar en la evolucion del movimiento obrero</span></span></span></span><span style="color: black;"><span style="font-size: 10pt;"><span lang="pt-BR">. 1954.</span></span></span></p></div><div id="sdfootnote2"><p align="justify" class="sdfootnote-western" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; direction: ltr; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 10pt; line-height: 20px; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a class="sdfootnotesym" href="#sdfootnote2anc" name="sdfootnote2sym">2</a> Carta escrita por Marx durante a Comuna (12 de abril de 1871) a Ludwig Kugelmann.</p></div>Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-38946126128048482502020-10-23T04:26:00.007-07:002020-10-23T04:28:33.530-07:00Crise de acumulação, Estado e classes sociais<p> </p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Prof. Dr. Alessandro de Moura<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a></span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Resumo:</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> O objetivo do artigo é discutir a crise estrutural de acumulação do
capital que se estende desde a década de 1970 como uma "longa crise"
que dura até o presente momento. Esta foi aprofundada por uma nova etapa da
crise iniciada em 2008 e agravada pela pandemia de 2020. Por fim abordamos o
surgimento da pandemia do covid-19 no marco da produção industrial em larga
escala, considerando os impactos que tal produção desencadeia sobre o meio
ambiente e outras formas de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Introdução</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A crise dos anos 1970
decorreu do fim do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">boom </i>do
pós-guerra, configurando-se como uma reestruturação do capitalismo global.
Dentre as medidas adotadas no pós-crise estavam o ataque às conquistas e
direitos da classe trabalhadora, reestruturação produtiva e tecnológica para
poupar trabalho e baixar salários, bem como a desregulamentação dos mercados
financeiros e abertura comercial das economias nacionais para novos fluxos
monetários internacionais. Esse processo se deu sob hegemonia do capital
financeiro, sobretudo porque a crise de superprodução dificultava a ampliação
da produção. Em tal cenário, de excesso de capitais em circulação que não eram
investidos na esfera produtiva, ganhou corpo a financeirização progressiva. A
desregulamentação ampliou as liberdades e possibilidades de valorização dos
capitais, favorecendo ainda mais a financeirização. Nesse processo, foram
facilitadas as fusões de plantas produtivas, de capitais financeiros e bancos,
com migração de remessas monetárias para variados países em busca por novos locais
de valorização a juros e onde a força de trabalho era mais abundante, barata e com
menos direitos trabalhistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O capital financeiro
global especulava com o petróleo, compra e venda de <i>commodities</i>, de
produtos manufaturados, ações, títulos de dívidas, moedas, imóveis etc. A
dificuldade de valorização na produção, com grandes somas de recursos aplicados
e reaplicados na especulação, ocasionou-se um inchaço na esfera financeira e alimentando
bolhas especulativas. Embora essas medidas geraram certa recuperação dos
lucros, com intensificação da taxa de exploração, no entanto, tal
reestruturação do capitalismo após a crise dos anos 1970, não foi capaz de
resolver a situação de superprodução e nem de recuperar as taxas de acumulação
anteriores à crise. Seguiram-se décadas de baixo crescimento com uma série de
crises internacionais, sendo que o crescimento do PIB<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> per capita</i> do período 1980-2000 foi menor do que o da fase de
crescimento anterior. Doravante, no início da década de 2000 se desenvolveu um
novo ciclo de expansão mundial, com crescimento econômico generalizado internacionalmente
que durou até 2008, para novamente desembocar em uma nova crise econômica
internacional que se estende até nossos dias, sendo aprofundada pela pandemia
do Covid-19.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O <i>boom </i>do pós-guerra: o fenômeno e suas contradições</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O capitalismo passou
por uma importante fase de crescimento e estabilidade no pós-segunda Guerra Mundial,
caracterizada pelo economista Ernest Mandel como uma “longa onda
expansiva”. (MANDEL, 1990, p. 26). Fruto de um conjunto de políticas de
intervenção e regulação na economia (em grande medida definido no acordo de
Bretton Woods em 1944), implementaram-se políticas que visavam: baixos índices
de desemprego, regulação de fluxos de capitais e controle das desigualdades
econômicas, com baixa intensidade nos conflitos de classe. Esse acordo entre os
países do núcleo orgânico da economia internacional foi também, em meio à
guerra fria, uma forma política e econômica de contrapor à expansão da
perspectiva socialista no Ocidente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim, as principais
potências recorreram a um misto de políticas econômicas englobando o
keynesianismo para intervir na estabilidade econômica, controle e pacificação das
lutas de classes. De acordo com Mandel: “Após 1945, o objetivo número 1 havia
sido a estabilização social e política dos principais países capitalistas
(América do Norte, Europa Ocidental, Japão): daí a orientação para o pleno
emprego e utilização prioritária de técnicas keynesianas”. (MANDEL, 1990, p.
277). Centrado sobretudo nos países ricos, esse período de<i> boom</i> econômico
no pós-guerra, marcado por crises econômicas de menor intensidade, também foi
chamado “era de ouro do capitalismo”, “anos gloriosos” ou período “fordista”.
(HOBSBAWM, 2001). Nesse período (1950-1973), a economia mundial cresceu a uma
taxa anual em torno de 5%.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dentro desse processo,
um vigoroso fluxo de investimento americano foi destinado para a reconstrução
de alguns dos países que sofreram grande destruição durante a Segunda Guerra
Mundial, sobretudo: Alemanha, Japão, Itália e França. De acordo com Arrighi: “a
Alemanha (Ocidental), a Itália e o Japão se moveram, naquele período, com a
ajuda maciça da nova potência hegemônica (os Estados Unidos)”. (1998, p. 61).
Assim, a reconstrução do pós-guerra, com forte intervenção estatal na economia,
está na base daquela nova fase de crescimento. Com tal política, segundo
Brenner: “a maioria das economias capitalistas avançadas experimentou índices historicamente
inéditos de crescimento de investimento, produção, produtividade e salários,
junto com baixos índices de desemprego e apenas breves e moderadas recessões.
(BRENNER, 2003, p. 54). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os EUA, desde a
primeira Guerra Mundial, acumulavam significativa reserva de ouro, conforme
apontado por Eichengreen: “os Estados Unidos tinha exportado ‘commodities’
agrícolas e produtos manufaturados em troca de ouro e divisas estrangeira. As
reservas de ouro americanas haviam crescido de <a href="https://www.google.com/maps/search/US$+1,3?entry=gmail&source=g" target="_blank"><span style="color: black; text-decoration: none; text-underline: none;">US$ 1,3</span></a> bilhão em 1913 para US$ 4 bilhões em 1923”.
(EICHENGREEN, 2007, p. 97). Ainda, segundo o autor: “Em 1926, os EUA possuíam
quase 45% do estoque mundial de ouro. Um quarto desse volume era do chamado
ouro livre – ou seja, ele excedia os 40% de cobertura exigido pelas leis do
padrão ouro do país”. (Idem, p. 102). Isso tornou o país o principal pilar
internacional do padrão ouro. Por esses e outros motivos, no período entre
guerras, os Estados Unidos passaram à frente da Grã-Bretanha, assumindo a
liderança nas esferas comercial e financeira”. (EICHENGREEN, 2007, p. 130). O
autor destaca ainda que: “Em 1948, os Estados Unidos detinham mais de dois
terços das reservas monetárias mundiais”. (Idem, 137). Por possuir as maiores
reservas de ouro e garantir a conversibilidade do dólar em ouro, a moeda
americana tornava-se mais robusta. Isso fez com que as outras economias
mundiais atrelassem suas moedas ao dólar. Tal composição de fatores assegurava
a hegemonia mundial aos EUA, que se tornou o polo organizador dos países
capitalistas em oposição a URSS e seus aliados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os milagres econômicos na Alemanha e no Japão no boom do pós-guerra</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No caso alemão, foi
fundamental o financiamento internacional para a retomada da economia, Segundo
Braga: “A reconstrução tem início em março de 1948, quando os aliados
ocidentais fundam o novo Banco Central, o qual emite, em junho, a nova moeda, o
marco <i>(deutscheMark). </i>Em 1957 surge o Deutsche Bundesbank, o
banco central que existe até hoje”. (BRAGA, 1999, 210). Além disso, “a Alemanha
permaneceria de posse de seu ouro e de suas reservas internacionais, o que se
tornou possível pelo cancelamento <i>(write off) </i>de 2/3 da dívida
contraída com os Estados Unidos após a guerra”. (BRAGA, 1999, 210). Outro
destaque foi para a derrota das políticas liberais no país, tal qual se deu no
Japão no mesmo período. Com grande investimento estatal “Entre 1949 e 1959 o
crescimento econômico médio anual foi mais do que o dobro do ocorrido entre 1871
e 1913”. (Idem, 211).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse processo,
decidiu-se pela retomada da dinâmica industrial com investimento estatal em
vários setores da produção, mas também pelo fomento à iniciativa privada, na
chamada “Economia Social de Mercado”, que, segundo Braga: “propunha
distanciar-se tanto do intervencionismo fascista ou socialista quanto do
liberalismo de mercado anglo-saxão”. (p. 211). Tal política focava-se na
“competição administrável” com forte mediação estatal, mas também na “política
de estabilização e medidas anticíclicas; ética e política contra o <i>laissez-faire</i>”.
(BRAGA, 1999, p. 212). O Estado assegurava condições infraestruturais
necessárias ao desenvolvimento regulado e sustentado no qual “a
concorrência intercapitalista não pode ter rédeas soltas, devendo ser
‘trabalhada’ pelo Estado”. (Idem). Também buscou-se incorporar setores das
lideranças sindicais para planos de seguridade social e reajustes salariais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Destinaram-se grandes
investimentos em inovação, visando o aumento da produtividade para competitividade
internacional. O Estado garantia acesso ao crédito de longo prazo, para
alavancar a produção, configurando uma ampla gama de subsídios industriais,
tanto para os setores naval, mineração, ferro, aço, confecções, têxteis, como
para setores de alta tecnologia. (BRAGA, 1999, p. 213). Segundo o autor: “A
presença de empresas públicas destacou-se nos setores de transportes
(ferrovias), serviços de comunicações, eletricidade, gás, água, aquecimento dos
distritos, habitacional, bancos e seguradoras”. (Idem, p. 214).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esse conjunto de
políticas fortaleceu as exportações, sendo que nos anos 1950: “as trocas de
bens já geravam 20% de seu Produto Nacional Bruto (...). Entre 1950 e 1990, a
sua participação nas exportações mundiais cresce de 3.5% para 12,1%, comportamento
que assegurou uma balança comercial permanentemente superavitária (...)”. (p.
215). Notadamente, coube destacada importância aos bancos públicos, que tinham
grande participação no total de operações bancárias, sendo em “1950, 45,6%;
1960, 55,7%; 1970, 57,1%. Tais percentuais dão a dimensão da importância
histórica do Estado alemão na gestão creditícia desse país”. (BRAGA, 1999, p.
216). Para o autor: “O padrão de desenvolvimento que analisamos conduziu a
Alemanha até as portas do século XXI como potência econômica hegemônica no
continente europeu. (Idem, p.217).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No Oriente, dentro do
processo de reconstrução do pós-guerra, o Japão foi escolhido como uma potência
regional que deveria emergir como exemplo do capitalismo bem-sucedido no Leste
Asiático. Arrighi destacou que, durante a guerra fria, os EUA se viram diante
da “necessidade de melhorar a economia japonesa de modo a transformá-la num
bastião e amostra da política americana de contenção do poder comunista na
Ásia”. (1998, p. 118). Por isso passou a receber vultuosos fluxos de capital
externo de investimento. Foram articuladas políticas de forte intervenção
estatal e modernização tecnológica. Diferentemente dos países europeus, onde se
contou com maiores margens de negociação e concessões trabalhistas, no Japão foi
operada uma extensa repressão ao movimento operário e sindical para impor
contenção das demandas salariais. Além disso, os EUA mantiveram seus mercados
disponíveis aos produtos da Ilha e pressionava constantemente seus aliados para
que fizessem o mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Arrighi apontou que outro
elemento importante na composição do milagre de desenvolvimento do Japão foi da
ampla rede de terceirização e subcontratação de mão de obra estabelecida, com
baixos salários em múltiplas camadas e diversos níveis e em forma piramidal,
primários, secundários, terciário e: “até que se atinja a base da pirâmide
formada por uma grande quantidade de domicílios que subcontratam operações
simples”. (ARRIGHI, 1998, p. 68). Com todos esses elementos, de acordo com Krugman:
“o Japão emergiu das ruínas da guerra para se tornar a segunda maior economia
do mundo – crescimento per capita de 8 por cento ao ano de 1953 a 1973”.
(KRUGMAN, 1999, p. 44). O desenvolvimento sustentado desse país, que se tornou
um centro dinâmico, impulsionou fortemente o crescimento regional no Leste
asiático<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>, sendo que o Japão só entrou
em processo de desaceleração na década de 1990.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A reconstrução do
pós-guerra se deu de forma relativamente rápida, sobretudo porque havia
tecnologia e recursos disponíveis. Mesmo com seus parques industriais e
produtivos destruídos, a importação de tecnologias e maquinários permitiu veloz
reinstalação da produção e comércio nos países centrais. Com isso, de países
destruídos, os mesmos passaram à posição de concorrentes dos Estados Unidos no
mercado mundial:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O avanço dos Estados
Unidos em matéria de produtividade de trabalho foi sendo gradualmente erodido,
a participação do comércio americano no mercado mundial começou a se reduzir,
as exportações europeias e japonesas de capitais conseguiram pouco a pouco um
avanço paralelo à progressão da exportação de seus produtos industriais e
multinacionais deixaram de ser somente americanas. Tanto quanto americanas e
canadenses, elas se tornaram europeias ou, mais simplesmente, alemãs,
britânicas, suíças, francesas e japonesas. (MANDEL, 1990, p. 304).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Desse modo, dentro da
longa fase expansiva, segundo Chesnais, “os EUA deixaram de ter uma posição
industrial incontestável pelos outros países e, ao mesmo tempo, deixaram de cumprir
o papel que lhes tinha sido atribuído em Bretton Woods”. (CHESNAIS, 1996, p.
250). Essa ampliação da concorrência está na base da crise de superprodução que
eclodiu em 1973.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Contradições do<i> boom: </i>desníveis salariais e repressão</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Durante a fase de
crescimento foram assimilados amplos setores de trabalhadores ao mercado de
trabalho, o que ocasionou a ampliação do exército ativo de mão de obra, com
redução do exército de reserva desempregado. De acordo com Hobsbawm “no fim dos
anos dourados havia sem dúvida mais operários no mundo, em números absolutos, e
quase com certeza maior proporção de empregados em manufatura na população
global do que jamais houvera antes”. (HOBSBAWM, 2001, p. 297). No entanto, essa
ampliação do exército ativo de trabalhadores contava com grandes níveis de
desigualdade salarial e de vínculos empregatícios. Pois, mesmo nos países mais
ricos, fazia parte do exército ativo, um amplo setor de trabalhadoras e
trabalhadores mal remunerados, com baixos salários, trabalho precário,
insalubres, de baixa qualificação e com vínculos instáveis (sobretudo mulheres,
jovens e imigrantes). Segundo Mandel:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Essas categorias eram
em geral mal pagas, restringindo-se às atividades não-qualificadas ou
insalubres, utilizadas marginalmente e, portanto, aptas a ser expulsas
massivamente do processo de produção logo que houvesse uma virada fundamental
da conjuntura. Assim, não é nada espantoso que tal expulsão se tenha efetivamente
se produzido em grande escala no curso da recessão de 1974/75, levando a esses
três setores do proletariado taxas de desemprego mais elevadas do que para
operários e empregados masculinos adultos, autóctones e pais de família.
(MANDEL, 1990, pp. 16-17).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Além da desigualdade
na estrutura de empregos e salários, de acordo com Brenner (2003), “Os salários
reais foram assim forçados a baixar vis-à-vis o nível de produtividade,
permitindo aos fabricantes obter grandes superávits em relação a seus estoques
de capitais”. Ainda, segundo o autor: “As altas taxas de lucro desse modo
asseguradas abriram o caminho para as altas taxas de acumulação de capital que
dirigiram o <i>boom </i>ao fortalecer o rápido crescimento da
produtividade, do emprego e dos salários (...)”. (BRENNER, 2003, p. 48). Esse
autor destacou também que a repressão às reivindicações trabalhistas e os
baixos salários estavam na raiz das altas taxas de crescimento e de lucros
nesse boom<i> </i>do pós-guerra.</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outro aspecto
importante do boom foi o <i>desenvolvimento desigual</i> de cada
potência internacional “resultante do crescimento do comércio e da divisão
mundial do trabalho” (BRENNER, 2003, p. 55). Os diferentes países se
apropriaram do crescimento de acordo com a sua base produtiva e mercados. De
acordo com Arrighi (1998), os países que compõem o núcleo orgânico da economia
mundial foram os que mais se desenvolveram no período. Mesmo na Europa, países
como Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia, não tiveram o mesmo aproveitamento do
período como tiveram a França, Alemanha e Inglaterra. O Mesmo se pode dizer em
relação aos países do continente africano, América Latina e outros países do Leste
Asiático. Conforme salientou Hobsbawm: “Hoje é evidente que a Era de Ouro
pertenceu essencialmente aos países capitalistas desenvolvidos, que, por todas
essas décadas, representaram cerca de três quartos da produção do mundo, e mais
de 80% de suas exportações manufaturadas”. (HOBSBAWM, 2001, p. 255).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A reconstrução do pós-guerra acirrou a concorrência internacional</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A rápida reconstrução
ampliou consideravelmente a produção em escala mundial nos mercados globais, capacitando
importantes economias para concorrência internacional. De acordo com Arrighi:
“O resultado foi uma intensificação da competição intercapitalista, que foi o
aspecto mais importante da crise de sobreacumulação do final da década de 60 e
início de 70”. (ARRIGHI, 1998, p. 119). Segundo Brenner, essas regiões,
combinaram “técnicas relativamente avançadas com salários relativamente baixos”
e reduziram “de forma drástica os custos relativos de suas produções em
comparação àqueles necessários para produzir os mesmos bens na economia
americana, de desenvolvimento anterior”. (BRENNER, 2003, p. 56). No contexto do
início da crise internacional, os EUA mudaram sua orientação da política de
incentivo ao Japão. De acordo com Arrighi (1998), até o início da crise mundial
no final da década de 1960, o Japão integrou o “clube dos países ricos” como
convidado dos Estados Unidos, mas: “A crise de subreacumulação do final da
década de 1960 e início da década de 1970 mudou tudo isso. (ARRIGHI, 1998, p.
109). Nesse ínterim:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo
norte-americano parou de torcer o braço de seus parceiros europeus e de seus
clientes leste-asiáticos para abrir espaço para a expansão capitalista do
Japão. Começou, em vez disso, a torcer o braço do governo japonês para
revalorizar o yen e para abrir a economia japonesa ao comércio e capital
estrangeiros. (...). (ARRIGHI, 1998, p. 109).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">De acordo com os
autores arrolados, essa alta competitividade entre as potências globais conduziu
à crise de superprodução e vertiginosa queda da taxa de lucros e de acumulação
do capital internacionalmente nas décadas que se seguiram. Segundo Brenner:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O papel fundamental
da intensificada competição internacional em forçar para baixo as taxas de
lucros e conduzir a um excesso de capacidade de produção no setor manufatureiro,
tanto nos Estados Unidos como nas principais economias capitalistas,
evidencia-se no fato de que o declínio da lucratividade esteve pesadamente
concentrado no setor de manufaturados, composto em sua maioria de bens
“comerciáveis” e portanto vulneráveis à concorrência internacional. (...). (BRENNER,
2003, p. 58).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Essa crise marcou o
fim da fase de equilíbrios instáveis do acordo de Bretton Woods, que se somou à
crise no setor de manufaturados e crise energética (com destaque para indústria
automobilística, construção civil, siderurgia e petroquímica). A explosão da
crise internacional deu início a uma longa fase de baixo crescimento. Assim,
passou-se de uma “onda longa expansiva” para uma “onda longa depressiva” com
breves períodos de retomada de crescimento. (MANDEL, 1990: ANDERSON, 1995:
CHESNAIS, 1996: HARVEY, 2003). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No entanto, na
contramão desse processo o Leste Asiático experimentou uma nova fase de
crescimento. (ARRIGH, 1998: HARVEY, 2017: MANDEL, 1990: BRENNER, 2003). Seguindo
o Japão, outros países do Leste Asiático também tiveram altos índices de
crescimento: “Ao longo dos 34 anos seguintes, a renda per capita da Coréia
cresceu quase 7 por cento ao ano, um aumento de nove vezes em pouco mais de uma
geração. (Idem, p. 44-45). E por último: “Finalmente chega a vez da China – um
bilhão de pessoas cuja renda quadruplicou em menos de duas décadas. Nunca na
história humana tantas pessoas desfrutaram de um avanço tão significativo”. (KRUGMAN,1999,
p. 45). A partir do final da década de 1990 a China se converteu no centro da
economia asiática e de outras regiões da periferia capitalista. O crescimento
do Leste asiático impediu que a crise internacional fosse ainda mais grave e
entrasse em uma fase de acentuada estagnação entre 1980 e 2000. Conforme assinalado
por Gonçalves: “No período de estagnação (1973-1982), após a ruptura efetiva do
sistema de Bretton Woods, o crescimento da economia mundial foi determinado, em
grande medida, pelo dinamismo da Ásia e, em menor medida, pela América Latina”.
(GONÇALVES, 2002, p. 112).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Da desaceleração à crise de superprodução 1965-1973</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> A fase inicial
da crise emergiu ainda na segunda metade da década de 1960 e expressou sua
magnitude no início de 1973. (MANDEL, 1990: BRENNER, 2003: ARRIGHI, 1998). O
excesso de capacidade de produção manifestou-se mais gravemente no setor
manufatureiro da economia mundial, como apontou Brenner: “Foi o declínio nas
taxas de lucro desse setor por todas as economias capitalistas avançadas o
principal responsável pela projeção da economia mundial de um longo <i>boom</i> num
longo declínio entre 1965 e 1973”. (BRENNER, 2003, p. 59). E, como chamou a
atenção Arrighi, essa “crise econômica mundial que começou no final da década
de 60 e, sob formas sempre mutáveis, permanece conosco desde então”. (ARRIGHI,
1998, pp. 76-77). </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na Europa, a produção
industrial caiu vertiginosamente de 1965-1968 (MANDEL, 1990). Em conjunto,
segundo Brenner: “Entre 1965 e 1973, o setor manufatureiro dos Estados Unidos
experimentou uma queda de 43% na taxa de lucro sobre seu estoque de capital; já
os setores manufatureiros das economias do G7 juntos, representando o setor
manufatureiro internacional como um todo experimentaram um declínio na
lucratividade na ordem de 25%”. (BRENNER, 2003, p. 57). Ainda, de acordo com o autor; “O
que impediu os fabricantes de manterem suas taxas de lucro entre 1965 e 1973
foi claramente a capacidade de elevarem os preços acima dos custos em muito
mais que a metade da taxa de suas contrapartes no setor de não-manufaturados”.
(BRENNER, 2003, p. 59).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em tal quadro, os
Estados e os grandes bancos, das principais potências econômicas mundiais,
correram para salvar os capitalistas que eram considerados “grandes demais para
falir”. (KRUGMAN, 1999: ARRIGHI, 1998, CHESNAIS, 1996). Os grandes capitalistas
receberam fartos investimentos e empréstimos que lhes permitiram reconstruir
monopólios comerciais, industriais e investir grandes montas de capitais no
capital financeiro. Esse processo gerou o endividamento dos Estados, das
empresas e das famílias que recorriam aos créditos cada vez mais abundante. Por
outro lado, os médios e pequenos capitalistas acabaram enfrentando as
consequências mais desastrosas da crise nos variados ramos produtivos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na esteira dessas
disputas entre potências internacionais, os Estados Unidos, com massiva
emissão de moeda, optaram pelo fim do padrão ouro com lastro no dólar<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Em 1971 a hegemonia
estadunidense teve sua crise aprofundada: “Durante o fim de semana de 13 de
agosto, a administração Nixon fechou o guichê do ouro, suspendendo o
compromisso de entregar ouro a governos credores em dólares a US$ 35 por onça
ou a qualquer outro preço”. (EICHENGREEN, 2007, p. 179). Era o fim do padrão
ouro e do equilíbrio de Bretton Woods. Além de romper com o padrão ouro:
“O governo americano impôs uma sobretaxa de 10% sobre a importação de
mercadorias para pressionar outros países a valorizar suas moedas, dessa forma
poupando-se do embaraço de precisar desvalorizar o dólar”. (Idem). Posteriormente,
o país acabou decidindo pela desvalorização do dólar em relação às outras
moedas mundiais (como o marco alemão, o iene e a libra esterlina). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esse conjunto de
medidas fez com que os produtos americanos se tornassem mais baratos no mercado
internacional, o que por sua vez, aprofundou a crise e enterrou as tentativas
de regulação dos mercados. Diante dessa falência do padrão monetário
internacional, os EUA decidiram também pela adoção do regime de flutuação
cambial em 1973. Sobre esse aspecto, Eichengreen apontou que: “A transição
para o câmbio flutuante depois do colapso do Sistema de Bretton Woods foi um
salto no escuro”. (EICHENGREEN, 2007, p. 187). No final da década de 1970 o
governo estadunidense deliberou ainda pela elevação da taxa de juros
(1979). De acordo com a análise de Mandel:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O desmoronamento do
sistema de Bretton-Woods, a inconversibilidade do dólar em ouro e a
institucionalização do sistema chamado “taxas de câmbio flutuantes” provocam
perturbações incontestáveis no comércio mundial, incitando a mudança dos
movimentos do comércio. Assim, os Estados Unidos deliberadamente praticaram a
queda do dólar no sentido de melhorar a competitividade de seus produtos
manufaturados com relação aos da Alemanha Ocidental e do Japão. A Grã-Bretanha
havia feito o mesmo com a libra esterlina quando da queda monumental dessa
divisa no início de 1977. O Japão não agira diferentemente em meados de 1976,
época das compras massivas de matérias primas, concentradas em um breve
período, fazendo cair a cotação do iene. (MANDEL, 1990, p. 79).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O colapso
do sistema de Bretton Woods gerou forte pressão para o avanço da integração
econômica e comercial dos países membros da Comunidade Econômica Europeia. Nesse
contexto, os países da Europa buscaram criar arcabouços institucionais que
tornasse possível estabilizar suas moedas umas em relação às outras. (EICHENGREEN,
2007, p. 202). Em 1972 foi criada pela CEE a Serpente Monetária Europeia (Snack),
que tinha como foco limitar a flutuação de moedas na Europa. Fazia parte das
preocupações do Plano buscar formas de </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">compensar
o colapso do dólar. </span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em </span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">1973 </span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">foi criado o Fundo Monetário de Cooperação
Europeia </span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">para operações</span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> no continente</span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Calibri;">. </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Posteriormente,
a “serpente monetária”, deu lugar ao Sistema Monetário Europeu em 1979. Valendo-se
das experiencias de cooperação e integração anteriores, o</span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Sistema Monetário Europeu buscou consolidar
mecanismos de controle e maior integração econômica e política, viabilizando a
estabilização d</span><span class="A1"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">as taxas de câmbio entre
as moedas europeias</span></span><span style="background: rgb(254, 254, 254); color: #0a0a0a; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">. Por meio do Sistema foi criada a unidade monetária europeia ECU (<i>european
curricy uniti</i>) percursor direto do euro. (MANDEL, 1990: EICHENGREEN, 2007:
SOUZA, 2016).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse processo de
reorganização econômica e produtiva, teve grande importância a introdução de
tecnologias para poupar trabalho, diminuir postos de trabalho com ampliação do
exército de reserva e da produção. O objetivo central era amenizar a queda da
taxa de lucros, ampliar e baratear a produção para obtenção de vantagens na
competição internacional. Foi travado um combate frontal para enfraquecer os
sindicatos e seu poder de pressão na valorização dos salários. Tratava-se de
impor significativas derrotas às greves e manifestações operárias que
limitavam a ampliação da exploração do trabalho, isso foi feito por meio de uma
ostensiva repressão sindical e política, reestruturação produtiva e ampliação
das demissões. Conforme resumiu Mandel:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A “função histórica”
da recessão de 1974/1975, para a burguesia internacional, foi precisamente a de
acabar com o “pleno emprego” como objetivo prioritário da política econômica,
monetária e social” e reintroduzir um desemprego massivo permanente, para
obstruir o “mercado de trabalho”. (...). (MANDEL, 1990, p. 161).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">E tal contexto,
Mandel destacou que: “Após 1968 e sobretudo após 1973, a prioridade
absoluta se tornou a retomada da taxa de lucro, se preciso ao preço do
desemprego massivo e de um agravamento das tensões sociais”. (p. 277).
Dessa forma, recorreu-se às demissões massivas, que tiveram como uma de suas
consequências a resistência operária, contando com um ascenso das lutas e
greves políticas de massa. Hobsbawm destacou que “Entre 1973 e fins da
década de 1980, o número total de pessoas empregadas na manufatura nos seis
velhos países industriais da Europa caiu 7 milhões, ou cerca de um quarto, mais
ou menos metade dos quais entre 1979 e 1983”. (HOBSBAWM, 2001, p. 299).
Doravante, a classe trabalhadora não aceitou passivamente a retirada de seus
diretos e extinção de postos de trabalho. Houve mais de uma década de
enfrentamento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Forte resistência operária ao longo da década de 1970</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ainda durante o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">boom </i>do pós-guerra registrou-se a
eclosão de importantes levantes e revoluções proletárias, como na Chinesa em
1949, Coreia em 1950 e Cuba em 1959, essa última na vizinhança dos EUA. Na segunda
metade da década de 1960 ganhou volume de massas as lutas por direitos civis,
centrada sobretudo, na luta contra o racismo e as precárias condições que vivia
a população negra e imigrante. Essas lutas se combinavam com as greves dos
mineiros, caminhoneiros no EUA, e os protestos contra a guerra no Vietnã, bem
como as lutas estudantis em 1968 e greves operárias na Europa. Na Indonésia,
Suharto, impor uma ditadura, massacrou cerca de um milhão de pessoas entre
1965-1966. (HARVEY, 2017). Esses movimentos apontavam para os pontos críticos do <i>boom</i> do
pós-guerra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mandel destacou que:
“O crescimento das lutas na Europa Ocidental após o maio de 68 reforçou
subjetivamente a combatividade e a consciência anticapitalista dos trabalhadores
de numerosos países”. (MANDEL, 1990, p. 77). No caso do Brasil, tivemos as
lutas estudantis em 1968, mas também o Primeiro de maio na Praça da Sé e as
greves em Contagem e Osasco no mesmo ano (</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">MOURA,
2015)</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">. Na Argentina abriu-se um processo
pré-revolucionário entre 1969-1976. (</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">WERNER:
AGUIRRE, 2007).</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> No Chile eclodiu uma generalizada
rebelião operária com os cordões industriais no início de 1970. Movimentos
massivos derrubaram a ditadura de Portugal em 1974, também ocorreram revoluções
na Nicarágua e no Iran em 1979. No Brasil tivemos um ascenso das lutas
operárias e movimentos sociais durante o período 1978-1983. (ANDERSON,
1995: HOBSBAWM, 2001: MANDEL,1990: </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">WERNER:
AGUIRRE, 2007: MOURA, 2015</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">). Desta forma, a
crise generalizada coincidiu “<i>com um nível excepcionalmente elevado de
organização, de força numérica, de combatividade do proletariado, e ao mesmo
tempo uma fraqueza política excepcionalmente pronunciada do sistema burguês”</i>.
(MANDEL, 1990, p. 77, grifos do autor).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse sentido,
destaca-se que, mesmo com todos os ataques ao conjunto da classe trabalhadora,
houve “Nos países imperialistas, o longo período de expansão fortaleceu
objetivamente o peso e a força da classe operária” (Idem). Dentro desse
processo, os sindicatos e partidos operários experimentaram um grande
fortalecimento ao longo do período 1945-1970, além da ampliação da classe
trabalhadora e suas organizações, bem como recebeu influência da expansão do
marxismo, das experiências de luta de classe e das revoluções operárias. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esses fatores
político-sociais se colocaram com entraves ao livre avanço da burguesia mundial
que buscava reduzir os “custos do trabalho” com redução dos salários e direitos,
“impulso característico de toda fase de crise ou recessão”. As lutas operárias
se combinaram com uma série de demandas que se multiplicaram pelos países industrializados
tornando-se uma torrente histórica no período 1968-1982. Como apontou Hobsbawm:
“Só nas décadas de 1980 e 1990 podemos detectar sinais de uma grande contração
da classe operária”. (HOBSBAWM, 2001, p. 297). Desta forma, de acordo com
Mandel, passou a uma fase de “pleno emprego” para uma fase de desemprego
massivo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(...) Já na recessão
de 1969/71 tínhamos contado 10 milhões de desempregados no conjunto dos países
imperialistas. Durante o inverno de 1975/1976, quando o desemprego atingiu seu
ponto culminante, o número total de desempregados oficialmente reconhecido no
conjunto dos países imperialistas se aproxima de 17 milhões. (MANDEL, 1990, p.
15).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">De acordo com
Hobsbawm: “As crises econômicas do início da década de 1980 recriaram o
desemprego em massa pela primeira vez em quarenta anos, pelo menos na Europa”.
(HOBSBAWM, 2001, p. 297). A modernização tecnológica e industrial contribuiu
diretamente nesse processo. Paralelamente, Arrighi enfatizou que houve uma
corrida ao corte de custos com “substituição de fontes de mão de obra
remunerada mais cara por outras mais baratas no interior de todos os estados do
núcleo orgânico” da economia internacional, com destaque para “a feminização da
força de trabalho remunerado”, com ampla utilização de mão de obra imigrante,
“frequentemente ilegal”. De acordo com Hobsbawm: “Em 1940, as mulheres casadas
que viviam com os maridos e trabalhavam por salário somavam menos de 14% do total
da população feminina dos EUA. Em 1980, eram mais da metade”. (HOBSBAWM, 2001,
p. 304). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esses processos
deterioraram e precarizaram sobremaneira as condições de vida e salários dos
trabalhadores de forma geral, tanto no núcleo orgânico da economia mundial
quanto na semiperiferia e nos países propriamente periféricos. Com o
aprofundamento da crise dos anos 1970 verificou-se o
marcante aprofundamento da miséria, do desemprego e das desigualdades
sociais decorridas dessa fase de estagnação. Os baixos salários e altos índices
de desemprego fomentaram fortemente o endividamento das famílias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Além dos ataques aos
direitos sindicais e trabalhistas, no plano da organização do trabalho
introduziu-se um pacote de medidas organizacionais que foi chamado de Toyotismo,
que, em oposição ao fordismo do pós-guerra, previa a <i>lean production</i> e <i>just
in time</i>, com pessoal reduzido e investimento em máquinas e equipamentos
eletrônicos que dispensavam trabalhadores. Ainda, introduziu-se mão de obra
terceirizada em larga escala, contratos temporários que enfraqueciam a
organização sindical. Nesse processo: “As legislações em torno do emprego do
trabalho assalariado, que haviam sido estabelecidas graças às grandes lutas
sociais e às ameaças de revolução social, voaram pelos ares, e as ideologias
neoliberais se impacientam de que ainda restem alguns cacos delas”. (CHESNAIS,
1996, p. 42).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outro aspecto
importante foi a realocação de fábricas e plantas produtivas, importação de
mercadorias mais baratas e amplo uso de automação e implementação de
tecnologias. (ARRIGHI, 1998, p. 330: CHESNAIS, 1996: MANDEL, 1990). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A empresas multinacionais também passaram a
migrar com grande facilidade em busca de mão de obra mais barata e maiores
lucros. As grandes corporações, com empresas organizadas em rede, com novas
formas de gerenciamento, controle e contrato de trabalhadores e empresas
terceirizadas, organizaram cadeias globais de produção e distribuição. Em tal
contexto, as empresas-rede que aproveitaram largamente das tecnologias
desenvolvidas e compartilhadas por suas corporações, encontraram nos bolsões
mundiais mão de obra de baixo custo e flexibilidade (ou ausência) na legislação
social e direitos trabalhistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O longo ciclo de baixo crescimento e estagnação</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A crise de
superprodução<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
criou uma longa onda de baixo crescimento, conforme analisado por Mandel:
“Entre 1974 e 1975, a crise capitalista internacional conheceu a sua primeira
recessão generalizada desde a II Guerra Mundial, sendo a única, até então, a
golpear simultaneamente todas as grandes potências imperialistas”. (MANDEL,
1990, p. 9). Assistiu-se então a uma “sincronização internacional dos
movimentos conjunturais nos principais países imperialistas ampliou o movimento
de retração da atividade econômica”. (Idem, p.11). Com isso, compôs-se o
cenário da crise internacional do capital. Conforme destacou Mandel: “Em 1975,
a produção industrial e o Produto Nacional Bruto recuaram com relação ao ano
anterior em todos os grandes países imperialistas”. (1998, p. 15). Essa
tendência de queda da taxa de acumulação se afirmou ao longo das décadas de
1980-2000.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dentro desse ciclo de
baixo crescimento e progressiva financeirização, nessas décadas seguintes,
novas crises profundas eclodiram, como a crise da bolsa americana de 1987,
a crise do Japão em 1990/1991, México em 1994, asiática em 1997, Rússia em
1998, Brasil em 1999, Argentina em 2000, NASDAQ em 2001 e a crise imobiliária
nos EUA em 2007-2008. (MANDEL, 1990: CHESNAIS, 1996: BRENNER, 2003; CORSI, 2006:
2011: HARVEY, 2012).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O predomínio do capital financeiro sobre as economias nacionais</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No início dos anos
1980, nos Estados Unidos, Reagan fortaleceu o dólar por meio do aumento dos
juros, passando de 6% ao ano para 20% (isso gerou a crise da dívida na América
Latina<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>). O objetivo era recompensar
de forma abastada o capital financeiro, evitando fuga de capitais e atraindo
capitais externos para cobrir os déficits em conta corrente. Para isso, o
governo Reagan também desregulamentou os mercados financeiros e de capitais
para favorecer o capital especulativo. Os juros altos acabam por conter a
demanda interna, os empréstimos e as importações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nessa fase de abertura<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn6" name="_ftnref6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> das economias nacionais
para os fluxos de capitais internacionais, com desregulamentação financeira, os
investimentos externos deveriam ter toda a liberdade para valorizar-se em
qualquer terreno mundial. Esse processo, iniciado timidamente durante a década
de 1960, ganhou espaço e estímulo durante a década de 1970 e consolidou-se
durante a década de 1980 nas principais economias, ocasionando inchaço da
esfera financeira e do capital fictício. Os grandes bancos internacionais,
trustes, grandes oligopólios nacionais, continentais e mundiais foram os mais
favorecidos nessa fase. Com grandes massas de recursos disponíveis, esses
setores beneficiando-se largamente da mundialização financeira que foi marcada
pela “desregulamentação ou liberalização monetária e financeira, a
desintermediação e a abertura dos mercados financeiros nacionais”. (CHESNAIS,
1996, p. 261). O processo favoreceu o capital especulativo e capital fictício.
Mandel destacou que, com isso, crescia uma:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(...) superacumulação
de capitais que não são investidos produtivamente, e a razão é bastante
simples. Há enormes capacidades excedentes, superproduções reais ou potenciais
que pesam no mercado. Há automóveis, aviões, eletrodomésticos em demasia para
que se possa produzir. (...). (MANDEL, 1990, p. 321).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como visto, a
desregulamentação ou liberalização dos mercados nacionais foi parte central da
reconfiguração da regulação do período que se seguiu à dirupção da fase de
Bretton Woods. Essa restruturação do capitalismo global articulou uma variada
gama de elementos, que foram desde a introdução de tecnologias para ampliar a
produção e poupar trabalho, desregulamentações nacionais, agigantamento da
esfera produtiva e a busca por novos espaços de acumulação de capital na Ásia.
Acrescentou-se a isso as novas possibilidades de valorização de capital nos
antigos Estados de transição socialista no período 1989-1992. (EICHENGREEN,
2007: MANDEL, 1990, CHESNAIS, 1996, GONÇALVES, 2003). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os grandes grupos,
visando à recuperação de suas taxas de lucro, realizaram intensos e permanentes
processos de fusões, incorporações e aquisições de empresas em escala mundial,
o que lhes permitiu formar uma imensa massa de capitais para os Investimentos
Externos Diretos no mercado internacional, que “deslanchou na década de 80,
diretamente ligado ao processo de liberalização e desregulamentação”.
(CHESNAIS, 1996, p. 185). Com isso, no domínio e na rivalidade internacional,
reafirmou-se o predomínio dos grandes oligopólios internacionais que concentraram
capitais em setores mais lucrativos da economia mundial. Essas grandes
empresas, trustes e oligopólios internacionais puderam atuar com ampla margem
de lucratividade nas privatizações de empresas públicas nos países em
desenvolvimento, isso tudo com auxílio dos Estados nacionais e grandes bancos. Segundo
análise de Arrighi: “Os governos do núcleo orgânico começaram a oferecer máxima
liberdade de ação a instituições capitalistas engajadas na especulação
financeira e encorajaram ainda mais essa tendência, alienando os próprios bens
e receitas futuras por uma pechincha”. (ARRIGHI, 1998, p. 286).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No entanto, embora de
imediato se tenha possibilitado uma certa recuperação da economia, todas essas
medidas não foram capazes de recuperar as taxas de acumulação anteriores à
crise. Durante a década de 1980 o crescimento mundial foi menor do que o da
anterior e o crescimento da década de 1990 foi ainda menor do que o da década
de 1980. A economia dos países mais ricos do mundo continuava com baixo
crescimento, sobretudo por causa do baixo investimento na produção. Essa
tendência fica clara no gráfico apresentado por Michael Roberts (2020):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: center; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Gráfico 1 - Taxa de crescimento do capital
no G7 (em relação ao</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <b>PIB</b>)</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKCAm-SLBrLp6mSOgskznFPl_b8K78NgudPQHXdYGbngDuNm5H5fInbu3padCpeORs5pkhdEQ88Ln4vCUgMU8bAHs00osPR8_s_5zgD4-vJevJgo-H5RKot5CagLX0Nx9c3f0WK4kGhhUd/s454/Grafico+1.jpg" style="background-color: transparent; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="287" data-original-width="454" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKCAm-SLBrLp6mSOgskznFPl_b8K78NgudPQHXdYGbngDuNm5H5fInbu3padCpeORs5pkhdEQ88Ln4vCUgMU8bAHs00osPR8_s_5zgD4-vJevJgo-H5RKot5CagLX0Nx9c3f0WK4kGhhUd/w400-h253/Grafico+1.jpg" width="400" /></a></p><p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-align: center; text-indent: -7.1pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 9pt;">Fonte: ROBERTS, 2020.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Com todos os impactos
da crise dos anos 1970, crise de superprodução, choque do petróleo, durante a
década de 1980, assistiu-se a um crescimento ainda mais lento: “Tudo incluído,
o crescimento econômico na década de 1980 foi mais lento do que nos anos 1970,
tão atormentado pela crise do petróleo”. (BRENNER, 2003, p. 86). Ainda, de acordo
com o autor: “Durante a maior parte da década de 1980, as economias capitalistas
avançadas fora dos Estado Unidos conheceram não só o aperto monetário e uma
progressiva restrição do crescimento salarial, mas também um aumento
desacelerado dos gastos governamentais para reduzir os custos e aumentar a
lucratividade’. (BRENNER, 2003, p. 89).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse ínterim,
emergiu a hegemonia do capital financeiro rentista, que engordava às custas do
Estado. Isso porque a crise não queimou totalmente os capitais sobressalentes.
A consequência disso foi a grande liquidez de capitais. Nesse processo, o Investimento
Externo Direto suplantou o comércio exterior, as remessas de capitais em
circulação internacional tornaram-se gigantescas, em busca de valorização,
investimentos destinados a produção de matérias primas (<i>commodities</i>),
manufaturados e serviços. Segundo Brenner:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A partir da década de
1980, imensas bolhas financeiras incharam por todas as economias capitalistas
avançadas, em especial nos mercados de ações, nas fusões e aquisições e nos
imóveis comerciais, com a demanda especulativa elevando o
valor dos ativos e com os investidores efetuando suas compras na expectativa de
que, havendo subido no passado, o valor dos ativos continuariam subindo no
futuro. Mas o resultado foi principalmente a escalada sem precedentes do
endividamento das empresas não financeiras, que gastaram centenas de bilhões de
dólares emprestados em aquisições alavancadas e na recompra de suas próprias
ações, e uma cada vez maior fragilidade financeira dos bancos, que em grande parte
financiou as ondas especulativas. Em 1987, os mercados de ações americanos
caíram, abalando seriamente o sistema. Mas a inundação da moeda, facilitada
pelos principais governos capitalistas para restaurar a estabilidade, foi de
maneira pensada utilizada para financiar um último lande especulativo. (...).
(BRENNER, 2003, p. 87-88).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em meio a tais
liberalizações agigantaram-se as possibilidades de lucros para os grandes
oligopólios internacionais. Debatia-se inclusive a impotência dos Estados
Nacionais e seus governos frente à força econômica e política dos grandes
conglomerados mundiais. Os governos, sobretudo os de países em desenvolvimento,
faziam infinitas manobras para atrair fatias dos investimentos internacionais, no
intento de que esse fluxo se mantivesse o mais constante possível. Outro
elemento importante foi o redirecionamento dos fundos públicos, antes
provisionados para gastos sociais, para o mercado financeiro, destacando-se a
ampliação da dívida pública.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A desregulamentação
dos mercados domésticos, do comércio e das finanças internacionais foram
fundamentais para assegurar maiores possibilidades de lucros, isso tanto para
as multinacionais que, ocupam um espaço dominante no comércio mundial, como
para os grandes bancos e grupos financeiros. No que tange as multinacionais,
Chesnais apontou que na década de 1990 as corporações e multinacionais já
dominavam cerca de 70% do mercado mundial. (CHESNAIS, 1996).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Outro aspecto da
reestruturação da economia internacional foi o programa de liberalização, chamado
de neoliberal. Conforme analisou Arrighi: “Entre 1970 (segundo “choque do
petróleo”) e 1982 (calote mexicano), a maré virou. A contrarrevolução
Reagan-Thatcher entrou em cena e a crise geral dos esforços de desenvolvimento
(Sul e Leste) foi precipitada”. (ARRIGHI, 1998, p. 286). Na Inglaterra, o governo
Margaret Thatcher foi: "o primeiro regime de um país de capitalismo
avançado publicamente empenhado em pôr em prática o programa neoliberal. Um ano
depois, em 1980, Reagan chegou à presidência dos Estados Unidos".
(ANDERSON, 1995). Em 1982 foi a vez da Alemanha, em 1983 a Dinamarca. Assim,
segundo o autor: "Em seguida, quase todos os países do norte da Europa
ocidental, com exceção da Suécia e da Áustria, também viraram à direita".
(ANDERSON, 1995). Ainda de acordo com a definição de Perry Anderson:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 11pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que fizeram, na
prática, os governos neoliberais deste período? O modelo inglês foi, ao mesmo
tempo, o pioneiro e o mais puro. Os governos Thatcher contraíram a emissão
monetária, elevaram as taxas de juros, baixaram drasticamente os impostos sobre
os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos financeiros, criaram
níveis de desemprego massivos, aplastaram greves, impuseram uma nova legislação
anti-sindical e cortaram gastos sociais. E, finalmente – esta foi uma medida surpreendentemente
tardia –, se lançaram num amplo programa de privatização, começando por
habitação pública e passando em seguida a indústrias básicas como o aço, a
eletricidade, o petróleo, o gás e a água. Esse pacote de medidas é o mais
sistemático e ambicioso de todas as experiências neoliberais em países de
capitalismo avançado. (ANDERSON, 1995, p. 12).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em síntese, desde a
eclosão da crise de superprodução, ao longo das décadas que se seguiram, expandiu-se
rapidamente o enorme montante de capital fictício. A grande valorização dos
capitais operou, centralmente, por meio de especulação com título da dívida
pública, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">commodities</i>, imóveis, moedas
etc. Ao mesmo tempo, o capital valorizado na especulação passou a ser
reaplicado na própria especulação alimentando bolhas especulativas. Essas
saídas, ao invés de contribuírem para superar a crise de superprodução, acabou
permitindo que o excesso de capital se perpetuasse, fazendo a crise tornar-se crônica
(BRENNER, 20003). Esse cenário era indicativo de que a valorização do capital
continuava encontrando dificuldades de se realizar na produção e retroalimentava
a expansão da especulação. O excesso de capital, com a existência de capacidade
ociosa e grande volume de capital fictício, deu um caráter instável à economia
mundial nas últimas décadas e criou constantes bolhas especulativas que
explodiram em graves crises econômicas e vasta queima de capitais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Crise estrutural,
degradação ambiental e pandemia<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">David Harvey no livro
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O novo imperialismo</i>, publicado originalmente
em 2003, apontou que se iniciou uma nova fase de degradação ambiental a partir
da crise estrutural do capitalismo iniciada em 1973. Além das incursões para
privatização de recursos naturais, como rios, água da chuva etc., recorreu-se
mais frequentemente à degradação na natureza, burlando inclusive regras
estabelecidas pelos próprios empresários e Estados nacionais, caracterizando
novas formas de acumulação por espoliação para elevar as taxas de lucro e recompor
níveis de acumulação de capital.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A pilhagem dos
recursos naturais e bens coletivos, com biopirataria, extração e comércio
ilegal de recursos naturais, depredação e espoliação de recursos naturais
(terra, as florestas, a água e ar), bem como a degradação de habitats, roubo e patente
de conhecimentos e produtos de populações tradicionais, foram novamente
alavancas de recomposição dos lucros para amenizar a queda tendencial da taxa
de lucros a partir dos anos 1970. A pilhagem da natureza constitui uma forma de
adquirir vantagens competitivas entre os próprios capitalistas. De acordo com o
autor: “A acumulação por espoliação se tornou cada vez mais acentuada a partir
de 1973, em parte como compensação pelos problemas crônicos de sobreacumulação
que surgiram no âmbito da reprodução expandida”. (HARVEY, 2017, p.129). Ou
autor argumenta que: “A acumulação do capital tem de fato caráter dual. Mas os
dois aspectos, o da reprodução expandida e o da acumulação por espoliação, se
acham organicamente ligados, entrelaçados dialeticamente”. (HARVEY, 2017, p. 144).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">As intervenções invasivas do atual modo de produção
sobre a natureza geram variadas crises no meio ambiente, sobre outros seres
vivos e microorganismos. A esfera socioeconômica invade a esfera biológica,
perturbando substancialmente a composição microbiológica e seus equilíbrios.
São tais perturbações que criam as transferências zoonóticas (de animais para
os humanos). Nesse sentido, evidencia-se a estreita relação entre a economia, a
microbiologia e a epidemiologia. (CHUANG, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A devastação ambiental soma-se à fragilidade dos
sistemas de saúde pública no capitalismo industrial, isso possibilita que
pandemias encontrem terreno fértil para se desenvolver e se espalhar
rapidamente. Também, a vulnerabilidade da saúde da população mundial, a má alimentação,
desnutrição, pobreza, extensas jornadas de trabalho que fragilizam o corpo
humano. Na sociedade global investe-se mais em tratamento do que em prevenção,
a população trabalha demais e recebe cuidados de menos. As doenças são fontes de
lucro para a indústria farmacêutica, por isso, é lucrativo remediar ao invés de
prevenir. Essa lógica cria e recria barreiras constantes para a medicina
preventiva. (CHUANG, 2020: HARVEY, 2020: DAVIS, 2020, BIHR, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A degradação da saúde da comunidade
mundial<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Desde a falência do sistema Bretton Woods e o
surgimento do neoliberalismo, constitui-se, na esfera mundial, um frágil
sistema de saúde, precarizado intencionalmente, mas que recebe multidões de
pessoas que tiveram sua saúde fragilizada pela sociedade industrial de ritmo
toyotista. Por isso, </span><span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Harvey
aponta que </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">as décadas de neoliberalismo
"deixaram o público totalmente exposto e mal preparado para enfrentar uma
crise de saúde pública desse calibre, apesar de sustos anteriores como a SARS e
o Ebola fornecerem avisos abundantes e lições convincentes sobre o que seria
necessário ser feito". (HARVEY, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesse sentido, o coronavírus (COVID-19) é um efeito
colateral da forma social na qual vivemos: cidades superlotadas, precariedade
das moradias, sistema precário, medicina focada em sintomas, indústria
farmacêutica centrada no lucro, população mal alimentada (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">junk foods</i>), comida envenenada por hormônios e agrotóxicos etc. Com
tal conformação, de tempos em tempos, as pandemias explodem em diversas regiões
do mundo. Lembremos que a Gripe espanhola (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">influenzavirus</i>
H1N1) disseminou-se como pandemia devido às péssimas condições de vida,
precários cuidados da saúde, higiene, alimentação e moradia durante a primeira
guerra mundial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A alta densidade populacional
humana nos grandes centros industriais e produtivos faz dos seres humanos alvos
fáceis para diversos hospedeiros. Harvey relembra que "as epidemias de
sarampo, por exemplo, só se manifestam em grandes centros populacionais urbanos,
mas desaparecem rapidamente em regiões pouco povoadas". (HARVEY, 2020). As
densas metrópoles mundiais vivem em constante intercâmbio entre si, sendo que,
"uma das desvantagens do aumento da globalização é como é impossível
impedir uma rápida difusão internacional de novas doenças. Vivemos em um mundo
altamente conectado, onde quase todo mundo viaja. As redes humanas para
potencial difusão são vastas e abertas". (Idem).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dentro dessa perspectiva, a atual
crise do COVID-19 é parte de uma crise orgânica da forma de produção e distribuição
de mercadorias nos circuitos mundiais. O desmatamento, a agricultura de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">commodities</i>, com eliminação de habitats
naturais, utilização agrotóxicos, as grandes monoculturas modificadas
geneticamente, bem como a utilização de hormônios e antibióticos em aves e
demais animais de abate, são fatores determinantes da pandemia. Tais condições
socioeconômicas produzem e disseminam surtos mundiais, como a do </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ebola, a Gripe aviária, a Gripe suína e SARS. (CHUANG, 2020,
HARVEY, 2020).</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">O coronavírus globalizado e a classe
trabalhadora<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mike Davis (2020), também destacou
que </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">"</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A crise do coronavírus é um monstro alimentado
pelo capitalismo". </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Para o autor,
por serem produtos da indústria de massa, não caberia à classe trabalhadora
pagar por elas. <span style="background: white;">O Estado e suas burguesias que
lucraram com o trabalho de milhões, deveriam assegurar as condições de vida da
população em meio à pandemia. No entanto, f</span></span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">rações da classe trabalhadora seguiram
produzindo em setores essenciais, da agricultura, das fábricas, transportes,
serviços etc. (e gerando lucro para a burguesia). Em vários países a quarentena
foi tardiamente e mal aplicada. Isso agravou o número de óbitos pelo mundo, em
setembro de 2020, segundo dados oficiais e notadamente subnotificados, já se
tinha passado de 1 milhão de mortos pelo mundo. A tendência é o aumento das mortes
até a vacinação em massa, prevista para o fim de 2020 e início de 2021.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A
massa de novos desempregados gerada pela pandemia somou-se aos milhões de
trabalhadores que sofrem com o desemprego estrutural e subempregos de uma
economia em desaceleração desde a crise de 2008. Esse período de baixo
crescimento econômico (2008-2020) d</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">e acordo com </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Roberts
(2020d), teve como característica a queda dos lucros e baixo nível de
investimento em nível mundial. Essa dinâmica fica clara no gráfico a seguir,
apresentado pelo autor, que destaca a queda dos lucros das corporações globais:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center; text-indent: 0cm;"><b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Gráfico 2 - Média ponderada dos lucros
corporativos globais</span></b><b><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></b></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjStvsSef8eG6zApp5cxFyfstMlZIfSGdFST0JIZEzCAWS3u5yaVmab6TTRU87WMpGhCtddIiQ2f2llLPRB8U9bI_7IMkOrEFKjFyrMJW9Xyn67f9IrltVh-NTkCUhK85yTyuTAvktRFhkv/s685/Grafico+2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="397" data-original-width="685" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjStvsSef8eG6zApp5cxFyfstMlZIfSGdFST0JIZEzCAWS3u5yaVmab6TTRU87WMpGhCtddIiQ2f2llLPRB8U9bI_7IMkOrEFKjFyrMJW9Xyn67f9IrltVh-NTkCUhK85yTyuTAvktRFhkv/s16000/Grafico+2.jpg" /></a></div><br /><h1 style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: center;"><span style="background-color: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 9pt;">FONTE: ROBERTS, 2020d</span></h1>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A produção industrial
americana, que teve crescimento zero em 2019, registrou uma queda de 35,5% no
segundo trimestre de 2020. Até o dia 01 de outubro de 2020, 62,7 milhões de
trabalhadores entraram com pedido do seguro desemprego nos EUA<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn7" name="_ftnref7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O país,
que já contabilizou mais de 200 mil mortos pela Covid-19, assistiu a um declínio
no seu PIB de mais de 4,8% no primeiro trimestre de 2020 e uma queda de 31,4%
no segundo trimestre, essa foi a maior retração desde a Grande Depressão de 1930<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn8" name="_ftnref8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. O PIB
da Zona do Euro registrou contração de 3,8% no primeiro trimestre de 2020 e uma
nova retração de 11,8%<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn9" name="_ftnref9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> no
segundo trimestre. O da Alemanha declinou 2,2% no primeiro trimestre e em mais
de 10%<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn10" name="_ftnref10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> no
segundo. O da França caiu de 5,8% no primeiro trimestre e quase de 14%<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn11" name="_ftnref11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> no
segundo. O Japão teve a queda anualizada foi de 27,8% no segundo trimestre de
2020<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn12" name="_ftnref12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Em
junho, o FMI apontava uma queda de 4,9 no PIB mundial<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn13" name="_ftnref13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nesse
contexto, segundo comunicado da OCDE “100 milhões de novos pobres é a estimativa
do diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE”.<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn14" name="_ftnref14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> Nesse
total “as mulheres, os jovens e os trabalhadores com baixos rendimentos estão a
ser os mais afetados”<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn15" name="_ftnref15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Conforme
apontado pela ONU/CEPAL, em janeiro de 2019: “Extrema pobreza aumenta na América
Latina e atinge nível mais alto desde 2008”<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn16" name="_ftnref16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Em
março de 2020 a ONU projetou que “O número de pobres na América Latina pode
crescer em 35 milhões devido ao coronavírus COVID-19”. Em 16 de julho a ONU
revisou os números, prevendo uma contração de -9,1% em 2020<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn17" name="_ftnref17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> e, no
inicio de setembro de 2020 apontou que “Pandemia deixará mais de 176 milhões de
pessoas na pobreza”<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn18" name="_ftnref18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Destacou
ainda que: “Como resultado da crise provocada pela pandemia da COVID-19, a
população em condições de extrema pobreza na América Latina e Caribe poderia
chegar a 83,4 milhões de pessoas em 2020, o que implicaria um aumento
significativo nos níveis de fome”<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn19" name="_ftnref19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No caso do
Brasil, a crise pretérita somou-se à nova crise do coronavírus. O país, que já
havia apresentado um PIB pífio em torno de 1% em 2019 e início de 2020, teve
sua situação econômica brutalmente deteriorada ao longo dos meses de pandemia. Em
14 agosto de 2020 o IBGE anunciou a existência de 41 milhões de desempregados<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn20" name="_ftnref20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. Com
isso, durante a pandemia, mais de 150 milhões brasileiros solicitaram o auxílio
emergencial, desses quase 70 milhões foram atendidos pelo programa. Segundo os
dados do Dieese (24 de setembro de 2020), por consequência da pandemia, houve uma
“queda histórica de -9,7% do PIB brasileiro no segundo trimestre”<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn21" name="_ftnref21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>. (Dieese,
2020). O estudo apontou que esse foi: “o pior resultado desde o início da série
histórica, iniciada em 1996”. O consumo das famílias caiu 12,5%, a Formação Bruta
de Capital Fixo declinou 15,4% e o consumo do Governo diminuiu em 8,8%. A
pesquisa constatou que a Indústria de transformação sofreu retração de 17,5% e
que o Comércio declinou 13%. Em consequência desses processos: “Quase 9 milhões
de pessoas perderam o trabalho durante a pandemia”. (Dieese, 2020). Como
agravante, até o final de setembro, de acordo com o Dieese, os preços da cesta
básica sofreram elevações significativas, aumentando 16,2% em Salvador, 13,2%
em Aracaju, e 11,5% em Recife e 6,6% em São Paulo. (Dieese, 2020). Mesmo em tal
contexto, o Governo Federal reduziu pela metade o auxílio emergencial, o que
por sua vez, de acordo com o estudo do Dieese: “diminuirá o montante de
dinheiro em circulação e tornará ainda mais dramática a questão da fome no
Brasil”. (Dieese, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Esse cenário
evidencia que a pandemia, eclodindo em meio à crise econômica mundial que se
arrasta nos últimos anos (2008-2020), aprofundou a recessão e intensificou o
declínio da atividade econômica, com uma onda de falências de empresas,
comércios e fábricas, também significativas perdas na bolsa de valores, com
destruição massiva de capitas. Conforme analisado por Harvey, a</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> quarentena mundial: "diminui a demanda final, enquanto a
demanda por matérias-primas diminui o consumo produtivo". (HARVEY, 2020).
Também as atividades de turismo desaceleram abruptamente, gerando paralisia dos
seus serviços correlatos. <span style="background: white;">Isso ocasionou ondas
de </span></span><span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">inadimplência,
interrupção do pagamento de dívidas, mensalidades, financiamentos de casas, carros,
aluguéis etc. </span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As falências
são seguidas por fechamento de postos de trabalho e demissões, queda da
arrecadação dos Estados. </span><span style="background: white; color: #1d2129; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nesse sentido, é falsa a ideia
segundo a qual "estamos todos no mesmo barco", como se não existissem
determinações socioeconômicas de classe. Estamos no mesmo mar, mas com
condições distintas, uns com transatlânticos, outros com lanchas, uns com
barcos a remo, outros nadando contra a maré, e alguns nem podem nadar e ficam à
deriva. Amplas camadas da classe trabalhadora não puderam optar pela quarentena
remunerada, principalmente nos setores de trabalho mais precários e de baixos
salários (como o da limpeza, transporte, manutenção e alimentação). Nesses setores
está alocada grande parte da população negra e mais empobrecida, amplas massas
do subproletariado, que são ampla maioria entre os mortos pelo vírus. Por isso
Harvey aponta que "o progresso da COVID-19 exibe todas as características
de uma pandemia de classe, de gênero e de raça". (HARVEY, 2020). As
hierarquias e privilégios de classe se reafirmaram e se reproduziram em larga
escala durante o surto epidêmico. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm; vertical-align: baseline;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; padding: 0cm;">Considerações
finais</span></b><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Conforme apontamos, a pandemia não criou a crise econômica mundial
de 2020, esta já se fazia presente desde 2008, o economista americano Michael Roberts
(2016) chegou a caracterizá-la como a “grande recessão”. Depois do ciclo de expansivo
de 2003-2008 a economia global passou a sofrer severa desaceleração.
Desencadeada a partir do estouro da bolha especulativa com títulos no imobiliários
nos EUA, a crise rapidamente se espalhou para os principais mercados mundiais
de capitais e no sistema financeiro internacional. O estouro da bolha gerou a
contração da liquidez internacional, transformando-se em uma crise de investimentos,
comercial e produtiva, atingindo acúmulo de capital, emprego e renda. Suas
principais características são a permanência de capacidade produtiva ociosa em
âmbito global em diversos setores, como siderúrgico, eletrônico automobilístico
etc., mas também altos níveis de desemprego, baixo crescimento e recessão em
variados países. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A crise de 2008 só não atingiu os patamares da crise prolongada de
1929 por causa da intervenção massiva e rápida dos países mais ricos do mundo,
sobretudo dos EUA. Em 2019, como apontou o economista britânico Michael Roberts
(2020b)<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftn22" name="_ftnref22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>: “Os EUA estão crescendo
a apenas 2% ao ano, Europa e Japão a só 1%; e as maiores entre as assim
chamadas economias emergentes do Brasil, México, Turquia, Argentina, África do
Sul e Rússia estão basicamente estáticas”. A crise de 2020 é a mais grave desde
a crise de 1930. Precisaremos de mais tempo para analisar a totalidade dos impactos
da atual crise, que se deu dentro de um amplo movimento de queda tendencial da
taxa de lucros que se arrasta desde os anos 1970. Mas, as expectativas econômicas
não são nada boas. No campo político, em variados países eclodiram revoltas e lutas
de trabalhadores para evitar o pior. É dessa reorganização, ainda insipiente,
que podem surgir formas de controle da produção e reorganização social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BIBLIOGRAFIA<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">ANDERSON, P.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Balanço do neoliberalismo. </span><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">In </span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">SADER,
Emir & GENTILI, Pablo (Orgs<i>.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e
o Estado democrático</i>. R.J: Paz e Terra, 1995.<o:p></o:p></span></p>
<p class="Default" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">ARRIGHI,
G. A ilusão do desenvolvimento. RJ. Editora Vozes, 1998.</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BARBOSA, N. Dez anos de política econômica. In: SADER, E.
(Ed.). <i>10 anos de governos<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><i><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">pós-neoliberais no Brasil</span></i><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">: Lula e Dilma. São Paulo: Boitempo, 2013. p. 69-103.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BELLUZZO, L. G. O Dólar e os Desequilíbrios Globais.
In: <i>Revista de Economia Política</i>, vol. 25, nº 3 (99), pp. 224-232,
julho-setembro/2005.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BIHR, A. França: pela socialização do aparato de saúde. In: Coronavírus
e a luta de classe. Terra sem amos. 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BRAGA, J.C.S. </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">Alemanha:
império, barbárie e capitalismo avançado. In: FIORI, J.L (Org). Estados e moeda
no desenvolvimento das nações. Petrópolis. Vozes, 1999.</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BRENNER, R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O boom e a bolha - os Estado Unidos na economia
mundial</i>. RJ. Ed. Record, 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CANUTO, O. <i>Brasil
e Coréia do Sul - os (des)caminhos da industrialização tardia</i>. Nobel. 1994.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CARCANHOLO, M. O coronavírus e a crise econômica. 2020.
Disponível:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><a href="http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/o-coronavirus-e-crise-economica/">http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/o-coronavirus-e-crise-economica/</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CARDIM, F. Bretton Woods aos
60 anos. <i>Novos Estudos Cebrap</i>. 2004.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CHESNAIS. F. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A mundialização do capital</i>. Editora
Xamã. 1996.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">______ Rumo a uma mudança
total dos parâmetros econômicos mundiais dos enfrentamentos políticos e
sociais. Revista Outubro. 1998.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">COGGIOLA, O:
AZEVEDO, E. Pandemia, crise do capital e luta de classes. 03/2020. In: Revista
Contrapoder. 03/2020. Disponível:<span style="background: white; color: #1d2129;"> </span><a href="https://contrapoder.net/colunas/pandemia-crise-do-capital-e-luta-de-classes/">https://contrapoder.net/colunas/pandemia-crise-do-capital-e-luta-de-classes/</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CORSI, FRANCISCO L<span style="color: black;">. O capitalismo global e a pandemia. In: <i>Revista Mundo e
desenvolvimento</i>. Nº4. Unesp Marília. 2020.<span style="display: none; mso-hide: all special;"><o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 0cm;">______.
Economia do capitalismo global: um balanço crítico do período recente. In:
ALVES, G. (org.). </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 0cm;">Trabalho e educação. Contradição do capitalismo global</i><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 0cm;">.
Maringá: Práxis, 2006, pp. 12-35.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">______
</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A conjuntura e
a política econômica no governo Dilma (2011-2014). In: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A conjuntura
econômica e política brasileira e argentina</span></i><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">.
Cultura Acadêmica. 2015.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">______.
Crise e reconfiguração do capitalismo global: a ascensão do Leste asiático. In:
PIRES, MARCOS (Org). <i>As relações entre China e América Latina num contexto
de crise. Estratégia, intercâmbios e potencialidades</i>. São Paulo, LCTE,
2011. pp. 109-130.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">DANTAS,
G. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A natureza atormentada – marxismo e
classe trabalhadora</i>. Brasília. Diversos. 2012.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">______.
<i>A medicina dos sintomas</i>. Editora Itacaiúnas. 2015.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">DAVIS,
M. A crise do coronavírus é um monstro alimentado pelo capitalismo. <span style="background: white;">In: <i>Coronavírus e a luta de classe</i>. Terra
sem amos. 2020.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">EICHENGREEN,
B. <i>A globalização do capital - uma história do sistema monetário internacional</i>.
Editora 34. São Paulo. 2007.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif;">FIORI, J.L (Org). <i>Estados e moeda no desenvolvimento das nações</i>.
Petrópolis. Vozes, 1999.</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">GONÇALVES,
R. <i>O vagão descarrilhado – o Brasil e o futuro da economia global</i>.
Record. Rio de Janeiro. 2002.<span style="background: white;"><o:p></o:p></span></span></p>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">HARVEY, D. Política anticapitalista em tempos de
coronavírus. </span><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">In:
Revista Jacobin Brasil. 2020. </span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">Disponível: </span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="https://jacobin.com.br/2020/03/politica-anticapitalista-em-tempos-de-coronavirus/"><span style="color: #0070c0;">https://jacobin.com.br/2020/03/politica-anticapitalista-em-tempos-de-coronavirus/</span></a><o:p></o:p></span></u></h1>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">______. <i>O novo imperialismo</i>.
Loyola. São Paulo. 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">HOBSBAWM, E. <i>A era dos
extremos</i>. Companhia da Letras, 2001.<o:p></o:p></span></p>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">KRUGMAN, P. <i>Uma nova recessão? o que deu errado</i>.
Editora Campus. RJ. 1999.<o:p></o:p></span></h1>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">MANDEL, E. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A crise do capital – os fatos e sua
interpretação marxista</i>. Ensaio, 1990.<o:p></o:p></span></p>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">MOURA, A. Pandemia, crise econômica e classes
sociais. In: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Setas contra o capital:
sobre pandemônios na pandemia e as revoluções necessárias</i>. FILHO, P.A.L.
(Org). Editora Lutas anticapital. 2020.</span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></u></h1>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Segoe UI";">______. </span></b><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Movimento
operário e sindicalismo em Osasco, São Paulo e ABC paulista: rupturas e continuidades</span></i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">.
Tese de doutorado. Unesp-Marília. 2015.</span><b><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Segoe UI";"><o:p></o:p></span></b></p>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">ROBERTS,
M. Debate sobre a taxa de lucro. <i>Revista Olho da história</i>, nº24, dez.
2016.<o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">______. A pandemia e os efeitos econômicos nos
“mercados emergentes”. 23/03/2020. In: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ideias
de Esquerda</i>. Disponível: </span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/A-pandemia-e-os-efeitos-economicos-nos-mercados-emergentes"><span style="color: #0070c0;">http://www.esquerdadiario.com.br/A-pandemia-e-os-efeitos-economicos-nos-mercados-emergentes</span></a><o:p></o:p></span></u></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">______.</span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"> <span lang="ES-AR">Disease, debt
and depression. 2020b. In:</span></span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/"><span lang="ES-AR" style="color: #0070c0; mso-ansi-language: ES-AR;">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/</span></a></span></u><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">______. Returning to normal? Disponível: </span><u><span style="background: white; color: #2e74b5; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/06/06/returning-to-normal/</span></u><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">. </span><span lang="EN-US" style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">2020c<o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span lang="EN-US" style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: EN-US; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">______.
Profitability, investiment and the pandemic. 2020d. </span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">Disponível em: </span><span style="background: white; color: #4472c4; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/05/17/profitability-investment-and-the-pandemic/</span><u><span style="background: white; color: #2e74b5; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></u></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">SOUZA, W. </span><span class="A11"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 13pt; font-weight: normal;">O
processo político de criação da moeda comum europeia</span></i></span><span class="A11"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 13pt; font-weight: normal;">. IPEA, 2016.</span></span><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">TAVARES, M. e FIORI, J.: <i>Poder e dinheiro</i>.
Editora vozes. 1997. Editora Vozes. RJ. 1997.<o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">Wallace, R. (et.al) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O COVID-19 e os circuitos do capital. </i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>In: Ideias de esquerda. 03/03/2020. </span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/O-COVID-19-e-os-circuitos-do-capital"><span style="color: #0070c0;">http://www.esquerdadiario.com.br/O-COVID-19-e-os-circuitos-do-capital</span></a><o:p></o:p></span></u></h1>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">WERNER,
R.: AGUIRRE, F. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Insurgencia obrera en la
Argentina 1969-1976 - classismo, coodinadoras interfabriles y estraterias de la
izquierda</i>. Buenos Aires. Ediciones IPS. 2007.<o:p></o:p></span></p>
<div style="mso-element: footnote-list;"><div style="text-align: justify;"><br /></div><!--[if !supportFootnotes]-->
<hr size="1" style="text-align: left;" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> <span style="background: white; color: #1d2228;">Doutor em Ciências Sociais pela Unesp-Marília. Pós-doutorando
em História econômica pela USP. Professor convidado no Programa de Pós-graduação
da PUC-SP.</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white;"><span style="color: #1d2228; font-family: Times New Roman, serif;">Este artigo foi publicado originalmente no dossiê n⁰3 (outubro de 2020), da Revista Fim do Mundo, da Unesp: https://revistas.marilia.unesp.br/index.../RFM/issue/current</span></span></p>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Nos referimos aos chamados de <i>tigres
asiáticos</i>: Hong-Kong, Taiwan, Cingapura, Coréia do Sul e China. Nesses países,
assim como no Japão, verificou-se importante industrialização e modernização
tecnológica com forte intervenção estatal. A segunda geração emergente incluiu os
Novos Países Industrializados (NICs): Indonésia, Tailândia e Malásia, Filipinas
e Vietnã. (CANUTO, 1994).</span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn3" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">De acordo com Chesnais: “O fim do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gold Exchange standard</i>, decretado unilateralmente
pelos EUA em agosto de 1971, é produto dessas condições como um todo. O
principal fator interno, de exclusiva responsabilidade dos EUA, foi a explosão
da dívida federal, conjugada a um déficit crescente na balança de pagamentos. A
criação desenfreada de meios monetários para financiar a emissão de bônus do
Tesouro tornou insustentável a manutenção da paridade dólar-ouro. A partir de
1965, o duplo déficit do orçamento e dos pagamentos externos, agravado pelo
financiamento da guerra do Vietnã, traduziu-se por emissões de dólares, cuja
conversão ao ouro era pleiteada imediatamente pelos outros países. As
reservavas de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fort Knox</i> estavam se
esvaziando. A impossível conversão dos dólares em ouro, à paridade decidida em
Bretton Woods ou próxima a esta, evidenciava todas as contradições do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gold Exchange standard</i> (...)”. (</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; mso-fareast-language: PT-BR;">CHESNAIS, 1996, p. 250).</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p> </o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> Segundo o autor: “Desde a formação
do mercado mundial do capitalismo industrial, houve exatamente vinte crises de
superprodução com intervalos mais ou menos regulares. São elas: de 1825, 1836,
1847, 1857, 1866, 1873, 1882, 1900, 1907, 1912, 1921, 1929, 1937, 1949, 1953,
1958, 1961, 1970 e a de 1974/1975 (...)”. (p. 37). Posteriormente Mandel
adicionou a crise de 1987.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn5" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt;">De
acordo com Harvey: </span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Foram os pobres das regiões rurais do
México, da Tailândia e do Brasil que mais sofreram com as depreciações causadas
pelas crises financeiras dos anos 1980 e 1990. (HARVEY, 2017, p.113).</span><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn6" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref6" name="_ftn6" style="mso-footnote-id: ftn6;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif;">De acordo com Chesnais:
“O termo “abertura” designa dois processos: aquele relativo às barreiras
internas, anteriormente estanques, entre diferentes especializações bancárias
ou financeiras, e aquele relativo às barreiras que separam os mercados nacionais
dos mercados externos. Abertura significa ainda o fim dos segmentos e
especializações anteriores. Com efeito, trata-se de processos indissolúveis”.
(CHESNAIS, 1996, p. 264).</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn7" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref7" name="_ftn7" style="mso-footnote-id: ftn7;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;">https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/10/01/pedidos-de-seguro-desemprego-nos-eua-voltam-a-cair-mas-seguem-longe-de-patamar-pre-pandemia.ghtml<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn8" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref8" name="_ftn8" style="mso-footnote-id: ftn8;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"> https://www.infomoney.com.br/economia/pib-dos-eua-no-segundo-trimestre-e-revisado-para-queda-de-314-em-termos-anualizados/<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn9" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref9" name="_ftn9" style="mso-footnote-id: ftn9;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/09/08/pib-da-zona-do-euro-sofre-contracao-menor-do-que-se-estimava-no-2-trimestre.htm<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn10" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref10" name="_ftn10" style="mso-footnote-id: ftn10;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/30/alemanha-tem-queda-de-101-do-pib-no-2-trimestre.htm#:~:text=A%20Alemanha%20registrou%20no%20segundo,(Escrit%C3%B3rio%20Federal%20de%20Estat%C3%ADsticas).<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn11" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref11" name="_ftn11" style="mso-footnote-id: ftn11;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2020/07/31/pib-franca-registra-queda-historica-de-138-no-2-trimestre.htm#:~:text=O%20Produto%20Interno%20Bruto%20(PIB,c%C3%A1lculo%20da%20atividade%20econ%C3%B4mica%20trimestral.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn12" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref12" name="_ftn12" style="mso-footnote-id: ftn12;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"> https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,japao-tem-queda-recorde-de-27-8-no-pib-do-2-trimestre,70003402553<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn13" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref13" name="_ftn13" style="mso-footnote-id: ftn13;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/06/24/fmi-revisa-previso-de-crescimento-global-de-3-pontos-percentuais-para-49-neste-ano.ghtml</span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn14" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref14" name="_ftn14" style="mso-footnote-id: ftn14;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://www.rtp.pt/noticias/mundo/covid-19-ocde-estima-em-mais-de-100-milhoes-de-novas-pessoas-em-pobreza-extrema_a1246007<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn15" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref15" name="_ftn15" style="mso-footnote-id: ftn15;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"> http://www.oecd.org/coronavirus/pt/<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn16" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref16" name="_ftn16" style="mso-footnote-id: ftn16;" title=""><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[16]</span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://nacoesunidas.org/extrema-pobreza-aumenta-na-america-latina-e-atinge-nivel-mais-alto-desde-2008-diz-cepal/#:~:text=Close%20the%20sidebar-,Extrema%20pobreza%20aumenta%20na%20Am%C3%A9rica%20Latina%20e%20atinge,alto%20desde%202008%2C%20diz%20CEPAL&text=A%20taxa%20geral%20da%20pobreza,registrados%20em%202015%20e%202016.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn17" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref17" name="_ftn17" style="mso-footnote-id: ftn17;" title=""><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[17]</span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">
https://www.cepal.org/pt-br/comunicados/contracao-atividade-economica-regiao-se-aprofunda-devido-pandemia-caira-91-2020<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn18" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref18" name="_ftn18" style="mso-footnote-id: ftn18;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"> https://jovempan.com.br/noticias/mundo/onu-pandemia-176-milhoes-na-pobreza.html</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn19" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref19" name="_ftn19" style="mso-footnote-id: ftn19;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[19]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://www.cepal.org/pt-br/comunicados/fao-cepal-milhoes-pessoas-podem-cair-extrema-pobreza-podem-passar-fome-2020-america</span><span style="font-family: "Times New Roman",serif;"><o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn20" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref20" name="_ftn20" style="mso-footnote-id: ftn20;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[20]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;">https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/08/15/com-pandemia-41-milhoes-estao-sem-emprego.htm<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn21" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref21" name="_ftn21" style="mso-footnote-id: ftn21;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[21]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 9pt;"> https://www.dieese.org.br/boletimdeconjuntura/2020/boletimConjuntura024.html<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn22" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Pos-doc/Artigo%20revisado.doc#_ftnref22" name="_ftn22" style="mso-footnote-id: ftn22;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif;"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Courier New"; mso-fareast-language: EN-US;">[22]</span></span><!--[endif]--></span></span></span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif;"> <a href="https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/"><span style="border: 1pt none windowtext; color: black; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/</span></a><o:p></o:p></span></p>
</div>
</div>Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-51386654441495617062020-10-23T04:13:00.006-07:002020-10-23T04:17:16.205-07:00Pandemia, crise econômica e classes sociais<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Prof. Dr. Alessandro de Moura<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Alessandro%20de%20Moura%20-%20Versao%20Final-%20Pandemia,%20crise%20econ%C3%B4mica%20e%20classes%20sociais.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></b></span><!--[endif]--></span></span></a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
pandemia do coronavírus (CODID-19) é um efeito colateral da forma social na
qual vivemos: cidades superlotadas, precariedade das moradias, sistema de saúde
de baixa qualidade, medicina focada em sintomas, indústria farmacêutica
centrada no lucro, população mal alimentada (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">junk foods</i>), comida envenenada por hormônios e agrotóxicos etc. Com
tal conformação, de tempos em tempos, as pandemias explodem em diversas regiões
do mundo. Lembremos que a Gripe espanhola (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">influenzavirus</i>
H1N1) disseminou-se como pandemia devido às péssimas condições de vida, precários
cuidados da saúde, higiene, alimentação e moradia durante a primeira guerra
mundial. Marx, n'O capital, na seção "Grande indústria e
agricultura", já chamava a atenção para as perturbações e desequilíbrios
que a produção industrial em larga escala causava no meio ambiente e na
produção agrícola:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; font-size: 10pt; mso-fareast-language: PT-BR;">(...) a predominância sempre crescente da população urbana, amontoada em
grandes centros pela produção capitalista (...), desvirtua o metabolismo entre
o homem e a terra, isto é, o retorno ao solo daqueles elementos que lhe são
constitutivos e foram consumidos pelo homem sob forma de alimentos e
vestimentas, retorno que é a eterna condição natural da fertilidade permanente
do solo. Com isso, ela destrói tanto a saúde física dos trabalhadores urbanos
como a vida espiritual dos trabalhadores rurais. (MARX, 2016).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dentro
dessa perspectiva, a atual crise do COVI-19 é parte de uma crise estrutural da
forma de produção e distribuição de mercadorias nos circuitos mundiais,
sobretudo os alimentos, mas também do baixo nível da saúde mundial. O
desmatamento, a agricultura de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">commodities</i>,
com eliminação de habitat naturais, utilização agrotóxicos, as grandes
monoculturas modificadas geneticamente, bem como a utilização de hormônios e antibióticos
em aves e demais animais de abate, são fatores determinantes desta pandemia. Tais
condições socioeconômicas produzem e disseminam as pandemias, como a do </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ebola, a Gripe
aviária, a Gripe suína e SARS. (CHUANG, 2020, HARVEY, 2020).</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A alta densidade populacional humana nos grandes centros
industriais e produtivos faz dos seres humanos alvos fáceis para diversos
hospedeiros. Harvey relembra que "as epidemias de sarampo, por exemplo, só
se manifestam em grandes centros populacionais urbanos, mas desaparecem
rapidamente em regiões pouco povoadas". (HARVEY, 2020). As densas
metrópoles mundiais vivem em constante intercâmbio entre si, sendo que,
"uma das desvantagens do aumento da globalização é como é impossível
impedir uma rápida difusão internacional de novas doenças. Vivemos em um mundo
altamente conectado, onde quase todo mundo viaja. As redes humanas para
potencial difusão são vastas e abertas". (Idem).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Não
se pode perder de vista que as intervenções invasivas do atual modo de produção
geram variadas crises no meio ambiente, sobre outros seres vivos e
microorganismos. A esfera socioeconômica invade a esfera biológica, perturbando
substancialmente a composição microbiológica e seus equilíbrios. São tais
perturbações que criam as transferências zoonóticas (de animais para os
humanos). Evidencia-se a estreita relação entre a economia, a microbiologia e a
epidemiologia. (CHUANG, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A degradação da saúde da comunidade mundial<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
devastação ambiental soma-se à fragilidade da saúde pública no capitalismo
industrial. As pandemias encontram terreno fértil para se desenvolver e se
espalhar rapidamente também por causa vulnerabilidade da saúde da população
mundial, a má alimentação, desnutrição, pobreza, extensas jornadas de trabalho
fragilizam o corpo humano. Na sociedade global investe-se mais em tratamento do
que em prevenção, a população trabalha demais e recebe cuidados de menos. As
doenças são fontes de lucro para a indústria farmacêutica, por isso, é
lucrativo remediar ao invés de prevenir. Essa lógica cria e recria barreiras
constantes para a medicina preventiva. (CHUANG, 2020: HARVEY, 2020: DAVIS,
2020, BIRD, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Desde
a falência do sistema Bretton Woods, com crise econômica dos anos 1970 e o
surgimento do neoliberalismo, reinstalou-se mundialmente o desemprego
estrutural e uma série de ataques aos direitos trabalhistas e aos serviços
públicos. (ANDERSON, 1995: BRENNER, 2003: BELUZZO, 2005: CARVALHO, 2004). Constitui-se,
na esfera mundial, um frágil sistema de saúde, precarizado intencionalmente, mas
que recebe multidões de pessoas que tiveram sua saúde fragilizada pela
sociedade industrial de ritmo toyotista. Por isso, </span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Harvey aponta que </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">as décadas de neoliberalismo "deixaram o
público totalmente exposto e mal preparado para enfrentar uma crise de saúde
pública desse calibre, apesar de sustos anteriores como a SARS e o Ebola
fornecerem avisos abundantes e lições convincentes sobre o que seria necessário
ser feito". (HARVEY, 2020).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">O coronavírus globalizado e a classe trabalhadora<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mike Davis (2020), também aponta que </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">"</span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A crise do coronavírus é um monstro alimentado
pelo capitalismo". </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Para o autor, por serem produtos da indústria de
massa, não cabe à classe trabalhadora pagar por elas. <span style="background: white;">O Estado e suas burguesias que lucraram com o trabalho de milhões, devem
assegurar as condições de vida da população em meio à pandemia. </span></span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Mesmo que frações da classe trabalhadora sigam produzindo em setores
essenciais, da agricultura, das fábricas, transportes, serviços etc. (e gerando
lucro para a burguesia), outros m</span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ilhões serão demitidos em meio às
quarentenas nos diversos países do globo</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">. A massa de
novos desempregados pela pandemia soma-se aos milhões de trabalhadores que
sofrem com o desemprego estrutural e subempregos.</span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Até agora (em maio de
2020), mais de 30 milhões de trabalhadores entraram com pedido do seguro
desemprego nos EUA. </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Davis destaca que "</span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">milhões
de trabalhadores de baixa renda do setor de serviços, trabalhadores agrícolas,
desempregados e sem-teto estão sendo atirados aos lobos". (DAVIS, 2020). Só
Brasil, antes da pandemia, contava-se com 13 milhões de desempregados, com um
total e 40 milhões de trabalhadores informais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A pandemia, como produto do capitalismo
neoliberal, eclodiu em meio à crise econômica mundial que se arrasta nos
últimos anos (2008-2020) aprofundando a recessão e acelerando o declínio da
atividade econômica, com uma onda de quebra e falências empresas, comércios e
fábricas, também significativas perdas na bolsa de valores, com destruição
massiva de capitas. </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A quarentena mundial "diminui a demanda final, enquanto
a demanda por matérias-primas diminui o consumo produtivo". (HARVEY,
2020). Também as atividades de turismo desaceleram abruptamente, gerando
paralisia dos seus serviços correlatos. <span style="background: white;">Isso
ocasiona ondas de </span></span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">inadimplência, interrupção do
pagamento de dívidas, mensalidades, financiamentos de casas, carros, aluguéis
etc. </span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As falências são seguidas por fechamento de postos de
trabalho e demissões, queda da arrecadação dos Estados. </span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ampliando-se a</span><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> massa de desempregados com agravamento da
pobreza, da miséria e da fome. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nesse sentido, é falsa ideia segundo a qual "estamos todos no
mesmo barco", como se não existissem determinações sócio-econômicas de
classe. Estamos no mesmo mar, mas com condições distintas, uns com
transatlânticos, outros com lanchas, uns com barcos a remo, outros nadando
contra a maré, e alguns nem podem nadar e ficam à deriva. Amplas camadas da
classe trabalhadora não podem optar pela quarentena remunerada, principalmente
nos setores de trabalho mais precários e de baixos salários (como a da limpeza,
transporte, manutenção e alimentação). Nesses setores está alocada grande parte
da população negra e mais empobrecida, amplas massas do subproletariado. Por
isso Harvey aponta que "o progresso da COVID-19 exibe todas as
características de uma pandemia de classe, de gênero e de raça". (HARVEY,
2020). As hierarquias e privilégios de classe se reafirmam e se reproduzem.
Quem se infecta e tem como pagar altas quantias, pode ser atendido rapidamente
em clinicas e hospitais privados de luxo, com garantia de leitos, respiradores e
todos os serviços necessários. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A pandemia se somou à crise estrutural do capital<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A pandemia não criou a crise econômica mundial de 2020, está já se
fazia presente desde</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"> 2008. Depois do ciclo de expansivo de </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">2003-2008 a economia global </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">vem
sofrendo severa desaceleração. Desencadeada a partir do estouro da bolha
especulativa no setor imobiliário dos EUA, a crise rapidamente se espalhou para
os principais mercados mundiais de capitais e no sistema financeiro
internacional.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O estouro da bolha gerou
a contração da liquidez internacional, transformando-se numa crise de
investimentos, comercial e produtiva, atingindo acumulo de capital, emprego e
renda. Ela só não atingiu os patamares da crise prolongada de 1929 por causa da
intervenção massiva e rápida dos países mais ricos do mundo, sobretudo dos EUA.
</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em
2019, com apontou o economista britânico Michael Roberts<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Alessandro%20de%20Moura%20-%20Versao%20Final-%20Pandemia,%20crise%20econ%C3%B4mica%20e%20classes%20sociais.doc#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>:
"Os EUA estão crescendo a apenas 2% ao ano, Europa e Japão a só 1%; e as
maiores entre as assim-chamadas economias emergentes do Brasil, México,
Turquia, Argentina, África do Sul e Rússia estão basicamente estáticas".
(2020). A lucratividade do capital tem tido uma tendência declinante na cadeia
global. Confira o gráfico apresentado pelo autor:<o:p></o:p></span></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrF9eh5Mcnhap9pw3NUmxroxwimexOzMFwBPCwqVDOEpEEButlL1CxdWLvU8XR9fF8eVzfSVUx3mdJ-ihsS_La-Mms1eIbMNTw67PPsnFcR5TrVT-SDAD8cblGu2VTaR7XKE3h0WqPcfxx/s940/Taxa+de+lucro+-+G7.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="612" data-original-width="940" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrF9eh5Mcnhap9pw3NUmxroxwimexOzMFwBPCwqVDOEpEEButlL1CxdWLvU8XR9fF8eVzfSVUx3mdJ-ihsS_La-Mms1eIbMNTw67PPsnFcR5TrVT-SDAD8cblGu2VTaR7XKE3h0WqPcfxx/w400-h260/Taxa+de+lucro+-+G7.jpg" width="400" /></a></div>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify; text-indent: -35.4pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Brasil - crise econômica, golpe
e pandemia</span></b><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Desde a crise dos anos 1970, O Brasil, como toda América Latina, apresentou
baixo índice de crescimento.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Esse
processo só se modificou na última fase de expansão do capitalismo mundial
entre 2003-2008. Depois dessa fase, o país voltou a desacelerar até entrar em
recessão. </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">As políticas ortodoxas praticadas desde Dilma até
Temer impactaram diretamente no mercado de trabalho e nos salários. A taxa de
desemprego saltou 6,8% em 2014 para 13% em 2017.</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em 2019 o país cresceu apenas
1% em 2019, com 12 milhões de desempregados e 40 milhões de trabalhadores na
informalidade, o país era expressão da baixa vitalidade da economia global.
Conforme apontado pela ONU/CEPAL, em janeiro de 2019: "Extrema pobreza
aumenta na América Latina e atinge nível mais alto desde 2008". Dessa
forma, também no Brasil, a crise pretérita somou-se à nova crise do
coronavírus. Em março de 2020 a ONU projetou que "O número de pobres na
América Latina pode crescer em 35 milhões devido ao coronavírus COVID-19".
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo Bolsonaro em meio à
pandemia<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com a queda dos mercados globais atingidos pelo
Covid, o</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> Banco Central brasileiro precisou lançar bilhões de dólares no
mercado para conter o preço da moeda no país. A principio, o governo de Bolsonaro,
representante reacionário da patronal, socorreu os bancos, mas tentou impedir a
quarentena, dizendo que tratava-se apenas de um "gripezinha". No
entanto, acabou derrotado pelos governadores dos Estados que, temendo </span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">um desastre humanitário em suas bases</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">, tomaram medidas emergenciais de
isolamento, seguindo as determinações da Organização Mundial da Saúde. O Superior
Tribunal Federal e o Congresso encamparam as ações dos governadores, deixando
Bolsonaro isolado em sua irresponsabilidade. Suas declarações na imprensa sobre
as milhares de mortes no país são escandalosas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Logicamente, é a política patronal e burguesa que
move os governadores. Pois há de se recordar que continuam defendendo ataques
aos direitos trabalhistas como redução das jornadas de trabalho com redução de
salários e demissões em meio a uma pandemia. Eximiram-se da responsabilidade de
um plano produtivo emergencial para os setores essenciais, que pudesse manter
empregos, salários e rendas compatíveis com o custo de vida para a classe
trabalhadora. Assim, as políticas dos governadores dos Estados tinham como foco
a manutenção dos lucros da patronal em detrimento da saúde dos trabalhadores
dos setores essenciais. Mesmo frente ao agravamento da pandemia, mostraram-se
incapazes de assegurar respiradores na quantidade necessária, testes massivos, atendimento
hospitalar, bem como realocamento de pessoas contaminadas para instalações
minimamente dignas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O governo neoliberal de Bolsonaro, e seu Ministro Paulo da
Economia Guedes não teve dúvidas em liberar 1,216 trilhão de reais (</span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">16,7% do PIB) </span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">para socorrer os bancos. Outras dezenas de bilhões foram
liberadas para ajudar os Estados e empresas, contemplando 1,4 milhão delas.
Pressionado por todos os lados, o governo se viu obrigado a estabelecer uma
renda mínima para os setores mais precarizados da classe trabalhadora, no valor
de 600 R$, para 54 milhões trabalhadores (pode-se chegar ao máximo 1.200 reais
de auxílio por família). No total, 98 bilhões fora destinados aos
trabalhadores. A ajuda para os trabalhadores corresponde a </span><span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">7,5% dos fundos “disponibilizados” para o grande capital financeiro até
agora.</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Para o grupo de Bolsonaro, focado em um neoliberalismo radical de
extrema-direita, a ideia era intervenção mínima em favor dos trabalhadores,
deixando a economia desacelerar sozinha independente do número de contaminados
e mortos que pudesse gerar. Isso porque seu governo apresentou um PIB pífio de
1,1% em 2019 e a desaceleração certamente levará o PIB abaixo de zero. A
preocupação do presidente, além de uma pretendida reeleição e não com a
esmagadora maioria da população que vive de salário, mas sim com os interesses
dos grupos empresariais que apoiaram e financiaram a sua campanha. Com o
aprofundamento da crise uma ala da burguesia articulou uma mórbida campanha em
prol da volta ao trabalho, na linha de frente estavam empresários como Luciano
Hang da Havan, Junior Durski do Madero e Roberto Justos, como todo o grupo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Brasil 200</i> (linha de frente da patronal
reacionária), defendendo abertamente que os ricos se isolem, e que a classe
trabalhadora continue nos postos de trabalho (sobreviva quem puder). Foram
organizadas carreatas pelas principais cidades do país pela abertura do
comércio. Em meio aos milhares de morto, esse movimento foi chamado de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">carreatas da morte</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A classe
trabalhadora brasileira está à deriva<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
desaceleração econômica coloca na ordem do dia a necessidade de um plano de
ação emergencial pautado sobre a necessidade a produção e a distribuição
articuladas pelo Estado brasileiro. Como a classe trabalhadora está
desorganizada, por hora não é capaz de articular um plano de ação emergencial a
partir dos locais de trabalho, em suas instituições de classe. Assim, o Estado
burguês fica livre para por em prática um programa patronal que protege os
lucros com intensificando a exploração e opressão. A pesar da crise, o sistema
continua capitalista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A idéia burguesa, de colaboração de classes, subjacente no
harmônico "estamos todos no mesmo barco" esconde a exposição de
setores da classe trabalhadora ao contágio e a sua dificuldade de acesso ao
serviço de saúde. Trabalhadores estão morrendo de Covid-19 sem ter acesso a
exames e internação. A distinção de classes está presente em todos os aspectos
da crise, desde o acesso às mascaras, leitos, respiradores, UTIs, mas também em
quem pode ficar em casa, de quarentena recebendo salários normalmente e se
resguardando da exposição ao vírus.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Isso
sem se falar nos tipos de habitação, em que muitas famílias proletárias vivem
em casas lotadas, que dificultam o isolamento em casa sem contaminar outros
familiares. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As centenas de milhares de contaminados e as dezenas
de milhares de mortos não foram suficiente para que se estabelecesse políticas
focadas para atender a população das favelas e periferias, que demandam
programas de moradia</span><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">; saúde e alimentação. Alguns setores da sociedade debatem a
necessidade de taxação das fortunas milionárias para manter e ampliar o
atendimento e tratamento no SUS, mas o Estado prefere não tocar nos privilégios
determinados pela estrutura social brasileira. Como se pode ver pela
continuidade no <span style="background: white;">pagamento da dívida pública.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">No meio disso tudo, a ala majoritária da esquerda brasileira tem
feito pouco ou quase nada. Isso porque está focada no desgaste do Governo
Bolsonaro e na possibilidade de fortalecimento de candidatos para as próximas
eleições. Isso dificulta a possibilidade da classe trabalhadora organizar um
plano político próprio, com independência política em relação aos interesses da
patronal. Cabe lembrar que, em meio à pandemia, a classe trabalhadora continua
mantendo todas as "posições estratégicas" na estrutura produtiva,
como transporte, grandes indústrias e serviços. Nesse sentido, a crise
pandêmica reafirma a centralidade da classe trabalhadora. </span><span style="background: white; color: black;">A crise política e econômica no Brasil
levou a população às ruas em 2013 em mobilizações de massa, com o maior levante
de juventude brasileira no pós-ditadura. A pauta central eram os serviços de
transporte, saúde e moradia. Essas pautas retornam agora com a crise do
coronavírus, mas com um preço muito mais alto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: #363636; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BIBILOGRAFIA<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ANDERSON, P <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Balanço do neoliberalismo.<b> </b></span></span><i><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-AR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">In </span></i><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-AR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs<i>.) </i></span><i><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Pós-neoliberalismo:
as políticas sociais e o Estado democrático</span></i><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">. Rio de Janeiro: Paz e
Terra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BARBOSA, N. Dez anos de
política econômica. In: SADER, E. (Ed.). <i>10 anos de governos<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><i><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">pós-neoliberais no Brasil</span></i><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">:
Lula e Dilma. São Paulo: Boitempo, 2013. p. 69-103.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BRENNER, R. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O boom e a bolha. Os Estados Unidos na
economia mundial</i>. R.J. Record, 2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">BELUZZO, L. G. <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">O Dólar e os Desequilíbrios Globais. In: </span><i>Revista
de Economia Política, vol. 25, nº 3 (99), </i><span style="mso-bidi-font-style: italic;">pp. 224-232, julho-setembro/2005.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-style: italic;">BIHR,
A. França: pela socialização do aparato de saúde. In: <i>Coronavírus e a luta
de classe</i>. Terra sem amos. 2020.<i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">CARCANHOLO, M. O
coronavírus e a crise econômica. 2020. Disponível:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/o-coronavirus-e-crise-economica/">http://www.programafaixalivre.com.br/noticias/o-coronavirus-e-crise-economica/</a><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">CARVALHO, <span style="mso-bidi-font-weight: bold;">Bretton Woods aos 60 anos<i style="mso-bidi-font-style: normal;">. Novos
Estudos Sebrap</i>. 2004.<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">COGGIOLA, O: AZEVEDO, E. P<span style="background: white; color: #1d2129; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">andemia, crise do capital e luta de classes. 03/2020. In: Revista
Contrapoder. 03/2020. Disponível: </span><a href="https://contrapoder.net/colunas/pandemia-crise-do-capital-e-luta-de-classes/">https://contrapoder.net/colunas/pandemia-crise-do-capital-e-luta-de-classes/</a><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">CORSI, F. <span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">A conjuntura e a política
econômica no governo Dilma (2011-2014). In: </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A conjuntura econômica e política brasileira e argentina</i>. Cultura
Acadêmica. 2015.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">____________________ Crise e
reconfiguração do capitalismo global: a ascensão do Leste asiático. In: PIRES,
MARCOS (org). As relações entre China e América Latina num contexto de crise.
Estratégia, intercâmbios e potencialidades. São Paulo, LCTE, 2011. pp. 109-130.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">CHUANG, </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Contágio social -
coronavírus e luta de classes microbiológica na China</span></i><span style="color: black; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">, Editora Baderna. 2020.</span><o:p></o:p></p>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">Wallace,
R. (et.al) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O COVID-19 e os circuitos do
capital. </i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>In: Ideias de esquerda.
03/03/2020. </span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/O-COVID-19-e-os-circuitos-do-capital"><span style="color: #0070c0;">http://www.esquerdadiario.com.br/O-COVID-19-e-os-circuitos-do-capital</span></a><o:p></o:p></span></u></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">HARVEY,
D. Política anticapitalista em tempos de coronavírus. </span><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">In: Revista Jacobin Brasil. 2020. </span><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">Disponível:
</span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="https://jacobin.com.br/2020/03/politica-anticapitalista-em-tempos-de-coronavirus/"><span style="color: #0070c0;">https://jacobin.com.br/2020/03/politica-anticapitalista-em-tempos-de-coronavirus/</span></a><o:p></o:p></span></u></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">MARX,
k. O capital. São Paulo. Boitempo. 2015.<o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span lang="ES-AR" style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-ansi-language: ES-AR; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">MICHAEL, R. Disease, debt and depression. 2020.
In:</span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/"><span style="color: #0070c0;">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/</span></a></span></u><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 7.5pt; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;">______.
A pandemia e os efeitos econômicos nos “mercados emergentes”. 23/03/2020. In: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ideias de Esquerda</i>. Disponível: </span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/A-pandemia-e-os-efeitos-economicos-nos-mercados-emergentes"><span style="color: #0070c0;">http://www.esquerdadiario.com.br/A-pandemia-e-os-efeitos-economicos-nos-mercados-emergentes</span></a></span></u><span style="background: white; color: black; font-size: 12pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></h1>
<div style="mso-element: footnote-list;"><div style="text-align: justify;"><br /></div><!--[if !supportFootnotes]-->
<hr size="1" style="text-align: left;" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="line-height: normal; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Alessandro%20de%20Moura%20-%20Versao%20Final-%20Pandemia,%20crise%20econ%C3%B4mica%20e%20classes%20sociais.doc#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></span></a>
Doutor em Ciências Sociais pela Unesp-Marília. Pós-doutorando em História
econômica pela Usp. Professor convidado no Programa de Pós-graduação da PUC-SP. <o:p></o:p></p><h1 style="margin-bottom: 7.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; tab-stops: 326.8pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;"><span style="background: white; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; font-weight: normal;">Esse texto foi publicado originalmente no livro: <i>Setas contra o capital:
sobre pandemônios na pandemia e as revoluções necessárias</i>. FILHO, P.A.L.
(Org). Editora Lutas anticapital. 2020.</span><u><span style="background: white; color: #0070c0; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-fareast-font-family: "Segoe UI"; mso-fareast-language: EN-US; mso-font-kerning: 0pt;"><o:p></o:p></span></u></h1>
</div>
<div id="ftn2" style="mso-element: footnote;">
<p class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Alessandro%20de%20Moura%20-%20Versao%20Final-%20Pandemia,%20crise%20econ%C3%B4mica%20e%20classes%20sociais.doc#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="mso-special-character: footnote;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a> <a href="https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/">https://thenextrecession.wordpress.com/2020/03/05/disease-debt-and-depression/</a><o:p></o:p></p>
</div>
</div>Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-32097637796377514072020-03-24T12:49:00.003-07:002022-10-06T04:01:05.930-07:00Marx: o Estado e a liberdade religiosa - um debate Sobre a questão judaica<audio class="audio-for-speech" src=""></audio><div class="translate-tooltip-mtz hidden">
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</span>
</div>
</div>
</div><span class="translate-button-mtz hidden" style="left: 406.984px; top: 557px;"></span><br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Alessandro de Moura</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0JVj3UhSiTYvISrj46JX1lSAI5IW1GdMEdPPGV8BhAC5uYD3P2Z7xOHo9Qy4-DhrC8-pkk51J2kbumAVdy3dia6EMpgARJHX6ODEO4tb_DubAf2qB-n-2fimVJZvJSpUHXhUcFe2XwYWk/s1600/Quest%25C3%25A3o+Judaica.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0JVj3UhSiTYvISrj46JX1lSAI5IW1GdMEdPPGV8BhAC5uYD3P2Z7xOHo9Qy4-DhrC8-pkk51J2kbumAVdy3dia6EMpgARJHX6ODEO4tb_DubAf2qB-n-2fimVJZvJSpUHXhUcFe2XwYWk/s320/Quest%25C3%25A3o+Judaica.jpg" width="216" /></a><span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="font-size: large;">Marx, depois de ter escrito <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sobre a liberdade de imprensa</i> e a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Critica da filosofia do direito de Hegel</i>, aprofundou e direcionou sua
crítica contra o Estado monárquico prussiano e viu nesta discussão, sobre a
liberdade religiosa, uma oportunidade de apresentar suas elaborações. Isso
porque o debate sobre a liberdade religiosa dos judeus fazia-se tema candente
na Europa.</span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para isso, Marx tomou como ponto de partida publicações de Bruno
Bauer, que foi seu tutor na faculdade. Bauer argumentava contra a religião, em defesa do ateísmo, por
isso, opinava que ao invés de defender liberdade para sua religião, era
necessário que os judeus abandonasse a defesa religiosa e passassem à luta por um Estado laico. Marx
apontou criticamente que: "Bauer exige, portanto, por um lado, que o judeu
renuncie ao judaísmo, que o homem em geral renuncie à religião, para tornar-se
emancipado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">como cidadão</i>. Por outro
lado, de modo coerente, a superação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">política</i>
da religião constitui para ele a superação de toda religião. O Estado que
pressupõe a religião ainda não é um Estado verdadeiro". (p. 36). Para Marx
e erro de Bauer é que: "Ele impõe condições que não estão fundadas na
essência da emancipação política mesma". (p. 36). De acordo com a crítica
de Marx, Bauer volta seu ataque apenas ao Estado cristão, mas não critica a
instituição estatal de fato:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) diante disso, vemos o erro de Bauer no fato de
submeter à crítica tão somente o "Estado cristão", mas não o
"Estado como tal", no fato de não investigar a relação entre a
emancipação política e emancipação humana e, em consequência, de impor
condições que só se explicam a partir da confusão acrítica da emancipação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para Marx apenas nos Estado onde a religião deixou de ser
assunto do Estado, concedendo a liberdade religiosa para os cidadãos, é que tal
questão deixou de ser teológica e passou a ser uma questão secular. Assim, para
o autor, as liberdades que se alcança frente ao Estado, por reivindicação
popular, estão no âmbito da emancipação política, uma vez que se constitui como
uma nova liberdade frente aos imperativos do Estado. Dessa forma, no que tange
à religião, para Marx, o Estado deixa de comportar-se como guardião religioso
deixando de intervir na opção religiosa compreendo-a como relação processual
sócio-histórica dos grupos que compõem o todo social. Cada grupo escolhe sua
religião livremente porque o Estado não é um "grande sacerdote" que
obriga ao cumprimento de ritos religiosos obrigatórios. Segundo o autor, por
meio da emancipação política:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) A crítica a essa relação deixou de ser uma
crítica teológica no momento em que o Estado deixa de comportar-se
teologicamente para com a religião, no momento em que ele se comporta como
Estado, isto é, politicamente, para com a religião. A crítica transforma-se,
então, em crítica ao Estado político. Justamente no ponto em que a crítica
deixa de ser teológica, a crítica de Bauer deixa de ser crítica. (p. 37).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Destaca ainda, que, nos Estados que se tornaram laicos a
religião não desapareceu, como no caso dos EUA. Aponta que mesmo em países que
não sustentam uma religião oficial, a religiões continuam existindo. Nesse
caso, a não obrigatoriedade de uma religião oficial constitui uma conquista
política da população frente ao Estado, uma conquista no campo da emancipação
política: "A pergunta é: como se comporta a emancipação política <i style="mso-bidi-font-style: normal;">plena</i> para com a religião? Se até mesmo
no país da emancipação política plena encontramos não só a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">existência </i>da religião, mas a existência da mesma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">em seu frescor e sua força vital</i>, isso
constitui a prova de que a presença da religião não contradiz a plenificação
[sic] do Estado". (p. 38). </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Dialeticamente, para Marx, mesmo assegurada a liberdade
religiosa, é necessário compreender que a religião é uma das <i style="mso-bidi-font-style: normal;">limitações seculares</i> que desviam o ser
humano de sua própria essência sócio-histórica, pois mistificam o processo
social, transferindo o protagonismo humano-social para a esfera
espiritual-abstrata. A partir disso, Marx infere que os seres humanos
suprimirão a religião no momento em que suprimirem as barreiras sócio-históricas
seculares que lhes limitam. Ou seja, infere que resolvendo as crises sociais, a
religião, como solução divina, perderia centralidade. Pois se busca na religião
formas de resolução para problemas mundanos, de acordo com o autor: "Como,
porém, a existência da religião é a existência de uma carência, a fonte dessa
carência só pode ser procurada na essência do próprio Estado. Para nós, a
religião não é mais a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">razão</i>, mas
apenas o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fenômeno</i> da limitação
mundana". (idem). Então a religião é uma forma de resposta as barreiras sociais
impostas à humanidade. Assim, para o autor, ao invés de se combater a religião,
é necessário buscar a resolução dos problemas mundanos superando limites
seculares que assolam a população:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Em consequência, explicamos o envolvimento religioso
dos cidadãos livres a partir do seu envolvimento secular. Não afirmamos que
eles deveriam primeiro suprimir sua limitação religiosa para depois suprimir as
limitações seculares. Afirmamos, isto sim, que eles suprimem sua limitação
religiosa no momento em que suprimirem suas barreiras seculares. Não afirmamos
que eles devam suprimir sua limitação religiosa para depois suprimir suas
limitações seculares. Afirmamos, isto sim, que eles suprimem sua limitação
religiosa no momento em que suprimem suas barreiras seculares. (p. 38).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Assim, Marx inverte a lógica de Bruno Bauer, com isso o
combate à religião converte-se em combate político contra o Estado, contra a
desigualdade política e social. Marx destaca que não se pode transformar as questões
terrenas, mundanas, em questões místicas. É na própria história da humanidade
que se deve buscar as causas estruturantes da vida humana.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Então não se tratava de mistificar a questão
judaica e sim buscar a raiz do problema da limitação da liberdade na existência
do próprio Estado: "Não transformamos as questões mundanas em questões
teológicas. Transformamos as questões teológicas em questões mundanas. Tendo a
história sido, por tempo suficiente, dissolvida em superstição, passamos agora
a dissolver a superstição em história". (p. 38). </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A luta pela liberdade religiosa é um flanco na luta contra a
centralização política na Esfera estatal. Não é a própria emancipação humana,
mas é uma forma de emancipar-se politicamente frente a uma esfera dominada pelo
Estado. Então, é uma luta que desmistifica o próprio Estado expondo suas
contradições. Assim, de acordo com o autor:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">questão da
relação entre emancipação política e religião</i> transformam-se para nós na
questão da relação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">entre emancipação
política e emancipação humana</i>. Criticando a debilidade religiosa do Estado
político ao criticar o Estado político em sua construção secular, independente
de sua debilidade religiosa. Humanizamos a contradição entre o Estado e uma
determinação religiosa, p. ex., o judaísmo, em termos de contradição entre o
Estado e determinados elementos seculares, em termo de contradição entre o
Estado e a religião de modo geral, em termos de contradições entre Estado e
seus pressupostos gerais. (p. 38).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Sustentando tal reflexão, Marx defende que deve ser
assegurada a liberdade religiosa aos judeus e a quem mais o queira, por meio de
um Estado laico, que confira liberdade religiosa a todas as religiões: "A
emancipação política do judeu, do cristão, do homem religioso de modo geral
consiste na emancipação do Estado em relação ao judaísmo, ao cristianismo, à
religião como tal". (Idem). Para o autor, o Estado, dissociando-se da
posição de guardião de uma religião, revela-se mais mundano, desmistificando-se
de facetas mágicas: "Na sua forma de Estado, o modo apropriado à sua
essência, O Estado se emancipa da religião, emancipando-se da religião do
Estado, isto é, quando o Estado como Estado não professa nenhuma religião, mas
ao contrário, professa-se Estado". (Idem). O Estado laico explicita que, o
Estado enquanto tal, é apenas uma criação humana de determinada fase
histórica-política. O Estado é tão mundano como qualquer obra humana. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">E ainda, se por um lado, mesmo que o Estado se faça laico,
ficando, por sua vez, livre da gestão da questão religiosa, por outro lado, o
ser humano não fica livre da religião simplesmente porque o Estado professou-se
laico. Para Marx, enquanto existirem as mazelas sociais a forma religiosa,
teológica, encontrará fértil terreno para desenvolver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;">Marx contra o Estado prussiano<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Marx está em combate direto contra o Estado prussiano e o
governo de Frederico Guilherme, assim, aponta que a liberdade religiosa é
apenas uma das liberdades que se deveria arrancar do Estado, havendo ainda uma
série de lutas para serem travadas, como a luta pela liberdade de imprensa, de
associação, etc. Para Marx, já nesse texto, tratava-se de dissolver o Estado em
favor de uma forma de autogoverno exercido diretamente pela população,
eliminando as limitações entre o Estado político (de governantes) e o Estado
não-político (de governados). Esse processo seria uma forma de superar as
limitações da emancipação política em prol da emancipação humana em relação ao
Estado. Isso porque o próprio Estado existe em favor de uma minoria que governa
em causa própria. Então, combater a religião Estatal, que é uma forma de
arbítrio do Estado sobre o povo, não implica ainda em resolver a contradição da
própria existência do Estado: "A emancipação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">política</i> em relação à religião não é a emancipação já efetuada, isenta
de contradições, em relação à religião, porque a emancipação política ainda não
constitui o modo já efetuado, isento de contradições, da emancipação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">humana</i>". (Idem). </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ainda, o fato de o Estado professar-se laico, assegurando a
liberdade da escolha religiosa, não deve isentá-lo da responsabilidade da
resolução dos problemas sociais que conduzem as pessoas a buscar por soluções
religiosas. Assim, segundo Marx: "O limite da emancipação política fica
evidente de imediato no fato de o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Estado</i>
ser capaz de se libertar de uma limitação sem que o homem <i style="mso-bidi-font-style: normal;">realmente</i> fique livre dela, no fato de o Estado ser capaz de ser um
Estado livre [Freistaat, república] sem que o homem seja <i style="mso-bidi-font-style: normal;">livre</i>". (p. 38-39). </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O fato da opção religiosa deixar de ser uma coisa pública,
regulada pelo Estado, não implica que a religião deixe de ser uma opção pessoal
praticada no âmbito privado, uma vez que as pessoa se tornam livres para
praticar ou não um credo religioso. Dessa forma: "O Estado pode, portanto,
já ter se emancipado da religião, mesmo que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">maioria esmagadora</i> continue religiosa. E a maioria esmagadora não
deixa de ser religiosa pelo fato de ser <i style="mso-bidi-font-style: normal;">religiosa
em privado</i>". (p. 39). As reflexões de Marx elucidam que Estado laico e
liberdade religiosa devem ser consideradas como liberdades básicas da
humanidade. E que, justamente por isso, os revolucionários deveriam se colocar
na linha de frente na defesa de tais liberdades. Isso politiza a prática
religiosa cotidiana, pois opõem religiosos à ingerência estatal na vida
privada, fortalecendo a liberdade de culto e de crença.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;">Limitações da emancipação política<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Marx aprofunda ainda mais a reflexão, destacando que uma
limitação da emancipação política é que as pessoas precisam se valer da atuação
do próprio Estado para garanti-la. Não se trata de uma imposição da população
contra o Estado, mas de uma conquista no âmbito do mesmo Estado que acaba por
admitir a legitimidade do Estado na regulação das liberdades humanas. Afirma o
Estado, entidade de classe, como intermediário das liberdades humanas gerais. A
luta religiosa confronta-se com o Estado ao mesmo tempo em que o legitima, está
é a contradição da emancipação política:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Porém, o comportamento do Estado, principalmente do
Estado livre, para com a religião nada mais é do que o comportamento das
pessoas que compõem o Estado para com a religião. Disso decorre que o homem se
liberta de uma limitação, valendo-se do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">meio
chamado Estado</i>, ou seja, ele se liberta politicamente, colocando-se em
contradição consigo mesmo, alterando-se acima dessa limitação de maneira <i style="mso-bidi-font-style: normal;">abstrata</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">limitada</i>, ou seja, de maneira parcial. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Decorre, ademais, que o homem, ao se libertar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">politicamente</i>, liberta-se através de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">desvio</i>, isto é, de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">meio</i>, ainda que se trate de um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">meio necessário</i>. A religião é exatamente
o reconhecimento do homem mediante um desvio, através de um<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> mediador</i>. O Estado é o mediador entre o homem e a liberdade do
homem. (...). (p. 39).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No entanto, para Marx, essa não é uma contradição unicamente
da luta religiosa, pois embora as conquistas no âmbito da emancipação política
sejam importantes, conforme esclarece quando afirma que: "A elevação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">política</i> do homem acima da religião
compartilha de todos os defeitos e de todas as vantagens de qualquer elevação
política". (p. 39). Isso porque reafirmam o papel do Estado na mediação
das liberdades sociais. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Então, a emancipação política é muito importante, pois além
de ampliar as liberdades humanas, pode abrir caminho para outras lutas de
caráter emancipatório, mas emancipação política é sempre uma emancipação dentro
da ordem: "A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">emancipação política</i>
de fato representa um grande progresso; não chega a ser a forma definitiva de
emancipação humana em geral, mas constitui a forma definitiva de emancipação
humana dentro da ordem mundial vigente até aqui". (p. 41). Ao ampliar as conquistas,
por meio de emancipação política, a luta social afasta o arbítrio do Estado
devolvendo poderes às pessoas. No caso da religião, ela sai da esfera pública e
passa para a esfera privada, para uma escolha pessoal do indivíduo:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O homem se emancipa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">politicamente</i> da religião, banindo-a do direito público para o
direito privado. Ela não é mais o espírito do Estado, no qual o homem ainda que
de modo limitado, sob formas bem particulares e dentro de uma esfera específica
- se comporta como ente genérico em comunidade com outros homens; ela passou a
ser o espírito da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sociedade burguesa</i>,
a esfera do egoísmo, do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bellum omnium
contra omnes</i> [da guerra de todos contra todos]. Ela não é mais a essência
da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">comunidade</i>, mas a essência da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">diferença</i>. Ela se tornou a expressão da
separação entre o homem e a comunidade, entre si mesmo e os demais homens -
como era <i style="mso-bidi-font-style: normal;">originalmente</i>. Ela já não
passa de uma profissão abstrata da perversidade particular, do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">capricho privado</i>, da arbitrariedade.
(...). (pp. 41-42).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Mas, como a religião é apenas uma das esferas particulares
da sociedade, esta por sua vez, reforça o dualismo entre o indivíduo privado e
indivíduo como membro da sociedade civil, como cidadão. Emerge a contradição
entre homem individual e homem coletivo. Novamente Marx destaca as limitações
da emancipação política: "Todavia, não tenhamos ilusões quanto ao limite
da emancipação política. A cisão do homem em<i style="mso-bidi-font-style: normal;">
público</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">privado</i>, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">deslocamento</i> da religião do Estado para
a sociedade burguesa, não constitui um estágio, e sim a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">realização plena</i> da emancipação política, a qual, portanto, não
anula nem busca anular a religiosidade <i style="mso-bidi-font-style: normal;">real
</i>do homem". (p. 42). Interessante destacar que para Marx um Estado
religioso é um Estado menos desenvolvido politicamente e mais mistificado, uma
vez que utiliza a religião como forma de extensão de seu controle sobre a
sociedade:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O assim chamado Estado cristão constitui, na verdade,
a negação cristã do Estado, mas jamais a realização do cristianismo. O Estado
que continua a professar o cristianismo na forma de religião ainda não o
professa na forma de Estado, pois continua a comportar-se religiosamente para
com a religião, isto é, ele não é a realização efetiva do fundamento humano da
religião, porque ainda se reporta a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">irrealidade</i>,
à figura <i style="mso-bidi-font-style: normal;">imaginária</i> desse cerne
humano. O assim chamado Estado cristão é o Estado incompleto, ele tem a
religião cristã na conta de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">complemento</i>
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">santificação</i> de sua incompletude.
Sendo assim, a religião se torna para ele um meio, e ele se constitui no Estado
da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">hipocrisia</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ainda, de acordo com Marx, é preciso considerar que: "Há
uma grande diferença entre o Estado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">completo</i>,
laico, que se afirma sem a necessidade de recorrer à esfera da dominação
religiosa (que pode inclusive ter a religião entre seus pressupostos por causa
da deficiência inerente à <i style="mso-bidi-font-style: normal;">essência
universal</i> do Estado) e o Estado incompleto, religioso, declarar a religião
como seu fundamento". Isso porque:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">No último caso, a religião se torna <i style="mso-bidi-font-style: normal;">política incompleta</i>. No primeiro caso,
manifesta-se, manifesta-se na religião a incompletude até mesmo da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">política </i>completa. O Assim chamado
Estado cristão necessita da religião cristã para completar-se <i style="mso-bidi-font-style: normal;">como Estado</i>. O Estado democrático,
Estado real, não necessita da religião para chegar à completude sua política.
Ele pode, antes, abstrair da religião, porque nele se realiza efetivamente em
termos seculares o fundamento humano da religião. O assim chamado Estado
cristão, em contrapartida, comporta-se politicamente para com a religião e
religiosamente para com a política. Ao rebaixar as formas estatais à condição
de aparência, ele rebaixa na mesma proporção a religião a essa condição. (p.
43).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;">Da
emancipação política para a emancipação humana<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para Marx, as lutas sociais, protagonizadas a partir de
demandas específicas, religiosas, étnicas, econômicas etc. tem sempre
relevância pois politizam a sociedade e colocam o ser humano como sujeito ativo
de suas demandas. Faz com que veja na prática a importância da organização
política frente ás outras esferas sociais, mas principalmente frente ao Estado.
O Estado é sempre um Estado de classe, uma forma de dominação política, então,
cada luta social repõem o poder político do povo. Faz com que o homem se
coloque como senhor do seu próprio destino, confiando apenas em forças próprias,
na própria organização popular, e não em uma entidade externa, alheia a sua
própria vontade. De acordo com o autor:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) a emancipação humana só estará plenamente
realizada quando o homem individual real tiver recuperado para si o cidadão
abstrato e se tornado ente genérico na qualidade de homem individual na sua
vida empírica, no seu trabalho individual, nas suas relações individuais,
quando o homem tiver reconhecido e reorganizado suas "<i style="mso-bidi-font-style: normal;">forces propres</i>" [forças próprias] como forças sociais e, em
consequência, não mais separar de si mesmo a força social na forma de força
política. (p. 54).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">Referências:<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">MARX, K. Sobre a questão judaica.
Boitempo. <o:p></o:p></span></span></b></div>
<h1 style="background: white; margin-bottom: 5.35pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 5.35pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">MOURA,
A. <span style="color: black; font-weight: normal;">A
ruptura de Marx com Hegel: Critica da filosofia do direito de Hegel. </span><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/A-ruptura-de-Marx-com-Hegel-Critica-da-filosofia-do-direito-de-Hegel">http://www.esquerdadiario.com.br/A-ruptura-de-Marx-com-Hegel-Critica-da-filosofia-do-direito-de-Hegel</a><o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="background: white; margin-bottom: 5.35pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 5.35pt; text-align: justify;">
<o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></h1>
<h1 style="background: white; margin-bottom: 5.35pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 5.35pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">MOURA,
A. <span style="color: black; font-weight: normal;">Marx em
defesa da liberdade de imprensa (1842). </span><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/Marx-em-defesa-da-liberdade-de-imprensa-1842">http://www.esquerdadiario.com.br/Marx-em-defesa-da-liberdade-de-imprensa-1842</a><o:p></o:p></span></h1>
<h1 style="background: white; margin-bottom: 5.35pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 5.35pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">MOURA,
A. <span style="color: black; font-weight: normal;">Marx
antes do marxismo - Diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e
Epicuro (1841). </span><a href="http://www.esquerdadiario.com.br/Marx-antes-do-marxismo">http://www.esquerdadiario.com.br/Marx-antes-do-marxismo</a><o:p></o:p></span></h1>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">X</span></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-63670911789926298372019-12-19T12:25:00.003-08:002019-12-19T13:28:57.045-08:00O trotskismo no Brasil (1928-1964) - Osvaldo Coggiola<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
</div>
(In: Corações Vermelhos <em style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #333333; font-family: "pt sans caption"; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: justify;">(os comunistas brasileiros no século XX)</em><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "pt sans caption"; font-size: 16px; text-align: justify;">. São Paulo: Cortez, 2003, p. 239-269.</span>)</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No final da década de 1920, quando diversas frações surgidas no interior
dos partidos comunistas latino-americanos se aproximaram da Oposição de
Esquerda Internacional encabeçada por Leon Trotski, teve lugar o nascimento do
trotskismo no Brasil. Em 1928 houve abalos sérios no Partido Comunista do
Brasil (PCB). O embrião do trotskismo provavelmente surgiu em 1928, com a
rebelião da célula 13 do PCB, no Rio de Janeiro, sob liderança de João da Costa
Pimenta, antigos militantes presentes ao congresso de fundação do partido, e
dirigentes da Federação sindical regional do rio de Janeiro, lideraram a
Oposição Sindical que terminaria por excluir-se do Partido. As divergências se
situavam em torno da política sindical adotada pelo partido. Aqueles dirigentes
acusavam-no de converter os sindicatos em instrumento político: “Como o partido
era ilegal, a táctica da direção consistia em fazer dos sindicatos meros órgão
de expressão legal de sua política. As sedes dos sindicatos dirigidos por
comunistas eram transformadas em células partidárias”. (Pedrosa, 1947). Segundo
esses dirigentes, a orientação podia revestir de aspectos grotescos: “Nessa
época, a palavra de ordem do partido em qualquer greve era sempre ´libertação
de Thaelmann´. Imagine: os operários tinham que gritar isso”. (Mario Pedrosa, in
Maia 1980)”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por outro lado, um grupo de intelectuais, descontentes com a orientação
geral do partido, com o que consideravam excesso de nacionalismo, e também
discordando da proposta de aproximação com a Coluna Prestes, rompeu com a
liderança do partido. Eram nomes de destaque, entre eles Lívio Xavier, Flúvio
Abramo e Rodolfo Coutinho. O primeiro era escritor e aderira ao Partido
Comunista no ano anterior, segundo Dulles, tinha contato com a oposição
anti-stalinista do partido comunista francês. Rodolfo Coutinho era nome
influente no partido, membro do CC, tinha sido membro suplente da Comissão
Central Executiva (CCE) eleita no Congresso de Fundação do PCB, em 1922. Ambos
tinham muita influencia na Juventude Comunista e atraiam para suas posições
Hilcar Leite, então com dezesseis anos, e Aristide Lobo. Segundo Leandro
Konder, “ecos das concepções de Trotski poderiam ser identificadas nas criticas
feitas à linha de Astrojildo [Pereira] por Rodolfo Coutinho, Lívio Xavier, e
outros” (Konder, 1981). Rodolfo Coutinho, à época, já tinha conhecimento (ainda
que precário) das teses da Oposição de Esquerda. Delegado do PCB no V Congresso
da Terceira Internacional, em 1924 – quando o partido obteve seu reconhecimento
-, demorou-se na Alemanha até 1927, entrando em contato ali com militantes
oposicionistas. De volta ao Brasil, reintegrou-se à CCE, para a qual havia sido
eleito suplente no I Congresso do PCB. Foi então encarregado da organização dos
trabalhadores rurais do Rio de Janeiro e escrevia para o jornal <i>A nação</i>,
controlado pelo PCB. Com os acontecimentos do ano de 1928 Rodolfo Coutinho
demitiu-se da CCE no dia 27 de abril e se afastou do partido em 8 de maio. Por
outro lado, sua influencia na Juventude Comunista (JC) acabou fazendo com que a
crise também a atingisse e logo no seu nascedouro. Aristides Lobo, que
trabalhava pela organização da JC em São Paulo, passou para a Oposição, e
quatro membros da CCE da JC romperam com a direção, entre os quais Hilcar
Leite.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A dimensão do impacto na vida partidária dessas cisões pode ser avaliada
pela decisão da CCE de editar uma revista destinada ao debate das questões
levantadas. Em um documento interno, era assim apresentada:<br />
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“A CCE declara
aberta a discussão interna, entre os membros do partido, acerca das questões de
ordem política, sindical orgânicas, e outras, de interesse do partido e que
possam constituir material de estudo para o III Congresso [do PCB]. Para este
fim, a CCE decide criar um órgão especial de discussão, a ser divulgado
exclusivamente entre os membros do
partido, até a reunião do III Congresso” (Pereira, A., 1979? 131).<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Da revista <i>Auto-Critica</i> se publicaram oito números: Astrojildo
Pereira, no texto citado, atribuiu a decisão da CCE ao acúmulo de criticas e
divergências, e ao surgimento de um “movimento de oposição organizada
abrangendo algumas dezenas de membros do partido”. De nenhum dos dois grupos
restou uma organização, fora ou dentro do partido (Astrojildo Pereira, 1976:159),
que fala das “oposições”, mas não as vincula ao trotskismo, relatou que “o novo
Comitê Central ficou encarregado de examinar a questão da readmissão ao partido
na base de declarações individuais”), mas foi entre esses elementos que os
documentos da Oposição de Esquerda Internacional obtiveram repercussão. Eles
foram enviados, da Europa, por Mario Pedrosa. Edgard Carone refere-se a este,
junto com Lívio Xavier, Leôncio Basbaum e Mário Grazini, como membros da
primeira geração de formação marxista do PCB. Sua posição de destaque no
partido, na época, era ilustrada pelo fato de se encontrar, em 1929, na
Alemanha, a caminho de Moscou, para estudar no Instituto Marx-Engels-Lenin.
Tendo entrado em contato com os documentos (e os militantes) da oposição de esquerda
na própria Alemanha, desistiu da viagem e rumou para Paris. De lá enviou
documentos e publicações para o Brasil, onde Lívio Xavier, Hilcar Leite e
Rodolfo Coutinho, entre outros, aderiram às posições dos já chamados
“trotskistas”. Quando voltou da Europa, Mario Pedrosa trazia consigo o programa
dos oposicionistas de esquerda:<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“Mandado pelo PCB, em 1928, para a escola Leninista de Moscou, Mário
Pedrosa, ao chegar na Alemanha, adoeceu, ficando sem condições de seguir
imediatamente para a Rússia. Estagiou em Berlin, militando no PC alemão, e
participou dos combates de rua contra os nazistas. Vai a Paris, onde trava
contato com Benjamin Péret, Pierre Naville, e outros escritores integrantes do
movimento surrealista. De volta a Berlin, correspondeu-se com Naville (então
diretor da revista <i>Clarité</i>) e ligou-se aos oposicionistas alemães.
Tomando o partido de Trotski, resolveu abandonar definitivamente o projeto de
estudar em Moscou” (Pedrosa, in: Marie, 1981:7).<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Regressando ao Brasil em fins de 1929, foi expulso do PCB devido às suas
“ligações europeias”. Começou-se a trabalhar então para estabelecer vínculos
entre a oposição brasileira e o movimento internacional.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Pedrosa logrou reunir elementos daqueles dois grupos na formação do Grupo
Comunista Lênin, que a partir de maio de 1930 aditou o jornal <i>A Luta de
Classe</i>, no Rio de Janeiro. O grupo agia com a mesma orientação dos
agrupamentos semelhantes em outros países; voltava-se para os “elementos de
vanguarda” da classe operária e propunha-se a alterar a linha política do PCB,
conforme se vê no editorial do primeiro número de <i>A Luta de Classe</i>, onde
se afirma que o jornal não visa combater o PCB, mas reintegrá-lo “na linha que
se traçou por ocasião de sua fundação.” É só em janeiro do ano seguinte, no dia
21 e “comemorando a data de morte de
Lênin” que se formaliza a existência da Liga Comunista Internacionalista
(oposição leninista do Partido Comunista do Brasil – Seção Brasileira da
Oposição de Esquerda Internacional). Além do jornal <i>A Luta de Classe</i>
editavam o <i>Boletim da Oposição</i>, que tinha por função “estreitar a
ligação entre o proletariado revolucionário e a Oposição Internacional, fração
de esquerda da IC”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A nova organização, com base no Rio de Janeiro e em São Paulo, vive por
toda a primeira metade da década de 1930 e exerce considerável influencia nos
sindicatos, chegando a controlar a União dos Trabalhadores Gráficos (que tinha
sido fundada por João da Costa Pimenta, membro fundador da Liga) e por meio da
Federação dos Sindicatos, em várias categorias: marceneiros, metalúrgicos,
comerciários, tecelões. A influencia dos trotskistas em vários e importantes
sindicatos paulistas fica confirmada pelo comentário publicado em 31 de agosto
pelo órgão da Internacional Sindical Vermelha:<br />
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“Os trotskistas
apoderaram-se da liderança de muitos sindicatos – não apenas os pequenos, mas
também de algumas importantes organizações, como a recém-formada união dos
trabalhadores em estações elétricas e transportes com milhares de membros – e o
velho sindicato revolucionário dos gráficos. Também ganharam definida
influencia no Sindicato dos trabalhadores Têxteis de São Paulo”.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Desde o seu início, a Liga alertou para o perigo representado pela
política varguista para o movimento operário:</div>
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 117.1pt; text-align: justify;">
“O Ministério
do Trabalho foi criado especialmente para exercer um trabalho contínuo de
mistificação entre os operários. A policia política não poderia realizar a
tarefa do Ministério do Trabalho, mas este não é menos infame do que aquela, e
está a merecer a hostilidade permanente do proletariado. Não há sindicato em
São Paulo e no Rio que não tenha sentido claramente quais os verdadeiros
objetivos desse órgão ‘técnico’ da administração burguesa ‘revolucionária’.”<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Pierre Broué
informa sobre a atividade de Plínio Gomes de Mello,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“jornalista, organizador das Juventudes Comunistas, membro do partido em
1927, enviado ao Rio Grande do Sul para ser candidato do Bloco operário e
Camponês. Detido e golpeado, fugiu para Montevidéu, onde participou em maio de
1930 na reunião do Boreau Latino-Americano da Internacional Comunista. Excluído
por sua posição política do ‘Terceiro Período’, reorganizou legalmente o PCB em
São Paulo em novembro de 1930, o que lhe valeu a acusação de ‘renegado’ e
‘trotskista’. Aderiu à Oposição de Esquerda em 1931, e dirigiu em São Paulo a
grande greve da <i>Light & Power</i>, sendo detido pela policia. Nos anos
seguintes foi um dos dirigente do Sindicato dos Jornalistas”.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Datam dessa época os contatos que Aristides Lobo e depois Mário Pedrosa
buscaram manter com Luis Carlos Prestes. Aristides Lobo foi enviado em 1930 a
Buenos Aires para discutir com Prestes, tentando convencê-lo tanto a ingressar
no PCB, como a defender no seio deste as orientações da Oposição de Esquerda.
De acordo com Michel Lowy (in Sader, 1980: 28).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“durante certa fase, Prestes parece atraído pelas teses trotskistas, e é
possível que Aristides Lobo tenha influenciado alguns dos textos que o
‘Cavaleiro da Esperança’ publicará no decorrer de 1930, particularmente o <i>Manifesto
de Agosto</i> no qual anuncia a criação de uma organização, a Liga de Ação
Revolucionária (LAR), que se propõe a dirigir a insurreição proletária e
camponesa, numa frente única com o PCB. Nesse documento, Prestes já reconhece a
necessidade da hegemonia do proletariado, para que a revolução não conheça uma
derrota como na China e no México. Em artigo autobiográfico publicado em 1973,
Prestes afirma que esse manifesto continha opiniões ‘tipicamente trotskistas’,
de fato, o texto corresponde ao período de maior aproximação entre Prestes e o
trotskismo. O PCB rejeitará a LAR como empresa ‘confusionista’, e a nova
organização não conseguirá implantar-se no país, limitando-se a um círculo de
amigos de Prestes no exílio.”</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Preste deu ouvidos a Lobo no inicio, fazendo-o seu conselheiro político.
Existem versões que atribuem à pena de Lobo o famoso <i>Manifesto de Agosto</i>
de Prestes, conclamando a uma insurreição nacional antiimperialista: Lobo
chegou a ser, junto com o ‘tenente’ Siqueira Campos, um dos quatro dirigentes
da LAR criada por Prestes para os fins enunciados no manifesto. Os rivais
stalinistas da LCI aproveitaram, aparentemente, uma ausência de Lobo, enviado
por Prestes a estudar a situação no Rio Grande do Sul, para convencer Prestes
de unir-se ao PCB, não sem antes criticar o “Manifesto”, repudiar o “trotskismo”
e dissolver a LAR.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ainda em 1930, circulou o <i>Boletim Internacional da Oposição de
Esquerda da Terceira Internacional</i>, registrando a convocação e adesão de
dezessete organizações de diferentes países – entre elas o grupo brasileiro –
para um encontro que lançaria a Oposição Internacional, o que acaba acontecendo
em abril desse ano, em Paris, com a criação de um bureau e de um secretariado
(Marie, 1975:6). Foi, na verdade, em conseqüência desse fato que o Grupo
Comunista Lênin, em São Paulo, transformou-se em Liga Comunista
Internacionalista: no ato de fundação estavam presentes Aristides Lobo, João
Mateus, Manuel Medeiros, Mario Pedrosa, Benjamim Péret (poeta surrealista
francês que se encontrava a época no Brasil), Lívio Xavier e outros.
Posteriormente, deu-se o mesmo no Rio de Janeiro, com participação, entre
outros, de Rodolfo Coutinho, João Dalla Dea, Otavio du Pin Galvão e José Neves,
assim como Salvador Pintaude (diretor da Editora Unitas, responsável pelas
primeiras traduções de livros de Trotski para o português). O jornal <i>A Luta
de Classe</i> transformou-se em seu órgão teórico e, além dele, a Liga passou a
editar, como foi dito, o <i>Boletim da Oposição</i>. No seu primeiro número em
janeiro de 1931, o <i>Boletim da Oposição</i> apresentou sua análise sobre a
revolução de 1930 e sobre o movimento comunista internacional. Fiel aos
princípios da Oposição trotskista, declarava-se em luta pela regeneração do
PCB. Em fins de 1933 os trotskistas criaram a Coligação dos Sindicatos
proletários, organização que procurava unificar o movimento sindical em São
Paulo, segundo Robert Alexander, os trotskistas tinham nessa época mais
influencia sindical que o PCB. Confirmando, Prestes acusava “a traição dos
chefes trotskistas e anarcosindicalistas, que não souberam conduzir o proletariado
à vitória nas greves de 1931 e 1932” (Prestes, 1935).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A diferença do PCB, a LCI realizou uma verdadeira análise da revolução de
1930: “a economia nacional exprimiu-se, pela primeira vez, sob uma forma
bastante nítida, em outubro de 1930, com a revolta de suas forças produtivas
contra a hegemonia da economia cafeeira... Sem cair no erro da direção
burocrática do PCB (que identifica) cada um dos grupos políticos em luta com os
dois grupos Imperialista, que agem como um fator externo à luta de classes no
Interior do País, o processo de diferenciação política das classes, que
decorreu do movimento, reagiu por sua vez sobre a própria base social,
alargando-a e preparando ocasiões para a intervenção independente do
proletariado na luta partidária”. Após uma análise do problema da unidade
nacional do Brasil, a LCI colocou a reivindicação de Assembléia Constituinte, o
que lhes valeu a qualificação de “lacaios do imperialismo” por parte do PCB
(que teriam recebido ainda que dissessem outra coisa). Para a LCI, as
reivindicações democráticas decorriam da estrutura mesma do país: “o
desenvolvimento combinado da nação que se industrializa, no quadro da economia
colonial, impede que as formas de dominação política da burguesia se façam nos
quadros normais da democracia, isto é, as palavras de ordem democráticas
transformam-se em arma na mão do partido do Proletariado, que congrega assim as
massas oprimidas”. O PCB, como se sabe, considerou a revolução de 1930 um
simples episódio da luta interimperialista, o que isolou totalmente o partido
da situação política e provocou uma crise nas suas fileiras (Leôncio Basbaum,
entre outros, criticou o primarismo e esquematismo da análise do PCB).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A LCI defendia uma Assembléia Constituinte a partir da análise que fazia
da formação histórica brasileira e das tarefas políticas decorrentes no período
contemporâneo, ou seja, do entendimento que o proletariado deveria possuir da
Constituinte e da pratica daí derivada. Para a Liga, seria uma espécie de
Constituinte do proletariado, a se diferenciar da Constituinte da burguesia e
da pequena burguesia. Como isso seria possível? Lutando, o proletariado e o
PCB, pela formação de <i>soviets</i> (conselhos) paralelamente á Constituinte,
e por autonomia municipal, possibilitando a gestão direta do povo. O quadro
social e político pós 1930, no entender da Liga Comunista Internacionalista,
dava certos contornos que possibilitavam a compreensão de alguns possíveis
desdobramentos não interessantes ao proletariado, a não ser que o PCB
realizasse uma guinada na sua política. Se para a Liga Comunista, os
acontecimentos de 1932 diziam respeito à unidade política do País no âmbito da
própria classe dirigente, a unidade nacional efetiva somente poderia ser
realizada pelo proletariado.<br />
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“As forças
produtivas do Brasil não podem mais desenvolver-se, na escala nacional, sob
controle da burguesia e a tutela opressora do imperialismo. Só a ditadura do
proletariado poderá, libertando o Brasil das garras do imperialismo, conservar
a unidade nacional, de modo a garantir o desenvolvimento harmonioso das forças
produtivas em todo o país, e o melhoramento sistemático das condições de vida
das massas exploradas. A luta pela unidade nacional é assim uma luta direta
contra o imperialismo e contra a burguesia secessionista”.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A colonização imposta pela metrópole portuguesa tinha impedido uma
organização econômica estruturada da pequena propriedade, por não ter
florescido em seu propósito a ideia de territórios livres, de colonos livres:
“A classe dos pequenos proprietários, fator da pequena produção geralmente
anterior ao regime capitalista, e cuja expropriação e um dos fatores
determinantes deste, não pôde se desenvolver na formação econômica do Brasil. O
Estado brasileiro se caracterizou sempre por um esquematismo de classe”. Esse regime
de produção, que gerou a escravidão no Brasil, em outro momento do seu
desenvolvimento a superou, abrindo um espaço específico para suas relações com
o capitalismo europeu, sobretudo o inglês. A burguesia brasileira, à diferença
da européia, tinha sua origem no campo, não no meio urbano:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“O formidável
desenvolvimento da cultura cafeeira é tipicamente um desenvolvimento
capitalista. A investigação da produção cafeeeira permite deslindar os segredos
do capitalismo brasileiro, suas já ditadas especialidades com a escravidão, e
sua ruptura qualitativa com a imigração do trabalhador assalariado. Resolvida a
contradição escravo/produção propriamente capitalista, com a geração do valor
possibilitada agora pela presença do trabalhador assalariado, todas as condições
necessárias para a grande exploração estavam reunidas: terras virgens, ausência
de rendas fundiárias, possibilidades de monocultura. Assim, o cafeicultor faz
convergir, simultaneamente, todos os seus meios de produção para um único
objetivo e, por conseguinte, obtém benéficos até desconhecidos. O tipo da
exploração determinou, portanto, prosperidade de favorável ao desenvolvimento
do capitalismo sob todas as suas formas. Desse modo, o sistema de crédito, o
crescimento da dívida hipotecária, o comércio nos portos de exploração, tudo
ajudava a preparar uma base capitalista nacional. Os braços que faltavam foram
importado. A imigração adquiriu, a partir daí, caráter de empresa industrial.”</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Portanto, a produção cafeeira redefine também a política econômica com o
capital financeiro, internacional e internamente, quando – e por conseqüência –
certas regiões se desenvolveram mais do que outras. A estagnação e incorporação
de determinadas áreas a esse desenvolvimento desigual e combinado do
capitalismo brasileiro impediu o entendimento dessa enorme diferenciação como
formadora de dois “Brasis”, ou seja, uma interpretação dualista: “Mas o
processo econômico estendeu-se pouco a pouco a todo o território brasileiro, e
o capitalismo penetrou todo o Brasil transformando as bases econômicas mais
retardatárias. À medida que progride economicamente, o Brasil integra-se cada
vez mais á economia mundial, e entra na esfera de atração imperialista”. A
burguesia nacional dependia de um executivo forte, de um Estado estruturado,
com burocracia e ministérios cúmplices com o tipo de industrialização
capitalista: “Além disso, as exigências do desenvolvimento industrial obtêm,
como condição essencial, o apoio direto do Estado: a indústria nasce ligada ao
Estado pelo cordão umbilical”. Assim, a Federação que se instituiu com a
proclamação da república em 1989 era escamoteada na prática, com a
centralização do poder político, imposta por um Estado comprometido com os
anseios de uma burguesia nascente. Para Pedrosa e Xavier, esse quadro explicava
por que os governadores eram dependentes do poder central, e não o contrário:
“Os representantes parlamentares dos estados secundários tornaram-se
representantes do poder central nos estados, ao invés de – segundo a ficção
constitucional – representarem os estados junto ao poder central”. A
instabilidade política, a explicitação de suas contradições quase que á tona da
sociedade civil eram explicáveis por um desenvolvimento econômico que se
alterava constantemente, jogando <i>avant-la-banque</i>, como diria Marx, sem
controle por partes da burguesia nacional, que pôde, enfim, dispensar partidos
políticos nacionais.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No terreno sindical, a LCI desenvolvia a linha da frente Única, chegando
a ter forças bem superiores ás do PCB, como constatou Robert Alexander, em São
Paulo, onde a LCI concentrou suas forças, por considerá-lo o centro operário do
Brasil. Foi fundamental a atividade de João da Costa Pimenta na direção do
sindicato dos gráficos, mas os trotskistas possuíam também bastante força nos
sindicatos dos tecelões, ferroviários e bancários. Junto aos anarquistas,
puseram em pé a Coligação dos Sindicatos, em 1934. No mesmo ano, foi graças à
impulsão dos trotskistas que surgiu a Coligação das Esquerdas, reunindo também
os anarquistas, os socialistas, os grupos operários estrangeiros e inclusive o
Comitê São Paulo do PCB, dirigido por “Paulo” (Hermínio Sacchetta), para lutar
contra o fascismo “camisa-verde”: o Integralismo. Este seria o principal feito
da LCI. Vários trotskistas (como Mario Pedrosa e Flúvio Abramo) já vinham
participando da redação de um jornal democrático antifascista – <i>O Homem
Livre</i> -, onde Pedrosa tinha realizado, de modo pioneiro, uma análise do
fascismo a partir do filme de Howard Hawks. <i>Scarface</i> (isto é, uma
analogia entre o fascismo e a máfia, uma espécie de lumpemproletariado que toma
conta do Estado como beneplácito das classes dominantes, para se livrar de um
perigo revolucionário). Juntamente com a Coligação dos Sindicatos e o Partido
Socialista Brasileiro (PSB), a LCI participou da chamada Coligação das
Esquerdas ou Proletária, que se formou visando as eleições para Constituinte
estadual paulista e para a Câmara Federal. A LCI apresentou para essa frente um
programa de 42 pontos, dividido em três partes: reivindicações políticas e democráticas
)extensão do direito ao voto, milícias antifascistas, instituição do divórcio,
reconhecimento da URSS), reivindicações econômicas imediatas (redução da
jornada de trabalho, alteração na legislação trabalhista, aumento dos salários,
salário mínimo com base em escala móvel, etc); reivindicações econômicas em
benefício das massas em geral e dos camponeses em especial (nacionalização,
desconhecimento da dívida externa, organização de fazendas geridas pelos
sindicatos rurais). A Coligação das Esquerdas, com pequena votação em relação
aos grandes partidos, ficou à frente da Ação Integralista Brasileira e do PCB,
que se apresentou como União Operária e Camponesa. O PCB obteve 1716 votos para
deputado federal e 1709 para deputado estadual, enquanto a coligação das
Esquerdas obteve, respectivamente, 8.508 e 8289 votos (Carone, 1974: 246).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os trotskistas participaram também da luta antifascista. Um momento
significativo dessa luta foi o 1<sup>o</sup> de maio de 1934, manifestação
pública contra os integralistas, organizada pela Liga, pelo PSB e pelos
anarquistas. Nesse dia, Mario Pedrosa lançou, pela primeira vez no Brasil, a
necessidade de construção da Quarta Internacional, depois da capitulação sem
luta do PC alemão em 1933, abrindo o caminho para Hitler. De acordo com Mário
Pedrosa, “para concretizar a frente antifascista, a campanha se desenrolou
durante o ano de 1934, a LCI, os anarquistas e os socialistas lançaram um
jornal chamado<i> O Homem Livre</i>. O PCB não participava da Frente Única.
Preferia levar a campanha à parte. Somente participou da grande luta contra os
integralistas, a 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
As esquerdas unidas convocaram uma contramanifestação em oposição a uma
reunião convocada pelos integralistas em 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé.
Flúvio Abramo (então fazendo “entrismo” trotskista no PSB) foi o orador da
esquerda: pouco pôde dizer, pois explodiu uma batalha campal, inclusive com o
uso de armas de fogo. Um estudante comunista morreu, Mário Pedrosa levou um
tiro nas nádegas, mas os integralistas também sofreram perdas e se retiraram,
semeando as ruas de São Paulo de camisas-verdes apavorados diante da reação
antifascista das organizações operárias. Pouco tempo depois, o PCB lançaria a
ANL (Aliança Nacional Libertadora), que finalizaria deflagrando um <i>putsch</i>
militar, a partir de Natal (Rio Grande do Norte) quase exatamente um ano
depois, em novembro de 1935. O fracasso do <i>putsch</i> de 1935, em que o PCB
pretendeu organizar um levante nacional com um programa burguês, deu um golpe
mortal ao curso ascendente do movimento operário, cujo ponto mais alto tinha
sido justamente a batalha antifascista protagonizada pelo operariado paulista
na Praça da Sé, quando as colunas operárias transformaram a marcha triunfal do
fascismo “camisa-verde” no que a imprensa chamou “a revoada das galinhas
verdes”: os pequeno-burgueses mussolinianos de Plínio Salgado abandonaram até
as camisas na fuga. No ano seguinte, os trotskistas combateram o
“aventureirismo” do PCB, o que não lhes poupou, da mesma maneira que o resto da
esquerda, a repressão consecutiva ao fracasso do levante da ANL: seus
dirigentes foram parar na prisão da Ilha Maria Zélia (onde morreu o dirigente
operário trotskista Manuel Medeiros, em condições atrozes) ou no exílio (Mario
Pedrosas conseguiu fugir do país, assim como Flúvio Abramo, que se exilou na
Bolívia, junto com Mariano e Inês Besouchet, onde passaria vários anos e
acompanharia os primeiros passos do POR, Partido Obrero Revolucionário). Sua
batalha política, contudo, teria repercussões na posterior adesão de uma
importante fração do PCB (a maioria do Comitê de São Paulo, como Hermínio
Sacchetta e a poetisa Pagú, Patrícia Galvão) ao trotskismo, o que garantiria a
continuidade do trotskismo sob o Estado Novo, com o Partido Socialista Revolucionário.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas, antes disso, em conseqüência da insurreição de 1935, o movimento
operário sofreu uma repressão brutal, os trotskistas tiveram sua organização
desmantelada:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“A LCI cindiu-se
em 1935. Sacchetta publicou em <i>A Classe Operária</i> um artigo intitulado ‘A
liga se desliga’. Em outro artigo chamou Aristides Lobo de ‘velho gagá, de cujo
cérebro escorre pus’. Os dois terminaram amicíssimos. Quase que diariamente
estavam juntos na redação do <i>Shopping News</i>, onde Aristides, ao sair do
trabalho na Folha de S. Paulo, indo para casa, parava para conversar com
Sacchetta. Encontrei-o lá muitas vezes, nos anos entre 1965 e 1967, quando
morei em São Paulo, ao voltar do exílio no Uruguai”.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os quadros remanescentes da LCI, buscando articular-se, fundaram, em
1936, no Rio de Janeiro, o Partido Operário Leninista (POL) que, no entanto,
não se consolidaria. Ainda assim, em julho desse ano fizeram circular a revista
<i>Sob Nova Bandeira</i>. A LCI, na verdade, tinha entrado também em crise
política, desagregando-se: houve uma cisão política, em que alguns militantes
(Aristides Lobo, a futura romancista Rachel de Queiroz, Vitor Azevedo)
objetivaram o “aventureirismo” e o “militarismo” da LCI. O POL, num documento
público, tentou fazer um balanço rigoroso da derrota de 1935:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“O proletariado,
que não chegou a tomar parte no golpe aliancista de novembro, sofreu porém
todas as conseqüências da derrota. O movimento ascendente das massas
trabalhadoras que se vinha assinalando desde 1934 (vaga de greves) foi
quebrado. A pequena Burguesia, que se vinha deixando arrastar á esquerda,
recuou, voltando a abrigar-se sob as asas do governo, ou caindo no velho
indiferencismo político, quando não correu simplesmente para o seio do
integralismo. A derrota, porém, será apenas uma etapa do caminho – e uma etapa
progressista – se a vanguarda revolucionária souber tirar todas as lições da
mesma”.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“Os
acontecimentos de novembro deslocaram o debate sobre o caráter de classe da
revolução no Brasil do campo abstrato da teoria para o terreno da prática.
Nesse fato reside a sua grande importância histórica. Antes do golpe, o debate
se travava entre duas concepções opostas: a da IC burocratizada e a dos
marxistas revolucionários. Segundo a primeira, o caráter das revoluções nos
países semi-coloniais, coloniais, dependentes, se mede por uma escala muito
complicada, em que cada um dos seus graus representa uma revolução diferente e
separada da outra. O primeiro grau representa a ‘revolução agrária e
antiimperialista’, o ultimo a revolução proletária socialista. De cada vez só
se pode andar um degrau. Desde a formação da ANL e das Frentes Populares (1935)
o comunismo oficial achou acrescentar ainda um grau na extremidade inferior da
escala, a ‘revolução popular nacional’, cujo caráter de classe é um mistério. A
esse esquema abstrato, fora da realidade, era oposta à verdadeira concepção
marxista: a luta revolucionária é um processo permanente que, uma vez iniciado,
ocorre sem parar todos os graus da escala (não detendo diante de operações
escolásticas traçadas de antemão no papel. Essa concepção, formulada
inicialmente por dedução teórica, foi confirmada pela experiência das
revoluções de 1905 e 1917 na Rússia, e posteriormente pelos acontecimentos
revolucionários da china (1925-28) e da Espanha. E, finalmente, em novembro de
1935, teve em nosso país a sua principal experimentação prática com o fracasso
político da ANL e do PCB.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
Na realidade,
quais as causas da derrota de novembro? De um lado, a importância em mobilizar
os trabalhadores exclusivamente com palavras de ordem democráticas vulgares. De
outro lado, a hostilidade, não só da burguesia, como até mesmo da maior parte
da pequena burguesia para com a ANL e seu golpe. Grandes e pequenos burgueses
não viram nem as palavras de ordem oportunistas, nem as tranquilizações, nem as
concessões que lhe faziam os aliancistas e prestistas. Eles só tinham olhos
para enxergar soldados, operários e militantes tidos e havidos como comunistas,
de armas na mão; só tinham ouvidos para ouvir os apelos insistentes às massas
exploradas que os insurretos, tangidos por uma contradição insuperável, eram
obrigados a lançar para obter o apoio dos trabalhadores”.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O documento concluía com uma caracterização histórica da configuração
política do Brasil contemporâneo, do maior interesse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“Só agora, depois que o proletariado brasileiro deu provas de capacidade
de luta independente (greves, movimento sindical) e de consciência política
(formação do PCB, manifestações de massa) é que apareceu afinal, pela primeira
vez, um partido de âmbito nacional. E, coincidência decisiva, este partido foi
o integralismo, um fascismo nacional, montado e pago pelos capitalistas para
esmagar o proletariado brasileiro e sua futura revolução. Por sua vez, em
contraposição ao atraso e covardia da burguesia nacional, o proletariado foi,
no Brasil, a primeira classe que se organizou nacionalmente e constituiu seu
partido político. E, coincidência decisiva, este partido foi o PC, seção
brasileira da III Internacional. Isto significa que, no Brasil, não existem
outras tradições políticas ‘esquerdistas’ ou democráticas além das que se
formam ou formaram no seio das massas, já sob influencia do comunismo, da
revolução russa e do anarquismo. Essa ausência de tradições propriamente
pequeno-burguesas é o que explica, em grande parte, o fato da ANL ter saído de
um conchavo entre dirigentes do PC e alguns militares e políticos
pequeno-burgueses, não ter tido outra vida senão a que lhe soprava o próprio
PC. A ANL nunca teve existência própria. Sua base era constituída sobretudo de
militantes de vanguarda, de simpatizantes do comunismo e entusiastas da URSS,
pequeno-burgueses e operários adiantados. Sua ação se fazia sentir
principalmente nas esferas já mais ou menos influenciadas pelo comunismo, os
seus sucessos foram alcançados sobretudo nos setores mais avançados das massas
trabalhadoras das cidades. Mas foram tão exagerados que os dirigentes
aliancistas chegaram a se convencer que já haviam conquistado as massas
profundas do proletariado e do campesinato de todo país. Aos olhos dos chefes,
esses êxitos foram interpretados como confirmação da justeza de sua política,
como a prova da falta de caráter de classe do movimento aliancista. Entretanto,
o que as massas aclamavam nos comícios aliancistas era, na realidade, a
bandeira do comunismo, e não a da ANL. A derrota de novembro destroçou a
vanguarda, atirando uma parte nas masmorras e ilhas getulistas e dispersando a
outra. É preciso reuni-la, mas desta vez sob nova bandeira. Chegou a hora de
reconstruir o instrumento indispensável à vitória e à emancipação das massas
trabalhadoras do Brasil. O novo reagrupamento de vanguarda não será uma
invenção de meia dúzia de descontentes, mas o resultado da experiência do
movimento operário no passado até o <i>putsch</i> aliancista de novembro. Visto
sob ângulo histórico, o atual PCB não terá sido o partido da revolução
vitoriosa – o partido bolchevique do Brasil -. Mas um precursor de um mesmo
modo que o movimento anarquista... O seu atual desvio para a direita é
definitivo, e ele não poderá voltar mais às suas antigas posições de classe. A
sua linha direitista de agora foi traçada não por ele mesmo, mas pelo próprio
Congresso da IC (1935), do qual se pode dizer que foi o Congresso de dissolução
da III Internacional como partido mundial da revolução proletária”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O POL realizou, à diferença dos outros partidos, e inclusive da
historiografia atual, uma análise do programa do levantamento da ANL como causa
do seu fracasso (e não somente da sua ‘inoportunidade militar’):</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“Em Recife,
alguns elementos de massa chegaram a participar do levante, aceitando as armas
que lhes eram oferecidas; não se mostraram, contudo, dispostos a uma luta a
fundo... Em Natal, cidade tipicamente pequeno-burguesa, apesar dos boletins do
Comitê Revolucionário pretenderem que as forças revolucionárias se manteriam na
maior fidelidade e respeito à propriedade e o lar, os ‘senhores comerciantes’
não quiseram saber de nada, e conservaram suas portas fechadas. Nas mãos dos
soldados e trabalhadores em armas, o esquema aliancista-pretista de revolução
popular nacional não conseguiu apagar as contradições de classe e não serviu
para abrir-lhes as portas da burguesia.”</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sob Nova Bandeira, o órgão do POL, fez também uma reavaliação do
integralismo:<br />
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“[na Europa] o
movimento fascista não poderia deixar de se operar com inteira autonomia dos
governos, não podia se colocar na dependência direta do aparelho de Estado sem
se condenar a um isolamento inevitável. Aqui se passa precisamente o oposto. O
Integralismo tem sido ultimamente apenas uma renovação do velho e arquiconhecido
cravo vermelho, que teve sua glória no quadriênio Bernardes. Sem as camisas, os
gestos e passeatas e discusseiras, esses auxiliares de segunda ordem da
polícia, esses delatores profissionais, capangas de poderosos e empreiteiros de
manifestações, já teriam sido há muito tempo identificados como simples agentes
pagos de políticos sem popularidade. As teses do POL estabelecem suas escassas
possibilidades de chegar ao poder pelas próprias forças.”</div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em novembro de 1937, foi instaurado o Estado novo: Mário pedrosa seguiu
então para a França, onde trabalharia com antigos conhecidos da sua viagem de
1928 para preparar o congresso de fundação da Quarta Internacional de setembro
de 1938, do qual participou (sob o codinome Lebrun) e no qual foi indicado para
integrar o Comitê Executivo (CEI) da nova organização internacional, como
representante da América Latina. Nesse mesmo ano, Pedrosa se deslocou para os
EUA, seguindo a transferência da sede do CEI, em decorrência da sede do CEI, em
decorrência da guerra (Alexandre, 1973: 76). Em 1937, além disso, teve início
no Brasil a campanha das eleições presidenciais (depois canceladas), a
repressão amainou um pouco: alguns prisioneiros foram soltos, e o PCB conseguiu
reorganizar-se. Sob a direção de Bangu (Lauro Reginaldo da Rocha), uma fração
do partido resolveu apoiar o candidato semi-oficial José Américo de Almeida,
mas encontrou resistência, sobretudo no Comitê Regional de São Paulo, favorável
ao lançamento da candidatura de Luis Carlos Prestes, que se encontrava preso
(cf. Karepovs, 1995).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O apoio direto do <i>Comitern</i> (por meio de conclamação de apoio
emitida nas transmissões da Rádio Moscou para o Brasil) permitiu a Bangu vencer
a fração opositora e, em seguida, excluí-la do partido. Esse grupo saiu do
partido com a maioria do Comitê estadual de São Paulo, a organização comunista
do Paraná e fragmentos do partido de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Pernambuco (cf. Chilcote, 1982: 87). Seu líder era o já mencionado Hermínio
Sacchetta, então um dos principais redatores de <i>A Classe Operária</i>, órgão
oficial do PCB, e dirigente do Comitê Estadual de São Paulo. O grupo de
Sacchetta, denominando-se Dissidência Pro-Reagrupamento da Vanguarda, negou-se
em principio, mas aproximou-se depois do trotskismo. Juntando-se ao POL, formou
com ele o Comitê Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária do Brasil
(Flúvio Abramo desaconselha o POL a realizar essa fusão, pois achava que o POL
seria “engolido” pelo superativismo de Sacchetta, a quem definia como “um
vulcão”). A fusão definida se daria em agosto 1939, por ocasião da Primeira
Conferencia de Militantes da Quarta Internacional, sendo então constituído o
Partido Socialista Revolucionário (PSR), ao qual enviara sua adesão, desde a
prisão, a poeta Pagú, e que também, no inicio da década de 1940, a adesão de um
jovem assistente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, núcleo-matriz da
Universidade de São Paulo, chamado Florestan Fernandes; tendo conhecido
Sacchetta, lhe atraiu “a maior complexidade do debate intelectual” existente no
interior do grupo trotskista. Florestan se afastaria do PSR no final da década
de 1940, não sem antes participar da Coligação democrática radical, “setor” de
atividade legal do PSR. Este afastamento provocaria uma crise de consciência em
Florestan, que tinha recebido a proposta de uma bolsa de estudos no exterior
(ele foi aconselhado, na ocasião, pelo seu amigo Antônio Cândido), crise à qual
ele referiu, ulteriormente e de modo indireto, ao caracterizar sua intensa
atividade intelectual como “autopunitiva”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Durante a crise, em 1939, no Socialist Worers’ Party (SWP), seção
norte-americana da IV Internacional, decorrente da política de “defesa
incondicional da URSS”, defendida por Trotski e a maioria do CEI (cf, Trotski,
s.d.), Mário pedrosa apoiaria a fração, encabeçada por Marx Schatchman, que
acabaria por abandonar o SWP e a IV Internacional. Na reorganização do
Secretariado Internacional, operada por Trotski no ano seguinte, Pedrosa foi
excluído (“Ele pouca ou nenhuma influência teve na formação da IV Internacional
no Brasil, que resultou na cisão no PCB, dirigida por Hermínio Sacchetta,
acompanhada pelo velho Alberto Moniz da Rocha Barros, que usava o pseudônimo de
Cintra”, nos disse Luiz Alberto Moniz Bandeira). Em 1940, Pedrosa fez uma turnê
pela América Latina, visitando entre outras cidades, Buenos Aires, angariando
adeptos para a fração internacional chamada de “antidefensista” (em Buenos
Aires, conquistou adesão de Pedro Milessi, operário e um dos pioneiros do
trotskismo argentino, mas foi “esnobado” por outro trotskista importante,
Liborio Justo, filho do presidente argentino (1932-28), Augustin P. Justo). Em
Lima, chegou a realizar uma reunião latino-americana da nova e efêmera corrente
política, na casa do dirigente do Aspra (Acción Popular Revolucionária
Americana) Victor Raúl de la Torre, que lhe facilitara a ocasião. Depois
Pedrosa também se afastaria de Schatchman e, influenciado pelas idéias do
social-democrata norte-americano Norman Thomas, retornaria ao Brasil em 1941,
disposto a criar um Partido Socialista “independente”. A empreitada culminaria,
junto a outros ex-militantes da LCI, já desligados do trotskismo, na fundação
do periódico <i>Vanguarda Socialista</i> em 1945 (cf. Loureiro, 1984).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O PSR, por sua vez, estreitou relações com a Quarta Internacional, a
partir de 1943 (foi reconhecido como “seção brasileira” pelo II Congresso
Mundial da Quarta Internacional, em 1948). Depois da queda de Vargas, na
“redemocratização”, o PSR criticou, nas páginas de <i>Vanguarda Socialista</i>,
a posição de Pedrosa, defendida por Arnaldo Pedroso d’Horta, no sentido de
apoiar a candidatura presidencial de Eduardo Gomes (o PSR defendia uma
candidatura de classe ou voto nulo, tal como tinha feito o Comitê São Paulo do
PCB em 1937: o grupo de Sacchetta foi o percussor de uma posição que seria um
dos centros do debate da esquerda diante da ditadura militar de 1964). Em outubro de 1946, o PSR começou a publicar
seu próprio jornal, <i>Orientação Socialista</i>, onde Sacchetta publicou uma
série de artigos (“Prestes e o problema agrário”) atacando a raiz da concepção
“etapista” do PCB. O PSR tinha por centro São Paulo, onde chegou a controlar o
Sindicato dos Jornalistas, e também no Sindicato dos Vidreiros, onde seu
militante Domingos Taveira exercia a presidência, possuía, ainda, bases no Rio
de Janeiro e no Paraná. José Stacchini, depois destacado jornalista de <i>O
Estado de S. Paulo</i>, também fez parte das suas fileira.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em 1946, o problema político central era a passagem do regime ditatorial
de Vargas para uma “democratização” que não provocasse um transbordamento
revolucionário para os interesses das classes dominantes. Os trotskistas
entenderam nesse momento a política de alianças com o capital, propostas pelo
PCB, como produto das influências stalinistas e das suas interpretações sobre a
realidade brasileira. O colaboracionismo classista rondava o projeto de
“revolução democrática” defendido pelo PCB. Segundo o Cavaleiro da Esperança,
“para transformar a possibilidade em uma realidade precisa-se de toda uma série
de condições, entre as quais a linha do partido e sua justa aplicação não
deixam de ser das menos importantes” (prestes, 1984: 201). E a linha justa
passava por certa observação do programa agrário no Brasil. A confiscação da
terra proposta pelo PCB não revela o caráter da transformação que se quer
operar na estrutura do campo brasileiro. De um lado, porque o campesinato
poderia intensificar o antagonismo contra o capital, inviabilizando a aliança
com a burguesia nacional-industrial (defendida pelo PCB). De outro, porque se ignorava
como se extraía a renda da terra, com a questão do semifeudalismo”. Para o PCB, a burguesia nacional-industrial
estava interessada na derrota dos representantes do semifeudalismo na formação
social brasileira. Os grandes proprietários de terra representam, segundo o
partido, uma forma de realização do imperialismo em países como o Brasil. O
pressuposto da confiscação das terras para os camponeses, defendido pelo PCB,
não esclarece se se busca instituir um preço de produção na agricultura, que
seja exatamente a diferença entre o preço individual de produção e o mais
elevado. No final dos duros anos de repressão da ditadura varguista, que
desorganizaram o movimento sindical e atingiram frontalmente as organizações de
esquerda, o PCB (desde 1943 com a Conferência da Mantiqueira) propõe a “unidade
nacional e a luta contra o fascismo” – unidade em torno de Vargas: “Não há,
pois, União Nacional, sem a continua e permanente movimentação da opinião
pública e das forças de todo o povo em torno dos problemas nacionais ligados à
guerra, da compreensão e solução desses problemas. Evidentemente, essa união há
de realizar-se em torno do governo do presidente Vargas” (apud Carone, 1981:
14).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Com essa lógica, a linha justa que se opõe às deflagrações de greves do
proletariado seria a que se afirmaria. O PCB arrolou a tese da participação
nacional como condição de combate ao fascismo. Na visão dos pecebistas, o
êxtase de um país em conciliação nacional devia ser vivido também pelo
proletariado, principalmente por ele saber que qualquer esforço social da sua
parte contribuía para a derrota do inimigo maior: o fascismo. Prestes chegou a
dizer que, vencido o nazi-fascismo, o imperialismo desapareceria e, finalmente,
o capital estrangeiro até poderia contribuir para com o desenvolvimento
nacional, caso fossem observados os acordos internacionais (principalmente a
Carta do Atlântico). Como será possível? Vencendo o “feudalismo”, desenvolvendo
uma burguesia nacional, varrendo da cena política a aristocrática feudal.
Ditada em momento de soma de esforços materiais e militares contra o fascismo,
a anistia dos presos políticos e conseqüentemente, dos comunistas, no final da
ditadura varguista, a “linha justa” conduziu o PCB a fortalecer a luta pela sua
legalidade e por algumas reformas burguesas. Já no “queremismo”, a burguesia
nacional e internacional (as investidas do embaixador norte-americano para a
queda de Getúlio Vargas), intranqüilizada pela aliança dos pecebistas com o
ditador, num momento de greves do proletariado, impõe resistência a esse
projeto do PCB. Este respira aliviado após o 29 de outubro. Mas o governo
Linhares lhe reserva algumas visitas em seu escritório. A elas o PCB se refere
como “fruto da esperança de alguns fascistas em importantes pontos do governo”.
A anistia, a legalidade conquistada, a expressiva votação na primeira eleição
pós-ditadura Vargas empolgam o PCB, fazendo-o mais resoluto ainda na defesa da
unidade nacional, mas a democracia burguesa logo esgota se ciclo com a coalizão
partidária PSD-UDN-PR. A cassação do registro do PCB em 1947, foi seu
resultado: esta questão foi denunciada na própria <i>Tribuna Popular</i> por
Pedro Motta Lima, em 10 de novembro de 1945.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A “política popular” do PCB não esclarecia o proletariado. Os trotskistas
nunca deram a “revolução democrática para o Brasil, país de capitalismo
retardatário com um proletariado atuante, que não podia ser visto como
semifeudal. O movimento operário não devei contentar-e com uma possível
revolução nacional, dado que as contradições do regime social de produção já
tinham alcançado níveis que não podiam retroagir. O PSR pretendia lutar contra
o imperialismo, porém não com medidas capitalistas. O capitalismo no Brasil
preservava modos distintos de acumulação, encontrando no Estado a possibilidade
de se evitar o antagonismo profundo entre eles. Mas a distinção não
obstaculizava o imbricamento desses modos de acumulação de capital. Na crítica
às “teses antiimperialistas” do PCB, <i>Orientação Socialista</i> evidenciava a
falta de concretização na realidade social do feudalismo brasileiro. Não seria
preciso um grande esforço intelectual para se distinguir latifúndio de
feudalismo. E nem cabia comparar o latifúndio no Brasil com o feudo na Europa.
A tese da feudalidade brasileira, defendida pelo PCB, era uma espécie de crença
que projetava a possibilidade de um capitalismo progressista no Brasil. A
análise do PSR sobre a industrialização capitalista no Brasil procurava
acentuar os possíveis elos entre aquela
e o capitalismo internacional. Esse entendimento passava anteriormente pela
identificação das formas de acumulação existentes na economia brasileira: quais
as reais relações entre a agricultura e a indústria<br />
? Assim, o PSR esforçou-se para compreender a produção no latifúndio a partir
da produção capitalista propriamente dita. O desenvolvimento desigual e
combinado da produção brasileira impunha a verificação das forças de acumulação
de caspital, suas especificidade. Não se podia pensar em torno de uma paridade
entre elas, senão o “desigual” seria improcedente. Escapando da dualidade de
“novo” e “atrasado” supunha-se uma síntese dessas diferenças sob a hegemonia do
capital financeiro. O capitalismo internacional impunha limites à produção,
mesmo em períodos favoráveis a uma maior capacidade de importar, como no caso
da conjuntura do pós-guerra: o ritmo do desenvolvimento da indústria de bens de
capital, lento, era determinado pelos interesses do imperialismo. Entretanto,
para os trotskistas, a revogação da “lei Malaia”, o problema de transferência
de tecnologia, principalmente em um país sem muitos recursos financeiros na
iniciativa privada, não condicionavam linearmente antagonismos radicais entre a
burguesia industrial nacional e o capital internacional.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para o PSR o capitalismo tardio estava sob o bordão da crise geral do
sistema social da produção burguesa, crise que se manifestava de várias formas:
o fascismo fora uma delas, não a ultima. Contrariando o PCB, <i>Orientação
Socialista</i> expunha a impossibilidade de democracia formal burguesa em um
capitalismo tardio, como o brasileiro. Não se tratava de uma questão
conjuntural, mas de uma crise institucional endêmica: a burguesia não conseguia
criar mecanismos mais ou menos duradouros para enfrentar o proletariado na
arena social e política, devido à estrutura do capitalismo no Brasil. Era
delírio do PCB crer em um jacobinismo retardatário. O legislativo no Brasil do
imediato pós-guerra não podia abrir espaços para acomodar as contradições entre
capital e trabalho. Ficava a impressão de que o executivo e Legislativo atuavam
quase que monoliticamente. A democracia decretada (por meio dos decretos-leis
de Dutra) era a ante-sala para a constituinte de 1946. As greves do
proletariado aterrorizavam o capital: a burguesia nacional exigia do governo
Dutra o fim do movimento paredista. Finalmente, em nome do capitalismo
progressista, o próprio PCB condena as greves do proletariado. O PCB adotava um
projeto de revolução para o Brasil baseado nas teses dimitrovistas do VII
Congresso Mundial da IC, realizado em 1935, a via das Frentes Populares. E por
fim, adota também inimigos, a luta contra “os inimigos da URSS”, os
trotskistas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A tática da frente Popular era mais consentânea com a concepção da
revolução democrática burguesa, já que devia contar com a burguesia nacional.
Segundo <i>Orientação Socialista</i> se, na Europa, a Frente Popular era um
engano tático, no Brasil era uma “dialética do absurdo”, haja vista a repressão
ao movimento operário desencadeada em 1946, prova inconteste da impossibilidade
histórica de uma aliança entre a burguesia nacional, pequena burguesia, o
proletariado e o campesinato. Com o colaboracionismo entre as classes sociais,
o PCB confundia o proletariado entregando-o desarmado ao capital. Assim a
burguesia nacional sentia-se mais á vontade para recusar qualquer política
social que viesse ao encontro dos interesses do proletariado. A política da
Frente Popular levava a uma perda do caráter do proletariado do PCB,
transformando-o em instrumento de descaracterização proletária no âmbito da
pequena burguesia. Distante da “unidade nacional”, o que se processava era a
intensificação do conflito entre capital e trabalho. Para das expressão a esse
conflito, o PSR propôs a frente única dos operários trabalhadores que
pressupunha um arco de alianças que não ultrapassava a constituição da própria
classe operária. Na conjuntura, não se via uma burguesia jacobina, mas sim
burgueses “liberais” conservadores. A defesa da frente Única dos trabalhadores
vem na esteira da concepção de organização política nos locais de trabalho: é bom
lembrar que várias greves desencadeadas em 1946 partiram de operários
organizados em comissões de fábricas. A frente única, para o PSR, não era porém
um substituto do partido revolucionário.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os êxitos eleitorais do PCB no imediato pós-guerra ocorreram diante de
uma burguesia mais ou menos desorientada, mais ou menos desorganizada. Depois,
a burguesia reconstituiu seu domínio, com recessão, destruindo uma parte da
economia. Dutra combatia a inflação com desemprego e com o fechamento de
algumas fábricas. <i>Orientação Socialista</i> propôs que essas fábricas fosse
reabertas (por exemplo, as de tecido) e que o proletariado tivesse uma jornada
de trabalho menor, recebendo o mesmo salário. Daí a defesa da escala móvel de
horas de trabalho e de salários. O proletariado não podia pagar pela crise do
capitalismo. Para esse momento, <i>Orientação Socialista</i> apresentou suas
reivindicações mínimas: Liberdade e autonomia sindicais, extinção da polícia
política e dos órgãos de repressão, direito de organização, reunião, manifestação
escrita e oral, reconhecimento legal dos comitês de fábrica, escala móvel de
salários e horas de trabalho, abolição do segredo comercial, expropriação dos
bancos comerciais (particulares), sistema de crédito em mãos do estado,
expropriação sem indenização dos monopólios e trustes estrangeiros,
expropriação das fortunas adquiridas em exercício de cargos públicos,
centraslização das aposentadorias e benefícios em único instituto (Previdência
Social) sob controle dos contribuintes, taxação com impostos diretos para os
ricos e abolição de impostos indiretos para o povo, imposto de renda crescente
aos ricos, abolição desse imposto para os assalariados, nacionalização da
terra, reforma completa da lei eleitoral, direito ao voto estendido aos
soldados, marinheiros e analfabetos. A lei eleitoral devia garantir
efetivamente registros de candidatos avulsos e de organizações proletárias
socialistas. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Fiz Pedro Roberto Ferreira (1991b):</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“O objetivo é traçar uma política que possa refletir os anseios do
movimento social e fazer avançar, em alguns aspectos, certos elementos
nitidamente revolucionários já manifestos neste ultimo. Os trotskistas não
conseguiram organizar um grande partido, mas deixaram uma grande contribuição
para o movimento operário. <i>Orientação Socialista</i> representou um momento
anti-ilusionista no movimento operário, denunciou a farsa das propostas do
capital, aparentemente tão sedutoras, a uma sociedade que almejava sua
redemocratização. O governo Dutra, de unidade e de pacificação nacional,
reprimiu, como de hábito, o proletariado, sobretudo quando ele se organizava
politicamente para sustentar suas reivindicações, seus direitos, etc. estava em
jogo a possibilidade de autonomia política dos operários e trabalhadores
brasileiros. O discurso de <i>Orientação Socialista</i> ensejou essa
possibilidade”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Segundo depoimento de Luiz Alberto Moniz bandeira:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“Em 1938, o trotskismo no Rio de Janeiro era representado pelo Partido
Operário Leninista (POL), do qual participava Edmundo Moniz, mas não integrou a
IV Internacional. A posição do POL com respeito ao estado Novo, de Vargas, era
divergente a posição do PSR, seção brasileira da IV Internacional. Enquanto o
PSR considerava fascista a ditadura de Vargas, o POL qualificava-a como
ditadura bonapartista, policial militar. Eu tenho ainda os documentos escritos
por Cintra (Alberto Luiz da Rocha Barros [pai]) e Edmundo Moniz no quais se
pode ver a divergência de conceitos. No Rio de Janeiro, os trotskistas, como
Edmundo Moniz. Ilkar Leite, Cursino Raposo e outros, acompanharam, na sua
maioria, a posição de Mario Pedrosa. Em 1945, eles formavam a União Socialista
Popular (USP), participando da Esquerda Democrática, que integrava a UDN, e
editoravam o jornal <i>Vanguarda Socialista</i>, cuja coleção eu possuía, assim
como <i>Orientação Socialista</i>, órgão do PSR, editado por Sacchetta. A <i>Vanguarda
Socialista</i> defendia a tese de que a URSS era um capitalismo de Estado e
passou depois a ser editado pelo Partido Socialista Brasileiro, fundado em
1947, com adesão de Mario Pedrosa e do seu grupo. Edmundo Moniz e outros
divergiam e não entraram no PSB. Em 1954 Mário Pedrosa apoiou a candidatura de
Juarez Távora, da UDN, e foi depois expulso do PSB por ‘desvios direita’. Se a
memória não me falha, ele participou até da Ação Democrática e do Movimento
pela Liberdade da Cultura, que Julian Gorkin (um ex-militante do POUM
espanhol), tentou estender ao Brasil, e que depois se soube serem iniciativas
da CIA. A IV Internacional, no Rio de Janeiro, estava então reduzida a não mais
que uns três ou quatro militantes (conheci dois deles). Os outros chamados
trotskistas que acompanhavam Mario Pedrosa, ou estavam no PSB oi, como Edmundo
Moniz e outros, não mais participavam de qualquer organização. Em uma vez que
Edmundo Moniz escrevia artigos no <i>Correio da Manhã</i>, de Paulo
Bittencourt, que era casado com sua prima e cunhada de Niomar Moniz Sodré,
também minha tia, Prestes atacava-o, chamando de o ‘canalha trotskista do <i>Correio
da Manhã</i>. Mario Pedrosa, creio que em 1956 ou 1957, foi expulso com
direitista do PSB, juntamente com Ilkar Leite e outros que haviam sido
trotskistas”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sacchetta, por sua vez, romperia com a IV Internacional, e o PSR se
dissolveria em 1952, “no bojo das divergências que dividem de forma
irremediável o movimento trotskista a nível internacional” (Lima, 1986). A
trajetória política de Sacchetta (que chegou a ser chefe da redação de <i>O
Estado de S. Paulo</i>) continuaria até a sua morte em 1982. Só dez anos depois
de seu falecimento, pela primeira vez, e reparando uma longa injustiça, seus
escritos políticos foram compilados em um volume, com diversos trabalhos
daquele que foi uma das figuras mais significativas da história da esquerda
brasileira, sem dúvida o principal dirigente trotskista brasileiro do período
(ainda mais depois que Mário Pedrosa rompeu com a IV Internacional em 1940),
fundador e dirigente de outros grupos de esquerda ativos na década de 1960 (a
LSI e, depois, o MCI), e importante jornalista ao longo de quase meio século. A
escolha dos textos incluídos no volume, embora muito representativa,
ressente-se da penumbra em que foi mantido o autor, não só pela academia, mas
inclusive papel própria esquerda. Não há, sem dúvida, como negar a importância
de seu principal texto de polemica no PCB *Sacchetta chegou a fazer parte do
boreau político), de 1937, no qual recusava a etiqueta de “trotskista”
(que assumiria no ano seguinte, na
prisão, vítima da perseguição do regime varguista), atribuindo os erros do
partido ao “banguzismo” (de Bangu, codinome do secretário geral do PCB), e não
ao stalinismo, que em 1937 Sacchetta ainda defendia. Em nada esclarece a
polêmica a apresentação do texto que fez Heitor Ferreira Lima (posteriormente
assessor da Fiesp), um “histórico” do PCB o qual diz, a respeito dos fatos que
levaram o banimento do Comitê de São Paulo do PCB, que (Sacchetta) foi o
responsável pelos acontecimentos então
ocorridos que creio nunca tê-lo compreendido”. Ferreira Lima, não menciona que sacchetta foi o único
membro do Comitê Executivo de São Paulo,
rompido com o partido stalinista (depois de um período que tentou disputar com
a fração stalinista a representação da Internacional Comunista, que lhe foi
negada pela própria Rádio Moscou) a aderir ao trotskismo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Também é mito importante o artigo “Jorge Amado e o porões da decência”,
no qual Sacchetta se defendeu das calúnias do escritor baiano na sua obra <i>Os
subterrâneos da liberdade</i>, em que aparece como personagem “traidor, cínico,
corrupto e... trotskista”. Amado, na época (anos 1940) se identificava com
Stalin/Zdanov e seu “realismo socialista”. Sacchetta o gratificou com o
qualificativo de “analfabeto semiletrado”. O melhor do livro é, sem dúvida, o
artigo “Trotskismo”, texto de uma conferencia de 1946, em que são expostas com
raro brilho as bases do pensamento político do líder da Revolução de Outubro,
sua filiação marxista, sua coincidência objetiva e subjetiva com Lênin, e sua
aptidão pra compreender e transformar o mundo contemporâneo: só esse texto já
situa Sacchetta num plano teórico superior, no nosso entender, ao de Mario
Pedrosa (que deve seu prestígio mais às suas qualidades de crítico de arte do
que à sua atuação política). Inclui-se também um texto inconcluso que dá seu
título ao volume (<i>O caldeirão das bruxas</i>), tentativa de romancear a
ruptura de sacchetta com o PCB, que demonstra no máximo que sacchetta carecia
de virtudes de romancista, assim com depoimentos acerca de Sacchetta de figuras
intelectuais e políticas (como o já citado Heitor Ferreira Lima, Florestan
Fernandes, Michael Lowy, Cláudio Abramo, Jacob Gorender – este, de longe, o
mais interessante – e Mauricio Tratenberg). Nada haveria a objetar à inclusão
desses textos e não fosse notável a exclusão de qualquer texto de Sacchetta
entre 1938-1952, ou seja, quando era dirigente brasileiro da IV Internacional
(à exceção do já citado “Trotskismo”). Não são incluídos, portanto, textos
essenciais para a compreensão da sua trajetória política, como os publicados em
<i>Orientação Socialista </i>(em especial a já mencionada série de artigos
“Prestes e o problema agrário”, critica às posições do PCB sobre a questão
agrária), órgão do PSR na década de 1940; ou as discussões contra Mario Pedrosa
e Arnaldo pedroso d’Horta publicados em Vanguarda Socialista na mesma época, em
defesa da independência de classe e contra o voto em Eduardo Gomes, o candidato
“progressista” na redemocratização”, defendido pelos ex-trotskistas,
transformados em “socialistas” <i>tout court.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por que Sacchetta rompeu com a IV Internacional e dissolveu o PSR?
Michael Lowy, evocando sua relação pessoal, refere-se à ausência de
manifestação de Sacchetta sobre o assunto. Alberto Luiz Rocha de Barros, filho
do seu companheiro da década de 1930 (advogado trabalhista Albeto da Rocha
Barros) e se próprio camarada de militância na década de 1950 e 1960,
confiou-nos a desilusão de sacchetta com as resoluções do III congresso Mundial
da IV Internacional, em 1951, quando adotou-se a linha “pablista” de apoio
crítico à burocracia soviética e de “entrismo <i>sui generes</i>” nos partidos
comunistas. É provável que Saccheta tenha visto nessa linha não um revisionismo
total do trotskismo e do próprio marxismo, mas uma manifestação inesperada do
trotskismo. Só Jacob Gorender se refere a um texto de Sacchetta (não incluído
no volume), o “Relatório sobre questões da política organizatória no domínio
socialista”, escrito “provavelmente naquela época (em que ) salienta-se a
análise do fracasso do trotskismo”. Desiludido Sacchetta passaria para o
“luxemburguismo” (ideologia que presidia a PSI, Liga Socialista Independente, e
o MCI, Movimento Comunista internacionalista, organizado por Sacchetta na
década de 1960. Em qualquer hipótese, esse “luxemburguismo” era politicamente
diferenciado do “trotskismo” pablista defendido pelo grupo brasileiro do Birô
Latino-Americano da IV Internacional, liderado pó J. Posadas (codinome do
argentino Homero Cristalli), o POR, Partido Operário Revolucionário. A LSI
defendeu intransigentemente a independência de classe contra os restos do
“varguismo” e contra a orientação do PCB, enquanto o POR chamava o PCB a fazer
revolução, tendo chegado a apoiar (chamou a votar) Jânio Quadros “pelo se
programa nacionalista” (esmiuçado por Sacchetta no artigo “Nem Lott, nem Jânio,
por uma política de classe”).</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Quais eram as limitações da LSI (que nunca ultrapassou algumas dezenas de
militantes) e, depois, do MCI? Os textos do volume correspondente aos anos 1960
permitem apreciá-las. Do ponto de vista dos princípios gerais, havia a defesa
da independência de classe, a critica da revolução por etapas e do apoio à
“burguesia progressista”. A lua contra o imperialismo (e contra a ditadura
militar) era uma luta anticapitalista, que só poderá ser vitoriosa com a
instauração de um governo operário e camponês. O problema é a tradução desses
princípios numa política correspondente, o que demonstra que não bastavam
formulações gerais. A proposta política central era a da “frente única
proletária”, dirigida às “organizações marxistas” e aos “socialistas de
diversas doutrinas”. A tática da “frente única proletária” tinha sido lançada
pela Internacional comunista para os países de capitalismo desenvolvido. Para
os países de capitalismo atrasado, coloniais ou semi coloniais, oprimidos pelo
imperialismo, a tática da “frente única antiimperialista” era a que, levando em
conta as relações políticas objetivas entre as classes, permitia lutar pela
direção proletária da luta democrática e antiimperialista, ou seja, pela chefia
operária da nação oprimida. As organizações socialistas e “marxistas” que
surgiram nos anos 1960 eram menos a expressão da radicalização proletária (que
expressavam de modo muito deformado) do que a expressão da paulatina
decomposição do PCB, e secundariamente os remanescentes das fracassadas
tentativas de se organizar um partido social-democrata. A ruptura com o
stalinismo foi, em geral, totalmente empírica, como o demonstra que boa parte
delas enveredasse pelo foquismo, fazendo da luta armada, elevada ao nível da
estratégia, p eixo de diferenciação com o PCB (o qual, diante da sua crise,
chegou a flertar com o foquismo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Sacchetta, como marxista, tinha elementos de sobra para criticar o
terrorismo isolado da evolução das massas (e o fez), mas seus posicionamentos
por vezes não deixavam de refletir a pressão exercida pelo foquismo, a procura
de um “terreno comum” com as organizações guerrilheiras: “preparemo-nos para a
luta armada, desde já, mas num processo dialético que encare a realidade como
ela se apresenta”. A “frente única proletária”, portanto apenas poderia ter
expressão como frente de “viúvas” do PCB (e, secundariamente, do socialismo
reformista) e não como frente dos trabalhadores avançados que, rompendo com o
nacionalismo e o stalinismo, enfrentavam o impasse da “democracia populista” e,
logo, a repressão antioperária da ditadura militar. Somente a luta por um
partido operário independente poderia ter dado expressão política àquela
tendência, que explodiu a céu aberto com o processo grevista do ABC em
1979-1980. A “frente única”, por outro lado, era colocada (antes do golpe de
abril de 1964) na perspectiva política de “ampliação, em seus limites máximos,
das atuais instituições democráticas”. Já sobe o governo militar, a “frente
única” seria posta sob um programa de “objetivos imediatos” (táticos) acrescido
de outro de “objetivos estratégicos” (Sacchetta, 1992: 106-33 e 133-40): isto significava
colocar a “frente única” como ala extrema esquerda da democracia burguesa, não
como agente da organização independente do proletariado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para o trotskismo, os “objetivos táticos” não sem esgotam em si mesmos:
na medida em que as reivindicações imediatas são colocadas tal qual alavanca da
constituição do proletariado como classe independente, elas se transformam em
reivindicações de transição. Estas palavras de ordem permitem que a luta pelas
reivindicações vitais se transforme numa preparação para a luta pelos objetivos
estratégicos (isto é, pelo poder operário) num processo <i>permanente</i>, ou
seja, não separado por duas etapas históricas diferenciadas. O grande ausente,
no pensamento político se Sacchetta, era o <i>programa de transição</i>,
justamente um dos últimos grande documentos políticos de Trotski, com o qual
armou a vanguarda revolucionária nucleada na IV Internacional. No último
documento do volume, um dos últimos da vida de Sacchetta, produzido em meio à
crise da ditadura militar e da emergência operária (1979), esta concepção era
reafirmada com relação à reivindicação de Assembléia Constituinte:<br />
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt 108pt; text-align: justify;">
“Cabe às forças
populares organizadas, com o proletariado à frente, conquistar os segmentos da
população menos consciente de suas prerrogativas políticas para a obra de
inserção na futura lei básica, vale na Constituição, dos direitos fundamentais
dos trabalhadores, em especial no âmbito político. E aos trabalhadores cabe
fazer cumpri-los, por pressão contínua, com todos os recursos que dispõe... Por
esse caminho, o povo deverá participar, por meio de seus representantes, da
promulgação das leis e, por conseqüência, da condução dos negócios públicos”.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Eis a Constituinte como alicerce de um regime democratizante, e não como
palavra de ordem de transição, na luta pela qual os órgãos do poder operário
poderiam e deveriam surgir. Dessa maneira, Sacchetta expressou até suas última
conseqüências as contradições que puseram em tensão toda a trajetória
intelectual e política, as quais ilustram concentradamente as dificuldades para
construir a seção brasileira da IV Internacional ao longo de quatro décadas.
Sacchetta, portanto, não foi apenas um dos principais jornalistas deste século.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Luiz Alberto Moniz Bandeira, em depoimento, assim nos descreveu a
situação criada e desenvolvida depois da dissolução do PSR:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“A IV Internacional, fundada em 1938, praticamente desapareceu quando,
por volta de 1952, Sacchetta rompeu com Pablo, sendo um dos motivos da
divergência a política do ‘entrismo’ e evoluiu para a tese de que a URSS era um
capitalismo de Estado. Aliás, ele passou a ver o bolchevismo – e a
responsabilizá-lo – as origens do stalinismo. Por volta de 1953/1954, havendo a
IV Internacional praticamente desaparecido no Brasil, o BLA (Boureau
Latino-Americano) mandou gente tratar de reorganizá-la, o que foi feito com
José Maria Crispin, que promovera uma dissidência no PCB, do qual fora expulso,
creio que em 1951-1952. Aí foi organizado o POR e em começo de 1955 estava no
Brasil <i>Manuel</i> (esse era seu codinome e creio que ele era argentino),
como representante do BLA. No inicio de 1956 foram presos no Rio, Leôncio
Martins Rodrigues, Marimbondo (esqueço o primeiro nome), José barroso e Leon
(um operário, remanescente do PSR, de Sacchetta). O fato foi noticiado por <i>O
Globo</i>. Nessa época, Manuel procurou Edmundo Moniz, em cujo apartamento eu
morava, eu vim com ele para São Paulo, onde então me reuni com Crispim, os
irmãos fausto (Boris, Rui e um outro). Mas nem eu nem Sacchetta nem Alberto
Luiz [da Rocha Barros] aceitamos a conceituação da URSS como Estado operário
degenerado, nem as posições que considerávamos muito sectárias dessa pessoa. E
por isso decidimos criar a Liga Socialista Independente (eu escrevi o programa
e Alberto Luiz os estatutos). Lembro-me de Ottaviano De Fiore, que era também
trotskista e militava na faculdade de Filosofia, na Maria Antônia. Mas algum
tempo de pois, em fins fé 1956, encontrei Eric Sachs , um austríaco, que dizia
haver sido discípulo de [Heinrich] Brandler [ex-dirigente do PC alemão], e
resolver tomar uma iniciativa mais ampla e abrangente, organizando a Juventude
Socialista, no Rio de Janeiro e na Bahia, onde em 1954 (eu tinha dezoito anos e
ainda morava entre Rio e Salvador) organizava com mais três colegas uma Liga
Socialista Revolucionária. Em 1957, veio para o Brasil, como representando do
BLA, um uruguaio, Estrada (parece que o nome real dele era Labat) e o POR
absorveu militantes da UJC (um deles, Boris, que hoje é médico nos EUA), que
fora dissolvida, em função da dissidência de Agildo Barata, após o 20<sup>o</sup>
Congresso do PCUS. Na juventude Socialista, editamos o jornal <i>Esquerda
Socialista</i>. Fizemos muitas reuniões conjuntas com o pessoal do Agildo, Liga
socialista Independente, POR, ai em São Paulo. Nessas reuniões estavam Almino
Afonso, Paul Singer e muitos outros. Quando vinha ao Rio, Crispim ficava
hospedado no meu apartamento, apesar de que eu não fosse da IV Internacional. A
revista <i>Novos Tempo</i>s, editada por Oswaldo Peralva e o grupo de Agildo
Barata, no Rio de Janeiro, abriu suas páginas para nós e ai eu publiquei
artigos, um dos quais sobre Trotski, respondendo a um stalinista, Calvino, que
detinha a propriedade do título e o tomou”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
De fato, o Brasil foi um dos principais terrenos de ação do BLA (Birò
Latino-Americano da IV Internacional), dirigido por Posadas, que depois
conformaria “sua” Internacional, a IV Internacional posadista, cuja seção mais
importante, a da Argentina, teve bastante força entre meados das décadas 1950 e
1960. No Brasil, o POR (Partido Operário Revolucionário) incorporava em 1956
uma fração dissidente do PCB, encabeçada pelo deputado José Maria Crispim. O
POR teve influência nas lutas metalúrgicas de São Paulo e participou da
organização dos sindicatos agrários do Nordeste, onde foi um de seus
militantes, “Jeremias” (codinome de Paulo Roberto Pinto) foi assassinado pelos
jagunços dos latifundiários em 1963, quando organizava os trabalhadores
agrários de Também (no estado de Pernambuco). Durante as décadas de 1950 e 1960.
O POR também publicou com bastante regularidade seu jornal <i>Frente Operária</i>,
este legalmente sob a direção do depois conhecido sociólogo Leôncio Martins
Rodrigues. As suas elaborações teórico-políticas, que passavam obrigatoriamente
pelo filtro autoritário, e depois delirante, do endeusado “líder mundial” J. Posadas,
apresentam muito menos interesse do que as realizadas previamente pela LCI, POL
e o PSR.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Já sob a ditadura militar, o POR sofreria o assassinato do metalúrgico
Olavo Hansen, em 1970. Durante a “democracia populista” quando o POR fora a
única expressão do trotskismo organizado no Brasil, a sua linha foi de apoio
aos setores nacionalistas, chegando a apoiar, como vimos, Jânio Quadros em
1953, “pelo seu programa antiimprialista”. As elaborações dos “posadistas”
sofriam então influência do principal dirigente do Secretariado Internacional
da IV Internacional, Michel Pablo, caracterizadas como “objetivistas” por
desprezar o peso dos obstáculos subjetivos para a revolução. O POR afirmava, em
1959, no seu jornal <i>Frente Operária</i>, que “já se pode descartar como
praticamente impossível uma inversão da situação, uma derrota efetiva as massas
e o restabelecimento da normalidade capitalista”, ou, em 1960, que “a burguesia
não tem força para submeter o movimento dos sargentos...”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Se o POR foi a escola para militantes que teriam destaque em décadas
posteriores, não teve o monopólio da matéria na década de 1960. Em suas
lembranças, Luiz Alberto Bandeira pondera:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
“Ai fundamos a revista <i>Movimento Socialista</i>, da qual saíram dois
números. E em janeiro de 1961, no Congresso de Jundiaí, reuniram-se os
militantes da Juventude Socialista, Mocidade Trabalhista, juventude do PTB
(Teotônio dos Santos, Ruy Mauro Marine) de Minas Gerais, da Liga Socialista
Independente e do POR. Nesse Congresso foi que se criou a Polop – Política
Operária -, mas o POR decidiu não integrar a organização, assim como Sacchetta
e mais uns dois ou três militantes da Liga Socialista Independente, que foi
dissolvida. Os irmãos Sader (Emir e Eder) e Michael Lowy eram muito jovens e
haviam entrado na LSI muito tempo depois de sua fundação. E aí lançamos a
revista <i>Política Operária</i>, da qual fui diretor e que depois se
transformou em jornal semanário, nos primeiros meses de 1964. Nessa época,
houve a cisão na IV Internacional, com Posadas a dominar o BLA. Crispim foi
expulso do POR, porque aderira ao nacionalismo de Agildo Barata (tenho muitas
histórias engraçadas desse período). E, curiosamente, apesar de todo o
sectarismo posadista, o POR cresceu no Brasil. Foram militantes Tullo Vigevani,
Maria Hermínia Tavares de Almeida, entre outros.”</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 108.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Com o golpe de 1964 e a repressão militar, o POR foi perdendo expressão.
Durante a ditadura foi mais notável a atuação do POC (Partido Operário
Comunista). O POC surgiu em 1968, a partir do que restou de uma cisão da Polop,
resto que se fundiu com a dissidência do PCB, no Rio Grande do Sul. As outras
organizações que emergiram do racha da Polop foram a VPR, Var Palmares e
Colina. Outros militantes entraram na ANL, de Marighella. Estas organizações
também sofreriam desagregação até dar lugar, no período de abertura política, a
novas organizações, constituídas com base nas correntes trotskistas
internacionais: a Convergência Socialista (Fundada no Chile, em 1973, como
“Ponto de Partida”), a OSI (Organização Socialista Internacionalista, fundada
em 1975 sobre a base da fusão de grupos preexistentes e que se tornaria
conhecida pela sua tendência estudantil a “Libelú”, e seu jornal <i>O Trabalho</i>),
a democracia Socialista, que recolheu os restos do POC e da Polop, e outros
grupos “foquistas”. Mas isto pertence a outra etapa política, e até histórica,
do Brasil.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Durante mais de três década o trotskismo brasileiro envidou esforços para
a construção de organizações revolucionárias, inclusive durante períodos
políticos muito difíceis e repressivos. Os resultados obtidos atingiram alguma
importância, mas sempre efêmera e, como corrente política, o trotskismo
brasileiro se caracterizou pela descontinuidade, além das já conhecidas
divisões, as mais das vezes refletindo debates internacionais (que provocavam
divisões e cisões também dessa escala). O trotskismo, por outro lado, foi uma
referência mais que notável para a intelectualidade revolucionária, a ponto de
vários dos mais destacados intelectuais de esquerda dessas quatro décadas (1930
até 1960), como Mario Pedrosa, Hermínio Sacchetta, Pagú, Lívio Xavier, Rodolfo
Coutinho, Florestan Fernandes, Moniz Bandeira, Edmundo Moniz e outros também
mencionados acima, terem no trotskismo e na IV Internacional u quadro
fundamental das suas experiências e elaborações teórico-politicas. Mas estas
mal e mal conseguiram se estabelecer com “tradição teórica”, provavelmente
devido à própria descontinuidade político-organizativa do quadro partidário que
lhe servia de referência estratégica. O resgate dessa tradição, que com certeza
inclui boa parte do que melhor produziu o pensamento marxista brasileiro,
implica porém, para ser completa e crítica, a reconstrução da trajetória
política que lhe forneceu o seu leito histórico.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
NOTAS</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-25584593721438115832019-10-18T06:02:00.001-07:002019-10-18T06:02:08.504-07:00O Outubro Alemão: A revolução perdida de 1923<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Peter Schwarz<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1923, uma situação revolucionária extremamente
favorável desenvolveu-se na Alemanha. Em 21 de dezembro, o Partido Comunista
Alemão (KPD), em estreita colaboração com a Internacional Comunista (Comintern
ou, ainda, III Internacional), preparou uma insurreição e cancelou-a no último
minuto. Trotsky, depois, falou de "um clássico exemplo de como é possível
perder uma situação revolucionária excepcional de importância histórica e
mundial". [1]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A derrota alemã de 1923 teve conseqüências de longo
alcance. Graças a ela, a burguesia alemã consolidou seu domínio e estabilizou a
situação por seis anos. Quando a próxima grande crise irrompeu, em 1929, a
classe trabalhadora foi totalmente desorientada pela direção stalinista do KPD.
Isso levou diretamente aos eventos fatais que culminaram na ascensão de Hitler
ao poder. A nível mundial, a derrota do Outubro Alemão aprofundou o isolamento
da União Soviética e constituiu, portanto, um importante fator psicológico e
material que fortaleceu a ascensão da burocracia stalinista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A palestra de hoje irá se concentrar nas lições
estratégicas e táticas do Outubro Alemão, lições que se transformaram
rapidamente em um assunto polêmico de disputa entre a Oposição de Esquerda e a
Troika liderada por Stalin, Zinoviev e Kamenev. Antes de tratarmos desses
assuntos, faz-se necessário relatar os eventos de 1923.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Alemanha em 1923<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Todas as questões básicas que empurraram o
imperialismo à Primeira Guerra Mundial em 1914 — acesso a mercados e
matéria-prima para sua indústria dinâmica e a reorganização da Europa sob sua
hegemonia — continuaram sem solução em 1923. Além de terem perdido a guerra com
um tremendo custo de vidas humanas e recursos materiais, a Alemanha foi
obrigada pelo acordo de Versalhes a pagar quantias imensas em reparação ao seu
maior rival, a França, assim como a outras potências imperialistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os anos imediatamente após a Guerra, de 1918 a
1921, caracterizaram-se por uma série de levantes revolucionários que somente
foram abafados pelos esforços conjuntos da Social-Democracia e das forças
paramilitares de direita. Em 11 de janeiro de 1923, as tropas francesas e
belgas ocuparam o Ruhr e reascenderam a crise social e política na Alemanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo francês justificou a ocupação militar do
centro da indústria alemã de aço e carvão declarando que a Alemanha não havia
cumprido com suas obrigações de pagar as reparações de guerra. O governo alemão
— um regime de extrema direita liderado pelo industrialista Wilhelm Cuno e
tolerado pelo Partido Social-Democrata — reagiu chamando resistência pacífica.
Na prática, isso significou o boicote das forças de ocupação pelas as
autoridades locais e as companhias do Ruhr. O governo continuou a pagar os
salários da administração local e ofereceu subsídios aos barões do carvão e do
aço para compensar suas perdas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O resultado desses enormes gastos e da ausência de
carvão e aço do Ruhr, produtos de extrema necessidade, foi o colapso completo
da moeda alemã. O marco, já altamente inflado, era negociado a 21.000 por dólar
no início do ano. Ao final do ano, quando a inflação alcançou seu ápice, a taxa
de câmbio chegou a quase 6 trilhões de marcos por dólar — um número com 12
casas decimais!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O impacto social e político da hiperinflação foi
explosivo. A sociedade alemã foi polarizada de forma jamais vista. Para os
trabalhadores, a inflação era uma ameaça à vida. Quando recebiam seus salários
ao final da semana, estes mal cobriam o valor do papel sobre o qual as enormes
somas eram impressas. As esposas aguardavam nos portões das fábricas para
correrem ao mercado mais próximo e comprarem algo antes que o dinheiro perdesse
seu valor no dia seguinte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Só para dar um exemplo: um ovo custava 300 marcos
no dia 3 de fevereiro. Em 5 de agosto, custava 12.000 marcos e, três dias
depois, 30.000 marcos. Mesmo sendo os salários ajustados com a inflação, o
salário médio calculado em dólares caía 50% ao longo de 6 meses. Ao mesmo
tempo, o número de desempregados inflava — de menos que 100.000 ao início do
ano a 3,5 milhões de desempregados e 2,3 milhões de trabalhadores em empregos a
curto-prazo ao final do ano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas os trabalhadores não eram os únicos arruinados
pela hiperinflação. Aqueles que viviam em pensões perderam todos os seus meios
de subsistência. Aqueles que haviam economizado um pouco de dinheiro perdiam
tudo da noite para o dia. Para sobreviver, muitos tinham que vender suas casas,
jóias e tudo mais que houvessem guardado durante toda a vida, apenas para
descobrirem, no dia seguinte, que o rendimento não valia mais nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Arthur Rosenberg, que escreveu a primeira história
oficial da república de Weimar, em 1928, afirmou: "A expropriação sistemática
das classes médias alemãs, não por um governo socialista, mas por um Estado
burguês dedicado à defesa da propriedade privada, foi um dos maiores roubos da
história mundial". [2]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Do outro lado do abismo social estava um grupo de
especuladores, aproveitadores e industrialistas que fizeram enorme fortuna com
a inflação. Qualquer um que obtivesse acesso a moedas estrangeiras ou a ouro
poderia exportar mercadorias alemãs ao exterior e colher lucros enormes, devido
aos baixos salários. Essas eram as forças por detrás do governo Cuno. O mais
famoso deles foi Hugo Stinnes, que comprou 1.300 fábricas e fez bilhões nesse
período. Stinnes também foi, nos bastidores, um grande articulador político.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A polarização social e a falência das classes
médias fez surgir uma aguda polarização política.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Partido Social-Democrata Alemão (SPD) perdeu
rapidamente tanto membros quanto eleitores e desintegrou-se. Desde a derrubada
do Kaiser pela Revolução de Novembro de 1918, ele havia se aliado ao alto
comando militar e às forças paramilitares de direita, as Freikorps, para
reprimir a revolução proletária e assassinar seus líderes mais destacados —
Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O SPD era o único partido na Alemanha que defendia
a república de Weimer incondicionalmente. Todos os outros partidos burgueses
preferiram uma forma mais autoritária de dominação. Friedrich Ebert, líder do
SPD, foi o primeiro presidente da República de Weimer. Ele ocupou o gabinete
presidencial até sua morte, em 1925, isto é, durante todo o período do qual
tratamos nesta palestra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O papel contra-revolucionário do SPD afastou muitos
trabalhadores e levou-os ao Partido Comunista Alemão, o KPD. Mas, no início de
1923, os sindicatos e camadas de trabalhadores mais conservadoras ainda
apoiavam o SPD. Com o impacto da inflação, isso mudou rapidamente.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O historiador Rosenberg, membro dirigente do KPD em
1923 (mais tarde Rosenberg juntou-se ao SPD), escreve: "Durante o ano de
1923, o SPD perdeu forças de forma constante... Os sindicatos, em especial, que
sempre haviam sido o principal pilar de influência do SPD, estavam em total
desintegração... Milhões de trabalhadores alemães não queriam mais ouvir ou
falar das velhas táticas sindicais e abanaram as associações... A desintegração
dos sindicatos era sinônimo da paralisia do SPD". [3]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Enquanto o SPD se desintegrava, trabalhadores
social-democratas ouviam atentamente o que os comunistas tinham para dizer.
Dentro do SPD desenvolveu-se uma ala esquerda pronta para colaborar com o KPD.
Como veremos, governos de coalizão da esquerda do SPD e KPD foram formados na
Saxônia e Turíngia por um breve período de outubro. Enquanto o número de
filiados do SPD diminuía, a influência do KPD crescia. Seus filiados cresceram
de 225 mil para 295 mil dentro de um ano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não houve eleições nacionais entre 1920 e 1924,
portanto não há estimativas confiáveis do apoio eleitoral do KPD. Mas, uma
eleição ocorrida no pequeno estado rural de Mecklenburg-Strelitz nos dá uma
idéia. Em 1920, o SPD recebeu 23.000 votos e o SPD-Independente (USPD, que mais
tarde juntou-se ao KPD), 2.000. O KPD não participou. Em 1923, ambos, o SPD e o
KPD, receberam aproximadamente 11.000 votos. No Saar, uma região mineira antes
dominada pelo catolicismo, o KPD aumentou sua votação entre 1922 e 1924 de 14.000
a 39.000.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Dentro dos sindicatos, a influência comunista
crescia proporcionalmente à custa do SPD. Quando os delegados do congresso da
União dos Trabalhadores Metalúrgicos da Alemanha foram eleitos em Berlim, o KPD
teve muito mais votos do que o SPD. Receberam 54.000 votos, enquanto que o SPD
obteve 22.000 — menos que a metade do KPD. De acordo com um líder do KPD, em
junho o partido tinha 500 seções nos principais sindicatos. Aproximadamente,
720.000 metalúrgicos apoiavam os comunistas. O historiador da Alemanha
ocidental, Hermann Weber, comenta em seu livro sobre a história do KPD: "O
ano de 1923 mostrou uma crescente influência do KPD, que tinha provavelmente a
maioria dos trabalhadores socialistas por detrás". [4]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O KPD antes de 1923<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1923 o KPD era tudo, exceto um partido
unificado. Tinha apenas quatro anos de idade, mas já havia passado por eventos
tumultuosos, diversas mudanças na direção, rachas e fusões e estava afetado por
intensas divisões internas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Seu líder teórico e político mais brilhante foi,
sem sombra de dúvida, Rosa Luxemburgo, que fora assassinada apenas duas semanas
antes da fundação do partido — uma perda irreparável. Luxemburgo era uma
revolucionária de enorme coragem e integridade. Seus escritos sobre o
revisionismo e sua luta contra o giro à direita da Social-Democracia — que
vislumbrou antes e mais precisamente do que Lênin — são parte do que já foi
escrito de melhor na literatura marxista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas, assim como Trotsky — e por mais tempo que ele
— Luxemburgo não tirou as mesmas conclusões organizativas que Lênin tirou,
corretamente, do revisionismo. Mesmo depois de 4 de Agosto de 1914, quando
formou o Gruppe Internationale, mais tarde chamado de Spartakusbund [Liga
Espártaco], Luxemburgo não rompeu formalmente com o SPD. Seu slogan era:
"Não abandone o partido, mude o rumo do partido".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1915, os espartaquistas rejeitaram o chamado de
Lênin por uma nova internacional na Conferência de Zimmerwald e, mais tarde, em
Março de 1919, o delegado do KPD para o primeiro congresso da Terceira
Internacional, Hugo Eberlein, absteve-se na votação para a fundação de uma nova
internacional. Ele fora instruído pelo KPD a votar contra, mas foi persuadido
em Moscou de que a decisão era correta — então absteve-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quando o SPD-Independente (USPD) foi formado em
1917, por membros do SPD pertencentes ao Reichstag [Parlamento Alemão] que
foram expulsos do SPD por se recusarem a votar por novos créditos para a
guerra, Luxemburgo e a Liga Espártaco uniram-se a essa organização centrista
com uma facção. Fizeram isso apesar do fato de que entre os lideres mais
proeminentes do USPD estavam Karl Kautsky e Eduard Bernstein, líder teórico do
revisionismo alemão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Luxemburgo justifica isso em um artigo declarando
que a Liga Espártaco não se uniu ao USPD para dissolver-se em uma oposição
enfraquecida. "Ela se uniu ao novo partido — confiante no agravamento cada
vez maior da situação social e trabalhando por isso — para impulsionar o
partido adiante, para ser sua consciência encorajadora... e para tomar a liderança
do partido", escreveu ela. [5]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Luxemburgo atacou severamente a Esquerda de Bremen
— liderada por Karl Radek e Paul Frölich, posteriormente biógrafo de Luxemburgo
— que se recusou a entrar para a USPD e a descreveu como uma perda de tempo.
Ela denunciou sua defesa de um partido independente como um Kleinküchensystem
["sistema de pequenas cozinhas", no sentido da fragmentação] e
escreveu: "É uma pena que esse sistema de pequenas cozinhas esqueceu-se do
principal, as condições objetivas, que, em última análise, são decisivas e
serão decisivas para a ação das massas... Não é suficiente que um punhado de
pessoas tenha a melhor receita em seus bolsos e saibam como conduzir as massas.
O pensamento das massas deve ser libertado das tradições dos últimos 50 anos.
Isso só é possível com um grande processo de continua auto-crítica interna do
movimento como um todo". [6]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Foi somente em Dezembro de 1918, um mês depois que
três líderes do USPD uniram-se a um governo provisório, liderado pelos lideres
de direita do SPD Friedrich Ebert e Philipp Scheidemann, que os espartaquistas
romperam com o USPD. O Governo de Ebert tornou-se o executor da revolução de
Novembro. Ele logo se aliou ao comando militar. O USPD, que já tinha cumprido
seu papel, não era mais necessário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No final do ano, em meio a violentas lutas
revolucionárias, o KPD foi finalmente fundado pela Liga Espártaco, pela
Esquerda de Bremen e mais outras organizações de esquerda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O atraso na fundação de um verdadeiro partido
revolucionário, independente dos Social-Democratas e dos centristas se deu por
conta, até certo ponto, das muitas tendências ultra-esquerdistas que surgiram
na Alemanha no inicio dos anos 1920. A traição do SPD — primeiro em 1914,
quando apoiou a guerra e, depois, em 1918, quando afogou a revolução em sangue
— levou a uma reação entre os trabalhadores que, na ausência de uma organização
resoluta de cunho Bolchevique, buscaram diferentes formas ultra-esquerdistas ou
mesmo anarquistas. Esse problema iria atormentar o KPD por um longo tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No congresso de fundação do KPD, Luxemburgo estava
com uma minoria em relação a participar das eleições para a assembléia
nacional. A maioria era contra. Também havia muitas outras tendências
ultra-esquerdistas fora do partido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em Abril de 1920, depois de uma revolta armada de
trabalhadores em Ruhr, a esquerda rachou e formou o KAPD [Partido Comunista
Operário da Alemanha], promovendo idéias ultra-esquerdistas,
anti-parlamentaristas e anarquistas. O KAPD levou consigo uma considerável
parcela dos membros do KPD — de acordo com algumas fontes, a maioria. Mas se
desintegrou rapidamente, já que não tinha um programa coerente. A Internacional
Comunista, com algum sucesso, tentou reaver as seções ainda sãs do KAPD e até
mesmo os convidou para um de seus congressos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Entretanto, em 1919 foi principalmente o USPD que
se beneficiou com o giro a esquerda da classe operária. Na eleição de 1920 ao
Reichstag, o SPD recebeu 6 milhões de votos, o USPD 5 milhões e o KPD 600,000.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O USPD foi um clássico partido centrista. A direção
caminhava para a direita, cruzando com trabalhadores que caminhavam para a
esquerda. Muitos trabalhadores que apoiavam o USPD admiravam a União Soviética.
Os lideres de direita do USPD encontravam-se cada vez mais isolados. Com suas
21 condições para associação, o Segundo Congresso da Internacional Comunista
aprofundou os rachas dentro do USPD.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em Dezembro de 1920, a maioria finalmente se uniu
ao KPD — ou VKPD [Partido Comunista Unificado da Alemanha], como ficou
conhecido por algum tempo. A minoria, mais tarde, voltou a se unir ao SPD. A
fusão com o USPD aumentou cinco vezes a quantidade de membros do KPD e o
transformou num partido de massas. Mas, os novos membros trouxeram consigo
muitos vícios do passado e tradições centristas do USPD.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em Março de 1921, uma revolta fracassada na
Alemanha Central — a chamada Märzaktion [Ação de Março] — provocou uma nova
crise nas fileiras do KPD. Depois que o governo nacional enviou unidades
policiais até as fábricas para desarmar os operários, o KPD e o KAPD chamaram
greve geral e a derrubada do governo nacional. Esse levante foi claramente
prematuro e acabou numa derrota sangrenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Aproximadamente 2.000 trabalhadores foram mortos na
luta e na violenta repressão que se seguiu. Por conseguinte, Paul Levi, amigo
próximo de Rosa Luxemburgo e um dos principais líderes do partido, que
corretamente se opôs ao levante desde o começo, impiedosamente atacou o partido
em publico. Ele foi expulso e, depois, voltou ao SPD.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os eventos do Março Alemão foram o foco do debate
no Terceiro Congresso da Internacional Comunista, realizado de 22 de Junho a 21
de Julho de 1921, em Moscou. Trotsky mais tarde descreveu o Congresso como um
"marco" e resumiu sua significância da seguinte forma: "Ele
apontou o fato de que os recursos dos partidos comunistas, tanto politicamente
quanto organizativamente, não foram suficientes para a conquista do poder. Ele
promoveu o slogan ‘Às massas,' isto é, a conquista do poder através de uma
conquista anterior das massas, realizada com base na vida cotidiana e nas
lutas. As massas continuam vivendo sua vida cotidiana em uma época
revolucionaria, mesmo que de uma maneira diferente..." [7]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Terceiro Congresso desenvolveu exigências
transitórias, a tática da Frente Única e a palavra de ordem de Governo Operário,
para ganhar a confiança dos trabalhadores que ainda apoiavam os
Social-Democratas. Insistia-se na necessidade de trabalhar nos sindicatos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #29303b;">Isso foi de encontro com a resistência furiosa das
tendências de esquerda e ultra-esquerda dentro do KPD, que promoviam a chamada
"teoria ofensiva" e rejeitavam qualquer forma de compromisso, assim
como o trabalho no parlamento e nos sindicatos. Eles eram apoiados por Nikolai
Bukharin, que seria mais tarde o líder da Oposição de Direita, que defendia uma
"ofensiva revolucionaria ininterrupta". Foi em resposta a essas
tendências que Lênin escreveu seu folheto "Esquerdismo: Doença Infantil do
Comunismo".</span></div>
<span style="line-height: 150%;"><div style="text-align: justify;">
<span style="color: #29303b;"><br /></span></div>
<span style="color: #29303b;"><div style="text-align: justify;">
Ao estudarmos esses conflitos, é notável que Lênin, assim como Trotsky, tenha
tentado uma aproximação extremamente paciente das diferentes facções no KPD.
Eles tentaram educar, explicar, integrar e prevenir rachas prematuros.
Contiveram os esquentados da esquerda e da direita, que queriam expulsar seus
oponentes. Tentaram manter Levi no partido até que seu comportamento
provocativo tornou a tarefa impossível.</div>
<o:p></o:p></span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Durante o Terceiro Congresso, eles passaram horas
discutindo em pequenos grupos com diferentes facções da KPD. Ao mesmo tempo em
que eram intransigentes em relação à esquerda infantil, também perceberam certo
conservadorismo na liderança do partido, a qual essas esquerdas atacavam. Em
outras palavras, Lênin e Trotsky tentaram desenvolver uma direção balanceada e
experiente, treinada para lidar com contradições e reagir rapidamente assim que
uma situação se alterasse, o que entra em choque com as praticas que a
Comintern desenvolveu sob a direção de Stalin.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os eventos do Ruhr<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Retomemos alguns eventos de 1923.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Um ano e meio após o Terceiro Congresso da
Internacional Comunista (Comintern ou III Internacional), os conflitos internos
ao Partido Comunista Alemão (KPD) ainda não estavam resolvidos. Após a ocupação
do Ruhr pelo exército francês, os conflitos entre a direção majoritária do
partido e a oposição de esquerda irromperam novamente e com toda a força. As diferenças
emergiram sobre a questão do apoio dado pelo KPD ao governo da ala esquerda do
Partido Social-Democrata Alemão (SPD) na Saxônia, bem como sobre a política a
ser adotada na região do Ruhr, ocupada pelos franceses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No momento, o partido era dirigido por Heinrich
Brandler, membro fundador da Liga Espártaco [Spartakusbund]. Enquanto muitos
dos esquerdistas passavam para a direita, uma nova facção de esquerda se
agrupava sob direção de Ruth Fischer, Arkadi Maslow e — em menor grau — Ernst
Thälmann. Fischer e Maslow eram ambos jovens intelectuais que ingressaram no
movimento após a guerra. Tinham a maioria da seção de Berlin atrás de si.
Thälmann era um trabalhador que ingressara no KPD por meio do SPD-Independente
(USPD) e era dirigente do partido em Hamburgo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No dia 10 de Janeiro, caiu o governo do SPD na
Saxônia e o KPD conduziu uma campanha por uma frente única e um governo dos
trabalhadores. Enquanto isso, a maioria do SPD defendia uma coalizão com
partidos burgueses e apenas uma minoria de esquerda defendia a aliança com o
KPD. Este, por sua vez, desenvolveu uma forte e vigorosa agitação e publicizou
um "Programa dos Trabalhadores" que incluía as seguintes demandas:
confisco das propriedades da antiga família real; armamento dos trabalhadores;
desmantelamento do judiciário, da polícia e da administração governamental
(parlamento); chamado por um congresso dos conselhos de fábricas e pelo
controle dos preços pelos comitês eleitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tais reivindicações ganharam apoio dentro do SPD,
onde a ala esquerda tornou-se maioria. Ela aceitava o "Programa dos
Trabalhadores" com apenas uma exceção: a dissolução do parlamento e a
convocação de um congresso de conselhos de fábricas. Com base nisso, retirando
esses pontos do programa, um governo do SPD foi criado com apoio do KPD.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esse passo foi apoiado pela maioria do KPD,
inclusive por Karl Radek, no momento uma importante figura dirigente da
Internacional, mas bastante denunciado pela esquerda do KPD. Estes viam seu
apoio ao governo da Saxônia não como uma tática momentânea para ganhar os
trabalhadores social-democratas, mas como uma adaptação aos social-democratas
de esquerda, os quais consideravam iguais aos de direita. Suas suspeitas não
eram sem razão. Como mostraram os eventos ulteriores, em 21 de Outubro, Brandler
desmantelou a insurreição em preparo porque os social-democratas diziam não
estar prontos para apoiá-la.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No Ruhr, o KPD distanciava-se bastante do SPD, que
dava amplo apóio à campanha de "resistência passiva" do governo de
Wilhelm Cuno. O Governo Cuno, por sua vez, colaborava com as gangues
paramilitares — apoiadas secretamente pelo exército e composta de elementos
claramente fascistas — encorajando-as a realizar atos de sabotagem contra os
franceses. Tais medidas atraíam reacionários e fascistas de toda Alemanha para
o Ruhr. O SPD encontrou-se, portanto, em verdadeira aliança com tais forças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O KPD denunciou o nacionalismo do SPD como um
repetição de sua política de 1914, quando votou pelos créditos da guerra
imperialista, e opôs-se fortemente a ela. Chamava pela luta tanto contra a
ocupação francesa quanto contra o governo berlinense. Uma edição do Rote Fahne
[Bandeira Vermelha — Jornal do KPD] trazia como manchete: "Lutar contra
Poincaré e Cuno no Ruhr e em Spree". Tais linhas logo se confirmaram, quando
os trabalhadores começaram a se rebelar contra as insuportáveis condições
sociais, protestando contra a ocupação francesa, contra os industrialistas
locais, bem como contra o governo de Berlin.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas, logo os líderes da esquerda do KPD assumiram
uma posição diferente, agitando-a nos encontros do partido em Ruhr. Ruth
Fischer defendia um chamado para que os trabalhadores tomassem as fábricas e
minas; pela tomada do poder político e o estabelecimento da República
Democrática dos Trabalhadores do Ruhr. Esta República poderia, então, tornar-se
base para um exército dos trabalhadores que, por sua vez, iria "marchar
até a Alemanha central, tomar o poder em Berlin e destruir de uma vez por todas
a contra-revolução nacionalista". [8]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sua linha era, na verdade, aventureira, repetição
da ação de Março de 1921. Um levante no Ruhr teria permanecido isolado e sem
apoio no resto da Alemanha. Além disso, o Ruhr estava cheio de organizações
fascistas e paramilitares que não aceitariam passivamente um levante operário.
Os franceses, por sua vez, olhavam com bons olhos os protestos contra o governo
alemão, mas assumiriam outra posição em relação a uma insurreição operária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diante do crescimento da briga entre as facções do
KPD, Zinoviev, então secretário da Internacional Comunista, convidou ambos os
lados para Moscou, onde assumiram um compromisso. Assim, a Internacional
concordava com o apoio dado ao SPD, embora criticasse algumas formulações do
apoio, indicando que essa deveria ser uma tática apenas momentânea. Em relação
ao Ruhr, rejeitou os planos de Fischer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A resolução acordada, aprovada por unanimidade, não
dava indicações de que a direção da Internacional estava atenta à velocidade
dos eventos na Alemanha, ou mesmo que tirava muitas conclusões de tais eventos.
Pelo contrário, a resolução dizia: "As diferenças surgidas do lento
desenvolvimento revolucionário da Alemanha e das dificuldades objetivas às
quais conduz, alimentam, simultaneamente, divergências de direita e de
esquerda". [9]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A "Linha Schlageter"<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em junho, Radek introduziu uma nova linha que,
posteriormente, confundiu e desorientou o KDP — era a chamada "Linha
Schlageter".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O KPD preocupava-se, há certo tempo, com o
crescimento do fascismo na Alemanha. Em 22 de outubro, Mussolini tomou o poder
em Roma, após uma campanha violenta de seus destacamentos armados, os fasci,
contra as organizações operárias e trabalhadores militantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na Alemanha, anteriormente, a extrema-direita
limitava-se apenas a remanescentes do exército imperial e a pequenos partidos
anti-semitas. Mas, em 1923, começava a crescer e ganhar base social, embora
muito menor que a de Hitler na década de 1930. Atividades contra os
"Criminosos de novembro", contra os judeus e estrangeiros encontraram
apoio entre elementos deslocados da pequeno-burguesia, bem como entre alguns
trabalhadores pauperizados pelo impacto da inflação. No Ruhr, membros da
extrema-direita apresentavam-se como heróicos combatentes contra a ocupação
francesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Baviera, em particular, com suas largas áreas
rurais, tornou-se praticamente um baluarte da extrema-direita. Após a repressão
sangrenta à Republica Soviética de Munique, em 1919, a região tornou-se antro
de organizações nacionalistas, fascistas e paramilitares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 7 de abril, Albert Schlageter, um membro da
Freikorps, foi preso pelo exército francês em Düsseldorf porque tinha
participado de ataques com bomba a estradas de ferro. Foi sentenciado à morte
por uma corte militar e executado em 26 de maio. A direita imediatamente o
tornou um mártir. Na reunião do Comitê Executivo da Internacional Comunista
(ECCI), em junho, Radek propôs que o KPD disputasse os trabalhadores e os
elementos pequeno-burgueses seduzidos pelo fascismo, juntando-se a essa
campanha e adaptando-se ao nacionalismo dos fascistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"As massas pequeno-burguesas, os intelectuais
e técnicos que desempenharão um importante papel na revolução assumem a posição
de um antagonismo nacional ao capitalismo, que os está relegando",
defendeu Radek. "Se nós queremos ser um partido dos trabalhadores, capaz
de empreender a luta pelo poder, temos que achar um caminho que possa nos
aproximar das massas, e devemos encontra-lo não por meio da diminuição de
nossas responsabilidades, mas pela defesa de que a classe trabalhadora sozinha
pode salvar a nação". [10]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mais tarde, na reunião, elogiou solenemente
Schlageter que, enquanto "um valente soldado da contra-revolução",
ainda "merece sinceras homenagens da nossa parte, como soldados da
revolução." "O ocorrido a este mártir do nacionalismo alemão não deve
ser esquecido, ou meramente honrado em breves palavras", disse Radek.
"Nós precisamos fazer de tudo para proteger os homens que, como
Schlageter, estão prontos para dar suas vidas por uma causa comum, vindo a ser
não viajantes no vazio, mas viajantes na direção de um futuro melhor para toda
a humanidade".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Linha Schlageter foi eleita pela Rote Fahne e
predominou por diversas semanas. Ela criou uma grande confusão entre as
fileiras comunistas, as quais tinham resistido até então às pressões
nacionalistas. Por outro lado, não há a mínima indicação de que tenha
enfraquecido as fileiras nazistas — com a exceção de alguns poucos e
desorientadas nacional-bolcheviques, que entraram para o KPD e criaram muitos
problemas antes que fosse possível livrar-se deles novamente. A campanha-Schageter
proveu de ampla munição a propaganda anticomunista do SPD e tornou muito
difícil para o Partido Comunista Francês (PCF) organizar a solidariedade entre
os soldados franceses para com os trabalhadores alemães.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A greve contra Cuno<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Enquanto Radek desenvolveu a Linha Schlageter, a
luta de classes na Alemanha se intensificou. Em junho e julho, agitações e
greves contra a alta dos preços estouraram por todo o país. Participavam com
freqüência centenas de milhares de trabalhadores, entre eles setores que nunca
antes tinham participado de uma luta social. Para dar um exemplo: No começo de
junho, 100.000 trabalhadores rurais e 10.000 diaristas entraram em greve em
Brandenburgo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 8 de agosto, o Chanceler Cuno se dirigiu ao
Reichstag [Parlamento]. Exigia novos cortes e ataques sobre a classe
trabalhadora e combinava tais demandas com voto de confiança. O SPD buscava
salvar-se abstendo-se de votar. Em seguida, tendo início em Berlim,
desenvolveu-se uma espontânea onda de greves exigindo a renúncia do governo de
Cuno. Em 10 de agosto, uma conferência de representantes de sindicatos, sob
pressão do SPD, rejeitou o chamado por uma greve geral. Mas, no dia seguinte,
uma conferência de conselhos de fábrica, apressadamente convocada pelo KPD,
tomou a iniciativa e anunciou uma greve geral. Três milhões e meio de
trabalhadores participaram. Em diversas cidades, aconteceram batalhas com os
policiais e dezenas de trabalhadores mortos. No dia seguinte, o governo Cuno
renunciou. As leis burguesas foram profundamente abaladas. "Nunca houve um
período na história moderna alemã que foi tão favorável para uma revolução
socialista como no verão de 1923", escreveu Arthur Rosenberg.
Momentaneamente, o SPD salvou a burguesia. Contra considerável resistência nas
suas próprias fieiras, entrou num governo de coalizão liderado por Gustav
Stresemenn do Deutsche Volkspartei (DVP — Partido Popular Alemão), um grande
partido de negócios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Preparando a revolução<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Somente então, após as greves contra Cuno, em
agosto, o KPD e a Internacional Comunista percebeu a oportunidade
revolucionária que havia se desenvolvido na Alemanha. Em 21 de agosto — ou
seja, exatamente dois meses antes da insurreição cancelada por Brandler — o
Bureau Político do Partido Comunista Russo decidiu preparar-se para uma
revolução na Alemanha. Formou uma "Comissão de Obrigações
Internacionais" para supervisionar o trabalho na Alemanha. Ela era
composta por Zinoviev, Kamenev, Radek, Stalin, Trotsky e Chicherin — e, depois,
Dzerzhinsky, Pyatakov e Skolnikov.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nos dias e semanas que se seguiram, houve numerosas
discussões e contínua correspondência com os líderes do KPD, que freqüentemente
viajavam a Moscou. Suporte financeiro, logístico e militar foi organizado para
armar centenas de operários, preparados nos meses anteriores. Em outubro,
Radek, Pyatakov e Skolnikov foram mandados para a Alemanha, para preparar o
levante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas foi Trotsky, acima de tudo, quem lutou
incansavelmente para superar o fatalismo e a complacência existentes na seção
alemã e no Partido Russo. Enquanto isso, Stalin escreveu a Zinoviev: "Na
minha opinião, os alemães precisam ser contidos e não encorajados", e
"Para nós, seria uma vantagem os fascistas entrarem em greve antes".
Trotsky insistiu que e insurreição devia ser preparada em um período de semanas,
ao invés de meses, e a data definitiva devia ser escolhida. [11]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que a primeira vista parecia apenas uma proposta
organizativa — a escolha de uma data — era, na realidade, uma grande proposta
política. De acordo com a preocupação de Trotsky, a principal tarefa no momento
era concentrar todas as energias e atenções do partido no preparo da revolução.
De uma preparação propagandística mais geral, ela tinha de passar à preparação
prática da insurreição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Durante o encontro do Bureau Político do Partido
Russo, em 21 de agosto, Trotsky disse: "O quão longe vai o ânimo das
massas revolucionárias alemãs? A sensação de que estão no caminho da revolução
— tal sentimento existe. O problema posto é o problema da preparação. O caos
revolucionário não pode ser selado com borracha. A questão é: ou começamos a
revolução, ou a organizamos". Trotsky alertou sobre o perigo de que
fascistas bem organizados poderiam esmagar ações descoordenadas de
trabalhadores, e exigiu: "O KPD precisa escolher um tempo limite para a preparação,
para a preparação militar e — em tempo correspondente — para agitação
política".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tal linha sofreu maior oposição por parte de
Stalin. Este argumentava contra um tempo planejado, alegando que "os
trabalhadores continuam acreditando na Social-democracia" e que o governo
poderia durar por outros oito meses. [12]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Brandler, em uma carta para o Comitê Executivo da
Internacional datada de 28 de agosto, também sustentava um longo período:
"Eu não acredito que o governo Stresemann vai viver muito mais",
escreveu. "Entretanto, não acredito que a próxima onda, que já se
aproxima, vai decidir a questão do poder. (...) Nós devemos tentar concentrar
nossas forças para que possamos, se for inevitável, assumir a luta em seis
semanas. Mas, ao mesmo tempo, fazer os preparativos para estarmos prontos com o
trabalho mais sólido em cinco meses". Além disso, acrescentou que
acreditava que um período de seis a oito meses seria o mais provável. [13]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em discussões posteriores entre a comissão russa e
a liderança alemã, um mês depois, Trotsky voltou ao assunto do cronograma.
Interrompeu a discussão sobre a posição a respeito do problema do Ruhr, e
disse: "Eu não compreendo por que tanta relevância é dada para o caso
Ruhr. (...) O problema, agora, é tomar o poder na Alemanha. Essa é a tarefa, o
restante decorrerá disso".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky respondeu, então, às preocupações de que os
trabalhadores alemães lutariam por reivindicações econômicas, mas não tão
facilmente por objetivos políticos. "A inibição política é nada mais que
certa dúvida, por conta das marcas que as derrotas anteriores deixaram no
cérebro das massas", disse. "O partido só pode ganhar a classe
trabalhadora alemã para a luta revolucionária decisiva — e a situação está
aqui, agora —, se convencer uma larga seção da classe trabalhadora, sua
direção, de que também é organizacionalmente capaz de liderar a vitória no
sentido mais concreto da palavra... A expressão de tendências fatalistas pelo
partido, aí é que está o grande perigo".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky explicou, em seguida, que o fatalismo pode
assumir diferentes formas: primeiro, se diz que a situação é revolucionária, o
que é repetido todos os dias. Isso se torna usual e a política passa a ser
esperar pela revolução. Então, se dá armas aos trabalhadores e se diz que isso
levará ao conflito armado. Mas, ainda assim, é apenas o "fatalismo
armado".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Através da informação repassada por seus camaradas
alemães, Trotsky concluiu que eles concebiam a tarefa como fácil demais.
"Se a revolução é para ser mais do que uma perspectiva confusa", disse
ele, "se é para ser a tarefa principal, deve ser tomada por uma tarefa
prática, organizativa... É preciso estabelecer uma data, preparar e
lutar." [14]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 23 de setembro, Trotsky publicou, inclusive, um
artigo no Pravda: "Pode uma Contra-revolução ou Revolução ser Feita com
Tempo Marcado?" Trotsky discutia a questão em termos gerais, sem mencionar
a Alemanha, já que o pedido de definição de uma data para a revolução alemã por
um representante-chave da direção, como ele, poderia provocar uma crise internacional
ou mesmo uma guerra. Mas, mesmo assim, o artigo é uma contribuição à discussão
sobre a Alemanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A revolução perdida<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma data para o levante foi finalmente definida: 9
de novembro. Mas, os eventos ganhavam velocidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 26 de setembro, o chanceler Stresemann anunciou
o fim da resistência passiva contra a ocupação francesa do Vale do Ruhr.
Argumentou que não havia outra maneira de controlar a hiperinflação. Isso
provocou a extrema-direita. No mesmo dia, o governo da Baviera decretou estado
de emergência e instalou uma ditadura liderada por Ritter von Kahr. Von Kahr
colaborou com os nazistas de Hitler e, imitando a marcha de Mussolini sobre
Roma, planejou uma marcha em Berlim para instalar uma ditadura nacional. Kahr
tinha o apoio do comandante das tropas da Reichswehr [Defesa do Império],
posicionadas na Baviera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo de Berlim reagiu estabelecendo sua
própria forma de ditadura. Todo o poder executivo foi transferido ao Ministro
da Defesa, que o delegou ao General Hans von Seeckt, comandante da Reichswehr.
Seeckt simpatizava com a extrema-direita e se recusava a disciplinar os
comandantes bávaros rebelados. Líderes industriais, como Hugo Stinnes, apoiavam
o plano de uma ditadura nacional, optando por Seeckt como ditador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 13 de outubro, o Reichstag, depois de vários
dias de discussão, aprovou um ato autorizando a abolição pelo governo das
conquistas sociais da revolução de novembro, incluindo a jornada de 8 horas. O
SPD votou a favor do ato. Enquanto os ministros do SPD e outros planejavam
novos ataques aos direitos dos trabalhadores, um golpe que lhes poderia custar
a vida era preparado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Saxônia e a Turíngia eram os centros da
resistência da classe trabalhadora contra tais preparações
contra-revolucionárias. Nos dois estados, em 10 e 16 de outubro,
respectivamente, o KPD juntou-se aos governos da esquerda do SPD. Isso era
parte do plano elaborado em Moscou. Pela entrada em um governo de coalizão, o
KPD esperava fortalecer sua posição e ter acesso a armas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas, apesar do fato de que ambos os governos eram
formados de acordo com a lei existente e dirigidos por uma maioria parlamentar,
o comandante da Reichswehr na Saxônia, General Müller, se recusava a reconhecer
a autoridade de ambos os governos. Em concordância com o governo berlinense,
submeteu a polícia ao seu próprio comando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ameaçado pela Baviera, que faz fronteira com a
Saxônia e a Turíngia no sul, e pelo governo central em Berlim, situado ao
norte, o KPD teve de adiantar seus planos para a revolução. Chamou um congresso
de conselhos de fábrica em Chemnitz, Saxônia, no dia 21 de outubro. O congresso
deveria convocar uma greve geral e dar o sinal para a insurreição em toda a
Alemanha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas, como os social-democratas de esquerda não
concordavam, Brandler cancelou os planos e interrompeu o levante. A maioria dos
delegados teriam apoiado a convocação da greve geral, como Brandler escreveu em
uma carta privada a Clara Zetkin, sua confidente próxima. Mas, mesmo assim, ele
não quis agir sem o apoio dos social-democratas de esquerda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Durante a conferência de Chemnitz eu percebi
que não poderíamos, sob quaisquer circunstâncias, partir para a luta decisiva,
uma vez que não havíamos conseguido convencer a esquerda do SPD a assinar a
decisão de greve geral", escreveu Brandler. "Contra a massiva
resistência, eu mudei o curso e evitei que nós, Comunistas, fossemos ao combate
sozinhos. É claro que poderíamos ter recebido uma maioria de dois terços em
favor de uma greve geral na conferência de Chemnitz. Mas, o SPD teria deixado a
conferência, e seus slogans confusos, sobre como a intervenção do Reich contra
a Saxônia tinha simplesmente o propósito de ocultar a intervenção do Reich
contra a Baviera, teriam quebrado nosso espírito de luta. Então, eu
conscientemente lutei por um compromisso desagradável". [15]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A decisão de cancelar a revolução não chegou em
Hamburgo a tempo. Lá, uma insurreição foi organizada, mas permaneceu isolada e
foi derrotada dentro de 3 dias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Embora o congresso de Chemnitz ainda estivesse
reunido, o Reichswehr começou a ocupar a Saxônia. Conflitos armados causaram a
morte de vários trabalhadores. Em 28 de outubro, o presidente Friedrich Ebert —
um social-democrata — deu ordens ao Reichsexekution contra a Saxônia. Ordenou a
remoção forçada do governo da Saxônia — encabeçado por Erich Zeigner, também um
social-democrata — pelo Reichswehr. A indignação pública foi tão massiva, que o
SPD foi obrigado a retirar-se do governo Stresemann em Berlim. Alguns dias
depois, o Reichswehr entrou na Turíngia e removeu o governo local.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A deposição desses dois governos de esquerda por
Ebert e Seeckt encorajou a extrema-direita da Baviera. No dia 8 de novembro,
Adolf Hitler proclamou a "revolução nacional" em Munique e ensaiou um
golpe. Seu objetivo era forçar o ditador da Baviera, Kahr, a marchar em Berlim
e, lá, tomar o poder. Hitler foi apoiado pelo General Ludendorff, um dos mais
altos comandantes militares da Primeira Guerra Mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O golpe Hitler-Ludendorff falhou. Berlim já havia
se movido tanto para a direita que a direita da Baviera não precisava mais de
uma figura tão dúbia como Hitler. Ebert se acomodou ao golpe, delegando o
comando sobre todas as forças armadas e o poder executivo a Seeckt. Embora as
instituições da República de Weimar ainda existissem formalmente, a Alemanha
seria, então, governada por uma ditadura militar de facto até março de 1924.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por que o KPD perdeu a revolução?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma fácil resposta a esta pergunta é lançar toda a
culpa sobre Brandler. Essa foi a reação de Zinoviev e de Stálin, que o
transformaram num bode expiatório. Simultaneamente, acusaram o KPD (Partido
Comunista Alemão) de ter fornecido informações erradas sobre a situação na
Alemanha, informações exageradas sobre seu potencial revolucionário. Desse
modo, contestaram toda a avaliação sobre a qual havia se baseado o plano de
insurreição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Menos de três semanas após a insurreição ser
abortada, Stálin e Zinoviev começaram a reinterpretar os eventos na Alemanha.
Assim o fizeram para encobrir seus próprios papeis no processo e iniciar seu
combate fracional contra a Oposição de Esquerda, que começava a se articular
(em 15 de outubro, surgia o primeiro documento importante da Oposição de
Esquerda, a Declaração dos 46. Ao final de novembro, Trotsky escrevia O Novo
Curso).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky rejeitou a abordagem simplista feita por
Zinoviev e Stálin. Mesmo não concordando com a decisão de Brandler de abortar a
insurreição, não a tomava como um evento isolado. Ao final do processo, Karl
Radek, que estava presente em Chemnitz como representante da Internacional
Comunista (Comintern ou III Internacional), bem como o Zentrale alemão, a
direção central do partido, também concordavam com Brandler.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A insistência de Brandler de que a revolução
falharia — e de que os comunistas ficariam isolados caso começassem a
insurreição sem o apoio dos social-democratas de esquerda — estava de acordo
com erros anteriores atribuídos não somente a Brandler, mas à Internacional
como um todo. Tanto a Internacional, dirigida por Zinoviev, quanto a direção do
KPD (seu setor majoritário e seu setor esquerdista) desempenharam por longo
tempo um papel passivo, tipicamente "centrista" diante dos eventos na
Alemanha. Apesar das condições sociais e políticas terem mudado enormemente
após a ocupação francesa do Ruhr, em janeiro, eles continuaram trabalhando com
os métodos desenvolvidos no ano anterior, quando a revolução não estava
imediatamente na agenda do partido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Foi somente após longo tempo, no meio dos eventos
de Agosto, que mudaram de curso e começaram a preparar a insurreição. Isso
deu-lhes apenas dois meses para o preparo, mas este era de caráter
insuficiente, hesitante e deslocado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky, num pronunciamento feito ao Congresso dos
Trabalhadores Médicos e Veterinários da URSS em junho de 1924, comentou o
seguinte sobre a derrota: "Qual foi a causa fundamental da derrota do
Partido Comunista Alemão?", perguntou. "Esta: não apreciaram
corretamente e no momento certo a crise revolucionária que se abriu com a
ocupação do vale do Ruhr e, especialmente, após o final da resistência passiva
(janeiro-junho de 1923). Perderam o momento crucial... Mesmo após o ataque ao
Ruhr, continuaram com seu trabalho de agitação e propaganda com base na fórmula
de Frente Única anterior ao ataque. Nesse meio tempo, a fórmula havia se
tornado completamente insuficiente. A influência política do partido crescia
automaticamente. Uma modificação tática era necessária".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Era necessário mostrar às massas, e acima de
tudo ao partido, que se tratava, no momento, da imediata preparação para a
tomada do poder. Era necessário consolidar e dar forma organizativa à crescente
influência do partido, para estabelecer as bases de apoio para a tomada direta
do estado. Era necessário transferir toda a organização do partido para as
bases das células operárias. Era necessário formar novas células nas estradas-de-ferro.
Era necessário suscitar o quanto antes a questão do trabalho dentro do
exército. Era necessário, extremamente necessário, adaptar a tática de Frente
Única total e completamente a essas questões, dar-lhe um prazo mais decidido e
resoluto, bem como um caráter mais revolucionário. Nessa base, um trabalho
técnico-militar certamente poderia ter sido levado adiante..."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"A coisa mais importante, entretanto, era
esta: garantir em tempo a mudança tática decisiva para a tomada do poder na
Alemanha. O que não foi feito. Essa foi a principal — e fatal — omissão. Dela
surgiu a contradição central. De um lado, o partido esperava uma revolução,
enquanto que, de outro, por ter perdido os dedos nos eventos de março [Trotsky
se refere a 1921], evitou, até os últimos meses de 1923, a idéia de organizar a
revolução, ou seja, preparar a insurreição. A atividade política do partido
estava carregada de uma atmosfera pacífica, num momento em que a cena final se
aproximava."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"A data para a insurreição foi finalmente
fixada quando, como um todo, o inimigo já havia se valido do tempo perdido pelo
partido para fortalecer sua posição. A preparação técnica-militar do partido,
que começou numa velocidade febril, estava divorciada da atividade política do
partido, que esteve anteriormente carregada por uma atmosfera pacífica. As
massas não compreendiam o partido e não avançaram o passo junto dele. O partido
sentiu-se subitamente separado das massas, e ficou paralisado. Disso resultou a
imediata retirada da linha de frente, sem mesmo haver combate — a pior de todas
as derrotas." [16]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Teria sido possível organizar uma insurreição
vitoriosa em todo o país em 1923?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Há um grande número de relatos de dirigentes
comunistas alemães, assim como de líderes e especialistas militares da III
Internacional, presentes na Alemanha no momento, que declaram haver um péssimo
preparo para a insurreição. Os destacamentos de luta — conhecidos como Centenas
de Revolucionários — estavam formados e treinados, mas mal possuíam armas. O
aparato de propaganda do KPD — devido às perseguições e à repressão — estava em
estado lastimável. A comunicação e a coordenação do partido entre as diversas
regiões funcionavam muito mal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por outro lado, os trabalhadores que lutaram e
Hamburgo demonstraram um alto grau de coragem, disciplina e eficiência. Apenas
300 trabalhadores lutaram nas barricadas, mas alcançaram uma larga e positiva —
embora passiva — resposta por parte da população.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em seu pronunciamento aos trabalhadores médicos e
veterinários, Trotsky ressaltou que a própria dinâmica do processo
revolucionário deve ser levada em conta. "Os comunistas tinham atrás de si
a maioria das massas trabalhadoras?", perguntou. "Essa é uma questão
que não pode ser respondida por meio de estatísticas. Somente pode ser respondida
pela dinâmica da revolução".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"As massas estavam com um espírito de
luta?", continuou Trotsky. "Toda a história do ano de 1923 não deixa
dúvida sobre isso". E concluiu: "Sob tais condições, as massas apenas
poderiam seguir adiante se existisse uma direção firme, auto-confiante, assim
como uma confiança das massas nessa direção. Discussões a respeito do ânimo das
massas, se era de luta ou não, possuem um caráter muito subjetivo e expressam
essencialmente a falta de confiança entre os líderes do próprio partido".
[17]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As lições de outubro<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A capitulação sem luta foi certamente o pior
resultado possível dos eventos alemães. Ela desmoralizou e desorganizou o KPD e
criou as condições em que a elite dominante e os militares puderam continuar
com a ofensiva e consolidar seu poder. Trotsky, então, insistiu que as lições
da derrota alemã deviam ser tiradas duramente. Ele rejeitou os argumentos dos
bodes-expiatórios isolados, que eram somente para evitar as discussões
políticas mais fundamentais. Tirar tais lições não era somente indispensável
para preparar a liderança alemã para as oportunidades revolucionárias futuras,
que inevitavelmente surgiriam, mas também era crucial para todas as seções do
Internacional, que se deparariam com desafios e problemas muito similares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky notou que as lições da Revolução Russa de
Outubro — a única revolução proletária bem sucedida na história — nunca tinham
sido devidamente traçadas. No verão de 1924, publicou o livro Lições de
Outubro, examinando o bem sucedido Outubro Russo sob a luz da derrota do
outubro alemão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ele insistiu na necessidade "de estudar as
leis e métodos da revolução proletária". Insistiu que existem questões que
todo Partido Comunista deve enfrentar quando entrar num período revolucionário:
"Regra geral, as crises no partido surgem a cada mudança importante, como
seu prelúdio ou conseqüência. É que cada período de desenvolvimento do partido
tem os seus traços especiais, exigindo determinados hábitos ou métodos de
trabalho. Uma mudança tática acarreta uma ruptura mais ou menos importante
nestes hábitos e métodos: aí reside a causa direta das frações e das crises
internas ao partido".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trotsky então cita Lenin, que escreveu em julho de
1917: "A uma mudança brusca da história acontece muito frequentemente, até
aos partidos avançados, não chegarem a se habituar à nova situação num maior ou
menos espaço de tempo, repetindo as palavras de ordem que, embora justas ontem,
hoje perderam todo o seu sentido; coisa que acontece tão ‘subitamente' quanto a
mudança histórica."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Conseqüentemente", concluiu Trotsky,
"surge o perigo: se a mudança tiver sido demasiadamente brusca ou
inesperada e o partido posterior tiver acumulado demasiados elementos de
inércia e de conservadorismo em seus órgãos dirigentes, este revelar-se-á
incapaz de assumir a direção no momento mais grave, para o qual se preparou
durante anos ou dezenas de anos. O Partido deixar-se-á corroer por uma crise e
o movimento se processará sem objetivo, semeando a derrota."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Ora, a mudança mais brusca é aquela em que o
partido do proletariado passa da preparação, propaganda, organização e agitação
para a luta direta pelo poder, à insurreição armada contra a burguesia. Tudo o
que há de irresoluto, cético, conciliador e capitulacionista no interior do
partido ergue-se contra a insurreição e busca fórmulas teóricas para a sua
oposição, encontrando-as já preparadas nos adversários de ontem, os
oportunistas. Ainda vamos ter que observar muitas vezes este fenômeno no
futuro." [18]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Zinoviev e Stalin rejeitaram a análise de Trotsky.
Guiados por motivos fracionários e subjetivos, falsificaram os eventos na
Alemanha, cobrindo seus próprios rastros e fazendo de Brandler o
bode-expiatório para todos os erros. As conseqüências foram desastrosas. A
direção do KPD foi trocada — pela quinta vez em cinco anos — sem qualquer lição
ser tirada do processo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como Radek apontou — em disputa acalorada com
Stalin numa reunião do Comitê Central do partido Russo, em janeiro de 1924 —
quadros marxistas experientes foram trocados tanto por pessoas que tinham
experiência no centrista USPD (SPD-Independente) quanto por pessoas que mal
tinham experiência revolucionária. Henirich Brandler, um membro fundador da
Liga Espártaco (Spartakusbund) com uma história de 25 anos no movimento, foi
substituído por Ruth Fischer e Arkadi Maslow, jovens intelectuais vindos de um
rico ambiente burguês e sem passado revolucionário. A maioria do grupo central,
que agora formaria a nova direção, havia entrado no KPD apenas em dezembro de
1920, quando a esquerda do centrista USPD se uniu ao KPD.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A mudança na direção "acertou" o caminho
— após perseguições e novas modificações nos anos seguintes — para a total
subordinação do KPD aos ditados de Stalin. Tal fato revelou ter conseqüências
devastadoras 10 anos depois, quando a desastrosa linha do KPD pavimentou o
caminho de Hitler ao poder. O alinhamento de Stalin com a esquerda de Fischer e
Maslow foi particularmente cínico, uma vez que ele sempre havia ajudado as
posições mais direitistas durante o andamento dos eventos. Stalin ganhou a
aliança de Maslow, que estava sob investigação por ter dado informação à
polícia durante os eventos de março de 1921, assegurando que estaria limpo das
acusações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Até mesmo a teoria do social-fascismo, que iguala a
social-democracia ao fascismo, achou sua primeira expressão num documento sobre
os eventos alemães, esquematizado por Zinoviev e adotado pelo presidente do
Comitê Executivo da Internacional contra a resistência da Oposição de Esquerda
em janeiro de 1924. O documento diz: "As camadas dirigentes da
social-democracia alemã apresentam nada mais que uma facção do fascismo alemão
sob uma máscara socialista". [19]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Depois que o partido falhou em mover a tempo da
tática de Frente Única à da luta pelo poder, Zinoviev e Stalin rejeitaram a
Frente Única como um todo. A teoria do social-fascismo, que rejeita qualquer
forma de Frente Única com o SPD contra os nazistas, foi revivida em 1929 e teve
um papel importante no desarmamento da classe trabalhadora na luta contra o
fascismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1928, Trotsky mais uma vez repetiu as lições
básicas do Outubro Alemão. Criticando o esquema de programa para o Sexto
Congresso da Internacional Comunista, escreveu: "O papel do fator
subjetivo em um período de desenvolvimento lento e orgânico pode permanecer um
tanto subordinado. Assim, muitos provérbios de sobre a graduação do processo
podem surgir, como: ‘devagar, mas certo' e ‘não adianta dar murro em ponta de
faca' e muitos outros, que resumem toda a sabedoria tática de nossa época, que
abomina ‘pular etapas'. Mas, no momento em que as condições objetivas estão
maduras, a chave de todo o processo histórico passa para a condição subjetiva,
que é o partido. O oportunismo, que consciente ou inconscientemente
desenvolve-se com inspiração em épocas passadas, sempre tenta subestimar o
papel do fator subjetivo, que é: a importância do partido e da direção
revolucionária. Tudo isso nos foi completamente revelado nas discussões a
respeito do Outubro Alemão, no Comitê Anglo-Russo e na Revolução Chinesa. Em
todos esses casos, assim como em outros de menor importância, a tendência
oportunista evidenciou-se ao adotar uma via que cabia somente às ‘massas',
desprezando por completo o ‘topo' da direção revolucionária. Tal atitude, que é
falsa como um todo, opera com um efeito certamente fatal na época
imperialista." [20]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">FONTE: </span><a href="https://www.wsws.org/pt/2008/dec2008/ale1-d08.shtml" style="background-color: transparent;">https://www.wsws.org/pt/2008/dec2008/ale1-d08.shtml</a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white;">
<span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="background: white; text-align: left;">
<b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Notes:</span></b><span style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
1. </span><span lang="ES-AR" style="color: #29303b; line-height: 150%; mso-ansi-language: ES-AR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Leon Trotsky, The Lessons of October, in The
Challenge of the Left Opposition (1923-25), p. 201.<br />
2. Arthur Rosenberg, (Entstehung und Geschichte der Weimarer Republik,
Frankfurt am Main: Athenäum 1988), p. 395.<br />
3. Ibid., p. 402.<br />
4. Hermann Weber, (Die Wandlung des deutschen Kommunismus, Band 1, Frankfurt
1969), p. 43.<br />
5. Rosa Luxemburg, (Rückblick auf die Gothaer Konferenz, in Gesammelte Werke,
Band 4, Berlin 1974), p. 273.<br />
6. Ibid., p. 274.<br />
7. Leon Trotsky, (The Third International After Lenin, New Park: 1974), pp.
66-67.<br />
8. Citado por Pierre Broué (The German Revolution 1917-1923, Haymarket Books:
2006) p. 702.<br />
9. Citado por Broué, ibid., p. 705.<br />
10. Citado por Broué, ibid., p. 726.<br />
11. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein
Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003) p. 100.<br />
12. Ibid., pp. 122-27.<br />
13. Ibid., pp. 135-136.<br />
14. Ibid., pp. 165-167.<br />
15. Ibid., pp. 359.<br />
16. Leon Trotsky, [Through What Stage Are We Passing, in The Challenge of the
Left Opposition (1923-25), Pathfinder Press, 1975], pp. 170-71.<br />
17. Ibid., p. 169.<br />
18. Leon Trotsky, (Lessons of October, New Park Publications, 1971), pp. 4-7.<br />
19. Bernhard H. Bayerlein u.a. Hsg., (Deutscher Oktober 1923. Ein
Revolutionsplan und sein Scheitern, Berlin: 2003), p. 464.<br />
20. Leon Trotsky, (The Third International after Lenin, New Park, 1974), p. 64.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<br /></div>
<br />Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-25061011024931608582018-12-19T15:55:00.001-08:002018-12-19T16:15:06.685-08:00Nota do Governo Provisório às potências aliadas (Nota Miliukov)<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"> No dia 18 de abril de 1917, o Governo Provisório da Rússia emitiu um comunicado internacional, a <i>Nota do Governo Provisório às potências
aliadas</i>, também chamada de nota Miliukov, endereçado principalmente aos governos da França
e da Inglaterra reafirmando suas alianças e consequente política de cooperação
na guerra. Tal documento explicitava as teses de Lênin e Trotski, segundo as quais, o Governo não poderia garantir nem a paz, nem o pão e nem a terra à classe trabalhadora russa.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">18 de abril de 1917</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: black; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;">"Em 27 de maço deste ano, o Governo
Provisório, em comunicado ao povo, expõem a sua posição de governo da Rússia
livre sobre as questões da guerra. O Ministro das Relações Exteriores
autorizou-me a divulgar este documento e fazer os seguintes comentários: nossos
inimigos têm tentado ultimamente minar as relações entre as potências aliadas,
espalhando boatos tendenciosos e absurdos, pelos quais a Rússia estaria pronta
a decretar uma paz com as monarquias centrais. O texto do presente documento
esclarecerá melhor tais suposições. Compreenderão através dele que, em linhas
gerais, a posição do Governo Provisório coincide com as idéias elevadas de vários
governos aliados, e que tiveram sua maior expressão em nosso novo aliado, a
grande república do Além-Atlântico. O governo do antigo regime, logicamente,
não tinha condições para assimilar e equacionar estes pensamentos sobre o
caráter libertador da guerra e para erguer bases firmes para a convivência pacífica
dos povos e a autodeterminação das nações oprimidas etc. Mas, a Rússia
libertada, hoje já pode dialogar com os democratas de vanguarda da humanidade
contemporânea, e tem pressa em unir sua voz ás vozes dos aliados. Imbuído deste
novo espírito de democracia livre, o comunicado do Governo Provisório não
poderia, de forma alguma, fazer supor que a revolução tivesse trazido o
enfraquecimento do papel da Rússia no contexto geral da luta dos aliados. Muito
pelo contrário, o desejo ardente mundial de vencer a guerra cresceu graças ao
despertar da consciência sobre a responsabilidade de todos e de cada um. Esta
ânsia tornou-se mais viva e real por estar dirigida contra um inimigo que
infiltrou-se na raiz de nossa pátria. É evidente que o Governo Provisório,
defendendo os direitos de nossa pátria, cumprirá com todas as suas obrigações
para com seus aliados. Plenamente convicto da nossa vitória, o Governo
Provisório tem máxima certeza quanto à pronta resolução de todos os problemas
levantados pela guerra, o que irá garantir uma paz duradoura. Considera também
que, unidas pelos mesmos objetivos, todas as democracias de vanguarda saberão
conquistar as garantias e sanções indispensáveis à precaução contra chiques
sangrentos no futuro".<br /><br />Noticiário do Governo Provisório<br />Nº 35/81 - 20 de abril (3 de maio) de 1917.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; text-indent: 0cm;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; text-indent: 0cm;">Nota do Governo Provisório às potências aliadas. </span><span style="font-size: large; text-indent: 0cm;">In: NENAROKOV, 1960, p. 60.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<o:p></o:p></div>
<br />Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-30052010198903621992018-12-19T15:17:00.004-08:002018-12-19T16:12:54.807-08:00Ordem nº1 do Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<o:p></o:p></div>
<span style="font-size: large;"><span style="text-indent: 35.4pt;">Após a onda de mobilizações e greves deflagrada pelas
mulheres e operários, seguiram-se as rebeliões militares na Rússia. Foi nesse processo que os
sovietes ressurgiam como afirmação do poder proletário. Dentro disso, foi emitida a Primeira Ordem do Soviete de Petrogrado, que explicitava
a ruptura do Exército com a ordem Czarista, cansados da política de guerra, militares
aderem aos organismos operários</span>: </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">Ordem nº1,</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">1º de março de 1917</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">1. Em todas as companhias, batalhões, regimentos, baterias,
esquadrões, demais divisões e postos militares e Conselhos da Marinha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de guerra, eleger imediatamente <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um Comitê entre os representantes dos escalões
mais baixos da divisões acima mencionadas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">2.Em todas as unidades militares que não escolheram ainda os
seus representantes para Soviete de Deputados Operários, eleger um representante
de cada companhia que deverá apresentar-se, com documentos de identidade, ao
prédio da Duma de Estado, às 10.00 da manhã do dia 2 de Março.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: white; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-block-end: 0em; margin-block-start: 0em; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0cm; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">3. Em
todas as manifestações e posições políticas o exército fica subordinado ao
Soviete de Deputados Operários e Soldados e seus comitês.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: white; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-block-end: 0em; margin-block-start: 0em; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0cm; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">4. As
ordens baixadas pela Comissão da Duma do Estado somente deverão ser obedecidas
quando elas não estiverem em desacordo com as determinações do Soviete de
Deputados Operários e Soldados.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: white; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-block-end: 0em; margin-block-start: 0em; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0cm; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">5. Qualquer
tipo de arma, quais sejam: fuzil, metralhadoras, carros blindados e outras, deverão
ficar sob o controle dos comitês das companhias e batalhões e, sob hipótese
alguma, deverão ser entregues aos oficiais, ainda que o exijam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: white; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-block-end: 0em; margin-block-start: 0em; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0cm; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">6. Em
serviço, os soldados devem seguir à risca a disciplina militar, ao passo que,
fora das funções, os soldados terão os mesmos direitos dos cidadãos, tanto política,
particular e socialmente. Na vida privada, estão licenciados do front e da
obrigação de sacrificar a honra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background: white; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; margin-block-end: 0em; margin-block-start: 0em; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0cm; widows: 2; word-spacing: 0px;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">7. Da
mesma forma, os oficiais ficam destituídos de títulos especiais. Assim de Sua
Eminência, e outros, passarão a ser chamados de Sr. General, Sr. Tenente-Coronel
etc. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">Ficam proibidos os maus tratos aos soldados de todos os escalões
militares e, em particular, o tratamento por "você". Diante de
quaisquer infrações desta ordem ou desentendimentos entre oficiais e soldados,
estes devem levá-los ao conhecimento dos comitês e companhias. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="color: black;"><span style="font-size: large;">A presente ordem deve ser lida em todas as companhias,
batalhões, regimentos, baterias e demais comandos militares. <br /><br />(Ordem nº1,
Soviete de Deputados Operários e Soldados de Petrogrado. In: NENAROKOV, 1960,
p. 36).<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-66800867834312019802016-10-11T19:24:00.003-07:002020-12-03T04:40:37.397-08:00Movimento operário e comissões de fábrica durante a década de 1970 em São Paulo<div style="text-align: justify;">
O texto é fruto das reflexões desenvolvidas na minha tese de doutorado: <i>Movimento operário e sindicalismo em Osasco, São Paulo e ABC paulista - rupturas e continuidades</i> (1968-1980). Abordo a organização do movimento operário em São Paulo durante a década de 1970. Mesmo sob intensa repressão militar, gestou-se no interior das fábricas uma camada de dirigentes sindicais e operários que se organizavam em comissões clandestinas, deste processo surgiu a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, que constituiu uma Frente de Trabalhadores onde atuavam variadas tendências políticas. Nesse setor agrupava-se os operários mais combativos da categoria, outro importante produto deste processo foi a Interfábricas, reunião de operários de diversas fábricas para deliberar por uma política de ação conjunta na categoria, também foi a Oposição Sindical Metalúrgica que impulsionou a primeira greve geral da categoria metalúrgica pós ditadura militar, em novembro de 1978. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 42.55pt;"><span style="text-indent: 42.55pt;">Alessandro de
Moura</span><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftn1" name="_ftnref1" style="text-indent: 42.55pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[1]</span></span></span></a></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">Resumo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">Abordo a
formação da Oposição Sindical metalúrgica de São Paulo e seu desenvolvimento ao
longo da década de 1970. Destaco a formação das comissões de fábrica
clandestinas, bem como a Interfábricas, “Piquetões” e o ciclo de greves de 1978
e 1979 em São Paulo, bem como as greves gerais de 1978 e 1979 na capital paulista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">Palavras-chave:
Movimento operário em São Paulo: Comissões de Fábrica: Interfábricas: Greves
gerais em São Paulo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">Introdução<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">O ciclo da luta sindical
da classe operária paulistana passou por dois refluxos significativos: o
primeiro foi imposto no imediato pós-golpe militar (1964-1966). O segundo
refluxo seguiu-se em consequência do AI5 decretado em dezembro de 1968,
estendendo-se até 1973. As atividades públicas e massivas do movimento operário
sofreram um declínio importante, mas mesmo sob a fase mais persecutória e
sangrenta da ditadura militar-burguesa, os operários protestavam, realizavam
pequenas paralisações e greves parciais nos locais de trabalho. Conforme
vermos, a partir de 1973, na conjuntura de agravamento da crise econômica
mundial, o movimento operário ganhou maior densidade na grande São Paulo, desembocando
no maior ciclo grevista da história do país. Assim, podemos notar que, dentro
da crise econômica mundial, no qual desdobrou-se também um ascenso mundial de
luta de classes, o operariado brasileiro foi protagonista de dos processos
importantes, o clico de 1968 e o ciclo de 1978-1980. Veremos então como se construíram
essas lutas em solo nacional.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Após o golpe militar-burguês de 1964 com
perseguição aos ativistas, militantes, dirigentes operários e sindicatos,
registrou-se um breve recuo das atividades sindicais e políticas no país, este
recuo se estendeu até 1966. Deste ano em diante, até 1968, registraram-se novas
atividades contestatórias à ordem militar e ao empresariado industrial. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Em Osasco e São Paulo formaram-se chapas
de oposição contra os interventores da ditadura e pelegos. Em Osasco, a partir
de comissões de fábricas, a <i>Chapa Verde</i>,
de oposição, venceu as eleições para a diretoria do Sindicato Metalúrgico da
cidade em 1967. Em Minas Gerais, Contagem, uma onda grevista foi desencadeada
por cerca de 15 mil operários em abril de 1968. Na sequência, em Osasco, a
diretoria recém empossada do Sindicato dos Metalúrgicos organizou o operariado
para intervir na comemoração Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé e expulsar
Abreu Sodré e os sindicalistas pelegos que colaboravam com a ditadura. Em julho
de 1968 deflagram greve e ocupação na Cobrasma. Após essa onda de mobilizações,
que se deu dentro primeira fase da crise econômica internacional, o governo
militar respondeu às mobilizações com uma nova fase repressiva.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 36.0pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Além do exemplo da luta de 1968, a comissão de fábrica
e grupos clandestinos organizados por seções, mantiveram sua validade como
ferramenta organizativa, mostrando poderiam ser utilizadas em diversas outras
fábricas e regiões. De acordo com o relato de Hélio Bombardi, operário na
Massey Ferguson durante a década de 1970 e um dos principais dirigentes da Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10.0pt;">A ideia da Comissão de Fábrica vem com a questão da
organização de Osasco, basicamente a Comissão de Fábrica de Osasco. Era uma
coisa que alguns militantes, poucos, mas alguns militantes tinham uma referência
bastante grande no que tinha acontecido em Osasco. Na questão da Comissão de
Fábrica da Cobrasma, na questão da tomada do Sindicato por esse povo, o Zé
Ibrahim, o Roque, o Julião, todo o povo que frequentou lá e outros aqui que não
me vem na memória agora, e particularmente a gente tinha alguns companheiros de
Osasco que tinham passado direta ou indiretamente por essa experiência. Um caso
específico mais marcante era o companheiro Arsênio. Eu tinha contato com o
Arsênio, a gente se conhecia e outros companheiros, o Zé Pedro que também era
de Osasco, o Natalino. Então eu conhecia alguns companheiros de Osasco, porque de
certa forma frequentava, tinha parentes inclusive em Osasco na época, então
comecei a ter uma ponte maior com esse povo todo e eu achava que era uma
experiência legal e que a gente devia avançar. Na época eu achava assim, era a
grande experiência, a questão da Comissão de Fábrica. Quando falo Comissão de
Fábrica eu digo, a Comissão dentro da fábrica, os operários escolhendo a
Comissão, a questão da tomada do Sindicato, o fim da estrutura sindical, agora
da onde vem a grande coisa? A grande veio de Osasco, os materiais que comecei a
receber de Osasco, a discussão com vários companheiros de Osasco que volta e
meia relembravam o que tinha sido Osasco. Até fui pra Osasco na época, mas eu
não era exatamente uma pessoa conhecida em Osasco. Isso na verdade é que me
norteou muito, é a questão basicamente da Comissão de Fábrica e a questão da
tomada do Sindicato em Osasco. Então aí quem tem um papel fundamental num
primeiro momento é o companheiro Arsênio, o Zé Pedro e outros companheiros da
Frente Nacional do Trabalho que também passa a ver uma saída, o caminho é esse.
O caminho é ser organizado dentro da fábrica, não é o que o Sindicato faz, esse
Sindicato que está aí é um sindicato pelego e nós temos que trabalhar pra
organizar a fábrica. Ao mesmo tempo temos que sindicalizar o povo, no início
era sim, não era nem formar, nós vamos pra uma luta, nós temos que ir pras
assembleias, ver o que a gente quer dentro da assembleia, ficar forte pra um
dia tomar o Sindicato. Esse é o referencial do Sindicato de Osasco e da Comissão
de Fábrica de Osasco. (Entrevista - Hélio Bombardi, concedida ao IIEP, 2007).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 36.0pt;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O mais significativo era que essa forma de atuação,
centrada nas comissões e grupos de fábrica, abria espaço para as iniciativas
políticas e organizativas do operariado. Quando perguntei a Anízio Batista se
as comissões de fábrica de Osasco serviram de inspiração
para as comissões em São Paulo, ele respondeu que na Villares os operários
chegaram a fazer uma cópia da comissão da Cobrasma, organizando-se a partir de
cada seção. De acordo com seu relato: “Nós tínhamos uma organização muito bem
feita dentro da empresa. Então, em cada seção, nós tínhamos uma liderança que
discutia com a gente”. (Entrevista - Anízio Batista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><b><span style="line-height: 150%;">Muito parecido
com o que foi na Cobrasma?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Sim. Muito parecido! Talvez nós fizemos uma cópia dela... Da experiência
da Cobrasma...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10.0pt;">Todo o trabalho que girou, em termos da preparação das
oposições sindicais de São Paulo e em nível nacional, ela girou em cima da
formação das comissões de fábrica. Portanto, todas as empresas que eu
trabalhei, em metalúrgica, eu criei comissão de fábrica clandestina né, naquele
tempo, você não podia ir negociar com o patrão e falar que você tinha uma
comissão de fábrica legalizada né, o patrão ia mandar todo mundo embora no ato
né... Então a gente criava as comissões de fábrica clandestina, você reunia
fora da fábrica, por exemplo, discuti os problemas da fábrica e muitas vezes
nós fazíamos os panfletos próprios de cada fábrica e como nós não podíamos distribuir
nas portarias, nós deixávamos nos banheiros, pregávamos nos banheiros, deixava
nas máquinas do trabalhador. Nós chegávamos mais cedo, meia hora antes, por
exemplo, deixava em cima das máquinas... Então nós alertávamos o trabalhador
que nós estávamos sendo... O que nós estávamos perdendo... Em termos salariais,
em termos... Restaurante, naquele tempo, tinham poucas empresas que tinham
restaurante, nós brigávamos muito por restaurante, por material de... Luva,
macacão, esse negócio todo aí, entendeu... Então, era muito... Eram as coisas
básicas que não tinha... Então era muito por aí... (...) O trabalho de
formiguinha começou por aí. (Entrevista - Anízio Batista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 150%;">Assim, a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo foi a
principal depositária das experiências de Osasco. De acordo com o relato de Stanislaw,
que foi operário tanto em Osasco como em São Paulo, tendo militado na Oposição
Sindical Metalúrgica:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10.0pt;">Osasco era onde estava o <i>mana</i>, porque Osasco era onde estava a comissão de fábrica
legalizada. Uma comissão de fábrica que se construiu inicialmente como grupo,
depois se legaliza como comissão e depois vira sindicato. Ela faz uma crescente.
E depois do sindicato assume o papel político do sindicato. (Entrevista - Stanislaw Szermeta).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12.0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="line-height: 150%;">Com base nas
experiências de Osasco, os operários da Oposição Metalúrgica de São Paulo
centraram-se nos processos moleculares de auto-organização nas fábricas. Esse trabalho,
articulado desde 1968, passou a ter maior expressão a partir de 1973/1974. Como
nos relatou Stanislaw:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">P<span style="font-size: 10pt;">ara mim a coisa vai se organizar mesmo a partir de 1974, aí
vale a experiência de Osasco, aí vale a experiência dos grupos de fábrica, aí
vale a comissão de fábrica. Então você tinha a ideia: Você vai para a fábrica,
na fábrica você começa a fazer o que? As
lutas específicas. Aí já começa a ideia da construção do chamado grupo de
fábrica (...). Porque você tinha que entender que a gente estava em plena
ditadura né (...). Porque para participar do grupo de fábrica não precisava ter
a consciência socialista, precisava ter disposição de luta (...). Aí a Oposição
Metalúrgica de São Paulo começa a criar um processo de organização que era
assim: atuava por região, e tinha uma coordenação. (Entrevista - Stanislaw
Szermeta).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 150%;">Durante toda a década de 1970, a Oposição atuou com foco na
formação de comissões e grupos clandestinos como forma de auto-organização pela
base. Construiu comissões nas principais fábricas de São Paulo e disputou
eleições sindicais<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftn2" name="_ftnref2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a>. O
ideário de organização pela base, via comissões de fábrica, se defrontou com a
linha sindical e política praticada a partir do Sindicato do ABC, que se
centrava na força do aparato sindical e não da auto-organização de comissões no
chão de fábrica. (MOURA, 2015). Com tudo isso, evidenciou-se que não foi fácil
derrotar a luta operária, mesmo o golpe militar-burguês de 1964 não foi capaz de
extinguir o ativismo sindical e político. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">A Oposição Metalúrgica de São Paulo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em São Paulo a Chapa Verde não vence as eleições
sindicais de 1967, mas constitui um núcleo de operários que se organizaram
progressivamente durante a década de 1970 criando a Oposição Sindical
Metalúrgica de São Paulo, que foi uma <i>Frente de Trabalhadores</i> fabris que
se inspirou diretamente no exemplo dos operários de Osasco. Incorporando
àquelas experiências, criaram comissões e grupos clandestinos que realizaram
paralisações, operação tartaruga, greves parciais e disputa pela direção do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">A Oposição em São Paulo deu
seus primeiros passos entre 1967 e 1972, sua aglutinação inicial foi motivada
pelas disputas eletivas para o Sindicato de São Paulo. A partir de 1974, além
de criar dezenas de comissões de fábricas clandestinas, criou também as
interfábricas, espécie de conselhos operários que interligava militantes de
diversas fábricas da cidade. No entanto, a expressão maior da Oposição Sindical
Metalúrgica é verificada em sua terceira fase 1975-1980. Dentre as forças
políticas que compunham a Oposição estavam: Ala Vermelha, Ação Popular, POLOP,
POC, PORT, PCdoB, Grupo 1º de Maio, membros da Pastoral Operária, militantes
independentes, entre outros. O ponto de convergência entre estas diversas
correntes políticas era a organização no chão de fábrica, com base nessa
convergência se formava uma frente de trabalhadores. Conforme nos relatou
Stanislaw Szermeta, que foi operário e militante da Oposição e do POC:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; tab-stops: 10.0cm; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">Mas aí, esse processo
todo, se dá uma coisa que se chama, no processo de atuação nas fábricas, se dá
uma ideia que se chama: Frente de Trabalhadores. Esse é o cerne da construção
das lutas dentro das fábricas. O que é a Frente de Trabalhadores? É onde está
organizado, dentro da fábrica, a garantia da unidade. Não tinha vários grupos
dentro da fábrica, tinha um grupo dentro da fábrica. Esse grupo se organizava
no processo da construção da luta das reivindicações específicas e garantia a
unidade. E garantia o programa, e garantia, por exemplo, as reivindicações. Não
era uma coisa fácil, você tinha que organizar, chamar os trabalhadores, reunir,
fazer, por exemplo, um boletim. Esse boletim era distribuído dentro da fábrica.
Quem fazia isso? A Oposição. Aí você tinha um setor organizado da Oposição que
fazia esse boletim, que era distribuído. Não pela gente, mas pelos
trabalhadores, que iam lá e distribuíam. Aí era cacete, cacete nos patrões,
cacete na Diretoria [do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo], cacete no
governo... E você tá no meio da ditadura. Então não era também fácil
distribuir. A questão foi, depois, melhorando, entende? Mas por exemplo, tinha
lugar que você tinha que distribuir e cair fora, porque os caras chamavam a
polícia. Você começava a distribuir o material e o cara chamava a polícia. Você
tinha 5 ou 10 minutos, para distribuir o material. Depois de 1978 é que a coisa
foi ganhando... Mas não tinha muita moleza. (Entrevista - Stanislaw Szermeta).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Nesse período do
"milagre" econômico (1969-1973), que foi um processo de
sobreacumulação de capital baseado na superexploração do trabalho e no
endividamento externo, nas fábricas registrava-se acelerado ritmo de trabalho,
baixos salários e milhares de acidentes. Concomitantemente, em 1974 e 1976 o
Brasil foi campeão mundial de acidentes de trabalho. Nesse terreno
desenvolve-se a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, opondo-se ao
colaboracionismo da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo,
dirigido por Joaquinzão pelego (aliado da ditadura e do empresariado), a
Oposição atuava denunciando as precárias condições de trabalho, ajustes
salariais em atraso, mas também as violências perpetradas pela chefia
autoritária, atrasos de pagamentos, insalubridade, falta de banheiros, falta de
refeitórios, péssima qualidade da comida servida nos restaurantes e cantinas
das fábricas, falta de equipamentos de segurança etc.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Todas estas demandas
imediatas do local de trabalho serviam como pontos de partida para
abaixo-assinados, reuniões, boletins clandestinos e formação de grupos, com
isso articulavam-se paralisações por seções e "operações tartaruga",
que consiste na diminuição organizada do ritmo de trabalho como forma de
protesto. Essa variada gama de atividades sindicais (para além das conquistas
econômicas) servia também para aprofundar a coesão entre os operários. Pois as
lutas específicas, com demandas imediatas, funcionam como polo de aglutinação,
troca de ideias, de experiências e desenvolvimento de laços de confiança. Os
operários podiam fazer experiências e saber em quem podiam confiar
politicamente. Ao mesmo tempo fortaleciam a confiança em si mesmos e na
categoria. Já as correntes, tendências políticas e partidos, atuando nesses
espaços, podiam identificar os principais contatos de seu interesse,
dividindo-os entre militantes sindicais e políticos. Alguns desses podiam ser
convidados para reuniões em separado, junto àquelas organizações e tornarem-se
membros delas. Os operários mais experimentados tornam-se base para construção
de processos de luta que demandam "quadros mais sólidos", com maior
acúmulo político e teórico. Por meio desse trabalho que se formava uma camada
de dirigentes operários ligados às bases fabris e aos protestos operários.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Nesse processo, a
Oposição Metalúrgica de São Paulo chegou a reunir 68 metalúrgicos em um
congresso clandestino realizado em 1971. Nessa primeira fase de formação da
Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (de 1967 até 1972), sua importância
é maior como polo de aglutinação de militantes do que como uma força política
com capacidade de influência no cotidiano operário. Para essa aglutinação
inicial, foi central a perspectiva de construção de grupos de fábrica,
comissões clandestinas e ampliação das bases para além dos operários sindicalizados<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: black; font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a>. Conforme relatou Cleodon
Silva, que era operário, militante da POLOP e da Oposição Sindical:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">Em 71 nós participamos,
fizemos a Chapa Verde em 72, mas era assim... a Oposição não tinha...a
organicidade se dava mais em véspera de eleição, 72 foi bem isso e era assim, a
organização ainda não era por setor, era mais por trabalho existente, era
assim, tinha a turma do [Waldemar] Rossi, a turma do Dantas, a turma do Aurélio
e tinha também a turma do Silva, inventaram a turma do Silva que a gente reunia
com o conjunto de trabalhadores na fábrica e a gente já tinha uma certa
expressão naquele momento. Isso em 72. Passou a Chapa Verde, ficou de 73 a 74
era muito...a gente se encontrava, mas o movimento ainda estava muito nessas
articulações isoladas. O Aurélio [Peres] com a turma dele lá que veio da depois
da AP e os grupos se encontravam mais assim na campanha salarial ou antecipação
salarial, algumas campanhas do sindicato, mas a organicidade ainda em termos de
São Paulo não existia, era muito frágil. (Entrevista - Cleodon Silva, concedida
ao IIEP, 2007).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Nessa primeira fase da
oposição, de aglutinação de pequenos grupos de resistência, a oposição não possuía
nenhum programa político claro, centrava-se na formação de grupos de apoio. Em
publicação do POC, <i>Problemas de organização do movimento operário brasileiro</i>,
apontava-se que a Oposição não se constituía ainda como alternativa suficiente
na luta contra os pelegos representantes dos interesses da patronal e da
ditadura: "Apesar de nas eleições de 1972 muitos operários da oposição
compreenderem essa perspectiva de auto-organização, na prática a oposição
sindical constituiu-se uma alternativa insuficiente ao ’peleguismo’. (POC,
1977). Isso porque, de acordo com o balanço do POC, a oposição sindical:
"limitava-se a denunciar a traição dos pelegos sem, no entanto, procurar
saídas práticas por fora da estrutura integrada". (Idem).<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><b><span style="background: white;">Figura 1 - panfleto da Oposição Sindical<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center; text-indent: 35.45pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shapetype
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<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">Com o inicio da crise do "milagre", a Oposição
Sindical se expande<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">A Oposição Sindical ganhou
maior densidade a partir de 1973, sobretudo por conta da nova fase de ativismo
operário que se inicia e se combinava com o agravamento da crise econômica mundial
e os atritos entre as frações da classe dominante brasileira. As correntes
políticas e sindicais que se organizavam em São Paulo por causa de sua
importância industrial, encontravam na Oposição um espaço possível de atuação
política e de construção. Com um grande parque produtivo, o movimento operário
paulistano era atrativo para as correntes de esquerda organizada em uma
variedade de grupos políticos que "giram" militantes para
inserirem-se nas fábricas, para compor a Oposição Sindical Metalúrgica, mas
também as comissões clandestinas, as interfábricas, sociedades amigos de bairro
etc. Como nos relatou Sebastião Neto, que era operário e militante da Oposição:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">(...) Pouco a pouco, foi
ficando claro que o sindicato mais importante do Brasil, operário, era o
Metalúrgico de São Paulo. Então todo mundo que podia, queria militar em São
Paulo, todo mundo botou gente aqui. Depois, você tem que pensar que a luta
armada começa a se esgotar no começo da década de 1970, também, muita gente
falou: ‘Puta, luta armada, não é por aqui’, vieram ajudar [na Oposição]... As
vezes nem na Oposição, mas no bairro, porque o cara estava queimado, tinha
saído da cadeia, a companheira... Então esse pessoal... Então assim, não dá pra
separar muito a Oposição metalúrgica do trabalho de bairro que é outra
característica nossa. (...). (Entrevista - Sebastião Neto).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Junto às correntes
políticas, também os militantes da esquerda católica, com a criação da Pastoral
Operária no início da década de 1970, davam cada vez mais importância à
construção da Oposição. De acordo com relato de Cleodon Silva:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">(...) o movimento
operário cristão antes de 64 fazia a crítica ao populismo, mas muito...Vinha
ainda carregado de um ranço forte anticomunista. Esse anticomunismo do
movimento cristão, principalmente católico, ele vem sendo abandonado com o
surgimento da Ação Popular dentro da própria igreja, que depois ela vai cada
vez mais a passos largos assumir a luta pelo socialismo e influindo na igreja
de uma forma geral, inclusive na questão da Teologia da Libertação. E alguns
grandes representantes que batalharam nisso, que estiveram juntos nas lutas
operárias, de resistência popular, como alguns bispos importantes, vários, que
tiveram nessa linha e ajudaram muito mesmo no processo de organização do
movimento operário e que foi trabalhando a questão da organização de base. Na
medida em que se afastaram do anticomunismo foram se aproximando do socialismo,
permitiu essa junção. A nossa experiência que vinha da esquerda possibilitou um
bom diálogo com as lideranças católicas e o Waldemar [Rossi] é um grande
exemplo dessa aproximação. Até hoje o Waldemar esteve junto com a gente em
todos os momentos, inclusive até hoje tem uma posição bem mais radical do que
no passado. O Rossi é um exemplo ao contrário, dizem que a juventude é radical
né, e ele faz o caminho inverso, vai do conservador ao radical. (Entrevista -
Cleodon Silva, concedida ao IIEP, 2007).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Como podemos observar no
relato de Cleodon, a crescente luta operária, ao longo da década de 1970,
acabava por aproximar os grupos de resistência, criando espaços de luta comum a
partir das fábricas e locais de trabalho. Mesmo setores que eram caracterizados
como mais conservadores em relação às correntes do campo da esquerda marxista,
buscam superar limites político-ideológicos e convergir com aspectos do
marxismo. De acordo com Cleodon:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">(...) aos poucos com a
Pastoral Operária foi tendo abertura com a experiência que veio da Ação Popular
dentro da igreja, foi abrindo e criando uma vanguarda operária mais
comprometida com o pensamento operário e aí ele se encontrava com o pensamento
socialista. Então foi possível num determinado momento a necessidade de
organizar os trabalhadores dentro das fábricas, combater o populismo, combater
todas aquelas experiências de manipulação dos trabalhadores. Foi aproximando
essa vanguarda, uma vanguarda do movimento operário católico com o movimento
operário socialista. Nós fomos avançando cada vez mais, inclusive com a própria
experiência da esquerda, da derrota e da autocrítica da esquerda armada. Vários
militantes que passaram por essa experiência também se aproximaram da Oposição.
Foi havendo uma aproximação e um clima de debate, começou a avançar dentro da
gente a necessidade, primeiro a tolerância de reconhecer posições diferentes
que pouco tempo atrás não existia, cada um era colocado quase que como inimigo,
então dentro da Oposição foi havendo uma aproximação e reaproximação de
companheiros dentro de uma perspectiva de uma Frente de Trabalhadores e foi consolidado
todo o período mais fértil da Oposição Metalúrgica que se deu com a prática da
Frente de Trabalhadores. Deixamos de respeitar qualquer tipo de acordo de
cúpula e organizações e começamos a basear todo o processo de organização a
partir dos trabalhos existentes e a representação do trabalho fabril. Essa
relação do conjunto desse trabalho foi o que começou a fundamentar um
pensamento da Oposição em termos de Frente de Trabalhadores. (Entrevista -
Cleodon Silva, concedida ao IIEP, 2007).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">O ambiente interno da
Oposição Sindical funcionou efetivamente como uma <i>frente de trabalhadores</i>
que permitiu compartilhar experiências, construir atuações conjuntas e fusionar
ideias teóricas e políticas nas bases operárias. A convivência de múltiplas
tendências políticas fez com que a Oposição fosse se transformando desde as
eleições sindicais de 1967 e constituindo um programa de ação básico.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Assim, de acordo com depoimentos
que colhemos com operárias e operários que militaram no período 1969-1973, é equivocado
caracterizar esse período como de passividade absoluta. Ainda que duramente
reprimidas, a auto-organização e paralisações não cessaram, por exemplo, operários
da Mercedes interrompem o trabalho no dia 26 de março de 1969, motivo pelo qual
a empresa demitiu 80 operários. Também nesse ano, registrou-se mobilizações na
Aliperti, em fábricas do grupo Matarazzo, na Arno e na Alfa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="margin-top: 6.0pt;"><b><span style="line-height: 150%;">1969-1973:
organização operária clandestina dentro do refluxo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Conforme registro da Ação
Popular, no boletim Libertação (1969): "Os valentes companheiros da
Mercedes fizeram uma greve em 27 de março último sem ligar para a lei que
proíbe a greve e perto de 700 a mil operários, entre 10 mil da Mercedes,
pararam reivindicando 50% de reajuste salarial". (AÇÃO POPULAR, 1969, p.
273). No mesmo boletim acrescentam que: "Depois do Ato 5 já houve pelo
menos seis greves parciais no ABCD: na Resil, na Multibrás, na ferramentaria da
Volks, duas paradas em duas seções da Chrysler e agora essa parada maior de várias
seções da Mercedes Bens". (Idem, p. 275). Também em 1969 registrou-se
greve na Villares e na Hobart Dayton. De acordo com publicação da Oposição:
"Na Arno, o pessoal fez algumas paralisações em 1968, 69 e 70, com prisões
em seguida" (GET-Urplan, 1982, p. 30). Também o jornal Voz Operária (PCB)
registrou atividade operárias em 1972:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">E em São Paulo, em 1972,
eclodiram onze greves somente na área da Grande São Paulo, sendo oito no setor
metalúrgico e outras no setor gráfico, alimentação e construção civil. (...). E
três greves foram efetuadas por cima da lei antigreve, sendo duas na Aço
Villares (2.600 operários) e uma na Cerâmica, todas em São Caetano, plenamente
vitoriosas na reivindicação do pagamento em dia. (VOZ OPERÁRIA, 1973, p. 90).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em 1973, foram realizadas
paralisações e operações tartaruga na Villares, eram fábricas onde a Oposição
desenvolvia trabalho. Também, conforme nos relatou Elias Stein, operário que
foi militante da Ala Vermelha e membro da chapa da Oposição de 1972, em 1973 os
operários da Hobart Dayton, onde trabalhava, decidiram fazer uma "greve de
hora-extra" até receberem reajustes salariais.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">No segundo semestre de
1973, são deflagradas novas greves na indústria automobilística de São
Bernardo: Volkswagen, Chysler e Mercedes Benz, fazem "operação
tartaruga" e "operação zelo" (nesta a produção é reduzida com
argumento de fazer peças perfeitas). Foram todas greves sem a participação do
Sindicato do ABC.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">O Jornal Voz Operária, no
artigo <i>Greves em São Paulo</i>, registrou a sequência de greves em 1973
centradas no eixo industrial paulistano. De acordo com o Jornal, apenas no
primeiro semestre ocorreram 15 paralisações. No segundo semestre, nova
sequência de 19 greves foi registrada. As greves eram motivadas pelas precárias
condições de trabalho, insalubridade, opressão da chefia, intenso ritmo de
trabalho e por reajustes salariais.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Ainda em 1973
registrou-se greves parciais na Villares, fábrica localizada no Cambuci-SP, com
cerca de 2.500 operários. Anízio Batista, que era operário nessa fábrica,
participou da comissão clandestina que organizou paralisações por seções, relatou
que essa foi chamada de "greve pipoca", porque alternavam-se as
seções paralisadas. Os operários dessa fábrica chegam a realizar uma assembleia
com 1.500 operários no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Ainda, depois
de encerrarem a greve, voltam a fazer uma operação tartaruga. Essas
mobilizações de 1973 na Villares foram vitoriosas. Conforme relatou Anízio:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">Nesta época, a gente
formou a comissão de fábrica [clandestina] na Villares, isso já porque também
nós tínhamos a organização da Oposição Sindical Metalúrgica também em cima
disto aí... E, talvez você não se lembre, mas na época do Regime Militar, o
Delfin Neto, que era o Ministro da Fazenda na época, da economia... Então nós
estávamos reivindicando na época, mesmo nas assembleias sindicais, não me
lembro direito quanto era, sei que nós tínhamos uma perda salarial enorme...
Então o que aconteceu, nós negociamos na época com a patronal, naquela época
por exemplo, a FIESP era na Avenida Rio Branco, entendeu... E o Sindicato,
quando nós tínhamos assembléia, tirava uma comissão da assembleia dos
metalúrgicos para acompanhar as negociações junto com o sindicato, e eu,
sempre, por várias vezes, eu acompanhei realmente as negociações do sindicato.
Eu sei que na época foi 5% que nós conseguimos de aumento, que a empresa deu...
Deu não, era uma determinação do Governo Federal né, e nós não concordamos com
aquele aumento. A gente não concordou. O que a gente fez, porque a Villares
tinha antecipado essa parte para nós já, então o que que aconteceu... Aí a
nossa organização interna por exemplo, na Villares, que naquele tempo você
fazer uma greve só numa empresa só era muito difícil... O que nós planejamos da
greve nossa na Villares foi uma novidade: a greve pipoca. A greve pipoca era o
seguinte, nos parávamos de manhã uma hora, começava a trabalhar, parava uma
hora a tarde, começava a trabalhar, dia seguinte era a mesma coisa, parava de
manhã e parava a tarde. Então a greve pipoca era assim, nós parávamos de manhã,
parava à tarde e com isso nós negociávamos com a empresa o não-desconto da
antecipação que eles tinham dado e mais 10% do salário né. (...). E aí com
todos... Depois de uma semana, nós fazendo essa greve aí, aí a Villares acabou
cedendo na verdade. Ela cedeu mais 5 ou 6%, não me lembro bem direitinho, na
época... Então nós conseguimos essa vitória. (...). Nós tínhamos uma
organização muito bem feita dentro da empresa. Então, em cada seção, nós
tínhamos uma liderança que discutia com a gente. (Entrevista - Anízio Batista).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">A greve na Villares, construindo
resistência e desafiando às imposições do empresariado industrial e da ditadura,
marcou o início de uma nova etapa de atuação operária. Desse ano em diante,
marcado pela desaceleração da economia e esgotamento do "milagre"
econômico, novos movimentos foram realizados progressivamente. Além do ativismo
operário, o fim do "milagre" produziu divisões entre as frações da
burguesia e crise da dominação ditatorial, o que por sua vez abriu espaço para
o fortalecimento da luta operária. O trabalho persistente e orgânico no dia a
dia da fábrica garantia a formação de pólos de militantes. De acordo com o
relato de Stanislaw Szermeta:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="background: white; font-size: 10pt;">Então a partir do final
de 1973, começo de 1974, começa... A grande crise começa a girar em torno do
petróleo, uma crise internacional, e começa a despontar grupos e resistência
dentro da fábrica, com a proposta de grupos de fábrica. E aí que se dá o início
do processo da resistência dos trabalhadores, que é grupo de fábrica. Isso é
assim... Uma coisa muito difusa, que precisaria ter um... Eu não tenho uma
visão... Mas era uma proposta, a gente pode dizer assim... Nacional nos
núcleos, nos lugares onde houve um crescimento econômico, nas grandes
concentrações de grandes empresas. Então você vê Osasco, você vê São Paulo,
Guarulhos, São Bernardo, Santo André, Rio de Janeiro. O conjunto desses
lutadores começa a gestar uma ideia da construção de grupos de fábrica, mais ou
menos final de 1973 e início de 1974. (...). Só foi se recuperar... A luta só
foi se recuperar porque era um crescimento tão violento, mas tão violento que,
por exemplo, os acidentes dentro das fábricas... Criaram um clima. O brasileiro
era campeão mundial de acidente de perda de olho na produção, soldador,
torneiro. Não era só precário, é que o ritmo era tão intenso que (...). Vai
melhorar mesmo no final de 1973 e 1974, que começa a luta, e começa as ideias
de implantação dos grupos de fábrica. Aí é que começa a luta dos grupos de
fábrica. (Entrevista - Stanislaw Szermeta).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Os relatos arrolados
sobre o período 1969-1973, ao invés de apontarem "silêncio e
imobilismo" absoluto, indicam a estruturação celular da fase de
organização da militância clandestina fabril.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><b>Figura 2: Oposição Sindical
Metalúrgica de São Paulo<o:p></o:p></b></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;"><span style="line-height: 150%;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_i1026"
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<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Para Anízio, ao invés de
considerar o período 1969-1973 como um período de refluxo, o mais preciso seria
considerá-lo como um período de articulação orgânica dos operários e militantes
sindicais. Segundo seu relato, no início de 1970 a Oposição já havia
constituído comissões clandestinas em várias fábricas importantes de São Paulo:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Nós tínhamos na MWM, nós tínhamos na mesma
fábrica que o Waldemar trabalhou, não me recordo o nome, a que o Waldemar
trabalhou... Nós tínhamos a Arno, na empresa Arno, por exemplo. Na Lorenzetti
(...). A Ford aqui em São Paulo tinha, na Ford aqui no Ipiranga. (...). Muitas
comissões de fábricas... Era bastante. (...). Na zona sul era Villares,
Carterpillar, MWM. Ali na Nações Unidas, ali tinha uma infinidade de
metalúrgicas, ali era muito grande, metalúrgicas grandes... (Entrevista -
Anízio Batista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">Os grupos e comissões clandestinas se afirmavam
como as principais formas de agregação de militantes no chão de fábrica, a
exemplo de Waldemar Rossi que relatou: "Ah, em toda fábrica que eu passei,
sempre formei grupos. Sempre formei. Mas aí, era bastante observado, seguido
né". (Entrevista - Waldemar Rossi). Essa mesma forma de atuação
constituída como "linha chave", era seguida como orientação principal
da Oposição Sindical Metalúrgica, nas palavras de Waldemar: "A marca da
Oposição era a organização no local de trabalho". (Entrevista - Waldemar
Rossi). Além de se organizar por fábricas, os militantes e ativistas da
Oposição, chegaram a conclusão de que era preciso articular-se para além dos
locais de trabalho. Fazia-se necessário colocar os operários das diferentes
fábricas em contato. Surgiu assim a interfábricas.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="margin-top: 6.0pt;"><b><span style="line-height: 150%;">Interfábricas:
embriões de conselhos operários<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Dentro desse processo de
organização por fábrica, ganhou expressão, a partir de 1973-1974, as reuniões
clandestinas chamadas de interfábricas, das quais participavam operários de
várias fábricas e deliberavam por ações conjuntas. As interfábricas começaram
com simples encontros de operários para discutir problemas nos locais de
trabalho e militância, mas ganhou característica de fórum auto-organizado pelos
trabalhadores de várias fábricas para deliberação de políticas sindicais
conjuntas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Essa organização ainda</span> <span style="background: white; line-height: 150%;">incipiente dos núcleos fabris dispersos estava
imersa em dificuldades, mas mostrava-se como uma ferramenta organizacional
útil. Conforme analisava a publicação do POC - Partido Operário Comunista, que
atuava na Oposição Sindical, embora se reivindique a importância das
interfábricas, apontou-se que os seus dirigentes ainda não reconheciam completamente
a importância daquele fórum:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;"><i><span style="font-size: 10pt;">O ano de 1974 mostrava uma das primeiras experiências de
organismos interfábricas baseados na ideia das comissões operárias. Mas, apesar
de seu pioneirismo - devemos lembrar que as interfábricas eram de várias categorias
profissionais - o movimento mostra muitas debilidades, não reconhecendo
inclusive sua própria importância. A participação na campanha salarial de 1974
não mostra nenhuma grande inovação ou avanço comparada com a de 1973. (POC,
1977, p. 203).</span></i><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Pela positiva, cabe
destacar que, mesmo com debilidades e dificuldades organizacionais, os pequenos
núcleos operários nas fábricas, comissões clandestinas e as interfábricas, buscavam
ampliar sua organização. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><b>Figura 3 - Forma de funcionamento
da Interfábricas<o:p></o:p></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: center; text-indent: 0cm;"><!--[if gte vml 1]><v:shape
id="_x0000_i1027" type="#_x0000_t75" style='width:426pt;height:291.75pt'>
<v:imagedata src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image005.jpg"
o:title="Figura 3"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img height="389" src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image005.jpg" v:shapes="_x0000_i1027" width="568" /><!--[endif]--><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.3pt; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 8pt;">“Comissões de Fábrica”. Cadernos
publicados pela Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo em 1982. In: <i>Investigação operária: empresários,
militares e pelegos contra os trabalhadores</i>. 2014 – São Paulo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Conforme nos relatou
Stanislaw Szermeta, as reuniões interfábricas eram formas de reunir os
militantes mais ativos de cada fábrica, tanto para organizar uma base para a
Oposição, fortalecendo a luta contra a gestão do peleguismo, como para
articular o operariado nos locais de trabalho para greves e demais atividades
sindicais:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Interfábricas era quando a gente reunia
várias fábricas. Era praticamente um conselho, só que não era um conselho, não
tinha esse nome, e também não tinha esse entendimento. Mas era, a ideia, você tinha que animar, você
tinha que animar, mostrar para esses trabalhadores que não era só eles que
estavam lutando. Eles não podiam ter a sensação de que só eles estavam fazendo.
Tinha que ter a sensação de que a Diretoria, o sindicato, não fazia esse papel.
Esse papel das interfábricas era um papel tirado para animar, para dar
motivação para as lutas ganharem mais unificação. Você tinha trabalho tanto na zona
sul, na zona oeste, como na sudeste, zona leste, Mooca, você tinha um conjunto,
toda uma estrutura, organizada pela base. Inclusive, o pessoal do Lula, esse
pessoal todo, nos acusavam de ser um partido. Porque eles falavam que a gente
fazia isso mas não atuávamos no sindicato. E não é verdade isso. Quando
tínhamos condições nós íamos para o sindicato, como foi feito em 1978 e 1979.
Não procede, entende? (Entrevista - Stanislaw Szermeta).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><b><span style="line-height: 150%;">Quantas
reuniões tiveram do interfábricas?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Centenas, centenas, centenas. Era um
período, era um período que a gente se reunia. Sei lá, Carterpillar, tinha Metal-leve,
as fábricas se reuniam em separado, fazia processo de luta. Agora, em
determinados momentos era que se fazia, mas na proximidade das lutas mais
gerais é que a gente se reunia. Mas as reuniões por fábrica... (Entrevista -
Stanislaw Szermeta).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">As reuniões interfábricas
eram articuladas a partir de chamados clandestinos, reunindo-se em Igrejas às
escondidas, funcionavam como um organismo de base para articulação da luta
operária, servindo tanto para organizar as lutas econômico-sindicais, como a
luta política antiditadura. Das reuniões interfábricas participavam também militantes
de correntes políticas e partidárias que haviam estruturado trabalhos no
interior das fábricas. Hélio Bombardi, operário que trabalhava na Massey
Ferguson, e começou a militar em 1973, denota o papel que cumpria as interfábricas:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) começam a acontecer final de 74, 75
o que eu acho que é o marco, pelo menos na minha vida, que é a Interfábrica da
zona sul, que é onde as pessoas de várias fábricas diferentes da zona sul
começam a sentar pra discutir suas experiências e tinham diferentes níveis de
experiência, desde pessoas que estavam em fábricas pequenas, fábricas médias,
fábricas que eram muito difíceis, complicadas, fábricas que eram extremamente
repressivas e até algumas que eram fábricas bem maiores pra época e pro contexto,
naquela região eram fábricas de ponta de linha que era a Caterpillar, que era a
Villares, que era a Massey Ferguson e que a gente começou a fazer essas
reuniões e tinha um método que eu achava muito legal: “Como está sua fábrica,
com quantas pessoas conseguiu conversar, que tipo de discussão vocês têm lá
dentro, que tipo de problemas, vocês estão pensando em fazer alguma coisa?”.
Então cada um colocava como era a fábrica, qual era o grau de organização, qual
era o grau de problema, qual era o grau de repressão e qual a saída. Esse
coletivo, essas pessoas que participavam da Interfábricas acabavam, de certa
forma, um contribuindo com o outro pra dizer: “Olha, por que você não tenta
fazer isso? Você não acha que ainda é cedo pra ir pro enfrentamento? Não acham
que é cedo fazer um abaixo-assinado? Vocês já vão começando pedindo um aumento
de salário? Será que não é melhor começar mais leve, pedindo um bebedouro, ou
uma bota, alguma coisa de segurança?” Era uma riqueza muito grande porque você
não pensava sozinho, estava pensando com uma equipe de companheiros e já na
época, de alguns companheiros que tinham vindo de outras experiências tipo o
Stanislaw, que era uma experiência, ele já tinha sido preso, já tinha sido
solto, ao mesmo tempo o Nelson [Coquite] Japonês, ao mesmo tempo o Rodrigues,
então eram experiências diferenciadas, pessoas diferenciadas com experiências
diferenciadas. Eu acho que a riqueza da interfábricas naquele momento foi essa.
Eu particularmente gostava bastante e acho que foi uma escola, vamos dizer
assim, de discussão e de prática, porque as pessoas tinham de dizer mais ou
menos o que estavam encaminhando, o que podiam fazer, o que estavam fazendo tal
(...). (Entrevista - Helio Bombardi, concedida ao IIEP).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Assim, as reuniões interfábricas
funcionavam como uma forma construir a unidade operária pela base, discutindo
os problemas do local de trabalho e os níveis de organização interna. A partir
disso podia-se ter uma caracterização das principais fábricas, de como se
movimentava a patronal e repressão. E assim construíam-se ações conjuntas e
unificadas. O relato de Hélio Bombardi elucida como se davam as ligações entre
os grupos clandestinos e as reuniões interfábricas:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Bom começar a fazer um grupo de fábrica,
começar a discutir, ver as seções que a gente tem, conversar em horário de
almoço, cada um almoçar em locais diferentes com pessoas diferentes, e esse
grupo foi crescendo. Quando esse grupo começa a crescer bastante, também está
acontecendo a Interfábrica, uma coisa vem junto com a outra e começa a Oposição
Metalúrgica a ter zona leste, zona sul, Ipiranga. Você começa a ter um campo de
atuação bem maior. Você começa a pegar uns companheiros na fábrica e levar pras
assembleias do sindicato. Alguns desses companheiros você já levava pra
participar da Interfábrica, tirava um companheiro ou outro pra ir pra
Interfábrica, ia pra assembleia do sindicato e levava alguns companheiros pra
sentir como era a assembléia, que era barra dentro do sindicato e algumas reuniões
da Oposição, já começava em 75 a ter algumas reuniões da Oposição, levava esses
companheiros e na verdade a Oposição tinha muito essa ideia da fábrica.
(Entrevista - Helio Bombardi, concedida ao IIEP).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">As interfábricas
ampliavam a perspectiva de domínio do campo de batalha para os sindicalistas e
militantes. Burlava a censura à qual estava submetida à luta sindical e
política, possibilitando colocar em evidência a organização e a luta cotidiana
para além do grupo de fábrica onde adentrava um operário. O organismo possibilitava
ampliar a consciência da organização intestina em várias fábricas por meio de
vários trabalhos e experiências em curso no chão de outras fábricas, das
condições em que eram feitos e dos obstáculos que enfrentavam. Mas era também espaço
de politização em permanente disputa, uma vez que as correntes e tendências
políticas encontram ali um ambiente para intervenção e mediação da classe em si
e a classe para si. Conforme relatou Hélio Bombardi:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: -.05pt; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">O que me marca muito é a experiência da
Interfábricas, acho que aquilo é um papel extremamente educativo pra classe,
pros operários, é uma coisa que fazia com que convivessem no mesmo espaço gente
com diferentes tendências o que era uma coisa difícil porque na época era
assim, se o cara era de uma tal organização eu não tinha nem que conversar com
ele, não é da minha organização não fica conversando muito, inclusive a
organização não gostava que se conversasse. Mas quando ia pro movimento
sindical de certa forma, não que isso não era quebrado, se tinha condições de
fazer uma conversa porque era uma frente única, era a <i>Frente dos Trabalhadores</i> e acabava todo mundo trocando ideia do que
estava acontecendo. Óbvio que quem era organizado voltava com aquilo pra
discutir no partido o que fazer e quem não era organizado ou os que só estavam
na metalúrgica discutiam dentro da Oposição. Diziam: “Isso ta acontecendo
dentro da minha fábrica. Dá pra ir pra luta? Não da pra ir, como vocês estão
vendo?” Esse movimento permeou 78, 79. (Entrevista - Helio Bombardi, concedida
ao IIEP).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Conforme destacou Hélio
Bombardi, a convivência de variadas tendências na frente de trabalhadores, nas
reuniões interfábricas, acabou por funcionar como meio construir coesão para
ação conjunta. Desta forma, explicita-se a relevância desse fórum conjunto.
Todo exercício de atuação no chão de fábrica como comissões clandestinas e
agitação operária, com acumulo de experiências ao longo da década de 1970
ganharam maior importância no ascenso de 1978-1980. Embora o número de
operários organizados na Oposição Sindical fosse numericamente pouco expressivo
no que tange à organização de todo operariado paulista, essa militância
clandestina nas fábricas assumiu importante protagonismo no ascenso das lutas
operárias de 1978-1980.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">As jornadas de
greve de 1978 em São Paulo<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Durante a primeira metade
da década de 1970 registrou-se uma fase de temperamento de quadros operários,
sindicais e políticos, onde se forjaram, em pequenas "escolas de
luta", organizadores, agitadores, propagandistas e militantes
revolucionários. Durante a segunda metade da década de 1970, em meio à retomada
das lutas operárias públicas, o acúmulo de experiências pela Oposição de São
Paulo possibilitava experimentar um salto em sua construção. Parte
significativa dessa camada atuou de forma qualitativa no ascenso operário de
1978-1980. A organização na base operária percorreu toda a década de 1970 em
São Paulo. Onde destaca-se numa fase clandestina, de enraizamento no chão de
fábrica (até 1974/1975) e tendo como ponto alto as mobilizações e a onda de
greves de 1978-1980. Este trabalho clandestino veio à tona em 1978. Conforme
relatou Hélio Bombardi:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">De 72 até 78 quando explodiu a greve,
foram seis anos de conversa, de discussão, de organização, de passar material
pros companheiros, e passar material era aquilo: um recorte, uma noticia, pega
alguma coisa interessante que saiu no jornal e leva pra eles lerem, era um
trabalho de formiguinha no começo mas era aquele trabalho diário. (Entrevista -
Helio Bombardi, concedida ao IIEP).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em 1977, o BIRD divulgou
os dados inflacionários de 1973, denunciando a falsificação dos mesmos pela
ditadura militar brasileira, que levou a perda de 34,1% nos salários. Essa
manipulação causou grande revolta na classe trabalhadora e fomentou ainda mais
a reorganização operária no chão de fábrica. A reivindicação pela reposição
dessa perda foi levantada por dezenas de sindicatos que passam a compor o <i>Movimento
pela Reposição Salarial</i> de 1977. </span><span style="line-height: 150%;">No ABC, operários da Scania iniciam uma <i>greve de braços cruzados e máquinas paradas</i>,
que marcou o início da torrente de greves e paralisações operárias na Grande
São Paulo e cidades do interior. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">No ascenso das lutas operárias em 1978, surgiram
cerca de 200 comissões de fábricas em São Paulo, com destaque para as comissões
clandestinas da Villares, Philco, Barbará, Jurubatuba, Filtros Mann, Gutman,
General Elétric. Conforme relatou Sebastião Neto:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Tinha alguma coisa por dentro, por baixo,
tá... E tinha uma ideia, você perguntou sobre as comissões, é uma pena que na
época não tinha vídeo e tal, assim, os nossos comitês na época da greve,
chegavam centenas de operários de dezenas de fábricas: 'Queremos comissão de
fábrica', uma loucura, você não sabia... Fazia uma lista mal feita, a mão
ali... 'Qual que é a sua fábrica? Vamos fazer uma lista aqui', por que? Porque
sabia que a greve acabaria um dia e você manter... Perdeu essa porra toda, não
tinha organização para isso. Quer dizer, foi uma onda, uma onda assim...
Comissão de fábrica, estou falando de 1978 para 1979... (Entrevista - Sebastião
Neto).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">As comissões e grupos de fábrica passaram
a ser amplamente demandadas, pois amplas camadas do operariado se mostram
dispostas à luta. Começava o auge da Oposição Sindical, que além de disputar as
eleições sindicais para o Sindicato paulista em 1978<a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>,
organizou a primeira greve geral pós-ditadura militar em novembro de 1978. Em
São Paulo e Osasco as lutas de 1978 assumiram especificidades, principalmente
por conta das comissões e grupos de fábricas clandestinos. Conforme análise de
Hélio Bombardi:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) em São Paulo e Osasco eu acho que a
coisa aconteceu de uma forma diferente. Aqui em São Paulo as oposições foram
para as portas de fábrica e se organizaram dentro das fábricas com as condições
dadas. As condições dadas são as seguintes: a classe realmente estava a fim de
parar, estavam todos dispostos a lutar por um aumento geral e já existia um
trabalho anterior. Em São Paulo pode-se dizer que houve uma grande articulação
e discussão de uma fábrica com outra, seja no sindicato seja nas reuniões da
oposição, com um passando a experiência para outro e mostrando de que maneira a
experiência numa fábrica pode ser aproveitada em outra. É isso que dá a tônica
diferente em São Paulo. Aqui saíram em várias fábricas comissões reconhecidas
pela direção da empresa, comissões legais com estabilidade e até comissões que
as empresas não reconhecem. Então a experiência aqui não se encerrou numa luta
econômica de um determinado momento. Ela inclusive está avançando em outras questões, como a questão da
perseguição dentro da fábrica, a questão de restaurante, de convênios médicos,
quer dizer, a luta está procurando englobar tudo ou pelo menos grande parte
daquilo que diz respeito à vida do operário dentro da fábrica. (Entrevista -
Hélio Bombardi. In: REVISTA CARA A CARA, 1978, p. 14).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Em São Paulo a primeira greve realizado no
ciclo de 1978 foi a dos operários da Toshiba. Ela contava com cerca de 600
operários, que iniciam a greve no dia 26 de maio de 1978. Foi também uma
"greve de braços cruzados". Na pauta constava 21% de aumento, melhora
da alimentação, segurança e higiene no trabalho e convênio médico. A Chapa 3,
da Oposição Sindical Metalúrgica, estava em campanha e ajudou no apoio às
greves que estavam sendo desencadeadas no ABC paulista e região. O candidato à
presidência do Sindicato de São Paulo pela Chapa 3, Anízio Batista, trabalhava
na Toshiba em 1978. De acordo com seu relato:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) nós fizemos uma greve na Toshiba, ai
eu fui escolhido na Toshiba para compor a chapa, depois, na assembléia geral é
que me escolheriam para ser o presidente da chapa e o Santo Dias
vice-presidente, por exemplo na época (...). Então, a greve do ABC deu um
potencial, por exemplo, para deslanchar também São Paulo. Ai, um dia eu cheguei
numa reunião da Oposição, depois que as eleições todas tinham passado, a coisa
ai... Ai eu falei para a coordenação: 'Essa semana eu paro a Toshiba!'. O
pessoal se assustou né: 'Vai parar como?'. 'Não, nós vamos parar a Toshiba'. Aí
ninguém acreditava né, aí nós paramos a Toshiba uma semana. (...). Mas 1978, por
exemplo, a greve da Toshiba, nós não aceitamos que o Sindicato [Metalúrgico de
São Paulo] negociasse com a empresa (...) foi junho de 1978, porque tinha
pipocado em maio no ABC, mais ou menos por aí, maio por aí... em junho pipocou
aqui em São Paulo, ai pipocou São Paulo inteira.. (Entrevista - Anízio
Batista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">Em São Paulo, os setores nucleados na
Oposição Sindical Metalúrgica são alçados à crista daquela onda grevista.
Conforme relata Anízio Batista, que foi um dos organizadores da primeira greve
daquele ano em São Paulo, na Toshiba:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) E aí pipocou, não só em julho, né,
aí as greves nossa duraram muito tempo, porque todos os locais que nós tínhamos
as comissões de fábrica, por exemplo, foi feito greve né... Todas, Massey
Ferguson, que era grande, tinha um cara na chapa, que era o Hélio Bombardi
(...). Então eu fui fazer reuniões, por exemplo, várias empresas, por exemplo,
para colocar a experiência da Toshiba, né, e como o pessoal tinha que fazer as
coisas aí... Massey Ferguson foi uma delas que a gente foi. Depois, tinha a
Philco, aqui na zona leste, tinha... Um monte de empresa... Aí pipocou fábrica
pequena, o pessoal parava a fábrica e, por exemplo, e vinha para o sindicato,
não tinha nem coordenação, não tinha nem comissão na verdade... (Entrevista -
Anízio Batista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Na Philco, localizada na zona leste de São
Paulo, foi<span style="background: white;"> desenvolvido um longo processo de
organização durante a década de 1970. Assim, nessa fábrica a onda grevista de 1978
encontrou terreno fértil para se desenvolver. N</span>o dia 25 de junho, 8 mil
operárias e operários, com pautas específicas, deflagraram a greve. Conforme
nos relatou Sofia, que era operária na Philco, militante da Oposição e uma das organizadoras daquela greve:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) A Philco é uma fábrica com, em torno
de 8.000 funcionários na época, 80% mulheres. É uma fábrica de referência na
Leste porque é a maior, fabricava televisores, rádios. E nessa fábrica havia
muitos militantes atuantes, mas na surdina, não era declarado, clandestino... E
a gente se encontrava. Nos encontrávamos uma vez por semana para discutir os
problemas da fábrica (...). Éramos um grupo de fábrica da Philco. (Entrevista -
Sofia)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">C<span style="background: white;">onforme
relatam Maria José, que também era operária na Philco e militante da Oposição:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: (...) Foi onde estourou a Scania em
1978, aí foi estourando Toshiba, várias... Aí quando foi em junho a gente teve
condição de combinar uma greve. Ai nas comissões... E organizar a greve... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: mas porque já existia o grupo de fábrica...
Porque já tinha um grupo de fábrica discutindo os problemas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: já tinha uma base...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: já tinha um grupo de fábrica discutindo os
problemas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt;">Então não se pode dizer que foi assim,
que tirou do nada a greve?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Não! Para você parar uma fábrica de 8.000
funcionários...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: A maioria mulheres... Casadas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Vários horários. Tinha horário de turno,
horário de 17:05, horário noturno... Organizar uma fábrica de 8.000
funcionários em vários prédios, em plena ditadura militar, precisa ter um
trabalho de base consistente, senão não conseguiria. E com fundamentos, você
fundamentando o trabalhador adere, o trabalhador não é levado a fazer por
fazer, ele faz porque ele tem confiança e sabe porque que está parando...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Sente na pele...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: É muito emocionante parar uma fábrica. Uma greve
é uma emoção muito grande porque você tem o chefe, o subchefe, o chefinho, você
tem um monte...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Tem segurança...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Tem segurança... Um monte de gente em cima
de você, observando você, dedo duro observando...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: E os infiltrados né Sofia, que é
sempre...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Aí é muito chefe em cima de você, é uma
hierarquia na fábrica, muito grande, para reprimir mesmo. Então você romper...
Na greve você rompe com toda essa estrutura, é muito emocionante. É muito
(...). Precisa ter coragem. Coragem porque se não você não pára a máquina. Você
tem que ter muita coragem, mais consciência política...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt;">Não teve piquete?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Não, essa foi de ocupação. Em junho de 1978
foi ocupação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Por exemplo, a militância que entrava
às 6 da manhã já combinava não ligar as máquinas. Aí quem, por exemplo, eu
trabalhava das 2 às 10, a Sofia eu não sei, eu entrava às 2 horas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Eu entrava às 7.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Aí quando a gente chegava já tinha notícias.
A Rádio peão funcionava: "Oh, o pessoal da manhã não trabalhou
gente!". Tal e tal... Eu me lembro quando veio...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: Porque a nossa turma acho que foi 9 horas,
foi marcado... 9 horas pára as máquinas...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Quando nós chegamos às 2 horas já
estava parado. Aí é fácil né...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt;">Já tinha começado o movimento...<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Aí começa a pressão. A chefia vem, vem
gerente, vem tudo em cima. Eu me lembro que as minhas pernas batiam uma na
outra. Tremia, tremia, tremia e segurando (...). E eles sabiam muito bem, eles
tinham o mapeamento das lideranças.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Sofia: O mapeamento todo. A gente não sabia, mas
eles sabiam. Nós não sabíamos que eles sabiam do mapa das lideranças...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Aí eles chegavam em cima da gente né:
"Mas é o pessoal, nós chegamos aqui já estava parado... Né, então não vamos
trabalhar (...)". E todos nós tínhamos a pauta de reivindicação nas mãos.
Todos os trabalhadores tinham acesso àquilo, já tinha sido feito. Aí: "A
nossa reivindicação é isso, isso e isso". Nós ficamos 4 dias dentro da
Philco sem trabalhar e comendo. Aí, o ultimo dia, não sei se foi na Philco ou
foi na Bosch, que eles cortaram a comida. Acho que foi na Bosch... [risos]. E
comendo, almoçando e voltando para o pátio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt;">Alguém trazia o almoço?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Não, ia para o restaurante [da
fábrica].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt;">Vocês tomaram o restaurante e começaram
a cozinhar?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 120.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Maria José: Não. Nós trabalhadores dizíamos assim:
"O pessoal da cozinha tem que garantir a nossa alimentação". Eles
trabalhavam, mas claro que era trabalhar para alimentar a greve. (Entrevista
Maria José).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Uma vez decretada a greve de braços
cruzados, as operárias continuavam a se reunir dentro e fora da fábrica durante
quatro dias para decidir os rumos daquele movimento, realizaram assembleias no
refeitório para discutir suas pautas, criaram uma comissão com 90 pessoas para
negociar as reivindicações. Chegaram a realizar uma assembleia com a presença
de 6 mil mulheres. O Sindicato Metalúrgico de São Paulo, dirigido por um aliado
dos industriais, tentou desmobilizar a greve mas falhou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">Além das greves da Toshiba e da <span style="background: white;">Philco</span>, no ano de 1978 foram deflagradas
dezenas de greves em São Paulo, neste ano o jornal <i>O Metalúrgico</i>, órgão do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo
registra a eclosão de greves em 132 empresas metalúrgicas envolvendo 117.231
trabalhadores. Destas derivaram 103 acordos salariais, sendo a maior parte
efetivada via grupo ou comissão de fábrica. (Cf. Jornal O Metalúrgico. Nº.
266/agosto/78).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">As greves em São Paulo retroalimentam o
surgimento das comissões e o clima geral de insubordinação operária na cidade,
coroando-a com uma greve geral em outubro de 1978, acabaram por paralisar todo
o parque produtivo, enterrando a <i>lei de
greve</i> e colocando em questão a política salarial da ditadura. Conforme nos
relatou Jorge Preto (operário que trabalhava na Villares de Santo Amaro em
1978), este ano marcou o despertar da consciência de classe no operariado:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Então, esse ano de 1978 foi o ano,
assim... Aonde o despertar da consciência de classe, principalmente da classe
operária que é a classe que produz, começou a despertar e aí que começou a
abrir fissuras no Regime Militar, porque até a época, assim, o forte era o
movimento estudantil. Que aí, ia lá, brigava, fazia uma manifestação, mas,
assim, não arranhava o sistema. O que começou a arranhar o sistema, começou a
quebrar a muralha do sistema, praticamente, é a produção, parou a produção, aí
se questiona o sistema. Porque, o que que acontece, no despertar da consciência
de classe? Como eu falei para você, a gente começa com coisas pequenas, você
vai reivindicar assim: 'a comida está ruim, então vamos fazer um movimentozinho
para melhorar a porra dessa comida que está uma merda, esse banheiro está sujo
pra caralho'. Aí, para o operário aquilo é normal, quando ele vê essas pequenas
reivindicações, o que que aparece, qual é a primeira coisa que aparece? O que
aparece é que (...), você acha que vai negociar com o patrão, mas, quando você
vê, você não está mais negociando com o patrão, você está conversando com o
Estado. Porque, a primeira coisa, o que que o Estado fazia? Era um movimento,
por menor que seja, aí eles já mobilizavam a polícia e já montava uma barreira
na porta da fábrica para proteger a empresa. Aí, o que que o operário pensava?
'Pô, mas eu não estou fazendo nada demais, eu estou trabalhando, estou querendo
só que melhore um pouquinho o local de trabalho, eu quero no mínimo uma comida
que eu possa comer. Por que que a polícia está aqui?' Aí já abria assim: 'está
aqui para proteger o patrão'. Aí, quando
você já ia indo, assim, no processo de negociação, não era mais o patrão, já
era o sindicato, depois já não era o sindicato, era o Ministério do Trabalho e
já era o Estado. Aí é o despertar da consciência de classe. Aí você fala: 'oh,
eu não estou lutando só contra o (...) Luiz Villares [proprietário da fábrica],
eu estou lutando contra o Luiz Villares, contra a direção do sindicato dos metalúrgicos,
contra o governo do Estado e aí tem o Ministério do Trabalho que é o Governo
Federal. Sim! Aparece primeiro para nós a fábrica, só que, quando assim, no
enfrentamento você vê que é muito além da fábrica. O enfrentamento, assim, aí o
despertar da consciência de classe vem por aí... É nos primeiros
enfrentamentos. Então, assim, não há consciência sem enfrentamento. Porque se
não há enfrentamento, assim, o pessoal vai e se limitar ao fazer no dia a
dia... Tá ruim mas tá bom... Aí um dia fala assim, 'um dia vai melhorar', aí
vêm todas as crendices e tudo mais. Mas, assim, a partir do enfrentamento, o
operário, ele só se conscientiza de fato, no enfrentamento de fato, que aí ele
vai ver toda a máquina que ele está enfrentando. Ele não está enfrentando o
chefinho dele que fica lá enchendo o saco dele lá, o encarregadozinho ou o
diretor da empresa, ele vê que a coisa é bem maior, por isso que 1978 foi um
ano assim, que marcou na história do movimento operário a consciência de
classe. E isso, assim, se espalhou, se espalhou assim, para todas as regiões
fabris de São Paulo e para várias regiões do Brasil. É tanto que, muitos
militantes nossos... E eu faço um parêntese nesse patamar de espalhar o
movimento, os setores progressistas, principalmente da pastoral operária, da
JOC, da Igreja Católica, ajudou bastante. (Entrevista - Jorge Preto).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em meio à onda grevista,
de um "despertar" massivo da consciência de classe, em oposição ao empresariado
industrial e as forças repressivas do Estado militarizado, os trabalhadores
buscavam formas de se organizar para se contrapor a um poder que é
evidentemente muito maior do que o de cada operário individual. Nesse momento,
buscam auto-organização dentro e fora dos locais de trabalho, grupos de
fábrica, comissões e sindicatos. Frente a tal demanda, os militantes nucleados
em torno da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo encontravam condições mais
favoráveis para divulgar as mobilizações, mas também a necessidade de criação
de mais comissões de fábricas, isso porque compreendiam que era das comissões
que emanava o poder de auto-organização operária. Conforme nos relatou Waldemar
Rossi:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Em 1978, naquela greve das fábricas, nós
soltávamos material divulgando as greves, pegando recorte de jornal, formando
folheto e mostrando onde estava havendo greve. Soltávamos nas fábricas em
grande quantidade e isso foi gerando outras greves, e sempre colocando entre as
reivindicações a importância das comissões de fábrica: 'É onde os trabalhadores
vão ter a sua força, etc'. Foi isso que a FIESP registrou, naquele ano de 1978
na cidade de São Paulo, o conhecimento 200 comissões de fábrica, isso,
declaração da FIESP, [comissões] que não tiveram vida longa, morreram em
seguida porque não tinha nem estrutura para isso, mas algumas ficaram, como a
da MWM, na Massey Ferguson e algumas outras. E, essas, inspiraram a comissão de
fábrica da ASAMA, que é a mais evoluída politicamente (...), muito
interessante, muito rica. (Entrevista - Waldemar Rossi).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em 1978 a Oposição, que se fortaleceu desde 1975,
se tornou a responsável pela decretação da primeira greve geral pós-golpe
militar. Organizando sua base de apoio, em uma assembleia com cerca de 20 mil
operários na Rua Do Carmo, conseguiu aprovar a decretação da greve em 27 de
outubro de 1978. Formou-se uma Comissão de Salários, que chegou a contar com
100 operários. No entanto, ao final da assembleia que decretou a greve geral em
1978, os dirigentes da Oposição sentaram com Joaquinzão para redigir o boletim
da greve, informando que "toda e qualquer informação a respeito da
greve" deveria ser buscada no Sindicato. Assim, não conferiram qualquer
autonomia à Comissão de Salários formada na assembleia, ou mesmo à
interfábricas como direção alternativa do processo grevista. Deixaram que o
poder deliberativo se concentra-se nas mãos da diretoria pelega.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-top: 6.0pt; text-align: center; text-indent: 0cm;"><b>Foto I: novembro de 1978: a
primeira greve geral pós-golpe militar<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="line-height: 150%;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_i1028" type="#_x0000_t75"
style='width:391.5pt;height:328.5pt'>
<v:imagedata src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image006.jpg"
o:title="foto 7"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img height="438" src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image007.jpg" v:shapes="_x0000_i1028" width="522" /><!--[endif]--><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">As mobilizações em São Paulo refletiam o ânimo
geral do operariado paulistano, que tinha como pauta unificadora o reajuste de
70% nos salários. Essa primeira greve geral metalúrgica, envolvendo 300 mil
operários e operárias, coroou aquele ano com a unificação e o fortalecimento da
Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Conforme relatou Jorge Preto, que
militou ativamente naquele 1978, a Oposição estava determinada a decretar a
greve geral em assembleia:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">(...) E, a partir daí, com a continuidade
do movimento, aconteceu greves localizadas em várias fábricas, chegou o mês de
novembro, porque era outubro que era o mês de campanha salarial, como já tinha
essa força acumulada por fábrica, a Oposição já tinha militantes em toda São
Paulo e já teve a experiência da chapa, tinha tido a eleição em maio de 1978,
no meio do ano (...). A Oposição ganhou a eleição, foi constatado várias
fraudes, foi anulada, depois o Ministro do Trabalho Arnaldo Pietro, foi ele
pessoalmente no sindicato e empossou a Diretoria, aí já tinha essa experiência
acumulada de fardo do trabalho de Oposição e na campanha salarial nós
mobilizamos os que nós podíamos para ir para o sindicato. Porque assim, mesmo
contra nós, o sindicato tinha a premissa da categoria, e o que que nos fizemos:
'Vamos mobilizar a categoria e vamos forçar o sindicato a decretar greve na categoria'.
Então essa foi uma decisão em reuniões paralelas que a gente fazia nos bairros,
principalmente nas Igrejas, né... Tinha as Igrejas aí, o setor progressista da
Igreja, eles davam muito espaço para a gente, se reunia, a gente ia para dentro
do sindicato com essa posição. (Entrevista - Jorge Preto).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="line-height: 150%;">A Diretoria de Joaquinzão prezava pelos
acordos com a patronal, buscando obstruir a participação direta das bases
operárias, mas frente às mobilizações massivas, a Diretoria ficou encurralada e
aceitou a decretação da greve. Essa seria a oportunidade para a Oposição
provar-se em meio ao ascenso operário. No entanto, como analisa Cleodon Silva,
um dos principais dirigentes da Oposição Sindical, no que tange à orientação
dos rumos daquele confronto, a Oposição falhou, pois não conseguiu de fato
implementar uma orientação alternativa para aquele processo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none; text-indent: 0cm;"><span style="font-size: 10pt;">Eu mesmo que fui para a sede do sindicato, junto com outros companheiros
da Oposição, vi e contatei grupos e comissões de muitas fábricas que chegavam
com os nomes de operários eleitos. <b>Os trabalhadores não foram ali atrás do
sindicato, porque confiassem em sua diretoria. Precisavam de uma direção, de
guia para o que fazer diante da situação. Queriam conseguir 70% de aumento e
fazer a greve</b>. E qual era a nossa orientação? Não tínhamos nem material
próprio nosso para organizar e articular as comissões e continuávamos
insistindo: tirem comissões! Hoje acho que isto foi pura demagogia. Ajudamos a
confundir a massa operária. Somos responsáveis por isto. Não aparecemos para os
trabalhadores como Oposição, com outra proposta alternativa. Não demos direção!
Perdemos uma chance de sermos a direção independente. (Entrevista - Cleodon
Silva ao GEP/Urplan: Apud: BATISTONI, 2001, p. 244 - grifos da autora).</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em 1978, os operários vão
aos milhares à procura de seu Sindicato, com isso, o Sindicato de São Paulo é
posto no centro da luta de classes e a Oposição não consegue cercar esse
sindicato de uma base militante, influindo de forma diretiva nos rumos da greve
geral. A Oposição Sindical nutria um dilema em seu âmago: dar ou não
sustentação ao Sindicato. Um setor hegemônico da Oposição acreditava que as
comissões de fábrica deveriam substituir o Sindicato. Outro setor acreditava
que o sindicato era imprescindível e deveria ser tomado. Um terceiro setor,
mais oportunista (PCB, PCdoB e MR8) optou por compor com Joaquinzão pelego para
chegar ao aparato Sindical. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">A greve geral, realizada em 30 e 31 de outubro,
colocou-se como um grande desafio para a Oposição, que estava adaptada aos trabalhos
miúdos no chão de fábrica. Em apenas dois dias, a greve envolveu cerca de 300
mil operários, englobando São Paulo, Guarulhos e Osasco. Essa greve influenciou
objetivamente as bases operárias do ABC e na decisão da Diretoria de São Bernardo
para a decretação da greve geral em 1979.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">No momento da ação
qualitativa, em meio ao ascenso, essas indefinições prejudicaram sobremaneira
sua prática. A falta de coesão político-estratégica e programática, impunha uma
forma de atuação caótica no momento crucial da greve geral. as comissões de
fábrica não eram células ou núcleos da Oposição Sindical Metalúrgica de São
Paulo. Surgiram centenas de comissões autonomamente, dispersas, muito além da
iniciativa e capacidade de organização e construção da Oposição. As comissões
que surgiram em 1978, por seu próprio caráter, não puderam atuar de comum
acordo político-estratégico com a Oposição. Sobretudo porque a Oposição não
tinha tais definições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">A Oposição não era um
movimento revolucionário que formou centenas de comissões em centenas de
fábricas com o mesmo objetivo estratégico, como um todo orgânico e que podia, a
partir disso "bater como um punho só", organizando uma greve geral
que envolvesse os 400 mil operários de São Paulo, por exemplo. As centenas de
comissões surgiram "espontaneamente" em 1978-1979 como células
dispersas. Surgiram por múltiplas determinações sem constituírem-se como
síntese organizada. Embora funcionassem como elemento de mediação entre
operários e patrões, não eram parte de um todo orgânico articulado que pudesse
efetivamente colocar-se como direção alternativa. As comissões representavam a
multiplicidade do diverso, contando inclusive com grande nível de caoticidade. </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Acostumada com os
pequenos trabalhos organizativos no chão de fábrica, mas sem enfrentar os
debates estratégicos, não pôde dar um salto de qualidade em sua atuação na hora
do ascenso da luta operária. Não atuou como uma organização preparada realmente
para dirigir a classe operária. Com isso, quem venceu foi a máquina sindical
dirigida pela burocracia pelega serviçal do empresariado industrial e da
ditadura.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="background: white; line-height: 150%;">Ao invés da Oposição se centrar no papel do
Sindicato, buscando cercá-lo e obrigá-lo a trabalhar para as greves, focou-se
nas negociações por fábrica e na institucionalização das comissões que
surgiram. Ao invés de uma investida decidida para tomada do Sindicato,
despenderam muitas energias para a legalização das comissões como forma de
isolar a ação do Sindicato. A Oposição, com variadas tendências, não pôde
oferecer um programa coeso para a ação operária naquele ascenso, pois seu único
ponto programático era a formação de comissões. Findado o ciclo grevista de
1978, a Oposição repetiria os mesmos erros fundamentais no ano seguinte.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0.0001pt;"><b>Novembro de 1979: nova greve geral metalúrgica em
São Paulo<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 42.55pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em 1979 a Oposição sindical
metalúrgica organizou sua segunda greve geral na categoria. Dessa vez será uma
greve mais longa que a de 1978. Essa foi também o ponto alto da organização do
operariado de São Paulo. Em marcha, os operários conquistam as ruas, formam os
"piquetões", piquetes móveis que iam de fábrica em fábrica parando a
produção e convidando mais operários para aderirem ao movimento paredista,
chegam-se a organizar 15 mil operários. Todo o processo grevista dura 12 dias,
encerrando-se apenas no dia 10 de novembro.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 40.1pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Com a efervescência operária
em São Paulo, marcada por mobilizações no chão de fábrica, formação de
comissões, grupos clandestinos e assembleias da campanha salarial, construiu-se
uma nova greve geral decretada no dia 28 de outubro de 1979. Na madrugada,
véspera de início da greve, o governo ditatorial prendeu 343 operários dos
Comandos de Greve. Mesmo assim, foi impossível contê-la. O movimento avançou
conquistando cada vez mais adesões e ganhando autoconfiança e coragem para se enfrentar-se
com o empresariado industrial e a ditadura.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Diferentemente da greve
de 1978, na greve de 1979 a Oposição trabalhou com material próprio, com o
jornal <i>Luta Sindical</i>. Também, em assembleia, deliberou-se pela formação
de uma Comissão de Mobilização que foi composta por 260 operários eleitos a
partir das diferentes regiões. Formaram-se Comandos Regionais de Mobilização,
que contavam com independência organizativa, garantindo a implementação das
resoluções votadas em assembleia. Pois ganhar a assembleia não implicava
convencer a Diretoria do Sindicato a construir a greve e batalhar para que a
luta dos trabalhadores contra os patrões fosse vitoriosa. Os comandos formados
nas regiões de maior mobilização operária, eram abertos a participação de qualquer
força política que atuasse no interior das fábricas.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Em Santo Amaro os
operários se auto-organizaram em piquetões, que eram piquetes móveis que
marchavam de fábrica em fábrica parando a produção, conquistando as ruas e
convidando mais operários para aderirem ao movimento paredista. Eram piquetes
multitudinários, independentes, que se auto-denominavam “corrente de
trabalhadores” ou “piquetões”, que chegaram a contar com até 15 mil operários.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><b>Foto II - Piquetão na zona sul em
1979<o:p></o:p></b></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: center;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="_x0000_i1029" type="#_x0000_t75"
style='width:363pt;height:177pt'>
<v:imagedata src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image008.jpg"
o:title="Piquetao" cropbottom="16554f" cropright="684f"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img height="236" src="file:///C:/Users/Ale/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image009.jpg" v:shapes="_x0000_i1029" width="484" /><!--[endif]--><o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; text-align: center;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Apud:
IIEP, 2014, p. 151.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">No segundo dia de
mobilizações, dia 30 de outubro, enquanto a repressão dissolveu com pancadas e
tiros um piquete na frente da Indústria Sylvânia, o soldado da Polícia Militar
Herculano Leonel atirou e assassinou Santo Dias da Silva, que era operário e importante
dirigente sindical da Oposição. O operariado, que vinha impondo-se se contra as
determinações da ditadura, já atuando em massa, respondeu ao assassinato com um
protesto massivo no dia seguinte (31 de outubro), que reuniu cerca de 30 mil operários.
A greve continuava a crescer e chegou a paralisar 80% da categoria metalúrgica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Esta greve geral
metalúrgica de 1979 apresentou como principal avanço organizativo os comandos
regionais, que permitiam a organização nas bases operárias nas diferentes
regiões de São Paulo, descentralizando e possibilitando expandir a
auto-organização operária para além da influência da diretoria do Sindicato. No
entanto, embora melhor organizada do que a greve de 1978, os comandos de greve
acabaram por atuar de forma desarticulada, não se conseguiu constituir um
comando geral que articulasse uma direção alternativa para o processo, o que
por sua vez tornou-se ponto fraco da greve. De acordo com relato de Cleodon
Silva:</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;"><span style="font-size: 10pt;">Se a organização dos comandos foi um
grande avanço, tivemos problemas em relação à negociação durante a campanha
salarial e preparação da greve. Não conseguimos estabelecer um comando geral.
Ele se dava ainda "dentro" do sindicato, com a representação regional
da categoria, militantes das oposições, mas ainda com forte participação da ala
do Joaquim e cia, que quando perdia na votação, encaminhava as decisões com
atraso, com manobras, levando a um funcionamento bastante precário e capenga. O
funcionamento de fato, com a representação direta a partir dos comandos
regionais só aconteceu no fim da greve e já não respondia mais às necessidades.
(Entrevista - Cleodon Silva, GEP/Urplan, apud BATISTONI, 2001, p. 282). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="background: white; line-height: 150%;">A não existência de um
Comando Geral foi uma das principais debilidades organizativas que impediu a
articulação orgânica daquele movimento. Conforme destacamos, a auto-organização
operária ao longo da década de 1970, como formação de comissões clandestinas e
frente de trabalhadores, desempenhou importante papel na organização operária
no chão de fábrica. As greves gerais metalúrgicas em São Paulo em 1978 e 1979
constituíram ápice da atuação operária. Dentro deste processo, a oposição
encontrou condições para ampliar seu alcance e influência. No entanto, seus
erros táticos e debilidades estratégicas impediram que fosse completamente
vitoriosa em seus objetivos.</span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;"><b>Conclusão<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">O trabalho
de organização de comissões de fábrica como forma de resistência no movimento
operário, foi uma herança organizacional da greve de Osasco de 1968. A Oposição
Sindical Metalúrgica foi a herdeira daquela importante experiência operária. Os
pequeno núcleos clandestinos, que eram apenas polos de aglutinação de vanguarda
de trabalhadores, evoluíram exitosamente para as reuniões interfábicas entre
1973 e 1974. Mas, foi com o aprofundamento da crise econômica mundial na década
de 1970 que o trabalho da Oposição atingiu novas dimensões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">Na segunda
metade da década de 1970 as greves e paralisações tornaram-se mais comuns no
eixo industrial da grande são Paulo, englobando Osasco, São Paulo, ABC paulista
e Guarulhos. O <i>movimento pela reposição</i> foi outra inflexão do período. Na
somatória desse processo, entre 1978-1979, surgiram centenas de novas comissões
autônomas na capital paulista. Eram auto-organizadas, espontâneas, autônomas e dispersas,
muito além da iniciativa e capacidade de organização e construção da Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo. Embora denotasse um grande impulso em busca
de organização, de canalização para ação trabalhista por interesses próprios em
oposição aos interesses dos industriais e contra as proibições da ditadura, as
comissões não puderam formar um todo orgânico e a partir disso "bater com
um punho só". <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;">Naturalmente, as comissões não eram
homogêneas ideologicamente, todos os partidos, tendências e correntes políticas
procuram influenciá-las. Isso porque as comissões de fábrica, as Comissões
Internas de Prevenção de Acidentes - CIPAS, bem como os cargos de delegados
sindicais, são posições políticas importantes para as correntes que atuam no
meio sindical e operário, podem funcionar como tática de construção das tendências
e correntes, como órgão de agregação operária no chão de fábrica e mesmo como
uma tribuna operária. Neste processo, a</span><span style="line-height: 150%;"> Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo, tanto por sua força militante, como por suas
limitações político-programática não foi capaz de organizar esse amplo
movimento que afluiu do chão de fábrica. A Oposição falhou então na proposição
de organizar um programa geral que fizessem do interfábricas uma alternativa
real de organização para o operariado no biênio 1978-1979. Habituada aos
trabalhos miúdos dos anos de resistência e organização clandestina, não
conseguiu dar um salto para a direção do trabalho de massas. Assim, o ascenso
operário de 1978-1979 em São Paulo, que se via órfão de uma direção coesa, com
clareza politico-programática para o enfrentamento contra o conjunto do
patronato industrial, acabou esbarrando nas amarras da burocracia sindical da
diretoria de Joaquinzão e na ação repressiva da ditadura militar-burguesa. </span><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyTextIndent" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"> </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><b><span style="line-height: 150%;">Assista os documentários:<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;"> <i>Cidadão Boilisen</i>: mostra a articulação
entre industriais, empresário e os militares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><i><span style="line-height: 150%;">A luta do povo</span></i><span style="line-height: 150%;">: destaca a
interligação entre as luas operárias e mobilizações nos bairros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><i><span style="line-height: 150%;">Braços cruzados,
máquinas paradas</span></i><span style="line-height: 150%;">: sobre as eleições sindicais de 1978 em São Paulo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><i><span style="line-height: 150%;">O apito da
panela de pressão</span></i><span style="line-height: 150%;">: sobre a luta estudantil em 1977.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;"><b>Referências<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">BATISTONI, M. R. <i>Entre a fábrica e o
sindicato: os dilemas da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (1967-1987)</i>.
Tese de doutorado. PUC. 2001.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">FARIA, J.B.H. <i>A experiência operária
nos anos da resistência: a oposição metalúrgica de São Paulo e a dinâmica do
movimento operário (1964-1978)</i>. SP. Dissertação de mestrado. PUC. 1986.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">GET/URPLAN<i>. Nas raízes da democracia
operária - a história da oposição sindical metalúrgica de São Paulo</i>.
Cadernos do Trabalhador, nº 4. PUC. São Paulo, 1982.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">IIEP - OPOSIÇÃO SINDICAL METALÚRGICA. <i>Investigação
operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores</i>. 2014 –
São Paulo. Projeto Memória, 2014.<br />
PARTIDO OPERÁRIO COMUNISTA - POC. Problemas de organização do movimento
operário brasileiro. 1977. In: FREDERICO, C. (Org). <i>A esquerda e o movimento
operário: 1964-1984</i>. Vol. II. Oficina de Livros. Belo Horizonte. 1990.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">VOZ OPERÁRIA. Os trabalhadores paulistas
lutam por seus direitos. Setembro de 1969. In: FREDERICO, C. (Org). A <i>esquerda e o movimento operário: 1964-1984</i>.
Vol. II. Oficina de Livros. Belo Horizonte. 1987.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">______. Os trabalhadores e a luta contra a
ditadura. </span><span style="line-height: 150%;">1966. </span><span style="line-height: 150%;">In: FREDERICO, C. (Org). A <i>esquerda
e o movimento operário: 1964-1984</i>. Vol. II. Oficina de Livros. Belo
Horizonte. 1987.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">______. O proletariado e a política da
ditadura. Junho de 1973. In: FREDERICO, C. (Org). A <i>esquerda e o movimento operário: 1964-1984</i>. Vol. II. Oficina de
Livros. Belo Horizonte. 1990.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">______. Greves em São Paulo. Dezembro de
1974. In: FREDERICO, C. (Org). A <i>esquerda
e o movimento operário: 1964-1984</i>. Vol. II. Oficina de Livros. Belo
Horizonte. 1990.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;"> </span></p>
<div><!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<span style="background: white;">Doutor em
Ciências Sociais pela Unesp-Marília.</span><o:p></o:p></p>
</div>
<div id="ftn2">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times",serif; font-size: 9.0pt;"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 9pt; line-height: 150%;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span style="font-family: "Times",serif; font-size: 9.0pt;"> Confira os documentários: <i>Brações cruzados, máquinas paradas</i>, S.
T. Segall, 1979: <i>A luta do povo</i>. R.
Tapajós, 1980.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn3">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a> <span style="font-size: 8.0pt;">Hamilton Faria (1986), no trabalho A experiência
operária nos anos da resistência: a oposição metalúrgica de São Paulo e a
dinâmica do movimento operário (1964-1978) registrou a formação de um grupo de
5 operários na fábrica Passini, organizado por Raimundo de Oliveira coordenador
da União Metalúrgica de Luta (que era um núcleo clandestino da Oposição
Sindical). Um grupo de 15 operários foi formado na Fábrica de Motores Carmos
S/A, sendo dirigido pelo operário Crispim, membro da coordenação da Oposição.
Na Lorenzetti foi formado mais um grupo com 10 operários, articulados por João
Chile, que era coordenador da União Metalúrgica de Luta, esses chegaram
inclusive a fazer uma greve em 1971 nessa empresa. Na Arno havia outro grupo de
30 operários. Na Massey Ferguson registrou-se um grupo de 5 operários dirigidos
por Hélio Bombardi. Na Villares, um grupo de 6 operários articulado por Anízio
Batista. Na AMF, um grupo de 15 operários articulados por Waldemar Rossi. Na
Hobart Dayton havia outro grupo de fábrica com mais de 10 operários organizados
por Elias Stein. Com base neste trabalho de base a Oposição disputa a direção
do Sindicato Metalúrgico de São Paulo, sua chapa recebeu 5.500 votos. A chapa
de Joaquinzão pelego venceu com 18.000 votos.<o:p></o:p></span></p>
</div>
<div id="ftn4">
<p class="MsoFootnoteText"><a href="file:///C:/Users/Ale/Desktop/Aulas%20-%20PUC/Movimento%20operario%20e%20comiss%C3%B5es%20de%20fabrica%20em%20Sao%20Paulo%20-ED.doc#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a> Em maio
de 1978, realizaram-se eleições para o Sindicato Metalúrgico de São Paulo.
Joaquinzão novamente lançou sua chapa pró-patronal. Nesse ano a Oposição vive a
primeira divisão importante que marcará seus os próximos anos. Um setor de
sindicalistas ligados ao PCB, dirigido por Cândido Hilário (o Bigode), ao invés
de compor com a Oposição, lança chapa própria. A Oposição lançou sua chapa
apoiando-se sobre as comissões clandestinas já existentes, nas interfábricas,
nos trabalhos nos bairros, mas sobretudo no ascenso grevístico deflagrado desde
maio de 1978 no ABC paulista. No entanto, durante as votações, a chapa de
Joaquinzão viola e frauda as urnas e consegue tomar posse com a intervenção do
Ministério do Trabalho. (Veja o documentário <i>Braços cruzados, máquinas
paradas</i>).<o:p></o:p></p>
</div>
</div></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-57939671371648355362016-08-12T14:40:00.001-07:002016-10-11T19:27:26.017-07:00O Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé: rebeldia operária no dia do trabalhador<div style="text-align: justify;">
Discutimos a organização do Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé. Este ato, marcado pela rebeldia operária, foi articulado centralmente pelas bases operárias de Osasco e o Sindicato Metalúrgico dessa cidade. A atuação combativa no evento foi construída desde o segundo semestre de 1967 em assembleias metalúrgicas junto as oposições sindicais da Grande São Paulo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Confira:</div>
<div style="text-align: justify;">
http://memoriasoperarias.blogspot.com.br/2016/08/o-1-de-maio-de-1968-na-praca-da-se.html</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-14516542954639005272016-08-03T14:56:00.002-07:002016-10-11T19:27:52.270-07:00O 1968 operário no Brasil: a greve dos operários da Cobrasma <div style="text-align: justify;">
Resumo: Nesse texto analiso o movimento operário desenvolvido em Osasco durante a década de 1960 e os processos que culminaram na greve na Cobrasma em 1968. Nessa década se formam duas comissões dentro da Cobrasma, uma clandestina e outra semi-clandestina, sendo que em 1965 essas comissões se juntam e criam uma comissão legalizada. Com o fortalecimento dessa comissão, decide-se disputar as eleições para o Sindicato de Osasco. Vencendo as eleições, o Sindicato se envolve nas atividades do MIA, na comemoração do Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé e por fim, prepara a greve da Cobrasma no mesmo ano. Essa greve será uma das mais importantes no imediato pós-golpe de 1964. Realizamos uma série de entrevistas com alguns dos principais dirigentes dessa greve. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Continua: http://memoriasoperarias.blogspot.com.br/2016/07/o-1968-operario-no-brasil-greve-dos_4.html</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-82939281305584295312016-04-19T08:52:00.004-07:002021-05-29T20:54:18.014-07:00Sobre a crise política no Brasil e o Golpe de Estado em curso<audio class="audio-for-speech" src=""></audio><div class="translate-tooltip-mtz hidden">
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</div>
</div><span class="translate-button-mtz" style="left: 330.015625px; top: 12212px;"></span><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">Publicado originalmente na Revista de Estudos Latino-americanos (ILA)</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">https://www.ila-web.de/ausgaben/395/brasilien-auf-dem-weg-zum-staatsstreich</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><br /></span></span>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">Em meio à expansão da economia mundial do período 2003-2008, verificou-se a melhora do cenário internacional e diminuição da
vulnerabilidade externa. Essa foi a fase de maior crescimento mundial desde a crise dos anos 1970. Por causa da alta no ciclo de liquidez internacional, grandes
fluxos de capitais financeiros internacionais migraram para a América do Sul, sobretudo
para ações da bolsa de valores, títulos públicos e commodities. Também, a redução das taxas
de juros internacionais, deu margem para redução dos juros domésticos. Ainda, o
crescimento da economia mundial gerou uma elevação da demanda por <i>commodities</i>, exportados largamente pelo
Brasil. Com isso, o país passou a registrar crescentes superávits em sua balança
comercial. </span><span style="font-family: , serif; line-height: 150%;">Entre 2002 e 2010, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto - PIB<span style="font-size: large;"><span style="font-size: large;"> (</span>que é a </span>soma de todos os bens e serviços produzidos<span style="font-size: large;"> pelo <span style="font-size: large;">país</span>)</span> foi de 4%.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">Assim, de 2003 até 2008, a economia
brasileira também experimentou uma importante fase de crescimento econômico.
Internamente o governo Lula, com uma </span><span style="line-height: 150%;">equipe econômica ortodoxa no Banco Central e no Ministério da Fazenda, </span><span style="line-height: 150%;">aplicou
políticas macroeconômicas neoliberais (altas taxas de juros, m</span><span style="line-height: 150%;">etas de inflação, câmbio flexível e superávits
primário). </span><span style="line-height: 150%;"> Mas essas políticas foram combinadas </span><span style="line-height: 150%;">com
medidas para o crescimento do mercado interno, tais como: </span><span style="line-height: 150%;">ampliação do crédito, sobretudo o imobiliário
(favorecendo empreiteiras), ampliação do gasto público, investimento em
infraestrutura - Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que também
desonerou empresas privadas, financiamento via Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) para atender setores estratégicos. Além disso, investiu em políticas para a
classe trabalhadora com o Programa
Bolsa Família) e política
de valorização do salário mínimo.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: , serif; line-height: 150%;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como
analisou Nelson Barbosa, </span>o crescimento médio do PIB foi de "3,3% ao
ano, entre 2003 e 2005, enquanto a inflação media caiu nos anos subsequentes. O
crescimento do PIB foi para 4%, em 2006, acelerando para e 6,1%, em 2007 e caiu
para 5,1% em 2008 devido a crise internacional. No geral, o crescimento do PIB foi
alavancado pelo investimento, e pelo aumento do consumo das famílias. Ainda,
desempenho fiscal do período de 2006 a 2008, "somado aos efeitos benéficos
da redução na taxa de juro e do crescimento maior do PIB, resultou em uma nova redução
da divida liquida do setor publico, que atingiu 39% do PIB no final de 2008".
(BARBOSA, 2013).</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="text-align: center;"><span style="font-family: , serif;"><span style="font-size: large;"> Balança comercial - exportação: 1995-2015. Banco Central</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_5CqWJMBz2NWvyoLxEKYtL-BqDvmxsLrJod4-l3FAmDvPi034gepgZBg8DXHp0CwA7ARXnA1AuBIyW4jKbKODl1C0JJwz4l_n4VP7u0W2l5OqtdWKJ44SdOQpF05FO5njEV0twto54rQS/s1600/Exportacao.png" style="text-align: center;"><span style="font-size: large;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_5CqWJMBz2NWvyoLxEKYtL-BqDvmxsLrJod4-l3FAmDvPi034gepgZBg8DXHp0CwA7ARXnA1AuBIyW4jKbKODl1C0JJwz4l_n4VP7u0W2l5OqtdWKJ44SdOQpF05FO5njEV0twto54rQS/s640/Exportacao.png" width="640" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">Com o aumento dos investimentos e superávits, o Estado investiu maiores
recursos em setores da produção nacional, sobretudo nos produtores de bens
primários. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) abriu
linhas de créditos milionárias para financiar empresas privadas<span style="font-size: large;">, beneficiando a</span> Vale do Rio Doce, Usiminas, Odebrecht, Andrade-gutierrez,
Votorantim, Gerdau, Usina de Santo Antonio, Valepar, Siderúrgica Barra Mansa, Brasken,
VCP, Ambev, Marfring, LLX, GVT, Alcoa, Tim, Renault. Por meio de tais políticas
o governo federal conseguiu conquistar importante base de apoio entre o
empresariado. Lula chegou a declarar que: </span>“Foi preciso um
metalúrgico para transformar o Brasil em país capitalista”. <span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">No estímulo ao crescimento interno teve grande importância </span><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;">o aumento
do crédito imobiliário e o programa de habitação popular “Minha Casa Minha
Vida”. Foram construídas casa populares com financiamento estatal, o que por
sua vez, fomentou </span>um campo de negócios enorme
para a construção civil e empreiteiras. Além disso, o<span style="line-height: 150%;">s programas
sociais empreendidos pelo governo, possibilitaram uma redução considerável da
pobreza extrema, de acordo com o <span style="font-size: large;">r</span>elatório do Banco Mundial, publicado em 2015, 22
milhões de famílias brasileiras saíram da "linha da pobreza" (pessoas que vivem
com menos de 1 dólar por dia).</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">No geral, o crescimento do PIB foi alavancado pelo
investimento, e pelo aumento do consumo das famílias. Ainda, desempenho fiscal
do período de 2006 a 2008, "somado aos efeitos benéficos da redução na
taxa de juro e do crescimento maior do PIB, resultou em uma nova redução da divida
liquida do setor publico, que atingiu 39% do PIB no final de 2008".
(BARBOSA, 2013). </span><span style="font-size: large;">A taxa de desemprego declinou consideravelmente:</span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><br /></span></span>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><b style="font-size: medium; line-height: normal; text-align: center;"><span style="font-size: large;"> Taxa de desemprego - 2002-20015. IBGE</span></b></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbSVYIq4y9n9ixl2M_Zu9lwtNdjdis14R1Z0Uu13kFgllsNV7zFS_45KJqGIixXXr0iR7E5cXuzrQ47N9IM8mdUuW7NbjbwxyeBE0IFw5w_z4lE91N8nFFGCJtTaPY4sZqQyXx2opl6tgv/s1600/Taxa+desemprego.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="378" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbSVYIq4y9n9ixl2M_Zu9lwtNdjdis14R1Z0Uu13kFgllsNV7zFS_45KJqGIixXXr0iR7E5cXuzrQ47N9IM8mdUuW7NbjbwxyeBE0IFw5w_z4lE91N8nFFGCJtTaPY4sZqQyXx2opl6tgv/s640/Taxa+desemprego.jpg" width="640" /></a></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 6pt; text-align: center;">
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;">No entanto, a
crise de 2008 teve impactos duradouros na economia brasileira. O autor aponta
que "O primeiro impacto da crise internacional sobre o Brasil ocorreu de
duas formas: uma contração abrupta e substancial da oferta de crédito e uma
grande incerteza sobre a solvência de alguns grupos empresariais exportadores".
(Idem). Em 2009, em meio a crise de sobreacumulação do capitalismo, o país
sofreu com as contradições de sua própria política econômica que se somaram aos
graves impactos da crise internacional, como retração do comércio, diminuição
do crédito, fuga de capitais, desvalorização da moeda com redução dos
investimentos e do consumo. (CORSI, 2016, BARBOSA, 2013). De acordo com
Barbosa: "o clima generalizado de incerteza econômica e o impacto
recessivo da depreciação cambial sobre o poder de compra das famílias
brasileiras também resultou numa desaceleração do crescimento do consumo
privado". (Idem).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"> Para
minimizar os impactos da crise, o governo Lula (mesmo afirmando </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">que a quebra de Wall Street era
um Tsunami nos EUA, mas que chegaria como uma marolinha no Brasil), mediante a
queda do PIB em 5% só nos primeiros seis meses de crise, </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">também
adotou políticas anti-cíclicas, medidas expansionistas nas áreas fiscal,
monetária e creditícia. Centrou-se no incentivo ao consumo, na redução de
juros, redução de impostos e isenções ficais, ampliou o crédito, emissão de
moeda e o gasto público. Utilizou as reservas para financiar exportações,
fortalecendo empresas e bancos no exterior e expandiu a atuação do (BNDES) com
amplas linhas de financiamento a longo prazo dos investimentos com baixos
juros. (CORSI, 2016). Além disso, manteve o aumento previsto para o salário
mínimo, bem como os gastos como os programas sociais. A falta de crédito foi
enfrentada como a expansão da liquidez, mas também reduziu cobranças de instituições
financeiras, financiou exportações, praticou uma serie de desonerações,
expandiu ofertas de empréstimos via Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e
BNDES. Lançou o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), com construção de um
milhão de casa entre 2009 e 2010, incentivando diretamente o crescimento da
construção. (BARBOSA, 2013).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;">Tais medidas impediram a crise mais profunda e
prolongada da economia, com um crescimento de 7,5% do PIB em 2010 impulsionado
pelo incremento do consumo e do investimento, gerando uma rápida recuperação
baseada na expansão do mercado interno. Com isso, no acumulado geral, ao longo
dos dois mandatos do governo Lula (2003-2010), o PIB brasileiro cresceu a uma
média de 4%. Com tais medidas e resultados, o Brasil: "conseguiu gerar um
volume expressivo de empregos, com aumento sustentável dos salários reais e
inclusão de milhões de pessoas no mercado de trabalho formal e na sociedade de
consumo de massa". (Barbosa, 2013). Outro elemento a ser considerado em
relação aos impactos da crise internacional no Brasil foi o seu intenso
comércio com a China, que investiu pesadamente em políticas anticíclicas,
retardou os impactos da crise e manteve certa estabilidade no comércio de
commodities com o Brasil. (CORSI, 2016).<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%;">No entanto, cabe destaca que, ainda mesmo
imediatamente eficientes, tais políticas não poderiam, por si, como medidas
internas, reverter os impactos causados pela desaceleração da economia mundial.
Diante disso, a economia brasileira declinou significativamente. </span></span><br />
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"></span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;">Ao final do governo Lula, voltou-se a aumentar os
juros para favorecer o capital financeiro nacional e internacional. Os sinais
de esgotamento do padrão de crescimento do Brasil faziam-se mais presentes ao
final do governo Lula, com fim do boom das <i>commodities</i>,
aumento da inflação, dificuldade em ampliar investimentos e consumo. Tudo isso
contribuía para a desaceleração do crescimento em 2011.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Durante todo o período 2003-2010 não houve transformações estruturais
no país. As administrações do PT no Governo Federal foram formas de
continuidade dos governos neoliberais, uma vez que não houve reversão das tendências
do liberalismo econômico e das privatizações. </span><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="font-size: large; line-height: 150%;">O país crescia, os empresários
do agronegócio, banqueiros e industriais enriqueceram muito, quando o crescimento desacelerou, as frações da burguesia pactuaram pela retirada do PT do governo Federal. </span><br />
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="font-size: large; line-height: 150%;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 6pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;">A desaceleração e crise nos anos
Dilma<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo Dilma, ao assumir o poder em 2011,
manteve a política de juros altos, diminuiu o crédito e reduziu os gastos
públicos (mas sem mexer nos programas sociais), manteve o núcleo da política
macroeconômica neoliberal (m</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">etas de inflação, câmbio flexível e superávits primário, que geram elevadas
taxas de juros e valorização da moeda) </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">seguida tanto pelo governo
por FHC como por Lula. Sua estrutura macroeconômica continuava atendendo aos
interesses do capital financeiro, o que, por sua vez, não reverteu a tendência
de desaceleração da economia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">No primeiro ano do governo Dilma, o PIB foi decrescente,
metade da média dos governos Lula, mas também abaixo da média mundial de </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3,4%, </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">e abaixo da média da América
Latina de </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2,9%</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">.
O governo Dilma decidiu mexer na política de juros altos (que desagradava a
burguesia rentista), mas isso não reverteu a tendência de desaceleração da
economia, de aumento dos preços Seguiu-se ainda a valorização da moeda,
deterioração das contas externas, desindustrialização e reprimarização das
exportações. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="font-size: large;">Em 2012, frente
ao cenário internacional desfavorável, avança a desaceleração da economia
chinesa, com diminuição das exportações e diminuição dos lucros das empresas no
Brasil, o que por sua vez, ocasionaria a deterioração de termos de trocas
internacionais, com diminuição dos ganhos externos e aumento da vulnerabilidade
externa brasileira. A diminuição da receita com exportações diminuiu os lucros
das empresas e a arrecadação tributaria do governo, contribuindo largamente
para deprimir os investimentos privados.
Somados, diminuição da receita, dos investimentos internos e do consumo,
a economia brasileira cresceu 0,9%, em 2013 subiu para 2,49%, mas decresceu em
2014 para apenas 0,1%. (BARBOSA, 2013)<o:p></o:p></span></span></div>
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="font-size: large; line-height: 150%;">
</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O
fraco desempenho durante os governos Dilma teve relação direta com a
desaceleração da economia mundial decorrente da crise de 2008, mas que
somaram-se às determinantes internas as medidas restritivas de 2011, o baixo
nível dos investimentos contribuiu diretamente para o baixo crescimento da
economia brasileira, poucos investimentos em infraestrutura, sobretudo nos
pontos de estrangulamento da economia, com baixas expectativas de lucro para o
empresariado. Esses elementos somaram-se aos juros altos (atrativo para o
capital </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">especulativo)</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">, câmbio apreciado e baixo
investimento na indústria. Nesse cenário, a burguesia nacional que lucra com o
capital financeiro, com apoio da mídia, defendia uma rígida política ortodoxa
com elevação dos juros, diminuição do crédito e corte nos gastos públicos para
obtenção de superávits primários. O descontentamento da burguesia somou-se ao
descontentamento da classe trabalhadora e da juventude que demandava por
melhores condições de infraestrutura (saúde, transporte e moradia).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Em
2014 agravou-se o cenário adverso com a persistência da crise internacional
somada à deterioração da economia nacional e esfacelamento da aliança de
classes que sustentava o governo. Nesse contexto, o governo optou por
aprofundar a política recessiva de caráter ortodoxo. Nomeou um representante do
rentismo, </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Joaquim
Levy, para o Ministério da Fazenda, o objetivo era atender aos interesses do
capital financeiro, que eram aumento dos juros e ajuste fiscal com superávit
primário.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">Levy implementou rígida política ortodoxa, como uma
</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">agenda de aumento de juros, corte
de investimentos públicos e corte de direitos sociais. O aumento dos juros com</span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: PT-BR;">
corte nos gastos públicos aprofundou a recessão e agravou a situação fiscal com
redução da receita pública. Assim, estas medidas aprofundaram vertiginosamente a
crise da economia que vinha desacelerando desde 2011. </span><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A taxa a SELIC passou de 11,75%, em dezembro de
2014, para 14,25%, em julho de 2015. Embora estas medidas atendessem aos
interesses dos rentistas, geraram aumento do desemprego, queda dos salários e
impopularidade do governo na classe trabalhadora. </span></span></div>
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="font-size: large; line-height: 150%;"><br /></span>
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="font-size: large; line-height: 150%;">É aí que entra o</span><span style="font-size: large;"> processo investigativo denominado </span><i style="font-size: x-large;">Operação Lava-jato</i><span style="font-size: large;">, iniciado em fevereiro de 2014, investigando esses empréstimos,
descobriu-se um amplo esquema de corrupção com desvio de verbas, propinas, enriquecimento
ilícito e favorecimento indevido. </span><span style="font-size: large; line-height: 36px;">No conjunto, essas medidas econômicas empurraram a economia brasileira para a recessão de 2015 com grande retração do PIB, que t</span><span style="font-size: large; line-height: 36px;">ornou-se negativo, -3,5% nos anos 2015 e 2016.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;">A infraestrutura mantinha-se
precária. </span>O país registra intensificação da
concentração de renda, e ainda: falta de moradia, sucateamento da educação
(baixos salários e escolas precárias); saúde precária (falta de profissionais,
de equipamentos e superlotação); transporte caro, precário e insuficiente; alto
índice violência policial, favelas imensas; grande massa de população
carcerária etc. <span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;">Por isso, nas <i>Jornadas
de junho </i>de 2013, foi deflagrada uma série de protestos envolvendo milhões
de jovens que reivindicavam melhorias nos transportes, na educação e na saúde. </span>Além dos protestos por mudanças na infraestrutura, cresceu também
o número de greves, passando de 312 em 2004 para 2.050 greves em 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;">Ainda, </span><span style="line-height: 150%;">uma crise nas exportações, na liquidez
internacional com diminuição da entrada de capital externo, obrigaria o governo
a cortar significativamente parte dos investimentos que sustentava essa forma de
desenvolvimento. A partir de 2012, as exportações começam a declinar, os
investimentos externos declinam, registra-se a desaceleração da economia
interna. </span><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;">A queda no preço das <i>commodities</i>, crise dos países da zona do euro, baixo desempenho da
economia americana e a desaceleração da China, impactaram fortemente sobre a economia brasileira<span style="font-size: large;"> que apresentou </span>uma queda
significativa do PIB do Brasil. Em 2011, o PIB cresceu 2,7% e em
2012 decaiu para 0,9%<span style="font-size: large;">, chegou a 2,3% em 2013<span style="font-size: large;">, mas</span> declinou novamente para 0,1% em 2014<span style="font-size: large;"> e atingiu patamar<span style="font-size: large;"> negativo </span></span></span></span></span><span style="font-size: large;"><span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><span style="font-size: large;"><span style="font-size: large;">de -3,8% em 2015.</span></span></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span face=""agaramondpro-regular" , "serif"" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="font-size: large;">O golpe de Estado</span></b><br />
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">O protagonista mais importante na articulação <span style="font-size: large;">do</span> golpe institucional é o
PSDB, partido perdedor das eleições que não aceit<span style="font-size: large;">ou</span> a derrota. O Partido perdeu
por uma pequena diferença de votos, assim, derrotado nas eleições,
aproveitou-se do descontentamento crescente com a nova conjuntura econômica e
os movimentos de protesto da juventude, para se construir entre os setores mais
conservadores da sociedade, sobretudo na classe média-alta (setor que tem
rendimentos acima de 1.500 dólares ao mês). O PSDB, por meio de seu candidato
derrotado Aécio Neves, fez intensa campanha política para canalizar os votos em
um movimento social que alavancasse a legenda buscando atrair outros partidos
da base do governo para uma oposição à direita do governo. Esse processo
político convergiu com a desaceleração da economia que convertia-se em
recessão. Com isso, fortaleceram-se os setores que defendiam a aplicação de
políticas de caráter ortodoxas, com redução de gastos do Estado e dos investimentos
públicos. Tratava-se de uma luta para reforçar os elementos neoliberais das
políticas do Estado. </span></span><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><br />
<span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">De forma
defensiva, Lula e o PT também convocaram uma série de protestos em defesa do
governo, tentando criar um pacto de união nacional entre trabalhadores e
patrões para barrar o processo de</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">impeachment</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">. Ainda assim, este foi aprovado em primeira instância, na
Câmara dos Deputados e seguirá <span style="font-size: large;">n</span>o Senado. Sendo aprovado no Senado, a presidente será afastada do cargo por 6 meses e seu vice assumirá o governo. Trata-se de um "golpe branco",
em que um grupo político, um</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">setor mais conservador da administração do capitalismo
nacional,<span class="apple-converted-space"> </span></span><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">quer "varrer" seus adversários da administração do Estado,
fabricando uma legalidade às pressas por meio de maioria parlamentar simples,
para aplicar políticas econômicas mais austeras desconsiderando os resultados
eleitorais. Junto com o</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">impeachment</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">, vence toda a equipe política do reajuste recessivo, que
passará a ocupar os principais cargos técnicos, políticos e administrativos do
Estado. A presidente não foi condenada a um crime sequer. Está sendo julgada
pelas “pedaladas fiscais” por gasto excessivo de recursos.</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> </span><span style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Então,
o impedimento explicita um projeto de contra-reforma dentro da gestão do
Estado.</span></span><br />
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">O Partido dos Trabalhadores dedicou todas as suas gestões
ao enriquecimento dos latifundiários, setores do agronegócio, banqueiros e
industriais. Para chegar ao poder o PT coligou-se com partidos conservadores que foram agentes diretos da ditadura militar (a coligação de 2014 era: </span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: "arial"; font-size: 13.86px; letter-spacing: -0.2772px; line-height: 20.097px; text-align: left; text-indent: 0px;">PT, PMDB, PDT, PC do B, PP, PR, PSD, PROS e PRB</span><span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">). Esse partido ainda está disposto a empreender as contra-reformas demandadas pelo empresariado, no
entanto, PSDB e aliados garantem que o farão com mais rapidez e eficiência. O
PSDB, que agora conseguiu o apoio do PMDB (partido que apoiava o governo),
tenta resolver a crise política por meio de uma "guerra nas
estrelas", uma disputa<span style="font-size: large;"> "nas alturas" </span>evitando que essa deságue no terreno da luta de classes direta, nas ruas<span style="font-size: large;">, </span>e que a população possa intervir na resolução da crise
política. Por isso defendem o </span><i style="font-size: x-large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">impeachment</i><span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
em oposição a convocação de eleições gerais.</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><span style="background: white; line-height: 150%;">Não é correto defender que se derem tranquilidade
ao PT tudo vai ficar bem para as classes trabalhadoras do Brasil. Porque a
crise, internacional e nacional, continua na pauta do dia. Por isso, uma
política pela esquerda, precisaria ser independente do governo, do empresariado </span></span><span style="background: white; font-size: x-large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">e dos golpistas. No entanto, a esquerda ainda não conseguiu estabelecer
um caminho independente, que combata tanto os reajustes pretendidos pelo PT e
pela burguesia nacional, como o golpismo do</span><span class="apple-converted-space" style="font-size: x-large; text-indent: 35.45pt;"><i> </i></span><i style="font-size: x-large; text-indent: 35.45pt;">impeachment</i><span class="apple-converted-space" style="font-size: x-large; text-indent: 35.45pt;"> e seus planos de reajuste econômico
que também atacaram diretamente a classe trabalhadora em favor do patronato.</span></div><div class="MsoNormal"><span style="line-height: 24px; text-indent: 47.2667px;"><span style="font-size: large;">Após o golpe que derrubou o governo Dilma, o governo Temer, ganhou força o </span></span><span style="line-height: 24px; text-indent: 47.2667px;"><span style="font-size: large;">ajuste ortodoxo pautado na redução dos direitos trabalhistas e sociais, com reforma da previdência, reforma trabalhista e redução dos gastos com programas sociais e serviços públicos. Buscou-se implementar uma série de medidas para atender demandas do capital em crise. Estabeleceu-se um teto de gastos por vinte anos, bem como redução do papel do financiamento estatal via BNDES no fomento da economia e privatizações na Petrobrás, com redefinição das regras do pré-sal e privatizações. As políticas ortodoxas desde Dilma até Temer impactaram diretamente no mercado de trabalho e nos salários. A taxa de desemprego saltou 6,8% em 2014, para 8,5% em 2015. A situação agravou-se em 2016 chegando 11,8% de desempregados e, ainda, saltou para 13% em 2017.</span></span></div>
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Versão alemã</span><br />
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"><br /></span>
<br />
<div class="field field-name-field-vorschautext field-type-text-long field-label-hidden" style="background-color: white; border: 0px; font-family: ff-tisa-sans-web-pro; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: start; text-indent: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-items" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-item even" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">In Brasilien versammelten sich am Sonntag, den 17. April 2016, RegierungsgegnerInnen und -befürworterInnen, um die Abstimmung der Abgeordnetenkammer über das Impeachment, das Amtsenthebungsverfahren für Präsidentin Dilma Rousseff zu verfolgen. Seit Monaten treibt die politische Krise des Landes Tausende BrasilianerInnen auf die Straße, um entweder gegen die Regierung der Arbeiterpartei PT (Partido dos Trabalhadores) zu demonstrieren und ihre Absetzung zu fordern, oder um sie zu verteidigen. Mit 367 gegen 137 Stimmen wurde das Impeachment-Verfahren nun von den Abgeordneten abgesegnet. Die Entscheidung liegt jetzt beim Senat.</span></div>
</div>
</div>
</div>
<div class="field field-name-field-autorin field-type-entityreference field-label-hidden" style="background-color: white; border: 0px; font-family: ff-tisa-sans-web-pro; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px 0px 1em; outline: 0px; padding: 0px; text-align: right; text-indent: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-items" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-item even" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;"><b>Alessandro de Moura</b></span></div>
</div>
</div>
<div class="field field-name-body field-type-text-with-summary field-label-hidden" style="background-color: white; border: 0px; font-family: ff-tisa-web-pro, serif; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: start; text-indent: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-items" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-item even" property="content:encoded" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Um die aktuelle Situation besser zu verstehen, lohnt sich ein Rückblick auf das letzte Jahrzehnt. In dieser Zeit lief die internationale Wirtschaft auf Hochtouren, was zur Folge hatte, dass viel internationales Finanzkapital nach Brasilien kam. Der Wirtschaftsaufschwung brachte für Brasilien zwischen 2002 und 2010 einen durchschnittlichen jährlichen Anstieg des Bruttoinlandsproduktes von vier Prozent. Durch diesen Zuwachs konnte der Staat in die nationale Produktion investieren. Die Nationalbank BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) gab Millionenkredite an Privatunternehmen wie Vale do Rio Doce, Usiminas, Odebrecht, Tim oder Renault. Durch diese Politik konnte sich die Regierung die Unterstützung der PrivatunternehmerInnen sichern. Ex-Präsident Luiz Inácio Lula da Silva sagte einmal treffend: Es brauchte einen Metallarbeiter, um Brasilien in ein kapitalistisches Land zu verwandeln.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Mit diesem Wachstum stiegen auch die Kredite für Immobilien und das Sozialwohnungsprogramm Minha Casa Minha Vida (Mein Haus, mein Leben). Sozialwohnungen wurden mit staatlicher Finanzierung gebaut, was wiederum ein gutes Geschäft für die Baufirmen bedeutete. Durch diese sozialpolitischen Maßnahmen konnte die extreme Armut beträchtlich gesenkt werden, auch die Arbeitslosigkeit ging zurück.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Zwischen 2002 und 2012 gab es allerdings keine strukturellen Veränderungen. Die Regierungen der PT waren letzten Endes eine Fortsetzung der neoliberalen Vorgängerregierungen. Die Wirtschaft wuchs, UnternehmerInnen in den Bereichen Agrar- und Finanzwirtschaft und der Industrie profitierten davon.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; vertical-align: baseline;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-style: inherit; font-weight: inherit;"><span style="font-size: large;">Dann deckte 2014 die Operation Lava Jato (zu deutsch etwa Hochdruckreiniger oder Waschstraße) auf, dass all diese Investitionen und Aufträge in einem weiten Netz der Korruption verwoben waren, in dem Geldflüsse umgeleitet, Bestechungsgelder gezahlt und angenommen wurden sowie unerlaubte Bereicherung und unbegründete Bevorzugung stattgefunden hatten. Darüber hinaus zwangen die Exportkrise und der Rückgang der Kapitalzuflüsse von außerhalb die Regierung dazu, ihre Investitionen drastisch zurückzufahren. Seit 2012 befindet sich die Wirtschaft deutlich in einem Abwärtstrend. Die globale Wirtschaftskrise verstärkte dies noch und das Bruttoinlandsprodukt sank 2015 um 3,8 Prozent.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-style: inherit; font-weight: inherit;"><span style="font-size: large;">Die Unterstützung von Seiten der PrivatunternehmerInnen geriet mit diesen Entwicklungen ins Wanken, die Bevölkerung war mit einem Korruptionsskandal konfrontiert im Übrigen der erste, bei dem in diesem Maße ermittelt wird. So stieg die Unzufriedenheit mit der Regierung in rasender Geschwindigkeit. Die Sonntags-Demonstrationen, bei denen sich meist wohlhabende und weiße BrasilianerInnen in die Nationalflagge hüllen, um ihr Fora Dilma! (Weg mit Dilma!) zu rufen, gewannen an Popularität. Bei den Protesten wurde das Impeachment-Verfahren, das die Präsidentin vorzeitig aus ihrem Amt entheben soll, mit steigender Vehemenz gefordert. In die Defensive gedrängt, riefen auch Lula und die PT zu einer Reihe von Protesten auf, die wiederum die Regierung verteidigen sollten. Das Ziel war, einen nationalen Zusammenschluss von ArbeiterInnen und ArbeitgeberInnen zu erreichen, um den Prozess des Impeachment zu verhindern. Trotz aller Anstrengungen, die eigenen Reihen zu mobilisieren, konnte nun das Amtsenthebungsverfahren in der ersten Instanz, der Abgeordnetenkammer, durchgesetzt werden.</span></span></div>
<br />
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Man kann in diesem Prozess von einem kalten Putsch reden, bei dem eine konservative politische Gruppierung ihre GegnerInnen in der Staatsverwaltung wegfegen will. So soll mithilfe einer einfachen Mehrheit im Parlament in aller Eile eine legale Grundlage dafür geschaffen werden, um eine wirtschaftliche Austeritätspolitik zu implementieren, ohne dabei die Wahlergebnisse zu respektieren. Zusammen mit dem Impeachment gewinnt das Team der rezessiven Strukturanpassung, das nun die wichtigsten Posten in der Regierung neu besetzt. Die Präsidentin wird dabei weder für irgendeine Straftat verurteilt, noch, entgegen der weit verbreiteten Meinung, aufgrund des Korruptionsskandals. Die Medien tragen zu dem Eindruck bei, das Impeachment sei eine direkte Konsequenz der Operation Lava Jato. Auf legaler Ebene besteht allerdings keine Verbindung. Tatsächlich wird Dilma Rousseff vorgeworfen, auf exzessive Weise staatliche Gelder ausgegeben zu haben. Im Rückschluss heißt das, dass es darum geht, eine Gegenreform durchzusetzen, die die Verwaltung der Staatsausgaben neu regelt.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Die wichtigste Protagonistin dieses sich anbahnenden institutionellen Staatsstreiches ist die PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), die Partei, die bei den letzten Präsidentschaftswahlen eine knappe Niederlage einstecken musste und dies nie akzeptiert hat. So begann sie, die wachsende Unzufriedenheit mit der wirtschaftlichen Konjunktur sowie die Protestbewegungen der Jugend für ihre Zwecke zu nutzen und sich in den konservativen Teilen der Gesellschaft zu etablieren, vor allem in der oberen Mittelschicht (mit einem Einkommen über 1500 US-Dollar im Monat). Mit ihrem bei den Wahlen geschlagenen Kandidaten Aécio Neves machte die PSDB eine intensive politische Kampagne, um diese unzufriedenen Stimmen in einer sozialen Bewegung zu kanalisieren, die eine rechte Opposition zur Regierung bilden könnte. Dieser politische Prozess vollzog sich, während gleichzeitig die Wirtschaft ins Stocken geriet und sich auf eine Rezession zubewegte. Damit bekamen diejenigen Zulauf, die einen konservativen Politikansatz vertraten sowie die Reduzierung der Staatsausgaben und der öffentlichen Investitionen forderten. Es wurde erbittert darum gekämpft, die neoliberalen Elemente der Politik zu verstärken.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Auch die PT widmete bereits einen Großteil ihrer Ausgaben für die Bereicherung der GroßgrundbesitzerInnen und der Agrarwirtschaft, der Banken sowie der Industrie und ist erneut dazu bereit, Gegenreformen in Angriff zu nehmen. Trotz alledem sind die PSDB und ihre Alliierten der Garant dafür, diese Veränderungen noch schneller und mit größerer Effizienz durchzusetzen. Die PSDB, die nun auch die Unterstützung der PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro die bisherige Koalitionspartei der PT) erringen konnte, versucht die politische Krise mit einem Krieg der Sterne, einem Streit weit oben zu lösen, um so zu verhindern, dass sie in einen direkten Kampf auf der Straße mündet, der eine Beteiligung der Bevölkerung bei der Lösung der politischen Krise mit sich bringen könnte. Aus diesem Grund stehen nicht allgemeine Neuwahlen, sondern das Impeachment-Verfahren im Vordergrund.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Man kann schlecht behaupten, dass die arbeitenden Klassen in Brasilien keine Probleme hätten, wenn man die PT in Ruhe walten ließe. Die nationale und internationale Krise bleibt auf der Tagesordnung. Aus diesem Grund müsste eine linke Politik unabhängig von der Regierung, von den ArbeitgeberInnen und den PutschistInnen geschaffen werden. Die Linke hat es allerdings bisher nicht geschafft, einen unabhängigen Weg einzuschlagen, der den schlechten Kompromissen und politischen Fehlgriffen der PT sowie den Putschversuchen der Konservativen durch das Impeachment und den Plänen der ökonomischen Strukturanpassung etwas entgegensetzen könnte.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Die PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) und die PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) sind die zentralen linken Parteien in Brasilien. Die PSTU rief die Losung Weg mit allen (Fora todos) aus, neben der Forderung nach bedingungslosen Neuwahlen. Sie ruft zu einem Generalstreik auf, der die gesamte Regierung stürzen und Neuwahlen für alle Posten der Regierung herbeiführen soll. Der Sturz der Präsidentin soll also nicht verhindert werden, mit dem Hinweis darauf, dass eine Regierung, die gegen die Interessen der ArbeiterInnen agiert, nicht verteidigt werden könne. Die PSOL vertritt in ihrer Mehrheit die parlamentarische Opposition zum Impeachment und der Haushaltsanpassungen, ohne dabei das politische System an sich zu diskutieren. Ihr linker Flügel, der von Luciana Genro vertreten wird, positioniert sich ebenfalls gegen das Amtsenthebungsverfahren, fordert allerdings vorgezogene Neuwahlen. Keine der Parteien ist dazu bereit, eine gemeinsame Front gegen das Impeachment zu bilden, um die Verstärkung rechter und konservativer Kräfte rund um die PSDB zu verhindern und die Rechte der ArbeiterInnen zu verteidigen. Obwohl sie die Linke in Brasilien repräsentieren, bieten weder die Position der PSTU noch die des linken Flügels der PSOL einen fortschrittlichen Ausweg für die Linke. Auch ist die Alternative einer Selbstorganisierung der Basisbewegungen nicht in Sicht.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Letzten Endes bedeutet die Absetzung der Präsidentin Dilma und die Regierung des Vizepräsidenten Michel Temer mit seinem reaktionären politischen Projekt den Beginn einer neuen Phase des Klassenkampfes. Denn der Kampf gegen eine rückschrittliche Politik scheint tatsächlich an Stärke zu gewinnen. Die brasilianische Jugend ging im Juni 2013 mit Tausenden auf die Straße, besetzte 2015 mehr als 200 Schulen gegen die Bildungspolitik des Bundesstaates São Paulo und die ArbeiterInnen intensivieren ihre Streiks. Eine Alternative aufzuzeigen wird für die Linke immer wichtiger.</span></div>
</div>
</div>
</div>
<span style="background-color: white; font-size: large; line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"></span><br />
<div class="field field-name-field-more-info field-type-text field-label-hidden" style="background-color: white; border: 0px; font-family: ff-tisa-sans-web-pro; font-stretch: inherit; font-variant-east-asian: inherit; font-variant-numeric: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; text-align: start; text-indent: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-items" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div class="field-item even" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Der Autor ist Doktor der Sozialwissenschaften der UNESP/Brasilien.</span></div>
</div>
<div class="field-item odd" style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; outline: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="border: 0px; font-family: inherit; font-stretch: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; font-weight: inherit; line-height: inherit; outline: 0px; padding: 0px 0px 0.5em; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-size: large;">Übersetzung und Bearbeitung: Laura Burzywoda</span></div>
</div>
</div>
</div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: 35.45pt;">
<o:p></o:p></div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-26897977569338095522016-04-11T17:16:00.003-07:002016-07-14T17:36:47.599-07:00Marx em defesa da liberdade de imprensa (1842)<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj05-0ohVJ5hdH52yXu7hm2kG7Ob8m0AHddZk6vwxBBqMk-UYpo2013IAqrjcwFNXDErHSxW2BJy16Cee4yuGMfSdaidffngbNXmfBAgeESnS_140ShUwO5lhXzRSPmOGZQaDmJEh3AXHOk/s1600/Jovem+Marx+-+gravura.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj05-0ohVJ5hdH52yXu7hm2kG7Ob8m0AHddZk6vwxBBqMk-UYpo2013IAqrjcwFNXDErHSxW2BJy16Cee4yuGMfSdaidffngbNXmfBAgeESnS_140ShUwO5lhXzRSPmOGZQaDmJEh3AXHOk/s320/Jovem+Marx+-+gravura.jpg" width="242" /></a><span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: large;">A</span>presento aqui uma breve resenha do texto <b><i><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Debate sobre a liberdade de
imprensa e comunicação</span></i></b> publicado em 1842. O texto foi escrito
por Marx para atacar a censura imposta em 1841 pelo governo de Frederico IV na
Alemanha. Marx apontava que o nível de desenvolvimento da imprensa, em sua
capacidade de crítica à realidade e ao estado de coisas, reflete sempre o nível
de desenvolvimento político e social da sociedade que a produziu. Assim, se a
imprensa é politicamente mais desenvolvida, politizada e crítica, isso se deve
ao próprio grau de ebulição de idéias e praticas da sociedade que produziu tal
imprensa. Nesse aspecto ganha relevo a imprensa livre, que é capaz de
sintetizar e debater as principais idéias e problemas sociais. A liberdade de
imprensa é fundamental, pois é uma via de formulação e objetivação do
pensamento sobre o mundo (subjetivação e objetivação).<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Sendo assim, para Marx, a liberdade de imprensa permite
ampliar as possibilidades de intervenção crítica na realidade, tanto em relação
ao tecido social, político como em relação a forma de governo e Estado. Já
nesse texto de 1842, Marx aponta que o Estado é uma forma de emanação das
províncias que o constituí. (p. 34). Então, é a sociedade que constrói o
Estado. Dessa forma, o Estado não deve agir contra a liberdade de pensamento e
de publicação da sociedade como forma de resguardar-se de suas críticas. Ao
contrário disso, para Marx: "a província exige que as palavras dos Estados
sejam transformadas numa pública e compreensível voz do país". (p. 36). Ou
seja, a função do Estado é refletir os interesses da população que o compõe e
não sufocar sua voz coletiva. </div>
<div class="MsoNormal">
Uma das justificativas utilizadas pelos defensores da
censura era de que a sociedade era imatura para gozar de plena liberdade de
publicação. Marx combateu essa perspectiva argumentando que a própria
humanidade faz-se imatura, ainda: "Tudo aquilo que se desenvolve é
imperfeito" (p. 43). Defende que apenas experienciando o mundo e a
liberdade, com a possibilidade dos erros e acertos, é que se pode seguir-se na
marcha do desenvolvimento humano. Denota ainda que os governos também são
imperfeitos, assim como as assembléias legislativas, a imprensa e cada uma das esferas de atividade humana
(p. 44). </div>
<div class="MsoNormal">
Ao mesmo tempo, mesmo o governo não sendo perfeito, acha-se
no "direito" de perseguir opiniões críticas que possam emanar da
população. Dessa forma, a censura estatal impõe a perseguição às opiniões
públicas, ao mesmo tempo em que assegura a liberdade total à imprensa do
governo. Tem-se então um monopólio estatal e governamental da liberdade de
imprensa. (p. 46). Como pode um governo imperfeito julgar-se na prerrogativa de
censurar outras opiniões por considerá-las imperfeitas... A imperfeição não
pode achar-se no direito único de julgar que é ou não perfeito.</div>
<div class="MsoNormal">
Assim, o ataque governamental à liberdade de imprensa é um
ataque à liberdade humana geral. Marx problematiza ainda mais a questão
apontando que a censura não é uma lei que regulamenta a liberdade de imprensa,
com diretivas claras, direitos e sanções, é na verdade a proibição e publicação
pura e simples encarregada ao bel prazer do censor. Para Marx, por amordaçar a
população em prol da liberdade total do governo: "a censura mata o espírito
público". (p. 66). Por isso é necessária a liberdade geral e não apenas
para o governo e seus parceiros, coligados e funcionários devotados. </div>
<div class="MsoNormal">
Em defesa da liberdade de imprensa, Marx argumenta que a
imprensa é uma ferramenta de auxílio para formulação teórico-social do povo,
que aborda problemas sócio-materiais, as lutas materiais, possibilitando
converte-las em lutas intelectuais gerais: </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt;">A imprensa livre é o olhar onipotente do povo, a
confiança personalizada do povo nele mesmo, o vínculo articulado que une o
indivíduo ao Estado e ao mundo, a cultura incorporada que transforma lutas
materiais em lutas intelectuais, e idealiza suas formas brutas. É a franca
confissão do povo a si mesmo, e sabemos que o poder da confissão é o de
redimir. A imprensa livre é o espelho intelectual no qual o povo se vê, e a
visão de si mesmo é a primeira condição da sabedoria. É a mente do Estado que
pode ser vendida em cada rancho, mais barata que gás natural. É universal,
onipresente, onisciente. É o mundo ideal que flui constantemente do real e
transborda dele cada vez mais rico e animado. (p. 60).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
É a partir dessa perspectiva que Marx volta-se contra a
censura à imprensa. Sua preocupação central é que a censura impede a livre
intervenção e crítica social sobre os problemas vivenciados pela sociedade. A
censura sanciona a impossibilidade do exercício crítico da população em relação
ao Estado e o governo. Para Marx, a liberdade de crítica e publicação podia
fortalecer a luta da população contra a monarquia constitucional. Ampliava a
possibilidade de difusão das críticas produzidas pela burguesia liberal
antimonárquica, bem como pela esquerda hegeliana. Assim, Marx investia
frontalmente contra censura argumentando que por meio de tal proibição ouve-se
apenas a voz do governo, que reflete apenas suas próprias necessidades de
auto-afirmação. A imprensa censurada é na verdade uma forma de propaganda
permanente do próprio governo que tem por objetivo fortalecer sempre o seu
próprio poder, capacidade de dominação e governabilidade:</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt;">A imprensa <i>censurada</i>
é a que produz um efeito desmoralizador. O vício da hipocrisia é inseparável
dela e, além disso, é desse vício que surgem todos os seus outros defeitos,
pois inclusive sua capacidade de virtude básica perde-se através do revoltante
vício da passividade, mesmo se visto esteticamente. O governo ouve somente a
sua voz; sabe que ouve somente a sua voz; entretanto, tentar convencer-se de
que ouve a voz do povo, e exige a mesma coisa do povo. O povo, portanto, cai
parcialmente numa superstição política, parcialmente na heregia política, ou
isola-se totalmente da vida política, tornando-se uma <i>multidão privada</i>. (p. 65).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
A censura bloqueia o livre acesso à vida política nacional,
de acordo com Marx ela determina quem deve pensar publicamente e quem não deve,
quem deve ser livre para expressar seu pensamento e quem deve ser sufocado:
"A censura nos leva todos à sujeição e, como num despotismo, todo mundo é
igual, se não em merecimento, na falta deste; esse tipo de liberdade de
imprensa deseja introduzir a oligarquia na mente". (p. 81). Contrário a
isso: "A liberdade de imprensa prossegue com a presunção de antecipar a
história mundial, sentindo com antecedência a voz do povo". (p. 81). Marx
compreende que "A imprensa é a forma mais comum de comunicar aos
indivíduos seu ser intelectual" e assim conclui que: "Como todo mundo
aprende a ler e a escreve, todo mundo deveria <i>ter licença</i> para ler e escrever". (p. 81).</div>
<div class="MsoNormal">
Cabe destacar mais dois trechos de outro texto escrito por Marx
sobre a liberdade de imprensa, publicado em 1849. Nessa ocasião Marx, Engels e
Korff, foram julgados por causa de publicações que fizeram pela <i>Nova Gazeta Renana</i>. Marx elaborou uma
defesa própria, onde retoma o debate pela imprensa livre. Nesse texto argumenta
que: "A função da imprensa é ser o cão de guarda público, o denunciador
incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente do espírito
do povo que guarda com ciúme sua liberdade. (p. 103). Por fim defende que:</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt;">(...) de uma vez por todas, é o dever da imprensa tomar
a palavra em favor dos oprimidos à sua volta. E também, cavalheiros, a casa de
servidão tem seus próprios alicerces nas autoridades políticas e sociais
subordinadas, que confrontam diretamente a vida privada da pessoa, o indivíduo
vivo. Não basta combater as condições gerais e as altas autoridades. A imprensa
precisa decidir entrar na liça contra<i>
este</i> policial em particular, <i>este </i>procurador,
este administrador municipal (...). O primeiro dever da imprensa, portanto, é
minar todas as bases do sistema político existente. (p. 106-107).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
Em síntese, podemos observar que já em 1842, o ímpeto de
Marx passa a ocupar-se dos problemas sociais e políticos. Então, o texto aqui
debatido avança em relação a sua tese <i>Diferença
entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro</i>, publicada no ano
anterior (Confira: <span style="color: #548dd4;">http://combateclassista.blogspot.com.br/2016/04/marx-antes-do-marxismo-diferenca-entre.html</span>).
Por meio da luta pela liberdade de publicação colocava-o no <i>front </i>da luta contra o Estado. Note-se
que nesse período Marx ainda não havia desenvolvido os conceitos de burguesia e
proletariado, a oposição social era centrada entre estado e povo. Entre o
governo e as províncias. No entanto, já nesse texto de 1842 pode-se encontrar
elementos iniciais para um crítica ao poder do Estado, que será aprofundada na <i>Crítica da filosofia do direito de Hegel</i>,
escrita no ano seguinte. (Confira: <span style="color: #548dd4; font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">http://combateclassista.blogspot.com.br/2011/03/sobre-critica-da-filosofia-do-direito.html</span>).</div>
<div class="MsoNormal">
Se em sua tese de doutorado, concluída no ano anterior
(1841), Marx enfatizava que o ser humano era o verdadeiro ser de seu próprio
destino, capaz de mudar sua vida e a realidade, advertindo que a filosofia
deveria se engajar na transformação do real, nesse texto de 1842 acrescenta que
era necessário cerrar fileiras para lutar contra o Estado em prol da ampliação
das liberdades humanas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<b>Bibliografia</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
MARX, K. <i>Liberdade de imprensa</i>. L&PM. 2006.</div>
</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-63567538447066733982016-04-09T09:16:00.010-07:002021-10-13T07:08:11.117-07:00Marx antes do marxismo - Diferença entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro (1841)<div class="MsoNormal" style="margin: 6pt 0cm; text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYmVfols3WROoD61YgkTUWYXjoa1ccRKv4pwkQIoTBbs9mpERiaEFzl3K5fCkE40L3LriNqQ-3oxp6JctvzLIA_WW_cALieealLKUwSfxyy44P4ArswsKLTJQZSTHb-PA8meKqUnwgmr34/s1600/young_karl_marx.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYmVfols3WROoD61YgkTUWYXjoa1ccRKv4pwkQIoTBbs9mpERiaEFzl3K5fCkE40L3LriNqQ-3oxp6JctvzLIA_WW_cALieealLKUwSfxyy44P4ArswsKLTJQZSTHb-PA8meKqUnwgmr34/s320/young_karl_marx.jpg" width="220" /></a><span style="font-size: large;">A</span><span style="line-height: 150%;">presento breves notas sobre o trabalho</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%;"> </span><i style="line-height: 150%;">Diferença entre as filosofias da
natureza em Demócrito e Epicuro</i><span style="line-height: 150%;">, tese de doutorado de Marx produzida entre os
anos 1839 e 1841.</span><br />
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Conforme
veremos, Marx, além de possuir uma leitura própria dos clássicos, como
Demócrito e Epicuro, estava em sintonia com as produções mais importantes
debatidas naquele período. Assimilando os avanços e criticando seus limites,
Marx buscou aprofundar os aspectos e elementos que lhe pareciam mais
fundamentais.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Dessa forma,
o processo de radicalização da perspectiva política e filosófica de Marx foi
amparado pela assimilação e superação dos pressupostos de Hegel e Feuerbach.
Com isso, Marx passou de posições democrático-revolucionárias
(anti-monarquicas) para uma perspectiva socialista. Apenas a partir de 1843 o
autor passa a incorporar elementos do socialismo e evolui da posição de
democrático-revolucionário para o socialismo. Nesse processo, além da influência
do materialismo de Feuerbach, foi central a influência do texto de Engels<span class="apple-converted-space"> </span><i>Esboço para uma crítica da economia
política</i><span class="apple-converted-space"> </span>e também seu contato
com o socialismo francês em 1844.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
A tese de
doutoramento de Marx<span class="apple-converted-space"> </span><i>Diferença
Entre as Filosofias da Natureza Em Demócrito e Epicuro</i>, possibilitou-lhe
aprofundar um crítica ao idealismo hegeliano, fazendo-o aprofundar-se no
materialismo filosófico. Para Lukács, isso lhe conferiu superioridade
filosófica e política em relação a outros integrantes da esquerda hegeliana.
LUKÁCS, 2007).<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Toda
esquerda hegeliana tinha em comum o esforço por explicitar os elementos mais
revolucionários da filosofia hegeliana. Dentro dessa ala do pensamento
hegeliano estavam: Marx, Engels, David Strauss, os irmãos Bruno e Edgar Bauer,
Moses Hess, Arnoud Ruge e Max Stiner. De acordo com Celso Frederico, em seu
livro<span class="apple-converted-space"> </span><i>O jovem Marx</i><span class="apple-converted-space"> </span>(2009), no prefácio da<span class="apple-converted-space"> </span><i>Filosofia do Direito</i><span class="apple-converted-space"> </span>publicado por Hegel, lia-se uma máxima
hegeliana: "o racional é real; o real é racional". É possível compreender
a divergência entre a<span class="apple-converted-space"> </span><i>Direita</i><span class="apple-converted-space"> </span>e<span class="apple-converted-space"> </span><i>Esquerda</i><span class="apple-converted-space"> </span>hegeliana por meio dessa frase. A<span class="apple-converted-space"> </span><i>Direita</i><span class="apple-converted-space"> </span><i>hegeliana</i><span class="apple-converted-space"> </span>se apegava a segunda parte da frase,<span class="apple-converted-space"> </span><i>o real é racional</i>,
compreendendo que a sociedade e o Estado prussiano eram formas elevadas de
objetivação do racional. (FREDERICO, 2009). Nessa perspectiva, o monarca é a
própria encarnação da racionalidade máxima e por isso deve ser aceito, assim
como toda a sua forma de determinação política; leis, aparato burocrático etc.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Em
oposição a tal perspectiva, a<span class="apple-converted-space"> </span><i>Esquerda
hegeliana</i><span class="apple-converted-space"> </span>enfatizava que a
realidade ainda deixava muito a desejar no que tange ao racional. Era necessário
acabar com as mazelas sociais para aproximar a realidade imperfeita de uma
forma social compreendida como racional. Ou seja, o momento da racionalidade do
real-social, ainda não havia chegado. E assim, o momento da racionalidade plena
só chegaria de fato mediante a negação do existente e de toda a sua gritante
irracionalidade. Assim, em resumo, o debate entre a<span class="apple-converted-space"> </span><i>esquerda</i><span class="apple-converted-space"> </span>e a<span class="apple-converted-space"> </span><i>direita
hegeliana</i><span class="apple-converted-space"> </span>centrava-se entre
os aspectos da processualidade e a necessidade de superação da ordem social e
política, ou na necessidade de transformação revolucionária da realidade com
superação dos aspectos degradantes e limitadores.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Segundo
Lukács, Marx seria o mais proeminente integrante da esquerda hegeliana, sua
tese de doutorado apresenta uma crítica à concepção de história presente na<span class="apple-converted-space"> </span><i>História da filosofia</i><span class="apple-converted-space"> </span>de Hegel, onde se desqualificava o
materialismo de Epicuro. Essa visão de Hegel, que influenciava a perspectiva de
jovens hegelianos, não convenceu Marx.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Demócrito
e Epicuro eram considerados os materialistas mais importantes da Antiguidade,
mas Hegel lhes atribuía uma importância secundária. Marx por outro lado,
admirava o ateísmo de Epicuro, daí seu interesse em aprofundar um estudo sobre
esses autores. Para Marx, Epicuro havia conseguido avançar a partir das
elaborações de Demócrito. Hegel, por outro lado, os considerava idênticos.
Assim, o estudo de Marx foi uma reparação da generalização de Hegel. Com isso,
Marx revaloriza a concepção materialista e ainda buscou a dialética contida nas
elaborações dos dois filósofos da Antiguidade. Dessa incursão, Marx constatou
que a dialética só estava presente em Epicuro. Ainda, para Marx:
"Evidencia-se, portanto, que Demócrito não tem consciência da contradição;
esta não o preocupa enquanto que para Epicuro constitui o interesse
principal". (MARX, p. 42).<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Em sua
tese, Marx defendeu que Demócrito negava a existência do acaso, uma vez que
afirmava que "Os homens inventaram o fantasma do acaso, manifestação de
seu próprio embaraço, pois<span class="apple-converted-space"> </span><i>um
pensamento forte deve ser inimigo do acaso</i>". (MARX, p. 26). Por outro
lado, Epicuro apresentava elementos iniciais de uma concepção dialética do
acaso. E, se havia acaso, havia a possibilidade de escolha e da liberdade. Marx
analisa:<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Epicuro
escreve, pelo contrário: "A<span class="apple-converted-space"> </span><i>necessidade</i>,
que alguns convertem em dominadora absoluta,<span class="apple-converted-space"> </span><i>não</i><span class="apple-converted-space"> </span>existe; há algumas coisas<span class="apple-converted-space"> </span><i>fortuitas</i>, outras dependentes
de<span class="apple-converted-space"> </span><i>nosso arbítrio</i>. A
necessidade não convence e o acaso, ao contrário, é instável. Seria preferível
seguir o mito dos deuses que ser escravo do<span class="apple-converted-space"><i> </i></span><i>destino</i><span class="apple-converted-space"> </span>dos físicos, pois aquele deixa-nos a
esperança da misericórdia por havermos honrado os deuses, enquanto este apenas
apresenta a inexorável necessidade. Todavia, deve-se admitir<span class="apple-converted-space"> </span><i>o acaso</i><span class="apple-converted-space"> </span>e não Deus, contrariamente ao que
julga a multidão. Seria uma desgraça viver na necessidade, mas viver nela não é
uma necessidade. Por outro lado se abrem as vias, numerosas, curtas e fáceis,
que conduzem à liberdade. Agradeçamos, pois Deus o fato de ninguém ter
quaisquer limites na vida. É inclusive permitido dominar a própria
necessidade". (Marx, p. 26).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Marx
afirma ainda: "Porém, enquanto Demócrito reduz o<span class="apple-converted-space"> </span><i>mundo sensível</i><span class="apple-converted-space"> </span>à<span class="apple-converted-space"> </span><i>aparência
subjetiva</i>,<span class="apple-converted-space"> </span><i>Epicuro</i><span class="apple-converted-space"> </span>faz dele um<span class="apple-converted-space"> </span><i>fenômeno objetivo</i>. E Epicuro
faz isso conscientemente, pois afirma que compartilha os<span class="apple-converted-space"> </span><i>mesmos princípios</i>, mas<span class="apple-converted-space"> </span><i>não converte</i><span class="apple-converted-space"> </span>as qualidades sensíveis em<span class="apple-converted-space"> </span><i>simples objetos de opinião</i>".
(MARX, p. 23). Noutro trecho Marx analisa que:<o:p></o:p></div>
<div style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Demócrito,
para quem o princípio não se tornou fenômeno e permanece sem realidade e sem
existência, tem, pelo contrário, à sua frente, como mundo real e concreto, o
mundo da percepção sensível. Esse mundo é, com efeito uma aparência subjetiva
e, por isso mesmo, separada do princípio e abandonada em sua realidade independente;
mas é simultaneamente o único objeto real que tem enquanto tal valor e
significado. Não encontrado plena satisfação na filosofia precipitou-se nos
braços do conhecimento positivo. (p. 24).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Marx
conclui que: "É portanto historicamente certo afirmar que Demócrito faz
intervir a<span class="apple-converted-space"> </span><i>necessidade<span class="apple-converted-space"> </span></i>e Epicuro, o<span class="apple-converted-space"> </span><i>acaso</i>, e que cada um deles
rejeita a opinião contrária com a esperteza própria da polêmica". (MARX,
p. 26). E continua sua crítica a Demócrito:<o:p></o:p></div>
<div style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="font-size: 10pt;">A
necessidade aparece, com efeito na natureza finita como<span class="apple-converted-space"> </span><i>necessidade relativa</i>,<span class="apple-converted-space"> </span><i>como determinismo</i>. A
necessidade relativa só pode ser deduzida da possibilidade real, isto é de um
conjunto de condições de causas, de razões etc., que mediatizam essa
necessidade. A possibilidade real é a explicação da necessidade relativa, e
encontramo-la empregada por<span class="apple-converted-space"> </span><i>Demócrito</i>.
(Marx, p. 27).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Assim, Marx contrapõe essas idéias de Demócrito às de
Epicuro:<o:p></o:p></div>
<div style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Uma vez
mais Epicuro se opõe de maneira direta a Demócrito. O acaso é uma realidade que
só tem valor de possibilidade; porém a<span class="apple-converted-space"> </span><i>possibilidade
abstrata</i><span class="apple-converted-space"> </span>é, precisamente,<span class="apple-converted-space"> </span><i>o oposto</i><span class="apple-converted-space"> </span>da real. Esta última está
rigorosamente limitada, como entendimento, e a primeira é ilimitada como
imaginação. A possibilidade real procura basear a necessidade e a realidade do
seu objeto, a abstrata não se ocupa do objeto que é explicado, mas do assunto
que explica. O objeto deve ser apenas possível, pensável. O que é possível
abstratamente, o que pode ser pensado não constitui para o sujeito pensante um
obstáculo, um limite ou uma dificuldade. Pouco importa que essa possibilidade
seja igualmente real, porque o interesse não se estende aqui sobre o objeto
como tal. (Marx, p. 27).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Ainda,
Marx observou que Demócrito limitou-se a uma filosofia da natureza, ao passo
que Epicuro incorporou determinações da vida humana e social. Isso possibilitou
a Epicuro pensar as instituições sociais concretas como produtos de contratos e
amizades. (LUKÀCS, 2007).<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Para Marx,
a perspectiva com a qual Epicuro encarava a natureza, como passível de ser
compreendida, servia como elemento emancipador para os seres humanos. Isso
porque os seres humanos podem conhecer a natureza, refletir sobre ela,
desmistificando seus fenômenos e libertando-se do medo em relação à mesma. Com
isso, o ser humano é encarado como um ser natural que pode dominar a natureza
cognitivamente. Assim, essa foi uma contribuição importante para a
compreensão sobre a relação entre homem e natureza, uma vez que, com isso,
tem-se o desenvolvimento de uma concepção do papel revolucionário da filosofia
enquanto mediação da relação homem e natureza.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Isso
porque a ação de desvelamento e compreensão da natureza transverte-se como
possibilidade de conhecer o mundo e a si mesmo, elevando-se a possibilidade de
elaboração intelectual de concepções e conceitos sobre o mundo. Dessa forma, o
que antes era medo em relação à natureza incognoscível, torna-se vontade,
potência imensa e inesgotável de conhecer. Isso faz do ser humano sujeito na
natureza. Sujeito de si e de suas vontades, pois é possível especular sobre o
mundo (a natureza em interação com a ação humana) e conhecê-lo, questioná-lo,
explicá-lo e modificá-lo. Assim, o mundo exterior ao sujeito é compreendido
como base de todo pensamento que produziu a filosofia, o mundo material é a plataforma
de onde deriva todo pensamento e ação humana. E com isso, a própria filosofia é
parte do desdobramento do mundo, é fruto de uma dinâmica concreta da relação
entre a humanidade e a natureza. Dessa forma, a realidade material mundana é
apreendida de forma mediaticizada. O pensamento torna-se filosofia e a
filosofia torna-se expressão do mundo.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Quando as
causações do pensamento, da filosofia, são comprovadas e provadas como passíveis
de serem realizadas, elas deixam de ser filosofia (formas conceituais
especulativas) e passam a ser compreendidas como produto do real. Como
elaborou Marx em sua tese: "Mas a<span class="apple-converted-space"> </span><i>prática</i><span class="apple-converted-space"> </span>da filosofia é em si mesma<span class="apple-converted-space"> </span><i>teórica</i>. É a<span class="apple-converted-space"> </span><i>crítica</i><span class="apple-converted-space"> </span>que mede a existência singular da
essência, a realidade efetiva típica da ideia. Mas a<span class="apple-converted-space"> </span><i>realização imediata</i><span class="apple-converted-space"> </span>da filosofia é, na sua essência mais
intima, fomentada por contradições; e essa essência, que é sua, toma forma no
próprio fenômeno imprimindo-lhe seu selo". (Marx, p. 30). Pois quando se
compreende algo, suprime-se uma carência interna do ser humano (um problema que
figurava sem solução ou mediações tangíveis com o real). Uma vez que se suprime
essa carência, expressa como questão filosófica, a própria questão filosófica é
dissipada porque a filosofia foi realizada e assim pode-se chegar a novos
problemas. De acordo com Marx:<o:p></o:p></div>
<div style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Quando a
filosofia, enquanto vontade, se opõe ao mundo fenomênico, o sistema se
transforma numa totalidade abstrata, num lado do mundo ao qual se opõe um outro
lado. Na medida em que tende a refleti-lo, a desejar realizar-se, entra em luta
com o Outro. A auto-satisfação e a perfeição que se caracterizam desaparece; e
o que era luz interior transforma-se em chama devoradora apontada para o
exterior. Como consequência, o devir-filosófico do mundo é ao mesmo tempo um
devir-mundano da filosofia, sua realização efetiva é simultaneamente sua perda,
e o que ela combate no exterior nada mais é que seu defeito interior. É
exatamente no decorrer dessa luta que a filosofia acaba por cair nas fraquezas
que criticava no seu contrário. Aquilo que lhe opõe e o que combate não passam
de ela própria, encontrando-se os fatores simplesmente invertidos. (Marx, p.
30).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Desse
debate em sua tese de doutorado, podemos apreender dois aspectos que marcaram
profundamente o pensamento e a ação revolucionária de Marx: 1) Existem contradições
e acaso no cotidiano humano-material, o que, por sua vez, abre a possibilidade de escolhas e possibilita o arbítrio humano. Assim, os seres humano não são "escravos
do destino", pois existem "vias numerosas que conduzem à liberdade".
Isso possibilita que o ser humano seja senhor de seu próprio destino e possa
mudar a própria vida, a realidade e o mundo. 2) A filosofia, como forma de especulação
e compreensão do mundo, deve atuar no desvelamento do mundo buscando
compreende-lo para poder modificá-lo. A filosofia precisa realizar-se. Conforme
escreveu Marx em março de 1945 nas Teses sobre Feuerbach: "Os
filósofos têm apenas interpretado o mundo de diversas formas, trata-se agora de
transformá-lo".<b><o:p></o:p></b></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<b>Gazeta renana</b><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Em 1842,
Feuerbach publicou<span class="apple-converted-space"> </span><i>A essência do
cristianismo</i>, defendendo o ateísmo e o materialismo. Sua perspectiva
convergiu com as inquietações e elaborações de Marx, que à frente da Gazeta
Renana, passava a ocupar-se dos problemas sociais como as<span class="apple-converted-space"> </span><i>leis de censura</i><span class="apple-converted-space"> </span>e a<span class="apple-converted-space"> </span><i>lei
contra o roubo de lenha.</i> Assim, Marx <i>r</i>ecebeu com entusiasmo a elaboração e Feuerbach que
valorizava as ações práticas, os sentidos, a experiência humana, encarando o<span class="apple-converted-space"> </span><i>Ser</i><span class="apple-converted-space"> </span>como sujeito protagonista do
pensamento e de toda forma de compreensão do mundo. Politicamente, Marx intentava nesse
momento unificar os setores que se opunham ao regime monárquico de Frederico
Guilherme IV. Dessa forma, o abandono da postura contemplativa em relação ao
real proposto por Feuerbach convergia com suas demandas. Ainda, considerou que
a critica de Feuerbach à religião possibilitaria avançar na critica ao estado
de coisas para atingir a crítica ao Estado monárquico alemão. Essa crítica ao
estado de coisas era feita a partir de uma perspectiva democrático-radical
(anti-monárquica), sem ligação imediata com a concepção socialista. Marx mesmo dizia,
nesse momento, que ainda não tinha posições cerradas sobre o comunismo. (LÖWY,
2002).<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Em sua
evolução política, ganha cada vez mais importância a luta em prol das massas
populares sofredoras e oprimidas pela monarquia prussiana. Para mudar tal situação,
Marx compreendia que era necessário derrubar a monarquia estabelecendo um
governo que atendesse as demandas do povo. Por isso, busca agregar os setores
que criticam o regime. Para ele essa era a única forma de conseguir fazer com
que a capacidade filosófica radical pudesse converte-se em um fim prático.
Afinal, a filosofia especulativa deveria avançar para fazer-se crítica à
existência e suas misérias fornecendo ferramentas teóricas para sua superação.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<b style="line-height: 150%;">Critica da filosofia do direito de Hegel</b></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Não vamos
aprofundar uma análise sobre essa obra, pois será objeto de discussão nos próximos
debates (confira resenha do texto:<span class="apple-converted-space"> </span><span style="color: #548dd4; font-size: 10pt; line-height: 150%;">http://combateclassista.blogspot.com.br/2011/03/sobre-critica-da-filosofia-do-direito.html</span>). Aqui apenas apontaremos que, escrita entre março e
agosto de 1843, o texto marca o início da ruptura com a filosofia hegeliana, é
a partir de tais reflexões que Marx passa a considerar a perspectiva de Hegel
como insuficiente para a compreensão do real enquanto processualidade humana.
Marx chega a tal formulação por meio da crítica das relações entre a sociedade
civil-burguesa e o Estado prussiano.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Para Marx,
na <i>Critica da filosofia</i>, não se trata
mais de desenvolver e explicitar os elementos mais radicais da filosofia de
Hegel, mas de apontar e criticar o seu princípio. Nesse ponto, Marx se apoiou
em outra obra de Feuerbach, as<span class="apple-converted-space"> </span><i>Teses
provisórias pra a reforma da filosofia</i><span class="apple-converted-space"> </span>publicada
em 1843. Nessa obra, Feuerbach, assimilando contribuições de Spinoza,
caracteriza o idealismo objetivista de Hegel como teologia camuflada de
filosofia. (LUKÁCS, 2007).<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Marx
aprovou e utilizou suas formulações, mas considerou que Feuerbach dera pouco
valor à luta política e, para Marx, sem aprofundar-se na luta política, a
filosofia não podia fazer-se verdade. Ainda, considerou que Feuerbach não havia
chegado a uma crítica profunda do Estado e das condições sociais vigentes sob a
monarquia alemã. Era necessário aplicar os princípios materialistas aos
problemas políticos vigentes e a história. Daí seu ímpeto em criticar a
monarquia constitucional opondo-se à justificação da tal regime professado por
Hegel<span class="apple-converted-space"> </span><i>Filosofia do direito</i>.
Considerou que a critica radial a perspectiva contida na obra ainda era uma
tarefa ainda por se fazer.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Na<span class="apple-converted-space"> </span><i>Crítica da filosofia...<span class="apple-converted-space"> </span></i>Marx centra-se no combate à compreensão
apresentada por Hegel segundo a qual o Rei era objetivação do espírito
absoluto, encarnação humana do racional. Para Marx essa era uma forma de
conciliação com o estado de coisas. Ao inverso disso, para Marx tratava-se de
pensar as contradições reais e as formas de superá-las e não justificá-las.
Assim, para Marx o fundamento geral da filosofia de Hegel continha aspectos
reacionários no que tangia compreensão teórica da sociedade.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
No
entanto, como Marx ainda não identifica qual é o sujeito coletivo que pode
insurgir-se contra a monarquia prussiana, quem seria o sujeito social
revolucionário, Lukács aponta que o texto ainda sustenta-se sobre a perspectiva
democrático-revolucionária, pois inspira-se na revolução francesa de derrubada
da monarquia pelo terceiro estado (povo e burguesia democrática anti-monarquia). Isso porque
Marx aponta que não é o Estado que cria a sociedade civil, mas o contrário, é a
sociedade civil que cria o Estado. Aqui ganha centralidade o terceiro estado.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
Os textos
publicados nos<span class="apple-converted-space"> </span><i>Anais
Franco-alemães</i>,<span class="apple-converted-space"> </span><i>Sobre a
questão judaica</i><span class="apple-converted-space"> </span>e<span class="apple-converted-space"> </span><i>Introdução à critica da filosofia</i>...
marcam a transição de Marx, passando da<span class="apple-converted-space"> </span><i>Crítica
da filosofia</i>... aos<span class="apple-converted-space"> </span><i>Manuscritos
de Paris</i>. Nesse entremeio tem-se a superação do idealismo hegeliano e o surgimento de um novo corpo teórico. Foi a
partir de tais elaborações que Marx passou a compreender o proletariado como
sujeito revolucionário, que a principio deveria fundir-se com os melhores
elementos da esquerda hegeliana, assimilando sua crítica ao Estado e as
condições sociais desiguais. Metaforicamente o proletariado é descrito como o
coração da revolução e a esquerda hegeliana (os filósofos) são o cérebro.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<b><o:p></o:p></b></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<b>Bibliografia</b><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
MARX, K.<span class="apple-converted-space"> </span><i>Diferença
entre as filosofias da natureza em Demócrito e Epicuro</i>. Global editora.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
LÖWY, M.<span class="apple-converted-space"> </span><i>A
teoria da revolução no jovem Marx</i>. Editora vozes. 2002.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
LUKÁCS, J. O jovem Marx (1955). In:<span class="apple-converted-space"> </span><i>O jovem Marx e outros escritos de
filosofia</i>. Editora UFRJ. 2007.<o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><span style="line-height: 150%; text-align: justify;">FREDERICO, C.</span><span class="apple-converted-space" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> </span><i style="line-height: 150%; text-align: justify;">O
jovem Marx - 1843-1844: as origens da ontologia do ser social</i><span style="line-height: 150%; text-align: justify;">. Editora
expressão popular. 2009.</span></span></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-57600201691996224182016-03-18T09:58:00.000-07:002016-05-18T14:30:55.097-07:00A carne é fraca, assim como a memória: apoiar ou não o governismo e o petismo nesse momento de crise?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div align="right" class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-cCu5hwj3HvlxsOysoFU6FB976EjyPNk5EOFjyB_MBsoSXe9HLKvNXtZAQcZ3dIgN6txFT26QZbsrlfulhk-d7e_XHM1Tgn3k_UV0t_DM8dWmBHbRE_nKCsjz1XciSSuZhVSGdj4cpJN/s1600/Lula+na+paulista+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="143" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO-cCu5hwj3HvlxsOysoFU6FB976EjyPNk5EOFjyB_MBsoSXe9HLKvNXtZAQcZ3dIgN6txFT26QZbsrlfulhk-d7e_XHM1Tgn3k_UV0t_DM8dWmBHbRE_nKCsjz1XciSSuZhVSGdj4cpJN/s320/Lula+na+paulista+2.jpg" width="320" /></a><span style="font-size: large;">Depois
de cerca de 10 anos de crescimento econômico (ancorado na exportação de bens
primários), com superfaturamento dos banqueiros, agronegócio e industriais, a
crise econômica e desaceleração da economia mundial iniciada em 2008, adentrou
ao solo brasileiro chacoalhando a estabilidade política e iniciando uma nova
etapa histórica da luta de classes. Nesse cenário coloca-se a pergunta que
não quer calar: devemos apoiar ou não o governo nessa fase crítica? Como
produto da polarização entre governistas e anti-governistas, cresce a onda de
que todos devem apoiar os atos governistas em defesa da presidente e seu<span class="apple-converted-space"> quase </span><i>Super-Ministro</i> Lula.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Se por um
lado não devemos apoiar o<span class="apple-converted-space"> </span><i>impeachment</i>,
por outro lado, não devemos apoiar o governismo. Precisamos lutar contra as
políticas da direita e seu "golpe branco", mas também contra as
políticas anti-trabalhadores levadas a cabo pelo Governo Federal. Ou seja,
precisamos sim participar dos atos e mobilizações contra a direita, só não dá
para fazer isso indo ao encontro dos atos convocados e dirigidos pelo governo e
seus aliados.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Sabemos
que essa disputa entre a esquerda e direita do <i>status quo </i>não
resolve em nada as principais misérias estruturais do país (derivadas da
escandalosa concentração de renda, concentração de terras e concentração
imobiliária). Então, em princípio, entrar nessa polarização, entre aderir ou
não ao governismo, é algo como escolher com qual molho seremos
devorados... Se não tem trabalhadores no poder, tem patrão, concentração
de renda, pacotes de ajustes que atacam direitos, maior favorecimento à
super-exploração e repressão. São disputas abertas na casa grande pela
manutenção da senzala.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Por mais
pressões e confusões políticas que se apresentem nesse cenário polarizado, onde
se espera a defesa do PT como forma de unificar a esquerda, o fato é que não dá
pra confiar em uma mudança estratégica-política advinda do PT, um setor que administra
as misérias sociais em prol do patronato, dos banqueiros, industriais e
latifundiários, não pode romper com a estrutura fundiária, concentração
mobiliária, capital financeiro e privatizações. Não dá pra apoiar qualquer
setor da burguesia e seu secretariado político-sindical.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Apoiar o
governo nesse momento de crise é uma opção frente à polarização de duas
tendências administrativas do capitalismo nacional. Mas que se faça sem ilusões
e mea-culpa... A fração dirigente do PT, à frente do Governo Federal, surgiu em
1978-1979 como intermediária entre multidões operarias radicalizadas e os
interesses da ditadura. Como mediadora com os interesses burgueses de
auto-reforma. Ainda que a base proletária lhe obrigasse a sustentar um programa
mais à esquerda, surfou na onda do ascenso das lutas desviando a radicalidade
das bases para as disputas parlamentares dos cargos de administração da ordem
burguesa e do capital financeiro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> A partir
de 1989, o núcleo dirigente do PT, que conciliava com os interesses administrativos
da classe dominante, venceu a base radicalizada e definiu um programa
reformista precário e restrito. Com isso, ainda na primeira metade da década de
1990 setores expressivos da esquerda de base abandonaram o Partido. De 1994 em
diante, essa tendência avolumou-se.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Assim,
durante a década de 1990, com expulsão e afastamento de setores combativos e
revolucionários, mudança do programa e busca pela chegada aos postos de comando<span class="apple-converted-space"> </span><i>a qualquer custo</i>, o PT
tornou-se um partido burguês.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> A <i>Carta
ao povo brasileiro</i> selou novas dissidências e pavimentou o caminho do
servilismo. Uma vez no leme do Governo Federal, optou-se abertamente por
atender aos interesses do agronegócio, latifundiários, do capital financeiro,
banqueiros e industriais... Lula chegou a dizer que "foi necessário um
sindicalista pra ensinar os capitalistas a fazer capitalismo". Em seu
discurso na Avenida Paulista no dia 18 de março de 2016, reafirmou sua forma de
gestão do Estado:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: medium;">O que eu posso fazer é conversar, é dialogar. É
dialogar com trabalhador, com sem terra, com com-terra, com pequeno empresário,
com mega-empresário, com grande empresário, com fazendeiro, com banqueiro. Eles
sabem que, nunca na história do Brasil, um presidente conversou tanto com eles.
E eles sabem que, nunca na história do Brasil, eles ganharam tanto dinheiro
como ganharam quando eu fui presidente da república nesse país. (Lula, discurso
na Av. Paulista, 18/03/2016. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=VzLZGFZ2AvE).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> O PT e
Lula ajudaram tanto os capitalistas que, nesse momento de crise deveriam pedir
pros capitalistas lhes ajudarem a sair dessa lama. A burguesia deveria se sentir
em dívida com ele. Burguesia ingrata. Aceitou o colaboracionismo do PT e depois
jogou fora!<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Lula e o
PT não governaram para a classe trabalhadora. Se a luta de classes continuar
radicalizando-se daqui pra frente, o PT e seu núcleo dirigente continuarão
opondo-se diametralmente aos interesses históricos estruturais e fundamentais
da classe trabalhadora. Dessa forma, o que está em jogo é: defesa ou não de uma
forma de governo que operou "políticas sociais" temporárias, em um
período de ampla expansão da economia internacional, mas que é pata esquerda da
dominação burguesa e patronal no país. Não dá pra esquecer que as duas frações
em disputa são formas de gestão das misérias centenárias do Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Por isso é
ruim sustentarmos qualquer esperança de soluções advindas do Governo Federal (o
comitê de negócios das classes dominantes). Para construir uma alternativa real
de esquerda, é preciso partir de um balanço crítico, coerente e profundo do
"modo petista de governar", mas também ter clareza da necessidade de
ruptura com o governismo e, assim, buscar a construção de alternativas a partir
das bases, dos locais de trabalho e não servir de público e partícipes do
entorno dessa polarização entre os administradores da estruturação de classes e
de suas misérias sociais...<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Assim, a
polarização: apoiar ou não o governismo, é falsa. O único caminho, de luta
independente em relação ao patronato, a burguesia e seus lacaios, é uma frente
de esquerda sem os governistas e demais serviçais do regime.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Apoiar o
governismo nos coloca em um dos blocos administrativos sem nos possibilitar
qualquer papel como sujeitos. Além disso, frente à polarização social, é
inevitável que surjam alternativas à esquerda nos próximos anos. Aí, quanto
menos tempo perdermos com esperanças no governismo, melhor. O central
nessa discussão, em toda essa polarização, é a independência de classe. Nós,
trabalhadores e trabalhadoras, só podemos confiar em nossas próprias forças. E
não na capacidade redentora de uma ou outra fração da administração do Estado
burguês. Se nesse momento não temos força, é preciso buscar reuni-la...<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Tem se
usado o argumento de que não se trata apenas de apoiar o PT indo nos seus atos
públicos, mas sim lutar contra o fascismo ascendente. Mas para fazer isso é
necessário... engrossar as fileiras do governismo... É necessário lutar contra
a ascensão da direita, mas podemos fazer isso sem engrossar as fileiras do
governismo, para isso precisamos construir atos sem os lacaios da burguesia e
seus correligionários. O que, por outro lado, não quer dizer que não pode
encontrar críticos ao petismo nos atos governistas e até mesmo setores que
estão em fase de ruptura com o governismo pela esquerda... É com esses
setores que devemos construir uma alternativa que nos possibilite lutar contra
os ajustes recessivos planejados pelo empresariado, banqueiros, e
latifundiários que tem o congresso a seu favor.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Lembremos
que o PT governou apartado dos interesses e demandas estruturais dos
trabalhadores do campo e das cidades, longe das demandas da juventude, isso
produziu os descontentamentos que eclodiram nas <i>Jornadas de junho</i> de
2013. Agora o PT, em sua crise agônica, desespera-se para conseguir apoio para
manter-se no poder. Governou para a burguesia e agora quer apoio do povo para...
resistir aos setores da burguesia que assediam sua administração...<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> O que
precisamos é de uma via independente que levante um programa de lutas contra os
ajustes do governo federal. Por isso não acho que o apoio ao governo possa
ajudar nisso. A crise econômica e política vai se aprofundar, pois não há
possibilidade imediata de reversão do quadro econômico internacional. Com isso,
segue-se degradando a política interna; emprego, inflação com redução de
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o que, por sua vez, tende a gerar
novos descontentamentos com o Governo Federal. Ainda, sabemos que quem for para
as ruas engrossar as fileiras de defesa do governo, com uma perspectiva de
critica aos ajustes, terá suas opiniões e demandas sufocadas. Os atos
convocados pelo PT e correligionários são pra unificar a defesa do governo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;"> Precisamos
construir mobilizações e atos próprios, com independência de classe. Dessas
ações é que surgirão setores combativos independentes do patronato e do
governismo. Em síntese, embora se possa ter a sensação de ativismo ao
posicionar-se entre governismo e anti-governismo, de fato isso não significa a
defesa dos interesses históricos e políticos da classe trabalhadora do país,
pois para isso é necessário construir uma alternativa classista.</span></div>
</div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-58969827935029422792016-03-17T11:34:00.001-07:002016-04-01T04:52:59.971-07:00MOVIMENTO OPERÁRIO E SINDICALISMO EM OSASCO, SÃO PAULO E ABC PAULISTA: RUPTURAS E CONTINUIDADES (1968-1980)<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<div style="text-align: right;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Tese de doutorado defendida na UNESP/Marília</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<div style="text-align: right;">
<b><span style="background: white; font-size: 18pt;"><br /></span></b></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="left" class="MsoBodyText">
<b>RESUMO<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
O trabalho aborda as atividades do movimento operário e sindical na Grande São Paulo no período 1968-1980, analisando as greves de Osasco em 1968 e as comissões de fábricas São Paulo nos anos 1970 e o ciclo de greves no ABC paulista nos anos 1978-1980. Após o golpe militar de 1964, as comissões assumem nova importância para a reorganização do movimento sindical e operário, os processos de Osasco e o surgimento da Oposição Sindical Metalúrgica em São Paulo são experiências significativas desse processo. Realizamos uma série de entrevistas com alguns dos principais dirigentes da greve de 1968 em Osasco, militantes da Oposição Sindical Metalúrgica e militantes do movimento operário do ABC paulista. O movimento operário e sindical de São Paulo foi impactado pelos processos desdobrados em Osasco nos anos 1967-1968, sobretudo pela formação das comissões e grupos clandestinos. Sob influência desses processos desenvolveu-se em São Paulo a Oposição Sindical Metalúrgica, que inspirada nas greves de Osasco, organizará comissões de fábricas e grupos clandestinos. A expressão maior da Oposição Sindical Metalúrgica se dá em sua terceira fase, de 1975 a 1980. Por fim traçamos um paralelo com a forma de organização e linha sindical praticada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Esta opõe-se em muitos aspectos àquela "tradição" que, desde o golpe militar-burguês, vinha se desenvolvendo de Osasco a São Paulo. Apoiando-se na estrutura sindical estatal/oficial, opõem-se a criação de comissões independentes do Sindicato e centraliza toda a orientação das greves nas mãos da Diretoria do Sindicato do ABC.<o:p></o:p></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="line-height: 18.4px;">Palavras-chave: </span></b><span style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px;">Movimento operário em Osasco: Comissões de fábrica: Movimento operário em São Paulo: Oposição Sindical Metalúrgica: Movimento operário no ABC paulista.</span><span style="line-height: 18.4px;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 11pt; line-height: 16.8667px;">Confira o texto completo no site da UNESP: </span><span style="font-size: 14.6667px; line-height: 16.8667px;">http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/135966/000858805.pdf?sequence=1&isAllowed=y</span></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-77829472096330601822016-02-27T16:02:00.001-08:002016-04-09T09:32:11.397-07:00Octavio Brandão e a nacionalização do Stalinismo no Brasil: o debate com Mario Pedrosa e Lívio Xavier<div align="right" class="MsoNormal" style="background: white; text-align: right; text-indent: 0cm;">
<span style="line-height: 150%;">Alessandro de Moura<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;"> <span style="font-size: large;"> </span></span><span style="font-size: large;"><span style="text-indent: 0cm;"><span style="line-height: 150%;">Esboçamos aqui uma breve
resenha sobre as perspectivas apresentadas por </span><span style="line-height: 24px;">Octávio</span><span style="line-height: 150%;"> Brandão em </span></span><i style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;">Agrarismo e industrialismo</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;"> e as
contraposições desenvolvidas por Mario Pedrosa e Lívio Xavier. O Debate tem
como eixo central a questão: quais grupos sociais seriam os sujeitos da
revolução no Brasil. Enquanto Brandão defende a revolução por etapas
protagonizada pelos militares e a burguesia industrial e comercial, o grupo de
Pedrosa defendia que a burguesia brasileira nasceu do campo, nutrindo
dependência com a burguesia internacional e que, dessa forma, já nascera
reacionária e indisposta a qualquer revolução democrática em conjunto com o
proletariado. Assim, apenas o proletariado é que emerge como sujeito
revolucionário no cenário nacional.</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b><span style="line-height: 150%;">Octávio Brandão e o stalinismo no
Brasil</span></b><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">No Brasil o Partido Comunista
Brasileiro terá as formulações da fração de Stalin sintetizados pela pena de
Octávio Brandão. O PCB havia sido fundado no Brasil em março de 1922. No mesmo
ano pleiteava a filiação e o reconhecimento da Internacional Comunista
organizada a partir da URSS. Para isso enviou um de seus membros como delegado
para o IV Congresso realizado entre novembro e dezembro de 1922, seu nome era
Antonio Bernardo Canellas. No entanto o partido brasileiro foi aceito apenas
como partido simpatizante, e não como membro efetivo da Internacional
comunista. Isso porque os delegados do Congresso avaliavam que o PC brasileiro
tinha membros ligados a maçonaria e com muitas influencias anarquistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%;">Para o V Congresso da Internacional
Comunista, realizado em julho de 1924, foi enviado Astrogildo Pereira como
delegado brasileiro. Por conta de atrasos nos prazos da realização do
congresso, Astrogildo voltou para o Brasil e foi substituído por Rodolfo
Coutinho. A direção do PCB esforçava-se para adequar o partido as determinações
do partido de Moscou e as suas linhas políticas. É nesse movimento que buscamos
compreender as formulações de </span><span style="line-height: 36px;">Octávio</span><span style="line-height: 150%;"> Brandão em seu trabalho </span><i style="line-height: 150%;">Agrarismo
e Industrialismo</i><span style="line-height: 150%;">. Este trabalho começou a ser produzido em julho de 1924
para ser finalmente publicado em abril de 1926. Desta forma, absorveu tanto as
formulações de Stalin dos </span><i style="line-height: 150%;">Fundamentos do leninismo</i><span style="line-height: 150%;"> (publicado
18 de maio de 1924), mas também as d’</span><i style="line-height: 150%;">A Revolução de Outubro e a Tática dos
Comunistas</i><span style="line-height: 150%;"> </span><i style="line-height: 150%;">Russos</i><span style="line-height: 150%;"> (publicado em dezembro de 1924),
incorporou ainda as resoluções do V Congresso da Internacional Comunista,
dirigida por Stalin, e </span><i style="line-height: 150%;">Questões do Leninismo</i><span style="line-height: 150%;"> (publicado em janeiro
de 1926). Este conjunto de textos é que ditam a estratégia exposta no livro de
Brandão e que norteará a pratica política dos militantes do PCB durante toda a
década de 1920. (</span></span><span style="line-height: 24px; text-indent: 47.2px;">Confira o debate sobre esses textos em seu contexto: http://glem-r.blogspot.com.br/2015/08/stalinismo-na-russia-e-no-brasil-parte-i.html).</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">O livro em seu conjunto dedica-se a
dois objetivos centrais, 1) defender a tese segundo a qual predomina no Brasil
elemento políticos e econômicos e sociais da Idade Média e do feudalismo, este
se manifesta em forma de dominação dos agrários sobre os industrialistas, bem
como sobre a pequena burguesia, o proletariado e os demais setores sociais. 2)
Desta formulação desdobra-se que no Brasil a estratégia dos militantes do PCB
seria organizar em grande bloco heterogêneo, composto pelo proletariado,
pequena-burguesia e burguesia nacional contra os agrários para lutar por uma
“revolução democrática pequeno-burguesa”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large; line-height: 150%;">A análise do PCB<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0cm;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 24px;"><br /></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"></span><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"><span style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;"> </span><span style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;">Octávio Brandão será o autor
do primeiro ensaio teórico do PCB sobre a realidade brasileira, buscando
definir as teses para a revolução brasileira, expressas em seu livro </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;">Agrarismo
e industrialismo: ensaio marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a
guerra de classes no Brasil</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;">. Brandão tinha origem anarquista e ingressou no
PCB em 1922, tornando-se membro do Comitê Central Executivo em 1923. Seu
primeiro rascunho escrito em 1924 serviu como base teórica para o PCB para o II
Congresso, em 1925, até o III Congresso, realizado em 1929.</span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;">
<o:p></o:p></span>
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">O livro deveria expor
analises marxistas-leninistas (ou stalinistas) sobre a composição de classes no
Brasil, para com isso definir qual seria a melhor estratégia para organizar a
classe trabalhadora na luta pela transformação da sociedade. Seguindo as
determinações do Partido Comunista da União soviética, sob direção de Stalin e
Bukharin, o estudo baliza-se sobre a estratégia da revolução por etapas,
caracterizando no Brasil uma disputa entre o agrarismo (identificado como
feudalista) e industrialismo (burguesia industrial e pequena burguesia).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Assim, o processo revolucionário
deveria passar por duas fases: na primeira, o proletariado se aliaria a pequena
burguesia, representada pelo movimento tenentista, este aliado com a burguesia
industrial, derrubaria do governo as oligarquias agrárias. Em uma segunda fase
o proletariado lutaria pela hegemonia no interior deste processo, buscando
transformar a revolução democrática em revolução socialista. A este processo de
revolução por etapas, Brandão denominou “Revolução democrática
pequeno-burguesa”. Esta revolução pequeno-burguesa deveria ser dirigida pela
pequena burguesia pela abolição das relações feudais (leia-se: pelos tenentistas
em defesa do burguesia industrial). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">A segunda fase da revolução seria
proletária, pautada nas demandas históricas do proletariado, dirigida pelo PC,
como o foi a revolução russa em outubro de 1917. De acordo com essa leitura, é
retirado o protagonismo do proletariado na primeira fase da revolução
pequeno-burguesa. Ao proletariado só cabe buscar apoiar a luta da pequena
burguesia. Ficando então impedido de nesta fase levantar suas próprias
bandeiras históricas. A diretiva era ainda seguir o exemplo do Kuomitang
chinês, um partido policlassista pequeno-burguês. É seguindo tal perspectiva
que o PCB cria em 1927 o Bloco Operário Camponês – BOC e busca estreitar
relações com Luiz Carlos Prestes. Este deveria ser o dirigente da revolução
democrático-burguesa que seria protagonizada pelos militares. O BOC deveria ser
um Kuomitang tupiniquim, com fim de articular a burguesia nacional e a pequena
burguesia oprimida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">De acordo com o paradigma explicativo
defendido no livro, laborado a partir das lentes stalinistas, a burguesia e a
pequena burguesia urbana viviam sem poder político e exploradas pelos
latifundiários que detinham o poder político e econômico no Brasil. Assim
desenvolvia-se “A rivalidade entre os grandes industriais e os grandes
fazendeiros de café”. Isso, segundo Brandão o que fazia da burguesia e
pequena-burguesia agentes revolucionários:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">As restrições aos interesses dos grandes
comerciantes, dos grandes usineiros e exportadores de açúcar, que não se
resignam a ver seus lucros diminuírem. A exploração desenfreada do país pelos
grandes fazendeiros de café. A concentração capitalista e o seu corolário – o
empobrecimento sistemático dos pequenos proprietários, pequenos comerciantes,
industriais e funcionário nestes últimos dez anos, isto é a proletarização da
pequena burguesia. Os novos impostos. (p. 26).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Aprofundando
tal caracterização, em <i>Agrarismo e
Industrialismo</i> defende-se que para desencadear a suposta revolução
antifeudal contra a oligarquia agrária, a pequena burguesia, que tinha seus
diretos eleitorais “pisados pela política atual”, poderia ainda organizar
frações da própria burguesia antifeudal contra os agrários. Isso porque para
Brandão as demandas e necessidades dos industriais também eram desprezadas
pelos grandes produtores de café. Os direitos de setores da burguesia
industrial e da pequena burguesia eram pisoteados e desprezados pelo “espírito
tacanho, feudal, dos governantes”. (p. 28). Afirmando que o proletariado
brasileiro ainda estava em formação, e portanto era demasiadamente fraco,
Brandão avalia ainda que havia “A desilusão da pequena burguesia, de obter
melhorias pelos canais competentes, isto é, pela via legal, jurídica, pacifica,
reformista” (p. 28), a revolução anti-agrária era a única saída possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">A situação revolucionária internacional. A vontade
de dominação dos grandes industriais, cujos interesses muitas vezes são
desprezados pelos grandes fazendeiros de café. A rivalidade crescente entre
ambos, rivalidade política resultante da rivalidade econômica – comparar a produção
manufatureira do Estado de São Paulo com a exportação cafeeira para ver que
aquela, proporcionalmente, tem progredido mais que esta e caminha para
nivelar-se-lhe e, posteriormente, ultrapassá-la. (p. 27).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Por
determinação da política do café-com-leite, dos acordos entre frações dos
agrários que monopolizavam o poder político e econômico, a pequena-burguesia
teria seus direitos “pisados pela política atual” (p. 27). Assim, “o próprio
grande agrário é quem mais enfraquece politicamente o seu Estado, estado
agrário do Brasil”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> O
PCB, sob a pena de Brandão, analisava a atuação dos militares na <i>Revolta
do 18 do forte</i> (5 de julho de 1922) e do <i>Movimento tenentista </i>(de
5 a 28 de julho de 1924) como momentos em que a “pequena burguesia nacional
travou contra os fazendeiros do café, senhores da nação. (p. 25). Argumenta que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Se juntarmos a todas essas razões a dureza da
repressão desta segunda tentativa de aniquilamento dos elementos feudais do
país, repressão que será um dos maiores auxiliares dos revoltosos, compreendemos
integralmente a fatalidade da terceira tentativa, que poderá ser vitoriosa se
os combatentes souberem aproveitar as lições das derrotas. (p. 28).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Assim,
os limites da institucionalidade brasileira transformavam a pequena burguesia e
setores da burguesia industrial em protagonistas da primeira fase da revolução
brasileira. No <i>Agrarismo e industrialismo</i> analisa-se que
o Brasil era um país ainda muito atrasado, sobretudo na formação se seus
sujeitos políticos coletivos. A burguesia era vista como muito fraca, e a
pequena burguesia como elemento difuso e sincrético, então para que se realizasse
a revolução burguesa seria necessário que a força do proletariado pudesse ser
plenamente aproveitada pela burguesia industrial e pequena-burguesia urbana. Segundo
o autor, no Brasil “o homem ainda não conhece a terra, mal desbravada. Trata-se
de um país ainda selvagem, onde a barbárie da mata é mais poderosa que o
esforço civilizador do homem. (p. 32). Brandão compara a luta no Brasil a
Primavera dos povos de 1848, período em que setores da burguesia, pequena
burguesia e o proletariado combatiam a nobreza e os resquícios feudais na
Europa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">No Brasil, os pequeno-burgueses lutam contra os
agrários feudais como na Alemanha em 1848. No Egito de Zuglul Pacha, na Turquia
de Mustapha Kemal, no Afeganistão de Amanullah, na Pérsia de Riza-Khan, na
Síria e na Mesopotâmia do Partido Nacional árabe, os burgueses em geral lutam
contra os agrários feudais e lutam ao mesmo tempo pela independência nacional.
(p. 31).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Desta
sua formulação desdobra-se a analise segundo a qual no Brasil: “O homem, como a
terra, ainda está em formação. Não há o brasileiro – um tipo definido. Há uma
mistura desordenada de raças e sub-raças”. Sendo que: “O duplo caos da terra e
do homem projeta-se sobre numerosos aspectos da vida nacional. (p. 33). No
marco de alianças intencionadas pelo PCB não se considera a população negra
como sujeito político, abandonado a defesa de suas demandas históricas,
desconsiderando que tal população constitui maioria da classe trabalhadora
nacional, sem a qual não se pode realizar uma revolução proletária.
Diametralmente oposto a isto, para Brandão: “O trabalhador rural negro,
proveniente do escravo, exatamente como o vilão-servo da Idade Média”. (p. 50).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Também
não busca dar uma resposta marxista a questão indígena no Brasil. Pelo
contrário encara as populações indígenas como transmissoras de forma
animalescas e selvagens. É assim que refere-se à população indígena no estado
de Minas Gerais destacando: “(…) o grupo dos botocudos, antropófagos, tapuia,
Gê (…) Exatamente Viçosa, a terra de Bernardes, era a aldeia dos ferozes índios
“arrepiados”. Os políticos mineiros têm, pois ainda hoje, o atraso e a
ferocidade do tapuia”. (p. 126). Todos estes elementos são somados para atestar
a incapacidade do protagonismo proletário e para defender a aliança com setores
da burguesia nacional. Toda a população do país seria dominada política e
economicamente pelos agrários: “Há uns nove milhões de trabalhadores rurais,
isto é, a dispersão, a descentralização, o analfabetismo, a inconsciência de
classe, a servidão medieval. (…). (p. 33-34)”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Desta
forma para Brandão e o PCB: “economicamente, o Brasil é um país agrário, país
dominado pelo agrarismo e não pelo industrialismo, como a Alemanha”. Adverte
que, tomado por latifundiários, no Brasil: “A pequena propriedade rural não
alcança sequer a décima parte do território: 9%. Portanto, o agrarismo nacional
é o da grande propriedade, do latifúndio”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Como
conseqüência da dominação econômica dos agrários, desdobra-se também sua
dominação política, uma vez que “A política é fatalmente agrária, política de
fazendeiros de café, instalados no Palácio do Catete. Existe uma oposição
burguesa desorganizada, caótica. (…). Uma burguesia industrial e comercial
politicamente nula, desorganizada…” (p. 35-36). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Esta
frágil burguesia não pode desempenhar sua fase revolucionária sem o auxilio da
pequena burguesia brasileira anti-feudalista. Buscando referendar as
determinações stalinistas, o autor afirma que o Brasil estava ainda na fase de
desenvolvimento econômico e política característica da Idade Média. Apenas com
o protagonismo da pequena burguesia, que deveria organizar a burguesia
industrial e os setores proletarizados é que se conseguiria desencadear a
primeira fase da revolução contra a predominância da forma social medieval que
imperava no território brasileiro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Dominado por esse agrarismo econômico, bem
centralizado, o Brasil tinha que ser dominado pelo agrarismo político,
conseqüência direta daquele. O agrarismo político é a dominação política do
grande proprietário. O grande no Brasil é o fazendeiro de café, de São Paulo e
Minas. O fazendeiro de café, no Sul, como o senhor de engenho, no Norte, é o
senhor feudal. O senhor feudal implica a existência do servo. O servo é o
colono sulista das fazendas de café, é o trabalhador de enxada dos engenhos
nortistas. A organização social proveniente daí é o feudalismo na comieira e a
servidão nos alicerces. Idade Média. A conseqüência religiosa é o catolicismo.
A religião que predominou na Idade Média, “tão justamente chamada a idade
cristã”, segundo o clerical Mathieu, no seu curso de história universal,
abençoado pelo papa Pio IX. E a conseqüência psicológica: no alto, a
mentalidade aristocrática, feudal; em baixo a humildade. (p. 36).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> De
acordo com sua análise, o Brasil seria formado por uma composição de “Estados
agrários, estados feudais, ou semi-feudais”. Toda a estrutura estatal (jurídica,
econômica e política brasileira) estaria voltada para assegurar a dominação dos
agrários e a manutenção do feudalismo no país:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">(…) A política tem de girar facilmente em torno dos
dois estados mais produtores de café – São Paulo e Minas. A miséria econômica e
política da nação provem, em primeiro lugar, dos fazendeiros de café de São
Paulo e Minas. Tudo é para eles. Os impostos caem implacavelmente sobre a
burguesia industrial e comercial, mas não sobre eles. Vede, por exemplo, o
imposto sobre a renda. A lavoura e a propriedade imobiliária estão isentas
dele. (p. 37-38).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Assim,
de acordo com o autor “Todo país está envenenado pelo agrarismo católico,
feudal e reacionário”. (p. 38). Sendo que só se poderia superar tal atraso a
partir do desenvolvimento da burguesia industrial que poderia tirar o país do
atraso. Argumenta que “O agrarismo político manifesta-se na luta política das
classes pela reação. Reação agrária, feudal”. (p. 43). Por outro lado, para
Brandão “O burguês industrial não é tão reacionário. (p. 46). Desta forma, para
o autor a contradição fundamental da sociedade brasileira expressa-se no fato
de que “São dois mundos que se chocam: o feudalismo e o industrialismo”, sendo
que “o industrialismo despedaçará o feudalismo” (p. 47).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Brandão
via “No grande burguês industrial, a iniciativa, o espírito progressista, a
preocupação do método, a sede de renovação técnica”. E por outro lado, via “No
fazendeiro do café, a mentalidade reacionária do barão feudal, a falta de
escrúpulos, a rotina, a arrogância do junker e do boiardo, o mesmo apego a sua
propriedade. No funcionário, o servilismo”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Sem
uma revolução contra os agrários, não se poderia superar a “medievalite crônica
– social, econômica, política, psicológica”. (p. 48), e o Brasil permaneceria:
“no seu conjunto, uma país medieval, atrasado, sob este ponto de vista, cinco
séculos no mínimo. (p. 48). Por isso, para Brandão todas as classes devem se
juntar contra o agrarismo, sob a direção das frações rebeldes do exército e do
PCB. Ou seja, o problema das teses assinadas por Brandão não reside apenas na
caracterização do Brasil com um país feudal, mas também no sujeito
revolucionário que é identificado. O proletariado, efetivamente, ao invés de
protagonista, é apenas uma base de apoio dos militares revoltosos e dos industriais
progressistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Para
o autor, entre os anos 1923-1924: “a sociedade brasileira atravessa ainda a
primeira fase da luta entre industrialismo e feudalismo”. (p. 50).
Desconsiderando as lutas políticas anteriores a 1922 (como o Quilombo dos
Palmares e Canudos), Brandão considera que a <i>Revolta dos 18 do Forte de
Copacabana</i> foi a “primeira tentativa de destruição dos elementos
feudais do país” (p. 53). Acreditando na possibilidade do protagonismo de uma
burguesia revolucionária, demonstra entusiasmo com a atuação da burguesia
comercial e industrial: “É que a grande burguesia comercial e industrial,
apesar de todo seu atraso, começara a compreender que a revolta iria aplainar o
caminho para a sua sucessão política”. (p. 58). Por isso a burguesia seria
indispensável para o arco de alianças da revolução brasileira. Pois para
Brandão:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;"> (…) O
fazendeiro do café só será derrubado pela frente única momentânea do
proletariado com a pequena-burguesia e a grande burguesia industrial. Por
tanto, todas as vezes que a pequena-burguesia auxilia a reação contra o proletariado,
está forjando cadeias contra ela própria. (p. 61). <span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> A
partir de tal perspectiva conclama-se a união entre burguesia, proletariado e
pequena burguesia para realizar a revolução burguesa no Brasil contra os
agrários:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Lutemos por impelir a fundo a revolta
pequeno-burguesa, fazendo pressão sobre ela, transformando-a em revolução
permanente no sentido marxista-leninista, prolongando-a o mais possível, a fim
de agitar as camadas mais profundas das multidões proletárias e levar os
revoltosos às concessões mais amplas, criando um abismo entre eles e o passado
feudal. Empurremos a revolução da burguesia industrial – o 1789 brasileiro, o
nosso 12 de março de 1917 – aos seus últimos limites, a fim de, transposta a
etapa da revolução burguesa, abrir-se a porta da revolução proletária,
comunista. (p. 133).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Assim,
Brandão, como dirigente do Comitê Central do PCB, defendia que estava na ordem
do dia: “Fundir todas as vítimas do feudalismo, todos os demais revoltados,
todos os oprimidos, todos quantos foram pisados, humilhados". (p. 134). Apenas
por tal via seria possível: “a vitória do industrialismo sobre o agrarismo; a
vitória da burguesia industrial sobre os agrários; a vitória da burguesia
progressista sobre os elementos rotineiros”. (p.138). Apenas consolidada a
vitória da revolução burguesa, que tem como sujeitos centrais a
pequena-burguesia e a burguesia industrial, poder-se-ia iniciar a nova
fase de luta pela revolução proletária. Assim, conclama a classe trabalhadora
brasileira a lutar, “Concentremos todas as nossas energias, esporeemos a pequena-burguesia
e a grande burguesia industrial e, unidos num bloco, agitemos as massas em
torno de palavras de ordem fundamentais” (p. 188). Termina seu trabalho
reivindicando o Kuomitang Chines e Stalin. A perspectiva de Brandão e do PCB de
apoio a frações da burguesia na luta contra os resquícios feudais será retomada
por Luiz Carlos Prestes, em uma série de escritos de Nelson Werneck Sodré, este
consolidará a visão dos resquícios feudais no Brasil<a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref12"></a><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn12" title=""><span style="color: black; text-decoration: none;">[12]</span></a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b><span style="line-height: 150%;">A critica dos Trotskistas brasileiros</span></b><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Mario Pedrosa e Lívio Xavier partem
de formulações e análises elaboradas por Marx em “O Capital” e na teoria do
desenvolvimento desigual e combinado, do mesmo autor, que são desenvolvidas por
Leon Trotski. Seguindo tal continuidade teórica, os autores vão buscar
constituir uma leitura sobre aspectos econômicos, sociais e políticos da
realidade brasileira. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Argumentarão que o modo de produção
capitalista, e a forma de organização e distribuição da propriedade privada
foram exportados diretamente da metrópole européia para o Brasil. Com isso inaugura-se
conseqüentemente no Brasil uma forma de desenvolvimento econômica já
subordinada, considerando que a produção agrícola era centralmente destinada
desde o começo aos mercados externos. (ABRAMO & KAREPOVS, 1987, p. 66-67:
ALMEIDA, 2003, p. 89-90). Segundo os autores:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">No Brasil, a acumulação primitiva do capital fez-se
de maneira direta: a transformação da economia escravagista em salariado do
campo se fez diretamente e o afluxo imigratório, que já começara antes da
abolição da escravatura, teve como objetivo oferecer braços à grande cultura
cafeeira. Produziu-se aqui o que Marx chama de ‘uma simples troca de forma’. O
Brasil nunca foi, desde sua primeira colonização, mais do que uma vasta
exploração agrícola. Seu caráter de exploração rural colonial precedeu
historicamente sua organização como Estado. Nunca houve aqui terras livres;
aqui também não conhecemos o colono livre, dono de meios de produção, ma o
aventureiro da Metrópole, o fidalgo português, o comerciante holandês, o
missionário jesuíta – que não tinham qualquer outra base a não ser o monopólio
das terras. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS,
1987, p. 68).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> O Estado brasileiro atuou
intensivamente para organizar a produção e distribuição de mercadorias, bem
como a regulação da contratação da força de trabalho. A burguesia nasce do
campo, por meio das mãos do Estado. Ou seja, tanto a burguesia como os
latifundiários dependem diretamente do auxilio direto do Estado para
desenvolver seus empreendimentos e acumular lucros. (Mario Pedrosa e Lívio
Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987). Desta forma, não teríamos no
Brasil uma burguesia revolucionária aos moldes da Revolução Francesa. Também no
Brasil, como decorrido na Rússia, o proletariado seria o único sujeito social
em antagonismo contra o Estado e seus apêndices constituídos pela burguesia
dependente. Segundo os autores, sob o arbítrio da coroa Portuguesa,
combinava-se no Brasil o<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">(...) trabalho escravo, <i>latifundium</i>,
produção dirigida pelos senhores de terra com a sua clientela, burguesia urbana
e uma camada insignificante de trabalhadores livres, tanto nas cidades quanto
nos campos - tais foram as particularidades que marcaram com a sua chancela a
formação econômica e política do Brasil na América Latina, onde, em geral, a
ausência de uma agricultura organizada teve como conseqüência luta pela
terra contra o indígena e a luta contra o monopólio do comércio detido pela
coroa de Espanha. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO &
KAREPOVS, 1987. 69).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">E continuam<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">A destruição do regime escravista, que foi
determinada pela necessidade do desenvolvimento capitalista no Brasil, abria ao
mesmo tempo nova expansão à indústria inglesa que monopolizava, então, o
mercado mundial. A burguesia brasileira nasceu do campo, não da cidade. A
produção agrícola colonial foi destinada desde o começo aos mercados externos.
(Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987, p.69).<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Os autores argumentam ainda que para
sustentar o desenvolvimento econômico no país a atuação o Estado era central
para conseguir organizar os distintos interesses das frações da burguesia
brasileira. Mesmo a constituição nacional por meio de federações serviria para
assegurar a coexistência das distintas frações da burguesia, “capaz de conciliar
as tendências centrifugas das antigas províncias com as necessidades de
desenvolvimento capitalista numa unidade social harmônica” (pg.155-156).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Com o fim da escravidão, desmorona a Monarquia, com
isso intensifica-se o desenvolvimento do capitalismo. O trabalho escravo é
convertido em trabalho assalariado. Para os autores: “A república foi imposta ao
Brasil pela burguesia cafeeira do Estado de São Paulo, que não podia aceitar a
forma de produção reacionária e patriarcal. Com o advento da república, este
Estado impôs sua hegemonia à Federação. (p. 70). Nesse sentido, a constituição
nacional por meio de federações serviria para assegurar a coexistência das
distintas frações da burguesia: “capaz de conciliar as tendências centrifugas
das antigas províncias com as necessidades de desenvolvimento capitalista numa
unidade social harmônica” (pp.155-156). Mesmo com a transição do Estado
Monárquico, sob domínio colônia português, para constituição de um Estado
nacional autônomo, ainda que sob domínio do capital inglês, mantém-se no poder
os grandes proprietários de terras que sob égide paulistana conseguiram impor o
governo republicano por meio de um golpe militar em 1889.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">No entanto, a burguesia no Brasil não seria
dependente apenas da atuação e recursos do Estado, mas também das grandes
potencias econômicas e políticas internacionais. Nesse sentido, a burguesia
brasileira já nasce subalternizada à burguesia internacional. Segundo os
autores, em território nacional, ela “não tem bases econômicas estáveis que lhe
permitam edificar uma superestrutura política social progressista”. (p. 74).
Argumentam ainda que as distintas frações da burguesia no país não estão
organizadas de forma harmônica, com interesses unificados em torno do
desenvolvimento social e econômico do país. Os autores argumentam que desde sua
mais tenra idade as distintas frações da burguesia vivem em disputas
permanentes entre si (embora se unifiquem contra as revoltas e movimentações
proletária).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Além das constantes disputas entre si, essas
frações da burguesia ainda tem que disputar constantemente mercados e buscar
acordo políticos e econômicos com as potencias internacionais. Como se trata de
um capitalismo retardatário, se comparado ao desenvolvimento do capitalismo
inglês ou americano, depende diretamente de aporte internacional para o
desenvolvimento de suas forças produtivas. Isto faz com que a burguesia brasileira
se faça subalterna às potencias internacionais que encontram condições de
pressionar o país e fazer-lhe exigências.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">A principal forma encontrada para acumular divisas
é produzir mercadorias com preços mais baixos, para que possam concorrer com os
produtos de países mais industrializados. A forma mais barata para realizar tal
feito é a super-exploração do trabalho. O Estado contribui diretamente
para a acumulação capitalista, em favor da burguesia, atua disciplinando (e
reprimindo) a força de trabalho, e desviando a maior parte de seus recursos
para os empreendimentos capitalistas. Mario Pedrosa e Lívio Xavier argumentam
que esta posição na divisão internacional do trabalho, que é combinada com a
super-exploração e repressão a classe trabalhadora, internamente acaba por
colocar a burguesia brasileira em condição de pressão permanente, de um lado
pelas potencias econômicas e políticas internacionais, e por outro pelos
movimentos da classe trabalhadora que luta por melhores condições de salário,
habitação, saúde educação, saneamento etc... Nas palavras dos autores</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O imperialismo não lhe concede tempo para respirar
e o fantasma da luta de classe proletária tira-lhe o prazer de uma digestão
calma e feliz. Ela deve lutar em meio ao turbilhão imperialista, subordinando a
sua própria defesa à defesa do capitalismo. Daí a sua incapacidade política,
seu reacionarismo cego e velhaco – em todos os planos – a sua covardia. Nos
países novos, diretamente subordinados ao imperialismo, a burguesia nacional,
ao aparecer na arena histórica, já era velha e reacionária, com ideais
democráticos corruptos. A contradição que faz com que o imperialismo – ao
revolucionar de modo permanente a economia dos países que lhe são submetidos –
atue como fator reacionário em política encontra a sua expressão nos governos
fortes e na subordinação da sociedade ao poder executivo. (Mario Pedrosa e
Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987, pp. 74-75).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Mediante tal formação social, composta por setores
das diferentes frações da burguesia em território nacional, que tem
articular-se com os interesses imperialistas e as demandas históricas dos
trabalhadores, dificulta-se sobremaneira a manutenção de um regime social
estável no Brasil. Tanto as dissidências das diferentes frações da burguesia,
bem como os levantes dos trabalhadores, colocam em risco esta instável
dominação burguesa. Segundo os autores, desta arquitetura social deriva a
recorrente necessidade de “governos fortes, divinização da ordem”, governos
ditatoriais, amparados por períodos de estado de sítio, de intensa repressão
aos movimentos sociais, bem como as constantes disputas pelas distintas frações
da classe dominante, em fases de desenvolvimento desigual, pelo governo da
Nação. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. Desta analise, os autores
desdobraram como conseqüência que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Essa tendência inelutável criará, doravante,
permanentemente, situações de choques, conflitos, em uma palavra, de guerra
civil, onde o proletariado terá a ultima palavra. As formas transitórias de
equilíbrio entre as diversas unidades da Federação só serão conseguidas por
meio de vitórias militares, isto é à custa de uma opressão agravada das massas
trabalhadoras e das classes médias (Idem, p. 159).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"> Segundo os autores, desta arquitetura social
deriva a recorrente necessidade de “governos fortes, divinização da ordem”,
governos ditatoriais, amparados por períodos de estado de sítio, de intensa
repressão aos movimentos sociais, bem como as constantes disputas pelas
distintas frações da classe dominante, em fases de desenvolvimento desigual,
pelo governo da Nação. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO &
KAREPOVS, 1987). A burguesia brasileira nasceria então espremida entre o forte
proletariado brasileiro e o imperialismo. Este forte proletariado, herdeiro das
lutas negras quilombolas, já desde o inicio da república protagonizava as
mobilizações massivas e buscava se organizar por meio de congressos, como o de
1906, 1913, Revolta da chibata, Revolta do Contestado, as mobilizações contra a
carestia de vida durante a década de 1910, a greve geral de 1917, os embriões
de sovietes no Rio de Janeiro de 1919 e o congresso de 1920. Desta forma a
burguesia não pode estabelecer alianças com o proletariado, pois para isso,
seria obrigada a ceder às demandas históricas deste.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">Para os autores, apenas um governo de
trabalhadores, contra a burguesia brasileira e imperialista é que poderia de
fato assegurar a unidade nacional. Fora isso, a estabilidade nacional só
poderia ser mantida por meio do militarismo e de decretos via poder executivo. Pedrosa
e Xavier mantiveram-se na defesa das resoluções, estratégia e ideias dos quatro
primeiros congressos da Internacional Comunista, negando as formulações do
socialismo em um só país e a revolução por etapas. As reflexões iniciadas por
tais autores ainda na década de 1930, serão retomadas freqüentemente por uma
série de intelectuais e analistas. Caio Prado Junior, no livro <i>Formação do Brasil contemporâneo</i>,
publicado em 1942, e em História Econômica do Brasil de 1945 partirá desta base
teórica para pensar o desenvolvimento econômico brasileiro.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="line-height: 150%;"><br /></span>
</span><br />
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: large;">REFERÊNCIAS</span></b></div>
<div style="text-indent: 0px;">
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif;">
<br /></div>
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: medium;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span>
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></span></div>
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif;">
<span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;">ALMEIDA, M. T. Liga Comunista Internacionalista - teoria e prática do trotskismo no Brasil (1930-1935). Dissertação de mestrado. PUC-2003.</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></span>
<span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;">______. </span><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 26px;"><span style="font-size: x-small;"><i>Los trotskistas frente a la Alianza Nacional Libertadora y los levantamientos militares de 1935</i>. Disponível:</span><span style="font-size: xx-small;"> </span></span></span><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 26px;"><span style="color: blue;">http://www.ceipleontrotsky.org/Los-trotskistas-frente-a-la-Alianza-Nacional-Libertadora-y-los-levantamientos-militares-de-1935</span></span></span></span></div>
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
</div>
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif; text-indent: 0px;">
<span style="font-size: large;">BANDÃO, <i>O. Agrarismo e industrialismo no Brasil</i>. São Paulo. Ed. Anita Garibaldi. 2006.</span><br />
<span style="font-size: large;">______. <i>O proletariado perante a revolução democrática pequeno-burguesa</i>. 1928.</span><br />
<span style="font-size: large;">______. <i>Octávio Brandão: as lutas do seu tempo</i>. Entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=v-X2fmgofyU</span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span>
<span style="font-size: xx-small;"><span style="font-size: small;">FILHO, R. F. <i>As primeiras interpretações marxistas da realidade brasileira</i>. Dissertação de mestrado. UNESP. 2014:</span> Disponível: http://repositorio.unesp.br/bitstre</span><span style="font-size: 13.2px;">am/handle/11449/110434/000794304.pdf?sequence=1</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: 13.2px;"><br /></span>
</span><br />
<div style="font-size: 13.2px;">
<span style="font-size: large;">PEDROSA, M: Xavier, L. <i>Esboço de uma análise da situação econômica e social do Brasil</i>. 1930. In: KAREPOVS, D. Na contra corrente da história. 1987.</span></div>
<div style="font-size: 13.2px;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<h1 class="yt watch-title-container" style="border: 0px; color: #222222; display: table-cell; font-family: roboto, arial, sans-serif; font-weight: normal; margin: 0px 0px 13px; padding: 0px; vertical-align: top; width: 824px; word-wrap: break-word;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 13.2px;">PEDROSA, M.<i> A situação brasileira e o trabalho para o seu esclarecimento</i>. 1930. </span><span style="font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 13.2px;">In: KAREPOVS, D. Na contra corrente da história. 1987.</span></span></h1>
</div>
<div style="font-family: arial, tahoma, helvetica, freesans, sans-serif; text-indent: 0px;">
<span style="font-size: large;">STALIN J. <i>Sobre os fundamentos do leninismo</i>. 1924.</span><br />
<span style="font-size: large;">______. <i>A revolução de outubro e a tática dos comunistas russos</i>. 1924.</span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-size: small;">______ </span><i style="font-size: x-large;">Questões do leninismo</i><span style="font-size: small;">. 1926. </span><a href="http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf" style="line-height: 18.48px; text-decoration: none;">http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf</a></span><br />
<br /></div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-19472230824967829182016-01-29T14:27:00.004-08:002023-09-29T11:05:53.437-07:00O que foi o Feudalismo?<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: 18pt;"> </span></b><b><span style="font-size: 18pt;"> </span></b><b><span style="font-size: 18pt;">Anotações sobre a sociedade feudal</span></b><br />
<b><span style="font-size: 18pt;"><br /></span></b>
<b><span style="font-size: 18pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<i>Em tempos remotos havia, por um lado, uma
elite laboriosa, inteligente e sobretudo parcimoniosa, e, por outro, vagabundos
dissipando tudo o que tinham e mais ainda. [...] Assim se explica que os
primeiros acumularam riquezas e os últimos, finalmente, nada tinham para vender
senão sua própria pele. E desse pecado original data a pobreza da grande massa
até agora, apesar de todo o seu trabalho, nada possui para vender senão a si
mesma, e a riqueza dos poucos, que cresce continuamente, embora há muito tenham
parado de trabalhar. [...] Na história real, como se sabe, a conquista, a
subjugação, o assassínio para roubar, em suma, a violência, desempenham o
principal papel. Desde o início, o direito e o trabalho têm sido os únicos
meios de enriquecimento [...]. Na realidade, os métodos da acumulação primitiva
são tudo, menos idílicos. </i>(Karl Marx, “A assim chamada acumulação primitiva”.
In: <i>O capital</i>).<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">INTRODUÇÃO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Partimos da discussão sobre a escravidão na Grécia e no
Império Romano para compreender as bases sociais sobre as quais se desenvolveu
o feudalismo Ocidental. Este nasce dos restos do modo de produção escravo que
constituiu o Império Romano somado a elementos germânicos. Em 476, os hérulos,
grupo germano chefiado por Odoacro, invadiram e conquistaram Roma. A dissolução
do Império estende-se ao longo dos séculos, sendo que parte de seus territórios
serão dominados e reorganizados por Carlos Magno, constituindo o Império
Carolíngio no final do século VIII.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A primeira fase feudal inicia-se durante o século IX, ganha
maior estabilidade durante a primeira metade do século XI, sendo que atinge o seu
auge durante a primeira metade do século XIII. Após 1250 inicia uma fase de
declínio. Sua derrocada no Ocidente inicio-se no final do século XIII e segue
aprofundando-se ao longo do século XV. No século XVI os restos feudais deram base ao absolutismo europeu. (BLOCH, 2012: </span><span style="font-size: large;">ANDERSON, 2013</span><span style="font-size: large;">).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No Oriente o feudalismo estrutura-se com mais tardar, durante
o século X. Sua crise inicia-se no século XIV e primeiros anos do século XV (ANDERSON,
1994). Há uma diferença importante em sua cronologia, trata-se de um feudalismo
desenvolvido tardiamente em relação ao Ocidental. Também a constituição deste
modo de produção tem bases diferentes, pois o Oriente não contou com uma Antiguidade
grega, nem latifúndio escravo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">ANTECEDENTES
DO FEUDALISMO - GRÉCIA E IMPÉRIO ROMANO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O trabalho escravo existiu durante toda a Antiguidade, mas era praticado em pequena proporção, predominava a escravidão por dívidas e de prisioneiros de guerra. Assim, o modo de produção escravo foi uma invenção decisiva
do mundo greco-romano. </span><span style="font-size: large;">Na sociedade grega, durante o século V a.C., a escravidão ganhou proporção cada vez maior.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>Creta antiga - o inicio da sociedade europeia</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A região da Grécia antiga era ocupada por diversos povos semi-nômades, sendo que, por volta do ano 5.000 a.C já havia tribos sedentárias na região. No entanto, c</span><span style="font-size: x-large;">omo sabemos, a formação de cidades na Europa começou bem depois, por volta de 2.000 a.C. na Ilha de Creta, onde foram construídas grandes cidades como Cnossos, Mália, Faina e Cânia.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;">Os cretenses criavam animais como cabras, bois e ovelhas, produziam leite, iogurtes, queijos, etc. Também plantavam uvas, azeitonas, trigo e cevada. Fabricavam objetos e ferramentas de cobre e bronze. Produziam cerâmica (vasos, potes) e inventaram uma escrita própria. O próprio Zeus teria nascido na ilha, apontado a relevância desta primeira fase para a sociedade grega. Também era de Creta o mito do Minoutaro (metade homem e metade touro) que vivia em um labirinto. </span><span style="font-size: x-large;">A sociedade cretense se desenvolveu e dominou toda a região do Mar Egeu. Todos os povos que viviam na região era obrigados a pagar tributos aos reis de Creta, demonstrando a hegemonia politica e econômica dos cretenses.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;">No entanto, a sociedade cretense entrou em crise por volta de 1.400 a.C, perdendo seu poder politico e econômico. Com isso, foi dominada pelos Aqueus que ja viviam na Peninsula de Peloponeso desde 1.800 a.C. na cidade de Micena. O mito da morte do minotauro cretense, morto por Teseu (do povo aqueu) com a ajuda de Ariadne, marcou a crise de Creta e a ascensão do povo aqueu.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>A hegemonia dos Aqueus de Micenas</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Quatro povos formaram o povo grego: Aqueus, Eoleos, Jônios e Dórios. Os povos Aqueus chegaram na península de Peloponeso por volta de 1.800 a.C. Foram eles que construíram a cidade de Micena e desenvolveram a civilização micênica. Nesse período, eram os cretenses que dominavam toda a região do Mar Egeu, por isso os Aqueus eram obrigados a pagar tributos a Creta.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCfFQTcIOvXgtQPlRhfZZjpBV0ynRxqwWra1-gQT_vTQzQILi4at9VwtLfc2-Tj95FG9jVogyh5yXPnr5-E-JZnYuvTBeqMhPgJUmXk2M2KgujpYZ0tabEbUR2gZ3uhlYdhdOagQFnw50u/s1600/slide_2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="486" data-original-width="754" height="412" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCfFQTcIOvXgtQPlRhfZZjpBV0ynRxqwWra1-gQT_vTQzQILi4at9VwtLfc2-Tj95FG9jVogyh5yXPnr5-E-JZnYuvTBeqMhPgJUmXk2M2KgujpYZ0tabEbUR2gZ3uhlYdhdOagQFnw50u/s640/slide_2.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A sociedade micênica era predominantemente rural, com forte poderio militar, era organizada em torno de palácios, o que lhe valeu a
designação de sociedade palaciana, isso porque era liderada pelo palácio e
seus guerreiros. Seus </span><span style="font-size: large;">palácios eram fortificados como palácios-fortaleza cercados por grandes muralhas. Além de micenas, também construíram as cidades de Pilos e Tirinto. Em tal contexto, frente a uma infinidade de povos e guerreiros nômade que circulavam pela Europa, o</span><span style="font-size: large;">s camponeses pagavam tributos aos palácios para receber proteção. </span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Os micênicos também criavam animais como ovelhas, bois e vacas, plantavam uvas e olivas. Possuíam uma camada de guerreiros e de sacerdotes. Também possuíam escrita própria para registrar a vida nos palácios. O auge da sociedade micênica se deu entre os anos 1600 a 1200 a.C, nessa fase, os micênicos passaram a dominar a Ilha de Creta. Neste processo, a cultura micênica se misturou com a cretense, surgiu assim a cultura creto-micênica.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNR9fY_63uw55FS6ZD2wfab3TWk2NhWLNJocPu7F5a6iox7t5fBCROtH_K19vQXXY6dflpSlQXDMUoxt_t8_Eqv8BZNJqQcxbfs9RqAigOdWM1QdNAM5CLZRRloksH8JG0cIPT13D-jHiP/s1600/mapa_gra_cia_antiga_re.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="368" data-original-width="600" height="392" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNR9fY_63uw55FS6ZD2wfab3TWk2NhWLNJocPu7F5a6iox7t5fBCROtH_K19vQXXY6dflpSlQXDMUoxt_t8_Eqv8BZNJqQcxbfs9RqAigOdWM1QdNAM5CLZRRloksH8JG0cIPT13D-jHiP/s640/mapa_gra_cia_antiga_re.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Durante o século XIII a.C. sociedade micênica entrou em crise e foi dominada pelos Dórios. A dispersão de aldeões
dos entornos dos palácios, somada às guerras, disputa territoriais e invasões, desagregaram todo o sistema palacial micênico. Ainda assim, o intercâmbio cultural dos minoicos, micênicos e dórios lançaram as bases do que viria a ser a sociedade grega.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>A hegemonia dos Dórios em Esparta: guerra e desigualdade</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A cidade-Estado de Esparta foi fundada pelos Dórios, um povo guerreiro que chegou na Península de Peloponeso por volta do ano 1.200 a.C. Eles dominaram os Aqueus e iniciaram uma nova cultura na península. Os dórios assimilaram a cultura, os deuses e tradições creto-micênicas, bem como as técnicas de agricultura e cerâmica. Ao mesmo tempo, os dórios inseriram a utilização do ferro em larga escala na península para a fabricação de armas e ferramentas. A cidade-Estado de Esparta se desenvolveu muito entre os anos 800 a.C. e 500 a.C., chegando a dominar toda a Península de Peloponeso.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Os espartanos eram totalmente devotados à guerra e ao combate, as crianças eram iniciadas na arte da guerra aos 7 anos e treinavam durante a vida toda. Os grandes generais do exército eram também os maiores proprietários de terra e riquezas (expropriaram os antigos habitantes da península).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Esparta construiu um respeitado legado militar, sendo vista como uma potência bélica-militar. Os espartanos dominavam os micênicos e os fez de servos, obrigando-os a ceder 50% de sua produção como tributos. Por causa dessa dominação e exploração, os antigos habitantes da península (chamados de Hilotas) viviam se revoltando contra os espartanos dominadores. Por isso, o espartanos viviam em um "estado permanente de guerra" para manter sua dominação.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><b>Atenas antiga: comércio marítimo e escravidão de massa</b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">A cidade de Atenas foi formada pelos povos Jônios que chegaram na Península Ática por volta do ano 1.500 a.C. Com o fim do domínio creto-micênico, os jônios puderam desenvolver sua produção e sua sociedade, edificando Atenas por volta do ano 900 a.C. e dominando a península Ática por volta do ano 800 a.C. Também produziam trigo, cevada, azeitonas, produzindo azeite e vinho. Neste processo, pôde se especializar-se no comercio marítimo, dominando todo o mar Egeu (lembremos que a antiga potência cretense havia sido abatida).</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;">Formou-se uma nobreza em Atenas, esta foi chamada de Eupátridas (bem nascidos). Eles dominavam a propriedade das terras e a produção agrícola de exportação, com isso dominavam o comercio marítimo com as outras cidades-Estados por meio do mar Egeu. Os Eupátridas eram a aristocracia de Atenas e dominavam os camponeses e artesãos. Por outro lado, os camponeses e artesão viviam endividados e por isso acabavam sendo escravizados. Neste processo de endividamento contínuo, metade da população de Atenas era de escravos.</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Dessa forma, a sociedade grega foi produto da desagregação do velho mundo creto-micênico. A dissolução desta sociedade produziu “os núcleos comunais que irão
caracterizar a civilização grega” (ANDERSON, 1994, p. 59). Os antigos palácios foram reapropriados e, assim, nasceram as pólis como núcleos de poder. Este
processo se deu entre os séculos XII e VII a.C., período também denominado de
“Idade das Trevas”, talvez porque nele os núcleos urbanos sofreram refluxo, a produção e a economia regrediram. Ao longo da passagem da Idade
das Trevas para o Mundo Arcaico, os núcleos urbanos se recompuseram na região da
Grécia lançando as bases para a sociedade Ateniense e Espartana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Foi dentro dessa nova processo que se deu a introdução do trabalho escravo em larga escala, marcadamente no
século V a.C. Assim, foi nessa fase em que se verificou a expansão da produção com base no trabalho escravo. Nesse período que a democracia escravista grega atingiu o seu ápice. Com a grande produção de
manufaturados, acumulada com base no trabalho escravo Atenas enriquecia.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Conforme sabemos, a democracia escravista ateniense se estruturava com base na
desigualdade – mulheres, estrangeiros e escravos não podiam votar. Os pequenos
proprietários tinham dificuldade de exercer seu poder de voto. Os grandes
proprietários coagiam e compravam votos. Atenas chegou a possuir uma população
de 150 mil habitantes, tendo entre 60 e 80 mil escravos. Apenas 6 mil de seus
habitantes participavam efetivamente das decisões.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">ESCRAVIDÃO COMO BASE DO IMPÉRIO ROMANO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O trabalho escravo utilizado largamente nas propriedade
gregas foi expandido ao máximo pelo Império Romano com a implementação do
latifúndio escravista. Na Grécia, a escravidão era empregada em áreas pequenas. Já na península itálica deu-se “o surgimento de propriedades agrícolas
trabalhadas por escravos em uma até então desconhecida imensidão” (ANDERSON, 1994,
p. 59). Recordemos que a grande propriedade sustentada sobre trabalho escravo já era notável durante a república romana (509 a.C.-27 a.C). No ano 43 a.C., estima-se que a Itália tivesse
quatro milhões e meio de habitantes livres e um total de três milhões de
escravos (ANDERSON, 1994, p. 61). Tudo estava organizado sobre a base do latifúndio
escravo. Mas, durante a fase do Império Romano (27 a.C-395 d.C), a base escravista latifundiária foi multiplicada. O latifúndio escravocrata foi a condição primeira da conquista e
colonização permanente de extensas terras interiores do Ocidente e do Norte
(ANDERSON, 1994, p. 61). Roma dominou todo o Mediterrâneo rapidamente. Já
possuía um sistema jurídico que vinha sendo desenvolvido desde o ano 300 a.C.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">Conforme podemos observar na figura abaixo, durante a fase monárquica, hegemonizada pelos etruscos (753 a.C.-509 a.C.), o reinado romano possuía um constrito território. Na fase republicana o território foi multiplicado em guerras de conquista e escravização de adversários. Mas foi em 117 d.C, com o imperador Trajano, que o império romano chegou a sua maior extensão territorial: </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0-g2lVEgIt0A7wbPKHge3yjdQPZb_cJBmLAnuO0cxDgiNyZ_nyZkSbhB3Qssx87j-U7Ty8txcAe8K6Yo5cOR-n_4BG4WIUKUGWu1Owmp37JJHP_mBQXboNd3oGQMW1fHa3mDxcdF0BUm/s1600/ROMA.PNG" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="515" data-original-width="707" height="466" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0-g2lVEgIt0A7wbPKHge3yjdQPZb_cJBmLAnuO0cxDgiNyZ_nyZkSbhB3Qssx87j-U7Ty8txcAe8K6Yo5cOR-n_4BG4WIUKUGWu1Owmp37JJHP_mBQXboNd3oGQMW1fHa3mDxcdF0BUm/s640/ROMA.PNG" width="640" /></a></div>
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br /><!--[endif]--></span><!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura: Império Romano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Quanto mais expandia suas fronteiras pelo continente
europeu, mais o Império tinha que se defrontar com a resistência,
enfrentamentos e invasões de nômades e outros povos guerreiros. O Império
Romano chegou a dividir sua capital para melhor resistir aos ataques, contra-ataques e resistência de outros povos. Em 395, o
imperador Teodósio dividiu a administração do Império Romano entre seus filhos:
Honório ficou com o Império Romano do Ocidente, e Arcádio com o Império Romano
do Oriente. Assim, uma capital continuava em Roma e outra foi estabelecida mais
ao leste, onde hoje se localiza Istambul, que foi chamada de Bizâncio, tendo
por capital Constantinopla. Esta segunda capital do Império Romano estabelecida
no Oriente será responsável por transplantar elementos culturais do ocidente
para aquela região, sobretudo o cristianismo. As duas capitais do romanas existiram por quase cem anos. A capital romana foi derrubada em 473, a de
Constantinopla será profundamente metamorfoseada e existirá até o século XV. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Na imagem a seguir podemos observar a configuração do Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbeBq9nt3y7kFlBAFBI8DHwekPVHqxGrf-6aYfZLVIrhe5VzvaRifB1-QpHMHPlhRuqpOw1rRLkeCw6jY-WeU1bpLJgLHLxEykHHEX004CZFLh9HNhtYneaeacu5cAuVUc5QGTgu3GqYWn/s1600/Imperio+Romano+dividido.jpg"><img border="0" height="520" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbeBq9nt3y7kFlBAFBI8DHwekPVHqxGrf-6aYfZLVIrhe5VzvaRifB1-QpHMHPlhRuqpOw1rRLkeCw6jY-WeU1bpLJgLHLxEykHHEX004CZFLh9HNhtYneaeacu5cAuVUc5QGTgu3GqYWn/s640/Imperio+Romano+dividido.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt;">Figura : A divisão do Império Romano entre Ocidente e
Oriente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Durante o Império Romano importantes obras arquitetônicas foram construídas e resistem ao tempo até nossos dias. A segui podemos observar um Aqueduto construído para o transporte de água:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 1cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzx1d0sBtcyAsSWSVfds0Eh4tnDpBBWPaEDQ1QLsu6HV0feBm21bT6LL6FOP-2aMZzbaeaELkQMuEz6d5SDn38LPv9F2R5nxKywYGz-79XwsCzR5DEvJ0IGHDPUx-__AJOeyvXIPtJXPMl/s1600/Aqueduto+Romano.jpg"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzx1d0sBtcyAsSWSVfds0Eh4tnDpBBWPaEDQ1QLsu6HV0feBm21bT6LL6FOP-2aMZzbaeaELkQMuEz6d5SDn38LPv9F2R5nxKywYGz-79XwsCzR5DEvJ0IGHDPUx-__AJOeyvXIPtJXPMl/s640/Aqueduto+Romano.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura: Aqueduto romano para transporte de água –
Segóvia/Espanha, entre os séculos I e III.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHrk0mxiY4J8BU4-afUmC1Gle3araO2xQ8zxVGM34fi0A3lbRzyLCq0XlqvnOI18XczqwugIsXTbaj2IkNy3KSCvn7WxfYmBtTpu8S-VEuuzZKvvM07mEuHhPHdmDPy_-0GeZVBcGWN8la/s1600/Aqueduto+Romano+-+portugal.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHrk0mxiY4J8BU4-afUmC1Gle3araO2xQ8zxVGM34fi0A3lbRzyLCq0XlqvnOI18XczqwugIsXTbaj2IkNy3KSCvn7WxfYmBtTpu8S-VEuuzZKvvM07mEuHhPHdmDPy_-0GeZVBcGWN8la/s640/Aqueduto+Romano+-+portugal.jpg" width="640" /></a><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; text-indent: 0cm;">Figura: Aqueduto Pegões – Tomar/Portugual.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: left; text-indent: 0cm;">
<b><span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">CRISE DO IMPÉRIO ROMANO<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">A
crise do Império Romano teve como causa principal o crescimento exagerado de seu
exército expansionista, do peso parasitário da Igreja, da estagnação da
produção, e também um grande crescimento da população. Com imenso gasto
militar, grande gasto com a Igreja, reduzidíssimo investimento em técnicas
produtivas e grande crescimento populacional, o Império passou por profundas
crises, ciclos de fome, doenças e favelização. </span></span><br />
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<span style="line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">Em condições de paz, sem aferir
novas conquistas territoriais e de novos escravos, o Império entrava em crise
de abastecimento. Os preços começaram a subir continuamente nos séculos I, II e
III (ANDERSON, 1994). O Estado romano era o maior consumidor individual do
Império. Era o foco real de apropriação da produção em massa. Influenciou assim
diretamente na origem de um setor manufatureiro dinâmico. Os serviços públicos
comuns, estradas, construções, aquedutos, esgotos eram realizados com trabalho
escravo (ANDERSON, 1994, p. 78). Espanha, Galícia e Itália eram as províncias
romanas mais marcadas pela escravidão.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; line-height: 150%;">No
século III d.C., entre os anos 235 e 284, a inflação foi estratosférica. O
dinheiro desvalorizava-se. A instabilidade política degenerava (ANDERSON,
1994, p. 80). As guerras </span><span style="font-size: large;">civis eram ininterruptas. Dos vinte imperadores
daqueles anos, dezoito tiveram morte violenta. Às contradições internas
somam-se as invasões estrangeiras ininterruptas. Nos últimos anos do Império,
assistiu-se a uma devastadora seqüência de invasões de suas gigantescas fronteiras. Tratavam-se de invasões dos povos francos, germanos,
alamanos, jutungidas, hérulus, godos, persas e outros povos nômades.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj55pRtalRLczxI3vt4GtRosireSUxe9hGRxmxdsqOoGAl5L5r_Qke6jZ7BrhQlt0lcswIrEcjTwffG_Ei23aqkMCKo66S1DD-oTcMk4585xziqLs2NPT_qs6SRU3augSx1V3feSxgl6057/s1600/Restos+de+contru%25C3%25A7%25C3%25A3o+Romana.jpg"><img border="0" height="612" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj55pRtalRLczxI3vt4GtRosireSUxe9hGRxmxdsqOoGAl5L5r_Qke6jZ7BrhQlt0lcswIrEcjTwffG_Ei23aqkMCKo66S1DD-oTcMk4585xziqLs2NPT_qs6SRU3augSx1V3feSxgl6057/s640/Restos+de+contru%25C3%25A7%25C3%25A3o+Romana.jpg" width="640" /></a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura:
Templo romano de Córdoba/Espanha, construído no ano 41 d.C. Foto: Alessandro de Moura.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Centrado na escravidão, o Império investia pouco em técnicas
produtivas. Mesmo tendo inventado o moinho de água e a colhedeira, estas
descobertas ficaram abandonadas só sendo retomadas durante a fase feudal. Anderson
aponta que “a máquina militar e a burocracia ampliada ao final do Império
cobrou um preço terrível de uma sociedade cujos recursos econômicos haviam, na
verdade, declinado” (ANDERSON, 1994, p. 92). Assiste-se a uma intensa polarização
social ao final do século IV. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; mso-special-character: line-break; page-break-before: always;" />
</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNgSgV62W-5kYU8yHoqoKLyi5I5rmUudSnB6091adb-9RwITNiehWU2Cx7opwNbm28bGi_OplY3LUVF75d9F9z4NUg7cdbfDXnSboYGjm6q5xCL5jz2EFiJtUKqSlQAcflluY84DaRBjz8/s1600/Ponte+Romana+em+Cordoba.jpg"><img border="0" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNgSgV62W-5kYU8yHoqoKLyi5I5rmUudSnB6091adb-9RwITNiehWU2Cx7opwNbm28bGi_OplY3LUVF75d9F9z4NUg7cdbfDXnSboYGjm6q5xCL5jz2EFiJtUKqSlQAcflluY84DaRBjz8/s640/Ponte+Romana+em+Cordoba.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura: Ponte Romana em
Córdoba/Espanha, construída no século II a.C. <o:p></o:p></span><span style="font-size: 13.3333px; line-height: 20px; text-align: justify; text-indent: 0px;">Foto: Alessandro de Moura.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdSUM2kSmm2m4R_cvUOLvATjKjxTi_BY5LqrBBh8q7jB96g_oAo_YKybkovqZvy2ApNI7eIlh758mVC9Ii3Pvf5uPpNugKjd2isKWkwQnV4KUj2snlINMAswgbybqzTRW7xqAeUd-41zf8/s1600/Forte+Rromano+em+Tossa+del+Mar.jpg"><img border="0" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdSUM2kSmm2m4R_cvUOLvATjKjxTi_BY5LqrBBh8q7jB96g_oAo_YKybkovqZvy2ApNI7eIlh758mVC9Ii3Pvf5uPpNugKjd2isKWkwQnV4KUj2snlINMAswgbybqzTRW7xqAeUd-41zf8/s640/Forte+Rromano+em+Tossa+del+Mar.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura: Forte de Tossa del Mar,
vila romana do século I a.C. <o:p></o:p></span><span style="font-size: 13.3333px; line-height: 20px; text-align: justify;">Foto: Alessandro de Moura.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O vasto aparato clerical existente nos últimos anos do
Império “foi uma das principais razões da sobrecarga parasitária que exauriu a
economia e a sociedade romana” (ANDERSON, 1994, p. 127). Ainda de acordo com
Perry Anderson “por volta do século VI, os bispos e o clero no Império
remanescente eram em muito maior número que os agentes administrativos e
funcionários do Estado, e recebiam salários consideravelmente altos” (1994, p.
127). Dessa forma, para o autor, o cristianismo teria sido uma das causas
fundamentais a influir na queda do Império Romano.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Após a queda do Império Romano do Ocidente (476),
conquistado por Odoacro, chefe da confederação de tribos germânicas dos
hérudus, o território do Império foi dividido em numerosos reinos romano-germânicos.
O domínio recém-estabelecido não pôde fixar uma centralização administrativa
que repelisse os ataques de nômades e as pilhagens. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl37yBuv9vHMJSDl2F6uVX6lS8VoQya8MQ67ORSSZQrKG849ww6It6iM7awdQGQO6KexcRrjKHP9SlHntnl0jszGGiLKQsgZAkRurFjHlpUt0azyse_0W1cytPGqxzcDDZ1AsqlKLZOqTU/s1600/Feudalismo+3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="984" data-original-width="1284" height="489" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl37yBuv9vHMJSDl2F6uVX6lS8VoQya8MQ67ORSSZQrKG849ww6It6iM7awdQGQO6KexcRrjKHP9SlHntnl0jszGGiLKQsgZAkRurFjHlpUt0azyse_0W1cytPGqxzcDDZ1AsqlKLZOqTU/s640/Feudalismo+3.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdrTda_JHbC4bNB2YucukeLXIuvLLa1YpTqh9QBWMZtprayQN5GbQEKjGG32CIUofLTnj-UDpNTM5pySqUkPoUkcultRvpP3wph8OfXN6stJnOJpGGxvOftdd5QysnVQZsJDNeszCVNdR/s1600/feudalismo+1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="724" data-original-width="996" height="464" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUdrTda_JHbC4bNB2YucukeLXIuvLLa1YpTqh9QBWMZtprayQN5GbQEKjGG32CIUofLTnj-UDpNTM5pySqUkPoUkcultRvpP3wph8OfXN6stJnOJpGGxvOftdd5QysnVQZsJDNeszCVNdR/s640/feudalismo+1.jpg" width="640" /></a></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">Apenas durante o reino
franco de Carlos Magno avançou-se para a conquista de diversos povos vizinhos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="text-indent: 0cm;"><span style="font-size: large;">OS
NORMANDOS CONQUISTAM FRONTEIRAS DO DECADENTE IMPÉRIO</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em plena decadência do Império Romano (entre os séculos V e
VI), os normandos tiveram grande protagonismo nas invasões na Europa. Eles tinham
imensa vantagem sobre os povos sedentários do antigo Império Romano, sobretudo
porque dominavam cavalos e eram nômades. A guerra era seu estilo de vida, por
isso desenvolveram muito as estratégias de ataque e defesa, eram guerreiros por
sua própria natureza social. Tinham ampla vantagem nas lutas e disputas, seu
objetivo central era a pilhagem de ouro e prata. Os nômades eram povos formados
para a guerra. As invasões de domínio de territórios na Europa, sobretudo pós-queda
do Império Romano, eram facilitadas porque as populações europeias, em geral,
contavam com pouca densidade populacional. Dessa forma, os normandos,
guerreiros nômades, tinham imensa vantagem sobre aquelas rarefeitas populações
sedentárias. Tinham especial estratégia guerreira provada na prática.
Organizavam metodologicamente suas defesas e ataques. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Os normandos vão tornando-se sedentários e estabelecendo-se
no antigo Império Romano. Seus reinos vão se estabelecendo na Europa e
construindo fronteiras. Com isso, o cristianismo penetra em suas tradições, ou
seja, as invasões ao decadente Império Romano produziram intensa interação
socio-linguística, constituindo assim um caldo de cultura comum. Normandos, húngaros
(durante o século VIII e IX) e escandinavos misturam-se consanguineamente com
os povos europeus. Bloch aponta que nesse período, decorrido até por volta do
ano 991, “o nacionalismo era um sentimento desconhecido” (BLOCH, 2012, p. 66).
Destaca ainda que a influência normanda foi muito mais forte na Inglaterra do
que na França.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Além dos normandos, os árabes também avançavam Europa
adentro por meio da Espanha. Por outra face, lutando para resistir às invasões
dos normandos e vikings, os árabes estabelecidos na Espanha chegaram a bloquear
a navegação dos piratas escandinavos em suas águas meridionais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">IMPÉRIO
CAROLÍNGIO E AS BASES PARA O SISTEMA FEUDAL <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para defenderem-se dos ataques bárbaros, na Europa, os reis
e barões construíam fortificações e castelos. Aos poucos foram contidas as
invasões, com destaque para o Império de Carlos Magno – Império Carolíngio –
que encontra seu auge durante o final do século VIII. Conseguiu-se estabelecer
fronteiras. Magno constitui uma nova unidade em grande parte do Ocidente. O
Império Carolíngio expande-se durante todo o período de decadência do Império
Romano, encontrando seu ápice no início do ano 800. Perry Anderson registra que
o Império Carolíngio entrou em colapso no século IX. Na noite de natal do ano
800, em Roma, Magno foi coroado como <i>Imperator
Romanorum</i>. Este processo foi entendido como uma restauração do Império no
Ocidente. Magno conquistou imenso prestígio e poder político. No entanto, a unidade
do novo Império não durou muito. Após a morte de Magno, seu filho Luís, o
Piedoso, assumiu o poder. Com a morte de Luís, o Império foi dividido em três
partes pelo Tratado de Verdum (843).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBfU9gqIRvFlPenGN4g4lBQJ2Xvc_U768JZEcTb8pw248AgACp0BUXoZSFeAdHEBsd6KDYYp4pbxGuuF1Wz0byIQPWhzdrJi3P7OapX8rI4YRwIi_OxFJEzmSpzGiHt7k856bk4sUV8DBq/s1600/Imperio+carolingeo.jpg"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBfU9gqIRvFlPenGN4g4lBQJ2Xvc_U768JZEcTb8pw248AgACp0BUXoZSFeAdHEBsd6KDYYp4pbxGuuF1Wz0byIQPWhzdrJi3P7OapX8rI4YRwIi_OxFJEzmSpzGiHt7k856bk4sUV8DBq/s640/Imperio+carolingeo.jpg" width="640" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br />
<!--[endif]--></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;">No ano 843, os três netos de Carlos
Magno dividiram entre si o Império. Carlos, o Calvo, recebeu a<span class="apple-converted-space"> </span><i>Frância Ocidental </i>(que se tornará
França); Luís, o Germânico, ficaria com a <i>Frância
Oriental</i><span class="apple-converted-space"> </span>(que se tornará a
Germânia); e Lotário ficou com o centro da Itália até <i>Frísia</i><span class="apple-converted-space"> </span>(que se tornará a<span class="apple-converted-space"> Lotaríngia</span>).</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="background: white; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQXRYy6V8a21zU3_o8wSngjp5AHv_jaM-BtoGvGlqtmattLJopKC2e4Dox_QJOkS3OL9y-DKHDxc4udYBB_D8-P1R4k2Mc9FXe58RMUNMvw275NfihelbkGyC7gc5nvnf-u5tmTfFWilnq/s1600/Imperio+carolingeo+dividido.jpg"><img border="0" height="616" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQXRYy6V8a21zU3_o8wSngjp5AHv_jaM-BtoGvGlqtmattLJopKC2e4Dox_QJOkS3OL9y-DKHDxc4udYBB_D8-P1R4k2Mc9FXe58RMUNMvw275NfihelbkGyC7gc5nvnf-u5tmTfFWilnq/s640/Imperio+carolingeo+dividido.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para Perry Anderson o Estado Carolíngio marcaria o início do
feudalismo (1994, p. 131). Pois neste ínterim foram dados passos decisivos para
a formação feudal. No século VIII já se tinha vassalagem (homenagem pessoal) e
o benefício (concessão de terras em troca de serviços) (ANDERSON, 1994, p.
134). No século IX passa-se a usar o termo “feudo”. A França, nesse período
ficou cheia de castelos e fortificações privadas levantadas por senhores rurais
sem autorização imperial. Frente à divisão do Império Carolíngio, buscava-se resistir
aos ataques bárbaros e consolidar o poder local. “Essa paisagem cheia de
castelos era ao mesmo tempo uma proteção e uma prisão para a população rural” (Anderson,
1994, p. 137). Perpassa-se a multiplicação das relações feudais, tal como a
monopolização das relações vassalo-cavaleiro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A partir desse núcleo social organizado no centro da Europa,
foi possível desenvolver uma nova forma de organização social partindo dos
escombros do Império Romano e das bases recentes deixadas pelo Império
Carolíngio. Os fortes e castelos construídos de forma independente serão também
importantes pontos de apoio no controle das invasões. Teve centralidade essas
formas de defesa “autônomas” sem um Estado centralizado. Os reinados e
principados organizavam-se de forma independente para proteger as riquezas
acumuladas, plantações, animais e terras. Ofereciam proteção à massa
trabalhadora em troca de trabalho, assim surgiriam as primeiras formas de
vassalagem e servidão. Tanto a vassalagem como a servidão são formas oriundas
dos germânicos e dos romanos. Com a síntese romano-germânica passa-se a ter os
elementos iniciais que delineariam a<i> primeira
idade feudal</i>, que para Bloch vai do inicio do século IX até a primeira
metade do século XI (por volta de 1050). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">É nesse período que os árabes edificam o palácio da Alhambra,
na Espanha:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFQSmTBzLJyZue3FDuTDjio7YrkedK6h8ntpyqHwwlrD1P5xxfHBrTypf9nJoz7JeSeFwNf5tpc3sUUeIYCHlymufpuVM8_75JZG_tdED9hh381DPZxfgOkzrUz0T42c3z6i3KM2E245DZ/s1600/Alhambra.jpg"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFQSmTBzLJyZue3FDuTDjio7YrkedK6h8ntpyqHwwlrD1P5xxfHBrTypf9nJoz7JeSeFwNf5tpc3sUUeIYCHlymufpuVM8_75JZG_tdED9hh381DPZxfgOkzrUz0T42c3z6i3KM2E245DZ/s640/Alhambra.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Como destaca Perry Anderson, entre os elementos que definem
o feudalismo como uma fusão dos legados do Império Romano com o germânico,
considera-se a vassalagem, que é um produto que pode ser atribuído tanto ao
Império Romano como aos germânicos (ANDERSON, p. 125). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Esse autor destaca ainda que durante o feudalismo tem-se no
Ocidente um grande salto produtivo baseado na utilização de técnicas
produtivas, tal como o arado de ferro, os arreios para tração equina, o moinho
de água para força mecânica, o adubo calcário e três campos de rotação para a
agricultura (ANDERSON, 1994, p. 178). Durante o feudalismo a expectativa de
vida quase dobrou, passou de uma média de 25 para 35 anos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A feudalidade é produto do profundo enfraquecimento do
Estado romano. Sem uma instituição unificadora e coletiva, afluíram profundas
relações de dependência pessoal. Com a dissolução do Império havia uma legião
de chefes e principados dispersos com seus exércitos e suas propriedades. Assim,
além de produto resultante da brutal dissolução das sociedades antigas, o
feudalismo foi produto também da busca por defesa dos ataques e invasões
bárbaras. Formou-se mais como “uma sociedade desigual do que hierarquizada” (BLOCH,
2012, p. 516). Constituiu-se como uma sociedade com “muita gente humilde
sujeita a alguns poderosos”. Os chefes dessa sociedade eram guerreiros
profissionais, “cavaleiros pesadamente armados” (BLOCH, 2012, p. 516). A
subordinação se dava ao chefe mais próximo, e não a um coletivo ou classe. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O feudalismo não constituía um sistema homogêneo, pelo
contrário, a Europa feudal era feudalizada de forma desigual (BLOCH, 2012, p.
518), tendo como laço comum a dependência pessoal hereditária. A subordinação
entre duas pessoas desiguais era a principal característica do feudalismo,
completada pela sujeição pessoal ao invés do regime de salário, com vínculo de
proteção e obediência, fracionamento de poderes, supremacia dos guerreiros e da
cavalaria cristalizada em uma nobreza armada (surgida no século XII) como braço
de defesa dos chefes, reis e principados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: -7.1pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1VNkKQPBoY_9KNRDXG1wBlOKJF3lCPXKmfYvVVcY4QYREr3kRPQM931zaMw8gK05WJpTzWMfvQePLzaVLTndeZ3R4o1Ao-2NtteIqh1p6U6tGLjkG8w7chigGqviAwsg_uZbtRtQXTk8K/s1600/Linha+evolutiva+historica.jpg"><img border="0" height="454" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1VNkKQPBoY_9KNRDXG1wBlOKJF3lCPXKmfYvVVcY4QYREr3kRPQM931zaMw8gK05WJpTzWMfvQePLzaVLTndeZ3R4o1Ao-2NtteIqh1p6U6tGLjkG8w7chigGqviAwsg_uZbtRtQXTk8K/s640/Linha+evolutiva+historica.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">A PRIMEIRA IDADE DO FEUDALISMO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b> </b>Bloch define que a <i>primeira
idade</i> do feudalismo desenvolveu-se a partir do século IX e estende-se até
por volta do ano 1050. Para o autor, a partir do século XI ter-se-ia início a
segunda fase do feudalismo, ou a <i>segunda
idade feudal</i>, marcada por intenso desenvolvimento, onde se destaca “admirável
florescimento artístico” (BLOCH, 2012, p. 82), uma “nova sensibilidade religiosa”,
salto na arquitetura romana, mas também por um adensamento populacional,
aumento da produção, do comércio e dos exércitos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Durante a primeira idade feudal as técnicas agrícolas
exigiam grandes extensões territoriais para o cultivo. Enquanto metade do solo
“descansava”, apenas a outra metade do solo podia ser usada (BLOCH, 2012, p.
84). Para assegurar seus domínios e o estabelecimento dessa primeira idade
feudal, “os reis da primeira idade feudal mataram-se literalmente de tanto
viajar” (BLOCH, 2012, p. 86). Iam de vilarejo em vilarejo, de feudo em feudo. Muitas
vezes, ao cobrar a corveia em produtos, os reis tinham que consumi-las no local
onde eram cobradas. Nesse período “existiam várias correntes de troca entre as
civilizações circulantes” (BLOCH, 2012, p. 89).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; text-align: left;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large; text-align: left;">Sendo que as mercadorias
mais apreciadas funcionavam como “padrão de troca”, faziam função de criar
equivalentes, como uma moeda. Não existia nessa fase a compra e venda como
forma determinante, viviam de trocas embora se pudesse vender e comprar (BLOCH,
2012, p. 91). Nesta fase, as prestações de serviços ocupavam ainda lugar mais
importante do que a troca, sobretudo para a massa de pobres. O salário tinha um
papel ínfimo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik6-pFEcWBY-aSuxpsSe4SqZVgD5vk-UvX-R_LwWE_tQLr9MyQSga8vskQEg9UVIQ8O_3hWBsRyD5UHhazmkcB7YYJxsy-AkDf7Yx-47fTvJ_mStef8HvdTsISSkGRgMGqjbCArMT8m0qY/s1600/Cosuegra+-+espanha.jpg"><img border="0" height="472" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik6-pFEcWBY-aSuxpsSe4SqZVgD5vk-UvX-R_LwWE_tQLr9MyQSga8vskQEg9UVIQ8O_3hWBsRyD5UHhazmkcB7YYJxsy-AkDf7Yx-47fTvJ_mStef8HvdTsISSkGRgMGqjbCArMT8m0qY/s640/Cosuegra+-+espanha.jpg" width="640" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">Figura 12: Castelo de Consuegra/Espanha, construído no século
X. <o:p></o:p></span><span style="font-size: 13.3333px; line-height: 20px; text-indent: 0cm;">Foto: Alessandro de Moura.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">A SEGUNDA IDADE DO FEUDALISMO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Mudanças importantes acontecem durante a segunda idade
feudal (1050-1250), esta fase transformou a face da Europa. Ela será a fase
mais importante das realezas e principados, em que terão surgimento as
burguesias urbanas e ampliação do comércio e de grandes construções públicas. “Quantas
pontes não foram lançadas sobre todos os rios da Europa, no decurso do século
XII” (BLOCH, 2012, p. 94). Bloch aponta que a segunda idade feudal chegou a ser
chamada de “renascimento do século XII”. Além das poesias, construções, houve
muitas traduções de obras árabes. Os romances e poemas buscavam analisar e explicar
os sentimentos. Os moinhos de vento são construídos a partir desse período na
Europa. Podemos encontrar doze moinhos, construídos no século XVI, na cidade de
Consuegra localizada em La Mancha. Esses foram inspiradores de <i>Dom Quixote de La Mancha</i>, obra de Miguel
de Cervantes (1547-1616).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 0cm;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRIu0MFuXvdkVc_ariBmCd4CR9gIKmgO5M810Ez57I9xSrglTE3KRlGrhdnwN_SZqnckncXgoNr2nVFQo3jPHD0wwGvBeQ9MDKFD_PCYKoltB0pezeQwUsyuyaGl8BoKshpmKQ8g-hxpEx/s1600/Moinhos+de+vento+de+Consuegra+-+espanha.jpg"><img border="0" height="460" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRIu0MFuXvdkVc_ariBmCd4CR9gIKmgO5M810Ez57I9xSrglTE3KRlGrhdnwN_SZqnckncXgoNr2nVFQo3jPHD0wwGvBeQ9MDKFD_PCYKoltB0pezeQwUsyuyaGl8BoKshpmKQ8g-hxpEx/s640/Moinhos+de+vento+de+Consuegra+-+espanha.jpg" width="640" /></a><br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p> </o:p><span style="font-size: 13.3333px; line-height: 20px;">Figura 13: Moinhos de Vento e o Castelo de Consuegra/Espanha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.3333px; line-height: 20px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Ainda nessa segunda idade feudal, aumenta-se a quantidade de
barcos circulantes e as trocas entre países (feitas via Alemanha)
intensificam-se sobremaneira na Europa feudal. De acordo com Marx, n’<i>A ideologia alemã</i>, desde a metade do
século XII até o final do século XIII “[...] o comércio e a navegação haviam se
expandido mais rapidamente do que a manufatura, que desempenhava um papel
secundário; as colônias começaram a tornar-se fortes consumidoras, as diversas
nações dividiram-se, por meio de longas lutas, no mercado mundial que se abria”
(MARX; ENGELS, 2007, p. 58).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Bloch também afirma que a classe dos artesãos e de
mercadores ganha grande centralidade durante esse período e tornam-se
indispensáveis no ambiente urbano. O comerciante consegue sobrepor-se ao
produtor. As cidades tornam-se atrativas também para servos descontentes,
conforme apontara Marx “a fuga dos servos para as cidades deu-se incessantemente
durante toda a Idade Média” (MARX; ENGELS, 2007, p. 53). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Durante toda a época feudal, o latim era a língua comum. No
entanto, conviviam uma infinidade de outras línguas regionais. Logicamente, o
latim era a única língua veicular que se ensinava nas escolas monásticas e
catedrais. A imensa maioria da população era iletrada, havia apenas um pequeno
punhado de pessoas letradas. Não apenas o povo (artesão e camponeses), mas
também a maioria dos pequenos e médios senhores eram analfabetos. Dessa forma,
ganham importância social e administrativa os clérigos e religiosos letrados
que se colocavam a serviço dos poderosos e autoridades. A reforma gregoriana do
século XI produz um despertar religioso. O Papa Gregório VII buscou colocar o
padre acima do simples crente. Os padres, que até o século XI, tinham suas
sacerdotisas foram proibidos de se casar. Com as reformas de Gregório, a Igreja
galgou lugar de superioridade na sociedade feudal, aproximando-se das classe
mais poderosas. Junto com os senhores, a Igreja compunha o corpo de grandes
juízes feudais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Como a maioria da população era iletrada, as poesias
guerreiras, épicas, místicas, glorificações dos chefes em epopeias eram, em sua
maioria, transmitidas por via oral. A Itália antiga, sede do Império Romano,
era a região mais letrada da Europa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Interessante notar que esta nova sociedade que surge não
contava com um sistema próprio de leis. Assim, os textos e costumes romanos e
germânicos, bem como suas leis foram essenciais para constituir a base jurídica
para a organização do feudalismo. Além disso, utilizava-se ainda as leis
criadas por soberanos de reinos bárbaros, tanto o que se tinha escrito como as
tradições puramente orais. A “Itália erudita” continuava a fornecer fontes
escritas para as leis, “o que foi tem o direito de ser”, como destaca Bloch, “a
maior parte dos tribunais contentavam-se com decisões puramente orais” (BLOCH, 2012,
p. 144). Visando a transmissão das leis para as novas gerações, nas decisões
dos tribunais, era comum levar crianças para que aprendesse a tradição
jurídica. Para Bloch “o grande erro do feudalismo foi precisamente a sua
inaptidão para construir um sistema jurídico verdadeiramente coerente e eficaz”
(BLOCH, 2012, p. 273). Por não ter estabelecido um sistema jurídico próprio para
a resolução das contendas, havia uma gigantesca margem de manobra no que tangia
a direitos e deveres. As lacunas jurídicas existentes eram sempre preenchidas
em favor do mais forte. Muitos acordos jurídicos eram rompidos por base no
equilíbrio de forças.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh65yzhLpVOpRw6-uKEIj933LB4z2EAH7CejZls6GlmwQPbSRPCMtPtjhXCY1yhpagIc__qp302Q0jlYfQeck8KvE6gFDhWpyYX1rik9JOz4Ej4Zum3jtYzvyn3leoHsAd04z5P7xsaaoYq/s1600/Castelo+e+aldeoes.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh65yzhLpVOpRw6-uKEIj933LB4z2EAH7CejZls6GlmwQPbSRPCMtPtjhXCY1yhpagIc__qp302Q0jlYfQeck8KvE6gFDhWpyYX1rik9JOz4Ej4Zum3jtYzvyn3leoHsAd04z5P7xsaaoYq/s640/Castelo+e+aldeoes.jpg" width="568" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">JUSTIÇA
COM AS PRÓPRIAS MÃOS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Uma vez houvesse prejuízo, garantia-se o direito à vingança.
Nas relações sociais, de trabalho, de produção e de posse, os laços consanguíneos exerciam grande importância. As relações de parentesco junto com as relações de
vassalagem são as centrais, daí desdobram-se as vinganças de consanguíneos,
onde se podia punir e matar o criminoso e seus descendentes. A desgraça de um
caía sobre toda a família. “A honra ou a desonra de um dos membros recaía sobre
a pequena coletividade inteira” (BLOCH, 2012, p. 158). O cadáver pedia a
vingança consanguínea. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">As famílias se vingavam umas das outras, mas também se uniam
para fortalecer suas posses e poderes. Neste plano, o casamento era uma associação
de interesses coletivos e não uma simples opção pessoal. Nesse caso, o amor só
existia em relações extraconjugais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O senhor também podia vingar-se por um prejuízo ou mal feito
causado a seu vassalo, assim como o vassalo tinha a obrigação de defender o seu
senhor. O feudalismo era a sociedade em que o homem pertencia a outro homem. Ao
prejudicar um vassalo, podia-se prejudicar também o seu senhor. Como a
vassalagem se dava sempre entre um mais forte e outro mais fraco, a defesa mútua
era determinante. A vassalagem era, sobretudo, uma relação das classes
superiores, assim a mesma dinâmica social não se aplicava aos camponeses,
vilãos e artesãos (BLOCH, 2012, p. 180). Porém, “por toda parte os fracos
sentiam a necessidade de se aproximar de alguém mais poderoso do que eles” (BLOCH,
2012, p. 180). Embora pudessem ser revogadas, as relações de vassalagem
faziam-se hereditárias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Durante o extinto Império Romano, a população contava com a proteção
do Estado. Também era o Estado que protegia a propriedade privada. Com a queda
do Império, foi necessário instituir uma ordem de guerreiros profissionais para
trabalharem em serviço dos reinados e principados. As guardas privadas tornam-se
uma necessidade objetiva. Tal especialização e armamento ganhavam corpo ainda
durante a primeira idade feudal. O vassalo tinha que proteger seu senhor com
armas nas mãos. Por isso começou-se a treinar as habilidades de combate ainda
na infância, antes dos doze anos de idade. O rei fazia seus vassalos as
pessoass às quais confiava os primeiros cargos do Estado, comandos
territoriais, condados e ducados. Porém, nenhuma concessão era vitalícia, o rei
poderia cassá-las. A hereditariedade vai ganhando terreno durante a segunda
idade feudal, ou seja, de 1050 em diante. Na Normandia, em 1066, o feudo passou
a ser hereditário. Depois do século XII os feudos podiam ser vendidos ou
cedidos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Enquanto os reinados e principados garantiam a proteção dos
vassalos, “o dever primordial do vassalo era o auxílio de guerra”. Raramente o
vassalo aparecia sozinho para auxiliar seu senhor em uma guerra. O vassalo
tinha ainda como desígnio fazer guarda no castelo senhorial, “se ele próprio
possuía uma fortaleza, deveria pô-la à disposição de seu senhor” (BLOCH, 2012, p.
262). O vassalo devia ajudar seu senhor com a sua espada, com conselho e, por
fim, com dinheiro (BLOCH, 2012, p. 265). Também o senhor tinha que proteger e
auxiliar seu vassalo, “o homem será defendido pelo seu senhor”. A vassalidade
era comparada ao parentesco consanguíneo (BLOCH, 2012, p. 267) e o vassalo
confiava a seu senhor a educação de seu filho, que viveria na casa de seu
senhor, tornando-se dele um auxiliar permanente. O sistema de proteção
determinava que “o acordo vassálico unia dois homens que, por definição, não
eram do mesmo nível” (BLOCH, 2012, p. 270). Começava do rei ou príncipe para
com um súdito, um subordinado, e descia criando outras relações de dependência.
“O primeiro dever do bom vassalo, naturalmente, é saber morrer pelo seu chefe,
com a espada na mão” (BLOCH, 2012, p. 276). Tanto a Igreja como os poetas
propagavam este dever com honras e louros. No entanto, a fidelidade não era
absoluta. As relações de vassalagem oscilavam entre a dedicação e a
infidelidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Com o passar do tempo, a posse das terras é que passaram a
determinar a relação entre os homens. O interesse pela terra é que balizaria as
relações pessoais durante a segunda idade feudal “o herdeiro só prestava
homenagem com vista a conservar o feudo” (BLOCH, 2012, p. 281). A honra ficaria
secundarizada. O vassalo passava a ser uma espécie de locatário que pagava com
“serviços e obediência”. Mas ainda existiam senhores que contavam com vassalos
fiéis, que reproduziam os primeiros vínculos de vassalagem (BLOCH, 2012, p.
282).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b> </b><b style="text-indent: 0cm;"><span style="font-size: large;">COMO
ERAM DIVIDIDOS OS PRODUTOS DOS FEUDOS</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No feudo havia uma organização que estabelecia a divisão da
produção entre senhor e vassalo, entre vassalo e servo. Havia o <i>domínio </i>ou<i> reserva</i>, onde se produzia o que seria destinado à apropriação
direta pelo senhor. Havia ainda a <i>tenures</i>,
que eram pequenas e médias áreas do mesmo feudo destinadas à exploração
camponesa, onde o camponês trabalhava para si próprio durante três dias da
semana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Mesmo aldeias que estavam fora do domínio de qualquer
senhor, para conseguirem proteção de seu exército, por vezes aldeias inteiras,
se colocavam sob a autoridade de um senhor (Bloch, p. 291). Com a proteção
vinha também a opressão senhorial e a apropriação direta dos frutos do trabalho
camponês. No século XII se pagava a dízima, a corveia, a talha, banalidades aos
senhores. As obrigações de pagar ao senhor foram se agravando (BLOCH, 2012, p.
299). Apenas os guerreiros contavam com liberdade frente à opressão senhorial. Ainda
assim, os servos não se viam em proximidade alguma com os antigos escravos do
Império Romano, o servo feudal se sentia livre, dono do produto de seu trabalho
e com obrigações apenas com outro homem mais poderoso que ele. Não se sentia
preso à terra. Assim, o vilão, que vivia na vila, era um camponês considerado
livre.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Já na segunda idade feudal (a partir do ano 1050) podia-se
substituir as corveias por pagamentos em dinheiro. No século XIII já haviam as
alforrias que liberavam da servidão aldeias inteiras (BLOCH, 2012, p. 329). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b style="text-indent: 0cm;"><span style="font-size: large;">NOBREZA:
UM BRAÇO ARMADO DAS MONARQUIAS E PRINCIPADOS</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Por haver a dominação de diversos grupos, em fios paralelos,
não se pode dizer que o feudalismo era o domínio estrito da nobreza, pois
muitos outros grupos dominantes não faziam parte da nobreza mas exerciam sua dominação.
Ainda, a nobreza só apareceria enquanto classe de fato durante a segunda idade
feudal. Só depois do século XII a nobreza tornou-se uma classe com privilégios
hereditários e direitos próprios. Toda a primeira idade feudal ignorava sua
existência.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlulCdDlVhpsai6TtZG9o5BI2y8SpUn1u_wADKvXCL308nM3plfzUUTouisQ9Ovrv9jB9frROpaGkHFupd74hugWbqArR6zN4WWe0svGqzuzdp1zcZGHhg6YNH_OnLba7uAbx2aeTQPhHc/s1600/Piramide+social+feudal.jpg"><img border="0" height="416" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlulCdDlVhpsai6TtZG9o5BI2y8SpUn1u_wADKvXCL308nM3plfzUUTouisQ9Ovrv9jB9frROpaGkHFupd74hugWbqArR6zN4WWe0svGqzuzdp1zcZGHhg6YNH_OnLba7uAbx2aeTQPhHc/s640/Piramide+social+feudal.jpg" width="640" /></a></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 70.9pt;">
<br />
<!--[endif]--></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Descendentes de guerreiros subordinados aos reis e
príncipes, a nobreza só surge na fase inicial do declínio das relações de
vassalagem. O enfraquecimento dos laços de vassalagem deixam um flanco aberto
que expõe os reis e principados tornando-os mais vulneráveis. Durante a segunda
idade feudal os nobres tornaram-se conselheiros e companheiros de armas da
coroa. Os nobres eram, eles próprios, o corpo nobre dos guerreiros. Eram homens
que comandavam outros homens e podiam mover batalhões em favor dos senhores.
Depois da segunda metade do século XII proibiu-se armar às classe inferiores,
constituindo um monopólio de armas nas mãos da nobreza. A nobreza torna-se a
classe bem armada. Frente a todos os guerreiros, “o guerreiro nobre era mais
bem armado e um guerreiro profissional” (BLOCH, 2012, p. 343). Tinha cavalos e
armamento completo. O cavaleiro tornou-se o equivalente ao nobre. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O orgulho dos nobres era um orgulho guerreiro. Viviam para a
guerra, sendo que “a guerra para eles não era apenas um dever ocasional para
com o senhor, para com o rei, para com a linhagem. Ela representava muito mais:
uma razão de viver” (BLOCH, 2012, p. 345). Era direito dos guerreiros apossarem-se
de todos os bens da pilhagem, assim, quanto mais se guerreava e vencia, mais se
podia acumular. Por ser um guerreiro nato, descendente de outros guerreiros que
serviam o castelo, o nobre nada tinha de agricultor. Guerreava e participava de
torneios que eram convocados por reis e barões. Demonstrava suas habilidade e
força publicamente. Apenas os nobres de linhagem comprovada podiam lutar. Os
vencedores se apoderavam dos equipamentos, do cavalo do vencido e às vezes até
de sua pessoa, que só poderia recuperar sua liberdade mediante um resgate. O
combate podia ser uma profissão muito lucrativa. Unia alegria da luta com altos
ganhos. O nobre era, assim, um fiel bem armado e testado no calor do combate. A
mulher nobre podia comandar com dureza o feudo e seus criados, ela era letrada
e culta. Os nobres deviam ter talentos literários, ler e escrever poemas. Consagrando
matrimônios que eram verdadeiros negócios entre família, o amor raramente se
dava dentro do casamento, “o amante nunca é o marido” (BLOCH, 2012, p. 364).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A Igreja buscava beneficiar-se dos serviços dos guerreiros.
Lutou para poder abençoar os rituais de armamentos, fazendo-os guerreiros a
serviço de Deus que, por sua vez, ganhavam como incumbência da “Santa Igreja” perseguir
os malfeitores e pagãos. O clero possuía feudos e vassalos, laicos e fiéis,
vassalos militares e simples camponeses. Os párocos homenageavam seus senhores
e recebiam homenagens de seus vassalos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Também a cavalaria não se manteve fechada para si. No século
XII surge também o patriarcado urbano, ricos comerciantes que facilmente
adquiriram senhorios para si próprios ou para seus filhos. Os guerreiros não
gostaram disso, mas no século XIII passou-se a possibilidade de acesso à
cavalaria a novas personagens que, por terem muitas posses, puderam ascender à
nobreza. Na Inglaterra, a nobreza não existia, seu equivalente era o fidalgo. A
nobreza era símbolo da França e da Alemanha. Os nobres não constituíam uma
classe homogênea, havendo entre eles hierarquia. Assim, um nobre podia se
tornar chefe de outros nobres, fazendo-se nobre de maior dignidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">O
SURGIMENTO DA BURGUESIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">É também durante a segunda idade feudal, a partir de 1250, que
surge a burguesia. Ela deriva de um desdobramento do vilão, lavrador,
trabalhador braçal. Daí surgem os comerciantes e artesãos que ganham maior densidade
na segunda idade feudal. N’<i>A ideologia
alemã</i>, Marx apontava que “o século XIII foi o século do comércio”. Esses
comerciantes e artesãos podiam escolher um lugar para trabalhar, morar em uma
vila, fortificá-la para se proteger de ataques, assim formando o <i>burg</i> que era apenas “um lugar
fortificado” (BLOCH, 2012, p. 418). Nas palavras de Marx e Engels, “dos servos
da Idade Média nasceram os moradores dos primeiros burgos; dessa população
municipal saíram os primeiros elementos da burguesia” (MARX; ENGELS, 2004, p.
41).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Os burgueses são urbanos e conquistaram um lugar próprio. Marx
e Engels, ainda n’<i>A ideologia alemã</i>, mostravam
que “o comércio e a manufatura criaram a grande burguesia, enquanto nas
corporações concentrava-se a pequena burguesia” (MARX; ENGELS, 2007, p. 57). Sempre
que enriqueciam compravam feudos e portavam armas, viviam de trocas por meio
das quais acumulavam do sobre-preço. Os lucros da burguesia provinham do vender
mais caro do que custou. Viviam do lucro intermediário, viajavam percorrendo
estradas em busca de novas vendas. Por sua função e posição social, a burguesia
era um corpo estranho na sociedade feudal (BLOCH, 2012, p. 419). Para se
protegerem, ao invés de buscar um senhor que lhes oferecesse proteção, os
burgueses associavam-se a outros burgueses de poderes compatíveis, criavam as
comunas que ligavam-nos com seus iguais. As relações entre burgueses não se davam
de baixo para cima como as relações de vassalagem onde um fraco ligava-se a um
forte. Pelo contrário, “a originalidade do juramento comunal foi ligar dois
iguais” (BLOCH, 2012, p. 420). Era algo revolucionário e que atraía antipatia
de um mundo hierarquizado. Em meio a uma multidão de chefes que tinham o poder
de morte durante a primeira idade feudal, o estabelecimento de relações entre
iguais era uma deturpação da ordem feudal. N’<i>A ideologia alemã</i> Marx descreve o processo de surgimento da
burguesia como classe:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
[...] Na Idade Média, os burgueses eram forçados, em
cada cidade, a se reunir contra a nobreza rural a fim de salvar a sua pele; a
expansão do comércio e o desenvolvimento das comunicações levaram as diversas
cidades a conhecer outras cidades que haviam defendido os mesmos interesses na
luta contra a mesma posição. Das muitas burguesias locais das diversas cidades
nasceu pouco a pouco a <i>classe</i>
burguesa. As condições de vida dos burgueses singulares, pela oposição às
relações existentes e pelo tipo de trabalho que daí resultava, transformaram-se
em condições que eram comuns a todos eles e, ao mesmo tempo, independentes de
cada um individualmente. Os burgueses criaram essas condições na medida em que
se separaram da associação feudal, e foram criados por elas na medida em que
eram determinados por sua oposição contra a feudalidade então em vigor. Com o
estabelecimento do vínculo entre as diferentes cidades, essas condições comuns
desenvolveram-se em condições de classe. Condições idênticas, oposição idêntica
e interesses idênticos também tinham que provocar, necessariamente em todas as
partes, costumes idênticos. A própria burguesia desenvolve-se progressivamente
dentro de suas condições, divide-se novamente em frações distintas, com base na
divisão do trabalho, e termina por absorver em si todas as preexistentes
classes de possuidores (enquanto desenvolve a maioria das classes possuidoras
preexistentes e uma parte da classe até então possuidora em uma nova classe, o
proletariado), na medida em que toda a propriedade anterior é transformada em capital
industrial ou comercial [...] (MARX; ENGELS, 2007, p. 63).<span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Bloch destaca que os burgueses se protegiam e atacavam; eram
muito duros com os pobres e devedores. Eram impiedosos com os credores. Ao
mesmo tempo, por possuir dinheiro e armas, também podiam oferecer proteção e
entreajuda. Quanto mais se aprofundava a crise do feudalismo, mais se
fortalecia e se fazia livre a burguesia. Tornava-se uma classe “armada e
autônoma” em sua comuna. Com a dissolução dos laços feudais, com sua imensa
liberação de mão-de-obra que se tornará disponível (vassalos, servos, mestres e
aprendizes), a burguesia, formando-se como classe de ricos comerciantes,
conseguirá direcionar todas as forças produtivas em favor das manufaturas e
comércio. As classes que eram oprimidas pelo feudalismo entrarão sob o domínio
burguês. Como formulariam Marx e Engels no <i>Manifesto
Comunista</i> “a sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer
novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das
que existiam no passado” (MARX; ENGELS, 2004, p. 30). É também durante a
segunda idade feudal que se formaria a Câmara dos Comuns, onde se constitui uma
justiça senhorizada (BLOCH, 2012, p. 438). Participando desse espaço, a burguesia
pôde tomar parte nas decisões administrativas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">O
ESTADO FEUDAL<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Durante a segunda idade feudal ganha força a unificação em Estados,
com moeda, funcionalismo assalariado e exército pago. O Estado passa a acumular
muito mais recursos do que qualquer coletividade privada (BLOCH, 2012, p. 494).
Voltam à tona lembranças e histórias da majestosa grandeza do Império Romano. No
entanto, ao invés de dar lugar a um novo Império Europeu com apenas um governo
unificador como foi o Império Romano ou algo parecido com o Império de Carlos
Magno, a administração feudal concentrada é a base para a formação dos Estados
nacionais independentes. Os Estados nacionais sobreviverão à queda do sistema
feudalista e serão base central da estrutura determinante nos próximos séculos.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">A
CRISE DO FEUDALISMO NO OCIDENTE EUROPEU<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A crise do feudalismo foi essencialmente uma crise
produtiva. A divisão do trabalho do feudalismo determinava que os servos
produzissem para si mesmos e para os seus senhores. Os senhores exigiam cada vez
mais produção dos camponeses. Chegou-se a um momento de superprodução com consequente
exaustão dos solos. Isso, por sua vez, consequentemente levou a uma queda da
produção, escassez e fome. Eclodem grande número de revoltas camponesas, guerras,
a peste negra e intensificação do comércio, que por fim produziram uma crise de
morte em todo o sistema feudal.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Perry Anderson denota que houve abrupta ascensão dos preços
dos cereais entre o ano 1000 e 1300, um aumento de 300%. Com isso, as vendas
podiam ser muito lucrativas, o que intensificava o comércio. Mas, no entanto,
as altas de preços causavam revoltas. Para Anderson, a crise do feudalismo foi
produto de um crescimento populacional exagerado que agravou o pouco
investimento em técnicas produtivas e em fertilidade dos solos. São problemas
que se interligam: a crise produtiva, populacional, o crescimento da inflação e
as revoltas populares. Tem-se uma crise de fome na Europa entre os anos 1315 e
1316. As terras começaram a ser abandonadas, a natalidade cai. O declínio da
população levou ao declínio da demanda (ANDERSON, 1994, p. 193). As forças de
produção encontraram limites objetivos. A Guerra dos Cem Anos (1337 a 1453) intensificou
a crise na Europa, a população ainda teve que enfrentar a peste negra em 1348 e
a Guerra das Duas Rosas na Inglaterra (de 1455 a 1485). De acordo com Anderson,
“estes desastres acumulados desencadearam uma luta de classes desesperada pela
terra”. Nesse processo, perdeu-se 40% da população europeia (ANDERSON, 1994, p.
195). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">De acordo com Perry Anderson, com as grandes concentrações
populacionais nas cidades, os centros urbanos tornaram-se também lugares onde
eclodiam os movimentos contestatórios. As principais ondas de levantes se deram
em Bugres, Gand em Flandes, Paris, norte da França, Condres no sudeste da
Inglaterra, Barcelona e Catalunha. “Os violentos levantes rurais da época,
mesmo em caso de derrota, traziam mudanças no equilíbrio das forças de classe
na terra” (ANDERSON, 1994, p. 198).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Os movimentos rebeldes das cidades influenciavam o clima
político no campo. “No Ocidente, a relativa densa rede de cidades exercia uma
constante influência gravitacional no equilíbrio de forças sociais no interior”.
A existência desses centros de mercado tornava-se também uma alternativa de fuga
para os camponeses descontentes (ANDERSON, 1994, p. 199). Ao mesmo tempo,
enquanto prejudicava a ordem de dominação e de produtividade no campo, as fugas
de camponeses para os centros urbanos eram uma fonte de mão-de-obra para os
artífices urbanos e para a manufatura. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A nobreza, percebendo este movimento, passou a investir mais
na atividade pastoril para abastecer a indústria de lã que se desenvolvia nas
cidades. Em meio a esse processo, já no início do século XIV, na primeira e
segunda décadas de 1300, no Norte da Itália a servidão havia desaparecido. Nos
próximos cinquenta anos, o mesmo se daria na França e Inglaterra (ANDERSON, 1994,
p. 202). Assim, a dissolução do feudalismo começou na Europa no final do século
XIII e início do século XIV. De acordo com Marx, esse processo libera enorme
contingente de vassalos feudais e militares que tornam-se mão-de-obra supérflua
no feudalismo decadente. Com isso “uma massa de proletários livres como
pássaros foi lançada no mercado de trabalho pela dissolução dos séquitos
feudais” (MARX, 1985, p. 264). Enquanto as propriedades dos grandes senhores
foi conservada, as casas dos pequenos proprietários, todos que tinham menos de
vinte acres de terra, foram destruídas (MARX, 1985, p. 265).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="text-indent: 0cm;">Os expulsos das terras pela dissolução dos séquitos
feudais e pela intermitente e violenta expropriação da base fundiária, esse
proletariado livre como pássaros não podia ser absorvido pela manufatura
nascente com a mesma velocidade com que foi posto no mundo. Por outro lado, os
que foram bruscamente arrancados de seu modo costumeiro de vida não conseguiram
enquadrar-se de maneira igualmente súbita na disciplina da nova condição. Eles
se converteram em massas de esmoleiros, assaltantes, vagabundos, em parte por
predisposição e, na maioria dos casos, por força das circunstâncias. Daí ter
surgido em toda Europa ocidental, no final do século XV e durante o século XVI,
uma legislação sanguinária contra a vagabundagem. Os ancestrais da atual classe
trabalhadora foram imediatamente punidos pela transformação, que lhes foi
imposta, em vagabundos e </span><i style="text-indent: 0cm;">paupers</i><span style="text-indent: 0cm;">. A
legislação os tratava como criminosos “voluntários” e supunha que dependia de
sua boa vontade seguir trabalhando nas antigas condições, que já não existiam.
Na Inglaterra, essa legislação começou sob Henrique VIII. Henrique VIII, 1530: “Esmoleiros
velhos e incapacitados para o trabalho recebem licença para mendigar. Em
contraposição, açoitamento e encarceramento para vagabundos válidos. Eles devem
ser amarrados atrás de um carro e açoitados até que o sangue corra de seu
corpo, em seguida devem prestar juramento de retornarem a sua terra natal ou ao
lugar onde moraram nos últimos três anos e ‘se porem em trabalho’. [...].
Aquele que for apanhado pela segunda vez por vagabundagem deverá novamente ser
açoitado e ter metade da orelha cortada; na terceira reincidência, porém, o
atingido, como criminoso grave e inimigo da comunidade, deverá ser executado”.
(MARX, 1985, p. 275).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Como aponta Marx e Engels n’<i>A ideologia alemã</i>, por conta dessa vagabundagem, na Inglaterra, as
execuções foram feitas em massa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
Com o começo das manufaturas deu-se, simultaneamente,
um período de vagabundagem, causado pela dissolução das vassalagens feudais,
pela dissolução dos exércitos que haviam sido formados e servido aos reis
contra os vassalos, pela agricultura melhorada e pela transformação de grandes
porções de terra cultiváveis em pastagens. Por aí já se mostrava como a
vassalagem encontra-se inteiramente ligada à dissolução da feudalidade. Já no
século XIII sucederam-se diferentes épocas desse tipo, muito embora a
vagabundagem só tenha se estabelecido de forma geral e permanente com o fim do
século XV e início do século XVI. Esses vagabundos tão numerosos que o rei
Henrique VIII da Inglaterra, entre outros, mandou enforcar 72 mil deles [...] (MARX;
ENGELS, 2007, p. 56).<span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Em sua fase final, o feudalismo passou por várias etapas
transitórias com rápidas transformações significativas, produzidas pelos
limites objetivos de expansão e manutenção daquele sistema. No seu auge, a
sociedade feudal produziu um comércio vigoroso entre núcleos urbanos, fortes
exércitos e Estados centralizados. Surge também uma classe de comerciantes que
sobreviverão e colherão os lucros de sua decadência, a classe burguesa. Com a crise do sistema feudal, criam-se as bases para os Estados absolutistas na Europa. De acordo com Perry Anderson em Linhagens do Estado Absolutista:</span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"></span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">A longa crise da
economia e da sociedade europeias durante os séculos XIV e XV marcou as
dificuldade e os limites do modo de produção feudal no fim do período medieval.
Qual foi o resultado <i>político</i> final
das convulsões continentais dessa época? O Estado absolutista emergiu no
Ocidente ao longo do século XVI. As monarquias centralizadas de França,
Inglaterra e Espanha representam uma ruptura decisiva com a soberania piramidal
e parcelada das formações sociais medievais, com seus sistemas de suseranias e propriedade.
(...). (Anderson, 2013, p. 15).<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No entanto, para o autor, os Estados absolutistas não representam uma superação completa em relação ao feudalismo. </span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">"Pois o fim da servidão não significou o
desaparecimento das relações feudais no campo". (Anderson, 2013. p. 17). </span></span><span style="font-size: large;">Pelo contrário, o absolutismo é uma resposta da nobreza feudal ao processo de desagregação do feudalismo ocidental. O domínio da nobreza sobre a massa rural continuava, no entanto, a nobreza concentra seu poder na figura monárquica. Dentro disso: "</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">(...) As monarquias absolutas introduziram
exércitos regulares, burocracias permanentes, impostos nacionais, leis
codificadas e os primórdios de um mercado unificado". (Anderson, 2013, p. 17). Em outro trecho do mesmo livro, Anderson aponta que:</span></span><br />
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Em qualquer sociedade
pré-industrial, os senhores que continuaram sendo proprietário de meios de
produção fundamentais eram, por certo, os nobres donos de terras. Por todo o
início da época moderna, a classe dominante – política e economicamente – foi,
portanto, a <i>mesma</i> da época medieval:
a aristocracia feudal. Essa nobreza passou por profundas metamorfoses nos
séculos que se seguiram ao encerramento da Idade Média: mas, do começo ao fim
da história do absolutismo, jamais se viu desalojada do comando do poder
político. (p. 18).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">OU seja, mesmo em meio ao turbilhão de mudanças, desagregação dos feudos e o fim das relações de vassalagem e servidão, a nobreza consegue se manter como classe dominante, mas sobre outra roupagem, por meio da centralização do poder político no Estado absolutista. Instituição social que concentrou o poder político, econômico e militar em favor da nobreza. Segundo Anderson: "</span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;">Em essência, o absolutismo era apenas isto: </span><i style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: x-large;">um aparato de dominação feudal reimplantado
e reforçado</i><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;">, concebido para reprimir as massas camponesas de volta a sua
posição social tradicional – a despeito e contra os benefícios que elas haviam
conquistado com a comutação generalizada de suas obrigações". (p. 18). Dessa forma, para o autor, "</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">com o desaparecimento gradual da servidão, o
poder de classe dos senhores feudais se viu sob risco direto" (p. 129), então, com a unificação da nobreza, o </span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;">Estado absolutista, enquanto aparato régio, foi</span><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif;"> "</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">uma nova carapaça
política de uma nobreza ameaçada. (...). (Anderson, 2013, p.19). </span></span><span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif;">Esse aparato régio da nobreza ameaçada possibilitou a </span></span><span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;">"repressão das massas camponesas e plebeias na
base da hierarquia social", e assim estendeu a dominação da nobreza. Segundo Anderson: </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;">"</span><span style="font-family: "times new roman" , serif;">O efeito derradeiro
desse rearranjo generalizado do poder social da nobreza foi a máquina estatal e
a ordem jurídica do absolutismo, cuja coordenação viria a incrementar a
eficácia doo jugo aristocrático, ao sujeitar o campesinato não servil a novas
formas de dependência e exploração. Os Estados régios do Renascimento foram,
primeiro e acima de tudo, instrumentos modernizados para a manutenção do
domínio nobre sobre as massas rurais". (2013, p. 21).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;">Beneficiária direta do Estado absolutista, a nobreza fazia frente as massas camponesas despossídas, mas também à burguesia mercantil que se desenvolvia nas cidades medievais. Esse duplo enfrentamento pela manutenção do poder, é denotado por Anderson:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">(...). Assim, quando os
Estados absolutistas se constituíram no Ocidente, sua estrutura foi
fundamentalmente determinada pelo reagrupamento feudal contra o campesinato,
após a dissolução da servidão; mas foi secundariamente <i>sobredeterminada</i> pela ascensão de uma burguesia urbana que, depois
de uma série de avanços técnicos e comerciais, agora se desenvolvia rumo às
manufaturas pré-industriais, em escala considerável. (p. 23).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Uma das formas de assegurar o predomínio de seus interesses no Estado absolutista era a compra de cargos no Estado:</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">Assim, no Ocidente, o
modo predominante de integração da nobreza feudal ao Estado absolutista tomou a
forma de aquisição de “cargos”. Aquele que comprava uma posição no aparato
público do Estado depois podia reaver a quantia por meio de privilégios e
corrupção (sistema de comissões), nem um tipo de caricatura monetizada da
investidura no feudo. (...). Esses detentores de cargos – que se proliferaram
na França, Itália, Grã-Bretanha e Holanda – podiam esperar por lucros de 300% a
400%, e talvez ainda mais, sobre o valor de compra. O sistema nasceu no século
XVI e se tornou um apoio financeiro central dos Estado absolutistas durante o
século XVII. (...). O crescimento da venda de cargos foi, é claro, um dos
subprodutos mais surpreendentes do aumento da monetarização nos primórdios das
economias modernas e da relativa ascensão da burguesia mercantil e
manufatureira nesse contexto. Assim, por esse mesmo motivo, a própria
integração dessa burguesia ao aparato estatal, por meio da aquisição privada e
da herança deposições e honras públicas, marcou sua assimilação subordinada a
uma organização política feudal em que a nobreza sempre constituiu, necessariamente,
o topo da hierarquia social. (...) (Anderson, 2013, p. 35-36).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Anderson destaca que, em termos econômicos, o mercantilismo foi a doutrina dos Estado absolutistas:</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">O mercantilismo era,
justamente uma teoria da intervenção coerente do Estado político no funcionamento
da economia, no interesse conjunto da prosperidade de uma e do poder do outro. (...).
As teorias mercantilistas da riqueza e da guerra estavam, de fato,
conceitualmente interligadas: o modelo de comércio mundial de soma zero que
inspirava o protecionismo econômico derivava do modelo de política
internacional de soma zero que era inerente a seu belicismo. (p. 39). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Em outro trecho o autor infere que: </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">O Estado absolutista centralizou cada vez mais
poder político e se empenhou em instituir sistemas jurídicos mais uniformes
(...). O Estado absolutista eliminou um grande número de barreiras internas ao
comércio e patrocinou tarifas externas contra competidores estrangeiros: as
medidas de Pombal no Portugal iluminista foram um exemplo drástico. (p. 42).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;">Em síntese, para Anderson, o Estado absolutista:</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 107%;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;">(...). Era um estado
fundado na supremacia social da aristocracia e confinado ao imperativos da
propriedade da terra. A nobreza pôde entregar o poder à monarquia e permitir o
enriquecimento da burguesia: as massas continuavam à sua mercê. Jamais ocorreu
uma derrogação “política” da classe nobre sob o Estado absolutista. Seguidas
vezes, seu caráter feudal acabou frustrando e falsificando as promessas ao
capital. (...).. Exército, burocracia, diplomacia e dinastia continuaram formando
um rígido complexo feudal a governar toda a máquina estatal e guiar seus
destinos. Na época da transição para o capitalismo, o domínio do Estado
absolutista pertencia à nobreza feudal. Seu fim viria assinalar a crise do
poder de sua classe: o advento das revoluções burguesas e a emergência do
Estado capitalista. (p. 44).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 6pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">O
FEUDALISMO NO ORIENTE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Perry Anderson aponta que o feudalismo no Oriente tem uma estruturação
muito distinta da ocidental. Enquanto no Ocidente o feudalismo se produziria a
partir da síntese do modo de produção escravo com o modo de produção comunal primitivo
em desintegração, no Oriente esta síntese não seria possível, uma vez que sua
formação não contou com o latifúndio escravo, não teve uma Antiguidade e nem
uma civilização urbana com a densidade grega e italiana. Assim, no Oriente a
formação do feudalismo assumiria outros contornos, onde não existiu aquela
síntese Ocidental.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "times new roman" , serif; line-height: 150%;"><br clear="all" style="break-before: page; page-break-before: always;" />
</span>
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">O
NOMADISMO DIFICULTA A CONSOLIDAÇÃO FEUDAL NO ORIENTE <o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No Oriente, o impacto das invasões nômades retardaram
sobremaneira o sedentarismo, a fixação no solo e a evolução interna das sociedade
agrícolas. O nomadismo manteve-se dominante (ANDERSON, 1994, p. 210). Era a criação
de rebanhos que constituía sua base produtiva e não a posse da terra e seu
cultivo. O maior valor da terra era fornecer pastagens.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Os nômades combinava a propriedade individual – posse de
animais –, com a apropriação coletiva das terras (pastos). Os rebanhos
pertenciam às famílias, as pastagens pertenciam aos clãs ou tribos (ANDERSON, 1994,
p. 212). Mesmo sem fixarem-se nas terras, entendiam-nas como sendo suas (Marx, <i>Formações econômicas pré-capitalistas</i>).
O que interessa aqui é a reprodução e a apropriação do rebanho e não o solo.
Por isso, o direito de se mover de terras em terras, de pastos em pastos, era mais
importante do que o direito de fixar-se na terra. Os clãs e tribos tomavam
decisões em assembleias e assim se organizavam e decidiam sobre a distribuição
das pastagens.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Criavam cavalos, o que por sua vez os equipavam
preparando-os para as guerras. Possuíam “a melhor cavalaria do mundo” (ANDERSON,
1994, p. 214). Desenvolveram os “arqueiros montados”, cavalaria da qual
provinha o seu grande poderio militar. Eram capazes de cobrir longas distâncias
em alta velocidade, mantinham-se coesos e organizados em um comando cerrado.
Por isso obtinham grande êxito em suas expedições, daí vem a projeção histórica
dos nomes de Átila e Gengis Kan. Mediante a organização e predomínio nômade, o
feudalismo sedentário só encontraria espaço no Oriente durante o século X.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A consolidação do feudalismo encontraria dificuldades
particulares nessas regiões, pois a Europa Oriental tinha uma população muito
menos densa em um território muito mais extenso. No século XIII contava com
treze milhões de habitantes, enquanto que na Europa Ocidental, no mesmo
período, em uma zona muito menor, concentravam-se 35 milhões de habitantes. Ou
seja, como completa o autor “o tipo de superpopulação que existia no Ocidente
por volta de 1300 era desconhecido no Oriente” (ANDERSON, 1994, p. 237).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Houve uma “lenta transição na lavoura arável regular” que
aumentava o excedente disponível, o que por sua vez criou uma “nobreza
guerreira, divorciada da produção econômica”. Criou-se assim um estamento
social superior fazendo surgir os príncipes e chefes guerreiros. Tal processo
foi acompanhado pelo surgimento de pequenas cidades no século IX e X na Rússia,
Polônia e Boêmia. Na Polônia eram “centros tribais fortificados, dominados por
castelos locais” (ANDERSON, 1994, p. 221). Assim, houve o fortalecimento de
aristocracias de clã e tribo, que deram lugar ao surgimento de príncipes e chefes.
Esses príncipes e chefes criavam as estruturas para seus próprios Estados
territoriais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Soma-se a esse processo um segundo elemento que contribuiria
diretamente para o estabelecimento de estruturas de Estado no Oriente: a Igreja
cristã. A Igreja coroou o processo de transição das comunidades tribais em
formas de governos territoriais. Ou seja, “a fundação de Estados geridos por príncipes
coincidiu com a adoção do cristianismo” (ANDERSON, 1994, p. 223). Isso porque o
processo de formação de Estados, marcado pela transição de clãs e tribos para
estruturas territoriais, incluía o abandono do paganismo tribal, bem como o
abandono dos princípios dos clãs na organização social, dando lugar ao “estabelecimento
de autoridade e hierarquia políticas centralizadas”. Dessa forma, a intervenção
católica e ortodoxa foi componente essencial na “formação do Estado na Europa
Ocidental”. A adoção do cristianismo pelos príncipes e a extensão da
cristianização oficial “era um ato inaugural do Estado” (ANDERSON, 1994, p. 223).
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Para dar corpo administrativo ao feudalismo, um grupo
compacto de guardas e guerreiros leais foi convertido em senhores feudais e
vassalos dos monarcas. O sistema feudal estável e integrado consolida-se no
século X, sendo necessário criar um campesinato servil fixado à terra e que
fornecesse o excedente de seu trabalho para uma hierarquia feudal (ANDERSON,
1994, p. 224).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">No feudalismo Oriental a situação dos camponeses era melhor
do que no Ocidente. Os camponeses e burgueses contavam com mais direitos
sociais. Nobres tornavam-se burgueses e burgueses tornavam-se senhores feudais.
De acordo com Anderson, “os príncipes eram obrigados a oferecer isenções de
taxas, direitos comunais e mobilidade pessoal aos camponeses, para induzi-los a
instalarem-se nas terras recentemente desbravadas” (ANDERSON, 1994, p. 235). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p><b style="text-indent: 0cm;"><span style="font-size: large;">CRISE
DO FEUDALISMO ORIENTAL</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Assim como seu surgimento e consolidação, também a crise do
sistema feudal começou mais tarde no leste europeu. Constituindo-se tardiamente
em relação àquele feudalismo, a estrutura feudal no Oriente era mais recente e
frágil do que a do seu predecessor ocidental. Este fator determinou que o
impacto da crise fosse maior sobre essas recentes e frágeis estruturas. A
resistência à crise foi mais fraca. O ápice da força do feudalismo no leste
europeu, na Polônia e na Boêmia, seu apogeu político e cultural, se deram no
século XIV. Um século mais tarde do que no feudalismo ocidental. Seu auge coincide
com o início do declínio do apogeu feudal ocidental.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O aprofundamento da crise do feudalismo no Ocidente aos
poucos penetraria no vizinho feudalismo oriental durante o século XIV, pois
eram sistemas interligados. A crise estende-se e migra ao longo dos anos para o
leste europeu, ganhando cada vez maiores dimensões, até criar uma crise geral
do sistema feudal. Com o avanço da crise no Ocidente, com a deterioração dos seus
laços feudais, também na Europa Oriental o impulso à colonização de novos
territórios e expansão da produção começou a declinar. Com isso, “no início do
século XIV, já havia sinais inquietantes de aldeias abandonadas em Brandenburgo
e na Pomerânia”. Os camponeses abandonavam as áreas de fronteiras ocidentais e
migravam para o leste. De acordo com Anderson, no “início do século XV havia
uma depressão sincronizada nos dois lados da Europa” (ANDERSON, 1994, p. 238). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O abandono de campos colocava em crise todo o processo de
colonização e estabelecimento dos feudos. O fato de ter-se muita terra
disponível levava o camponês à conclusão de que “ela podia ser explorada com
brevidade e depois deixada para trás” (ANDERSON, 1994, p. 238). Os solos eram
mais arenosos e se exauriam com maior rapidez, eram mais difíceis de se
explorar, o que por sua vez contribuía para a dificuldade de fixação
populacional. As técnicas produtivas eram precárias, as queimadas predominavam
em Moscou até o fim do feudalismo. Só depois de 1480 foi introduzido o sistema
de três campos que permitia a rotatividade da terra e recuperação dos solos. Os
arados de ferro só foram introduzidos no século XX.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">A queda dos preços dos cereais no Ocidente, com queda da
demanda, também influenciou na queda dos preços no Oriente que começava a
exportar modestamente parte de sua produção para a Europa Ocidental. Anderson
acrescenta ainda que a precária técnica de mineração afetara os estoques de
metais e a cunhagem de dinheiro. Houve queda no rendimento dos senhores. Essa
crise somou-se às epidemias de pestes, escassez e guerras, houve “onze
explosões maiores de pestes na Prússia entre 1340 a 1490. Entre 1350 e 1450 a Rússia
foi vinte vezes assolada pela peste” (ANDERSON, 1994, p. 239). Seguiram-se más
colheitas na Prússia entre 1437 e 1439, essas foram as piores do século.
Seguiu-se no Leste uma série de conflitos militares. “Os otomanos aniquilaram
Sérvia e Bulgária no final do século XIV [...] Mais de 150 campanhas foram empreendidas
através da Rússia contra mongóis, lituanos, alemães, suecos e búlgaros” (ANDERSON,
1994, p. 239). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">As guerras causavam mortes com maciço despovoamento. </span><span style="font-size: large;">Os
camponeses fugiam para as cidades. Os proprietários prussianos, em 1494,
conseguiram direito de enforcar camponeses fugitivos sem julgamento. Em 1497
Ivan III aboliu o direito dos camponeses de saírem das propriedades por vontade
própria. As fugas para as cidades continuavam mesmo com as medidas mais
repressivas. Magnatas das cidades ignoravam as leis pois estavam ávidos para
atrair mão-de-obra para as cidades (ANDERSON, 1994, p. 248). O início da
dissolução do feudalismo no Oriente deu-se nos primeiros anos do século XV,
cerca de 100 anos depois do início da crise no Ocidente. No Oriente tudo
iniciou-se depois, tanto o feudalismo como o surgimento da burguesia. No
entanto não passou exatamente pelas mesmas fases pelas quais passou o Ocidente.
Houve um complexo desenvolvimento desigual e combinado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">BIBLIOGRAFIA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">ANDERSON, Perry. <i>Passagens da antiguidade ao feudalismo</i>. São
Paulo: Editora Brasiliense, 1994.</span><br />
<span style="font-size: large;">______. </span><span style="font-size: large; text-align: justify; text-indent: 0cm;"><i>Linhagens do Estado Absolutista. </i>Editora Unesp. 2013.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">BLOCH, March. <i>A sociedade feudal</i>. Coimbra: Edições 70,
2012. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">MARX, Karl. <i>O capital</i>. vol. II. São Paulo: Nova
Cultural, 1985.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">MARX, Karl;
ENGELS, Friederich. <i>Manifesto Comunista</i>.
São Paulo: Boitempo, 2004.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">___________. <i>A ideologia alemã</i>. São Paulo: Boitempo,
2007.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">MAZZEO, A. C. <i>O vôo de minerva – a construção da política,
do igualitarismo e da democracia no Ocidente antigo</i>. São Paulo: Boitempo,
2009.</span></div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-89347851943023784762015-09-12T13:42:00.001-07:002019-11-09T06:02:18.856-08:00QUEDA DO MURO DE BERLIM - 1989<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<i>Anotações de estudo - primeiro semestre de 2010</i></div>
</div>
<div style="text-align: right;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQF5pRRFyqXTH_sYHhY6JIU4Ana_yhojG7A2wAwydG_0NHGCvJqdmKNhTJu-wGf1wAZdPbPj3DRbvL9TUnDSWNbnRuc-04F_Ze8a0Xpoz5L80ONgmtfzn-qZHiEiaVkxoUBOHaL_iuAwWJ/s1600/Derrubada+do+Muro+de+Berlim.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQF5pRRFyqXTH_sYHhY6JIU4Ana_yhojG7A2wAwydG_0NHGCvJqdmKNhTJu-wGf1wAZdPbPj3DRbvL9TUnDSWNbnRuc-04F_Ze8a0Xpoz5L80ONgmtfzn-qZHiEiaVkxoUBOHaL_iuAwWJ/s320/Derrubada+do+Muro+de+Berlim.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<b><span style="font-size: 15pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span>
<b style="font-size: x-large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;"><br /></b>
<b style="font-size: x-large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;"><br /></b>
<b style="font-size: x-large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;"><br /></b>
<b style="font-size: x-large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">Crise do stalinismo e as restaurações
capitalistas</b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os Partidos Comunistas, sob orientação
do Partido da União Soviética, nos diferentes países do globo, ao invés de
lutar acatar as demandas revolucionárias dos trabalhadores, passam a defender a
linha prognosticada pela cúpula stalinista, repetindo em progressão geométrica
os fracassos da Alemanha em 1923, na China, Espanha, novamente a Alemanha em
1953, na Hungria em 1956 (aqui com apoio explicito e ativo de Georg Lukács)<a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref11"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn11" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[11]</span></a>, na Tchecoslováquia em 1968; no Chile em
1973 (cordões industriais); e na Polônia em 1980 – 1982. Sobre a generalização
do modelo soviético estalinista Edmundo Fernandes Dias no artigo <i>O
possível e o necessário: as estratégias das esquerdas</i><a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref12"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn12" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[12]</span></a>analisa
que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O modelo “soviético” generalizou esse conjunto de
equívocos e os transformou em palavra de ordem internacional. O stalinismo
apagava não apenas suas oposições internas (ver em especial a trotskista) mas
toda e qualquer oposição em qualquer lugar onde existisse um partido comunista.
E, perversamente, ao negar a questão da socialização das forças produtivas e a
conseqüente questão da democracia dos trabalhadores, o stalinismo atuava como o
braço esquerdo do revisionismo social-democrata.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> Sobre a estratégia stalinista, de
aliança com frações da burguesia em detrimento do proletariado, em outra
passagem do mesmo artigo Edmundo Fernandes afirma:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Em nome de um acúmulo de forças, necessário,
buscavam em outra classe (a burguesia nacional progressista) a direção real e
inconteste do processo de “libertação” das forças produtivas. (...) Ou seja,
afirmavam que essa transição poderia ser encaminhada nas formas vigentes do
capitalismo tornando-se, assim, prisioneiras umbilicalmente daquele, atrelando
a ele as classes trabalhadoras e decapitando suas possibilidades reais de
libertação. Impediam, pois, a constituição da identidade destas classes,
limitavam seus projetos, ajudavam a perpetuar aquele que em teoria, era seu
“inimigo”. Suas ações eram, portanto, pautadas, agendadas, pelo inimigo de
classe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"> Assim, de forma violenta e traumática, foi imposta uma série de
retrocessos ao que Lenin, Trotsky e os revolucionários russos haviam construído
até 1923, como argumenta Michael Löwy no recente artigo <i>Por um novo
internacionalismo</i><a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref13"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn13" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[13]</span></a>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">[o] formidável movimento de fé e de ação
internacionalistas — sem precedente na história do socialismo — o incrível
capital de energia e de engajamento internacionalistas que representava a
Internacional Comunista, tudo isso foi destruído pelo stalinismo. Este último
canalizou essa energia em benefício do nacionalismo burocrático, de sua
política de Estado e de sua estratégia de poder. O internacionalismo foi posto
a serviço da política externa soviética e o movimento comunista mundial
transformado em instrumento da construção do “socialismo em um só país”. A
política feita pelo Komintern em relação ao nazismo alemão, desde o final dos
anos 20 até sua dissolução em 1943, fornece o exemplo mais chocante: seus
estranhos ziguezagues tinham pouca relação com os interesses vitais dos
trabalhadores e dos povos europeus, mas estavam exclusivamente determinados
pelas mudanças que intervinham na política soviética (stalinista) de alianças
diplomáticas e militares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> A atuação do partido comunista no
Brasil não foi muito distinta. É conhecida a defesa incondicional que o PCB
preconizara sobre o caráter feudal brasileiro e a necessidade da revolução por
etapas por meio da aliança com uma suposta burguesia nacional. Teses totalmente
estranhas as formulações de Marx, Engels, Lenin e Trotsky, mas convergentes com
as formulações de Stalin e seus consortes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>MESMO COM AS AMARRAS IMPOSTAS PELOS PCS
A RESISTÊNCIA REVOLUCIONÁRIA CONTINUA</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Também é necessário considerar que o
stalinismo, mesmo com sua inserção mundial, não conseguiu homogeneizar as
respostas do proletariado, este não se calou frente ao stalinismo, os
trabalhadores continuaram a se organizar, lutaram contra as burocracias
stalinistas pactuadas com as burguesias e o patronato mundo a fora, conforme
nos referimos em relação a Berlim em 1953, Hungria e Polônia 1956; Polônia e
Tchecoslováquia 1968; Primavera de Praga, maio de 68 na França; o “outono
quente” italiano, a etapa revolucionária aberta na Argentina depois do
Cordobazo; Assembléia Popular boliviana, a revolução portuguesa, a derrota
norte-americana no Vietnã, o ascenso espanhol com a morte de Franco as
revoluções sandinistas e iraniana e a Polônia 1980.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Deste período de ascenso, a revolução
polonesa foi a última oportunidade para que o proletariado revertesse a dinâmica
de derrotas e desvios sofridos nos distintos processos revolucionários. Mas foi
derrotada. O imperialismo não sofrendo derrotas decisivas nessa etapa recria as
condições para retomar sua ofensiva na década de 1980 pela via
“reaganiano-thatcheriana”. É claro que entre os elementos que levaram estes
processos a definharem está a política de conciliação do PCUS (burocrática e
nacionalista).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Ora, a defensiva stalinista insiste,
pelo menos desde a revolução alemã em 1923, na argumentação de que não se tinha
condições objetivas para fazer avançar as lutas proletárias pelo mundo, e que a
alternativa era a aliança com setores da “burguesia progressista”, ao invés de
trabalhar pela autoorganização do operariado, como fazia a oposição de
esquerda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: large;">POR QUE RESTAURAÇÃO CAPITALISTA?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: large; text-indent: 42.55pt;">Os países capitalistas nunca desistiam
de forçar a abertura da URSS e dos demais Estados operários, pois tratava-se de
um vasto mercado para valorização de capitais, o que criaria um impulso para
sair da crise mundial da década de 1970. As potencias internacionais desde 1917
pressionavam a Rússia à abertura dos mercados e restituição da propriedade
privada. Já em estagnação econômica na década de 1960, no inicio da década de
1970 a URSS entrou em profunda crise, como afirma o próprio Mikhail Gorbachov
em seu livro </span><i style="font-size: x-large; text-indent: 42.55pt;">Perestroika</i><span style="font-size: large; text-indent: 42.55pt;">, esta crise continuou aprofundando-se na
década de 1980. O livro de Gorbachov é importante para compreender o processo
de restauração, uma vez que seria ele um dos principais articuladores do
processo de restauração capitalista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: large;">Além da pressão externa, feita pelas
potencias imperialistas, havia também grande pressão interna ao partido pela
restauração. Isso porque, segundo Cerdeira, sem a restauração capitalista, sem
consolidar relações de propriedade privada, a burocracia stalinista não poderia
transformar-se em burguesia. Para se ter ideia dos benefícios da
não-propriedade para o proletariado, num relatório do Banco Mundial, <i>Do
plano ao mercado. Informe sobre o Desenvolvimento Mundial</i>, Washington,
1996, (apud Cerdeira), afirma-se que “No final da era soviética as famílias
dedicavam à moradia (aluguel e serviços) apenas 2,4% de seus salários — menos
do que gastavam em bebidas alcoólicas e cigarros”. O mesmo relatório afirma que
“Durante a transição aumentou o número de mortes na Rússia. Entre 1990 e 1994,
a esperança de vida se reduziu de 64 para 58 anos entre os homens e de 74 para
71 anos entre as mulheres”. (p.141).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: large;">Desta forma, segundo o autor, buscando
atender as necessidades da burocracia que queria se transformar em classe social
burguesa, o próprio governo do país passou a adotar políticas restauracionista.
É nesse contexto que Mikhail Gorbachov, no inicio da década de 1980 idealizou e
implementou a <i>perestroika</i>. Segundo Cerdeira, entre as medidas mais
importantes adotada por Gorbachov estava o fim do monopólio do comercio
exterior, e o fim da planificação da economia. Em junho de 1987, foi aprovada
a <i>Lei das empresas do Estado </i>que eliminava as subvenções
estatais, por meio desta ficou estabelecido que cada empresa poderia desenvolver
seu próprios planos anuais ou quinquenais, tanto com a união soviética como com
o exterior! Em seguida o Ministério do Comércio Exterior foi dissolvido...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-size: large;">Em novembro de 1986, aprovou-se a <i>Lei
sobre as atividades individuais</i>, e depois, em maio de 1988, a <i>Lei
sobre cooperativas</i>. De acordo com Cerdeira, por meio desta medida avançaram
as privatizações, abrindo amplo campo para restauração da propriedade privada.
Também em 1988 o Estado autoriza a constituição de bancos privados, “por meio
de uma lei que autorizou a criação de bancos cooperativos, foi um elemento
fundamental para a formação dos grandes grupos capitalistas monopólicos da
Rússia, consolidando o processo de restauração capitalista”. Além disso,
empresários e banqueiros passaram a compor o governo. É o caso de Wladimir
Potanin, ex-presidente do maior banco privado da Rússia, o Oneximbank, Potanin
tinha sido nomeado primeiro vice-ministro da Economia, e também Kremlin Boris
Berezovski, segundo Cerdeira, este não era apenas dono de um banco, mas também
de negócios de venda de automóveis e de emissoras de televisão. De acordo com o
autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Ambos os empresários integram, junto com outros
cinco, um grupo que se reúne semanalmente e influi decisivamente nas altas
esferas governamentais. Fazem parte deste grupo Piotr Aven, do Banco Alfa;
Vladimir Gussinnski, chefe do grupo Most, que atua na área bancária e de
comunicação; Mikhail Khodorkovski, presidente do grupo Menatep, com negócios no
setor petrolífero e financeiro; e Alexander Smolenski, do Banco Stolichni.
Segundo Berezovski, <i>este grupo de
empresários, controla 50% da economia russa</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> Cerdeira, em outra passagem, de forma
concisa, afirma “O que também se torna evidente nesta análise é que para
implantar o capitalismo a burocracia soviética e o imperialismo
necessitaram <i>destruir a planificação econômica, abolir o monopólio do
comércio exterior e finalmente (e isto foi qualitativo), permitir de novo o
livre e irrestrito direito à propriedade privada para recriar uma burguesia
destruída há quase 80 anos</i>. O autor destaca ainda que com as privatizações
e abertura de mercados houve a “destruição do parque industrial da União
Soviética, o decréscimo do seu Produto Interno Bruto e a conseqüente queda do
nível de vida das massas”. Nesse sentido, a queda de nível de vida da maioria
da população seria “produto direto da competição no mercado mundial e da
submissão dos novos países capitalistas aos mais poderosos países imperialistas
do mundo”. O definhamento político e econômico avançou até que a URSS se desfizesse
no ar. Importante notar que com a queda do Estado operário degenerado da URSS o
stalinismo não foi preservado: a burocracia não pôde colocar-se como “vítima” e
sim, ao contrário, destacou-se como abertamente pró-capitalista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>MARX CONTRA O STALINISMO</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Certamente é possível analisar a
experiência soviética à luz do das reflexões de Karl Marx, assimilando o
contudo do texto “<i>Glosas criticas marginais</i>...”, podemos dizer que o que
aconteceu com a tomada do poder pelas massas proletárias na figura do Partido
Bolchevique em outubro de 1917 foi um processo de <i>emancipação política </i>extremamente
radical, uma vez que se aboliu ali a propriedade privada, baniu a burguesia,
estabeleceu-se a nacionalização e a planificação central da economia. Porém,
com o isolamento da revolução, e a consolidação de uma casta autoritária e
centralista no poder político-social impediu-se a onto-negação da política, de
forma mais clara, não se realizou a superação da política como mediação humana,
o isolamento da revolução e o desenvolvimento da burocracia impediu a
dissolução da política. A partir de 1923 estas variantes, o isolamento e a
burocracia, mesmo alternando-se em centralidade solidificaram-se em freio
contra-revolucionário. Assim, a emancipação política radical conquista pelas
massas operárias de 1917-1923 ficou impedida de avançar em direção da <i>emancipação
humana</i>. Esta obstrução da marcha do processo revolucionário de massas
impediu que a classe operária desse um salto na direção de sua autoemancipação
e na construção do socialismo, como uma sociedade baseada na autoorganização
das capacidades humanas como forcas próprias, como controle coletivo livre,
autoconsciente e universal dos trabalhadores sobre o processo de produção e
assim da organização social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para a classe operária colocava-se de
forma urgente dois caminhos candentes, ou suplantava os obstáculos à sua
autoemancipação, extirpando a casta contra-revolucionária e avançava no
processo de emancipação humana, ou veria a própria <i>emancipação política</i> radical
conquistada com lágrimas e sangue recuar até “desmanchar-se no ar como tudo que
é sólido”. No final do século XX, com as restaurações capitalistas,
constatamos que foi o segundo processo que prevaleceu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">Por todos os elementos postos, fica
patente que a análise sobre a restauração capitalista ocorrida mundo a fora
necessita precisa lidar com aspectos contraditórios. Esta sugestão é certamente
aplicável a restauração capitalista na Alemanha. Não cabe ao campo marxista
defender a restauração da propriedade privada como aconteceu com a restauração,
uma vez que a luta contra a propriedade privada é luta histórica do
proletariado mundial. Também não cabe ao campo marxista reivindicar a
restauração/criação de burguesias, como ocorreu nos processos pós-restauração
capitalista. Nesse sentido a restauração pode ser considerada como retrocesso
histórico. Mas, mais estranho ainda ao campo marxista seria defender o
stalinismo, uma forma social baseada no amordaçamento e aniquilação do
proletariado e no pacto com extratos burgueses. Então os marxistas
revolucionários reivindicam a dissolução da propriedade privada, com a extinção
das burguesias, ao mesmo tempo em que combatem os stalinistas e suas
estratégias de conciliação e sufocamento do movimento da classe dos
trabalhadores. Então vejamos o quanto esta reflexão útil para pensar o ano de
1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b><span lang="PT">1989: A LUTA CONTRA A BUROCRACIA STALINISTA</span></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">O fim da segunda
guerra mundial estabelece uma nova ordem internacional, as duas potencias,
E.U.A e URSS “dividem o mundo” por ordem de influência. A Alemanha será um
destes países divididos. Em 13 de Agosto de 1961, por ondem da república
Democrática Alemã (RDA) deu-se inicio a construção de um muro de concreto e aço
de 166 quilômetros de extensão, quatro metros de altura e um metro e meio de
largura para dividir o país em a </span>República Democrática Alemã (Alemanha Oriental) e a República Federal da
Alemanha (Alemanha Ocidental). A divisão gerou uma série de conflitos,
enfrentamentos, prisões e mortes durante todo o período da guerra “fria”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">O muro existiu até 1989. Neste ano
aconteceram no “Leste europeu” uma série de mobilizações populares que varreram
os governos stalinistas, o que constituiu uma série de vitorias sociais. Porém
este processo não é tão simples de ser analisado, pois tais mobilizações, sem
um programa para longo prazo, sem direção para além do imediato, extirpou o
stalinismo, mas criou um vácuo social que foi ocupado pela burguesia, assim,
com restauração capitalista veio também a restauração da propriedade privada e
das burguesias e o restabelecimento do mundo “unipolar”. Sobre a nova politica
dos E.U.A pós-desagregação da URSS.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Mesmo
com a Alemanha dividida, desde 2 de maio de 1989 já era possível passar de um
lado para outro do muro via Hungria, onde soldados húngaros sob ordem do
governo tinham começado a derrubar as fronteiras com a Áustria. Importante
ressaltar que os acontecimento na Alemanha não deram-se de forma isolada,
também na Hungria, em 10 de Junho, o Partido Comunista, buscando sanar pressões
sociais, dá uma saída pela direita, mas assina com a oposição do governo um
acordo que marcou a transição da Hungria para o multipartidarismo. Em agosto de
1989 o clima esquenta ainda no Leste europeu, no dia 21 eclodem manifestações
na Checoslováquia, milhares de manifestantes vão para as ruas do
país no vigésimo aniversário da invasão a Checoslováquia por tropas
do Pacto de Varsóvia.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Segundo
Sagra (2009), em setembro de 1989 15.000 alemães orientais chegaram à Alemanha
Federal via Hungria. Mesmo perdendo sua função de barreira, o muro ainda era um
fantasma concreto que aterrorizava os alemães, era chamados por muitos de “muro
da vergonha”. Em outubro de 1989 desencadeia-se uma manifestação em Leipzig,
situada na Alemanha do Leste, decorre dai um série de outras manifestações
populares no país. O governo, sobre a presidência de Erich Honecker, em 18 de
Outubro, manda reprimir os manifestantes. A ação presidencial causa um
escândalo, Honecker perde sua base de sustentação com isso perde também o
cargo, este é substituído por Egon Krenz, o antigo chefe de segurança. O
governo sob liderança de Krenz continuam tentando dissuadir os manifestantes,
mas a mobilização popular continua crescente. Cinco dia depois, 23 de outubro
de 1989 mais de 200.000 mil manifestantes vão para as ruas. Em 6 de novembro
são mais de 500 mil manifestantes nas ruas. Desta forma a situação torna-se
insustentável, o mundo todo volta os olhos para Berlin. A URSS, bem como outros
países sob sua influencia já estava em crise a décadas. Diante de tal quadro em
7 de Novembro, todo o conselho de ministros, o organismo que regia o destino da
RDA, renuncia, a re-unificação é um fato, no dia 9 é feito o pronunciamento
oficial.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Vimos
pela televisão<a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref16"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn16" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[16]</span></a>,
em 9 de novembro de 1989, o anuncio oficial que a partir da meia-noite, os
alemães do Leste poderiam cruzar qualquer uma das fronteiras da República
Democrática Alemã (RDA), incluindo o Muro de Berlim, sem necessidade de contar
com permissões especiais. O momento era histórico, pela televisão vimos que
muito antes da meia-noite, milhares de berlinenses tinham-se aglomerado tanto
do lado Ocidental quanto do lado Oriental do muro. Os minutos passavam
lentamente, as pessoas não conseguiam conter-se e esperar a longinquá
meia-noite, começaram a se pendurar e pular o muro. Familiares e amigos a muito
separados se encontravam e abraçavam-se emocionados, muitos com lágrima nos
olhos. Os ânimos foram se intensificando, começou então um ataque, num primeiro
momento ainda tímido ao muro, até que eram centenas. O muro era simbolo de
muitos sacrifícios, as pessoas chutavam o muro, batiam nele com qualquer objeto
que tivesse às mãos, assim víamos milhares de jovens derrubando o muro a
golpes. Para aqueles milhares de manifestantes tratava-se de por abaixo o muro.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="PT"><span style="font-size: large;">No
mesmo mês na Checoslováquia uma assembleia de estudantes marchou sobre a <i>praça
Wenceslas</i>manifestando seu descontentamento com o governo. A reação do
governo Checo foi semelhante a de Honecker em outubro, repressão. A resposta da
população Checa também foi semelhante a dos alemães. Milhares de Checos vão
para a praça.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 18pt;"><span style="font-size: large;">Em dezembro de
1989 foi a vez da Romênia, uma onda de protestos contra o governo agita o país.
A resposta do governo romeno foi a mesma do governo alemão e do checo, mandou
reprimir os manifestante. Porém aqui acontece algo distinto, o exército
recusa-se a reprimir os manifestantes. Então o governo aciona suas Tropas
Especiais que acabam por desencadear uma violenta e sangrenta repressão a 21 de
dezembro, muitos manifestantes são mortos. Com isso intensifica-se ainda
mais a crise no país. Cresce a mobilização popular, desencadeia-se
um movimento de massas radicalizado contra o governo, parte do exército,
certamente muitos dos que se recusaram a reprimir os manifestantes, apoiam as
mobilizações. Durante dois dias os enfrentamentos entre as massas e as forças
pro-governo generalizam-se pelo país. No dia 23 de Dezembro, o presidente e sua
esposa são presos, acusados de abuso de autoridade e do assassinato de 60.000
romenos. Dois dias depois foram executados. É formado um governo provisório.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="line-height: 18pt;"><span style="font-size: large;">Entendemos que
entre 1989 e 1991, abriu-se um curto período pré-revolucionário em nível
mundial. Que não pode ser confundido com um período revolucionário. Durante
este período pré-revolucionário as massas dos Estados Operários
deformados e degenerados se levantaram contra as conseqüências das políticas
“fundomonetaristas” aplicadas pelas burocracias governantes. Porém a ausência
de um partido revolucionário, ou de direções operárias revolucionárias, ou
inclusive de organismos embrionários de tipo soviético permitiram que desde o
início a direção desses movimentos, denominados no período como “revoluções de
veludo” recaísse em movimentos “democráticos” pequeno burgueses que lhes
imprimiram sua marca e permitiram o ascenso de governos abertamente
restauracionistas.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>A DERRUBADA DO MURO SIGNIFICOU UMA
VITORIA PARA O PROLETARIADO MUNDIAL?</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Foi certamente positiva a extirpação do
autoritarismo e da castração ideológica levada a cabo pelos partidos
stalinistas. Porém a restauração da propriedade privada e da democracia
burguesa, que é fundada sobre a desigualdade material é certamente um
retrocesso a luta do proletariado alemão. A demanda por maiores liberdades
políticas, pela emancipação humana, e pelo fim das desigualdades são demandas
históricas do proletariado. A restauração da propriedade privada e a democracia
burguesa, bem como as privatizações são demandas da burguesia, do patronato e
dos ricos e não do proletariado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A derrubada do muro trouxe no bojo a
restauração capitalista, com a restauração da propriedade privada e implantação
do neoliberalismo e considerável aprofundamento da subsunção da classe operária
aos imperativos capitalista. Interessante notar que na esteira da mobilizações
populares, também na a restauração capitalista foi coordenada pelos governos
stalinista, como soviético e Alemão. Uma parte dos dirigentes dos “partidos
comunistas” que acumularam privilégios, a denominada burocracia stalinista,
estava ansiosa para converter-se em burguesia. Assim em 1989 as direções
stalinistas fazem seu pacto final com a burguesia mundial, e assim dissolvem as
ultimas conquistas do movimento operário (como o fim da propriedade privada e a
extinção da burguesia) no lamaçal da ordem burguesa. Embora não se
restrinja a questão econômica, uma analise fina sobre a economia dos países
onde ocorreram as restaurações certamente revelaria aspectos importantes sobre
os principais beneficiados pela restauração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">É necessário estar atento ao
significado que se busca atribuir a 1989. O que os defensores do capitalismo
argumentam é que o socialismo não deu certo e que o capitalismo vai bem.
Corriqueiramente falam de “fracasso do socialismo”, “fracasso do marxismo” etc.
Ora, como já colocamos inicialmente, o que vigorava no “Leste europeu” estava
muito distante do socialismo e do marxismo. A confusão entre stalinismo e
socialismo não é gratuita, aos defensores do capitalismo interessa colocar o
capitalismo como forma única de pensar e organizar a sociedade. Para estes a
humanidade já teria atingido o alto de seu desenvolvimento e agora trata-se de
acertá-lo aos poucos. Já para os marxistas revolucionários, o capitalismo é
incorrigível, para que uns poucos acumulem riquezas e bem estar, multidões de
seres humanos necessitam acumular misérias e viver de formas precárias e ainda
castrados em potencialidades humanas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Ajuda compreender a intencionalidade
dos governos capitalista pensar quem impulsionou suas comemorações e no teor
ideológico que lhe foi empregado. No dia 9 de novembro de 2009 os representantes
de governos das principais potencias do globo, entre eles estava a Chanceler da
Alemanha Angela Merkel do Partido União Democrático-cristã, o presidente da
França Nicolas Sarkozy do partido União por um Movimento Popular - UMP - (o
mesmo de Jacques Chirac). Também participou das comemorações<span lang="PT"> o </span>Primeiro Ministro inglês Gordon
Brown do Partido Trabalhista (<i>Labour Party</i>) e a Secretária de Estado dos
E.U.A. Hillary Clinton, junto com outros convidados como o presidente russo
Dimitri Medvedev, o último presidente soviético Mikhail Gorbachev e populista
Lech Walesa. Este grupo foi s protagonista do que chamaram de “Festival da
Liberdade”, em que os das principais potências capitalistas tomaram a dianteira
para celebrar o 20º aniversário da derrubada do muro de Berlim. Seus discursos
estavam permeados de referências a esse acontecimento com a “abertura de uma
nova época” de “liberdade e democracia”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">As celebres personas ao falar de “uma
nova época” de liberdade e democracia não tocaram esqueceram de considerar os
estudos divulgados pela Organização da Nações Unidas, o estudo realizado pelo
Conselho Econômico e Social da ONU (<i>The Inequality Predicament</i>),
demonstrou que mais de 50% (cinqüenta por cento) da renda mundial está
concentrado nas mãos de apenas 10% (dez por cento) da humanidade .
Esqueceram também de considerar o relatório divulgado em Washington, 10
outubro de 2007, o estudo feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)
revelou que nas ultimas década, mesmo frente ao enorme crescimento econômico mundial,
a desigualdade de renda na maioria dos países do globo aumentou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O desempenho insatisfatório do
capitalismo não se restringe a economia. O mundo avançou pouco (ou quase nada)
neste aspecto. Mesmo as liberdades políticas. Além do mais lembremos que os
mesmos líderes mundiais que celebram a derrubada do muro de Berlim, apóiam as
invasões militares e ocupações em outros países. Intervém na política e na
economia de países subdesenvolvidos. Levantam diariamente novos muros e
constroem campos de concentração contra os imigrantes dos países semicoloniais,
a centenas de milhões que o capitalismo impõe condições precárias de
sobrevivência para o beneficio de uma pequena parcela mundial. Ao mesmo tempo
estes governantes, representantes da grande burguesia mundial, ‘dão
sustentação’ à construção do muro com o qual o Estado de Israel fecha em guetos
ao povo palestino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"> Mesmo no que diz respeito a nova
era de “liberdade e democracia” aberta em 1989, devemos lembrar que com a
derrubada do muro, e o fortalecimento do neoliberalismo, institucionalizou-se a
flexibilização dos direitos trabalhista, além disso desencadeou-se uma série de
contra-reformas no sistema educacional ataques e de saúde em vários países da
Europa. Nas universidades abriu-se uma nova temporada de “caça as bruxas”, na
defesa intransigente do “pensamento único” desencadearam-se campanhas de
ofensiva ideológica e política contra o marxismo e os marxistas. Neste contexto
veio também a absurda formulação de F. Fukuyama de fim da história. Para
qualquer um que reivindique o marxismo a conjuntura tornou-se desfavorável e
até mesmo opressiva. Frente a tal conjuntura parte importante da esquerda
mundial caiu na desmoralização. Setores que até então compunham a <i>intelligentsia</i> marxista
abriram mão do marxismo, ou então encastelaram-se nas universidades por meio de
uma <i>marxismo estéril</i>, descomprometido com a intervenção e
transformação radical da realidade social, nos termos colocados por
Marx, Engels, Lenin e Trotsky. Muitos dos que se reivindicavam de esquerda
foram para o centro e muitos que se diziam de centro migraram para a direita,
passando a defender as coisas como estão e combatendo movimentos populares
reivindicatório. Mas, a homogeneidade de pensamento e política não conseguiu se
impor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Na luta de classes, desde 1995 com a
greve francesa de novembro-dezembro como marco, temos observado tendências
regenerativas no movimento operário e de massas, com a tendência às lutas mais
radicalizadas como na América Latina e na Palestina e o surgimento, nas potências
imperialistas, da juventude anticapitalista que se expressou em Seattle e
Praga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Num primeiro momento (1995-1997)
vivemos um período de dois anos que denominamos como “contra-ofensiva de massa
em numerosos países”, com várias greves gerais e ações políticas de massas
tanto na Europa ocidental como na América Latina e na Coréia do Sul, ações que
foram muito massivas mas pouco radicalizadas. Nos extremos, em uma vanguarda
ampla, isto também se expressou no fortalecimento (fundamentalmente no terreno
eleitoral) de variantes à esquerda da terceira via como o peso eleitoral de LO
e da LCR na França, Refundação Comunista na Itália, o Bloco de Esquerda em
Portugal, o Partido da Esquerda na Suécia ou o SWP na Grã-Bretanha. Na América
Latina, devido às características próprias do ascenso na região, junto com o
surgimento de alternativas de substituição aos governos neoliberais (como a
Aliança na Argentina), o que se fortaleceu à sua esquerda foram
fundamentalmente as direções camponesas (MST brasileiro, EZLN mexicano, ASP de
Evo Morales na Bolívia). Além disso, uma minoria espalhada pelo mundo continuou
nos marcos do marxismo revolucionário, reivindicando-o como única filosofia que
pode conduzir a emancipação humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>20 ANOS DA DERRUBADA DO MURO DE BERLIM:
O QUE FAZER?</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Hoje a economia mundial atravessa sua
pior crise desde a Grande Depressão de 1929, gerada na principal potencia
econômica capitalista, os Estados Unidos. Esta crise está novamente desnudando
o caráter do capitalismo fundado sobre crises e guerras, um sistema de
exploração e opressão, contrariando por fato os discursos ideológicos de seus
apologistas. É claro que não estamos dizendo que as crises econômicas levam às
revoluções, ou que o capitalismo cairá por si só conduzindo a humanidade a patamares
superiores de sociabilidade, é preciso ter clareza que o sistema capitalista
não teria sido sustentado até hoje se não pudesse construir equilíbrios,
rompe-los, reconstruí-los e rompe-los outra vez, ampliando, ao mesmo tempo, os
limites de seu domínio. O equilíbrio do capitalismo é dinâmico, está sempre em
processo de ruptura ou restauração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os Estado-nacionais burgueses
empreendem intensa atividade para manutenção do sócio-metabolismo do capital.
Basta observar como os governos intervieram nesta crise para salvar da quebra,
com dinheiro público, a elite financeira e aos grandes monopólios, que seguem
fazendo seus grandes negócios a custo de aumentar consideravelmente a dívida
estatal, enquanto milhões de pessoas são empurradas ao desemprego e à pobreza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Por tudo o que foi posto, é patente
pensar formas de superar a ordem social posta, sem repetir erros do passado. Já
argumentamos que o que se estabeleceu na URSS e na Alemanha não era socialismo,
como também não era marxismo. A confusão entre tais processos tende a ocultar
as possibilidades de superação da barbárie capitalista que estão contidas nas
formulações de Marx, Engels, Lenin e Trotsky.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A 20 anos da derrubada do muro de
Berlim, a crise econômica, as guerras, as convulsões sociais, depois de longas três
décadas de retrocesso e ofensiva burguesa, a classe operária está recriando as
condições para que a perspectiva da revolução social volte a ser colocada na
luta dos explorados, superando os anos de reação ideológica e política que
seguiram à restauração capitalista. Os processos decorridos na URSS não foram o
fracasso da filosofia da práxis, nem do socialismo, bem porque o que imperava
ali não era socialismo, e também stalinismo é antimarxismo, basta considerar,
além da utopia-reacionária do socialismo num só pais, sua prática histórica
bloqueando e/ou estrangulando os desenvolvimentos revolucionários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A tragédia que foi o stalinismo, tanto
na URSS como pelo mundo afora está diametralmente oposta à emancipação humana e
ao materialismo histórico dialético. Aquela experiência deve ser estudada,
criticada e superada, em busca de construir socialmente novas possibilidades
estratégicas. Estamos dizendo que a compreensão destas experiências humanas
deve ser utilizada na elaboração um programa, que abranja não só os Estados
operários burocratizados, mas a sociedade capitalista como totalidade, em suas
múltiplas determinações contraditórias. É claro que para nós este programa deve
articular emancipação política e emancipação humana. Possibilitando liberar e
canalizar as energias humanas para uma profunda mudança de sistema social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">De um extremo a outro coloca-se como
tarefa a expropriação da burguesia, tanto da nova burguesia surgida no Estados
operários burocratizados, como da “velha burguesia” emergida com a revolução
burguesa. Para os marxistas revolucionários, trata-se ainda de construir a
revolução mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Neste sentido, coloca-se como premente
a reconstrução da forma partidária da classe trabalhadora. Num partido
internacionalista, que comprometido com a transformação social radical, com a
revolução internacional proletária, faça das experiências de opressão a que os
trabalhadores de todos os países do globo estão subalternizados e a terrível
penúria da esmagadora maioria das massas. Por isso a experiências dos
trabalhadores compõe matéria prima para a superação de tudo que existe. A
experiência histórica nos mostrou que uma revolução é impossível sem a
participação das massas em grande escala, e que estas massas, para serem
vitoriosas devem estar munida de uma estratégia e um programa. É certo que as
insurreições proletárias não dependem do partido para eclodirem, porém é
inegável o salto qualitativo das insurreições quando o proletariado passou a se
organizar em partidos revolucionários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A sua posição na estruturação social dá
ao proletariado o poder de suspender à vontade, parcial ou totalmente, o
próprio funcionamento da economia da sociedade, é indispensável a luta
conduzida em comum contra a exploração, pois a luta comum, por meio da
experiência compartilhada, cria importantes momentos de solidariedade e de
sacrifício, por greves parciais ou pela greve geral, esta por sua vez, em uma
série de momentos históricos, avançou de greve geral para insurreição armada, e
de insurreição armada para revoluções e de revolução para a ditadura do
proletariado. O partido do proletariado, o partido revolucionário, deve
tencionar-se à liberação e canalização das energias humanas para a superação do
sóciometabolismo do capital.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Não cabe para nós a afirmação
abnegadora de que a classe trabalhadora não tem consciência de classe. Na
sociedade capitalista todo ser humano esta esquadrinhado por relações de classe
social (possuidor de meios de produção e despossuídos de meios de produção).
Bem como todo ser humano tem percepções das relações de dominação. Ter
consciência de classe não significa ter consciência de classe revolucionária
(consciência de classe contingente). O mais importante é que o partido
revolucionário, atento as alterações produzidas por causas históricas profundas,
não pode se adaptar passivamente a todas as mudanças no estado de ânimo das
massas, cedendo as frações mais incertas do proletariado. Nesse sentido, a
função central do Partido Revolucionário é a de revolucionar a consciência da
classe operária. Transformando a consciência de classe contingente em
consciência de classe necessária. Ajustando-a as tarefas do presente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Pois o melhor momento para construir um
partido proletário revolucionário é certamente o momento em que o proletariado
encontra-se subalternizado. Não se pode esperar pela “conjuntura
revolucionária” para dar inicio a esta tarefa árdua, é necessário começar já a
forjar hoje a vanguarda revolucionária que será o <i>coveiro coletivo</i> da
burguesia manhã. Os revolucionários necessitam articular-se em um partido
revolucionário, o exército conscientemente das necessidades históricas do
proletariado deve ser mais forte do que o exército contra-revolucionário do
capital, intensificando suas ações defendendo as tentativas de autoorganização
operária, pautando o programa histórico do proletariado. Apenas a ditadura do
proletariado contra as classes dominantes é que pode realizar a reforma
agrária, como apenas sobre o controle operário da produção se elimina a
desigualdade sócio-material. Apenas o proletariado pode levar a cabo a
dissolução das classes sociais, abolição da propriedade privada e dissolução do
Estado, para assim, novamente como dissera o poeta Maiakovski, ‘desatar o
futuro, pois este não virá por si só’.</span><o:p></o:p><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
<b>REFERÊNCIAS</b></div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
ARCARY, V. Lênin ou Kornilov, ou porque a democracia liberal não foi uma alternativa histórica na Revolução Russa de 1917. Disponível no site http://www2.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/lr3/lr3-4-valerio.pdf. Visitado em 18/01/2010.</div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
______. Kautsky e as origens históricas do centrismo na esquerda. In: Revista outubro, nº7. Disponível no site: http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/07/out7_07.pdf. Visitado em 18/01/2010.</div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
BIANCH, A. História da Revolução Russa: Trotsky como historiador. http://www.pstu.org.br/cont/%7B49DDF776-10C1-45B9-81D4-A756CF8F8B92%7D_Hist%C3%B3ria%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa%20-%20Trotsky%20como%20historiador.pdf. Visitado em 18/01/2010.</div>
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
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<span style="font-size: large;"></span><br />
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
______. 1905:Balanços e perspectivas. Editora Penguim Books. 1971.</div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-4974523320442614532015-09-09T09:43:00.004-07:002021-10-11T10:09:20.372-07:00O movimento operário russo e suas revoluções: a estratégia de 1905 e 1917<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div align="right" class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-align: right; text-indent: 0cm;">
<b style="text-indent: 0cm;"><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Alessandro de Moura</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-align: center; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Resumo</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><br />
Apresentamos
um breve ensaio sobre a organização do movimento operário russo no período
1905-1917. Em 1905 as mobilizações dos operários russos, lutando por melhores
condições de vida e trabalho, avançaram para a formação dos Sovietes (conselhos
operários). Na revolução de 1917 os sovietes ressurgiram com mais força,
estabelecendo duplo poder na Rússia, dualidade esta que se estende até 25 de
outubro de 1917, data que marca o inicio da implantação do governo soviético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Palavras chave: História da Revolução Russa. Revolução de 1905. Revolução de 1917. Marxismo.
Socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin-top: 6pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">INTRODUÇÃO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"> A Rússia do final do
século XIX já possuía um grande contingente populacional, sendo que "seu
primeiro senso data de 1897 - conta com 129 milhões de habitantes. Em 1914 são
mais de 160 milhões". (BROUÉ, 2005, p. 9). Era um país eminentemente
rural, mas portador de um importante setor industrial, que concentra cerca de
um milhão e meio de operários em 1900 saltando para três milhões em 1912.
(IDEM, p. 13). A concentração populacional nas cidades aumentava
constantemente, o censo de 1897 apontava que a população das cidades somava
16.289.000 pessoas, aproximadamente 13% da população total da Rússia (Trotsky, 1971).
Ainda, conforme complementa o historiador Victor Serge (1993): "este
proletariado de oficinas e de fábricas, concentrado em alguns grandes centros,
forma uma massa de 1.691.000 de homens (1904)". (SERGE, 1993, p. 40). O tzarismo
convive com a indústria moderna. De acordo com Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Criada recentemente,
a indústria russa se desenvolve vigorosamente em condições muito peculiares. As
fontes de mão de obra são ilimitadas, mas a mão de obra qualificada é rara e
não há aristocracia operária privilegiada. A técnica dessa indústria de um país
agrícola é, na maioria das vezes atrasada: é fácil fazer bons negócio. Em
contrapartida, sua concentração atinge, sob influência do capital estrangeiro
um grau ainda mais elevado que a
indústria alemã. Este capitalismo, de estrutura moderna, é entravado por
instituições retardatárias de mais de um século em relação a ele. (SERGE, 1993,
p. 40).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A industrialização do país foi fomentada com grande ajuda do Estado em
aliança com o capital financeiro internacional, o que Lênin chamou de “via
prussiana de desenvolvimento do capitalismo”. Desta forma, o período do
"boom" industrial russo (1893-1902) foi também um período de
imigração acelerada do capital europeu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Enquanto o proletariado concentrava-se em contingentes enormes nas
cidades, a burguesia era numericamente e politicamente fraca, isolada do povo,
semi-estrangeira, sem tradições históricas, e inspirada pela possibilidade de
lucro certo e rápido. A classe operária vivia sob regimes despóticos na
produção, com baixíssimos salários, muitas horas de trabalho e autoritarismo
patronal. Embora a indústria estivesse em expansão, tal processo decorria sem
melhora significativa das condições de vida e trabalho da população
trabalhadora. Conforme apontou Serge, a classe operária não podia contar com: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Nenhuma legislação trabalhista, nenhum sindicato; nenhum direito de
associação, de reunião, de greve ou de palavra. Os operários, em suma <i>não têm direito algum</i>. A jornada de trabalho
varia entre 10 a 14 horas. (SERGE, 1993, p. 40). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin-top: 6pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">1905: A PRIMEIRA REVOLUÇÃO RUSSA</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"> Em 1905, o proletariado
urbano deflagrou a primeira revolução russa. Esta foi um produto direto das
condições sócio-materiais e políticas geradas durante o período da guerra
russo-japonesa que se iniciou em 1904. A guerra levou milhares de soldados ao <i>front </i>para não os trazer de volta,
somaram-se 1,5 milhões de mortos e feridos. (TROTSKY, 2007a). A escassez de
alimentos elevou os preços e expandiu a penúria no país. A degradação das
condições de vida gerava descontentamento com o governo e a guerra. A
combinação destes fatores fragilizou o tzarismo preparando o terreno para a
revolução de 1905.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Em 9 de janeiro de 1905 os trabalhadores russos, decidem entregar uma
petição ao tzar, reivindicando melhores condições de vida e trabalho. A
principal liderança era o padre Gueórgui Gapone, que, de acordo com
Deutscher, havia criado "sua própria organização trabalhista para combater
o socialismo clandestino". (DEUTSCHER, 2005). Conforme Serge (1993):
"Gapone é uma figura singular. Parece ter acreditado sinceramente na
possibilidade de conciliar verdadeiros interesses dos operários e as boas
intenções das autoridades". (SERGE, p. 41). A passeata dirige-se ao
Palácio de Inverno, morada do Tzar. Segundo o autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) A petição dos
operários de Petersburgo a Nicolau II, redigida por Gapone e aprovada por
dezenas de milhares de proletários, foi ao mesmo tempo uma dolorosa suplica e
uma reivindicação audaciosa. O que, exatamente, ele pedia? Jornada de 8 horas,
reconhecimento dos direitos dos operários, uma constituição (responsabilidade
dos ministros perante a nação, separação entre a igreja e o Estado, liberdades
democráticas). (SERGE, 1993, p. 41).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Assim, "De todos os pontos da capital, os peticionários, carregando
ícones e cantando hinos religiosos, puseram-se em marcha sobre a neve, numa
manhã de janeiro para ir até o "paizinho tzar" (Idem). Porém, ao
invés da audiência com o imperador, "O tzar recusou-se a receber os
manifestantes e mandou que os soldados que montavam guarda no Palácio disparasse
contra a multidão. Isso provocou a explosão revolucionária". (DEUTSCHER,
2005, p. 148). De acordo com Victor Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Em todas as esquinas
havia emboscadas. A tropa os metralhou, os cossacos descarregaram as armas.
"Tratem-nos como insurretos", havia dito o imperador. A fuzilaria foi
particularmente intensa sob as janelas do Palácio de Inverno. Centenas de
mortos, centenas de feridos, este foi o balanço da jornada. Esta repressão
absurda e criminosa, dá inicio a primeira revolução russa. Este foi também -
com 12 anos de antecedência - o suicídio da autocracia. (SERGE, p. 41).</span><span style="font-family: "georgia" , serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Este dia ficou marcado na história da Rússia como o “Domingo Sangrento”.
As conseqüências de tal ataque seriam mais profundas do que o tzar poderia
calcular. Lênin, em seu <i>Relatório sobre a revolução de 1905</i> registrou os
acontecimentos do “Domingo Sangrento:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Milhares de
operários, não social-democratas, mas crentes, súbditos fiéis do czar,
conduzidos pelo padre <a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/" target="_blank"><span style="color: black; text-decoration: none;">Gapone</span></a>, encaminharam-se de todos os pontos da cidade para o
centro da capital, em direção à praça do Palácio de Inverno, para entregar uma
petição ao czar. (...). A tropa foi alertada. Ulanos e cossacos descarregam
sobre a multidão com armas brancas; disparam contra os operários desarmados que
ajoelhados suplicam aos cossacos que lhes permitam aproximar-se do czar.
Segundo os relatórios da polícia, houve nesse dia mais de um milhar de mortos e
mais de dois mil feridos. A indignação dos operários foi indescritível. (LENIN,
2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"> De acordo com Lênin, as
reivindicações dos trabalhadores no 9 de janeiro eram: “anistia, liberdades
cívicas, salário normal, entrega progressiva da terra ao povo, convocação de
uma Assembléia Constituinte eleita por sufrágio universal e igual”. (IDEM).
Os trabalhadores russos reivindicavam o que a classe trabalhadora de outros
países já haviam conquistado há anos. Em um trecho da petição levada ao tzar,
os operários suplicam para que intervenha nas relações capital-trabalho contra
o despotismo patronal:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Nós, operários,
habitantes de Petersburgo, dirigimo-nos a Ti. Somos escravos miseráveis,
humilhados; somos subjugados pelo despotismo e o arbítrio. Com a paciência
esgotada, cessamos o trabalho e pedimos aos nossos patrões que nos dessem pelo
menos aquilo sem o qual a vida não passa de uma tortura. Mas isso foi-nos
recusado; dizem os industriais que não está conforme com a lei. Somos milhares
e, tal como todo o povo russo, estamos privados de todos os direitos humanos.
Os Teus funcionários reduziram-nos à escravatura. (Apud LENIN, 2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A petição é concluída com um apelo ultimo ao tzar:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Senhor! Não recuses
ajudar o Teu povo! Derruba a muralha que Te separa do Teu povo! Ordena que seja
dada satisfação aos nossos pedidos, ordena-o publicamente e tornarás a Rússia
feliz; se não, estamos prontos a morrer aqui mesmo. Só temos dois caminhos: a
liberdade e a felicidade ou o túmulo. (Idem).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Segundo a perspectiva de Lênin, os trabalhadores, por meio de um ato de
“retidão de gente despertada pela primeira vez para a consciência política”,
acreditavam que o tzar poderia se contrapor ao patronato e a burguesia nascente
da Rússia em favor do povo. Segundo o autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Os operários pouco
conscientes da Rússia de antes da revolução não sabiam que o czar era o chefe
da classe dominante, mais precisamente a dos grandes proprietários fundiários,
já associados à grande burguesia por milhares de laços e prontos a defenderem
pela violência, por todos os meios, o seu monopólio, os seus privilégios e os
seus lucros. (LENIN, 2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Por isso, quando os trabalhadores se contrapunham à burguesia industrial
e aos grandes proprietários fundiários, contrapunham-se imediatamente aos
interesses do tzar, que por sua vez transformou um ato pacífico dos
trabalhadores em um banho de sangue. Para Lênin, o operariado tirou lições
importantes daquela experiência, pois o evento explicitou as relações entre o
absolutismo, proprietários fundiários e a nascente burguesia. Neste processo, o
operariado toma ciência de sua força coletiva. Como respostas aos fuzilamentos,
uma onda potente de greves explodiu a partir de janeiro, milhares vão às ruas,
dão-se novos confrontos. Lênin escreveu, no 10 de janeiro de 1905, um texto
intitulado “<i>A Revolução na Rússia</i>” onde apontou que com o “Domingo
sangrento” abriam-se novas expectativas para o jovem proletariado da velha
Rússia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">A insurreição
estalou. A força responde à força. Combate-se nas ruas, levantam-se barricadas,
os tiros crepitam, os canhões troam. Por todo o lado, rios de sangue; a guerra
civil pela liberdade teve início. Moscou, o Sul, o Cáucaso e a Polônia estão
prontos para se juntarem ao proletariado de Petersburgo. A palavra-de-ordem dos
operários passou a ser: a morte ou a liberdade! Muitas coisas ficarão decididas
hoje e amanhã. A situação evolui de hora a hora. O telégrafo traz notícias
exaltantes e as palavras parecem incapazes de dar conta da intensidade dos
acontecimentos vividos. Cada um deve estar pronto a cumprir o seu dever de
revolucionário e de social-democrata. Viva a revolução! Viva o proletariado
insurrecto! (LÊNIN, <i>A Revolução na Rússia,</i> 10/01/1905).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Três dias depois, em 12 de janeiro de 1905, Lênin publica o texto <i>O
começo da revolução russa</i>, onde denúncia a brutalidade com que as tropas
atacaram os operários e suas famílias, segundo o autor a “tropa venceu os
operários, as mulheres e as crianças desarmados. A tropa venceu o inimigo,
metralhando os operários que jaziam por terra”. (<i>O começo da revolução russa</i>,
12/01/1905). Porém, mesmo com centenas de trabalhadores tombando por força das
metralhadoras, os operários não recuaram, para a maior preocupação do tzar e
das classes dominantes, verifica-se a disseminação do vigor
insurrecional entre o proletariado fabril, que cada vez ganha mais apoio
popular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Erguem-se os
operários de Kólpino. O proletariado arma-se e arma o povo. Os operários
apoderam-se, segundo se diz, do depósito de armas de Sestroretsk. Os operários
munem-se de revólveres, forjam armas das suas próprias ferramentas, conseguem
bombas para a desesperada luta pela liberdade. A greve geral estende-se às
províncias. Em Moscou, 10.000 pessoas já abandonaram o trabalho. Está marcada
para amanhã (quinta-feira 13 de Janeiro) a greve geral em Moscou. Rebentou uma
revolta em Riga. Manifestam-se os operários de Lodz, prepara-se a insurreição
de Varsóvia e realizam-se manifestações do proletariado em Helsingfors. Em Baku,
Odessa, Kiev, Kharkov, Kovno e Vilno cresce a efervescência entre os operários
e amplia-se a greve. Em Sebastopol ardem os depósitos e o arsenal do
departamento da marinha, e a tropa nega-se a abrir fogo contra os marinheiros
sublevados. Greve em Revel e em Sarátov. Choque armado entre a tropa e os
operários e reservistas em Radom. (Idem).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O desgaste do governo frente aos operários e o povo russo é crescente.
De acordo com Lênin, até mesmo Gapone, depois do Domingo sangrento, chegou à conclusão
de que “Já não temos tzar. Um rio de sangue separa o tzar do povo.
Viva a luta pela liberdade!”. Lênin destacou como o ânimo do proletariado
transformara-se de forma crescente de 9 de janeiro em diante:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;"> (...) em poucos
meses, as coisas mudaram completamente. As centenas de social-democratas
revolucionários passaram “subitamente” a milhares, e estes milhares tornaram-se
chefes de dois a três milhões de proletários. A luta proletária suscitou uma
grande efervescência, até mesmo em parte um movimento revolucionário, no fundo
da massa de cinquenta a cem milhões de camponeses; o movimento camponês teve
repercussão no exército e deu origem a revoltas militares, a choques armados entre
as tropas. Assim um imenso país com 130 milhões de habitantes entrou na
revolução; assim a Rússia adormecida se tornou a Rússia do proletariado
revolucionário e do povo revolucionário (...). (LENIN, 2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A greve política de massas, em janeiro de 1905, atingiu a cifra de
440.000 grevistas (Lênin, 2007). Trotsky, com dados oficiais do governo russo,
afirmou que até o final do ano chegou-se a mais de 1.800.000 grevistas
(TROTSKI, 2007a). Lênin destacou que: "A greve de massa foi o seu agente
mais poderoso. A originalidade da revolução russa está em que foi
democrático-burguesa pelo seu conteúdo social, mas proletária pelos seus meios
de luta". (2007). Segundo o autor, embora fosse uma revolução dirigida
pelo proletariado, com "greve política de massas" e poder operário:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Foi uma revolução
democrática burguesa porque o fim a que aspirava no imediato e que podia
alcançar no imediato, pelas suas próprias forças, era a república democrática,
a jornada de oito horas, a confiscação das imensas propriedades fundiárias da
alta nobreza, tudo medidas realizadas quase inteiramente pela revolução
burguesa em França em 1792 e 1793. Mas a revolução russa foi em simultâneo uma
revolução proletária, não só porque o proletariado era então a força dirigente,
a vanguarda do movimento, mas também porque o instrumento de luta específico do
proletariado, a greve, constituiu a alavanca principal para pôr em movimento as
massas e o fato mais característico da vaga crescente dos acontecimentos
decisivos. (LENIN, 2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin-bottom: 6pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">São Petersburgo, Riga e Varsóvia, são as cidades com número
incomparavelmente mais elevado de grevistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O OPERARIADO RUSSO CRIA OS SOVIETS</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Em meio à onda grevista de 1905, nos bairros operários eram constantes
as reuniões e assembléias. No mês de julho viveu-se a revolta dos marinheiros
do <i>Encouraçado Potemkin</i>. Em outubro, segundo
Deutscher: "Com o desenvolver da greve nasceu uma instituição criada na
essência da Revolução Russa: o primeiro conselho ou soviete dos Representantes
dos Trabalhadores". (DEUTSCHER, 2005, p. 166). O soviete nasceu como um organismo
de auto-organização para coordenar as lutas em curso, sendo que o núcleo do
soviete: "foi constituído pelos grevistas de cinqüenta oficinas
tipográficas que elegeram delegados e lhes deram instruções para formar um
conselho. A eles juntaram-se logo delegados de outras indústrias".
(DEUTSCHER, 2005, p. 166). Esses representantes operários orientaram os demais
trabalhadores para que enviassem delegados para apresentar suas reivindicações
na primeira assembleia do soviete que seria realizada em 13 de outubro de 1905.
De acordo com Broué:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Desde o ponto de
vista dos historiadores, o fato capital da história da revolução russa é, sem
dúvida alguma, o surgimento dos sovietes, graças aos quais triunfaram, em 1917,
tanto a revolução proletária como o partido bolchevique. (BROUÉ, 2005, p. 80).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Por meio dos sovietes, o proletariado afirmou-se como um sujeito
político coletivo. Trotsky, que em 1905 foi presidente do Soviete de São
Petersburgo (que a partir de 1914 passa a se chamar Petrogrado), no livro <i>Balanço
e perspectivas </i>(1971), considerou
que os sovietes “eleitos pelas massas e responsáveis perante elas, são
incontestáveis instituições democráticas, fazendo a mais resoluta política de
classe no espírito do socialismo revolucionário”. (TROTSKY, 1971). Os trabalhadores
e trabalhadoras criavam órgãos importantes de contra-poder e assim
estabeleceram bases orgânicas para uma força revolucionária ativa e
progressiva, isto colocava o proletariado como vanguarda objetivamente autônoma
em combate aos limites político-sociais impostos pelo tzarismo e a burguesia.
Em <i>A revolução de 1905</i>, Trotsky analisou que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Depois do 9 de
Janeiro a revolução demonstrou que controlava a consciência das massas
trabalhadoras. A 14 de julho, por meio da insurreição a bordo do <i>Potemkin
Tavritcheski, </i>a revolução demonstrou que podia tornar-se uma força
material. Mediante a greve de outubro demonstrou que podia desorganizar o
inimigo, paralisar sua vontade e reduzi-lo à mais completa humilhação. Por
último, organizando sovietes de trabalhadores em todo o país, a revolução
demonstrou que era capaz de criar órgãos de poder. O poder revolucionário só
pode se apoiar numa força revolucionária ativa. Quaisquer que sejam os pontos
de vista quanto ao desenvolvimento posterior da revolução russa, o fato é que
nenhuma classe social, salvo o proletariado, mostrou-se até hoje capaz e
disposta a apoiar o poder revolucionário. (TROTSKY, 1975).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Os sovietes afloram nos bairros proletários, sendo que o soviete mais
importante foi o de São Petersburgo, cidade com grande concentração operária, mas
sua influência direta e indireta estendia-se ainda sobre outras frações
importantes do proletariado, como operários da construção, garis, trabalhadores
não-profissionalizados, cocheiros etc. Também frações da classe média e da
intelectualidade tornaram-se simpáticos aos sovietes. No dia 13 de outubro de
1905 foi realizada a primeira Assembléia Constituinte do Soviete de São Petersburgo.
Conforme se lê em <i>A revolução de 1905:</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">À primeira reunião
assistiram umas poucas dúzias de pessoas; na segunda metade de novembro o
número de deputados se havia elevado a 562, incluindo seis mulheres. Essas
pessoas representavam 147 fábricas e usinas, 34 oficinas e 16 sindicatos. O
núcleo principal de deputados - 351 pessoas - pertencia aos trabalhadores
metalúrgicos, que desempenharam um papel decisivo no Soviete. Havia 57
deputados da indústria têxtil, 32 das indústrias de artes gráficas e de papel,
12 dos atendentes do comércio e 7 dos escritórios e do comércio farmacêutico. O
comitê executivo agia como ministério do Soviete. Formou-se a 17 de outubro e
estava composto por 31 pessoas: 22 deputados e 9 representantes de partidos (6
das duas facções social-democratas e 3 dos socialistas revolucionários). (TROTSKY,
1975).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Durante 50 dias (de 13 de outubro a 6 de dezembro de 1905) os sovietes
controlam bairros inteiros. Trotsky analisando o significado dos sovietes
considera que “era verdadeiramente um governo dos trabalhadores em embrião”. Isso
porque: “O Soviete organizou as massas trabalhadoras, dirigiu as greves e
manifestações políticas, armou os trabalhadores e protegeu a população contra
os pogroms”. (Idem, 1975). Assim, esse organismo de auto-organização:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) Na luta pelo
poder aplicou métodos naturalmente determinados pela natureza do proletariado
como classe: seu papel na produção, seu amplo número, sua homogeneidade social.
Mais ainda, o Soviete coordenou sua luta pelo poder como cabeça de todas as
forças revolucionárias, dirigindo a atividade de classe espontânea das massas
trabalhadoras de muitas maneiras diferentes; não só estimulou a organização de
sindicatos, como interveio em disputas entre trabalhadores individuais e seus
patrões. Precisamente porque o Soviete - o corpo democrático representativo do
proletariado num momento de revolução - se situou no ponto de encontro de todos
seus interesses de classe, imediatamente ficou sob a influência determinante do
partido social-democrata. (TROTSKY, 1975).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">As greves gerais políticas criaram fatos políticos importantes que
avançaram para além do local de trabalho. Envolvendo amplas massas na cidade o
proletariado auto-organiza-se em direção ao controle da produção social, buscam
controlar as fábricas, o local de trabalho, e os bairros, local de residência
dos trabalhadores, que em circunstancias comuns também é organizado pelas
classes dominantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Mediante a pressão da
greve o Soviete ganhou a liberdade de imprensa. Organizou patrulhas de rua
regulares para garantir a segurança dos cidadãos. Em maior ou menor medida
tomou em suas mãos os serviços postais e telegráficos e as estradas de ferro.
Interveio com autoridade em disputa de caráter econômico entre trabalhadores e
capitalistas. Realizou uma tentativa de introduzir a jornada de trabalho de
oito horas mediante uma pressão revolucionária direta. Ao paralisar a atividade
do Estado autocrático mediante a greve insurrecional, introduziu sua própria
ordem democrática livre na vida da população urbana trabalhadora. (TROTSKY, 1975).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Centrado na organização operária de base, os sovietes constituíam o primeiro
experimento democrático do proletário russo. Por meio das assembléias e
plenárias como a eleição direta de delegados revogáveis, praticava-se a
“democracia autêntica”. Segundo o autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Com o Soviete vemos
pela primeira vez o aparecimento do poder democrático na história russa
moderna. O Soviete é o poder organizado da própria massa sobre suas partes
separadas. Constitui a democracia autêntica, sem uma câmara alta e uma câmara
baixa, sem uma burocracia profissional, mas com o direito dos votantes de
trocar seus deputados a qualquer momento. Através de seus membros - deputados
eleitos diretamente pelos trabalhadores o Soviete exercita a liderança direta
de todas as manifestações sociais do proletariado como totalidade e de seus
grupos individuais, organiza suas ações e lhes proporciona um lema e uma
bandeira. (TROTSKY, 1975).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Mesmo a burguesia liberal se viu obrigada a apoiar os sovietes "Colaboraram
em greves e manifestações, adotaram uma atitude amistosa em relação aos
revolucionários, só os criticaram morna e cautamente”. (1975). Esse apoio dura
apenas até 17 de outubro. Após esta data, a burguesia busca unificar-se contra
os sovietes. O patronato criou a "União Anti-Revolucionária do 17 de
outubro". Porém a disposição dos Sovietes estava evoluindo em sentido
contrário aos desejos da burguesia. O proletariado confiscou armas e
suprimentos para sustentar os sovietes, e assim assegurar a manutenção das
posições já conquistadas, de acordo com Trotsky, <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Nas estações de
Moscou vimos os operários tomar armas que estavam sendo transportadas para
algum teatro de operações distante. Ações similares ocorreram em muitos
lugares. Na região do Kuban os cossacos insurgentes interceptaram um transporte
de rifles. Soldados revolucionários entregaram munições aos insurgentes, etc. (TROTSKY,
1975). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Por meio dos sovietes, o proletariado russo provou-se capaz de aglutinar
em torno de si, não apenas multidões de trabalhadores das cidades, mas também
camponeses e estudantes. Assim, o operariado russo se fez vanguarda sócio-política
na prática. De acordo com Broué:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Para todos os
social-democratas russos, a revolução de 1905 foi uma revolução burguesa quanto
a seus principais objetivos, a saber, a eleição de uma assembléia constituinte
e a instauração de liberdades democráticas. Porém, fica evidente que tal
revolução burguesa foi levada a cabo integralmente pela classe operária, com
seus instrumentos de classe, suas manifestações de rua e suas greves, sendo o
resultado da insurreição dos operários de Moscou. (...). (BROUÉ, 2005, p. 77).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Isso confirmava à Lênin força do proletariado do país: "Os melhores
elementos da classe operária marchavam à cabeça, arrastando os indecisos,
despertando os adormecidos e galvanizando os fracos". (LENIN, 2007). No
entanto, no dia 3 de dezembro de 1905 as tropas do governo cercaram uma reunião
do Soviete, que resistiu durante 9 longos dias. De acordo com Lênin,
em Moscou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) um pequeno
número de insurrectos, operários organizados e armados – não eram mais de oito
mil – resistiu durante nove dias ao governo do czar. Este não se podia fiar na
guarnição de Moscou; pelo contrário, teve de mantê-la fechada, e foi só com a
chegada do regimento Semionovski, chamado de Petersburgo, que pôde reprimir o
levantamento. (LENIN, 2007).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A partir disto, o governo avançou progressivamente na batalha para
destruição de todas as organizações revolucionárias criadas entre outubro e
novembro, até a derrota da revolução. Os revolucionários sobreviventes lotaram
a <i>Prisão de Pedro e Paulo</i>. De acordo com Serge (1993): "A
primeira revolução russa custou ao povo russo cerca de 15.000 mortos, mas de
18.000 feridos e 79.000 prisioneiros. (Idem, p. 46). De acordo com o autor
Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">A autocracia foi
salva, em 1905, pelas hesitações e pelo espírito reacionário da burguesia
liberal, as hesitações das classes médias revolucionárias, a inexperiência e a
falta de organização do proletariado (nem nem devotamento nem a solidariedade
puderam substituí-la), a fraqueza do partido proletário, o caráter elementar
dos movimentos no campo, a fidelidade relativa da tropa e a intervenção do
dinheiro francês. (SERGE, 1993, p. 46).</span><span style="font-family: "georgia" , serif;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A revolução de 1905 contribuiu para dissipar ilusões do proletariado com
o regime tzarista. Assim: "A derrota da primeira revolução russa estava
longe de ser completa. As massas operárias e camponesas tinham perdido o
respeito pela autocracia e prendido a se confrontar com a opressão". (Idem,
1993, p. 46). As experiências vividas, percebidas e compartilhadas pelo
proletariado russo possibilitou um cumulo político importantíssimo tanto para o
operariado como para o Partido Bolchevique. </span><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Mesmo depois da repressão tzarista, as greves políticas continuaram
eclodindo na Rússia, ainda que de forma decrescente, até 1910. Trotsky, no
livro <i>A história da Revolução Russa </i>(2007a), reuniu dados do governo russo sobre as greves, segundo
o autor, a repressão foi implacável e continua de 1905 a 1907. Com isso, o
número de greves políticas diminuiu vertiginosamente até 1910. A partir deste
ano inicia-se outro ciclo de massificação das greves políticas progressivo até
1914.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Trotsky considerava,
que a revolução de 1905 cumpriu papel essencial para o desenvolvimento da
classe operária russa e para todo o proletariado mundial. A nascente classe
operária russa, que fizera sua primeira experiência política independente
naquele ano ainda era muito fraca para tomar o poder, porém esta revolução
teria sido um ensaio geral para a revolução de 1917. Nas palavras do autor:
"O proletariado chegou ao poder em 1917 com a ajuda da experiência
adquirida pela geração de 1905". (TROTSKY, 1971). Lênin expressa opinião
similar em março de 1917, na primeira <i>Carta de longe:</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 106.35pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Sem os três anos de
formidáveis batalhas de classe e a energia revolucionária do proletariado
russo, em 1905-1907, seria impossível uma segunda revolução tão rápida, no
sentido de ter concluído a sua <i>etapa inicial</i> em poucos dias. A
primeira revolução (1905) resolveu profundamente o terreno, arrancou pela raiz
preconceitos seculares, despertou para a vida política e para a luta política
milhões de operários e dezenas de milhões de camponeses, revelou umas às
outras, e ao mundo inteiro, <i>todas as classes</i> (e todos os
partidos principais) da sociedade russa na sua verdadeira natureza, na
verdadeira correlação dos seus interesses, das suas forças, das suas formas de
ação, dos seus objetivos imediatos e futuros. A primeira revolução, e a época
contra-revolucionária que se lhe seguiu (1907-1914), revelaram toda a essência
da monarquia tzarista, levaram-na até o “último limite”, puseram a nu toda a
podridão e infâmia, todo o cinismo e corrupção da corja tzarista com esse
monstro, Raspútine, à frente, toda a brutalidade da família Románov (...).
(LENIN, Carta I, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin-top: 6pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">IMPACTOS DA REVOLUÇÃO DE 1905 SOBRE O POSDR</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR), que em 1905 contava
com cerca de 13.000 membros (SERGE, 1993, p. 46), era o partido dos marxistas
russos, frente à conjuntura e o desenvolvimento social do país diagnosticava a
inevitabilidade da insurgência de um processo revolucionário na Rússia
tzarista. </span><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Colocava-se ao Partido, em um marco estratégico, qual papel a revolução
deveria cumprir na Rússia, e ainda, em quais alianças de classe se deveria
apoiar a revolução democrático-burguesa. Três posições se chocavam dentro do
Partido: a da corrente Mencheviques, a dos bolcheviques e a de Trotsky. Lembremos,
conforme denotou Broué, que Trotsky, foi presidente do soviete de Petrogrado em
1905 e o único dirigente do POSDR que desempenhou papel importante na revolução
de 1905. (2005, p. 79).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Para os mencheviques a burguesia liberal é que deveria dirigir a
revolução, com apoio do proletariado e dos camponeses. Dever-se-ia lutar contra
o inimigo comum: o tzarismo e os elementos feudais. De acordo com Deutscher, os
mencheviques defendiam que, "como a revolução tinha caráter burguês,
dirigida contra o absolutismo e os restos do feudalismo, e não visando o
socialismo, a burguesia, e não o proletariado, era o herdeiro legitimo do
poder". (DEUTSCHER, 2005, p. 149). Nesse cenário, os mencheviques, por
fora do governo burguês, pressionariam para que realizasse as reformas
democráticas. (BROUÉ, 2005, p. 83: DEUTSCHER, 2005, p. 149). Então, para os
mencheviques, em 1905: "Os socialistas (...) não podiam participar de
nenhum governo burguês, nem mesmo no governo nascido de uma revolução. Sua
tarefa era defender, na oposição, os interesses da classe operária".
(DEUTSCHER, 2005, p. 149). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Com isto, se poderia criar condições mais favoráveis para a luta do
proletariado, nas palavras de Trotski em <i>As três concepções da
revolução </i>russa<a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref1"></a>, para os mencheviques o proletariado
deveria conquistar sua "liberdade política juntamente com a burguesia
liberal. Então, após muitas décadas, num alto nível de expansão capitalista,
entraria no rumo da revolução socialista em conflito direto com a burguesia".
(TROTSKY, 1980).</span><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A segunda concepção sobre a revolução era a dos bolcheviques, estes
recusavam firmemente admitir que a burguesia russa fosse capaz de levar a cabo
a sua própria revolução, ainda, defendiam que a burguesia russa era hostil a
expropriação da terra sob posse da aristocracia fundiária. Por isso, para os
bolcheviques, a tarefa central era lutar por um governo de trabalhadores e
camponeses que pudesse impor uma revolução democrática contra a monarquia e os
resquícios feudais. De acordo com Deutscher: "Lênin concordava que a
revolução era burguesa na medida em que não podia visar o socialismo. Não
acreditava, porém na missão revolucionária da burguesia". (DEUTSCHER,
2005, p. 149). Lênin destacava que a burguesia liberal, uma vez chegando ao
poder, não realizaria as demandas dos camponeses pobres e do proletariado
industrial. Segundo Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) Os bolcheviques
censuravam seus adversários por se colocarem a reboque das classes ricas; o
proletariado, diziam eles, deveria se colocar no comando da sublevação popular;
a revolução burguesa somente se completaria pela "ditadura democrática dos
operários e camponeses", cujas conquistas permitiriam ao proletariado
caminhar, em seguida, em direção ao socialismo. A idéia central de Lênin era
que não poderia mais haver uma revolução puramente burguesa, dada a existência
de um proletariado numeroso, poderoso e consciente. (...). (SERGE, 1993, p.
43).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Para Lênin, apenas uma ditadura democrática do proletariado e dos
camponeses possibilitaria quebrar a resistência dos nobres, da grande burguesia
e do tzarismo, minando com isto as forças contra-revolucionárias, e assim,
realizar transformações profundas na sociedade russa. De acordo com Trotsky: “À
idéia plekhanovista de união entre o proletariado e a burguesia liberal, Lênin
contrapunha a idéia de união entre o proletariado e o campesinato” (TROTSKY,
1980).</span><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Lênin destacava que os camponeses pobres, proletários do campo, constituíam
a maioria no país e viviam em condições paupérrimas, por isso eram aliados
estratégicos no processo revolucionário. (LENIN, 1980: 1980b). Nesta “fórmula
algébrica da revolução”, apontava que, sem dividir o poder com os camponeses, a
base proletária do processo revolucionário seria muito reduzida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A terceira concepção acerca da revolução era a de Leon Trotsky, embora
considerasse que “A concepção de Lênin representava um passo formidável para
frente, partindo, como o fazia, da transformação agrária e não das reformas
constitucionais, como tarefa central da Revolução, indicando a única combinação
realista de forças sociais capaz de levá-la a efeito”. (TROTSKY, 1980). Trotsky
insistia que a revolução deveria ser realizada com a direção do proletariado,
apoiado pelos camponeses. A ditadura deveria ser do proletariado, e não
operária-camponesa. O proletariado deveria tomar o poder e realizar as demandas
democráticas burguesas de forma permanente, transformando a revolução
democrática em revolução socialista. (TROTSKY, 1980). Nesse sentido, Deutscher
destacou que Trotsky:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) Concordava com
os bolcheviques em que a burguesia russa era incapaz de liderança
revolucionária e que a classe trabalhadora industrial era talhada para o papel.
Foi então mais longe ainda e argumentou que a classe trabalhadora seria
obrigada, pela sua supremacia política na revolução, a levar esse movimento da
fase burguesa para a socialista antes mesmo que a comoção social tivesse
começado no Ocidente. Seria esse um dos aspectos da "permanência" da
revolução - seria impossível confinar a comoção aos limites burgueses.
(DEUTSCHER, 2005, p. 195). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Por isso, para Trotsky, apenas o "proletariado podia dar aos
camponeses um programa, uma bandeira e uma direção". (TROTSKY, 2007a, p.
28). Problematizando a questão, argumentava que se deveria levar em conta: a
dispersão territorial dos camponeses, sua dificuldade de auto-organização em
organismos democráticos independentes dos camponeses ricos, a dependência em
relação às cidades e também as relações dos camponeses a propriedade privada,
como produção particularizada. Destacou que Partido Camponês, Socialista
Revolucionários - SR - (1901-1923), era dirigido pelos camponeses ricos e
intelectuais pequeno-burgueses. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O fato dos camponeses não se auto-organizarem também obrigava-os a seguir
as classes que se auto-organizavam. Assim, necessariamente, seguiria a
burguesia ou o proletariado. Os <i>kulaks</i> (camponeses ricos)
defendiam aliança com a burguesia liberal, enquanto os camponeses pobres
pautavam-se tendo como horizonte o proletariado urbano. Para Trotsky, “Nestas
circunstâncias, o campesinato, como um todo, seria incapaz de empurrar as
rédeas do governo”. Posto tudo isso, para Trotsky, o aliado estratégico do
proletariado russo não era outro senão o proletariado europeu (confira: TROTSKY,
1971: TROTSKY, 1980). Estas três concepções da revolução russa foram postas a
prova durante os processos revolucionários de 1917.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">SOBRE AS REVOLUÇÕES DE 1917</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Na <i>História da revolução russa</i>,
Trotsky apontou que: "No início do sec. XX, a Rússia tinha cerca de 150
milhões de habitantes, dos quais mais de 3 milhões se concentravam em
Petrogrado e Moscou". (TROTSKY, 2007a, p. 26). Essas cidades, de maior
densidade operária, serão centro nervoso do novo processo revolucionário. Com o
inicio da 1ª Guerra Mundial a escassez de alimentos novamente produz revolta na
classe trabalhadora. Camponeses se vêem obrigados a vender suas terras e migrar
para as cidades em busca de trabalho. Conforme Broué:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Com o ano de 1917, se
inicia uma nova era. A guerra torna aguda, em todos os países, as contradições,
afetando profundamente a estrutura política e econômica. O prolongamento da
matança suscita sentimentos de rebeldia. Os jovens se sublevam contra a guerra,
flagelo de sua geração, que todos os dias engole centenas deles, e este é o
sentimento das famílias as quais mutila. Na Alemanha, na França na Rússia, em
todos os países beligerantes, aparecem os primeiro sintomas de uma agitação
revolucionária. Como o próprio Lênin havia previsto, o cortejo de sofrimentos
que acompanha a guerra imperialista põe na ordem do dia sua transformação em
guerra civil, inclusive quando a luta se inicia sob a bandeira do pacifismo.
(BROUÉ, 2005, p. 91).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">No dia 23 de fevereiro de 1917, dia da mulher, as mulheres russas vão às
ruas reivindicando pão e o fim da guerra. No dia seguinte o movimento
multiplica-se por dois, tomando as ruas. Estas mobilizações combinaram-se com
greves operárias, sendo que no dia 25 a greve generalizou-se, 240 mil operários
estão nas ruas. (TROTSKY, 2007a, p. 118). Este amplo movimento derrubou o
Estado absolutista dos Romanov dirigido por Nicolau II. "No dia 25 o
Partido Bolchevique chama a greve geral, mas é surpreendido por um levante
armado desencadeado pelo proletariado, o partido fora arrastado pelo
movimento". (TROTSKY, 2007a, p. 121). Desta forma, "A revolução de
fevereiro de 1917, chamada 'insurreição anônima', foi um levante espontâneo das
massas, surpreendendo a todos, inclusive os bolcheviques". (BOUÉ, 2005, p.
93). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">No dia 26, um domingo, o operariado marchou das periferias para o
centro. A polícia abre fogo contra as mobilizações assassinando 40 pessoas. Isso
gera revolta dentro do exército, parte dos soldados decidem unirem-se aos
operários. No dia 27 de outubro uma multidão liberta os presos políticos de vários
cárceres da capital russa. A revolução de fevereiro tinha Petrogrado como
centro, mas o restante da Rússia aderia à ação. Depois de tomar Petrogrado e
Moscou, a revolução segue conquistando outras cidades no mês de março. (TROTSKY,
2007a, p. 135). De acordo com Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">A revolução surge nas
ruas, descendo das fábricas com milhares de operários grevistas, aos gritos de <i>"Queremos pão! Queremos pão!"</i>.
Impotentes, as autoridades os viam chegar. Evitar a crise não estava ao
alcance. A confraternização das tropas com as manifestações operárias nas ruas
de Petersburgo levou a cabo a queda da autocracia (25-27 de fevereiro de 1917).
A rapidez dos acontecimentos surpreende as organizações revolucionárias, embora
tenham estado trabalhando em sua preparação. (SERGE, 1993, p. 52).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O proletariado russo, que já era portador das experiências de 1905 e das
greves políticas radicalizadas que eclodiram de forma crescente desde 1914,
afirma-se como poderoso sujeito político coletivo, capaz de varrer a velha
ordem tzarista. Conforme sintetizado por Trotsky:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Surgindo
"espontaneamente" da indignação universal, de protestos,
manifestações, greves e lutas de rua dispersas, uma insurreição pode arrastar
parte do Exército, paralisar as forças do inimigo, e derrubar o antigo poder.
Num certo grau, foi isto que aconteceu em fevereiro de 1917 na Rússia.
(TROTSKY, 2007a, p. 932).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A burguesia e seu parlamento (Duma), não sabiam como agir, ficaram
atônitos sem controle da situação, não sabiam quem deveria assumir o poder. A
solução foi um governo de coalizão, hegemonizado pela burguesia liberal
articulada com os Mencheviques, Socialistas Revolucionários (SR) e cadetes. De
acordo com Trotsky: "A Revolução de Fevereiro danificara consideravelmente
o antigo aparelho, e essa herança o Governo Provisório era incapaz de renovar
ou revigorar". (TROTSKY, 2007b, p. 106). Segundo Deutscher: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) A revolução
começara onde se detivera em 1905, mas seu ponto de partida ficara muito para
trás. O tzar e os ministros ainda eram prisioneiros do Estado, mas para a
maioria de seus antigos súditos representavam apenas fantasmas de um passado
remoto. Os esplendores, terrores e fetiches seculares da monarquia pareciam ter
desaparecido como a neve do último inverno. (DEUTSCHER, 2005, p. 309).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Frente ao Governo Provisório, os operários e camponeses pobres, sujeitos
insurretos, continuavam apartados do poder de decisão político e econômico.
Assim, não aceitaram a consolidação da democracia burguesa pactuada em 6 de
maio. Conforme registrou Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Um ministério de coalizão
(burgueses liberais-cadets-encheviques, socialistas-revolucionários), presidido
por Kerenski. formava-se no princípio de maio. Seu programa resume-se em duas
palavras: democracia e constituinte. Revela-se impotente para combater a crise
econômica, pois para isso seriam
necessárias medidas enérgicas que não se podem tomar sem prejudicar a
burguesia. (SERGE, 1993, p. 53).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A revolução de fevereiro derruba a monarquia, mas o mesmo tempo, essa
mesma revolução recusa-se a submeter-se a burguesia liberal. Por sua vez, o
proletariado novamente faz dos sovietes uma forma de governo paralelo. Por meio
dos conselhos estabelece-se novamente um duplo poder na Rússia, sovietes
operários convivem ao lado do parlamento burguês-liberal. No entanto, "Os
mencheviques e os socialistas revolucionários (S.R) ostentam a maioria nos
primeiros sovietes e no primeiro congresso pam-russo". (BROUÉ, 2005, p.
93).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Os Mencheviques, para compor o governo Provisório, mudaram sua concepção
em relação à posição de 1905, quando ficaram fora do governo, como oposição,
pressionando para a realização das demandas democráticas do proletariado e dos
camponeses. Em 1917, compõem o governo provisório em conjunto com os liberais
constitucionalistas, mesmo sabendo que o Governo Provisório apoiava-se em
aliança com as potencias imperialistas do eixo Inglaterra-França contra
Alemanha. De acordo com análise de Broué, os Mencheviques:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...). Em
conformidade com suas análises, não buscam lutar pelo poder. Em sua opinião,
somente um poder burguês pode ocupar o lugar do czarismo, convocar eleições
para a assembléia constituinte e negociar a paz democrática sem anexações. Ao
seu ver, os sovietes foram o instrumento operário da revolução
democrático-burguesa e, na república burguesa devem continuar constituindo
posições da classe operária. Contudo, não consideram em absoluto a
possibilidade de exigir um poder para o qual a classe operária ainda não está
capacitada para exercer e que, segundo eles, deverá exigir posteriormente para
si, conforme as exigências de uma revolução espontânea que os socialistas devem
tomar cuidado de "forçar". Lênin resumirá tal atitude como se
equivalesse de fato a uma "entrega voluntária do poder de estado à
burguesia e a seu governo provisório". (BROUÉ, 2005, p. 94).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Os bolcheviques recusaram-se a participar do Governo Provisório. Lênin,
em 7 de março de 1917, exilado na Alemanha, por meio das <i>Cartas de
longe</i>, era enfático “Quem diz que os operários devem <i>apoiar</i> o
novo governo no interesse da luta contra a reação do tzarismo (...) é um
traidor dos operários, um traidor à causa do proletariado, à causa da paz e da
liberdade”. (LENIN, 2005). Defendia que o Partido Bolchevique não deveria participar
nem apoiar o Governo Provisório, nas palavras do autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<i><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) não</span></i><span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;"> são os
operários que devem apoiar o novo governo, mas este governo que deve “apoiar”
os operários! Pois a única <i>garantia</i> de liberdade e da
destruição do tzarismo até ao fim é <i>armar o proletariado</i>, é
consolidar, alargar, desenvolver, o papel, a importância e a força do Soviete
de Deputados Operários. (LENIN, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Tendo como norte a fórmula algébrica de Lênin de 1905, de ditadura
democrática dos operários e dos camponeses, o Partido Bolchevique reivindicava em
1917, a constituição de um regime democrático, dirigido por uma aliança entre o
proletariado e os camponeses para realizar as demandas democráticas. No
entanto, a partir de 13 de março, sob diretivas de Stalin e Kamenev, os
bolcheviques adotam "a tese dos mencheviques segundo a qual é preciso que
os revolucionários russos prossigam na guerra para defender suas recentes
conquistas democráticas da agressão do imperialismo alemão". (BROUÉ, 2005,
p. 95). Para Stalin, a função dos sovietes, naquele momento, era apoiar o
governo provisório. (Idem). Porém, para Lênin, tratava-se de lutar pela tomada
do poder pelo proletariado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) Desde que
recebeu as primeiras notícias da Rússia, Lênin ficou muito alarmado pelos
indícios de conciliação que observa na política bolchevique. Desde Zurique
dirige quatro cartas ao <i>Pravda</i> - as
chamadas "Cartas de longe"- nas quais afirma que é necessário
constituir uma milícia operária cuja missão haverá de ser converter-se em órgão
executivo do soviete, ademais a que preparar de imediato a revolução
proletária, denunciar os tratados de alianças com os imperialistas, negar-se
frontalmente a cair nas armadilhas do "patriotismo" e tratar de
conseguir a metamorfose da guerra imperialista em guerra civil. Somente a
primeira das quatro cartas será publicada, pois os dirigentes bolcheviques, assustados
pelo caráter radical deste ponto de vista preferem supor que Lênin está mal
informado. A única solução que lhe resta é voltar à Rússia por qualquer meio
para convencer seus companheiros. (BOUÉ, 2005, p. 96).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Na terceira <i>carta de longe</i> (11
de Março de 1917), Lênin afirmou que a revolução começou como democrático-burguesa
e que só o proletariado poderia conduzi-la ao socialismo (<i>transcrescimento</i> da
revolução). Nas palavras do revolucionário:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) a revolução de
Fevereiro-Março foi apenas a <i>primeira etapa</i> da revolução. A Rússia
atravessa um momento histórico peculiar de <i>transição</i> para a
etapa seguinte da revolução ou, segundo a expressão de Skóbelev, para a
‘segunda revolução’. (LENIN, Carta III, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"> Apenas a direção do proletariado
poderia realizar as demandas históricas do povo russo, por isso, tratava-se de
lutar pela construção do governo proletário “A república proletária, apoiada
pelos operários agrícolas e pela parte mais pobre dos camponeses e dos
citadinos, é a única que pode assegurar a paz, dar o pão, a ordem, a
liberdade”. (LENIN, Carta II, 2005). Desta forma, segundo Broué: "O
retorno de Lênin, no dia 3 de abril, vai alterar profundamente a situação nas
fileiras bolcheviques e, mais adiante, no processo revolucionário". (p.
96). Com sua chegada à Rússia, ao invés de se apoiar o governo provisório, o
Partido passou a defender uma revolução proletária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Para o revolucionário russo, se o proletariado estivesse organizado de
forma estruturada, não teria sido possível nem a ascensão ao poder pela
burguesia após a revolução de fevereiro e formação do governo burguês. Se
estivesse suficientemente organizado, o poder já estaria nas mãos do
proletariado. Nas <i>Teses de abril</i>, Lênin enfatiza:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">A peculiaridade do
momento atual na Rússia consiste <b>na transição </b>da primeira
etapa da revolução, que deu o poder à burguesia por faltar ao proletariado o
grau necessário de consciência e organização, <b>para </b>a sua <b>segunda
</b>etapa, que deve colocar o poder nas mãos do proletariado e das camadas
pobres do campesinato. (LENIN, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Dois elementos convenceram Lênin que a ditadura deveria ser do
proletariado, mas com apoio dos camponeses: o desenvolvimento da guerra e os
sovietes de deputados operários. Estes elementos transformaram a luta
democrática em luta socialista, segundo conceito de Lênin houve o
transcrescimento da revolução democrática em revolução socialista. A revolução
democrática, protagonizada pelo proletariado urbano, deu inicio a uma revolução
socialista. Nesse sentido, a revolução democrática foi fundida com a luta pela
revolução socialista. Desta forma, Lênin fizera dois movimentos: 1) convencer o
Partido Bolchevique a mudar sua atuação, pois era preciso ter claro que apenas
o operariado poderia realizar a revolução burguesa por meio de uma ditadura
proletária. 2): convencer o proletariado a tomar o poder e estabelecer um
governo proletário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Buscando dissipar qualquer esperança do proletariado com o Governo
Provisório, Lênin ataca-o firmemente, enfatizando que este “<i>não pode dar ao
povo nem paz, nem pão, nem liberdade</i>”. O Governo Provisório não pode
assegurar a paz, pois não rompe nem com a monarquia nem com a guerra, defende
que a guerra é a forma de assegurar as conquistas da revolução proletária de
fevereiro. Para Lênin, o proletariado que tivera papel central durante a
revolução de fevereiro, ainda não havia esgotado suas forças revolucionárias,
porém se seguissem os mencheviques e Socialistas Revolucionários, aceitando o
governo burguês de coalizão, perder-se-ia todo o ascenso revolucionário. Na primeira
<i>carta de longe</i> (7 de março) firmava que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) “a palavra de
ordem”, a “tarefa do dia”, neste momento, deve ser: <i>operários, vós
realizastes prodígios de heroísmo proletário e popular na guerra civil contra o
tzarismo, deveis agora realizar prodígios de organização proletária de todo o
povo para preparar a vossa vitória na segunda etapa da revolução</i>. (LENIN,
2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Para a tomada do poder das mãos do Governo Provisório e consolidação do
Estado Operário, o proletariado tinha dois aliados: os camponeses pobres e o
proletariado internacional. Nas palavras do autor:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Com estes dois
aliados, o proletariado pode avançar e avançará, <i>utilizando as
particularidades </i>do atual momento de transição, à conquista primeiro
da república democrática e da vitória completa dos camponeses sobre os
latifundiários, em lugar da semimonarquia de Gutchkov e Miliukov, e depois para
o <i>socialismo</i>, o único que dará aos povos exaustos pela
guerra, <i>a paz, o pão e a liberdade. </i>(LENIN, Carta III, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Na segunda <i>Carta de longe</i> (9 de março de 1917), Lênin defende
o armamento do proletariado como forma de assegurar as conquistas da revolução
de fevereiro e a marcha para o governo operário. Era necessária:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) a criação de
uma milícia de todo o povo, dirigida pelos operários, que é a palavra de ordem
correta do dia, que corresponde às tarefas táticas do peculiar momento de
transição que a revolução russa (e a revolução mundial) está a atravessar, e
por outro lado que para o êxito desta milícia operária ela deve ser, em
primeiro lugar, de todo o povo, de massas <i>até ser universal</i>,
abarcar realmente <i>toda </i>a população de ambos os sexos apta para
o trabalho: em segundo lugar, ela deve passar à combinação de funções não
apenas policiais, mas estatais gerais, com funções militares e com o controle
da produção e distribuição social dos produtos. (LENIN, Carta II, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Havia de se criar uma forma de governo baseada na participação direta do
operariado a partir dos sovietes, com apoio dos camponeses. O Partido
bolchevique não estava seguro que o proletariado pudesse sustenta-se no poder,
mas Lênin insiste. Segundo Serge: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Chegando a Petrogrado
a 3 de abril de 1917, Lênin, após haver retificado a posição política do órgão central do partido, define em
seguida os objetivos do proletariado e recomenda incansavelmente aos militantes
a conquista, por persuasão, das massas operárias. (SERGE, 1993, p. 59).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Nesse dia, ainda na estação de trem, Lênin discursa em defesa da
revolução socialista e contra o governo provisório. Conforme escreveu Trotsky
em <i>Lições de outubro</i>: "O discurso
de Lênin na estação Finlândia sobre o caráter da Revolução Russa foi como uma
bomba para muitos dirigentes do Partido". (TROTSKY, 2007b, p. 49). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Nas <i>Teses de abril</i> (7 de abril
de 1917), Lênin afirmava que a luta deveria ser pela “passagem do poder para as
mãos do proletariado e dos setores pobres do campesinato que a ele aderem”. Sua
síntese ficou gravada na história “todo o poder aos sovietes!”. (LENIN, 2005). Além
da luta irredutível contra o defensismo e os defensistas, suas teses
preconizavam: "conquista da maioria nos sovietes; derrubada, por seu
intermédio, do Governo Provisório; política revolucionária de paz; programa de
revolução socialista no interior e de revolução internacional no exterior.
(TROTSKY, 2007b, p. 52). Na perspectiva de Lênin, para se atuar de forma
precisa durante este período, era necessário, conforme o item 4º da T<i>eses
de abril:</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Reconhecer o fato de
que, na maior parte dos Sovietes de deputados operários, o nosso partido está
em minoria, e, de momento, numa minoria reduzida, diante do <b>bloco de
todos </b>os elementos oportunistas pequeno-burgueses, sujeitos à
influência da burguesia e que levam a sua influência para o seio do
proletariado, desde os socialistas-populare<a href="https://www.blogger.com/null" name="n14"></a>s e os
socialistas-revolucionários<a href="https://www.blogger.com/null" name="n15"></a> até ao CO<a href="https://www.blogger.com/null" name="n16"></a> (<a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/tchkheidze.htm" target="_blank"><span style="color: black; text-decoration: none;">Tchkheídze</span></a>, <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/tsereteli.htm" target="_blank"><span style="color: black; text-decoration: none;">Tseretéli</span></a>, etc), <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/s/steklov_iuri.htm" target="_blank"><span style="color: black; text-decoration: none;">Steklov</span></a>, etc. (LENIN, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Além disso, a atuação do Partido Bolchevique nos sovietes, mesmo em
minoria, deveria ter um caráter educativo, para que o proletariado tirasse
lições qualitativas para a nova fase que se abria, nas palavras de Lênin
nas <i>Teses</i>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Enquanto estivermos
em minoria, desenvolveremos um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros,
defendendo ao mesmo tempo a necessidade de que todo o poder de Estado passe
para os Sovietes de deputados operários, a fim de que, sobre a base da
experiência, as massas se libertem dos seus erros. (LENIN, 2005).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O Partido Bolchevique deveria tomar como tarefa "desmascarar"
o Governo Provisório e “explicar a completa falsidade de todas as suas
promessas, sobretudo a da renúncia às anexações. Desmascaramento, em vez da
"exigência" inadmissível e semeadora de ilusões de que este governo,
governo de capitalistas, <b>deixe </b>de ser imperialista”. (LENIN,
2005). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Em síntese, as propostas centrais das teses de Lênin consistiam em:
transformar a 1ª Guerra Mundial numa guerra do proletariado internacional
contra a burguesia, com renúncia das anexações; tomada do poder pelo
proletariado seguida pelos camponeses; armamento geral do povo; criação de um
exercito proletário a partir dos sovietes; supressão da policia e do
funcionalismo público; confiscação das terras dos latifundiários com
conseqüentes nacionalização das terras e criação de Sovietes de deputados dos
camponeses pobres, e, por fim, a fusão de todos os bancos do país num banco
nacional único e introdução do controle por parte dos Sovietes de Deputados
Operários. Era um programa transicional para superar o governo provisório de
forma progressiva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">As<i> Teses</i> de Lênin conquistam
cada vez mais adeptos, em maio um terço dos sovietes de Petrogrado passa a
compor o Partido Bolchevique. (TROTSKY, 2007a). Cabe destacar que, em meio a
efervescência política daqueles meses, "Desde 15 de maio, o Soviete de
Kronstadt se recusava a reconhecer o governo provisório". (SERGE, 1993, p.
55). A perspectiva de Lênin provava-se acertada, pois o governo provisório além
de manter as anexações, em junho, avança contra o proletariado:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) [O governo
provisório] Cede à pressão dos aliados e desencadeia a ofensiva de 18 de junho,
carnificina inútil e que só poderia ter sido inútil. Recusa autonomia a
Finlândia e se desagrega em função da questão da autonomia da Ucrânia:
ministros burgueses são demitidos. Kerenski monta um novo gabinete, onde a
influência dos <i>cadets</i>, decididos a
sabotar a revolução, é muito mais forte ainda... Esse remanejamento ministerial
ocorre durante os tumultos de junho, prólogo da insurreição de outubro. O
proletariado e a guarnição militar já não suportam mais as comédias
ministeriais. "Todo poder aos sovietes". (SERGE, 1993, p. 53).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">De mês a mês, intensificam-se os enfrentamentos do proletariado com o
governo provisório e sua base de apoio. O Partido Bolchevique expande sua
influência nos Sovietes das cidades e nas forças armadas, conquistando
finalmente a posição de maioria. Este passou então de um partido com cerca de
14.000 militantes em fevereiro para mais de 200.000 membros em outubro. Ainda, "Em
abril o Partido contava com 72 organizações, num total de 80.000 membros. Em
fins de julho, seus efetivos atingem 200.000 filiados, agrupados em 162
organizações". (SERGE, p. 58). Em junho havia mais de 50 sindicatos em
Petrogrado, totalizando mais de 250 mil filiados, dentre estes 80 mil eram
bolcheviques. (TROTSKY, 2007a). Além disso, contava ainda com uma multidão de
simpatizantes diretos, que seguia a risca as políticas e estratégias deliberadas
pelos sovietes e pelo partido. Neste contexto, conforme destacou Serge:
"No princípio de outubro, a insurreição surgia por todos os lados,
espontaneamente: os tumultos no campo se estendiam pelo país inteiro". (SERGE,
1993, p. 56).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A influência menchevique e dos Socialistas Revolucionários (SR) é
suplantada pela bolchevique, que passa a contar com 240 mil membros em outubro
de 1917. (TROTSKY, 2007a, p. 720). Conforme Serge: "A 31 de agosto em
Petrogrado, e a 6 de setembro em Moscou, as moções bolcheviques apresentadas
nos sovietes obtêm, pela primeira vez, a maioria. A 25 de setembro, Trotsky é
eleito presidente do Soviete de Petrogrado". (SERGE, 1993, 56). Neste ínterim, a crise
político-econômica intensifica-se crescentemente, segundo Deutscher: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Em princípios de
outubro a crise chegara a um novo auge. O caos econômico agrava-se. O
abastecimento das cidades entrou em colapso. Em grandes áreas, os camponeses
estavam ocupando as propriedades da nobreza e queimando suas mansões. O
Exército sofreu novas derrotas. A Marinha alemã estava ativa no golfo da
Finlândia. Por um momento, a própria cidade de Petrogrado parecia exposta a um
ataque alemão. Os departamentos dos governos e círculos militares e comerciais
eram pela evacuação da cidade e transferência do governo para Moscou (...).
(DEUTSCHER, 2005, p. 359).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Neste contexto, "No dia 9 [de outubro], Trotsky consegue que o
soviete de Petrogrado resolva pela formação do comitê militar revolucionário,
chamado a constituir-se em estado-maior da insurreição". (BROUÉ, 2005, p.
112). Na sequência, no dia 10 de outubro de 1917, Lênin convence o comitê
central do Partido a decidir pela tomada do poder por meio de uma revolução
armada. Kamenev e Zivoviev são os únicos que votam contra. (BROUÉ, 2005:
DOUTSCHER, 2005: TROTSKY, 2007). Trotsky, que participou desta reunião
decisiva, relatou em <i>A revolução de
outubro </i>que: "foi adotada a resolução que declarava que o único meio
de salvar a revolução e o país da catástrofe final era uma insurreição
revolucionária que passasse todo o poder para as mãos dos sovietes".
(TROTSKY, 2007, p. 60). No dia 22 de outubro assistiu-se a uma parada do
Exército Proletário pelas ruas: "Tudo ocorreu bem. Malgrado todos os avisos
da direita de que um rio de sangue tomaria as ruas, as massas populares vinham
em grande número para as reuniões do Soviete de Petrogrado". (Idem, p.
75).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">Todos os oradores
haviam sido postos em ação. Todos os estabelecimentos públicos estavam lotados.
As reuniões duravam horas, sem interrupção. Entre os oradores havia membros do
nosso partido, os delegados do Congresso dos Sovietes, representante do <i>front</i>, socialistas revolucionários de
esquerda e anarquistas. Todos os prédios públicos foram inundados por um mar de
operários, soldados e marinheiros. Reuniões como essas, mesmo durante a
revolução, raramente haviam ocorrido em Petrogrado. (TROTSKY, 2007, p. 75).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Neste contexto, "Em 23 de outubro o Comitê Revolucionário Militar
tinha pronto um plano detalhado das operações (...). Previa uma ocupação
rápida, por destacamentos escolhidos, em todas as posições estratégicas na
capital". (DOUTSCHER, 2005, p. 396). As maiores cidades operárias da
Rússia, Petrogrado, Moscou, Viborg juntamente com os marinheiros de Kronstadt
não querem mais esperar. Assim, quando os membros do Comitê Revolucionário
Militar "inspecionaram pela última vez a disposição das forças, tiveram a
certeza de que poderiam derrubar o governo com um simples empurrão - tão
esmagadora era a superioridade das forças que apoiavam o soviete". (Idem,
p. 369-370). No dia 24 de outubro "Os marinheiros e a guarda vermelha
ocuparam, com pequenos contingentes, o telégrafo, os correios e outros serviços
públicos. Começaram os preparativos para tomar o Banco do Estado. (TROTSKY,
2007, p. 80). No mesmo dia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; font-size: 10pt;">(...) nos quartéis,
se distribuem armas a todos os destacamentos operários. Durante a tarde, os
marinheiros de Kronstadt chegam a Petrogrado; do Smolny, sede do comitê, partem
destacamentos que vão ocupar todos os pontos estratégicos da capital. (BROUÉ,
2005, p. 115).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">O Palácio de Inverno foi tomado no dia 25 de outubro, desta ação
"participaram 25 ou 30 mil homens". (TROTSKY, 2007a). Neste dia,
"desde o amanhecer, os regimentos dos bolcheviques e milícias vermelhas
começam a cercar o Palácio de Inverno, sede do ministério de Kerenski".
(SERGE, 1993, p. 74). Segundo Doutscher: "Trotski ordenou que o cruzador<i> Aurora</i> entrasse em ação, bombardeando o
palácio com tiros de festim: isso deveria ser suficiente para provocar a
rendição do governo". (DOUTSCHER, 2005, p. 376). Assim, "depois de
algumas salvas de tiros disparadas pelo cruzador 'Aurora'. A insurreição
triunfou". (BROUÉ, 2005, p. 116). (Confira também: REED, 1986). Durante a
tomada do Palácio morreram 15 pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"> Assim,
a revolução de outubro teve conteúdo qualitativamente distinto da insurreição
de fevereiro, pois foi uma insurreição dirigida e organizada por um partido
operário marxista revolucionário, que conquistou, por meio de lutas diretas, a
confiança da maioria dos sovietes, que havia se disseminado pela Rússia,
fazendo avançar a revolução de fevereiro. Com a derrubada de Kerensky, por meio
dos sovietes nasce um Estado da classe operária apoiado nos camponeses e nos
soldados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; margin-top: 6pt; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">A TOMADA DO PODER É SÓ UM DÉCIMO DA REVOLUÇÃO</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Em dezembro de 1917, o II Congresso dos Sovietes aboliu a propriedade
privada dos grandes latifúndios. Os comitês de fábricas e os comitês operários,
com mandatos revogáveis pela base, geriam a produção. Em 1918 é decretada a
expropriação da propriedade burguesa, com isso a burguesia é suplantada como
classe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Porém a burguesia e os latifundiários, por meio do exército branco
restauracionista e suas nações aliadas não mediriam esforços ou custos humanos
para depor o proletariado do poder, neste foi iniciada a Guerra civil no país,
um verdadeiro enfrentamento armado entre o proletariado e a burguesia. Esta se
estendeu por quatro longos anos (1918-1921). Sob o <i>comunismo de guerra</i> intensificou-se
o ritmo de trabalho no país, tencionaram-se para produzir ao máximo para suprir
com alimentos os soldados que combatiam contra os exércitos que invadiam a
Rússia. A guerra civil teve como consequência a eliminação de grande parte da
vanguarda revolucionária operária e marxista do país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Os desafios internos e externos para sustentar as conquistas de 1917
eram imensos, bem porque esta era a primeira revolução socialista da história
da humanidade. A tomada do poder foi apenas o inicio do processo, agora
tratava-se de extingui-lo para construção do socialismo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">V. I. Lenin e Leon Trotsky sabiam que para revolução proletária
triunfar, estabelecer o socialismo e marchar para o comunismo era necessário
que a revolução se espalhasse pelo mundo, sabiam então da importância da
revolução na Alemanha. Porém a posição revolucionária fora traída na Alemanha
em 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht teóricos e dirigentes
revolucionários foram assassinados. Assim, a derrota da revolução no Ocidente
(Alemanha e Hungria) e na China (1925-1927), isolou a revolução russa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Lênin compreendia que, para que a humanidade desse um salto na direção
de sua emancipação e na construção do socialismo, como uma sociedade baseada na
auto-organização das capacidades humanas como forças próprias, ou controle
coletivo livre, autoconsciente e universal dos trabalhadores sobre o processo
de produção/organização da vida, a revolução proletária não poderia limitar-se
a um país só. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Para superar o capitalismo e marchar para o socialismo era necessária a
auto-organização permanente e cada vez mais profunda dos trabalhadores. A
hegemonia deveria vir dos locais de trabalho. A atividade consciente de
auto-organização e assim organização social geral, como atividade
auto-determinada dos trabalhadores e camponeses, com necessário domínio político
pleno e auto-governo, eram imprescindíveis para a criação de novas relações
sociais livres e iguais, e para preparar a abolição do Estado e a própria
suprasunção da política como forma de mediação das relações sociais. Porém só a
difusão desta forma auto-organizada dos trabalhadores em nível mundial, para
todos os países é que pode produzir condições materiais efetivas para
consolidação do socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">Também é clássica a afirmação feita por Trotsky no livro <i>A
revolução traída</i> sobre o caráter e limitações do Estado operário “A
princípio, o Estado operário não pode ainda permitir a cada um trabalhar
‘segundo suas as capacidades’, o que significa fazer o que quiser e puder, nem
recompensar cada um ‘segundo as suas necessidades’, independentemente do trabalho
fornecido. O interesse do crescimento das forças produtivas obriga a recorrer
às habituais normas do salário, isto é, à repartição de bens segundo a
quantidade e a qualidade do trabalho individual” (TROTSKI, 2006, p. 35). Assim,
para o autor a União Soviética era uma sociedade intermediária entre o
capitalismo e o socialismo. (p. 176).<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-align: left; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">REFERÊNCIAS</span></b><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">BOUÉ, P. <i>O partido bolchevique</i>.
Ed. Pão e Rosas. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>História da internacional
comunista</i>. Editora: Sundermann 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">DEUTSCHER,
I. <i>Trotsky - o profeta armado</i>. RJ.
Civilização Brasileira. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Trotsky - o profeta desarmado</i>. RJ.
Civilização Brasileira. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Trotsky - o profeta banido</i>. RJ.
Civilização Brasileira. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Stalin - uma biografia política</i>. RJ.
Civilização Brasileira. 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">ENGELS F. <i>A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra</i>. Boitempo. 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. Esboço de uma crítica da economia política. In: <i>Temas de Ciências Humanas</i>, nº. 5. São
Paulo: LECH, 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Origem da família, da
propriedade privada e do Estado</i>. Editora Civilização Brasileira, RJ.
Ano: 1987.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">LENIN, V. <i>Obras escolhidas</i>.
São Paulo: Alfa-Omega, 1980-1982.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>O desenvolvimento do
capitalismo na Rússia: o processo de formação do mercado interno para a grande
indústria</i>. São Paulo: Nova Cultural, 1988.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Às portas da Revolução:
escritos de Lenin de 1917</i>. RJ: Boitempo. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>O Estado e a Revolução</i>.
Expressão popular. 2007b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. Relatório sobre a revolução de 1905.<i> Lenine, </i><em><span style="font-family: "georgia" , "serif"; font-style: normal;">Oeuvres</span></em><i>,
tomo 23, pp. 259-277. Éditions du Progrès, Moscovo, 1974. </i>Tradução Fernado
S. A Araújo. Maio de 2007.</span><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">_____ Sobre os sindicatos</span></i><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">. São Paulo. Editora Polis. 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i> Que fazer? – problemas candentes do nosso
movimento</i>. Editora Expressão Popular. São Paulo. 2010.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Imperialismo, fase superior do capitalismo</i>. Editora
Centauro. São Paulo. 2008.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. Cartas de longe. In: <i>As portas da
revolução</i>. Slavoj Zizek. Boitempo. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. Teses de abril. In: <i>As portas da
revolução</i>. Slavoj Zizek. Boitempo. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. </span><i><span style="font-family: "georgia" , "serif"; line-height: 150%;">Capitalismo
e agricultura nos Estados Unidos da América</span></i><span style="font-family: "georgia" , "serif"; line-height: 150%;">. Editora Brasil
Debates. 1980.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>O Programa agrário da
social-democracia na revolução russa de 1905-1907</i>. Editora Ciências
humanas. 1980b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Esquerdismo, doença
infantil do comunismo</i>. Editora Símbolo. São Paulo. 1978.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>I</i></span><i><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">lusões constitucionalistas</span></i><span lang="PT" style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">. </span><span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">São Paulo: Kairós, 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. La bancarrota de la II Internacional. In: <i>Obras
Escogidas</i>. Moscú: Progreso. Tomo V, 1976b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">MARX, K. <i>Para a questão judaica</i>.
Expressão popular. 2009.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A miséria da filosofia</i>.
Expressão popular. São Paulo. 2009.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A revolução antes da
revolução</i> - As lutas de classes na França - de 1848 a 1850. O 18 Brumário
de Luis Bonaparte. A Guerra Civil na França. Expressão popular. 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">MARX, K. Critica ao Programa de Gotha. In: <i>Dialética do trabalho</i>. Org. Ricardo Antunes. Expressão popular.
2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Critica da filosofia do
direito de Hegel</i>. Boitempo. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Contribuição à crítica da
economia política</i>. Expressão popular. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Manuscritos
econômico-filosóficos</i>. Boitempo. 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Glosas críticas ao artigo
O Rei da Prússia e a Reforma Social. De um prussiano</i>. In: Praxis, n. 5,
out/dez 1995. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Formações econômicas
pré-capitalistas</i>. Paz e Terra, 1975.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">MARX, K: ENGELS, F. <i>Manifesto
Comunista</i>. Boitempo. 2004.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A ideologia Alemã</i>.
Boitempo. 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">REED, J. <i>Os dez dias que abalaram
o mundo</i>. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">TROTSKY, L. <i>História da revolução russa</i>.
São Paulo. Sundermann. 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Lições de outubro</i>. São
Paulo. Editora Sundermann. 2007b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A revolução de outubro</i>.
São Paulo. Boitempo/Iskra. 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>O programa de transição</i>.
São Paulo. Edições Iskra. 2007.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A revolução traída: a onde
vai a URSS</i>. São Paulo. Editora Sundermann. 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A revolução permanente</i>.
Editora Expressão popular. 2005.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>Aonde vai a França?</i>
Editora desafio. 1994.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. As três concepções da Revolução Russa. In: <i>Stálin: O militante anônimo</i>. São Paulo:
Ched, 1980. Volume 1.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>O Estado operário,
termidor e bonapartismo</i>. S. E. 1935.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>A revolução de 1905</i>.
Editora Global. 1975.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , serif; line-height: 150%;">______. <i>1905: Balanço e
perspectivas</i>. Editora Penguim Books. 1971.</span></div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-12384301453854368232015-09-09T09:26:00.004-07:002018-10-06T08:46:39.628-07:00REVOLUÇÃO CHINESA: 1925 e 1949<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-align: left;">
<span style="color: #222222; line-height: 150%;">Anotações de estudo, primeiro semestre de 2010</span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<div style="text-align: right;">
<span style="color: #222222; line-height: 150%;"><b>Alessandro de Moura </b></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 2.45pt; text-align: justify;">
<span style="color: #222222;"> <span style="font-size: large;"> </span></span><span style="font-size: large;"><span style="background-color: white; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">Fazemos uma breve análise acerca da organização do
movimento operário chines durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, discutimos
desde o surgimento do Kuomitang (o partido nacionalista chinês), passando pela
fundação do primeiro primeiro partido comunista na China em 1921, o PCCh, e a
influência que este recebia do Partido Comunista Russo sob controle do </span><i style="line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">triunvirato</i><span style="background-color: white; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;"> Stalin,
Rykov e Bukharin. Discutimos também de forma sintética a revolução operária
decorrida no período 1925-1927 e suas principais conseqüências para o
operariado chinês nos próximos anos. Por fim discutimos a terceira revolução chinesa
desencadeada em 1949.</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Palavras chave: China. Operários.
Revolução chinesa, Stalinismo. Socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>Apontamentos iniciais sobre a primeira
revolução chinesa</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">A China, um país imenso com disputa de
dinastias e grande opressão sobre a população trabalhadora. A repressão era
imensa, os senhores feudais da China, por serem também chefes militares eram
conhecidos como os “senhores da guerra”. Com os processos desencadeados a
partir da Guerra do Ópio (1840-1841) pela Inglaterra, a China é convertida em um
Estado semicolonial. Porém isso não impediu os levantes populares. Em 1900, o
movimento “boxer” é lançado pelas massas camponesas, este caracterizado pelo
intelectual revolucionário Peng Shu-tsé como um “movimento antiimperialista de
libertação nacional lançado pelas massas camponesas pela pressão extrema dos
imperialistas”. Sete exércitos de países diferentes invadem a China com
pretexto de conter os levantes, depois de reprimir o movimento, por meio das
guerras e “concessões” os sete exércitos (entre eles estava Inglaterra, França,
Alemanha, Estados Unidos, Japão)<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> </span>dominam e colonizam as regiões sobre
seu controle. Em meio a este processo desenvolvem-se frações burguesas na
China, conquistando cada vez mais poder e influência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">Os a organização do povo chinês é
intensa durante toda a década de 1910. Em 1911 eclode a primeira revolução na
China que derruba a Dinastia Manchu, o principal dirigente do Partido
Nacionalista Burguês, o Kuomitang, Sun Yat-sem é nomeado presidente. O
Kuomitang constituía-se como um partido de massas com composição muito
heterogênea. Em de maio de 1919, eclodem manifestações de estudantes e greves
operárias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">Sobre impacto da Revolução Russa, em
julho de 1921 no Congresso em Xangai, é fundado na China o Partido Comunista
Chinês, o PCCh. Inicia-se um longo intercambio com o PC russo. Os primeiros
giros à direita empreendidos na Rússia pela <i>Troika</i> (Stalin,
Kamenev e Zinoviev) são materializados também na China a partir de 1923.
Segundo Osvaldo Coggiola, já em 1923 o Partido Comunista Russo, buscando
colocar em prática a perspectiva da revolução por etapas, primeiro democracia
burguesa, depois socialismo, determinava que a China não estava madura para o
socialismo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) Em 1923, o embaixador soviético Abraham M.
Ioffe e o chefe do KMT, Sun Yat-sen, assinaram um acordo de cooperação.
Tratava-se na verdade de um acordo político, pois nele se reconhecia que “a
China não está ainda madura para o socialismo, mas para a realização de unidade
e independência nacionais”. O Partido Comunista da URSS designou um
“conselheiro político” para Sun Yat-sem (Mikhail Borodin).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">O que o Kremlin temia seriamente que a
vitória de um verdadeiro movimento revolucionário dos operários, porque receava
não ser capaz de controlá-lo, o que por sua vez, ameaçaria sua própria
existência. Segundo a análise da comunista chinesa Peng Pi Lan, a política de
conciliação de classes levada a cabo pelo PC russo expressou-se com a
determinação de que o PCCh deveria aderir ao Kuomitang<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Cedo, em 1923, a Internacional Comunista pretendendo
que a revolução chinesa era uma revolução nacional democrática que englobava
todas as classes, havia ordenado aos membros do PCCh aderir ao Kuomintang e ter
uma política de colaboração de classe com este último. Colocou-se a pergunta:
qual é a classe que deveria dirigir a revolução?A ordem da Komintern implicava
que o PCCh, representando o proletariado, não podia ter a inteira
responsabilidade de dirigir sozinho a revolução nacional, portanto devia
unir-se ao Kuomintang e colaborar com ele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A atuação e os limites do PCCh eram
determinados por sua filiação ao Kuomitang e ao PC russo, que defendiam que a
China ainda tinha uma etapa histórica para ser cumprida, antes de se pensar na
tomada do poder pelo proletariado. O PC russo, por meio da internacional Comunista
difundia que a estratégia a ser seguida na China era o “Bloco das quatro
classes”, composto pelo campesinato, proletariado, pequena burguesia e
burguesia nacional. Por meio desta fórmula negava-se avidamente a possibilidade
do proletariado ser capaz de cumprir um papel independente. Porém esta posição
não era homogênea Peng Shu Tsé, por exemplo, escreve em 1925 um texto
intitulado <i>Quem dirige a revolução nacional? </i>Neste trabalho
Peng Shu Tsé chega a seguinte conclusão “Depois de haver analisado todas as
classes... podemos afirmar agora que, do ponto de vista de sua base material,
de sua consciência revolucionária e das condições da revolução internacional...
só a classe operária pode converter-se em direção da revolução nacional”.
Porém, sob o julgo do Kremlin sua posição não fora acatada pela maioria do
PCCh.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O movimento operário não se baseia nas
formulações do Kremlin ou do PCCh, em 3º de maio de 1925 inicia-se um grande
levante proletário que arrasta multidão de trabalhadores para a arena política.
Eclode uma greve geral em Xangai. Segundo Coggiola o PCCh neste ano já possuía
20 mil militantes, os levantes são crescentes durante o ano todo, em 1926 os
operários de Catão insurgem-se e pegam em armas. Avança a segunda revolução
chinesa, o processo estende-se até 1927. Segundo Peng Pi Lan<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Em 1925, o Movimento de 30 de maio ativava a
resistência contra o imperialismo e os senhores da guerra. Através de todo o
país, em 1925 e 1926, os operários, camponeses, estudantes, mulheres e
diferentes elementos da pequena burguesia, tomaram parte na onda
revolucionária. Por exemplo, cada vez que eram motivados pelos acontecimentos,
tais como a luta contra o senhor da guerra Feng, a invasão da Manchúria pelos
japoneses, o massacre de 18 de março de 1926 em Pequim, centenas de milhares de
pessoas manifestavam-se nas ruas de Xangai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em 20 de março de 1926 Chiang Kai-shek,
apoiado por setores da burguesia comanda as tropas do Kuomitang “desarmou as
milícias operárias de Cantão, prendeu vários dirigentes comunistas e excluiu os
comunistas da direção do KMT. O PCC, ainda assim, se manteve dentro do KMT.
Chiang se fez nomear “generalíssimo”. Em Moscou, por direta influência de
Stalin, Chiang foi nomeado “presidente de honra” da Internacional Comunista”.
(COGGIOLA, 2008).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O golpe de Chiang coloca os militantes
do PCCh em crise profunda. Em 1926, após o “entrismo” feito pelo PCCh no
Kuomitang, o <i>triunvirato </i>(Stalin, Rykov e Bukharin), chegara a
decidir dissolver o PCCh no Kuomitang (liquidacionismo) e ainda
condecora Chiang Kai-shek como presidente honorário da Internacional Comunista,
a oposição à conciliação se articula para desenvolver uma saída para a
situação, colocando a necessidade de ruptura com o Kuomitang e Chiang, porém
por meio de um golpe burocrático a oposição foi derrotada. De acordo com Peng
Pi Lan<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) no começo de junho de 1926, o CC do PCCh foi
forçado a adotar a política da Komintern de submissão a Chiang Kai Shek. Com a
ajuda de Borodin, Chiang consolidou sua ditadura militar sem obstáculos,
manipulando o aparato do Kuomintang, a administração e o exército para seus
próprios fins, e nomeando-se a si mesmo para o posto de comandante em chefe
para empreender a expedição do Norte<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Chiang, articulando a ala direita do
Kuomitang, primeiro restringe as atividades do PCCh no Kuomitang, depois passa
a perseguir e assassinar os comunistas chineses. Nesse período os principais
dirigentes do Partido Comunista Chinês ainda não era stalinista, a direção do
PCCh só chegou a esta conclusão depois da negativa do imposta pelo Komintern em
romper com Chiang e o Kuomitang, proibindo que o PCCh tivesse uma atuação
independente, de promovesse propaganda comunista dentro do Kuomitang, e ainda
obrigando o PCCh a apoiar Chiang Kai Shek, respeitar o direito de propriedade
dos latifundiários. De acordo com Peng Pi lan.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) Isto significava que o PCCh devia mobilizar o
conjunto dos operários e dos camponeses para apoiar a expedição do Norte
comandada por Chiang Kai Shek. A partir dali, os operários estavam obrigados a
não violar os direitos de propriedade burguesa; negava-se aos camponeses o
direito de tomar posse das terras em mãos dos latifundiários, sob o pretexto de
que era cedo demais; o PCCh não podia fazer nenhum trabalho de propaganda entre
as tropas do Kuomintang ou organizar algo em suas fileiras. Em particular, o
PCCh não devia instaurar sua própria estratégia, baseada nos soviets de
operários, camponeses e soldados, porque isto ameaçava prejudicar a colaboração
entre o Kuomintang e o PCCh, e constituiria uma “louca aventura” que superava
“a etapa da revolução nacional”. A revolução chinesa foi levada, passo a passo,
a um beco sem saída no caminho de sua destruição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Enquanto isso, o movimento operário em
ascenso aos poucos vai conhecendo a própria força. As manifestações e os levante
continuam a eclodir, até que em 21 de maço organizam um levante armado em
Xangai, fazem mais de 2000 piquetes. De acordo com Peng Pi lan.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Os trabalhadores de Xangai organizaram uma
insurreição armada no dia 21 de março de 1927, em resposta ao avanço da
expedição do Norte. No dia seguinte, ocuparam a cidade inteira, com exceção das
concessões estrangeiras. Organizaram-se mais de 2000 piquetes armados para
manter a paz e a ordem. Os operários meteram-se nos sindicatos e no PCCh
abrindo a perspectiva de instaurar um regime proletário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O PCCh não volta seu apoio ao
movimento. Com isso o movimento insurrecional deixa de espalhar-se pela China.
Além de perder uma oportunidade histórica de abrir uma fase revolucionária no
país, a falta de apoio deixa o movimento operário no terreno da reação. De
acordo com Peng Pi lan.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Logo, na manhã do dia 12 de abril de 1927, Chiang,
tendo-se beneficiado com o tempo necessário para montar um novo complô, deu o
sinal para começar o massacre de seu segundo golpe. Muitos comunistas e
operários caíram nas mãos dos verdugos em Xangai, e Chiang recolheu os lucros
da revolução. Esse era o inevitável desencadeamento da insistência de Stalin
para seguir uma política de colaboração com o Kuomintang e de ajuda a Chiang em
sua expedição ao Norte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Assim, a segunda revolução chinesa foi
sacrificada para a preservação da posição privilegiada da burocracia na Rússia.
A 21 dias do levante de Xangai<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Chiang entrou na cidade como libertador, desarmou
as milícias operárias, prendeu e massacrou os líderes sindicais e comunistas,
que foram jogados nas caldeiras das locomotivas. O “massacre de Xangai” (de 12
de abril de 1927) deixou mais de cinco mil mortos. Chiang conseguia ser ao
mesmo tempo o libertador da China e o defensor das classes possuidoras, contra
a revolução social. De Xangai, ele partiu para esmagar as rebeliões camponesas
no Sul.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">No mesmo ano (1927) eclode um novo
levante em Catão, porém desta vez o movimento é muito mais radical em suas
consignas. Por meio de comitês de fábrica (sovietes) estabeleceram controle
operário da produção, determinaram a nacionalização da grande indústria e
confisco das habitações da grande burguesia. Também levantaram a consigna
“Abaixo o Kuomitang!”. Em meio aos massacres que já haviam sido impostos ao
movimento operário pelas tropas de Chiang Kai Shek, o levante de Catão ficou
isolado e foi derrotado. A derrota do levante operário de Catão consolidava a
derrota da segunda revolução chinesa (1925-1927).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">Nesse período (1927-1928) tem-se o
desenvolvimento de divergências dentro da Oposição de esquerda sobre o papel do
proletariado da China. A polemica estava exposta, por uma lado nas posições de
Preobrazhensky e Radek e na oposição colocada por Trotsky. Para Preobrazhensky,
o proletariado não poderia cumprir papel independente na China, pois na China o
proletariado não poderia passar por cima da fase democrático-burguesa, nesse
sentido não necessitava naquele momento da ditadura do proletariado. O eixo
central da polêmica passa pela interpretação das revoluções proletárias na
Rússia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Segundo análise de Preobrazhensky (...) só depois de ter sido realizada a revolução democrático-burguesa,
porém sem ter sido completada, em fevereiro, que Lênin levantou a consigna de
ditadura do proletariado, a consigna da revolução que deveria, <i>en route</i>,
completar a revolução democrático-burguesa e passar à reconstrução socialista
da sociedade. O mesmo deveria ser feito na China, primeiro lutar pelas demandas
democrático-burguesas, depois que se estabelecesse a ditadura operário-camponesa
é que se poderia iniciar a luta pelo socialismo. Ao transpor, a seu
intendimento, o exemplo do processo revolucionário russo para a China,
Preobrazhensky assume uma perspectiva evolucionista da revolução proletária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) as duas revoluções chinesas ainda não
conseguiram o que nós conseguimos apenas em fevereiro, nem no sentido de
conquistas materiais nem, o que é mais importante, no sentido de criar as
condições para a organização de soviets de operários e camponeses em escala
massiva, algo que nós obtivemos imediatamente depois da queda do czarismo.
(...). Resumo: a China ainda tem pela frente uma luta colossal, amarga e
prolongada por questões elementares como a unificação nacional, e nem falar do
problema colossal da revolução democrático burguesa agrária. É impossível dizer
hoje se a pequena burguesia chinesa poderia criar partidos análogos a nossos
social-revolucionários, ou se tais partidos serão criados pelos comunistas da
ala direita que rompam com o partido, etc. Há somente uma questão clara. A
hegemonia do futuro movimento ainda pertence ao proletariado, porém o conteúdo
social da primeira etapa da futura revolução chinesa não pode ser caracterizado
como um giro socialista. (...) A revolução chinesa será dirigida desde o começo
pelo proletariado, e este exigirá pagamento por isso desde o começo porém,
apesar deste fato, a primeira etapa desta revolução permanecerá no estágio do
giro democrático burguês, enquanto que a composição das forças organizadas
estatais e atuantes continuará sendo a da ditadura do proletariado e dos
camponeses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Esta análise etapista da revolução leva
Preobrazhensky a aproximar-se cada vez mais das posições stalinistas. Trotsky
em debate com Preobrazhensky analisava que também na China a burguesia era
incapaz de leva a cabo as tarefas democrático-burguesas. Mesmo porque para o
autor a defesa da ditadura democrático-burguesa do proletariado e dos
camponeses leva a dissolução do proletariado na ditadura dos camponeses, e isso
levaria inevitavelmente ao fracasso da revolução socialista. Para Trotsky a
China já estava madura para a ditadura do proletariado, seria a ditadura
proletária, apoiada pelos camponeses, que resolveria as demanda democráticas do
povo chinês.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A Rússia estava madura para a ditadura do
proletariado como única forma de solucionar todos os problemas nacionais; porém
no que diz respeito ao desenvolvimento socialista, este, que surge das
condições econômicas e culturais de um país, está indissoluvelmente ligado ao
desenvolvimento futuro da revolução mundial. Isto se aplica total e
parcialmente à China. Se este era um prognóstico há oito ou dez meses (um tanto
atrasado), então hoje é uma dedução irrefutável que surge da experiência do
levantamento de Cantão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para o revolucionário, tratava-se de
defender o protagonismo operário, entendendo que apenas o proletariado é que
poderia levar a cabo a revolução democrático-burguesa. A revolução deveria ser
operária com apoio do campesinato. A direção do processo seria do operariado
organizado em um Partido Comunista, a burguesia ficaria fora desta aliança. A
perspectiva defendida pelo PC russo era muito próxima da estratégia menchevique
de 1917.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A análise de Trotsky era baseada na
importância do levante de Catão em 1927, esta insurreição operária demonstrava
que havia condições para política autônoma do proletariado. Durante a
insurreição o proletariado chinês criou sovietes, colocou-se a tarefa de tomar
o poder, tentou nacionalizar as fábricas, expulsando inclusive o Kuomitang. “<i>o
Soviet de Cantão emitiu decretos que estabeleciam</i> [...] <i>o
controle operário da produção, efetuando este controle através dos comitês de
fábrica </i>[e] [...] <i>da nacionalização da grande indústria, do
transporte e da banca”</i>. <i>“o confisco de todas as habitações da
grande burguesia para sua utilização pelos trabalhadores </i>[...]<i>”</i>.
Os operários de Catão autoorganizaram-se independentes da burguesia e do
campesinato, esta ação independente “revelou o vazio da consigna de revolução
democrático-burguesa”, colocando em seu lugar o ímpeto dos operários contra a
propriedade privada e bases férteis para luta pelo socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para Trotsky o programa dos operários
de Catão era muito mais radical que o dos operários russos em 1917. “As forças
de classe e os programas que surgem inevitavelmente delas foram expostos pela
insurreição em toda sua legitimidade. A melhor prova disso é: que foi possível
e necessário prever a relação de forças que a insurreição de Cantão revelou”. O
programa destes operários incluía não só o confisco de qualquer propriedade
feudal que ainda existisse na China; não só o controle operário da produção,
mas também a nacionalização da grande indústria, da banca e do transporte,
assim como o confisco das habitações burguesas e de todas as suas propriedades
para uso dos trabalhadores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para Trotsky o proletariado chinês
poderia ter uma política autônoma articulada ao ímpeto dos camponeses. Durante
a insurreição de Catão, “uma das consignas de luta do levantamento de Cantão
era: “Abaixo o <i>Kuomintang</i>!” As bandeiras e as insígnias do <i>Kuomintang</i> foram
arrancadas e pisoteadas”. Isto apontava que o proletariado, também na China
seria a vanguarda da revolução socialista. Comparando a insurreição de Catão
com a insurreição de fevereiro na Rússia, Trotsky destaca que na Rússia a
revolução democrática não conseguiu resolver a questão agrária. Apena com a
revolução proletária de outubro é que se pode levar a cabo as demandas
democráticas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Pode-se objetar que a revolução agrária ainda não
foi resolvida na China! Certo. Porém tampouco foi resolvida em nosso país antes
do estabelecimento da ditadura do proletariado. Em nosso país não foi a
revolução democrático-burguesa, mas sim a socialista que conquistou a revolução
agrária, a qual, aliás, foi muito mais profunda do que a que é possível na
China, vistas as condições históricas do sistema chinês de propriedade da
terra. Pode-se dizer que a China ainda não amadureceu para a revolução
socialista. Porém esta seria uma maneira abstrata e morta de colocar a questão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Pensando as similitudes entre a
revolução na Rússia e os processos da revolução chinesa, um país de
desenvolvimento capitalista atrasado, Trotsky, pensando a debilidade das
burguesias nacionais nos países subdesenvolvidos re-elabora a teoria da
revolução permanente. Entre as teses centrais do texto esta:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">1) A vinculação entre a revolução
democrática e a revolução socialista. Com política independente o proletariado
é o único realmente capaz de dirigir as lutas democrático-burguesas até atingir
a realização do socialismo e avançar para o comunismo, por meio do transcrecimento
das demandas democráticas em ditadura do proletariado e em socialismo. A
passagem de uma fase para outra deve se dar em avanço permanente, sem uma fase
estabilização intermediária. Conforme o autor destaca na tese 2 da revolução
permanente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Para os países de desenvolvimento burguês atrasado
e, em particular, para os países coloniais e semicoloniais, a teoria da
revolução permanente significa que a resolução íntegra e efetiva das suas
tarefas democráticas e de libertação nacional somente pode ser concebida por
meio a ditadura do proletariado, que se coloca à cabeça da nação oprimida e,
primeiro de tudo, das suas massas camponesas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O proletariado precisa então lutar
pelas demandas democráticas ao mesmo tempo em que luta pelas demandas
históricas do socialismo. Com a direção da revolução democrática sendo exercida
pelo proletariado “No decurso de seu desenvolvimento, a revolução democrática
transforma-se diretamente em revolução socialista e torna-se assim uma
revolução permanente”. A aliança com o campesinato é imprescindível, sem esta
aliança não se pode resolver a questão da concentração de terras nas mãos dos
latifundiários. O campesinato terá que defrontar-se com estes senhores de
terras. Sobre este ponto o autor destaca:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Não só a questão agrária como também a questão
nacional atribuem ao campesinato que constitui a enorme maioria da população
dos países atrasados, um papel excepcional na revolução democrática. Sem a
aliança entre o proletariado e os camponeses, as tarefas da revolução
democrática não podem ser realizadas; nem sequer podem ser seriamente
colocadas. Mas a aliança destas duas classes não poderá realizar-se a não ser
através duma luta implacável contra a influência da burguesia liberal nacional.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O ponto dois (2) destaca que a tomada
do poder pelo proletariado é apenas o inicio da revolução socialista. Na
Rússia, durante a reação termidoriana o <i>triunvirato</i> Stalin,
Rykov e Bukharin afirmava que a tomada do poder constituía 90% da revolução, ao
que Trotsky, refletindo sobre os desdobramentos sociais da revolução de
fevereiro e outubro de 1917, tomará posição oposta. Para o revolucionário, a
tomada do poder pelo proletariado redefine totalmente o solo das classes
sociais, com isso afloram uma série de contradições e enfrentamentos sociais.
Assim, conforme o autor destaca na tese 9 da revolução permanente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A conquista do poder pelo proletariado não completa
revolução; limita-se a iniciá-la. A construção socialista só é concebível na
base da luta de classes à escala nacional e internacional. Dado o domínio
decisivo das relações capitalistas na arena mundial, esta luta conduzirá
inevitavelmente a erupções violentas, isto é, a guerras civis internas e a
guerras revolucionárias no exterior. É nisso que consiste o caráter permanente
da própria revolução socialista, quer se trate de um país atrasado que acabe de
realizar a sua revolução democrática, quer dum velho país capitalista que já
passou por um longo período de democracia e de parlamentarismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Também relacionado a discussão posta,
quando se analisava a Rússia como exemplo para novas revoluções proletárias, o
socialismo num só pias era posto em evidência. Trotsky opunha-se a disseminação
desta fórmula cotra-revolucionária par outros processo revolucionários. Para o
autor (3) constituía erro profundo, e ruptura com o marxismo a separação da
revolução nacional da internacional. Isso porque a revolução internacional é a
única forma de desenvolver o socialismo. A revolução socialista pode ocorrer em
qualquer país do mundo, porém só atingirá a forma social socialista com a
completude da revolução proletária mundial. De acordo com o autor na tese 10 da
revolução permanente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O triunfo da revolução socialista é inconcebível
nos limites nacionais. Uma das causas essenciais da crise da sociedade burguesa
reside em que as forças produtivas por ela criadas não podem se conciliar com
os limites do Estado nacional. De onde surgem as guerras imperialistas por um
lado e a utopia dos Estados Unidos burgueses da Europa por outro. A revolução
socialista começa no terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e
completa-se na arena mundial. Assim, a revolução socialista torna-se permanente
num sentido novo e mais amplo do termo: só está acabado com o triunfo
definitivo da nova sociedade sobre todo o nosso planeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">As demandas democráticas (divisão do
latifúndio, habitação, alimentação, liberdades políticas, educação, igualdade
racial, igualdade sexual, liberdade de palavra, de imprensa, de reunião, de
associação, de opinião, direito de greve, etc), nos países subdesenvolvidos
adquirem muito peso social, é impossível falar de revolução nestes países sem
tocar nestes pontos. Também nestes países as demandas democráticas só podem ser
realizadas pelo proletariado por meio de uma ditadura proletária,
principalmente pois a burguesia é muito frágil, gelatinosa. Além disso, por
conta de seu desenvolvimento histórico, nestes países a burguesia é atrelada ao
latifúndio e ao capital financeiro internacional, desta forma, sem o imperativo
proletário jamais poderá realizar-se uma reforma agrária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Por todas as tarefas organizativas
sociais, a revolução proletária apoiada nos camponeses e nas massas
empobrecidas é sempre apenas o primeiro passo para a construção do socialismo.
Será necessário um salto em direção a auto-organização como forma de seguir em
busca da autoemancipação para a construção do socialismo, como uma sociedade
baseada na autoorganização das capacidades humanas como forças próprias, como
controle coletivo livre, autoconsciente e universal dos trabalhadores sobre o
processo de produção e assim da organização social. Porém, como a história já o
colocou diversas vezes desde a revolução russa, se a revolução permanecer
isolada da cadeia mundial ela será sufocada, mais cedo ou mais tarde, pelas
potencias capitalistas, agudizar-se-ão as contradições internas e externas. É
necessário então um partido comunista internacionalista, que pensando as
particularidades de cada país e as demandas históricas da cada classe operária,
de forma dialética, organize o proletariado do mundo inteiro na luta pela
emancipação humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>REVOLUÇÃO PERMANENTE E A TERCEIRA
REVOLUÇÃO CHINESA</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Sabendo que a teoria da revolução
permanente não fora adotada na segunda revolução na China (1925-1927), fiquemos
atentos então a qual estratégia fora adotada pelo PCCh durante a terceira
revolução chinesa decorrida em 1949. Depois do massacre da revolução de
1925-1927, recebendo ataques permanentes das tropas de Chiang Kai-shek, o
proletariado chinês demora muito para se recompor. Mesmo com as prisões e
assassinatos dos militantes operários e direções revolucionários, com
considerável baixa nos quadros revolucionário, o PCCh sob orientação do Kremlin
que inistia que o capitalismo estava próximo da derrocada final e que era
necessário organizar todas as forças imediatamente e tomar o poder, num giro
ultra-esquerdista determina em 1930 uma onda de novas insurreições, o resultado
já era previsto pelos militantes anti-stalinistas, concretizaram-se novos
fracassos e novos massacres, o que praticamente dizimou o PCCh e minou sua
influencia entre os operários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em seguida sob a direção stalinista de
Mao Tsetung e Chuh Teh empreendeu-se a retirada em direção ao campo, onde criam
“bases vermelhas”. A partir de então, e por longo tempo, toda a força do PCC
estaria concentrada no campo, a reconstrução da vanguarda operária
revolucionária ficou relegada a segundo plano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O campesinato provou-se capaz de
grandes lutas e enfretamentos, resistira ade 1930 a 1933 a quatro ataques das
tropas de Chiang, sendo que o quinto ataque em 1934 obrigou o exército camponês
a empreender em outubro de 1934<i>A longa Marcha </i>para o noroeste. Até
outubro de 1935 a <i>Longa Marcha</i> percorreu logos dez mil
quilômetros a pé. Depois de um ano, dos cem mil que partiram, apenas nove mil
chegaram. Porém, ainda assim, materializava-se uma mudança no sujeito da
revolução. Esta mudança estratégica faria toda diferença mudaria toda a linha
da revolução chinesa. Conforme destaca Peng Shu Tsé, com a retirada ao campo, o
PCCh “degenerou gradualmente de partido operário a partido camponês”. De acordo com o
revolucionário<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A principal razão de semelhante juízo é a seguinte:
depois da derrota da segunda Revolução, o PC chinês abandonou o movimento
operário das cidades, deixou de lado o proletariado urbano e girou
completamente para o campo. Dedicou todas as suas forças aos combates
guerrilheiros camponeses, e em conseqüência englobou dentro do partido uma
importante quantidade de camponeses. O resultado foi que a composição da base
do partido tornou-se puramente camponesa. Apesar da participação de alguns
elementos operários que haviam deixado as cidades, o débil número destes
operários não bastou para determinar a composição do partido. Além disso, no
transcurso de uma estadia prolongada no campo, estes elementos adotaram pouco a
pouco as perspectivas do campesinato em sua ideologia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A mudança de base fez do PCCh um
partido pequeno burguês. O PC chinês não tinha mobilizado as massas operárias e
dependia somente das forças armadas camponesas para conquistar o poder, isso
revela a natureza pequeno burguesa desse partido. Assim<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) no “partido operário-camponês” não são os
elementos proletários que assimilam os camponeses, mas sim o contrário, são os
elementos camponeses que englobam os demais. Assim portanto, do ponto de vista
revolucionário, nunca é possível para duas classes ter um peso igual em um
partido comum. Em conseqüência, um “partido operário-camponês” chamado
bipartido é sempre um instrumento reacionário de políticos pequeno burgueses
pronto para decepcionar a classe operária<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os trabalho do PCCh
com operariado, na prática, foi secundarizado. Mas a luta interna no
PCCh continuava, em 1931, um grupo de trotskystas fundam a Liga Comunista da
China que reivindicava a estratégia da revolução proletária dirigida pelo operariado,
para a Liga tratava-se de expandir a base operária do partido. Porém este grupo
era pequeno para conseguir mudar a orientação do PCCh.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Mas, como aponta o revolucionário
comunista chinês Peng Shu Tsé, durante o período do pós-guerra, entre setembro
de 1945 e o final de 1946, tem-se “um considerável florescimento e um
nascimento do movimento de massas. Durante este período, as massas
trabalhadoras em todas as grandes cidades, sendo Xangai o seu centro, exigiram
a escala móvel de salários, o direito sindical e se opuseram ao bloqueio de
salários”. O movimento operário nas ruas desencadeia uma onda de greves e de
manifestações. Os operários (...) iniciaram um combate resoluto contra a
burguesia e seu governo reacionário pela melhoria de suas condições de vida e de
sua situação geral. Este movimento teve grande êxito; foi, sem dúvida alguma, a
expressão do despertar do movimento operário chinês”. O levante operário
articula-se aos camponeses e estudantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Ao mesmo tempo, nas massas camponesas, os fermentos
da revolta ferviam sob o peso das contribuições forçadas, dos impostos em
espécie, a conscripção, a ameaça de fome, e as desordens já haviam estalado nas
regiões controladas por Chiang Kai Shek. Os estudantes, representando a
pequena-burguesia em geral, iniciaram uma série de protestos, greves,
manifestações em grande escala em cidades como Chungking, Nanquim, Xangai,
Pequim, etc, sob as bandeiras e consignas que pediam a democracia e a paz
contra a ditadura do Kuomintang, contra a mobilização para a guerra civil e contra
a repressão dos agentes do Kuomintang.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">As lutas se intensificam e se
radicalizam a cada ato. “As lutas operárias, os fermentos de ódio e de rebelião
nos camponeses, as grandes manifestações estudantis, completadas pela
debilidade e a corrupção do regime de Chiang Kai Shek e pelo fortalecimento do
PC chinês, criavam visivelmente uma situação pré-revolucionária”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Porém, para Peng Shu Tsé, o PCCh ainda
não estava preparado para dirigir uma batalha revolucionária pelo socialismo, o
Partido vacilou frente a pressão proletária, não conseguiu ligar as demandas
democráticas à revolução proletária e a ditadura do proletariado apoiada pelos
camponeses,“Se o PC chinês tivesse se mostrado então à altura da situação, isto
é, tivesse aceitado “a pressão das massas”, levantando consignas com as
reivindicações de reformas democráticas, e especialmente, a reforma agrária,
teria transformado rapidamente a situação de “pré-revolucionária” numa situação
diretamente revolucionária, e pela insurreição teria conquistado o poder da
maneira mais propícia”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Esta estratégia desastrosa, que
desperdiçava os ânimos revolucionários das massas tem causação histórica. A
direção do PCCh continuava alinhada com o PC russo, considerando as demandas do
operariado insurgente como sendo muito radicais, buscando impedir seus
“excessos”, e junto com o bloqueio dos “excessos”, bloqueava também toda
mobilização autônoma das massas proletárias. Como analisa Peng Shu Tsé o PCCh<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">pactuou servilmente com os sindicatos amarelos com
o objetivo de fazer fracassar as reivindicações “excessivas” dos operários. No
campo, suas atividades se limitaram à organização de guerrilhas, e evitou por
todos os meios qualquer movimento de massas amplo que teria encorajado e
unificado as massas camponesas. O grande movimento dos estudantes foi utilizado
como um simples instrumento com o único objetivo de fazer pressão sobre o
Kuomintang para que aceitasse os porta-vozes de paz, e nunca se ligou às greves
dos operários num combate comum contra o regime de Chiang Kai Shek.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">De acordo com o balanço do
revolucionário, o PCCh não se colocava a tarefa de organizar o proletariado
para a derrubada do governo Chiang Kai Shek e levar a cabo a reforma agrária,
como forma de articular o campesinato ao proletariado insurgente das cidades.
Ao invés disso, o PCCh tendo a frente Mao Tse Tung, queria criar um governo de
coalizão com Chiang Kai Shek e com as burguesias da China, para isso o PCCh
lutava intensamente para convencer o proletariado chinês da necessidade
histórica desta aliança entre as quatro classes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) Contrariamente ao que teria que fazer:
mobilizar as massas na luta pelo poder sob as consignas de “derrubada do
governo de Chiang e reforma agrária”, o PC chinês se curvou frente a Chiang Kai
Shek e queria um governo de coalizão (com esse objetivo, Mao foi a Chunking
para negociar diretamente com Chiang, e inclusive lhe expressou seu apoio em
encontros de massas). O PC chinês fez todo o possível para reunir os políticos
das camadas altas da burguesia e da pequena burguesia e estabelecer
conversações de paz por iniciativa do imperialismo norte-americano. No que
concerne às lutas reivindicativas da classe operária, o PC chinês não apenas
não lhes ofereceu uma direção positiva para transformar essas lutas econômicas
em lutas políticas, o que era muito possível neste momento, como ao contrário,
com o objetivo de fazer “frente única” com a burguesia nacional, persuadiu os
trabalhadores a não ir até os “extremos” em suas lutas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>PODE UMA DITADURA CAMPONESA CONDUZIR AO
SOCIALISMO?</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O PCCh rebaixando o programa do
operariado e debastando suas mobilizações, inclinava-se cada vez mais para
conseguir acordos com as classes dominantes, Mao Tse Tung propunha inclusive a
fusão militar de seus exércitos com os de Chiang Kai Shek. Porém Chiang Kai-shek,
apoiado por tropas norte-americanas, frente a crescente onda de levantes,
empreende a partir de junho de 1946 nova ofensiva contra o proletariado e o
PCCh. O PCCh tenta se apoiar no Kremlin contra o Kuomitang e Chiang, mas o PC
russo manteve-se ao lado de Chiang Kai Shek, abandonando o PCCh a sua própria
sorte, para que fosse dizimado. O PC russo acreditava que o PCCh não teria
chances contra as tropas de Chiang, então o PCCh deveria deixar-se dissolver. O
PC russo voltou seu apoio a Kuomitang inclusive reconhecendo diplomaticamente
seu governo na China, supondo que o PCC seria derrotado numa nova guerra civil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Com a intensificação das perseguições,
da repressão e o risco de ser disimado pelas tropas de Chiang, expulso da
coalizão que sustentava a anos, e num instinto de auto-sobrevivência o PCCh,
que estava à direita das massas, busca abrigo no proletariado. Esse era seu
ultimo refúgio, porém para se embrenhar no seio do operariado, o PCCh se vê
obrigado também a fazer algumas concessões às reivindicações das massas, tendo
que lutar ao lado do povo o PCCh se viu brigado a ultrapassar seu próprios
limites. Somado as mobilizações operárias e camponesas o 4° e 8° Exércitos
foram denominados Exército Libertação do Povo. De acordo com Peng Shu Tsé<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Finalmente, quando o governo de Chiang tornou
pública a “ordem de prisão de Mao Tsé Tung” (25 de junho de 1947) e proclamou o
“decreto de mobilização para suprimir as revoltas” (4 de julho), depois de
vários meses de vacilações durante os quais o PC chinês pareceu esperar as
ordens de Moscou, publicou em 10 de outubro um manifesto em nome do “Exército
de Libertação do Povo” chamando à derrubada de Chiang Kai Shek, à construção de
uma “Nova China”. Ao mesmo tempo, levantou novamente sua “lei agrária” que
expropriava os latifundiários e os camponeses ricos (excluindo suas
propriedades comerciais e industriais) e que redistribuía as terras aos
camponeses que não possuíam nada ou muito pouco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para Peng Shu Tsé a mudança estratégica
do PCCh era uma mudança considerável na estratégia política com relação o
período em que apoiava Chiang Kai Shek e abandonava a reforma agrária em 1937.
Abandonando esta consigna o PCCh isolava a luta camponesa da luta operária.
Porém para o autor esta mudança de estratégia não fora levada a cabo por conta
das pressões da massa proletária, e sim devido a conclusão a que chegara o PCCh
que a aliança como o Kuomitang mostrava-se inviável. Para “manter sua própria
existência e continuar se desenvolvendo, o PC chinês é obrigado a buscar um
apoio em certas camadas das massas e a estabelecer uma base entre elas”. Assim,
para o autor, fora a ruptura total de Chiang Kai Shek com o PCCh que obrigara
redefinição de sua estratégia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Esta mudança era o resultado da “pressão as
massas”? visivelmente não. Nesse momento o movimento de massas já havia sido
esmagado pelo regime de Chiang e estava em um nível muito baixo, os agentes do
Kuomintang castigavam em toda parte, milhares de estudantes haviam sido presos,
torturados e inclusive assassinados, os elementos ativos da classe operária
haviam sido presos ou expulsos. Estes fatos mostram indiscutivelmente que o
giro do PC chinês proveio somente do fato de que Chiang Kai Shek havia cortado
todas as pontes que levavam a um compromisso e que o PC chinês tinha que se enfrentar
com a ameaça mortal de um ataque violento cujo objetivo era quebrá-lo para
sempre. Então, podemos dizer que este giro deveu-se mais à “pressão de Chiang”
que à “pressão das massas”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para efetuar este giro à esquerda o
PCCh se viu obrigado a romper com os Kulaks (camponeses ricos) e os comerciante
ricos da China. “No curso desta luta, o PC chinês liquidou todos os privilégios
acordados até então com os latifundiários e os kulaks, re-expropriando e
distribuindo as terras aos camponeses pobres. Arrancou os latifundiários e os
kulaks dos postos que ocupavam na administração local, no exército e no
Partido”. Com o distanciamento dos Kulaks, o PCCh passou-se a apoiar
diretamente a organização dos camponeses pobres.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Criaram-se Comitês de camponeses pobres, aos quais
se outorgou alguns direitos democráticos para que pudessem combater aos
senhores e aos kulaks, autorizou-se a crítica aos quadros locais do Partido, e
alguns foram inclusive expulsos de seu posto e castigados. Todos estes atos
deram ao PC chinês um fortalecimento considerável em sua base camponesa e em
sua força militar. Porém não se pode esquecer que esse “esquerdismo” não era
mais que fruto da “pressão de Chiang.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em 1948, o Exército Libertação do Povo
passou à ofensiva na Manchúria, no Norte e na China Central. Em janeiro de
1949, o PCCH e o Exército Libertação do Povo entraram Pequim, Chiang fugiu. Em
outubro de 1949 eclode a terceira revolução chinesa, após a completa vitória
militar do PCCh e do Exército Popular de Libertação contra o KMT e as tropas de
Chiang Kay Shek, é proclamada a República Popular da China (RPC), com capital
em Pequim. Os nacionalistas, sob Chiang Kai-shek, retiram-se para Taiuan
(Formosa). (dezembro).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Mao visita a URSS em 4 de março de
1950, assinando, com Stalin, o Tratado de Amizade, Aliança e Ajuda. Por meio
deste Tratado de Cooperação com a URSS foi destinado a China um empréstimo 300
milhões de dólares em cinco anos. Além disso, foram composta três companhias
mistas com a URSS, que enviava vários técnicos à China. No mesmo ano, sobre a
política do PCCh no governo da República Popular da China, Mao continua
defendendo a estratégia do “bloco das quatro classes”. A República Popular da
China constituía um governo de coalizão com a burguesia, e não de uma sociedade
socialista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Nós entendemos que a meta desta revolução não é
acabar com a burguesia em geral, mas é acabar com a opressão nacional e feudal;
que as medidas tomadas nesta revolução não visam a abolir, mas a proteger a
propriedade privada, e que, como resultado desta revolução, a classe
trabalhadora poderá constituir a força que conduzirá a China ao socialismo,
embora o capitalismo possa ainda crescer em certa medida durante um tempo
bastante longo. 'Terra para os pequenos proprietários' significa a
transferência da terra dos exploradores feudais para os camponeses,
transformando a propriedade privada dos senhores feudais em propriedade privada
dos camponeses, emancipados das relações agrárias feudais, permitindo assim a
transformação de um país agrícola em um país industrial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Mao Tse Tung não colocou-se a tarefa de
constituir a ditadura do proletariado, ancorado na “revolução por etapas”, no
“bloco das quatro classes”, na “nova democracia”, poupou os capitalistas. A
chegada do PCCh ao poder, um partido eminentemente camponês, está envolta em
uma série de contradições. Segundo análise do revolucionário chinês Peng Shu
Tsé “o PC chinês chegou a esta verdadeira vitória com seu programa menchevique
extremamente reacionário da “revolução por etapas”, apoiando-se nas forças armadas
camponesas que estavam completamente desconectadas da classe operária das
cidades”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt;">
<span style="font-size: large;">A revolução eclodiu não tinha nem
programa nem direção proletária, pelo contrário, o PCCh procurava a todo custo
manter o proletariado urbano isolado da revolução. Estes elementos
caracterizavam a revolução chinesa desde o inicio, de acordo com Peng Shu Tsé,
como uma revolução “deformada”. Completamente distinto do que foi a revolução
russa de outubro de 1917. Desta forma para o autor, o regime que se
estabeleceu, após a revolução, devia ser caracterizado como um tipo de
dominação ditatorial burocrática. Havia se criado mais um “Estado operário
deformado”, pois o permanecia sendo um partido stalinista e seu regime, uma
ditadura burocrática. Segundo análise do autor, baseada nas relações de classe
e nas relações de propriedade, a terceira revolução chinesa se apoiava “sobre a
base social da pequena burguesia, depende do campesinato quanto a sua base e é
uma ditadura militar bonapartista. Em última instância portanto, do ponto de
vista de seu papel fundamental na relação de propriedade, é um regime burguês”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Porém qual é a situação real do regime estabelecido
pelo PC chinês? No que diz respeito às relações de classe, este regime proclama
ser um “governo de coalizão das quatro classes” (operários, camponeses, pequena
burguesia e burguesia nacional). É muito claro então que este regime não está
controlado ou “sob a direção” do proletariado. De fato, a base social do regime
está constituída pela pequena burguesia, na qual os camponeses constituem a
maioria. Ainda que a burguesia não tenha um papel decisivo no governo, em
comparação com o proletariado ela desempenha um papel predominante (ao menos em
aparência). Nas relações de propriedade, este regime não apenas não aboliu o sistema
de propriedade privada, como ao contrário, promulgou deliberadamente leis e
regulamentos para proteger a propriedade privada, para desenvolver a economia
da suposta “Nova democracia”, isto é, uma economia não socialista. Então devo
perguntar: sobre que base podemos afirmar que este regime é uma “ditadura do
proletariado”?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">De acordo com Peng Shu Tsé a base
essencial o novo regime era o enorme exército camponês, que era totalmente
dirigido pelo PCCh stalinista, que tinha imenso poder para determinar e controlar
o governo chinês. O PCCh dividia o poder com camadas superiores da pequena
burguesia que “ocupava posições significativas no regime. Por outro lado, o
proletariado estava em posição de subaltenização em relação a nova composição
de classe que dirigia o governo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Ainda que um punhado de indivíduos entre os
trabalhadores tenha sido designado para participar no governo (muito poucos têm
postos importantes), a classe operária em seu conjunto segue estando ainda em
uma posição subordinada. As massas operárias estão privadas dos direitos
fundamentais de eleições livres de seus próprios delegados (tais como soviets
ou outros comitês operários similares, etc) para participar neste regime e
controlá-lo; os direitos políticos gerais (liberdade de palavra, de reunião e
associação, publicação, crenças, etc) estão limitados consideravelmente e mesmo
completamente proibidos (como o direito de greve). Em conseqüência, ainda que
os operários sejam postos em evidência como os “amos” do regime, na realidade
não têm direito de “reivindicações” para a melhoria de suas condições de vida
para além dos “limites impostos pela lei”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-size: large;">A reforma agrária foi, em grande
medida, realizada em grande escala, por outro lado, nesse período, ainda
preservava “a propriedade industrial e comercial” dos latifundiários e dos
kulaks, assim como a “livre compra da terra” isto é, a não violação das
relações capitalistas de propriedade. Sob base camponesa pequeno-burguesa,
segundo o autor, o regime “arbitrava” entre o proletariado e a burguesia. Constituído
a partir de profundas e agudas contradições nas relações sociais e econômicas,
nas relações de classe e nas relações internacionais, para o autor esta
situação deveria ser transitória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 4.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Conseqüentemente, o regime em si mesmo está
carregado de contradições incompatíveis entre si e que são fortemente
explosivas. Do ponto de vista histórico, só pode ser de curta duração e
transitório. No desenvolvimento dos futuros acontecimentos, será obrigado a
eleger sua base social entre o proletariado e a burguesia para decidir sua
sorte entre o socialismo e o capitalismo. Caso contrário, será derrubado por
uma ou outra das classes, ou abatido pelas duas, e não será mais do que um
episódio no curso da história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Para Peng Shu Tsé, em novembro de 1951,
para que a revolução chinesa deformada seguisse em direção a uma vitória
proletária era necessário a uma reviravolta do proletariado, uma
revolução politca que derrubase o PCCh, com “Realização completa da reforma
agrária, liquidação de todos os vestígios feudais, expropriação de todas as
propriedades privadas da burguesia, culminação da estatização de suas
propriedades como base para uma construção socialista”. Nesse sentido, era
necessário combater o “governo de coalizão”, governo de colaboração de classes,
liquidando a ditadura bonapartista militar de Mao Tse Tung. Em vez desta,
tratava-se de estabelecer uma ditadura do proletariado dirigindo os camponeses
pobres para o socialismo. Caso não se seguisse esse caminho, outra via possível
seria a assimilação unificação da República Popular da China com a URSS.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A pressão proletária é crescente
durante a década de 1950, o PCC de Mao não consegui conte-la. Isso o obrigou a
avançar muito mais profundamente na revolução. As expropriações viriam apenas
por meio das pressões sociais. Três transformações socialistas eram exigidas:
expropriação da burguesia industrial, expropriação do comércio urbano e
implantação de um movimento cooperativo no campo. Marchou-se para a ditadura do
proletariado, mas essa não se concretizou. Lutando com todas as forças contra
as tendências revolucionárias, na defesa intransigente e policialesca da<i>teoria
da revolução por etapas</i>, os quadros dirigentes do PCCh de Mao, isolando o
movimento operário e a luta proletária, conseguiram quebrar o curso da revolução
permanente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O proletariado urbano foi mantido
isolado da atuação revolucionária. Mao Tse Tung continuava a perseguir, prender
e executar os marxistas revolucionários que queriam aprofundar ainda mais a
revolução até a conquista do socialismo e do comunismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Sob a égide stalinista, Mao impunha uma
ditadura bonapartista sobre o proletariado chinês. Um Estado operário deformado
nunca alcança existência estável. Após sua morte em 1976, assume Deng Shao Peng
em 1978, a partir desse momento inicia-se a linha restauracionista. Linha que
também estava sendo levada a cabo na URSS no mesmo período. Tem-se a
re-introdução do capitalismo e da economia de mercado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 18.0pt; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
</div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span>
<br />
<div style="line-height: normal; text-indent: 0px;">
<b>REFERÊNCIAS</b></div>
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Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-193505996028942879.post-25553820579086090332015-09-09T09:23:00.001-07:002018-10-06T08:44:39.080-07:00STALINISMO NA RÚSSIA: ESTADO OPERÀRIO, TERMIDOR SOVIÈTICO E BONAPARTISMO<div class="MsoNormal" style="text-align: left;">
<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: 19.8px;">Anotações de estudo, primeiro semestre de 2010</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-right: 2.45pt; text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Fazemos uma breve
análise acerca da organização do movimento operário russo na década
de 1920 e 1930, discutimos desde os primeiro giros à direita da<i>troika</i> Stalin,
Kamenev e Zinoviev, passando pelo <i>triunvirato</i> Stalin, Rykov e
Bukharin até a consolidação do período do terrorismo anti-soviético, ou a fase
termidoriana. Além de destacarmos as bases socais do que ficou conhecido como
stalinismo, ou seja a relação de dominação sobre o proletariado russo a partir
da aliança politica-governamental dos Kulaks (camponeses ricos) e dos <i>Nepmans </i>(comerciantes
ricos) com a burocracia anti-soviética, apontamos também de forma ligeira a
relativa autonomia que Stalin adquiriu em relação a estes grupos dominantes, o
que caracterizaria o período pós 1935 como a fase bonapartista do Governo
anti-soviético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>Palavras chave: Operários. Kulaks, Nepmans.
Stalinismo. Socialismo.</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b><br /></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>A TOMADA DO PODER É APENAS UM DECIMO DA
REVOLUÇÃO</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A tomada do Palácio de Inverno, em 25
de outubro de 1917, é desencadeada sem violência. Os bolcheviques queriam fazer
a revolução sem um banho de sangue. Em dezembro de 1917, o II Congresso dos
Sovietes aboliu a propriedade privada dos grandes latifúndios. Os comitês de
fábricas e os comitês operários, com mandatos revogáveis pela base, geriam a
produção. Em 1918 é decretada a expropriação da propriedade burguesa, com isso a
burguesia é suplantada como classe, embora a Rússia ainda não fosse socialista,
esta era a direção em que marchava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Porém a burguesia e os latifundiários,
por meio do exército branco restauracionista e suas nações aliadas não mediriam
esforços ou custos humanos para depor o proletariado do poder, neste contexto
dá-se inicio em 1918 a Guerra civil, um enfrentamento armado entre o
proletariado e a burguesia (em unidade com o imperialismo mundial). Esta
duraria não apenas dias ou semanas, mas sim cinco longos anos (1918-1921), sob
o <i>comunismo de guerra</i> intensificou-se o ritmo de trabalho no
país, tencionaram-se para produzi ao máximo para suprir com alimentos os
soldados que combatiam contra 14 exércitos que invadiam a Rússia, os
trabalhadores passam por mais um período de sacrifícios. A guerra e o comunismo
de guerra contribuíram muito para o esgotamento da classe operária russa. Além
disso, a guerra civil será responsável também pela eliminação de grande parte
da vanguarda revolucionária operária e marxista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os bolcheviques colocaram acima de tudo
a defesa da jovem república soviética. O que estava em jogo era a sobrevivência
do Estado operário diante da guerra civil, que combinava o ataque dos Guardas
Brancos com a invasão da Rússia por tropas estrangeiras. A situação
exigia posições firmes e incisivas contra a burguesia, a aristocracia e seus
agentes. Apenas em 1920, um ano antes do término da guerra civil, a pena de
morte foi abolida. Também durante a guerra civil os
bolcheviques se viram obrigados a proibir o funcionamento do partido Socialistas-Revolucionários e também dos mencheviques que co-organizavam o exército
branco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em 1921 tem-se também a sublevação dos
marinheiros de Krontadt contra os bolcheviques. Sobre ordem de Zinoviev, os
marinheiros são reprimidos. Com todos os problemas desta intervenção, se destacar que os marinheiros de 1921 não eram os mesmo de 1917. A maior parte
dos revolucionários de 1917, que tinham acúmulos imensos nas lutas contra o
regime tsarista teria sido remanejada para travar batalhas em defesa do
socialismo nascente, muitos sucumbiram na guerra civil, esta mudança de composição constitui elemento importante
para compreender o porque da sublevação e a repressão. (confira os escritos de Trotsky sobre
Krontadt).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os desafios internos e externos para
sustentar as conquistas de 1917 eram imensos, bem porque esta era a primeira
revolução socialista da história da humanidade. A tomada do poder foi apenas o
inicio do processo, agora tratava-se de extingui-lo para construção do
socialismo. Trotski, no <i>Balanço e perspectivas</i>,
afirmava que para construir o socialismo não bastava tomar o poder e fazer
decretos. Nas palavras do auto <b>“</b>O poder político não é
todo-poderoso. Seria absurdo acreditar que basta ao proletariado, para
substituir o capitalismo pelo socialismo, tomar o poder e fazer em seguida
alguns decretos. Um sistema econômico não é o produto de medidas tomadas pelo
governo. Tudo quanto o proletariado pode fazer é utilizar com toda a energia
possível o poder político para facilitar e encurtar o caminho que conduz a
evolução econômica para o coletivismo”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">V. I. Lênin e Leon Trotski</span><span style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;"> defendiam que
para revolução proletária triunfar, estabelecer o socialismo e marchar para o
comunismo era necessário que a revolução se espalhasse pelo mundo, ganhava centralidade então
o sucesso da revolução na Alemanha. Trotski, ainda no </span><i style="font-size: x-large; text-indent: 35.4pt;">Balanço e
perspectivas</i><span style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;">, destacava que: “Sem o apoio estatal direto do
proletariado europeu, a classe operária russa não poderá manter-se no poder e
transformar a sua dominação temporária em ditadura socialista durável. Sobre
isto, dúvida alguma é permitida. Mas também não há dúvida nenhuma de que uma
revolução socialista no ocidente tornar-nos-á diretamente capazes de
transformar a dominação temporária da classe operária numa ditadura
socialista”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"> Porém a posição revolucionária
fora traída na Alemanha em 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht teóricos e
dirigentes revolucionários foram assassinados. Assim, a derrota da revolução no
Ocidente (Alemanha e Hungria) e no Oriente (China), durante a década de 1920, isolou a revolução
russa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large; line-height: 18pt;">A Rússia ainda não era socialista Lênin
utilizava caracterizações que muitas vezes eram aparentemente contraditórias
para definir o que era a Rússia em transição: “Estado operário”, “Estado
operário e camponês”, “Estado burguês sem burguesia” e outras. Assim também
como o próprio Lênin reconhecia o avanço da burocratização do partido por conta
do isolamento da URSS. <span style="color: black;"><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/" target="_blank">Lênin afirmara “Não se trata de um estado completamente operário, aí está o <i>x </i>da questão (...)<i> </i>Em nosso país, o Estado não é, na realidade, operário, e sim operário e camponês" (</a></span></span><span style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: large;"><u>https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/12/30.htm)</u></span></span><span style="color: black; font-size: large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;"><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/" style="font-size: x-large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;" target="_blank">.</a> </span><span style="font-size: large; line-height: 18pt; text-indent: 47.2px;">No texto “A crise do partido”, de 30 de dezembro de 1920: </span><span style="color: black; font-size: large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;"><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/" target="_blank">De
fato nós temos um Estado operário, 1º, com a particularidade de que não é a
população operária mas a população camponesa que predomina no país; e 2º, um
Estado operário com uma deformação burocrática” (v. 5, p. 215). </a> </span><span style="font-size: large; text-indent: 47.2px;"><span style="line-height: 24px;">Em texto de 1922, Lênin mantém sua análise de que o Estado soviético sustentava deformações burocráticas. (https://www.marxists.org/portugues/lenin/1922/01/04.htm). </span></span><span style="font-size: large; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">Isso porque <span style="text-indent: 47.2px;">Lênin</span> tinha claro que para que a humanidade desse um salto na direção de
sua emancipação na construção do socialismo, como uma sociedade baseada na
autoorganização das capacidades humanas como forcas próprias, ou controle
coletivo livre, autoconsciente e universal dos trabalhadores sobre o processo de
produção, a revolução proletária não poderia limitar-se a um país só.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Também é clássica a afirmação feita por
Trotski no livro <i>A revolução traída</i> sobre o caráter e
limitações do Estado operário russo: “A princípio, o Estado operário não pode ainda
permitir a cada um trabalhar ‘segundo suas as capacidades’, o que significa
fazer o que quiser e puder, nem recompensar cada um ‘segundo as suas
necessidades’, independentemente do trabalho fornecido. O interesse do
crescimento das forças produtivas obriga a recorrer às habituais normas do
salário, isto é, à repartição de bens segundo a quantidade e a qualidade do
trabalho individual” (p. 35). Assim, para o autor a União Soviética era uma
sociedade intermediária entre o capitalismo e o socialismo”. (p.176).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>PERSEGUIÇÃO AOS REVOLUCIONÁRIOS E O
AVANÇO DO STALINISMO</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Mesmo com o fim a guerra civil em 1921, as contradições
sociais não cessaram. Dentro desse processo, desenvolveram-se importantes lutas internas no
país, primeiro pelo restabelecimento das forças produtivas que ficaram
arrasadas com a guerra. Depois ter-se-ia que combater elementos contraditórios
gerado pela política criada em 1921 para a reconstrução do país a NEP – Nova
Política Econômica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em 1922 <span style="text-indent: 47.2px;">Lênin</span> adoece, a direção do
partido é assumida pela <i>troika</i> Stalin, Kamenev e Zinoviev, que
em 1925 será sucedida pelo <i>triunvirato</i> Stalin, Rykov e
Bukharin, que se mantém no poder 1928. Durante esse período a revolução russa,
que estava ainda na sua fase inicial, será estagnada e totalmente
redirecionada. <span style="text-indent: 47.2px;">Lênin</span> em seu “testamento político” recomenda ao congresso do
partido o imediato afastamento de Stalin da Secretaria Geral, porém a<i>troika</i> censurou
o documento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A tendência contra-revolucionária
da <i>troika</i> é combatida pela “ala” esquerda do Parido e recua em
alguns momentos. Em 1923 os bolcheviques revolucionários lançam a “Declaração
dos quarenta e seis” exigindo a democratização do partido (que burocratiza-se a
largos passos) e mudanças na política econômica do país. Com a derrota da
revolução alemã em 1923 o isolamento da Rússia é consolidado, com isso a <i>troika</i> sai
fortalecida. A derrota da revolução alemã leva a marca da <i>troika</i>.
Zinoviev então presidente da internacional negara apoio ao proletariado alemão,
o que contribuiu para que se desse o massacre do proletariado em 1923.
A partir de 1924 a ala mais conservadora do Partido Bolchevique chega ao
controle do processo revolucionário, desse ano em diante tem-se o
desenvolvimento progressivo do Termidor Soviético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em 1926 a URSS acumula uma série de
contradições sociais que evoluem progressivamente, colocando em risco as
conquistas da revolução de outubro e a própria possibilidade de colaboração do
proletariado russo para uma revolução mundial. Trotski analisa que o Partido
Bolchevique não está pronto para resistir às ameaças contra-revolucionárias que
se desenvolvem internamente na Rússia, tenta então identificar as principais
tendências contrarevolucionárias e formas organizativas que possibilitem
combatê-las.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em suma, pensado o processo
revolucionário russo a luz de outros processos revolucionários já decorridos,
como a Revolução Francesa, Comuna de Paris, a Revolução de 1905 a Revolução de
outubro de 1917, em meio aos descaminhos da revolução russa após a morte de <span style="text-indent: 47.2px;">Lênin</span>, Trotski elabora em 1926 o texto <i>Tese sobre a revolução e
contra-revolução</i>, onde além de lições históricas dos processos
revolucionários faz um breve balanço da revolução russa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O autor destaca que a revolução é
impossível sem a participação das massas em grande escala, e que a revolução
sempre sofre um período de contra-revolução. Porém, mesmo com retrocessos, a
contra-revolução não consegue fazer retroceder a revolução até o seu ponto
inicial. As massas revolucionárias depositam sempre muitas esperanças de um
futuro melhor na revolução. Por isso Trotski afirma que as esperanças
desencadeadas pela revolução são sempre exageradas, o que dificulta ainda mais
a realização das expectativas gerais da massa revolucionária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Segundo o autor a revolução de massas
sempre apodera-se “de muito mais do que mais tarde será capaz de manter”. Desta
forma, todo processo revolucionário produz um <i>quantun</i> de
desilusão nas massas revolucionárias, uma vez que “A desilusão destas massas,
seu retorno à rotina e a futilidade, é parte integrante do período
pós-revolucionário tanto como a passagem ao campo da ‘lei e da ordem’ daquelas
classes ou setores de classe ‘satisfeitos’, que haviam participado na
revolução.” Como a motivação de estratos sociais podem variar, grupos podem
satisfazer-se com diferentes níveis das conquistas do processo revolucionário.
Assim, ao atingir sua demanda, parte das pessoas que apoiaram a revolução
ontem, após as primeiras conquistas pode deixar de apoiar seu avanço. Soma-se a
isso, o sentimento de desilusão causado pela projeção de expectativas imediatas
exageradas sobre o processo revolucionário, articulado com o esgotamento físico
e psicológico das massas combatentes. Essa soma de elementos sociais aumenta a
confiança das frações contra-revolucionárias, produzindo um terreno muito
propicio para que as forças contrarevolucionárias cresçam. Para o autor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A desilusão de um setor considerável das massas
oprimidas com os benefícios imediatos da revolução e – diretamente ligado a
isto – o declínio da energia política e da atividade da classe revolucionária
desencadeia um ressurgimento da confiança entre as classes contra-revolucionárias,
tanto entre aqueles derrotados pela revolução mas não completamente aniquilados
como entre aqueles que ajudaram a revolução num certo momento, mas foram
jogados ao campo da contra-revolução pelo devir da revolução.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Trotski analisa que na Rússia também houve uma fase de desilusão nas massas revolucionárias com
os frutos imediatos da revolução, diretamente relacionados com a melhora das
condições de vida, o proletariado continuava revolucionário, porém mais cético e cuidoso. Isto somado ao esgotamento físico e psíquico de revolucionários que
fizeram duas revoluções (1905 e 1917) e lutaram numa prolongada guerra civil
(1918-1921) produziu certamente o “declínio da energia política e da atividade
da classe revolucionária”, ao qual Trotski se refere.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Porem, ainda assim, a contra-revolução
não conseguira avançar devido o alcance e profundidade da revolução de outubro e também por causa de sua direção
proletária, “as velhas classes e instituições dominantes de ambas as formações
sócio-econômicas – a pré-capitalista e a capitalista (a monarquia com sua
burocracia, a nobreza, e a burguesia) – sofreram uma derrota política total”.
Mesmo com a invasão da Rússia por exércitos estrangeiros, ou seja com a
reação armada das classes dominantes nacionais e internacionais, a
contrarevolução não conseguiu derrubar a ditadura do
proletariado. Assim, um importante elemento que impedia a
restauração, tanto do absolutismo como da burguesia no país era justamente a
destruição completa das velhas classes dominantes, esta “é uma das garantias
contra o perigo da restauração”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">O campesinato pobre, os mujiques,
diretamente beneficiados pela divisão do latifúndio levada a cabo pelo
proletariado articulado nos sovietes e pelo Partido Bolchevique, constituíam
base social importante para impedir a restauração da monarquia e dos
latifundiários. Os camponeses pobres, que eram a maioria entre os camponeses
tinham “interesse material direto (...) em manter em seu poder as antigas
grandes estâncias”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Porém, se os mujiques eram um
impeditivo social e material para a restauração do latifúndio, isolados da luta
proletária, a defesa da pequena propriedade fazia deles uma pequena burguesia.
Nesse sentido, o proletariado dada sua relação social com a propriedade
privada, ainda era a principal classe para fazer avançar a revolução socialista
com a suprasunção da propriedade e manutenção da propriedade coletiva. Desta forma, o perigo da
restauração residia justamente no desenvolvimento no seio do proletariado de
falta de interesse em manter o regime socialista na indústria e do conseqüente
distanciamento e separação do proletariado do campesinato. Isso arriscaria a
possibilidade de avanço do socialismo e lançaria bases para a restauração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Embora o comunismo de guerra tivesse
provocado o estrangulamento das tendências pequeno-burguesas latentes na
economia camponesa, a NEP – Nova Política Econômica, que tinha por fim aumentar
a produção agrícola para melhorar a qualidade de vida do proletariado russo, ao
estabelecer que quem produzisse mais ganharia mais, possibilitou que uma camada
de produtores acumulasse capital.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Com a introdução de elementos
capitalistas na Rússia criou-se terreno para repor elementos de diferenciação
de classes no campo e na cidade. Os camponeses acumulavam e com isso
desenvolveu-se o comércio de produtos agrícolas nas cidades, os comerciantes,
por sua vez também acumulavam, assim criara-se classes abastadas: o Kulak
(camponês rico), e o Nepman (comerciante abastado). Desta forma, “Os
camponeses, tendo vivido seus esforços econômicos como produtores de
mercadorias privadas que compram e vendem, recriaram inevitavelmente os
elementos da restauração capitalista. A base econômica para estes elementos é o
interesse material dos camponeses em obter altos preços para os grãos e baixos
preços para os produtos industriais”. Enquanto isso, o pequeno camponês, o
mujike (camponês pobre), pagava mais impostos que os camponeses ricos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Em conseqüência de tal problemática
conjugada, Trotski analisa que “A NEP reviveu as tendências contraditórias
pequeno-burguesas entre o campesinato, com a consequente possibilidade de uma
restauração capitalista”. Lênin anteriormente calculava esta possibilidade,
afirmava que a NEP introduzindo elementos capitalistas na produção e na
circulação, seria um passo atrás para dar dois passos a frente. A venda dos
produtos agrícolas era uma forma de estimular a produção para livrar a Rússia
da fome, era calculado que tal política geraria diferenciações sociais no país,
por isso, inevitavelmente suas conseqüências deveriam ser reparadas
futuramente. Mas, estas tendências não estavam sendo contidas, ao invés disso, no leme do Estado, Bukarin, propagava “Kulaks enriquecei-vos”, como forma
de estimular a produção agrícola, difundia-se que com a tomada do poder 90% da
revolução já estava assegurado, tratava-se de desenvolver a economia, para
estes o acumulo do Kulaks e dos Nepman não podia oferecer perigo ao
desenvolvimento do socialismo. A combinação destes elementos aos poucos lançava
bases para fortalecer as possibilidades de fortalecimento das “alas” restauracionista.
Desta forma para Trotski,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Os elementos políticos da restauração são recriados
através do capital comercial, que restabelece as conexões entre o campesinato
disperso e fragmentado, por um lado, e entre o campo e a cidade, por outro. Com
os estratos superiores das aldeias atuando como intermediários, o comerciante
organiza uma greve contra a cidade. Isso se aplica em primeiro lugar,
naturalmente, ao capital comercial privado, porém em grande medida também se
aplica ao capital comercial cooperativo, com seu pessoal, que tem muita
experiência no comércio e uma inclinação natural em favor dos <i>Kulaks</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A abertura para o comércio incorporaram
a Rússia ao sistema do mercado mundial. Os Kulaks e os Nepman têm relações
diretas com setores dirigentes do Partido Bolchevique, articulados com a
burocracia do Partido, diretamente beneficiados pelas contradições da sociedade
russa, buscaram criar mecanismos que prolongassem tal estado de coisas, e que
assim assegurassem seus privilégios e benefícios. Para a manutenção de tais
benesses era necessário manter as coisas como elas estavam, passar de um Estado
de revolução permanente para um Estado de conservação. Os elementos mais
conservadores da sociedade russa passam a buscar desmobilizar a todo custo as
alas revolucionárias da sociedade. Pois, se a busca por transformações
constantes na sociedade russa continuasse, os Nepman, os kulaks e a burocracia
inevitavelmente perderiam suas posições de privilégio frente à classe trabalhadora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Buscando prevenir-se contra a
possibilidade de novos ascensos revolucionários do proletariado, desde 1925, com Kamenev, Stalin e Zinoviev, mas também o <i>triunvirato </i>Stalin,
Rykov e Bukharin, articulado com os Nepman, os kulaks e a burocracia estatal,
impulsionam uma campanha de amplo alcance afirmando e difundindo interna e
internacionalmente que o socialismo já avia sido atingido, que estavam sob o
“socialismo real”, estes setores passam a afirmar que o socialismo era possível
num só pais. Os marxistas revolucionários dentro e fora da Rússia entenderam
que e essa era uma ruptura profunda com o materialismo histórico dialético. O
“socialismo num só pais” defendia como constitutivo do socialismo real o
enriquecimento progressivo dos Kulaks dos Nepmans e os privilégios do corpo político-administrativo do Estado operário. Nesse sentido, quem questionava o “socialismo real” era denunciado
por estes setores como “traidor da revolução”, sendo perseguido, preso e
assassinado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Mas este processo de capitulação ao
“socialismo num só país” não era homogêneo, grupos sociais se organizaram
contra a reação articulada em torno da teoria do socialismo num só país. A
forma de superar os problemas colocados pelo passo atrás, desenvolvimento do
comércio, a diferenciação social era desenvolver bases mais sólidas dentro
proletariado, ampliando a participação operária no governo, fazendo a revolução
avançar por meio de seu ativismo político, além disso era necessário instituir
imposto progressivo aos Kulaks, fazendo com que este pagassem mais impostos que
os mujikes como forma de fazer atrofiar a desigualdade econômica entre esses grupos, e ainda
conceder isenção de impostos aos 40% do campesinato mais empobrecido. Pois,
para Trotski, frente às adversidades postas, o principal perigo seria “ignorar
os perigos de classe, passa por cima deles, e combate qualquer tentativa de
chamar a atenção sobre eles. Deste modo adormece a vigilância e reduz a
disposição de combate do proletariado”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Embora fosse necessário, para um
diagnóstico sincero e profundo das condições da luta proletária na Rússia,
considerar que o proletariado estava em 1926 “consideravelmente menos receptivo
às perspectivas revolucionárias e às amplas generalizações do que durante a
Revolução de Outubro e os anos que a seguiram”. Para Trotski o partido
revolucionário não poderia “se adaptar passivamente a todas as mudanças no
estado de ânimo das massas. Mas este também não deve ignorar as alterações
produzidas por causas históricas profundas”. O partido deveria ter um programa
e uma estratégia revolucionária para a luta pela emancipação humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Trotski entendia que o Partido Comunista Russo tinha grande
responsabilidade em manter os ânimos revolucionários do proletariado enquanto a
revolução socialista não eclodisse em outros pais do globo. Principalmente por
que a “A velha geração da classe trabalhadora, que fez duas revoluções, ou fez
a última, começando em 1917, está sofrendo de esgotamento nervoso, e uma porção
substancial deles teme qualquer nova convulsão, com sua perspectiva
concomitante de guerra, destruição, epidemias e tudo o mais”. O Partido, para
manter viva a luta do proletariado por seu programa histórico, necessitava
criar e recriar constantemente bases sócias revolucionárias. Buscar fazer
avançar os elementos mais revolucionários e dispostos das gerações anteriores,
que fizeram a revolução de 1905 e 1917, e ainda, era necessário formar as novas
gerações na perspectiva da revolução permanente. Necessitava-se de uma
vanguarda revolucionária que trabalhasse intensamente para reanimar a classe
trabalhadora como forma de aprofundar a revolução, contra a burocracia estatal
do Partido, contra os Kulaks e os Nepmans. Porém as gerações mais velhas
estavam sendo isoladas do Partido, dando lugar aos elementos mais
conservadores, e as novas gerações portadoras de animo e disposição
revolucionária não estavam encontrando espaço dentro do Partido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">A jovem geração, que está amadurecendo somente
agora, carece de experiência na luta de classes e da têmpera revolucionária
necessária. Não explora por si mesma, como fez a geração anterior, porém fica
imediatamente envolvida pelo ambiente das mais poderosas instituições do
governo e do partido, pela tradição do partido, a autoridade, a disciplina etc.
No momento isto dificulta que a jovem geração cumpra um papel independente. A
questão da correta orientação da jovem geração do partido e da classe
trabalhadora adquire uma importância colossal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A articulação do Partido com os
elementos mais conservadores, com progressivo isolamento dos revolucionários e
a falta de espaço para atuação da juventude revolucionária certamente tinha
como objetivo maior manter o equilíbrio do poder dos grupos dominantes na
Rússia. O Partido Estatal optou abertamente pela manutenção das políticas de
beneficiamento social-econômico dos Kulaks dos Nepmans e aumento progressivo da
influencia e das liberdades dos grupos mais conservadores dentro do Partido.
Nesse período<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) teve lugar um aumento extremo do papel
exercido no partido e no aparato do Estado pela categoria especial dos velhos
bolcheviques, que eram membros ou trabalharam ativamente no partido durante o
período de 1905; que depois, no período da reação, deixaram o partido, se
adaptaram ao regime burguês e ocuparam postos mais ou menos destacados no
mesmo; que eram defensistas, como toda a <i>intelligentsia</i><i> </i>burguesa; e que,
junto com esta última, foram impulsionados adiante na Revolução de Fevereiro
(com a qual nem sequer sonhavam ao princípio da guerra); que foram ferrenhos
oponentes do programa leninista e da Revolução de Outubro; porém que retornaram
ao partido depois que a vitória esteve assegurada ou depois da estabilização do
novo regime, na época em que a<i>intelligentsia</i> burguesa deteve sua sabotagem. Estes elementos, que se reconciliaram
mais ou menos com o regime czarista depois de seu golpe contra-revolucionário
em 13 de Junho de 1907, por sua própria natureza não podem ser mais que
elementos de tipo conservador. Estão a favor da estabilização em geral e contra
a oposição em geral. A educação da juventude do partido está na sua maior parte
em suas mãos. (...) Tal é a combinação de circunstâncias que no período recente
do desenvolvimento do partido determinou a reorganização da direção do partido
e o deslocamento da política do partido para a direita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"> Partir da análise das principais
tendências que envolviam o Partido e a sociedade russa pós-1917, a influência
dos Kulaks, dos Nepmans e da burocracia, Trotsky pontuou elementos centrais que contribuíam para a restauração, ou criavam base para a restauração burguesa: “(a) a situação do campesinato, que não deseja o regresso dos
latifundiários, mas que ainda não tem interesses materiais no socialismo (aqui
se mostra a importância de nossos laços políticos com os camponeses pobres);
(b) o estado de ânimo de um setor considerável da classe trabalhadora, a
diminuição de sua energia revolucionária, a fadiga da velha geração, o aumento
do peso específico dos elementos conservadores”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Por outro lado, o autor também elenca
os elementos que considerava se colocavam contra qualquer tentativa de
restauração capitalista, estes eram: “(a) o temor do <i>mujik</i> de
que o latifundiário voltará com os capitalistas, do mesmo modo que fugiu com os
capitalistas; (b) o fato de o poder e os mais importantes meios de produção
permanecerem efetivamente nas mãos do Estado operário, ainda que com
deformações extremas.; (c) o fato de que a direção do Estado realmente
permanece nas mãos do Partido Comunista, mesmo quando este reflita as mudanças
moleculares das forças de classe e os variáveis estados de ânimo político”. O
Estado Russo se caracterizava como um Estado operário degenerado, que estagnava
o avanço da revolução proletária, mas que ainda não havia juntado forças para
um forte contragolpe restauracionista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A via contrarevolucionária continuou a
fortalecer-se. E entre 1926 e 1927 consolidou-se no poder na Rússia, nas
palavras de Trotski em <i>A revolução traída</i> “uma casta incontrolável, estranha ao
socialismo”, o partido governante articulava-se com os setores conservadores e reformistas em ataque direto contra o proletariado e os grupos
opositores e semi-opositores, bem como aos elementos isolados que mantiveram
atitude critica frente ao termidor soviético. Apostou-se tudo nos Kulaks
(camponeses ricos) e nos Nepman (novos ricos). Segundo a nova análise de
Trotsky, no texto <i>Estado operário, termidor e bonapartismo</i> escrito
em 1935 no exílio<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">O burocratismo soviético (seria mais correto dizer
anti-soviético) é o produto das contradições sociais entre a cidade e a aldeia,
entre o proletariado e o campesinato – estas duas classes de contradições não
são idênticas –, entre as repúblicas e os distritos nacionais, entre os
diferentes grupos do campesinato, entre as distintas camadas da classe
operária, entre os diversos grupos de consumidores e, finalmente, entre o
Estado soviético de conjunto e seu entorno capitalista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> Em
meio à uma infinidade de contradições sociais e políticas a ditadura do
proletariado foi substituída, por meio de prisões, deportações,
desaparecimentos misteriosos, e fuzilamentos armados, por uma ditadura
burocrática, apoiada hora centralmente nos kulaks hora centralmente nos
nepmans. “Elevando-se por cima das massas trabalhadoras a burocracia regula
estas contradições. Utiliza esta função para fortalecer seu próprio domínio.
Com seu governo sem nenhum controle, sujeito unicamente a sua vontade, a
burocracia acumula novas contradições. Explorando-as cria o regime do
absolutismo burocrático”. Em prol destes o poder executivo foi concentrado e
subaltenizado ao capital financeiro. Com tudo isso, na revolução soviética se
deu um giro à direita, ainda que em um ritmo lento e formalmente dissimulado.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<span style="font-size: large;">Trotski debate ainda com o grupo </span><span style="font-size: large; text-indent: 35.4pt;">“Centralismo Democrático” (V.M. Smirnov, Sapronov e outros, aos quais
foram perseguidos no exílio até a morte), apontando as divergências entre o grupo e a “Oposição de Esquerda”. O grupo “Centrismo Democrático” de
Smirnov defendia</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) o atraso na industrialização, o avanço do <i>kulak</i> e do <i>nepman</i> (os novos burgueses), a ligação entre
eles e a burocracia e, finalmente, a degeneração do partido teriam progredido
tanto que seria impossível voltar à construção socialista sem uma nova
revolução. O proletariado já havia perdido força. Com o esmagamento da Oposição
de Esquerda, a burocracia começaria a expressar os interesses de um regime
burguês em reconstituição. Teriam sido liquidadas as conquistas fundamentais da
Revolução de Outubro. Esta era a essência da posição do grupo “Centralismo
Democrático”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Porém para a Oposição de Esquerda, segundo Trotski, a burocracia que se consolidava no poder com base centrada nos
Kulaks e nos Nepman, também tinham interesses conflitantes. Os <i>kulaks</i>, em
1927, exigindo maiores concessões do governo, com apoio da ala
direita do PCUS golpearam a burocracia negando-se a provê-la de pão, que
concentravam em suas mãos. Para a Oposição de Esquerda “Eram inevitáveis outras
rupturas nas fileiras burocráticas”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Em 1928 a burocracia se dividiu abertamente. A
direita estava a favor de maiores concessões ao kulak. Os centristas, armados
com as idéias da Oposição de Esquerda, as mesmas que haviam caluniado em coro
com a direita, se apoiaram nos trabalhadores, tiraram do meio a direita e
tomaram o caminho da industrialização e, conseqüentemente, da coletivização. Finalmente
se salvaram as conquistas sociais básicas da Revolução de Outubro, ao custo de
inumeráveis e desnecessários sacrifícios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Na perspectiva da Oposição de Esquerda
“o setor mais importante da burocracia centrista se inclinaria ante os
operários em busca de apoio contra a burguesia rural em avanço. Ainda estávamos
muito longe da solução final do conflito. Era prematuro enterrar a Revolução de
Outubro”. Em meio a tais processos a URSS tornou-se uma sociedade de transição
contraditória, embora tivesse elementos de negação capitalista, como os meios
de produção nacionalizados, mantinha também desigualdade das condições de vida
com grandes privilégios a burocracia, aos Kulaks e os Nepmans, a URSS se
mantinha muito mais próxima do regime capitalista do que do futuro socialismo.
Porém ainda portava condições para avanço das conquistas dos trabalhadores se
conseguisse liquidar a burocracia e a desigualdade social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Nesse sentido, segundo o
revolucionário, dois caminhos se colocavam, à URSS; a busca do socialismo a restauração
capitalista. O passo seguinte do Partido Comunista Russo definiria os rumos
desta disputa. Internamente o partido sobre a égide stalinista inicia uma onda
de perseguições e fuzilamentos para calar os revolucionários, críticos e
descontentes. Victor Serge, que fora membro do Partido Bolchevique, exilado no
México em 1947 no livro <i>O ano I da revolução russa</i> afirma que
até 1928 havia mais de 30 mil presos políticos na Rússia, mas, segundo o autor,
este número cresceu assustadoramente até 1947 para cerca de 10 a 12 milhões!
Eliminando os revolucionários aos milhares, quebrando a resistência socialista,
cada vez mais aumentava a distância entre a Rússia e o socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Os dirigentes e intelectuais da
tradição marxista revolucionária se agruparam em torno de Trotsky criando um
grupo de oposição. Já durante a segunda metade da década de 1920 as obras de
Trotsky foram proibidas e queimadas na Rússia. Exilando-se em vários países,
mas ainda combatendo o regime stalinista e defendendo a emancipação humana Trotsky
fora perseguido e finalmente assassinado no México em 1940. Sobre tal contexto
analisa Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">(...) O grande fato essencial é que em 1927 e 1928,
por meio de um golpe de força perpenetrado dentro do partido, o estado-partido
revolucionário torna-se um estado-policial-burocrático, reacionário, sobre o
terreno social criado pela revolução. A mudança de ideologia se acentua
violentamente. O marxismo das fórmulas vulgares, elaboradas pelas repartições,
substitui o marxismo critico dos homens pensantes. Instaura-se o culto do
Chefe. O “socialismo num só país” se torna o clichê chave-mestra dos
adventícios que nada mais querem além de manter os próprios privilégios. O que
as oposições mal entrevêem, angustiados, é que se desenha um novo regime, o
regime totalitário. A maioria dos velhos bolcheviques, que havia derrotado a
oposição trotskista, os Bukharin, Rykov, Tomski, Riutin, ao se aperceberem
disso se apavoraram e passaram também para resistência. Tarde demais.
(p.426-427).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">A contra revolução avança a passos
largos, mas cresce também a oposição à perspectiva teórico-política stalinista.
A cúpula de Stalin elabora nova estratégia de contenção e silenciamento
violento da oposição crescente. Inicia-se então mais dez anos de repressão,
exílio, prisão e fuzilamentos com crivo estatal. De 1927 a 1937 a cúpula impõem então um extenso expurgo no partido em âmbito nacional e internacional, extirpando os
revolucionários, Nesta fase elimina desde a raiz os
que viveram a experiência da revolução, atinge-se inclusive a geração
intermediária adepta ao bolchevismo e que engajava-se na perspectiva marxista
revolucionária. Sabia-se que o stalinismo não poderia triunfar na Rússia caso
não se eliminasse a geração revolucionária. Produz-se então uma ruptura sangrenta
entre bolchevismo e stalinismo. Sobre os elemento de ruptura entre bolchevismo
e stalinismo confira o artigo de Bernardo Cerdeira <i>Bolchevismo e
stalinismo: um velho debate.</i><a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref9"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn9" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[9]</span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><b>O MASSACRE DOS REVOLUCIONÁRIOS RUSSOS
DURANTE A DÉCADA DE 1930</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt;">
<span style="font-size: large;">Na década de 1930 intensificam-se as
perseguições, prisões e assassinatos dos revolucionários. Coggiola no
artigo <i>Trotsky, a ascensão do nazismo e o papel do<b> </b>stalinismo</i><a href="https://www.blogger.com/null" name="_ftnref10"></a><a href="http://br.mg4.mail.yahoo.com/neo/#_ftn10" target="_blank" title=""><span style="color: black;">[10]</span></a> discutindo ascensão do nazismo, bem
como o acordo do stalinismo com Hitler e depois do stalinismo com o
imperialismo, coloca elementos importantes para um dimencionamento dos
processos decorridos no período. Segundo o autor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Em 1931, o “caso” de Syrtsov e Lominadzé, (...)
foram acusados de formar um “bloco anti-partido” (os dois dirigentes acusavam à
direção do partido de “tratar operários e camponeses à maneira dos <i>barines</i>”: foram excluídos do
CC [Comite Central]); em 1932, o “affaire Riutin”, do nome do dirigente que
apregoou a descoletivização, a reintegração dos excluídos do partido, e a
destituição de Stalin (descoberto, Riutin foi excluído do partido, assim como
Zinoviev e Kamenev; há também numerosas detenções, mas o Bureau Político
recusou executá-lo, como Stalin queria).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;"> Coggiola destaca que em 1934 formou-se
uma nova coalizão contra Stalin, 270 delegados votam contra Stalin. A oposição
escolhe um substituto Sergo Kirov, porém em 1º de dezembro de 1934 este é
assassinado. O assassinato de Kirov foi utilizado como pretexto para a
deflagração de um processo de repressão e fuzilamentos em massa, “com leis de
exceção, milhares de deportados na Sibéria (remetidos nos chamados “trens de
Kirov”), todos “suspeitos” de complô para assassinar Kirov... (...) A repressão
em massa acabou com a ‘sociedade dos velhos bolcheviques’.” (p. 12).
Colaboradores da primeira fase do stalinismo, por mudar de posição, também são
fuzilados. Em 1935 Kamenev é “julgado” e fuzilado no Processo de Moscou, em
1936 é a vez de Zinoviev, Rykov e Bukharin que tiveram o mesmo destino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt;">
<span style="font-size: large;">Mesmo frente a todos estes processos
contra-revolucionários, entendendo que a o stalinismo operou a substituição de
um regime revolucionário por outro contra-revolucionário “através de uma série
de medidas, de pequenas guerras civis da burocracia contra a vanguarda
operária”. Trotsky, ainda
exilado, continuava acreditar na possibilidade da derrubada do stalinismo com
liquidação da casta burocrática, com retomada da ditadura proletária e da
marcha para o socialismo. No texto <i>Estado operário, termidor e
bonapartismo</i> escrito em 1935, citado anteriormente, o autor afirma:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Ao mesmo tempo afirmamos que, a pesar da monstruosa
degeneração burocrática, o <i>Estado soviético</i> continua sendo o instrumento histórico da classe operária na medida em
que garante o desenvolvimento da economia e da cultura com base nos meios de
produção nacionalizados e, em virtude disso, prepara as condições para uma
genuína emancipação dos trabalhadores, através da liquidação da burocracia e da
desigualdade social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt;">
<span style="font-size: large;">Mas a contra-revolução empreenderia um
novo avanço. Em junho de 1937, tem novo impulso a condenação e execução da
cúpula do Exército Vermelho. De acordo com Coggiola “além dos remanescentes da
velha guarda bolchevique, foram eliminados 98 dos 117 membros do Comitê Central
eleito em 1934, 1108 dos 1966 delegados ao XVII Congresso, 4 membros do Bureau
Político, 3 dos 5 membros do Bureau de Organização”. (p. 12).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt;">
<span style="font-size: large;">Ainda segundo o autor “o massacre
abrangeu todos os antigos opositores e suas famílias, 90% dos quadros
superiores do Exército Vermelho, todos os dirigentes da polícia política antes
de Ekhov, a maioria dos comunistas estrangeiros refugiados na URSS (no total,
houve de 4 a 5 milhões de detenções, um soviético para cada 17 foi detido, um
para cada 85, executado)”. (p. 11-12). Ainda segundo o autor, mais de 35 mil
dos oficiais do exército vermelho foram assassinados. (p. 12). Victor Serge
destaca que além do fuzilamento dos bolcheviques mais conhecidos também
“Outros, menos célebres, morreram, às centenas e milhares, fuzilados sem
processo.” (p. 21). E fevereiro de 1935 Trotski analisa: “a URSS de hoje se
parece muito pouco com a república soviética que descreveu Lênin em 1917 (nem
burocracia nem exército permanentes, direito de revogação a qualquer momento
dos funcionários eleitos e controle ativo das massas sobres eles
“independentemente de quem sejam os indivíduos” etc.). O domínio da burocracia
sobre o país e o de Stálin sobre a burocracia são quase absolutos”. A sociedade
soviética aproximava-se muito mais do capitalismo do que do socialismo. Ao
mesmo tempo Trotski afirmava que mesmo com toda degeneração burocrática o
Estado soviético continuava “sendo o instrumento histórico da classe operária
na medida em que garante o desenvolvimento da economia e da cultura com base
nos meios de produção nacionalizados e, em virtude disso, prepara as condições
para uma genuína emancipação dos trabalhadores, através da liquidação da burocracia
e da desigualdade social”. Nesse sentido, o autor afirma que Stalin, num
bonapartismo soviético, sustentava-se sobre uma política oscilante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: large;">Stálin não somente preserva as conquistas da
Revolução de Outubro contra a contra-revolução feudal-burguesa, mas também
contra as reivindicações dos operários, sua impaciência, seu descontentamento;
esmaga a ala esquerda, que expressa as tendências históricas progressivas das
massas trabalhadoras sem privilégios; cria uma nova aristocracia através da
extrema diferenciação dos salários, de privilégios, hierarquias etc.
Apoiando-se nos setores superiores da nova hierarquia social contra os mais
baixos – e às vezes ao contrário – Stálin conseguiu concentrar totalmente o
poder em suas mãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;">Com tal massacre ficava livre o caminho
para a conciliação stalinista, com a defesa intransigente do socialismo num só
país, e da revolução por etapas por meio da aliança com as “burguesias
nacionais progressistas”, ao invés do apoio a auto-organizacão dos
trabalhadores, desta forma o stalinismo obteve êxito em bloquear e/ou
estrangular os desenvolvimentos revolucionários. Certamente, se o proletariado
entrasse numa fase de vitórias revolucionárias pelo mundo, a casta dominante da
Rússia seria defenestrada do poder. Porém para além do controle interno do
país, com a consolidação de alianças contrarevolucionárias, com conseqüente
esmagamento do revolucionários, o Comintern bloqueava também as revoluções
proletárias em outros países, forçando a aliança do operariado com setores da burguesia.
Desta forma, para Trotsky os elementos se combinavam, “O que mais debilita a
luta da vanguarda proletária da URSS contra o bonapartismo são as constantes
derrotas do proletariado mundial. (...) A causa principal das derrotas do
proletariado mundial radica na criminosa política da Comintern, cega servente
do bonapartismo stalinista e ao mesmo tempo a melhor aliada e defensora da
burocracia reformista.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Sem
considerar o que se passava no Partido Comunista da União Soviética (PCUS) na
década de 1930, com a consolidação do bonapartismo soviético a partir de 1935,
fica muito mais difícil entender o que aconteceu na Espanha e na China durante
a década de 1930. Para além das alternativas revolução 'republicana' ou
'democrática', a atuação dos marxista revolucionários na Espanha, inspirada na
experiencia russa de 1917, era contundente: nem revolução
republicana nem revolução democrática burguesa, mas sim, autoorganização
proletária para revolução socialista. A atuação dos stalinistas insistiu até o
fim na aliança com frações da burguesia defendendo a revolução democrática
burguesa baseados na tese menchevique, já defendida na China em 1927, de que
existiriam países “maduros” e “não maduros" para o socialismo.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Para
os marxistas revolucionários os desafios eram imensos, combater a
via republicana e a via stalinista, que combatia os revolucionários e pactuavam
com os social-democratas na defesa de uma "semi-revolução" que
favorecia as classes possuidoras. Assim, na Espanha desencadearam-se
"duas contra-revoluções": a franquista e a mais pérfida, a que levou
adiante o stalinismo no <i>maio catalão de 1937</i> liquidando o
melhor da vanguarda espanhola, entre ela estava Andrés Nin e os centristas (que
oscilam entre reforma e revolução) do POUM.</span><o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: large;"><span lang="PT">Tratava-se
de buscar discutir a realidade social e as demandas históricas do proletariado
espanhol, utilizando-se das experiencias de auto-organização dos trabalhadores
russos em outubro de 1917, a ponto de o proleta</span>riado espanhol passar a buscar transformar conscientemente esta revolução
híbrida, confusa, em revolução contra o Estado monárquico, republicano,
democrático-burguês, em uma revolução socialista, criando por meio da
auto-organização dos trabalhadores e trabalhadoras em comitês de fábrica, coordenações,
sovietes etc., um Estado operário em marcha para o socialismo. O confronto foi
sangrento uma multidão de revolucionários deram a vida pela revolução que
acabou por não sendo vitoriosa. Triunfou a via stalinista pactuada com a
social-democracia, uma pseudo-democracia com conseqüente "aborto da
revolução proletária”.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: white; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 18pt; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
</div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
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</div>
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<br />
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a> Confira: <i><span style="font-size: 8.0pt;">Bolchevismo e stalinismo: um velho
debate.</span></i><span style="font-size: 8.0pt;"> Disponível no site: </span><a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_06.pdf">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_06.pdf</a></div>
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<div id="ftn2">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref2" name="_ftn2" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[2]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 9.0pt;"> <i>Trotsky, a ascensão do nazismo e o papel do<b>
</b>stalinismo.</i> Disponível no site: </span><a href="http://www.rebelion.org/docs/9198.pdf">http://www.rebelion.org/docs/9198.pdf</a></div>
</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></a> <span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Para além das indiscutíveis contribuições
filosóficas e literárias do autor ao campo da produção marxista, há de se
considerar também sua atuação como político marxista e suas formulações neste
campo, dadas relações dialéticas entre teoria e pratica efetiva. Nesse sentido,
cientes de que o autor não pode ser tomado exclusivamente em virtude seu apoio
ao stalinismo, não nos furtamos a criticar sua atuação.</span> <span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">O filósofo Hungaro
Lukács, Ministro indicado pela URSS, em plena insurreição do proletariado
húngaro opôs-se ferreamente a ruptura do operariado da Hungria com a URSS. Isso
porque, segundo Lessa, o filósofo húngaro entedia a defesa das teses de Stalin
do “‘socialismo em um só país’ e [a] defesa do modelo soviético como um passo
efetivo na direção da sociedade comunista” (p. 1).</span><span style="font-size: 10.5pt;"> </span><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">De
Lukács</span><span style="font-size: 10.5pt;"> </span><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">confira</span><span style="font-size: 10.5pt;"> </span><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Conversando
com Lukács, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969, e Pensamento Vivido, São Paulo,
Ad Hominen, 1999. A tese do socialismo em um só país é eminentemente
antimarxista</span><span style="font-size: 10.5pt;">, </span><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">Marx e Engels passaram a
vida toda afirmando que o socialismo só seria possível em âmbito mundial,
assim, fundaram a primeira Internacional Comunista. Após a morte de Marx,
Engels fundará a segunda Internacional Comunista, Lenin e Trotsky fundarão a
terceira Internacional Comunista, que será dissolvida por Stalin. Será Trotsky
quem fundará a Quarta Internacional Comunista em 1938. Sobre a relação entre
Lukács e a ordem política do stalinismo, embora este não seja propriamente o
campo de reflexão do autor, a questão acaba sendo colocada mesmo que de forma
introdutória, confira Sergio Lessa <i>Lukács
e a ontologia: uma introdução</i>. Disponível no site: </span><a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/05/out5_06.pdf"><span style="font-family: "garamond" , "serif";">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/05/out5_06.pdf</span></a><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">. Ver também, mais
focado neste aspecto, Edison Salles <i>Lukács
e o stalinismo</i>. In: Revista Iskra. 2008.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoEndnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;"> </span>Confira: <i><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">O possível e o
necessário: as estratégias das esquerdas</span></i><span style="font-family: "garamond" , "serif"; font-size: 9.0pt;">. Disponível no site: </span><a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_07.pdf"><span style="font-family: "garamond" , "serif";">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_07.pdf</span></a></div>
</div>
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<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 9.0pt;"> </span>Confira:
<i><span style="font-size: 9.0pt;">Por um novo
internacionalismo</span></i><span style="font-size: 9.0pt;">. Disponível no site:
</span><a href="http://www.pucsp.br/neils/downloads/v5_artigo_michael.pdf">http://www.pucsp.br/neils/downloads/v5_artigo_michael.pdf</a></div>
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<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 9.0pt;"> </span>Confira:
<i><span style="font-size: 9.0pt;">A natureza
social da ex-União Soviética - Atualidade de uma polêmica.</span></i><span style="font-size: 9.0pt;"> Disponível no site: </span><a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/01/out01_07.pdf">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/01/out01_07.pdf</a></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></a> Confira: <a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/06/out6_04.pdf">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/06/out6_04.pdf</a></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<br /></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoBodyText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Russa,%20Stalinismo,%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Chinesa%20e%20restaura%C3%A7%C3%A3o%20capitalista%20na%20R%C3%BAssia%20e%20Alemanha.doc#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 9.0pt;">
Veja as reportagens: </span><a href="http://www.youtube.com/?gl=BR&hl=pt">http://www.youtube.com/?gl=BR&hl=pt</a><span lang="PT"><o:p></o:p></span></div>
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<div style="text-align: right;">
<i>Anotações de estudo, primeiro semestre de 2012</i></div>
</div>
<div align="right" class="MsoBodyTextIndent3" style="text-align: right; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-align: justify;">
<div class="MsoBodyTextIndent3">
<b>Estratégia e tática no marxismo revolucionário</b><br />
<br />
O
partido revolucionário marxista, embora seja um desdobramento necessário dos
enfrentamentos nos diversos locais de trabalho e na sociedade capitalista como
um todo, não pode constituir-se sem uma pré-ideação programática e estratégica.
Cabe aqui diferenciar ainda o que seria Estratégia e o que é tática. A
estratégia marxista revolucionária determina que todos os combates devem estar
ligados a um objetivo comum, a emancipação humana por via da atuação do
proletariado organizado com um programa próprio, independente dos interesses de
outras classes ou frações. Não se pode avançar na luta pela emancipação humana
sem combate direto contra a propriedade privada, a burguesia e o patronato.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
A
tática é uma forma de atuação que está subalternizada a uma estratégia. É uma
forma de atuação que permite realizar aspectos da estratégia marxista. As
táticas na luta de classes, como enfrentar a burguesia dia-a-dia, o patronato e
seu Estado podem variar, pois as táticas são entendidas como ações pontuais
para determinadas batalhas, porém devem estar subordinadas a estratégia
marxista revolucionária. A estratégia de derrubada da burguesia e do patronato
pressupõe a realização de diversas batalhas que serão travadas em diversos
campos de batalha hegemonizados pelo capitalismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
N’<i>O programa de Transição </i>Trotski fala de
quatro consignas: democráticas, mínimas, transitórias e organizativas. Todas
organizadas a partir de uma única estratégia, a conquista do poder pelo
proletariado. A estratégia marxista revolucionária
determina que todos os combates devem estar ligados a um objetivo comum, a
emancipação humana por via da atuação do proletariado organizado com um
programa próprio, independente dos interesses de outras classes ou frações. Precisamos
avançar para fusionarmos as posições. O correto é buscar sínteses, mas tomar as
duas questões com pesos distintos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
A
estratégia de derrubada da burguesia e do patronato pressupõe a realização de
diversas batalhas que serão travadas em diversos campos de batalha
hegemonizados pelo capitalismo, como as do tipo econômico-estruturais (questão agrária e questão urbana),
social-históricas (questão negra), de liberdades democrático-formais (regime
antidemocrático e repressor) ou de tipo nacionais (opressão e espoliação
imperialista). Todos estes objetivos parciais, articulado a partir da
estratégia marxista revolucionária, devem possibilitar na ligação entre as
demandas mais sentidas e a construção de programa transicional derivado da
própria luta efetiva que torne possível à classe operária emergir como um
sujeito político independente da burguesia. Trata-se de buscar construir a <i>hegemonia proletária </i>como programa
unificando seus principais bastiões e centros de gravidade, hegemonizando as
demais classes frações de classe oprimidas pelo capitalismo. Desta forma
colocamos as táticas e objetivos parciais a serviço da estratégia. Com isso não
deixamos que a estratégia se dilua nas táticas e objetivos parciais pelos quais
lutamos cotidianamente. O marxismo com predominância estratégica é a única
forma de articulamos as batalhas parciais ao objetivo decisivo, que é a
conquista do poder. Acerca da distinção entre
estratégia e tática, Leon Trotski<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>,
teórico marxista revolucionário, organizador de sovietes e do exército vermelho
russo afirma em seu trabalho <i>Stálin, o grande organizador de derrotas</i>: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A questão da estratégia
revolucionária ganhou raízes apenas nos anos pós-guerra, e no começo
indubitavelmente sob influencia de uma terminologia militar. Mas isso não quer
dizer que criou raízes acidentalmente. Antes da guerra falávamos apenas das
táticas do partido revolucionário; essa concepção era suficientemente adequada
aos métodos sindicais e parlamentares então predominantes que não ultrapassavam
os limites das tarefas e reivindicações do dia a dia. Por concepção tática,
entendemos um sistema de medidas que servem a uma tarefa corrente ou a um
simples ramo da luta de classes. Estratégia revolucionária, ao contrário,
abarca um sistema combinado de ações que, juntas, por sua consistência e
crescimento, devem levar o proletariado a conquista do poder. (p. 145).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
E
continua Trotski<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Naturalmente, os princípios básicos da estratégia revolucionária foram
formulados desde a época em que o marxismo pela primeira vez colocou para os partidos do proletariado a tarefa da
conquista do poder no terreno da luta de classes. A I Internacional, no
entanto, teve sucesso em formular esses princípios apenas no plano teórico, e
pode testa-los apenas parcialmente na experiência de diversos países. A época
da II Internacional levou a métodos e pontos de vista segundo os quais, na
expressão notória de Bernstein, “o movimento é tudo, o objetivo final é nada”.
Em outras palavras, a tarefa estratégica desapareceu, ficando dissolvida no
“movimento” do dia a dia com suas
táticas parciais dedicadas aos problemas do dia. Apenas a III Internacional
restabeleceu corretamente a estratégia revolucionária do comunismo e subordinou
completamente os métodos táticos a ela. Graças às experiências valiosas das
duas primeiras internacionais, sobre cujos ombros a terceira está estabelecida,
graças ao caráter revolucionário da época atual e à experiência histórica colossal da Revolução
de Outubro, a estratégia da III Internacional adquiriu uma combatividade e
experiência histórica enormes. (p. 145-146).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Disso
podemos entender que para Trotski a estratégia é a forma de tomada
revolucionária do Estado. A partir da estratégia é que os revolucionários
organizam as condições e métodos para a insurreição armada e tomada do poder
concretamente. Com o objetivo da tomada do poder é que se organiza o programa
revolucionário. Desta forma, como o autor defende em <i>Lições de outubro</i>, o programa é a forma de compreender e organizar
“os principais fenômenos da luta do proletariado e todos os fatos em relação ao
enfrentamento ideológico”. (TROSKY, 2007). Ainda, Trotski argumenta que “O
proletariado não pode conquistar o poder através de uma insurreição espontânea.
A forma como se organiza a conquista do poder cabe ao campo da estratégia
militar revolucionária”. No mesmo livro Trotski define que “Em política,
entende-se por tática a arte de orientar operações isoladas, por analogia com a
ciência da guerra; por estratégia, a arte de vencer, isto é conquistar o poder”
(p. 28). Além de um programa correto que
reflita as demandas históricas do proletariado, o partido revolucionária
precisa dominar o método cientifico da conquista do poder. Como continua Trotski,
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Depois de um longo intervalo, a revolução de 1905 pôs pela primeira vez
na ordem do dia as questões essenciais, as questões da estratégia da luta
proletária. Com isso garantiu enormes vantagens aos social-democratas
revolucionários, isto é, aos bolcheviques. Em 1917 começou a grande época da
estratégia revolucionária, primeiro para Rússia, depois para toda Europa. É
evidente que a estratégia não prescinde a tática: as questões do movimento
sindical, da atividade parlamentar etc., longe de desaparecerem do campo
visual, adquirem agora importância diferente, como métodos subordinados da luta
combinada pelo poder. A tática está subordinada a estratégia. (p. 29).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As
demandas contidas no programa revolucionário constituem aspectos
imprescindíveis de uma nova forma de socialibilidade, de relações entre os seres
humanos consigo mesmos, com os meios de produção e com a própria natureza. O
programa deve ser tomado como um conjunto de medidas marxistas para a imediata
educação das fileiras do partido revolucionário e como base para a construção
de uma nova sociedade. Mas não podem ser alcanças dentro da ordem burguesa, se
acreditássemos nisso, seriamos reformadores do capitalismo. Claro que isso não
implica em refutar as reformas, como destaca Trotski em <i>Lições de outubro </i>“Um partido marxista não rejeita as reformas.
Porém o caminho para elas tem finalidade prática apenas em questões
subsidiárias, nunca as fundamentais. É impossível conquistar o poder do Estado
por meio de reformas”. O programa para emancipação humana só pode ser alcançado
com a conquista do poder. A conquista do poder só pode ser efetivada com uma
estratégia revolucionária. Por isso estão todas subordinadas a estratégia
revolucionaria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Com
as classes sociais em enfrentamento constante, os conflitos e embates assumem
variadas formas econômicas, política, culturais. De Marx e Engels, passando por
Lênin e Trotski, todos estes elementos são constituintes da totalidade que
constitui a política. Os revolucionários atuam em todos estes campos políticos,
orientados a partir da estratégia da conquista do poder. Subordinando todas
suas táticas ao programa e a estratégia revolucionária os revolucionários
batalham para transformar a luta de classes em guerra civil (contra a paz civil
burguesa), com autodeterminação popular, colocar os sindicatos em movimento agudo,
greves gerais, marchas, piquetes, ocupações, são todos elementos que auxiliam
diretamente a classe trabalhadora a tomar seu destino em suas mãos. Sendo que o
objetivo da guerra para Lênin e Trotski é uma guerra de classes e aniquilação
definitiva da burguesia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Conforme
definiam Marx e Engels, desde o <i>Manifesto
do Partido Comunista</i>, a insurreição proletária de massas é a luta de
classes por outros meios, mais violentos, para aniquilação das classes
dominantes, assim, para os autores a guerra contra a burguesia seria necessariamente
violenta. A tomada do poder e o socialismo só são possíveis por meio do
aniquilamento completo da burguesia. Essa dinâmica se desdobra em vários
níveis, nacional, internacional e mundial. A Estratégia é o como, a partir dela
organiza-se todos os meios (táticos) para o trunfo político, envolvendo os
métodos e condições de como chegar à vitória. Mesmo no que diz respeito aos
sovietes, estes também na constituem a própria estratégia revolucionária. É
possível relativizar a forma sovietes. Fica em aberto a melhor forma de atuação
das massas, sovietes ou comissões de fábrica. O importante é um organismo de
auto-organização das massas. Os sovietes podem ser substituídos por comitês,
como reivindicava Trotski no caso da Alemanha, o central é que atuem como
organismos de duplo poder, na organização da sociedade, distribuição de
alimentos, transporte, seguranças, etc. Assim, é possível separar a estratégia
soviética dos sovietes. O mais importante é que a proletariado e as massas tome
a organização de suas vidas em suas próprias mãos. Soviete, comissões de
fábrica, são formas de construir a unidade das fileiras da classe trabalhadora.
A unidade é parte fundamental para a tomada do poder pelo proletariado
organizado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Engels
já apontava desde seu clássico <i>A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra </i>que a classe trabalhadora é
constitutivamente dividida em distintos segmentos, e cada segmento pode formar
tendências, correntes e partidos. Os sovietes, apesar dos distintos segmentos,
constituem um organismo que unifica os setores mais avançados, de vanguarda,
com os setores mais atrasados da própria classe. Debilitar as tendências
reformistas e fortalecer as tendências mais avançadas e revolucionárias. É um
organismo de frente única, que tende a unificar a classe em períodos de
agudização da luta de classe. Os organismos que convertem autoatividade em
auto-organização surgem em períodos defensivos, como fruto da espontaneidade
operária. Distingue-se a forma de tomada do poder ao longo da história da luta
de classes. Por exemplo, para Blanqui a insurreição era uma revolução feita
apenas por comunistas, como um complô, que precisa ser aceito pelas massas.
Para Rosa, revolução de massas por meio da greve geral, independente da
organização do partido. Lênin/Trotski defenderam revolução de massas,
organizada pelo partido com organismos de autodeterminação. Assim, todas as
massas devem ser ganhas para a estratégia revolucionária, com auto-organização
e independência de classe, guardas operárias, para que no momento do combate
possam fazer valer suas próprias demandas históricas.</span><br />
<span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Marx
e Engels vão dedicar suas vidas a construção de uma estratégia própria do
proletariado, para expropriar a burguesia e construir o socialismo. Para isso,
entendiam como imperativo a organização dos trabalhadores, trabalhadoras e
demais grupos insurgentes para a construção de ações conjuntas, e a ditadura do
proletariado sobre a burguesia e sua base de apoio. A formação da Primeira
Internacional em 1864, organizada por Marx e Engels, era a forma de unificar
estrategicamente os diversos partidos comunistas que despontavam nos mais
variados países. O que queremos dizer com isso? Que o Partido Marxista, a
partir da defesa intransigente da independência de classe, tem por prerrogativa
tencionar-se para produção de percepções acerca da realidade social, oferecendo
substratos teóricos e práticos para ação conjunta dos trabalhadores, e assim
para o aprofundamento da consciência de classe revolucionária para efetivação
da ditadura do proletariado. Não caberia então aos revolucionários marxistas
esperar que a consciência de classe revolucionária, que intenta construir o
socialismo com forma superior de organização social, política e econômica,
surja por geração espontânea, uma vez que a percepção dos processos sociais
está sempre em disputa, pois a classe dominante busca produzir consensos
sociais e políticos por meio da repressão/cooptação/enganação. É claro que todo
ser humano tem sempre consciência social (como indicam Marx e Engels na </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Ideologia alemã</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">), porém, a consciência
de classe revolucionária, em combate ao reformismo, acomodação, ceticismo, e as
perspectivas conciliadoras, deve ser aprofundada e construída por meio da
atuação constante na luta de classes e pelo trabalho permanente de organização
dos trabalhadores e trabalhadoras para desmistificação do discurso da classe
que detém a posse os meios de produção. O partido comunista deve ser sujeito
coletivo ativo neste trabalho, como estacam os autores no </span><i style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">Manifesto do Partido Comunista</i><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;"> e nas resoluções da I internacional
em 1872</span><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn2" name="_ftnref2" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[2]</span></span></span></a><span style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">).
Nas resoluções consta que:</span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
(…) Na sua luta contra o poder coletivo das classes
possidentes, o proletariado só pode agir como classe constituindo-se a si
próprio em partido político distinto, oposto a todos os antigos partidos
formados pelas classes possidentes. (…). Esta constituição do proletariado em
partido político é indispensável para assegurar o triunfo da Revolução social e
do seu objetivo supremo: a abolição das classes. (…). A coalizão das forças
operárias, já obtida pela luta econômica, deve servir também de alavanca nas
mãos desta classe, na sua luta contra o poder político dos seus exploradores.
(…). Servindo-se sempre os senhores da
terra e do capital dos seus privilégios políticos para defender e perpetuar os
seus monopólios econômicos e subjugar o trabalho, a conquista do poder político
torna-se o grande dever do proletariado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-indent: 0cm;">
<b>Sobre a estratégia do
PCB<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
<br />
Feitas
tais considerações, passemos a uma breve análise da estratégia levada a cabo
pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) entre o proletariado brasileiro,
considerado estratégia como um sistema combinado de ações que devem levar o
proletariado à conquista do poder. Cabe recordar que, quando tomamos a atuação
do PCB para análise, estamos buscando fundamentalmente tirar lições das
estratégias utilizadas por estes partidos no desenvolvimento da luta de classes
no Brasil. Considerando ainda as experiências históricas da classe trabalhadora
com os partidos que operam em seu meio. Acreditamos que esta reflexão
enriquece-se qualitativamente ao comparar as estratégias adotadas por estes
partidos com a teoria marxista revolucionária (de Marx, Engels, Lênin e Trotski).
Sobretudo se levamos em conta que o proletariado brasileiro, sob a vigência do
capitalismo que impõem a exploração de mais-valia, e impede o usufruto dos
meios de produção e reprodução da vida, tende a construir outros partidos
futuramente. Torna-se imprescindível um balanço a partir da teoria marxista.
Assim colocam-se as questões, 1) Quais as relações que estes partidos
estabeleceram com a burguesia, com o patronato e com o proletariado? 2) Que
política defendiam? 3) Que lições devemos tirar dos processos mais agudos das
lutas de classe no Brasil e da atuação das instituições que a dirigiram? 4)
Qual estratégia poderia ter sido implementada naqueles momentos para que a
classe trabalhadora alcançasse maiores êxitos suas demandas históricas e
experiências sociais? 5) Quais erros devem ser evitados para que se desenvolvam
formas de organização e intervenção mais qualitativas na realidade social e
política para que se conquistes maiores êxitos num próximo ascenso proletário?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
É
com tal perspectiva que tomamos nesta seção a análise da atuação do PCB. De
inicio cabe destacar que a atuação deste partido estava organicamente
articulada com o programa defendido pelo Partido Comunista Russo. O PC Russo
passava por importantes transformações durante a década de 1920.<o:p></o:p></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; margin: 12pt 0cm 6pt;">
<b><span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A TOMADA DO PODER É
APENAS UM DECIMO DA REVOLUÇÃO<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A tomada do Palácio
de Inverno, em 25 de outubro de 1917, é desencadeada sem violência. Os
bolcheviques queriam fazer a revolução sem um banho de sangue. Em dezembro de
1917, o II Congresso dos Sovietes aboliu a propriedade privada dos grandes
latifúndios. Os comitês de fábricas e os comitês operários, com mandatos
revogáveis pela base, geriam a produção. Em 1918 é decretada a expropriação da
propriedade burguesa, com isso a burguesia é suplantada como classe, embora a
Rússia ainda não fosse socialista, esta era a direção em que marchava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Porém a burguesia e
os latifundiários, por meio do exército branco restauracionista e suas nações
aliadas não mediriam esforços ou custos humanos para depor o proletariado do
poder, neste contexto dá-se inicio em 1918 a Guerra civil, um enfrentamento
armado entre o proletariado e a burguesia (em unidade com o imperialismo
mundial). Esta duraria não apenas dias ou semanas, mas sim três longos anos
(1918-1921), sob o <i>comunismo de guerra</i>
intensificou-se o ritmo de trabalho no país, tencionaram-se para produzi ao máximo
para suprir com alimentos os soldados que combatiam contra 14 exércitos que
invadiam a Rússia, os trabalhadores passam por mais um período de sacrifícios.
A guerra e o comunismo de guerra contribuíram muito para o esgotamento da
classe operária russa. Além disso, a guerra civil será responsável também pela
eliminação de grande parte da vanguarda revolucionária operária e marxista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Os bolcheviques
colocaram acima de tudo a defesa da jovem república soviética. O que estava em
jogo era a sobrevivência do Estado operário diante da guerra civil, que
combinava o ataque dos Guardas Brancos com a invasão da Rússia por 14 exércitos
estrangeiros. A situação exigia posições firmes e incisivas contra a burguesia,
a aristocracia e seus agentes. Embora, em 1920, um ano antes do término da
guerra civil, a pena de morte tenha sido abolida na Rússia. Também durante a
guerra civil os bolcheviques se viram obrigados a proibir o funcionamento dos
partidos socialistas-revolucionários e os mencheviques que co-organizavam o exército
branco. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em 1921 tem-se também
a sublevação dos marinheiros de Krontadt contra os bolcheviques. Sobre ordem de
Zinoviev, os marinheiros são reprimidos. Com todos os problemas desta
intervenção, há de se destacar que os marinheiros de 1921 não eram os mesmo de
1917. A maior parte dos revolucionários de 1917, que tinham acúmulos imensos
nas lutas contra o regime tsarista teria sido remanejada para travar batalhas
em defesa do socialismo nascente, esta mudança de composição constitui elemento
importante para compreender o porquê da sublevação. (confira os escritos de Trotski
sobre Krontadt).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Os desafios internos
e externos para sustentar as conquistas de 1917 eram imensos, bem porque esta
era a primeira revolução socialista da história da humanidade. A tomada do
poder foi apenas o inicio do processo, agora tratava-se de extingui-lo para
construção do socialismo. Trotski já em 1908, no <i>Balanço e perspectivas</i>, afirmava que para construir o socialismo
não bastava tomar o poder e fazer decretos. Nas palavras do auto <b>“</b>O poder político não é todo-poderoso.
Seria absurdo acreditar que basta ao proletariado, para substituir o
capitalismo pelo socialismo, tomar o poder e fazer em seguida alguns decretos.
Um sistema econômico não é o produto de medidas tomadas pelo governo. Tudo
quanto o proletariado pode fazer é utilizar com toda a energia possível o poder
político para facilitar e encurtar o caminho que conduz a evolução econômica
para o coletivismo”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">V. I. Lênin e Leon Trotski
sabiam que para revolução proletária triunfar, estabelecer o socialismo e
marchar para o comunismo era necessário que a revolução se espalhasse pelo
mundo, sabiam então da importância da revolução na Alemanha. Trotski no <i>Balanço e perspectivas</i>, destacava “Sem o apoio estatal direto do
proletariado europeu, a classe operária russa não poderá manter-se no poder e
transformar a sua dominação temporária em ditadura socialista durável. Sobre
isto, dúvida alguma é permitida. Mas também não há dúvida nenhuma de que uma
revolução socialista no ocidente tornar-nos-á diretamente capazes de
transformar a dominação temporária da classe operária numa ditadura
socialista”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;"> Porém a posição revolucionária fora traída na
Alemanha em 1919, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht teóricos e dirigentes
revolucionários foram assassinados. Assim, a derrota da revolução no Ocidente
(Alemanha e Hungria) e no Oriente (China), neste período isolou a revolução
russa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A Rússia ainda não
era socialista Lenin utilizava caracterizações que muitas vezes eram
aparentemente contraditórias para definir o que era a Rússia em transição:
“Estado operário”, “Estado operário e camponês”, “Estado burguês sem burguesia”
e outras. Assim também como o próprio Lênin reconhecia o avanço da
burocratização do partido por conta do isolamento da URSS, no texto “A crise do
partido” <a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK21"></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="OLE_LINK11">Lênin afirmara “De fato nós temos um Estado operário, 1º, com a
particularidade de que não é a população operária mas a população camponesa que
predomina no país; e 2º, um Estado operário com uma deformação burocrática” (v.
5, p. 215). </a>Isso porque Lênin tinha claro que para que a humanidade
desse um salto na direção de sua emancipação na construção do socialismo, como
uma sociedade baseada na autoorganização das capacidades humanas como forcas
próprias, ou controle coletivo livre, autoconsciente e universal dos
trabalhadores sobre o processo de produção, a revolução proletária não poderia
limitar-se a um país só. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Também é clássica a
afirmação feita por Trotski no livro <i>A
revolução traída</i> sobre o caráter e limitações do Estado operário “A
princípio, o Estado operário não pode ainda permitir a cada um trabalhar
‘segundo suas as capacidades’, o que significa fazer o que quiser e puder, nem
recompensar cada um ‘segundo as suas necessidades’, independentemente do
trabalho fornecido. O interesse do crescimento das forças produtivas obriga a
recorrer às habituais normas do salário, isto é, à repartição de bens segundo a
quantidade e a qualidade do trabalho individual” (p. 35). Assim, para o autor a
União Soviética era uma sociedade intermediária entre o capitalismo e o
socialismo”. (p.176).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Depois
da vitoria do proletariado russo sobre as ameaças restauracionistas externas,
com a expulsão dos exércitos invasores, e derrota das milícias e partidos das
classes dominantes contra-revolucionárias chegou ao fim a guerra civil, em
1921. As contradições sociais não cessam ai. Começam a desenvolver-se
importantes lutas internas no país, primeiro pelo restabelecimento das forças
produtivas que ficaram arrasadas com a guerra. Depois ter-se-ia que combater
elementos contraditórios gerado pela política criada em 1921 para a
reconstrução do país a NEP – Nova Política Econômica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
1922 Lênin adoece, a direção do partido é assumida pela <i>troika</i> Stalin, Kamenev e Zinoviev, que em 1925 será sucedida pelo <i>triunvirato</i> Stalin, Rykov e Bukharin,
que se mantém no poder 1928. Durante esse período a revolução russa, que estava
ainda na sua fase inicial, será estagnada e totalmente redirecionada. Lênin em
seu “testamento político” recomenda ao congresso do partido o imediato
afastamento de Stalin da Secretaria Geral, porém a <i>troika</i> censurou o documento. Em seus últimos meses de vida lutará
contra a proposta encabeçada por Stalin e Bukharin sobre o fim do monopólio do
comércio exterior. (Confira: LENIN, 2012). Lênin também critica Bukharin: <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">(…) tratando de
refutar-me, Bukharin escreve que não faz diferença que o camponês realize um
negócio muito proveitoso, e que a luta na se estabelecerá entre o camponês e o
poder soviético, mas entre o poder soviético e o exportador. Aqui volta a
cometer um erro radical, pois o exportador, com diferença de preço assinalada
(por exemplo, o linho vale na Rússia 4,50 rubros e na Inglaterra, 14),
mobilizarão seu redor todo o campesinato de maneira rápida, segura e certa. Na
prática, Bukharin segue como defensor do especulador, do pequeno burguês e do
setor mais rico do campesinato contra o proletariado industrial, que não poderá
em absoluto reconstruir sua indústria, nem converter a Rússia num país
industrial, se não for exclusivamente pro intermédio do comércio exterior, e de
modo algum mediante um política
aduaneira. (p. 66-67).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Para
a defesa do monopólio do comércio exterior, opondo-se a Stalin e Bukharin, Lênin
em dezembro de 1922 continua a buscar apoio em Trotski. Lênin conhecia muito
bem as deformações do Estado Soviético, analisava que o partido estava muito
inchado, queria diminuir o numero de membros e de burocratas e ao mesmo tempo
ampliar o Comitê Central para cerca de 100 membros, para que as pessoas mais
ativas e dedicadas à construção do socialismo pudessem democratizar mais as
decisões. Lênin opinava que “A incorporação de muitos operários ao CC ajudará
aos operários a melhorara nosso aparato, que é péssimo”. (p. 76). Lênin
criticava o Estado trasicional argumentando que “nós chamamos de nosso a um
aparato que na verdade nos é ainda alheio por completo e constitui um misto burguês
e czarista” (p. 82). <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">No entanto,
para Lênin, as imperfeições não justificavam as propostas de Stalin e Bukharin
de fim do monopólio do comércio exterior. Em carta enviada a Trotski Lênin
argumenta que “o nosso aparelho se caracteriza exatamente pela imperfeição em
todas as questões. Por isso, abrir mão do monopólio devido à imperfeição do
aparelho significa jogar fora a criança junto com a água suja. (LENIN, 2012, p.
68). Em outra carta endereçada a Trotski, Lênin revela que estava disposto a
formar uma fração contra Stalin e Bukharin e seus aliados caso perdesse a
votação, atuaria com sua própria fração no soviet. De acordo com Lênin “Se ao
contrário do esperado, nossa decisão não for aprovada, apelaremos à fração do
Congresso dos Soviets e declararemos que a questão será levada ao congresso do
partido”. (p. 71).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Além
das divergências em torno do monopólio do comércio exterior contra Stalin e
Bukharin, Lênin também combateu Stalin na questão da Geórgia. Em linhas gerais
Stalin e Dzerzhinsky queriam anexar a Geórgia a Rússia, Lênin defendia que
deveria ser uma união entre os países que garantisse a plena autonomia da
Geórgia, acusava Stalin e Dzerzhinsky de desvios nacionalistas gão-russo. Por
essas e outras questões, já tendo observado que “O camarada Stalin, tendo
chegado ao Secretariado Geral, concentrou em suas mãos um poder enorme, e não
estou seguro de que sempre saberá utilizá-lo com prudência (…). (p. 74). Lênin
recomendava afastar Stalin do cargo de Secretário Geral do Partido:<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">Stalin é
grosseiro demais, e esse defeito, plenamente tolerável em nosso meio e entre
nós, os comunistas, se torna intolerável no cargo de Secretário geral. Por isso
proponho aos camaradas que pensem a forma de passar Stalin a outro posto e
nomear este cargo a outro homem, que se diferencie do camarada Stalin em todos
os demais aspectos apenas por uma vantagem, a saber: que seja mais tolerante,
mais leal, mais delicado e mais atencioso aos camaradas, menos caprichoso etc.
(LENIN, 2012, p. 87).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A
ala mais à direita formada pela da <i>troika</i>
é combatida pela “ala” esquerda do Partido e recua em alguns momentos. Como se
vira obrigada a recuar em relação ao monopólio do comércio exterior. Em 1923 os
bolcheviques revolucionários lançam a “Declaração dos quarenta e seis” exigindo
a democratização do partido (que burocratiza-se a largos passos) e mudanças na
política econômica do país. Com a derrota da revolução alemã em 1923 o isolamento
da Rússia é consolidado, com isso a <i>troika</i>
sai fortalecida. A derrota da revolução alemã leva a marca da <i>troika</i>. Zinoviev então presidente da
internacional negara apoio ao proletariado alemão, o que contribuiu para que se
desse o massacrado do proletariado alemão em 1923. A partir de 1924 a ala mais
conservadora do Partido Bolchevique chega ao controle do processo
revolucionário, desse ano em diante tem-se o desenvolvimento progressivo do
Termidor Soviético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
1926 a URSS acumula uma série de contradições sociais que evoluem
progressivamente, colocando em risco as conquistas da revolução de outubro e a
própria possibilidade de colaboração do proletariado russo para uma revolução
mundial. Trotski analisa que o Partido Bolchevique não está pronto para resistir
às ameaças contra-revolucionárias que se desenvolvem internamente na Rússia,
tenta então identificar as principais tendências contrarevolucionárias e formas
organizativas que possibilitem combatê-las. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
suma, pensado o processo revolucionário russo a luz de outros processos
revolucionários já decorridos, como a Revolução Francesa, Comuna de Paris, a
Revolução de 1905 a Revolução de outubro de 1917, em meio aos descaminhos da
revolução russa após a morte de Lênin, Trotski elabora em 1926 o texto <i>Teses sobre a revolução e contra-revolução</i>,
onde além de lições históricas dos processos revolucionários faz um breve
balanço da revolução russa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">O
autor destaca que a revolução é impossível sem a participação das massas em
grande escala, e que a revolução sempre sofre um período de contra-revolução.
Porém, mesmo com retrocessos, a contra-revolução não consegue fazer retroceder
a revolução até o seu ponto inicial. As massas revolucionárias depositam sempre
muitas esperanças de um futuro melhor na revolução. Por isso Trotski afirma que
as esperanças desencadeadas pela revolução são sempre exageradas, o que
dificulta ainda mais a realização das expectativas gerais da massa
revolucionária. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Segundo
o autor a revolução de massas sempre apodera-se “de muito mais do que mais
tarde será capaz de manter”. Desta forma, todo processo revolucionário produz
um <i>quantun</i> de desilusão nas massas
revolucionárias, uma vez que “A desilusão destas massas, seu retorno à rotina e
a futilidade, é parte integrante do período pós-revolucionário tanto como a
passagem ao campo da ‘lei e da ordem’ daquelas classes ou setores de classe
‘satisfeitos’, que haviam participado na revolução.” Como a motivação de
estratos sociais pode variar, grupos podem satisfazer-se com diferentes níveis
das conquistas do processo revolucionário. Assim, ao atingir sua demanda, parte
das pessoas que apoiaram a revolução ontem, após as primeiras conquistas pode
deixar de apoiar seu avanço. Soma-se a isso, o sentimento de desilusão causado
pela projeção de expectativas imediatas exageradas sobre o processo
revolucionário, articulado com o esgotamento físico e psicológico das massas
combatentes. Essa soma de elementos sociais aumenta a confiança das frações
contra-revolucionárias, produzindo um terreno muito propicio para que as forças
contrarevolucionárias cresçam. Para o autor<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">A desilusão de
um setor considerável das massas oprimidas com os benefícios imediatos da
revolução e – diretamente ligado a isto – o declínio da energia política e da
atividade da classe revolucionária desencadeia um ressurgimento da confiança
entre as classes contra-revolucionárias, tanto entre aqueles derrotados pela
revolução mas não completamente aniquilados como entre aqueles que ajudaram a
revolução num certo momento, mas foram jogados ao campo da contra-revolução
pelo devir da revolução.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
relação à revolução russa, Trotski analisa que também houve uma fase de
desilusão nas massas revolucionárias com os frutos imediatos da revolução,
diretamente relacionados com a melhora das condições de vida, o proletariado
continuava revolucionário, porém mais céticos e cuidadosos. Isto somado ao
esgotamento físico e psíquico de revolucionários que fizeram duas revoluções
(1905 e 1917) e lutaram numa prolongada guerra civil (1918-1921) produziu certamente
o “declínio da energia política e da atividade da classe revolucionária”, ao
qual Trotski se refere.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Porem,
ainda assim, a contrarevolução não conseguira avançar devido o alcance da
revolução de outubro e sua direção proletária, “as velhas classes e
instituições dominantes de ambas as formações sócio-econômicas – a
pré-capitalista e a capitalista (a monarquia com sua burocracia, a nobreza, e a
burguesia) – sofreram uma derrota política total”. Mesmo com a invasão da
Rússia por 14 exércitos estrangeiros, ou seja com a reação armada das classes
dominantes nacionais e internacionais, a contrarevolução não conseguiu
derrubar a ditadura do
proletariado. Assim, um importante elemento
que impedia a restauração, tanto do absolutismo como da burguesia no país era
justamente a destruição completa das velhas classes dominantes, esta “é uma das
garantias contra o perigo da restauração”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">O
campesinato pobre, os mujiques, diretamente beneficiados pela divisão do
latifúndio levada a cabo pelo proletariado articulado nos sovietes e pelo
Partido Bolchevique, constituíam base social importante para impedir a
restauração da monarquia e dos latifundiários. Os camponeses pobres, que eram a
maioria entre os camponeses tinham “interesse material direto (...) em manter
em seu poder as antigas grandes estâncias”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Porém,
se os mujiques eram um impeditivo social e material para a restauração do
latifúndio, isolados da luta proletária, a defesa da pequena propriedade fazia
deles uma pequena burguesia. Nesse sentido, o proletariado, dada sua relação
social com a propriedade privada, ainda era a principal classe para fazer
avançar a revolução socialista com a abolição da propriedade. Desta forma, o perigo da restauração residia
justamente no desenvolvimento no seio do proletariado de falta de interesse em
manter o regime socialista na indústria e do conseqüente distanciamento e
separação do proletariado do campesinato. Isso arriscaria a possibilidade de
avanço do socialismo e lançaria bases para a restauração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Embora
o comunismo de guerra tivesse provocado o estrangulamento das tendências
pequeno-burguesas latentes na economia camponesa, a NEP – Nova Política
Econômica, que tinha por fim aumentar a produção agrícola para melhorar a
qualidade de vida do proletariado russo, ao estabelecer que quem produzisse
mais ganharia mais, possibilitou que uma camada de produtores acumulasse
capital. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Com
a introdução de elementos capitalistas na Rússia criou-se terreno para repor
elementos de diferenciação de classes no campo e na cidade. Os camponeses
acumulavam e com isso desenvolveu-se o comércio de produtos agrícolas nas
cidades, os comerciantes, por sua vez também acumulavam, assim criara-se
classes abastadas: o Kulak (camponês rico), e o <i>nepman</i> (comerciante abastado). Desta forma, “Os camponeses, tendo
vivido seus esforços econômicos como produtores de mercadorias privadas que
compram e vendem, recriaram inevitavelmente os elementos da restauração
capitalista. A base econômica para estes elementos é o interesse material dos
camponeses em obter altos preços para os grãos e baixos preços para os produtos
industriais”. Enquanto isso, o pequeno camponês, o mujike (camponês pobre),
pagava mais impostos que os camponeses ricos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
conseqüência de tal problemática conjugada, Trotski analisa que “A NEP reviveu
as tendências contraditórias pequeno-burguesas entre o campesinato, com a
consequente possibilidade de uma restauração capitalista”. Lênin anteriormente
calculava esta possibilidade, afirmava que a NEP introduzindo elementos
capitalistas na produção e na circulação, seria um passo atrás para dar dois
passos à frente. A venda dos produtos agrícolas era uma forma de estimular a
produção para livrar a Rússia da fome, era calculado que tal política geraria
diferenciações sociais no país, por isso, inevitavelmente suas conseqüências
deveriam ser reparadas futuramente. Mas, estas tendências não estavam sendo
reparadas, ao invés disso, o Estado, na figura de Bukarin, propagava “Kulaks
enriquecei-vos”, como forma de estimular a produção agrícola, difundia-se que
com a tomada do poder 90% da revolução já estava assegurado, tratava-se de
desenvolver a economia, para estes o acumulo do Kulaks e dos Nepman não podia
oferecer perigo ao desenvolvimento do socialismo. A combinação destes elementos
aos poucos lançava bases para fortalecer as possibilidades de fortalecimento
das “alas” restauracionista. Desta forma para Trotski, <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">Os elementos
políticos da restauração são recriados através do capital comercial, que
restabelece as conexões entre o campesinato disperso e fragmentado, por um
lado, e entre o campo e a cidade, por outro. Com os estratos superiores das
aldeias atuando como intermediários, o comerciante organiza uma greve contra a
cidade. Isso se aplica em primeiro lugar, naturalmente, ao capital comercial privado,
porém em grande medida também se aplica ao capital comercial cooperativo, com
seu pessoal, que tem muita experiência no comércio e uma inclinação natural em
favor dos <i>Kulaks</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A
abertura para o comércio incorporará a Rússia ao sistema do mercado mundial. Os
Kulaks e os Nepman têm relações diretas com setores dirigentes do Partido
Bolchevique, articulados com a burocracia do Partido, diretamente beneficiados
pelas contradições da sociedade russa, buscaram criar mecanismos que
prolongassem tal estado de coisas, e que assim assegurassem seus privilégios e
benefícios. Para a manutenção de tais benesses era necessário manter as coisas
como elas estavam, passar de um Estado de revolução permanente para um Estado
de conservação. Os elementos mais conservadores da sociedade russa passam a
buscar desmobilizar a todo custo as alas revolucionárias da sociedade. Pois se
a busca por transformações constantes na sociedade russa continuasse os nepman,
os kulaks e a burocracia inevitavelmente perderiam suas cabeças. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Buscando
prevenir-se contra a possibilidade de novos ascensos revolucionários do
proletariado, o <i>triunvirato</i> Stalin,
Rykov e Bukharin, articulado com os nepman, os kulaks e a burocracia estatal,
impulsionam uma campanha de amplo alcance afirmando e difundindo interna e
internacionalmente que o socialismo já avia sido atingido, que estavam sob o
“socialismo real”, estes setores passam a afirmar que o socialismo era possível
num só pais. Os marxistas revolucionários dentro e fora da Rússia entenderam
que e essa era uma ruptura profunda com o materialismo histórico dialético. O
“socialismo num só pais” defendia como constitutivo do socialismo real o
enriquecimento progressivo dos Kulaks dos nepmans e os privilégios da
burocracia. Nesse sentido, quem questionava o “socialismo real” era denunciado
por estes setores como “traidor da revolução”, sendo perseguido, preso e
assassinado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas
este processo de capitulação ao “socialismo num só país” não era homogêneo,
grupos sociais se organizaram contra a reação articulada em torno da teoria do
socialismo num só país. A forma de superar os problemas colocados pelo passo
atrás, desenvolvimento do comércio, a diferenciação social era desenvolver
bases mais sólidas dentro proletariado, ampliando a participação operária no governo,
fazendo a revolução avançar por meio de seu ativismo político, além disso, era
necessário instituir imposto progressivo aos Kulaks, fazendo com que este
pagasse mais impostos que os mujikes como forma de fazer atrofia a desigualdade
econômica, e ainda conceder isenção de impostos aos 40% do campesinato mais
empobrecido. Pois, para Trotski, frente às adversidades postas, o principal
perigo seria “ignorar os perigos de classe, passa por cima deles, e combate
qualquer tentativa de chamar a atenção sobre eles. Deste modo adormece a
vigilância e reduz a disposição de combate do proletariado”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Embora
fosse necessário, para um diagnóstico sincero e profundo das condições da luta
proletária na Rússia, considerar que o proletariado estava em 1926 “consideravelmente
menos receptivo às perspectivas revolucionárias e às amplas generalizações do
que durante a Revolução de Outubro e os anos que a seguiram”. Para Trotski o
partido revolucionário não poderia “se adaptar passivamente a todas as mudanças
no estado de ânimo das massas. Mas este também não deve ignorar as alterações
produzidas por causas históricas profundas”. O partido deveria ter um programa
e uma estratégia revolucionária para a luta pela emancipação humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">O
Partido Comunista Russo tinha grande responsabilidade em manter os ânimos
revolucionários do proletariado enquanto a revolução socialista não eclodisse
em outros pais do globo. Principalmente por que a “A velha geração da classe
trabalhadora, que fez duas revoluções, ou fez a última, começando em 1917, está
sofrendo de esgotamento nervoso, e uma porção substancial deles teme qualquer
nova convulsão, com sua perspectiva concomitante de guerra, destruição,
epidemias e tudo o mais”. O Partido, para manter viva a luta do proletariado
por seu programa histórico, necessitava criar e recriar constantemente bases
sócias revolucionárias. Buscar fazer avançar os elementos mais revolucionários
e dispostos das gerações anteriores, que fizeram a revolução de 1905 e 1917, e
ainda, era necessário formar as novas gerações na perspectiva da revolução
permanente. Necessitava-se de uma vanguarda revolucionária que trabalhasse
intensamente para reanimar a classe trabalhadora como forma de aprofundar a
revolução, contra a burocracia estatal do Partido, contra os Kulaks e os
nepmans. Porém as gerações mais velhas estavam sendo isoladas do Partido, dando
lugar aos elementos mais conservadores, e as novas gerações portadoras de animo
e disposição revolucionária não estavam encontrando espaço dentro do Partido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">A jovem geração,
que está amadurecendo somente agora, carece de experiência na luta de classes e
da têmpera revolucionária necessária. Não explora por si mesma, como fez a
geração anterior, porém fica imediatamente envolvida pelo ambiente das mais
poderosas instituições do governo e do partido, pela tradição do partido, a
autoridade, a disciplina etc. No momento isto dificulta que a jovem geração
cumpra um papel independente. A questão da correta orientação da jovem geração
do partido e da classe trabalhadora adquire uma importância colossal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A
articulação do Partido com os elementos mais conservadores, com progressivo
isolamento dos revolucionários e a falta de espaço para atuação da juventude
revolucionária certamente tinha como objetivo maior manter o equilíbrio do poder
dos grupos dominantes na Rússia. O Partido Estatal optou abertamente pela
manutenção das políticas de beneficiamento social-econômico dos Kulaks dos
Nepmans e aumento progressivo da influencia e das liberdades dos grupos mais
conservadores dentro do Partido. Nesse período <o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">(...) teve lugar
um aumento extremo do papel exercido no partido e no aparato do Estado pela
categoria especial dos velhos bolcheviques, que eram membros ou trabalharam
ativamente no partido durante o período de 1905; que depois, no período da
reação, deixaram o partido, se adaptaram ao regime burguês e ocuparam postos
mais ou menos destacados no mesmo; que eram defensistas, como toda a <i>intelligentsia </i>burguesa; e que, junto
com esta última, foram impulsionados adiante na Revolução de Fevereiro (com a
qual nem sequer sonhavam ao princípio da guerra); que foram ferrenhos oponentes
do programa leninista e da Revolução de Outubro; porém que retornaram ao
partido depois que a vitória esteve assegurada ou depois da estabilização do
novo regime, na época em que a <i>intelligentsia</i>
burguesa deteve sua sabotagem. Estes elementos, que se reconciliaram mais ou
menos com o regime czarista depois de seu golpe contra-revolucionário em 13 de
Junho de 1907, por sua própria natureza não podem ser mais que elementos de
tipo conservador. Estão a favor da estabilização em geral e contra a oposição
em geral. A educação da juventude do partido está na sua maior parte em suas
mãos. (...) Tal é a combinação de circunstâncias que no período recente do
desenvolvimento do partido determinou a reorganização da direção do partido e o
deslocamento da política do partido para a direita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;"> Partir da análise das principais tendências
que envolviam o Partido e a sociedade russa pós-1917, a influência dos Kulaks,
dos Nepmans e da burocracia, Trotski chegou, ao que em seu diagnóstico social
seriam os elementos que contribuíam para a restauração, segundo o autor os
elementos que criavam base para a restauração burguesa se encontravam em: “(a)
a situação do campesinato, que não deseja o regresso dos latifundiários, mas
que ainda não tem interesses materiais no socialismo (aqui se mostra a
importância de nossos laços políticos com os camponeses pobres); (b) o estado
de ânimo de um setor considerável da classe trabalhadora, a diminuição de sua
energia revolucionária, a fadiga da velha geração, o aumento do peso específico
dos elementos conservadores”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Por
outro lado, o autor também elenca os elementos que considerava se colocavam
contra qualquer tentativa de restauração capitalista, estes eram: “(a) o temor
do <i>mujik</i> de que o latifundiário
voltará com os capitalistas, do mesmo modo que fugiu com os capitalistas; (b) o
fato de o poder e os mais importantes meios de produção permanecerem
efetivamente nas mãos do Estado operário, ainda que com deformações extremas.;
(c) o fato de que a direção do Estado realmente permanece nas mãos do Partido
Comunista, mesmo quando este reflita as mudanças moleculares das forças de
classe e os variáveis estados de ânimo político”. O Estado Russo se caracterizava
como um Estado operário degenerado, que estagnava o avanço da revolução
proletária, mas que ainda não havia juntado forças para um forte contragolpe
restauracionista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A
tendência contra-revolucionária continuou a fortalecer-se. E entre 1926 e 1927
consolidou-se no poder na Rússia, nas palavras de Trotski em A revolução traída
“uma casta incontrolável, estranha ao socialismo”, a revolução social fora
traída pelo partido governante que passou a aliança com os setores
conservadores e reformistas, pactuando com a democracia burguesa, em ataque
direto contra o proletariado e os grupos opositores e semi-opositores, bem como
aos elementos isolados que mantiveram atitude critica frente ao termidor
soviético. Apostou-se tudo nos Kulaks (camponeses ricos) e nos nepman (novos
ricos).</span><br />
O
Partido Comunista da União Soviética, com a morte de Lênin, principal dirigente
do Partido, passa por radicais transformações. Já em 1924, as frações mais
conservadoras começam a galgar posições de comando na direção do PC russo. Para
conquistar maior influência na direção do Partido e da sociedade russa, estas
frações aproveitam-se das principais contradições sociais, política e
econômicas colocadas no período (TROTSKI, 2005: SERGE, 2008).<br />
Desenvolvia-se
neste período um profundo refluxo da organização do proletariado russo, que
acabara de sair de um período de guerra civil travada contra as potências
imperialistas que invadem a nascente república proletária soviética. Este bloco
formado pelas alas mais conservadoras do partido tinha como principal expoente
J. Stalin, sob sua direção é expressa a teoria do “socialismo num país só”,
segundo a qual o socialismo poderia sobreviver apenas na Rússia. Ainda, de
acordo com esta teoria o socialismo apenas seria possível em países altamente desenvolvidos,
tal como os E.U.A., Inglaterra e Alemanha. Em todos os outros países o
proletariado deveria lutar por uma fase intermediária, democrático-burguesa,
antes de lutar pelo socialismo.<br />
No
desenvolver da pratica social e política, isso significava que os partidos
comunistas espalhados pelo mundo deveriam buscar identificar e apoiar os
interesses de suas burguesias nacionais-democráticas. Todo o proletariado
deveria ser organizado pelos comunistas para apoiar as demandas dessas
burguesias. Apenas após ter atingido a revolução democrática-burguesa que
emancipasse a burguesia é que o proletariado poderia engajar-se diretamente em
sua própria emancipação, e apenas a partir disso, poderia ter um programa
próprio, com independência política em relação aos interesses da burguesia.<br />
<br />
<b style="text-indent: 0cm;">A TEORIA DO
SOCIALISMO EM UM SÓ PAIS E A REVOLUÇÃO POR ETAPAS</b><br />
A “teoria” do
<i>socialismo num só país</i>, bem como a da
<i>revolução por etapas</i>, é formulada no
interregno de 1924 a 1926. Somada a tais formulações seguem-se os movimentos práticos,
operando significativo giros à direita para atacar os setores revolucionários
do Partido Bolchevique e do movimento operário e camponeses. Entre estes
ataques estão a estratégia aplicada a revolução chinesa por decisão da
Internacional Comunista dirigida por Stalin e Bukharin. Soma-se ainda o
extermínio dos Kulacs em 1928, os processos conhecidos como <i>trens de kirov</i> e os <i>Processos de Moscou</i> e o acordo Hitler- Stalin. Neste ínterim as
traições as revoluções, e a busca de acordo e de coexistência pacifica com o
imperialismo, são justificadas a partir das referidas “teorias”, efeitos
flagrantes destas políticas capitulacionistas foram o esmagamento da revolução
chinesa, da revolução espanhola. A traição da revolução espanhola e a política
levada a cabo na Alemanha como os <i>sindicatos
vermelho</i>s, levou ao sufocamento das possibilidades da revolução no
Ocidente.<br />
As primeiras formulações desta nova linha do
Partido Comunista da União Soviética vem a público em 18 de maio de 1924, por
meio do texto intitulado <i>Sobre os
fundamentos do Leninismo<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn3" name="_ftnref3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[3]</span></b></span></span></a></i>.
Neste texto assinado por Stalin, publicado durante sua primeira atuação em
conjunto com Zinoviev e Kamenev, na direção do Partido Comunista Russo
conhecida como <i>troika</i>, tem-se uma das
primeiras elaborações teóricas que buscam constituir uma base explicativa que
justificasse o socialismo em um só pais e a revolução por etapas. Ou seja, mais
do que simples explanações de elementos teóricos de Marx e Lênin, o texto busca
consubstanciar as propostas de orientação que seriam apresentadas no V
Congresso da Internacional Comunista que seria realizado no mês seguinte. Desta
forma, o documento é, na prática, uma tese pré-congressual.</div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">O
texto é uma amalgama de citações de Marx e Lênin, misturando posições corretas
dos revolucionários às necessidades da burocracia soviética e sua nova linha.
Busca defender a especificidade russa como causa da revolução socialista em um
país atrasado. Define a revolução russa como um caso único, em que uma pequena
classe operária conseguiu acaudilhar a maioria campesina para a tomada do
poder. Isso porque as condições do país, somadas as experiências de luta
conjuntas com o proletariado, não teria deixado outra alternativa aos
camponeses senão apoiar a revolução proletária, identifica-se os camponeses como
“reserva do proletariado”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
1924 ainda haviam setores importantes no partido bolchevique que participaram
ativamente dos processos revolucionários de 1905, 1917 e da guerra civil, por
isso tinham profundo conhecimento dos debates teóricos e estratégicos, bem como
das formulações de Lênin, por isso a troika busca apontar continuidades com as
formulações de Marx a Lênin, reivindica a centralidade da hegemonia operária.
Por outro lado, combate a teoria da ofensiva permanente defendida por Bukharin
depois da derrota da revolução alemã. Mesmo sem citar nomes, o texto atribui a
teoria da ofensiva permanente a Trotski, alegando ainda que este desprezava o
papel do camponeses na revolução socialista. Acusações falsas, como se pode
conferir no texto Balanço e perspectivas de 1905. Neste trabalho Trotski
defende que a revolução socialista apenas seria possível se o proletariado
conquistasse o apoio dos camponeses pobres, mas que o programa do proletariado
é que deveria ser hegemônico. Mesmo no que diz respeito à revolução alemã de
1923, Trotski era defensor de que se analisasse cuidadosamente as correlações
de força entre as classe, e que se preparasse medidas transacionais, no caso
especifico de 1923, com desagregação do regime alemão, defendia o governo operário-camponês.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
ala mais conservadora do Partido Bolchevique precisava atacar e falsificar as
posições de Trotski como forma de atacar as posições revolucionárias. No meio
das amalgamas teóricas do texto, coloca-se ainda de forma inicial a referencia
a possibilidade do socialismo em um só pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Antes, considerava-se impossível a vitória da revolução num só país,
porque se achava que, para alcançar a vitória sobre a burguesia, fosse
necessária a ação comum do proletariado de todos os países avançados, ou, pelo
menos, da maioria destes. Hoje, este ponto-de-vista não mais corresponde à
realidade. Hoje, é necessário partir da possibilidade desse triunfo, porque o
caráter desigual e aos saltos do desenvolvimento dos diversos países
capitalistas, na fase do imperialismo, o desenvolvimento das catastróficas
contradições internas do imperialismo, que geram as guerras inevitáveis, o
desenvolvimento do movimento revolucionário em todos os países do mundo: tudo
isso determina não somente a possibilidade, mas também a inevitabilidade da
vitória do proletariado em um ou outro país. A história da revolução na Rússia
nos fornece uma prova direta. Basta lembrar que a derrubada da burguesia só
pode ser efetuada com êxito caso existam certas condições absolutamente
indispensáveis, sem as quais nem sequer é possível pensar na tomada do Poder
pelo proletariado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Também
em outro trecho, ainda com certa ambiguidade, novamente a faz-se referencia
possibilidade de desenvolvimento do socialismo em um só país:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Mas derrubar o Poder da burguesia e instaurar o Poder do proletariado
num só país não significa ainda assegurar a vitória completa do socialismo.
Depois de ter consolidado o seu Poder e arrastado para o seu lado os
camponeses, o proletariado do país vitorioso pode e deve edificar a sociedade:
socialista. Mas porventura significa que, com isso, ele chegará à vitória
completa, definitiva, do socialismo, isto é, significa que o proletariado pode,
com as forças de um só país, consolidar definitivamente o socialismo e garantir
inteiramente o país contra a intervenção estrangeira e, por conseguinte, contra
a restauração? Não, não significa isso. Para isso é necessária a vitória da
revolução em pelo menos alguns países. Por isso, desenvolver e apoiar a
revolução noutros países é uma tarefa essencial da revolução vitoriosa. Por
isso, a revolução do país vitorioso deve ser considerada, não como uma entidade
autônoma, mas como um apoio, como um meio para acelerar a vitória do
proletariado nos outros países.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As
viragens da estratégia do partido serão feitas de forma relativamente lenta. Na
sessão VII do texto intitulada “Estratégia e tática”, tem-se o sub-tópico “As
etapas da revolução e a estratégia”. Neste formula-se que a revolução na Rússia
teria seguido três etapas. A primeira etapa teria se estendido de 1903 a
fevereiro de 1917. Nesta fase defende-se que a luta dos bolcheviques era para
derrubar o tzarismo e os resquícios feudais. Não se fala de luta pelo
socialismo, mas sim de busca pela “revolução democrática”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A nossa revolução já percorreu duas etapas e, após a Revolução de
Outubro, entrou na terceira. De acordo com isso, foi modificada a estratégia. <b><i>Primeira etapa</i></b><i>: </i>1903–fevereiro
de 1917. Objetivo: derrubar o tzarismo, liquidar por completo as sobrevivências
medievais. Força fundamental da revolução: o proletariado. Reserva imediata: os
camponeses. Direção do golpe principal: isolamento da burguesia monárquica
liberal, que se esforça por atrair para o seu lado os camponeses e por liquidar
a revolução mediante uma <i>composição </i>com o tzarismo. Plano de disposição
das forças: aliança da classe operária com os camponeses. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Esta
primeira etapa da revolução seria seguida por uma segunda desencadeada de março
a outubro de 1917, etapa onde o proletariado luta contra o imperialismo. Apenas
nessa fase é que se faz referencia a revolução socialista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<b><i>Segunda etapa</i></b><b><i>:</i></b><i> </i>Março de 1917—Outubro de 1917. Objetivo: derrubar o imperialismo na
Rússia e sair da guerra imperialista. Força fundamental da revolução: o
proletariado. Reserva imediata: os camponeses pobres. O proletariado dos países
vizinhos como reserva provável. O prolongamento da guerra e a crise do
imperialismo como circunstância favorável. Direção do golpe principal: isolar a
democracia pequeno-burguesa (<a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/m/menchevismo.htm" target="_blank"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">mencheviques</span></a>, <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/p/partido_soc_revoluc.htm" target="_blank"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">social-revolucionários</span></a>) que se esforça por atrair para o seu
lado as massas trabalhadoras dos camponeses e por liquidar a revolução mediante
uma <i>composição </i>com o imperialismo. Plano de disposição das forças:
aliança do proletariado com os camponeses pobres.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Depois
de decorrida a etapa democrática, seguida pela etapa socialista, ter-se-ia começado
a etapa da construção do socialismo em um só pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<b><i>T</i></b><b><i>erceira etapa</i></b>: Começa depois da Revolução de Outubro.
Objetivo: consolidar a ditadura do proletariado num só país e utilizá-la como
ponto de apoio para derrubar o imperialismo em todos os países. A revolução sai
dos limites de um só país; começou a época da revolução mundial. Forças
fundamentais da revolução: a ditadura do proletariado num país, o movimento
revolucionário do proletariado em todos os países. Reservas principais: as
massas de semiproletários e de pequenos camponeses nos países avançados, o
movimento de libertação nas colônias e nos países dependentes. Direção do golpe
principal: isolar a democracia pequeno-burguesa, isolar os partidos da II
Internacional, que são o principal ponto de apoio da política de composição com
o imperialismo. Plano de disposição das forças: aliança da revolução proletária
com o movimento de libertação das colônias e países dependentes. A estratégia
se ocupa das forças fundamentais da revolução e das suas reservas. Ela se
modifica com a passagem da revolução de uma etapa a outra e permanece
inalterada, em essência, por todo o curso de uma etapa determinada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Será
a partir destas precárias bases que se edificarão a “teoria” do socialismo em
um só país e da revolução por etapas. Segundo estas definições em todos os
países do mundo, como exceção dos EUA, Inglaterra e Alemanha, os adeptos ao
Partido Comunista da União Soviética deveriam lutar primeiro por uma fase
democrática da revolução e apenas após consolidá-la, o que poderia demorar
meses ou anos, lutar-se ia pela revolução socialista. Sendo possível o
socialismo num só país, todos os adeptos ao PCUS deveria defender a pátria
socialista. Outra mudança significativa apontada no texto é referente as
tendências dentro do PCUS. A história do PCUS é a história da luta de
tendências. Mas como desdobramento da guerra civil em 1919, proibi-se
temporariamente as frações e tendência em seu interior. Como forma de sufocar
as tendência que poderiam se opor a nova linha, a troika irá aproveitar-se
desta regra de exceção para proibir definitivamente que se expressem frações no
interior do partido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Não se pode deixar de concluir que a existência de frações não é
compatível nem com a unidade do Partido, nem com a disciplina férrea. Não é
preciso demonstrar que a existência de frações leva à existência de diversos
organismos centrais, que a existência desses organismos significa a
inexistência de um centro comum a todo o Partido, a ruptura da vontade única, o
relaxamento e a desagregação da disciplina, o enfraquecimento e a decomposição
da ditadura. Naturalmente, os partidos da II Internacional, que lutam contra a
ditadura do proletariado e não querem levar o proletariado ao Poder, podem
permitir-se um liberalismo como o de dar liberdade às frações, porque eles na
realidade não precisam de uma disciplina férrea. Mas os partidos da <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/c/comintern.htm" target="_blank"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">Internacional Comunista</span></a>, que organizam o seu trabalho levando
em consideração as tarefas da conquista e do fortalecimento da ditadura do
proletariado, não podem aceitar nem "liberalismo" nem liberdade de
frações. O Partido é uma unidade de vontade que exclui todo fracionismo, toda
divisão do poder no Partido. Daí os esclarecimentos de <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/l/lenin.htm" target="_blank"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">Lênin</span></a> sobre o "perigo do fracionismo, do ponto-de-vista
da unidade do Partido e da realização da unidade de vontade da vanguarda do
proletariado, como condição essencial do êxito da ditadura do
proletariado", esclarecimentos fixados na resolução especial do X
Congresso do nosso Partido, "Sobre a unidade do Partido." Daí a
exigência feita por <a href="http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/l/lenin.htm" target="_blank"><span style="color: windowtext; text-decoration: none; text-underline: none;">Lênin</span></a> sobre "a supressão completa de todo
fracionismo" e "a dissolução imediata de todos os grupos, sem
exceção, formados na base desta ou daquela plataforma", sob pena de
"imediata e incondicional expulsão do Partido." (Vide a resolução
"Sobre a unidade do Partido.").<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
regra de exceção passará a ser regra permanente no Partido, com isso poder-se-á
expulsar Trotski e quaisquer outros que se oponham a nova linha do partido.
Esta determinações centrais serão ainda referendadas no V Congresso da
Internacional Comunista realizado nos meses de junho e julho de 1924, após a
morte de Lenin. De acordo com análise de Mazzeo<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn4" name="_ftnref4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></a>
(1999) “(...) nesse Congresso evidencia-se o inicio do reducionismo teórico,
que se acentua nos anos subsequentes devido a dois elementos fundamentais: 1) o
aprofundamento da subordinação das formulações estratégicas da IC à construção
do socialismo em um só país – que se constitui no ponto central (...). (p. 42).
Ainda “(...) a teoria do nacionalismo revolucionário tem alterada seus
conteúdos, na medida em que fica submetida à incorporação de frações burguesas
e parte da pequena burguesia ao bloco operário camponês”. (p. 42-43).<b><o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Cinco
meses após o V Congresso da Internacional Comunista, é publicado em dezembro de
1924, um novo texto assinado por Stalin, sob o título “A Revolução de Outubro e
a Tática dos Comunistas Russos<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn5" name="_ftnref5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></a>”,
aprofunda-se as formulações sobre a “teoria” da revolução por etapas e do
socialismo em um só país. Ambas vão assumindo cada vez mais centralidade na política
externa da URSS. Segundo o texto “(…) a ditadura do proletariado se consolidou
entre nós como resultado da vitória do socialismo num só país, pouco
desenvolvido, do ponto de vista capitalista, enquanto o capitalismo continua a
existir nos outros países, mais desenvolvidos, do ponto de vista capitalista.” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Noutro
trecho do mesmo documento continua “a vitória do socialismo num só país – mesmo
que este país seja menos desenvolvido, do ponto de vista capitalista, e o
capitalismo continue a manter-se noutros países, mais desenvolvidos do ponto de
vista capitalista – é perfeitamente possível e provável”. Desde o inicio estas
teses são atribuídas a Lênin “Já durante a guerra Lênin, partindo da lei do
desenvolvimento desigual dos Estados imperialistas, opunha aos oportunistas a
sua teoria da revolução proletária, que admite a vitória do socialismo num só
país, mesmo que este país seja menos desenvolvido do ponto de vista
capitalista”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Questões do leninismo<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
25 de janeiro de 1926, já com sob a vem a público o texto <i>Questões do leninismo<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn6" name="_ftnref6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[6]</span></b></span><!--[endif]--></span></a></i>.
Neste texto, também assinado por Stalin, publicado durante o sua atuação em
conjunto com Bukharim e Richov, na direção do Partido Comunista Russo conhecida
como triunvirato, reforça-se as elaborações teóricas que buscam constituir uma
base explicativa que justificasse o socialismo em um só pais e a revolução por
etapas. O texto marca um período de ruptura com Kamenev, Zinoviev atacando-os
diretamente. Estes rompem temporariamente com a ala stalinista e articulam com Trotski
a <i>Oposição Unificada</i> contra as
degenerações da revolução russa e do Partido Bolchevique<i>.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">No
<i>Questões do leninismo</i>, para se operar
um giro à direita, são criticada inclusive asformulações expressas no texto <i>Sobre os fundamentos do Leninismo</i>.
Atribui a Zinoviev a compreensão do Leninismo como teoria especificamente
aplicável à Rússia. Acusa Zinoviev de defender que o leninismo atribui
centralidade ao campesinato. Além disto, busca aprofundar as formulações sobre
a possibilidade de edificação do socialismo em um só pais, tomando esta como um
teoria desenvolvida por Lenin, ataca Zinoviev porque agora, em seu livro <i>O Leninismo</i> negar-se a defesa desta
tese.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Acaso não é certo que a questão do imperialismo, a questão do
desenvolvimento a saltos do imperialismo, a questão do triunfo do socialismo em
um só país, a questão do Estado do proletariado, a questão a forma soviética de
Estado, a questão do papel do Partido dentro do sistema da ditadura do
proletariado, a questão dos caminhos da edificação do socialismo; acaso não é
certo que todas estas questões foram esclarecidas precisamente por Lênin.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mas,
uma das questões mais importantes deste texto de 1926, publicado sob o governo
do triunvirato, é que ele altera o texto <i>Sobre
os fundamentos do Leninismo</i> de 1924. Esta mudança é apresentada no texto <i>Questões do leninismo<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn7" name="_ftnref7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><b><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[7]</span></b></span><!--[endif]--></span></a>. </i>Na
sessão VI do referido texto faz-se a critica ao texto de 1924 argumentando que
após aquele debate iniciado no texto de 1924 “se pôs na ordem do dia um nova
questão, a questão da possibilidade de edificar a sociedade socialista completa
com as forças de nosso país e sem ajuda exterior”. Argumenta-se que o problema
da formulação anterior<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Seu defeito consiste em que funde em uma só questão duas questões
distintas: a questão da possibilidade de levar a cabo a edificação do
socialismo com as forças de um só país,
questão a que se há que dar uma resposta afirmativa, e a questão de se um pais
com ditadura do proletariado pode considerar-se completamente prevenido contra
a intervenção e, por portanto, contra a restauração do velho regime, sem uma
revolução vitoriosa em outros países, questão a que se há de dar um resposta
negativa. Isto, sem falar de que desta formulação pode dar motivo para crer que
é impossível organizar a sociedade socialista com as forças de um só país,
coisa que, naturalmente é falsa<span class="texto1"><span style="font-size: 5.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">. (p. 138).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ou
seja, se no texto de 1924, ainda que de forma amalgamada, entendia como
necessário expandir a revolução para outros países para que a revolução russa
não retrocedesse, aqui neste texto abre-se mão completamente da necessidade da
revolução em outros países para a manutenção das conquistas da revolução de
1917. A preocupação central aqui é prevenir-se de ataques capitalistas. E assim
subsistir em meio às potencias capitalistas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Baseando-me nisso, em meu folheto A revolução de outubro e a tática do
comunistas russos (dezembro de 1924), modifiquei e corrigi esta formulação,
dividindo a questão em duas: na questão da garantia completa contra a
restauração do regime burguês e na questão da possibilidade de edificar a
sociedade socialista completa em um só pais. E conseguindo isto, primeiro, ao
apresentar “a vitória completa do socialismo”como “garantia completa contra a
restauração da antiga ordem de coisas”, garantia que só se pode obter mediante
“os esforços conjuntos dos proletários de alguns países, e, segundo, ao
proclamar, baseando-me no folheto de
Lênin <i>Sobre a Cooperação</i>, a verdade
indiscutível de que contamos com todo o necessário para edificar a sociedade
socialista completa. (138-139).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ou
seja, após atribui a Lenin a formulação do socialismo em um só país, ela é
aprovada na XIV Conferencia do Partido Comunista Russo de 1925 com um novo grau
de determinação. Conforme elucida-se no texto Questões do leninismo “Esta nova
formulação foi a que serviu de base para a conhecida resolução da XIV
Conferencia do Partido Sobre as tarefas da Internacional Comunistas e do PC(b)
da Rússia que trata da questão do triunfo do socialismo em um só país, em
relação com a estabilização do capitalismo (abril de 1925), e que considera
possível e necessária a edificação do socialismo com as forças de nosso país.”
No texto, destaca-se que estas formulações estão em continuidade direta com as
da Conferencia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Esta formulação serviu também de base para o meu folheto Balanço dos
trabalhos da XIV Conferencia do PC(b) da Rússia, publicado imediatamente depois
desta Conferencia, em maio de 1925. Relativa a colocação da questão do triunfo
do socialismo em um só pais, e aqui o que se disse neste folheto: “Nosso país
nos mostra dois grupos de contradições. Um deles forma as contradições
internas, entre o proletariado e o campesinato (aqui se trata da edificação do
socialismo em um só pais. J. St). O outro, as contradições externas, entre
nosso país, como país do socialismo, e todos os demais países, como países do
capitalismo (aqui se trata do triunfo definitivo do socialismo. J. St.)”… Quem
confunde o primeiro grupo de contradições, que é perfeitamente possível vencer
com os esforços de um só país, com o segundo grupo de contradições, para vencer
as quais fazem falta os esforços dos proletários de alguns países, comete um
gravíssimo erro contra o leninismo, e é um confusionista ou um oportunista
impertinente” (Balanço dos Trabalhos da XIV Conferencia do PC (b) da Rússia).
(p. 139).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
continuidade a discussão, e referindo-se ao mesmo folheto acrescenta que já se
considerava era possível “levar a cabo a edificação do socialismo, e o iremos
edificando juntamente com o campesinato e sobre a direção da classe
operária”... pois “sobre a ditadura do proletariado que se dá em nosso país...
todas as premissas necessárias para edificar a sociedade socialista completa,
vencendo todas e cada uma das
dificuldades internas, pois podemos e devemos vencê-las como nossas próprias
forças”. No mesmo folheto, ainda a respeito da possibilidade do triunfo do
socialismo em um só país, afirma-se que assegurando a não intervenção de outros
países sobre a Rússia, a edificação do socialismo em um só país estaria
garantida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
O triunfo definitivo do socialismo é a garantia completa contra as
tentativas de intervenção e, portanto, também de restauração, pois uma
tentativa de restauração de alguma importância só pode produzir-se com um
considerável apoio do exterior, com o apoio de capital internacional. Posto
isso, o apoio dos operários de todos os países a nossa revolução, e com maior
razão o triunfo destes operários, ainda que só seja em um poucos países, é
condição indispensável para garantir plenamente ao primeiro país vitorioso
contra as tentativas de intervenção e de restauração, é condição indispensável
para o triunfo definitivo do socialismo. (p. 139).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Deriva
destas formulações a relação do Partido Comunista russo com os outros partidos
comunistas e socialistas criados em outros países. Pois para o governo russo
era preferível que os países não fizessem novas revoluções, mas apenas
construíssem compromisso com setores da burguesia em torno da defesa da URSS.
Novas revoluções significativa novos atritos com setores da burguesia mundial e
suas colônias. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Que significa a possibilidade do triunfo do socialismo em um só país?
Significa a possibilidade de resolver as contradições entre o proletariado e o
campesinato com as forças internas de nosso país, a possibilidade de que o
proletariado tome o poder e o utilize para edificar a sociedade socialista
completa em nosso país, contando com a simpatia e o apoio dos proletários dos
demais países, mas sem que previamente triunfe a revolução proletária em outros
países. (…). Sem esta possibilidade, a edificação do socialismo é uma edificação
sem perspectivas, uma edificação que se realiza sem a segurança de levá-la a
cabo. Não se pode edificar o socialismo sem ter a segurança de que é possível
dar fim a obra, sem ter a segurança de que o atraso técnico de nosso país não é
obstáculo insuperável para a edificação da sociedade socialista completa. Negar
esta possibilidade é não ter fé na edificação do socialismo, é apartar-se do
leninismo. (…). Que significa a impossibilidade do triunfo completo e
definitivo do socialismo em um só país sem o triunfo da revolução em outros
países? Significa a impossibilidade de ter uma garantia completa contra a
intervenção e, por conseguinte, contra a restauração do regime burguês, se a
revolução não triunfa pelo menos, em vários países. Negar esta tese indiscutível
é apartar-se do internacionalismo, é apartar-s do leninismo. (p. 139-140).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em
outro trecho afirma-se categoricamente “Em outras palavras: podemos e devemos
edificar a sociedade socialista completa, pois dispomos de todo o necessário e
o suficiente para esta edificação”. (p. 141). Argumenta ainda que se não se
compreende a possibilidade de construção do socialismo em um só país “Não se
compreende então para que tomamos o poder m outubro de 1917, se não nos
propomos levar a cabo a edificação do socialismo”. (p. 141). Por outro lado, no
texto busca ainda deslegitimar qualquer questionamento em relação a
possibilidade de edificação do socialismo em um só país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Que significa a falta de fé no triunfo da edificação socialista em nosso
país? Significa, antes de tudo, falta de segurança de que as massas
fundamentais do campesinato, devido a determinadas condições do desenvolvimento
de nosso país, possam incorporar-se a edificação socialista. Significa, em
segundo lugar, falta de segurança que o proletariado de nosso país, dono das posições
dominantes da economia nacional, seja capaz de atrair as massas fundamentais do
campesinato e a edificação socialista. (p. 143)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Como
podemos ler, decorrem anos para que se coloque explicitamente a teoria do
socialismo em um só pais. É também ao longo destes anos que se ganha
centralidade a “teoria” da revolução por etapas. Será no VI congresso da
Internacional Comunista realizado em 1928 ratificará explicitamente tal
perspectiva. Conforme podemos ler nas Resoluções do VI Congresso<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn8" name="_ftnref8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></a>
“<span style="line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.5pt;">A diversidade das condições e das vias que conduzem à ditadura do
proletariado nos diferentes países pode ser esquematicamente reduzida a três
tipos principais”. O primeiro tipo é constituído por países de capitalismo
altamente desenvolvido. Neste primeiro bloco estão os países onde o
proletariado pode desencadear um processo revolucionário, tendo como objetivo
direto a construção do socialismo, podem “passar direto à ditadura do
proletariado”. Este é o bloco dos Países do capitalismo altamente desenvolvido,
seria composto centralmente pelos “Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra”.
Conforme definição do documento:<o:p></o:p></span></div>
<div class="Default" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">Países do capitalismo altamente
desenvolvido </span></i><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">(Estados
Unidos, Alemanha, Inglaterra, etc.) possuindo poderosas forças produtivas, uma
produção fortemente centralizada em que a pequena economia tem uma importância
relativamente pequena, gozando de um regime político de democracia burguesa há
muito tempo formado. Nestes países, a passagem directa à ditadura do proletariado
é a principal reivindicação política do programa. No domínio económico, os
pontos essenciais são: a expropriação de toda a grande produção, a organização
de um grande número de empresas agrícolas soviéticas de Estado e, inversamente,
a entrega de uma parte relativamente pequena de terras aos camponeses; uma
dimensão relativamente reduzida das relações económicas espontâneas de mercado;
um ritmo elevado da evolução socialista em geral e da colectivização da
economia camponesa em particular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Apenas
nestes países altamente desenvolvidos, que gozam de regimes políticos
democrático burgueses, é que se poderia organizar o proletariado para realizar
revoluções socialistas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
No
segundo grupo de países estariam aos países que ainda não teriam se constituído
como regimes políticos democrático burgueses, então, de acordo com tal lógica,
seria necessário lutar contra os resquícios do feudalismo. Consolidar a revolução
democrática burguesa, e apenas em uma próxima fase lutar pela revolução
socialista. Neste segundo bloco de países estão os <i>Países de desenvolvimento capitalista médio</i>. Este seria composto
centralmente pela Espanha, Portugal, Polônia, Hungria, Bálcãs. Diferente do
primeiro bloco, neste, supõem-se que os países ainda não teriam conseguido
livrar-se dos supostos resquícios feudais oriundo de sua formação histórica.
Desta forma possuem apenas condições mínimas para edificação do socialismo,
pois tem ainda que concluir as transformações democrático-burguesas, apenas
depois de concluída esta etapa é que se poderia pensar na possibilidade da
revolução socialista. Então, sob a ótica da burocracia stalinista, nestes
países os comunistas deveriam ajudar setores da burguesia e da pequena
burguesia a empreender uma revolução democrático-burguesa incompleta. De acordo
com o documento:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<i><span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">Países de desenvolvimento
capitalista médio </span></i><span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">(Espanha, Portugal, Polónia, Hungria, Balcãs, etc.) que conservam
vestígios bastante importantes do regime semi-feudal na agricultura, possuem no
entanto um certo mínimo de condições materiais indispensáveis à edificação
socialista, mas não têm ainda concluída a sua transformação
democrática-burguesa. Em <i>alguns destes países</i>, uma transformação mais ou
menos rápida da revolução democrático-burguesa em revolução socialista é
possível; <i>noutros</i>, são possíveis diversos tipos de revoluções
proletárias, tendo no entanto que levar a cabo tarefas de carácter
burguês-democrático de grande amplitude. Aqui, a ditadura do proletariado pode
portanto não se estabelecer de imediato; institui-se no decurso da transformação
da ditadura democrática do proletariado e dos camponeses em ditadura socialista
do proletariado; quando a revolução reveste imediatamente um carácter
proletário, pressupõe a direcção pelo proletariado de um amplo movimento
camponês-agrário; a revolução agrária tem aí, em geral, um grande papel, por
vezes decisivo; no decurso da expropriação da grande propriedade fundiária, uma
grande parte das terras confiscadas são colocadas à disposição dos camponeses;
as relações económicas do mercado conservam uma grande importância a seguir à
vitória do proletariado; trazer os camponeses à cooperação, depois agrupá-los
em associações de produção é uma das tarefas mais importantes da edificação
socialista. O ritmo desta edificação é relativamente lento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Além
destes dois grupos de países existiria ainda um terceiro grupo, formado por
países ainda mais atrasados econômica e politicamente. No terceiro bloco de países
estão os <i>Países coloniais, semicoloniais
e dependentes</i>. Este seria composto centralmente pela China, Índia,
Argentina, Brasil. Diferente tanto do primeiro, como do segundo bloco, este os
países, além de não terem conseguido livrar-se dos supostos resquícios feudais
oriundo de sua formação histórica, ainda tem apenas embriões de indústria.
Então, segundo a concepção stalinista, em pleno ano de 1928, predominavam
“relações sociais da Idade Média”. Nestes países os comunistas deveriam lutar
contra o feudalismo, pois segundo a lógica stalinista a passagem à ditadura do
proletariado só é possível “depois uma série de etapas preparatórias”. Nestes países
os comunistas deveriam estabelecer alianças com setores da burguesia
democrática e da pequena burguesia para lutar contra o feudalismo, estabelecer
a democracia burguesa, e, apenas em uma nova fase lutar pelo socialismo. Apenas
nesta ultima fase o proletariado poderia atuar como sujeito independente em
relação aos interesses da burguesia. De acordo com o documento:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<i>Países coloniais e semicoloniais </i>(China, Índia, etc.) <i>e
países dependentes </i>(Argentina, Brasil e outros) possuindo um embrião de
indústria, por vezes mesmo uma indústria desenvolvida, insuficiente embora, na
maioria dos casos, para a edificação independente do socialismo; países em que
predominam as relações sociais da Idade Média feudal ou o «modo asiático de
produção», tanto na vida econômica como na sua superestrutura política; países,
enfim, em que as principais empresas industriais, comerciais, bancárias, os
principais meios de transporte, os maiores latifúndios, as maiores plantações,
etc., se encontram nas mãos de grupos imperialistas estrangeiros. Aqui têm uma
importância primordial, por um lado, a luta contra o feudalismo, contra as
formas pré-capitalistas de exploração e a consequente revolução agrária e, por
outro lado, a luta contra o imperialismo estrangeiro, pela independência
nacional. A passagem à ditadura do proletariado só é possível nestes países,
regra geral, depois de uma série de etapas preparatórias, esgotado todo um
período de transformação da revolução burguesa-democrática em revolução
socialista, sendo que o sucesso da edificação socialista é, na maior parte dos
casos, condicionado pelo apoio directo dos países de ditadura proletária.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Ainda,
além destes três blocos fundamentais, existiria ainda um nível inferior de
desenvolvimento, composto por países ainda mais atrasados, localizados,
sobretudo no continente africano onde quase não existiriam trabalhadores
assalariados e nem tampouco burguesia nacional. Assim não existem sujeitos
capazes de protagonizar qualquer revolução, nem mesmo a revolução democrática
burguesa antifeudal. Nestes países a luta dos comunistas deveria limitar-se à
luta pela emancipação nacional, que deveriam livrar tais países do domínio
imperialista. De acordo com o documento:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.5pt;">Nos <i>países
ainda mais atrasados </i>(em determinadas partes de África, por exemplo), em
que quase não existem operários assalariados, em que a maioria das populações
vive em tribos, ou ainda subsistem formas primitivas de organização social,
onde quase não há burguesia nacional, onde o imperialismo estrangeiro tem,
antes de mais, um papel de ocupação militar para se apoderar das terras, a luta
pela emancipação nacional encontra-se em primeiro plano. A insurreição nacional
e a sua vitória podem aqui abrir a via para uma evolução no sentido do socialismo
sem passar pelo estado do capitalismo se uma ajuda efectiva e poderosa for
prestada pelos países de ditadura proletária</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">É
desta formulação que se desdobra o etapismo constitutivo do stalinismo, e
devera ser seguido por todos os partidos comunistas espalhados pelo mundo. Dos
aspectos centrais desta análise da Internacional Comunista desdobra-se uma nova
estratégia, que se opõe diretamente à perspectiva marxista revolucionária.
Agora os comunistas deveriam empenhar-se para uma conciliação das classes sociais
antagônicas nos distintos países, articulando os interesses da burguesia com os
da pequena burguesia e do proletariado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Trotski
no livro Stalin: o grande organizador de derrotas aponta que além do
esquematismo, reside nesta formulação outro equivoco: “Na medida em que os
países de “nível médio” são declarados no projeto como possuidores de “industriais
mínimas suficientes” para a construção socialista independente, isto é ainda
mais verdade para os países de alto grau de desenvolvimento. São <i>apenas</i> os países coloniais e
semi-coloniais que precisam de ajuda externa; este é precisamente o traço
distintivo do projeto de programa (p. 131-132). Para Trotski não é possível
realizar o socialismo mesmo em países altamente desenvolvidos, pois todos os
países compõem a cadeia econômica mundial, e estão sujeitos a sanções
comerciais, econômicas e políticas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Se, no entanto, identificarmos os problemas da construção socialista
apenas com esse critério [o da suficiência produtiva], abstraindo de outras condições,
tais como os recursos naturais do país, a correlação entre sua indústria e
agricultura, seu lugar no sistema econômico mundial, então cairemos de novo em
erros não menos grosseiros. Falemos da Grã-Bretanha. Sendo, sem dúvida, um país
capitalista altamente desenvolvido, ela tem precisamente por isso nenhuma
chance de sucesso na construção socialista nos limites de sua própria ilha. A
Grã-Bretanha, se bloqueada, seria simplesmente estrangulada em alguns meses.
(p. 132).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O autor parte já da lógica internacionalista. A
partir da conquista do poder político e econômico pelo proletariado nos países
mais desenvolvido, se comparado a um país menos desenvolvido do ponto de vista
das forças produtivas, o proletariado
teria mais vantagens para a construção do socialismo, mas se permanece isolado,
mesmo contanto com maior desenvolvimento das forças produtivas, será, necessariamente
sufocado pelas outras potencias imperialistas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent">
<span style="line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Seguindo a lógica da burocracia soviética, os
partidos comunistas passariam a lutar para livrar os países das formas
pré-capitalistas, passariam então a lutar diretamente para desenvolver o
capitalismo. Isso porque passou-se a
defender que “a luta pelo socialismo somente será viável mediante uma série de
etapas preparatórias e como resultado de um grande período de transformação da
revolução democrático-burguesa em revolução socialista”. Como se pode analisar,
a nova estratégia definia que revolução socialista seria realizada por etapas
determinadas, seu desdobramento determinava que o proletariado deveria
colaborar ativamente com frações da burguesia para livrá-la do atraso. A classe
trabalhadora deve ajudar a burguesia a eliminar os resquícios feudais da
sociedade e assim edificar o capitalismo, e depois disso, em uma nova fase o
construir-se-ia o socialismo. Apenas a
partir do momento em que se tem uma forma capitalista desenvolvida é que o
proletariado pode lutar pela revolução socialista, e assim, pela sua própria
emancipação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Dos
aspectos centrais desta análise da Internacional comunista desdobra-se uma nova
estratégia, que se opõe diretamente à perspectiva marxista revolucionária. Ao
definir que na quase totalidade dos países capitalistas <i>a luta fundamental é
contra o feudalismo e contra as formas pré-capitalistas de produção, em que
constituem objetivos conseqüentes a luta pelo desenvolvimento agrário, a luta
antiimperialista e a luta pela independência nacional</i>, acabava-se por redirecionar os objetivos
dos Partidos Comunistas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
A
fração stalinista ainda anunciava que o objetivo comum ainda era a construção
do socialismo, mas que, por causa do baixo desenvolvimento da forças
produtivas, ele ainda não poderia ser expandido para outros países do mundo.
Desta forma, para o proletariado chegar ao poder seria necessária abrir mão da
luta pelo socialismo e torna-se o principal sujeito na luta pela democracia
burguesa. A luta se daria em duas etapas, primeiramente apóia-se as frações
mais progressistas da burguesia para desenvolver as forças produtivas. Apenas
um uma nova fase histórica é que se poderia lutar pela emancipação humana por
via da atuação do proletariado organizado com um programa próprio, independente
dos interesses de outras classes ou frações. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Da mesma forma que em todas as colônias e
semicolônias, o desenvolvimento das forças produtivas e a socialização do
trabalho na China e na Índia estão em um escalão relativamente baixo. Esta
circunstância e o jugo da dominação estrangeira, igualmente a existência de
fortes resíduos de feudalismo e de relações pré-capitalistas, determinam o
caráter da próxima etapa da revolução nestes países..., revolução
democrático-burguesa, vale dizer, da etapa da preparação dos pressupostos para
a ditadura proletária e a Revolução Socialista (O VI Congresso da Internacional
Comunista, Informe y Discusiones apud ANTUNES, p.19-20)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Porém
quando se determina outro sujeito revolucionário, que não o proletariado, as
formulações da Internacional Comunista de Stalin, acaba-se por distanciar-se
das formulações da teoria da revolução socialista elaboradas por Marx, Engels, Lênin
e Trotski, uma vez que nenhum destes autores concebem a subalternização do
proletariado as objetivos de setores da burguesia<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn9" name="_ftnref9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
Tal constatação torna-se explicita quando tomamos para análise suas obras.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
Lênin e Trotski, principais
responsáveis pela organização da revolução russa de 1917 (REED, 2007: SERGE,
2008) e conseqüentemente responsáveis pela expropriação dos meios de produção
em posse da burguesia, tinham clareza das formulações de Marx e Engels. Por que
então em 1925 o Partido Comunista russo revolve abrir mão desta base teórica e
reorientar os partidos comunistas espalhados pelo mundo a colaborarem com
frações da burguesia? Trotski, combatendo a teoria do “socialismo em um só
pais” e a “revolução por etapas” buscará, ao longo de sua vida responder a esta
questão. <span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Segundo a
nova análise de Trotski, no texto <i>Estado
operário, termidor e bonapartismo</i> escrito em 1935 no exílio</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">O burocratismo soviético (seria mais correto dizer
anti-soviético) é o produto das contradições sociais entre a cidade e a aldeia,
entre o proletariado e o campesinato – estas duas classes de contradições não
são idênticas –, entre as repúblicas e os distritos nacionais, entre os
diferentes grupos do campesinato, entre as distintas camadas da classe operária,
entre os diversos grupos de consumidores e, finalmente, entre o Estado
soviético de conjunto e seu entorno capitalista. Hoje, quando todas as relações
se traduzem na linguagem do cálculo monetário, as contradições econômicas se
destacam com excepcional agudeza. (…). Elevando-se por cima das massas
trabalhadoras a burocracia regula estas contradições. Utiliza esta função para
fortalecer seu próprio domínio. Com seu governo sem nenhum controle, sujeito
unicamente a sua vontade, a burocracia acumula novas contradições.
Explorando-as cria o regime do absolutismo burocrático.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em meio a infinidade de contradições sociais e políticas a ditadura do
proletariado foi substituída, por meio de prisões, deportações,
desaparecimentos misteriosos, e fuzilamentos armados, por uma ditadura
burocrática, apoiada hora centralmente nos kulaks hora centralmente nos
nepmans. “Elevando-se por cima das massas trabalhadoras a burocracia regula
estas contradições. Utiliza esta função para fortalecer seu próprio domínio.
Com seu governo sem nenhum controle, sujeito unicamente a sua vontade, a
burocracia acumula novas contradições. Explorando-as cria o regime do
absolutismo burocrático”. Em prol destes o poder executivo foi concentrado e subalternizado
ao capital financeiro. Com tudo isso, na revolução soviética se deu um giro à
direita, ainda que em um ritmo lento e formalmente dissimulado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Entre os opositores
do <i>triunvirato</i> estava o grupo
“Centralismo Democrático” (V.M. Smirnov, Sapronov e outros, aos quais foram
perseguidos no exílio até a morte), e também os partidários da plataforma da
Oposição de Esquerda, os bolcheviques leninistas, também perseguidos e
assassinados. Existiam divergências
entre o grupo “Centrismo Democrático” e a “Oposição de Esquerda”. O grupo
“Centrismo Democrático” de Smirnov defendia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">(...) o atraso na industrialização, o avanço do <i>kulak</i>
e do <i>nepman</i> (os novos burgueses), a ligação entre eles e a burocracia e,
finalmente, a degeneração do partido teriam progredido tanto que seria
impossível voltar à construção socialista sem uma nova revolução. O
proletariado já havia perdido força. Com o esmagamento da Oposição de Esquerda,
a burocracia começaria a expressar os interesses de um regime burguês em
reconstituição. Teriam sido liquidadas as conquistas fundamentais da Revolução
de Outubro. Esta era a essência da posição do grupo “Centralismo Democrático”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Porém para a Oposição
de esquerda segundo Trotski, a burocracia que se consolidava no poder com base
centrada nos Kulaks e nos nepman, também tinham interesses conflitantes. Os <i>kulaks</i>, em 1927, exigindo maiores concessões do governo, com
apoio da ala direita do PCUS golpearam a burocracia negando-se a provê-la de
pão, que concentravam em suas mãos. Para a Oposição de Esquerda “Eram
inevitáveis outras rupturas nas fileiras burocráticas”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">Em 1928 a burocracia se dividiu
abertamente. A direita estava a favor de maiores concessões ao kulak. Os
centristas, armados com as idéias da Oposição de Esquerda, as mesmas que haviam
caluniado em coro com a direita, se apoiaram nos trabalhadores, tiraram do meio
a direita e tomaram o caminho da industrialização e, conseqüentemente, da
coletivização. Finalmente se salvaram as conquistas sociais básicas da
Revolução de Outubro, ao custo de inumeráveis e desnecessários sacrifícios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na perspectiva da Oposição de Esquerda “o setor mais importante da
burocracia centrista se inclinaria ante os operários em busca de apoio contra a
burguesia rural em avanço. Ainda estávamos muito longe da solução final do
conflito. Era prematuro enterrar a Revolução de Outubro”. Em meio a tais
processos a URSS tornou-se uma sociedade de transição contraditória, embora
tivesse elementos de negação capitalista, como os meios de produção
nacionalizados, mantinha também desigualdade das condições de vida com grandes
privilégios a burocracia, aos Kulaks e os nepman, a URSS se mantinha muito mais
próxima do regime capitalista do que do futuro comunismo. Porém ainda portava
condições para avanço das conquistas dos trabalhadores se conseguisse liquidar
a burocracia e a desigualdade social</span><span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Nesse sentido,
segundo o revolucionário, dois caminhos se colocavam, à URSS; a busca do
socialismo a restauração capitalista. O passo seguinte do Partido Comunista
Russo definiria os rumos desta disputa. Internamente o partido sobre a égide
stalinista inicia uma onda de perseguições e fuzilamentos para calar os
revolucionários, críticos e descontentes. Victor Serge, que fora membro do
Partido Bolchevique, exilado no México em 1947 no livro <i>O ano I da revolução russa</i> afirma que até 1928 havia mais de 30 mil
presos políticos na Rússia, mas, segundo o autor, este número cresceu
assustadoramente até 1947 para cerca de 10 a 12 milhões! Eliminando os
revolucionários aos milhares, quebrando a resistência socialista, cada vez mais
aumentava a distancia entre a Rússia e o socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">Os
dirigentes e intelectuais da tradição marxista revolucionária se agruparam em
torno de Trotski criando um grupo de oposição. Já durante a segunda metade da
década de 1920 as obras de Trotski foram proibidas e queimadas na Rússia.
Exilando-se em vários países, mas ainda combatendo o regime stalinista e
defendendo a emancipação humana Trotski fora perseguido e finalmente
assassinado no México em 1940. Sobre tal contexto analisa Serge:<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
<span style="color: #222222; font-size: 10.0pt;">(...) O grande fato essencial é que em
1927 e 1928, por meio de um golpe de força perpenetrado dentro do partido, o
estado-partido revolucionário torna-se um estado-policial-burocrático,
reacionário, sobre o terreno social criado pela revolução. A mudança de
ideologia se acentua violentamente. O marxismo das fórmulas vulgares,
elaboradas pelas repartições, substitui o marxismo critico dos homens
pensantes. Instaura-se o culto do Chefe. O “socialismo num só país” se torna o
clichê chave-mestra dos adventícios que nada mais querem além de manter os
próprios privilégios. O que as oposições mal entrevêem, angustiados, é que se
desenha um novo regime, o regime totalitário. A maioria dos velhos
bolcheviques, que havia derrotado a oposição trotskista, os Bukharin, Rykov,
Tomski, Riutin, ao se aperceberem disso se apavoraram e passaram também para
resistência. Tarde demais. (p.426-427).<o:p></o:p></span></div>
<div class="NormalWeb1" style="text-indent: 35.4pt;">
<div style="line-height: 150%;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;">A contra revolução
avança a passos largos, mas cresce também a oposição à perspectiva teórico-política
stalinista. A cúpula de Stalin elabora nova estratégia de contenção e
silenciamento violento da oposição crescente. Inicia-se então mais dez anos de
repressão, exílio, prisão e fuzilamentos com crivo estatal. De 1927 a 1937 a
cúpula faz uma nova “limpeza” no partido em âmbito nacional e internacional,
extirpando os revolucionários, muito mais profunda, esta nova fase elimina
desde a raiz os que viveram a experiência da revolução, atinge inclusive a
geração intermediária adepta ao bolchevismo e que engajava-se na perspectiva
marxista revolucionária. Sabia-se que o stalinismo não poderia triunfar na
Rússia caso não se eliminasse a geração revolucionária. Produz-se então uma
ruptura sangrenta entre bolchevismo e stalinismo. Sobre os elemento de ruptura
entre bolchevismo e stalinismo confira o artigo de Bernardo Cerdeira <i>Bolchevismo e stalinismo: um velho debate.</i><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[11]</span></span></span></a></span></div>
<div style="line-height: 150%;">
<span style="color: #222222; mso-ansi-language: PT-BR;"><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn11" name="_ftnref11" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><span class="Caracteresdenotaderodap"><span style="color: #222222; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></span></span></a></span></div>
<div style="text-indent: 0px;">
<span style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;"><b>OCTÁVIO</b></span><b style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;"> BRANDÃO E A
PRIMEIRA OBRA STALINISTA NO BRASIL</b></div>
<div style="line-height: 150%;">
<b style="text-indent: 0cm;"><br /></b></div>
<div style="line-height: 150%;">
No
Brasil o Partido Comunista Brasileiro terá as formulações da fração de Stalin
sintetizados pela pena de Octávio Brandão. O PCB havia sido fundado no Brasil
em março de 1922. No mesmo ano pleiteava a filiação e o reconhecimento da
Internacional Comunista organizada a partir da URSS. Para isso enviou um de
seus membros como delegado para o IV Congresso realizado entre novembro e
dezembro de 1922, seu nome era Antonio Bernardo Canellas. No entanto o partido
brasileiro foi aceito apenas como partido simpatizante, e não como membro
efetivo da Internacional comunista. Isso porque os delegados do Congresso
avaliavam que o PC brasileiro tinha membros ligados a maçonaria e com muitas
influencias anarquistas.</div>
<div style="line-height: 150%;">
Para
o V Congresso da Internacional Comunista, realizado em julho de 1924, foi
enviado Astrogildo Pereira como delegado brasileiro. Por conta de atrasos nos prazos
da realização do congresso, Astrogildo voltou para o Brasil e foi substituído
por Rodolfo Coutinho. A direção do PCB esforçava-se para adequar o partido as determinações
do partido de Moscou e as suas linhas políticas. É nesse movimento que buscamos
compreender as formulações de Octavio Brandão em seu trabalho <i>Agrarismo e Industrialismo</i>. Este
trabalho começou a ser produzido em julho de 1924 para serfinalmente publicado
em abril de 1926. Desta forma, absorveu tanto as formulações de Stalin dos <i>Fundamentos do leninismo</i> (publicado 18 de maio de 1924),
mas também as d’<i>A Revolução de
Outubro e a Tática dos Comunistas</i> <i>Russos</i>
(publicado em dezembro de 1924), incorporou ainda as resoluções do V Congresso
da Internacional Comunista, dirigida por Stalin, e <i>Questões do Leninismo</i> (publicado em janeiro de 1926). Este conjunto de
textos é que ditam a estratégia exposta no livro de Brandão e que norteará a pratica política dos militantes do PCB
durante toda a década de 1920. O livro em seu conjunto dedica-se a dois
objetivos centrais, 1) defender a tese segundo a qual predomina no Brasil
elemento políticos e econômicos e sociais da Idade Média e do feudalismo, este
se manifesta em forma de dominação dos agrários sobre os industrialistas, bem
como sobre a pequena burguesia, o proletariado e os demais setores sociais. 2) Desta
formulação desdobra-se que no Brasil a estratégia dos militantes do PCB seria
organizar em grande bloco heterogêneo, composto pelo proletariado,
pequena-burguesia e burguesia nacional contra os agrários para lutar por uma
“revolução democrática pequeno-burguesa”.</div>
<div style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<b style="line-height: 150%; text-indent: 0cm;">A </b><span style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;"><b>ANÁLISE</b></span><br />
<span style="line-height: 24px; text-indent: 35.4pt;"><b><br /></b></span>
<br />
<div style="line-height: 150%;">
Assim, o
Partido Comunista Brasileiro receberá, desde sua formação influência
estratégica direta das concepções da Internacional Comunista. Octavio Brandão
será o autor do primeiro ensaio teórico do PCB sobre a realidade brasileira,
buscando definir as teses para a revolução brasileira, expressas em seu livro <i>Agrarismo e industrialismo: ensaio
marxista-leninista sobre a revolta de São Paulo e a guerra de classes no Brasil</i>.
Brandão tinha origem anarquista e ingressou no PCB em 1922, tornando-se membro
do Comitê Central Executivo em 1923. Seu primeiro rascunho escrito em 1924
serviu como base teórica para o PCB desde o II Congresso, em 1925, até seu III
Congresso, realizado em 1929.</div>
<div style="line-height: 150%;">
Para o PCB o
livro deveria expor analises marxistas-leninistas (ou stalinistas) sobre a
composição de classes no Brasil, para com isso definir qual seria a melhor
estratégia para organizar a classe trabalhadora na luta pela transformação da
sociedade. Seguindo as determinações do Partido Comunista da União soviética,
sob direção de Stalin e Bukharin, o estudo baliza-se sobre a estratégia da
revolução por etapas, caracterizando no Brasil uma disputa entre o agrarismo
(identificado como feudalista) e indústrialismo (burguesia industrial e pequena
burguesia.</div>
<div style="line-height: 150%;">
Segundo a
concepção do PCB no período, o processo revolucionário deveria passar por duas
fases: na primeira, o proletariado se aliaria a pequena burguesia, representada
pelo movimento tenentista, este aliado com a burguesia industrial, derrubaria
do governo as oligarquias agrárias. Em uma segunda fase o proletariado lutaria
pela hegemonia no interior deste processo, buscando transformar a revolução
democrática em revolução socialista. A este processo de revolução por etapas,
Brandão denominou “Revolução democrática pequeno-burguesa”. Esta revolução
pequeno-burguesa deveria ser dirigida pela pequena burguesia pela abolição das
relações feudais. A segunda fase da revolução seria proletária, pautada nas
demandas históricas do proletariado, dirigida pelo PC, como o foi a revolução
russa em outubro de 1917. Segundo esta leitura, é retirado o protagonismo do
proletariado na primeira fase da revolução pequeno-burguesa. Ao proletariado só
cabe buscar apoiar a luta da pequena burguesia. Ficando então impedido de nesta
fase levantar suas próprias bandeiras históricas. A diretiva era ainda seguir o
exemplo do Kuomitang chinês, um partido policlassista pequeno-burguês. É
seguindo tal perspectiva que o PCB cria em 1927 o Bloco Operário Camponês – BOC
e busca estreitar relações com Luiz Carlos Prestes. Este deveria ser o
dirigente da revolução democrático-burguesa que seria protagonizada pelos
militares. O BOC deveria ser um Kuomitang tupiniquim, com fim de articular a
burguesia nacional e a pequena burguesia oprimida, esta frente eleitoral durou
até março de 1930. Buscava-se consolidar uma aliança entre a os remanescentes
da coluna e o PCB.</div>
<div style="line-height: 150%;">
De acordo com
o paradigma explicativo defendido no livro, laborado a partir das lentes
stalinista, a burguesia e a pequena burguesia urbana viviam sem poder político
e exploradas pelos latifundiários que detinham o poder político e econômico no
Brasil. Assim desenvolvia-se “A rivalidade entre os grandes industriais e os
grandes fazendeiros de café”. Isso, segundo Brandão o que fazia da burguesia e
pequena-burguesia agentes revolucionários:</div>
</div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
As restrições aos interesses dos grandes comerciantes, dos grande
usineiros e exportadores de açúcar, que não se resignam a ver seus lucros
diminuírem. A exploração desenfreada do país pelos grandes fazendeiros de café.
A concentração capitalista e o seu corolário – o empobrecimento sistemático dos
pequenos proprietários, pequenos comerciantes, industriais e funcionário nestes
últimos dez anos, isto é a proletarização da pequena burguesia. Os novos
impostos. (p. 26). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Aprofundando
tal caracterização, em Agrarismo e Industrialismo defende-se que para
desencadear a suposta revolução antifeudal contra a oligarquia agrária, pequena
burguesia, que tinha seus diretos eleitorais “pisados pela política atual”,
poderia ainda organizar frações da própria burguesia antifeudal contra os
agrários. Isso porque para Brandão as demandas e necessidades dos industriais
também eram desprezadas pelos grandes produtores de café. Os direitos de
setores da burguesia industrial e da pequena burguesia eram pisoteados e
desprezados pelo “espírito tacanho, feudal, dos governantes”. (p. 28).
Afirmando que o proletariado brasileiro ainda estava em formação, e portanto
era demasiadamente fraco, Brandão avalia ainda que havia “A desilusão da
pequena burguesia, de obter melhorias pelos canais competentes, isto é, pela
via legal, jurídica, pacifica, reformista” (p. 28), a revolução anti-agrária
era a única saída possível.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A situação revolucionária internacional. A vontade de dominação dos
grandes industriais, cujos interesses muitas vezes são desprezados pelos
grandes fazendeiros de café. A rivalidade crescente entre ambos, rivalidade
política resultante da rivalidade econômica – comparar a produção manufatureira
do Estado de São Paulo com a exportação cafeeira para ver que aquela,
proporcionalmente, tem progredido mais que esta e caminha para nivelar-se-lhe
e, posteriormente, ultrapassá-la. (p. 27).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Por determinação
da política do café-com-leite, dos acordos entre frações dos agrários que
monopolizavam o poder político e econômico, a pequena-burguesia teria seus
direitos “pisados pela política atual” (p. 27). Assim, “o próprio grande
agrário é quem mais enfraquece politicamente o seu Estado, estado agrário do
Brasil”. O PCB, sob a pena de Brandão, analisava a atuação dos militares na <i>Revolta do 18 do forte</i> (5 de julho de
1922) e do <i>Movimento tenentista</i> (de 5
a 28 de julho de 1924) como momentos em que a “pequena burguesia nacional
travou contra os fazendeiros do café, senhores da nação. (p. 25). Argumenta que
“Se juntarmos a todas essas razões a dureza da repressão desta segunda
tentativa de aniquilamento dos elementos feudais do país, repressão que será um
dos maiores auxiliares dos revoltosos, compreendemos integralmente a fatalidade
da terceira tentativa, que poderá ser vitoriosa se os combatentes souberem
aproveitar as lições das derrotas. (p. 28). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Assim, os
limites da institucionalidade brasileira transformava a pequena burguesia e
setores da burguesia industrial em protagonistas da primeira fase da revolução
brasileira. No <i>Agrarismo e industrialismo</i> analisa-se que o Brasil era um país
ainda muito atrasado, sobretudo na formação se seus sujeitos políticos
coletivos. A burguesia era vista como muito fraca, e a pequena burguesia como
elemento difuso e sincrético, então para que se realizasse a revolução burguesa
seriam necessários que a força do proletariado pudesse ser plenamente
aproveitada pela burguesia industrial e pequena-burguesia urbana. Segundo o
autor, no Brasil “o homem ainda não conhece a terra, mal desbravada. Trata-se
de um país ainda selvagem, onde a barbárie da mata é mais poderosa que o
esforço civilizador do homem. (p. 32). Brandão compara a luta no Brasil a
Primavera dos povos de 1848, período em que setores da burguesia, pequena
burguesia e o proletariado combatiam a nobreza e os resquícios feudais na
Europa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: PT-BR;">No Brasil, os
pequeno-burgueses lutam contra os agrários feudais como na Alemanha em 1848. No
Egito de Zuglul Pacha, na Turquia de Mustapha Kemal, no Afeganistão de Amanullah,
na Pérsia de Riza-Khan, na Síria e na Mesopotâmia do Partido Nacional árabe, os
burgueses em geral lutam contra os agrários feudais e lutam ao mesmo tempo pela
independência nacional. (p. 31).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Desta sua formulação
desdobra-se a analise segundo a qual no Brasil “O homem, como a terra, ainda
está em formação. Não há o brasileiro – um tipo definido. Há uma mistura
desordenada de raças e sub-raças”. Sendo que “O duplo caos da terra e do homem
projeta-se sobre numerosos aspectos da vida nacional. (p. 33). No marco de
alianças intencionadas pelo PCB não se considera a população negra como sujeito
político, abandonado a defesa de suas demandas históricas, desconsiderando que
tal população constitui maioria da classe trabalhadora nacional, sem a qual não
se pode realizar uma revolução proletária. Diametralmente oposto a isto, para
Brandão “O trabalhador rural negro, proveniente do escravo, exatamente como o
vilão-servo da Idade Média”. (p. 50).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Também não
busca dar uma resposta marxista a questão indígena no Brasil. Pelo contrário vê-os
como transmissores de forma animalescas e selvagens. É assim que refere-se a
população indígena no estado de Minas Gerais destacando “(…) o grupo dos
botocudos, antropófagos, tapuia, Gê (…) Exatamente Viçosa, a terra de
Bernardes, era a aldeia dos ferozes índios “arrepiados”. Os políticos mineiros
têm, pois ainda hoje, o atraso e a ferocidade do tapuia”. (p. 126). Todos estes
elementos são somados para atestar a incapacidade do protagonismo proletário e
para defender a aliança com setores da burguesia nacional. Toda a população do
país seria dominada política e economicamente pelos agrários. “Há uns nove
milhões de trabalhadores rurais, isto é, a dispersão, a descentralização, o
analfabetismo, a inconsciência de classe, a servidão medieval. (…). (p.
33-34)”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Desta forma
para Brandão e o PCB “economicamente, o Brasil é um país agrário, país dominado
pelo agrarismo e não pelo indústrialismo, como a Alemanha”. Adverte que, tomado
por latifundiários, no Brasil “A pequena propriedade rural não alcança sequer a
décima parte do território: 9%. Portanto, o agrarismo nacional é o da grande
propriedade, do latifúndio”. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Como conseqüência
da dominação econômica dos agrários, desdobra-se também sua dominação política,
uma vez que “A política é fatalmente agrária, política de fazendeiros de café,
instalados no Palácio do Catete. Existe uma oposição burguesa desorganizada,
caótica. (…). Uma burguesia industrial e comercial politicamente nula,
desorganizada…” (p. 35-36). Esta frágil burguesia não pode desempenhar sua fase
revolucionária sem o auxilio da pequena burguesia brasileira anti-feudalista.
Buscando referendar as determinações stalinistas, o autor chega a afirmar que
em plena década de 1920 o Brasil estava ainda na fase de desenvolvimento econômico
e política característica da Idade Média. Apenas com o protagonismo da pequena
burguesia, que deveria organizar a burguesia industrial e os setores
proletarizados é que se conseguiria desencadear a primeira fase da revolução
contra a predominância da forma social medieval que imperava no território
brasileiro:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Dominado por esse agrarismo econômico, bem centralizado, o Brasil tinha
que ser dominado pelo agrarismo político, conseqüência direta daquele. O
agrarismo político é a dominação política do grande proprietário. O grande no
Brasil é o fazendeiro de café, de São Paulo e Minas. O fazendeiro de café, no
Sul, como o senhor de engenho, no Norte, é o senhor feudal. O senhor feudal
implica a existência do servo. O servo é o colono sulista das fazendas de café,
é o trabalhador de enxada dos engenhos nortistas. A organização social
proveniente daí é o feudalismo na comieira e a servidão nos alicerces. Idade
Média. A conseqüência religiosa é o catolicismo. A religião que predominou na
Idade Média, “tao justamente chamada a idade cristã”, segundo o clerical
Mathieu, no seu curso de história universal, abençoado pelo papa Pio IX. E a conseqüência
psicológica: no alto, a mentalidade aristocrática, feudal; em baixo a
humildade. (p. 36).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
De acordo com
sua análise, o Brasil seria formado por uma composição de “Estados agrários,
estados feudais, ou semi-feudais”. Toda a estrutura estatal, jurídica, econômica
e política brasileira estaria voltada para assegurar a dominação dos agrários e
a manutenção do feudalismo no país.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
(…) A política tem de girar facilmente em torno dos dois estados mais
produtores de café – São Paulo e Minas. A miséria econômica e política da nação
provem, em primeiro lugar, dos fazendeios de café de São Paulo e Minas. Tudo é
para eles. Os impostos caem implacavelmente sobre a burguesia industrial e
comercial, mas não sobre eles. Vede, por exemplo, o imposto sobre a renda. A
lavoura e a propriedade imobiliária estão isentas dele. (p. 37-38).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Assim, de
acordo com o autor “Todo país está envenenado pelo agrarismo católico, feudal e
reacionário”. (p. 38). Sendo que só se poderia superar tal atraso a partir do
desenvolvimento da burguesia industrial que poderia tirar o país do atraso.
Considera que “O agrarismo politico manifesta-se na luta política das classes
pela reação. Reação agrária, feudal”. (p. 43). Por outro lado, para Brandão “O burguês
industrial não é tão reacionário. (p. 46). Desta forma, para o autor a
contradição fundamental da sociedade brasileira expressa-se no fato de que “São
dois mundos que se chocam: o feudalismo e o industrialismo”, sendo que “o
industrialismo despedaçará o feudalismo” (p. 47). <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Brandão, bem
como o PCB via “No grande burguês industrial, a iniciativa, o espírito
progressista, a preocupação do método, a sede de renovação técnica”. E por
outro lado, viam “No fazendeiro do café, a mentalidade reacionária do barão
feudal, a falta de escrúpulos, a rotina, a arrogância do junker e do boiardo, o
mesmo apego a sua propriedade. No funcionário, o servilismo”. Sem uma revolução
contra os agrários, não se poderia por fim a “medievalite cronica – social, econômica,
política, psicológica”. (p. 48). E o Brasil permaneceria “no seu conjunto, uma
país medieval, atrasado, sob este ponto de vista, cinco séculos no mínimo. (p.
48). Por isso, para Brandão todas as classes devem se juntar contra o
agrarismo, sob a direção do exército. Ou seja, o problema das teses assinadas
por Brandão não reside apenas na caracterização do Brasil com um país feudal,
mas também no sujeito revolucionário que é identificado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Para o autor,
entre os idos de 1923-1924 “a sociedade brasileira ainda atravessa ainda a
primeira fase da luta entre industrialismo e feudalismo”. (p. 50).
Desconsiderando todas as movimentações políticas anteriores a 1922, Brandão
considera que a <i>Revolta do 18 do Forte de
Copacabana</i> foi a “primeira tentativa de destruição dos elementos feudais do
país” (p. 53). Mas que uma nova revolta seria diferente pois contaria com a
ajuda da grande burguesia. Afirma que “É que a grande burguesia comercial e industrial,
apesar de todo seu atraso, começara a compreender que a revolta iria aplainar o
caminho para a sua sucessão política”. (p. 58). Por isso a burguesia seria
indispensável para o arco de alianças da revolução brasileira. Pois para
Brandão “(…) O fazendeiro do café só será derrubado pela frente única momentânea
do proletariado com a pequena-burguesia e a grande burguesia industrial. Por
tanto, todas as vezes que a pequena-burguesia auxilia a reação contra o
proletariado, está forjando cadeias contra ela própria”. (p. 61). A partir de
tal perspectiva conclama-se a união entre burguesia, proletariado e pequena
burguesia para realizar a revolução burguesa no Brasil contra os agrários. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Lutemos por impelir a fundo a revolta pequeno-burguesa, fazendo pressão
sobre ela, transformando-a em revolução permanente no sentido
marxista-leninista, prolongando-a o mais possível, a fim de agitar as camadas
mais profundas das multidões proletárias e levar os revoltosos às concessões
mais amplas, criando um abismo entre eles e o passado feudal. Empurremos a
revolução da burguesia industrial – o 1789 brasileiro, o nosso 12 de março de
1917 – aos seus últimos limites, a fim de, transposta a etapa da revolução
burguesa, abrir-se a porta da revolução proletária, comunista. (p. 133).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
Assim,
Brandão e o PCB defendiam que estava na ordem do dia “Fundir todas as vítimas
do feudalismo, todo os demais revoltados, todos os oprimidos, todos quantos
foram pisados, humilhados…. (p. 134). Apenas por tal via seria possível “a vitória
do industrialismo sobre o agrarismo; a vitória da burguesia industrial sobre os
agrários; a vitória da burguesia progressista sobre os elementos rotineiros”.
(p.138). Apenas consolidada a vitória da revolução burguesa, que tem como
sujeitos centrais a pequena-burguesia e a burguesia industrial, poder-se-ia iniciar a nova fase de luta pela
revolução proletária. Conclama a classe trabalhadora brasileira a lutar,
“Concentremos todas as nossas energias, esporeemos a pequena-burguesia e a
grande burguesia indústrial e, unidos num bloco, agitemos as massas em torno de
palavras de ordem fundamentais” (p. 188). Termina seu trabalho reivindicando o
Kuomitang Chines e Stalin. A perspectiva de Brandão e
do PCB de apoio a frações da burguesia na luta contra os resquícios feudais
será retomada por Luiz Carlos Prestes, em uma série de escritos de Nelson
Werneck Sodré, este consolidará a visão dos resquícios feudais no Brasil<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn12" name="_ftnref12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3">
No
livro Stalin, o organizador de derrotas, escrito em 1929, Trotski critica
duramente as resoluções encaminhadas pelo grupo de Stalin. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-indent: 0cm;">
<b>A crítica de Trotski
ao VI Congresso da Internacional Comunista<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Mesmo expulso da Rússia pela fração
stalinista, Trotski continua na ofensiva, em uma batalha frontal contra o
stalinismo e a degeneração da revolução russa e do Partido Bolchevique.
Escreverá uma profunda critica estratégica ao Programa da Internacional
definido no VI Congresso da Internacional Comunista. Comunistas de diferentes
países entrarão em contato com sua critica e construirão oposições em outros países,
como no caso de Mario Pedrosa no Brasil, mas também o canadense Maurice Spector
e o americano James P. Cannon que fundará uma Oposição nos E.U.A.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Este trabalho escrito por Trotski tem como
objetivo discutir o programa do VI congresso da III Internacional. Desde a
revolução russa de outubro de 1917, os bolchevique, sob direção de Lênin e Trotski
organizam quatro congressos para impulsionar novos partidos comunistas pelo
mundo, buscando disseminar o programa revolucionário desenvolvido na Rússia. A
morte de Lênin, somada aos impactos da guerra civil, onde morreram no <i>frot</i> metade da vanguarda revolucionária,
e somada ainda as distorções da NEP criaram base para uma crise no partido
bolchevique. Deste processo emergiu ao poder a </span><span style="color: #222222; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">troika Stalin, Kamenev
e Zinoviev que dirigirão o partido até 1925. A derrota da revolução alemã em
1923 teve impacto desmoralizador na Rússia, agudizava-se a situação de
isolamento internacional da revolução. Neste processo desenvolve-se condições
para um giro estratégico no partido bolchevique. Entre as conseqüências deste
processo está o desenvolvimento da teoria do socialismo em um só país e a
revolução por etapas. Ambas teorias defendia a retração da Rússia no que tange
a expansão da revolução socialista para outros países do mundo. O primeiro
esboço destas teses são apresentadas no texto <i>Fundamentos do Leninismo</i>, assinado por Stalin e publicado em 1924.
As teses centrais do texto são apresentadas e aprovadas no </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">V
Congresso da Internacional Comunista, realizado em julho do mesmo ano,
começa-se a operar mudanças significativas</span><span style="color: #222222; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> nos rumos da
Internacional. É na revolução chinesa (1925-1928) onde se aplica pela primeira
as teses da revolução por etapas e apoio a burguesia nacional.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: #222222; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A partir de 1925 a troika será sucedida
pelo <i>triunvirato</i> Stalin, Rykov e
Bukharin, que se mantém no poder 1928. O triunvirato dará prosseguimento defesa
das teses da revolução por etapas e ao socialismo num só país. Em 1926 Stalin
dá continuidade às teses da troika, pois as teses do V Congresso são seguidas
de outra publicação <i>Questões do leninismo</i>
que reforça as mesmas teses, também assinada por Stalin. O VI Congresso
realizado em 1928 receberá e aprovara as mesmas teses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white;">
<div style="text-indent: 47.2000007629395px;">
<br /></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 150%;">
<b><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">A critica dos Trotskistas
brasileiros<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As
teses da Internacinal, somadas as elaborações assinadas por Brandão geram
polemicas dentro do PCB. Em 1928 forma-se uma ala de oposição dentro do PCB
contrária a tal orientação. Um setor de militantes do PCB, tendo à frente
Rodolfo Coutinho, discordarão da aliança com os tenentistas e formação do BOC,
afirmando que tais políticas retirariam a independência do proletariado em
relação as demais classes sociais ligadas as classes dominantes. Tendo por base
estas discussões principais esta Oposição ira lutar contra a linha central do
partido durante o III Congresso do PCB buscando mudar os rumos do partido. Fizeram
parte desta oposição Mario Pedrosa e Lívio Xavier. Mario Pedrosa havia partido
para a URSS em 1927 para fazer um curso na Escola Leninista em Moscou. Adoeceu
e permaneceu em Berlin, onde entrou em contato com as discussões da Oposição de
Esquerda do partido Comunista Russo, assimilou as criticas da Oposição e de Trotski.
Como aponta Miguel Tavares de Almeida na dissertação de Mestrado intitulada <i>Liga comunista internacionalista: teoria e
prática do trotskismo no Brasil (1930-1935)</i> </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Acompanhando a crise que se desenvolvia não só no PC da URSS, como na
Internacional Comunista e nos demais partidos filiados, Pedrosa vai aos poucos
se convencendo da justeza dos argumentos da Oposição de esquerda que se
organizava na União Soviética, ao mesmo tempo vai articular os militantes
dissidentes no Brasil e defender a organização da Oposição de Esquerda na
América Latina. (ALMEIDA, p. 64)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Ao
regressar ao Brasil, em agosto de 1929, Pedrosa começa a organizar o que seria
a Oposição de Esquerda no Brasil para combater as ideias do grupo de Stalin,
sobretudo a tese do “socialismo em um só pais”, a tese dos resquícios feudais
nos países coloniais e dependentes e a sua consequentes “revolução cão por
etapas”. As teses de Brandão eram a objetivação da perspectiva do grupo de
Stalin e definia que no Brasil a luta do Partido Comunista deveria ser dar
tendo como sujeito da revolução as frações da pequena burguesia e da burguesia
nacional, que para se desenvolver tinha que lutar contra os resquícios feudais,
e para isso precisava do apoio incondicional dos comunistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mario
Pedrosa, munido das idéias, programa e estratégia da Oposição trotskista, bem
como da critica de Trotski ao programa do VI Congresso da Internacional
Comunista, conjuntamente com Lívio Xavier, Rodolfo Coutinho, João da Costa
Pimenta, João Dalla Dea (gráfico), Mário Dupont, Mary Housto Pedrosa, Manoel
Medeiros (gráfico) Wenceslau Escolar Azambuja, Sávio Antunes, Aristides Lobo e
José Auto (ALMEIDA, p. 72), fundam o Grupo Comunista Lenine (GCL), dando início
a uma luta dentro e fora do PCB. Para difundir as idéias da Oposição no Brasil,
criam o jornal “A luta de Classe”.</span><b> </b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Em abril de 1930 formalizam sua
adesão à Oposição de Esquerda Internacional em documento enviado “Ao
Secretariado Internacional Provisório”. O Grupo Comunista Lênin passa a
publicar o jornal A LUTA DE CLASSE, órgão oficial dos grupos trotskistas que
seguiram: A Liga Comunista, Liga Comunista Internacionalista (LCI), o Partido
Operário Leninista (POL) e o Partido Socialista Revolucionário (PSR) (ABRAMO;
KAREPOVS, 1987). Em acordo com as formulações da Oposição Internacional, em seu
primeiro editorial, intitulado “Nossos propósitos”, o GCL esclarece que “Não
visa combater o Partido Comunista, porque o que urge é reintegrá-lo na linha
que se traçou por ocasião de sua fundação, de modo que seu rótulo vermelho
passe a ser a expressão revolucionária de uma realidade”. (ABRAMO; KAREPOVS,
1987: p. 43).</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Essa
concepção balizava toda a oposição internacional, em luta pela regeneração da
Internacional Comunista, bem como do Estado Soviético. Defendiam inicialmente
uma reforma do regimento interno dos Partidos Comunistas e também do Estado
Operário, como demonstra correspondência trocada com Lívio Xavier. Nesta fica
expressa a convergência com o pensamento de Trotski sobre o caráter da
burocracia soviética:</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Do ponto de vista da IC [Internacional Comunista] – uma palavra define
melhor a situação: se trata de uma crise do bolchevismo. Do ponto de vista
russo: é o impasse em que estão. As faltas de recurso do Estado para a
industrialização e a ascensão progressiva da economia privada no campo. O
processo clássico de acumulação do capital etc. etc., o advento em cena de uma
nova burguesia do campo e da cidade, o enfraquecimento das bases econômicas do
proletariado e conseqüentemente do seu poder político etc., agravado com a
burocratização do Estado que pelo próprio peso da burocracia tende cada vez a
se libertar das suas origens de classe – para se considerar acima das classes,
com interesses e objetivos próprios. O pior é que a degenerescência burocrática
atingiu os próprios órgãos de combate e defesa do proletariado, aos sindicatos
e partido (MARQUES, 1993: p. 295).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para
o Grupo Comunista Lênin tratava-se de desenvolver uma teoria para a revolução
brasileira que tivesse o proletariado como único sujeito revolucionário. Desta
forma, era necessário desvencilhar-se da teoria dos resquícios feudais e da
subordinação do proletariado aos interesses da burguesia nacional e da pequena
burguesia.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">Sobretudo Mario Pedrosa e Lívio Xavier, vão produzir
análises da formação do Brasil que se contrapõe a leitura de Otavio Brandão. Em
janeiro de 1931 o Grupo Comunista Lenine (GCL) passa a se chamar Liga Comunista
Internacionalista (LCI) foi escolhido para o dia da fundação o aniversário da
morte de Lênin, agregando novos membros, entre eles Aristides Lobo, ex-
dirigente sindical do PCB. Este grupo, em 1933 contará com cerca de 50 membros,
intervirá no sindicato dos gráficos, comerciários, bancários entre outros. Em
sua plataforma sindical constava a independência sindical, ameaçada pelas leis
sindicais do governo Getúlio. A LCI defendia ainda frente única com outros
sindicatos (ALMEIDA, 2003, p. 78-79).</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">Os trotskistas defendiam a frente única com Prestes
para lutar contra as classes, mas não reivindicavam sua direção para uma
revolução pequeno-burguesa. Chegaram a formar um frente com Prestes a Liga de
Ação Revolucionária.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">Em 1929 a Oposição de Esquerda do Brasil dirige a
greve dos gráficos de São Paulo. Esta foi deflagrada em 23 de março de 1929.
Este constituía no período um dos setores mais combativos do movimento
operário, congregando desde os operários que imprimiam os jornais, passando
pelos operadores de máquinas, até os escritores de matérias e jornalistas. Os
trabalhadores gráficos eram filiados a União dos Trabalhadores Gráficos (UTG).
A greve dura 72 dias. PCB defendia que os trabalhadores fizessem uma
resistência pacifica, enquanto o governo fechava a sede da UTG e prendia seus
principais dirigentes. Os grevistas organizam um Comitê de Defesa Proletária,
ao mesmo tempo em que o PCB passa a defender o fim da greve.</span></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 36.0pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 1.0cm;">
<span style="line-height: 150%;">Mario
Pedrosa e Lívio Xavier<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn13" name="_ftnref13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></a>
partem de formulações e análises elaboradas por Marx em “O Capital” e na teoria
do desenvolvimento desigual e combinado, do mesmo autor, que são desenvolvidas
por Leon Trotski. Seguindo tal continuidade teórica, os autores vão buscar
constituir uma leitura sobre aspectos econômicos, sociais e políticos da
realidade brasileira. As análises e interpretações desenvolvidas por Mario
Pedrosa e Lívio Xavier acerca do caráter do Estado e das classes dominantes
brasileiras são de grande valor para compreender as relações sociais de
produção no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 36.0pt;">
<span style="line-height: 150%;">Argumentarão
que o modo de produção capitalista, e a forma de organização e distribuição da
propriedade privada foram exportados diretamente da metrópole européia para o
Brasil. Com isso inaugura-se conseqüentemente no Brasil uma forma de
desenvolvimento econômica já subordinada, considerando que a produção agrícola
era centralmente destinada desde o começo aos mercados externos. (ABRAMO &
KAREPOVS, 1987, p. 66-67: ALMEIDA, 2003, p. 89-90). Segundo os autores<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
No Brasil, a acumulação primitiva do capital fez-se de maneira direta: a
transformação da economia escravagista em salariado do campo se fez diretamente
e o afluxo imigratório, que já começara antes da abolição da escravatura, teve
como objetivo oferecer braços à grande cultura cafeeira. Produziu-se aqui o que
Marx chama de ‘uma simples troca de forma’. O Brasil nunca foi, desde sua
primeira colonização, mais do que uma vasta exploração agrícola. Seu caráter de
exploração rural colonial precedeu historicamente sua organização como Estado.
Nunca houve aqui terras livres; aqui também não conhecemos o colono livre, dono
de meios de produção, ma o aventureiro da Metrópole, o fidalgo português, o
comerciante holandês, o missionário jesuíta – que não tinham qualquer outra
base a não ser o monopólio das terras. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In:
ABRAMO & KAREPOVS, 1987, p. 68).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 36.0pt;">
<span style="line-height: 150%;"> O Estado brasileiro atuara intensivamente para
organizar a produção e distribuição de mercadorias, bem como a regulação da
contratação da força de trabalho. A burguesia nasce do campo, por meio das mãos
do Estado. Ou seja, tanto a burguesia como os latifundiários dependem diretamente
do auxilio direto do Estado para desenvolver seus empreendimentos e acumular
lucros. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987).
Desta forma, não teríamos no Brasil uma burguesia revolucionária aos moldes da
Revolução Francesa. Também no Brasil, como decorrido na Rússia, o proletariado
seria o único sujeito social em antagonismo contra o Estado e seus apêndices
constituídos pela burguesia dependente. </span>Segundo os autores, sob o arbítrio da coroa
Portuguesa, combinava-se no Brasil o
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
(...) trabalho escravo, <i>latifundium</i>,
produção dirigida pelos senhores de terra com a sua clientela, burguesia urbana
e uma camada insignificante de trabalhadores livres, tanto nas cidades quanto
nos campos - tais foram as particularidades que marcaram com a sua chancela a
formação econômica e política do Brasil na América Latina, onde, em geral, a
ausência de uma agricultura organizada teve como conseqüência luta pela terra contra o indígena e a luta
contra o monopólio do comércio detido pela coroa de Espanha. (Mario Pedrosa e
Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987. 69).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 36.0pt;">
E continuam<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A destruição do regime escravista, que foi determinada pela necessidade
do desenvolvimento capitalista no Brasil, abria ao mesmo tempo nova expansão ã
indústria inglesa que monopolizava, então, o mercado mundial. A burguesia
brasileira nasceu do campo, não da cidade. A produção agrícola colonial foi
destinada desde o começo aos mercados externos. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier,
1931. In: ABRAMO & KAREPOVS, 1987, p.69).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os
autores argumentam ainda que para sustentar o desenvolvimento econômico no país
a atuação o Estado era central para conseguir organizar os distintos interesses
das frações da burguesia brasileira. Mesmo a constituição nacional por meio de
federações serviria para assegurar a coexistência das distintas frações da
burguesia, “capaz de conciliar as tendências centrifugas das antigas províncias
com as necessidades de desenvolvimento capitalista numa unidade social
harmônica” (pg.155-156).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Com o fim da escravidão, desmorona a Monarquia, com
isso intensifica-se o desenvolvimento do capitalismo<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn14" name="_ftnref14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></a>.
O trabalho escravo é convertido em trabalho assalariado. Para os autores, “A
república foi imposta ao Brasil pela burguesia cafeeira do Estado de São Paulo,
que não podia aceitar a forma de produção reacionária e patriarcal. Com o
advento da república, este Estado impôs sua hegemonia à Federação. (p. 70).
Nesse sentido, a constituição nacional por meio de federações serviria para
assegurar a coexistência das distintas frações da burguesia, “capaz de
conciliar as tendências centrifugas das antigas províncias com as necessidades
de desenvolvimento capitalista numa unidade social harmônica” (pg.155-156).
Mesmo com a transição do Estado Monárquico, sob domínio colônia português, para
constituição de um Estado nacional autônomo, ainda que sob domínio do capital
inglês, mantém-se no poder os grandes proprietários de terras que sob égide
paulistana conseguiram impor o governo republicano por mio de um golpe militar
em 1889.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">No
entanto, a burguesia no Brasil não seria dependente apenas da atuação e
recursos do Estado, mas também das grandes potencias econômicas e políticas
internacionais. Nesse sentido, a burguesia brasileira já teria nascido
subalternizada a burguesia internacional. Segundo os autores, ela “não tem
bases econômicas estáveis que lhe permitam edificar uma superestrutura política
social progressista”. (p. 74). Argumentam ainda que as distintas frações da
burguesia no país não estão organizadas de forma harmônica, com interesses
unificados em torno do desenvolvimento social e econômico do país. Contrários
está perspectiva, os autores argumentam que desde sua mais tenra idade as
distintas frações da burguesia vivem em disputas permanentes entre si. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Além
das constantes disputas entre si, estas frações da burguesia ainda tem que
disputar constantemente mercados e buscar acordo políticos e econômicos com as
potencias internacionais. Como se trata de um capitalismo retardatário, se
comparado ao desenvolvimento do capitalismo inglês ou americano, depende
diretamente de aporte internacional para o desenvolvimento de suas forças
produtivas. Isto faz com que a burguesia no Brasil encontre-se em relação
subalterna em relação as potencias internacionais que acabam ficando em condições
de pressionar o pais e fazer-lhe exigências. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A
principal forma encontrada para acumular divisas é produzir mercadorias com
preços mais baixos, para que possam concorrer com os produtos de países mais
industrializados. A forma mais barata para realizar tal feito é a
super-exploração do trabalho. O Estado
contribui diretamente para a acumulação capitalista, em favor da burguesia,
atua disciplinando (e reprimindo) a força de trabalho, e desviando a maior
parte de seus recursos para os empreendimentos capitalistas. Mario Pedrosa e
Lívio Xavier argumentam que esta posição na divisão internacional do trabalho,
que é combinada com a super-exploração e repressão a classe trabalhadora,
internamente acaba por colocar a burguesia brasileira em condição de pressão
permanente, de um lado pelas potencias econômicas e políticas internacionais, e
por outro pelos movimentos da classe trabalhadora que luta por melhores
condições de salário, habitação, saúde educação, saneamento etc... Nas palavras
dos autores<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
O imperialismo não lhe concede tempo para respirar e o fantasma da luta
de classe proletária tira-lhe o prazer de uma digestão calma e feliz. Ela deve
lutar em meio ao turbilhão imperialista, subordinando a sua própria defesa à
defesa do capitalismo. Daí a sua incapacidade política, seu reacionarismo cego
e velhaco – em todos os planos – a sua covardia. Nos países novos, diretamente
subordinados ao imperialismo, a burguesia nacional, ao aparecer na arena
histórica, já era velha e reacionária, com ideais democráticos corruptos. A
contradição que faz com que o imperialismo – ao revolucionar de modo permanente
a economia dos países que lhe são submetidos – atue como fator reacionário em
política encontra a sua expressão nos governos fortes e na subordinação da
sociedade ao poder executivo. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO
& KAREPOVS, 1987, pg. 74-75).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Mediante
tal formação social, composta por setores das diferentes frações da burguesia
em território nacional, que tem articular-se com os interesses imperialistas e
as demandas históricas dos trabalhadores, dificulta-se sobremaneira a
manutenção de um regime social estável no Brasil. Tanto as dissidências das
diferentes frações da burguesia em território nacional, bem como os levantes
dos trabalhadores, colocam em risco esta frágil ordem social. Mediante tal
formação social, composta por setores das diferentes frações da burguesia em
território nacional, que tem articular-se com os interesses imperialistas e as
demandas históricas dos trabalhadores, dificultou-se sobremaneira a
possibilidade de um regime social estável no Brasil. Tanto as dissidências das
diferentes frações da burguesia em território nacional, bem como os levantes
dos trabalhadores, colocam em risco esta frágil ordem social. Segundo os
autores, desta arquitetura social deriva a recorrente necessidade de “governos
fortes, divinização da ordem”, governos ditatoriais, amparados por períodos de
estado de sítio, de intensa repressão aos movimentos sociais, bem como as
constantes disputas pelas distintas frações da classe dominante, em fases de
desenvolvimento desigual, pelo governo da Nação. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier,
1931. Desta analise, os autores desdobrava como conseqüência que<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
Essa tendência inelutável criará, doravante, permanentemente, situações
de choques, conflitos, em uma palavra, de guerra civil, onde o proletariado
terá a ultima palavra. As formas transitórias de equilíbrio entre as diversas
unidades da Federação só serão conseguidas por meio de vitórias militares, isto
é à custa de uma opressão agravada das massas trabalhadoras e das classes
médias (Idem, p. 159).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"> Segundo os autores, desta arquitetura social
deriva a recorrente necessidade de “governos fortes, divinização da ordem”,
governos ditatoriais, amparados por períodos de estado de sítio, de intensa
repressão aos movimentos sociais, bem como as constantes disputas pelas
distintas frações da classe dominante, em fases de desenvolvimento desigual,
pelo governo da Nação. (Mario Pedrosa e Lívio Xavier, 1931. In: ABRAMO &
KAREPOVS, 1987). A burguesia brasileira nasceria então espremida entre o forte
proletariado brasileiro e o imperialismo. Este forte proletariado, herdeiro das
lutas negras quilombolas, já desde o inicio da república protagonizava as
mobilizações massivas e buscava se organizar por meio de congressos, como o de
1906, 1913, Revolta da chibata, Revolta do Contestado, as mobilizações contra a
carestia de vida durante a década de 1910, a greve geral de 1917, os embriões
de sovietes no Rio de Janeiro de 1919, o congresso de 1920. Desta forma a
burguesia não pode estabelecer alianças com o proletariado, pois para isso,
seria obrigada a ceder às demandas históricas deste, como a reforma agrária,
reforma urbana, etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Para
os autores, apenas um governo de trabalhadores, contra a burguesia brasileira e
imperialista é que poderia de fato assegurar a unidade nacional. Fora isso, a
estabilidade nacional só poderia ser mantida por meio do militarismo e de
decretos via poder executivo. Assim, a mudança do regime Monárquico para o
regime Republicano, busca assegurara manutenção da subalternização da classe
trabalhadora, esta por sua vez, seguira pressionando o governo e o patronato
por melhores condições de vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As
reflexões iniciadas por tais autores ainda na década de 1930, serão retomadas
freqüentemente por uma série de intelectuais e analistas. Caio Prado Junior, no
livro Formação do Brasil contemporâneo, publicado em 1942, e em História
Econômica do Brasil de 1945 partirá desta base teórica para pensar o desenvolvimento
econômico brasileiro. Também este autor chegará a conclusão que a atuação do
Estado seria fundamental para edificação do capitalismo no país. No entanto, o
Grupo Comunista Lênin teve curta duração. Por problemas de saúde, seu principal
dirigente, Mário Pedrosa, afasta-se temporariamente, deixando o grupo
desarticulado. O centro político do grupo muda do Rio de Janeiro para São
Paulo. Começam a se reorganizar e, em 21 de janeiro de 1931 (data da morte de
Lênin), fundam a Liga Comunista.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-weight: normal; line-height: normal;"> </span></span></b><!--[endif]--><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">A Liga
Comunista e a Liga Comunista Internacionalista<o:p></o:p></span></b><br />
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Com
o adoecimento de Mario Pedrosa, a Grupo Lênin desorganiza-se e deixa de
existir. Pedrosa muda-se para São Paulo, onde reorganiza as forças militantes e
funda a Liga Comunista, em 1931, ainda que mantivessem a mesma orientação
estratégica de reforma da Internacional Comunista e da URSS, a dinâmica do
desenvolvimento da Oposição de Esquerda começa a mudar. Em um documento
intitulado <i>Nosso caráter de fração</i>, a
Liga Comunista descreve seus principais objetivos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A Liga Comunista (...) agrupa em torno de si os operários mais
conscientes do Partido [PCB], vivendo dentro e fora deste, educando e
esclarecendo o espírito revolucionário do proletariado. Os melhores militantes,
expulsos e não expulsos, lutam intransigentemente por seu programa de ação
revolucionária, baseado nas teses e resoluções dos quatro primeiros congressos
da I. C [Internacional Comunista].<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Destacando
a assimilação das ideias de Trotski e da Oposição, a Liga Comunista brasileira
definem os eixos programáticos que orientam a nova organização, posicionam-se
pela defesa das conquistas da revolução russa de 1917, mas coloca-se em
oposição a forma de organização e ao programa definidos pelo grupo de Stalin</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 12pt 0cm 12pt 4cm;">
A Liga Comunista, liderada internacionalmente por Trotski e Rakovsky -
ambos deportados e perseguidos por defenderem a integridade dos princípios que,
em 1917, deram a vitória aos trabalhadores da Rússia -, tem um caráter bem
definido de <i>fração</i> de esquerda do
Partido, o que vale dizer: <i>fração de
esquerda da Internacional Comunista</i>. Reivindicando o restabelecimento da
liberdade de discussão nas fileiras do Partido, ela é, antes de tudo, o reflexo
de uma imposição histórica: a luta pela regeneração da ditadura do proletariado
na U. R. S. S., cuja estabilidade vem sendo ameaçada pelo <i>perigo termidoriano</i>, e a continuação do processo permanente e
internacional da Revolução Proletária em todos os setores da luta de classes
(ABRAMO, KAREPOVS, 1987: p. 92-93, grifos do autor).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Assim,
a Liga Comunista de Pedrosa e Xavier, trabalhava em consonância teórica,
política e estratégica com Oposição Internacional organizada por Trotski. Ou
seja, neste momento ainda estavam no interior do Partido Comunista do Brasil
defendendo as ideias dos quatro primeiros congressos da Internacional
Comunista. Atuavam então combinando a oposição interna nos PCs à organização
“desde fora”, devido aos expurgos e ao regime burocrático dos PCs.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Através
de seus órgãos de imprensa, a Liga Comunista publicará uma riquíssima análise
sobre a formação econômica e social brasileira. Essas elaborações do começo da
década de 1930 influenciarão uma série de estudos da formação do capitalismo
brasileiro, sendo algumas vezes omitida a fonte original como é o caso, por
exemplo, de Caio Prado Júnior</span><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn15" name="_ftnref15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Os
mais importantes desses artigos encontram-se nas publicações de seu jornal A
LUTA DE CLASSE, entre os quais figuram <i>Esboço
de uma análise da situação econômica e social do Brasil</i> e <i>A situação Brasileira e o trabalho para o
seu esclarecimento</i>; e também nas publicações dos <i>Boletins da Oposição</i> como<i>
Projeto de teses sobre a situação nacional</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Dentro
do Partido Comunista do Brasil (PCB), Pedrosa, Xavier e toda oposição sofriam
sempre duras represarias da ala majoritária do Partido que era ligada ao grupo
de Stalin. Após os acordos de Stalin com Hitler, Trotski e a Oposição decidem
romper com os partidos stalinistas e criar partidos separados. Deste processo a
Oposição definira que chegara a hora de criar partidos independentes que
defendesses o legado dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista
sob a direção de Lênin e Trotski. Assim, em 1º de maio de 1934, pela primeira
vez, Mario Pedrosa anunciará a ruptura definitiva com o PCB, a fundação da Liga
Comunista Internacionalista (LCI) e a necessidade da construção da IV
Internacional</span><a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn16" name="_ftnref16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">A Liga Comunista também desenvolverá uma analise
importante sobre o processo de ascensão do Governo Vargas ao poder. Para a Liga
evento guarda semelhanças com o processo de instauração da Primeira República.
Trata-se também de uma transição militarizada, que aparta a maior parte da
população brasileira (o proletariado) da possibilidade de decisão, ou seja, não
se trataria, de forma alguma, de uma revolução. Com o golpe de 1930, a fração
gaúcha consegue contrapor-se a burguesia paulista que estava atola na crise do
café, que se articula com o “Crack da bolsa de 1929”. De acordo com as análises
de Mario Pedrosa e Lívio Xavier, fazia sentido a hegemonia da burguesia
cafeeira paulista enquanto essa era produtora do principal produto nacional de
exportação. Com a crise deste setor, colocava-se objetivamente a necessidade de
reorganizar a economia.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">Com a unificação das frações da burguesia de Minas
Gerais e Pernambuco em torno da burguesia gaúcha (RS), em aliança com setores
militares, tem-se uma primeira fase ditadura velada (1930-1937), seguida pela
ditadura manifesta (1937-1945). Neste processo, além da redefinição do papel da
burguesia paulista cafeeira frente às outras frações da burguesia brasileira,
assegura-se também, por meio das armas, a imposição de novos níveis de
subalternização à classe trabalhadora.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">Desta rearticulação das classes dominantes, em uma
revolução pelo alto, assegura-se por meio das armas e da nova legislação que
atrela o sindicato ao Estado, foi possível promover a desarticulação da classe
trabalhadora. Frente ao golpe, os trotskistas defendiam a convocação de uma
Assembleia Nacional Constituinte, baseada no voto secreto, sem distinção de
sexo ou nacionalidade para todos os maiores de 18 anos, incluindo ai os marinheiros
e soldados, que não podiam votar. Acreditava-se que as burguesias do Norte e do
Sul não estavam suficientemente articuladas. Uma parte defendia a solução
constitucional, enquanto a fração sulista aliada ao tenentismo acreditava que a
solução era um Estado militar forte para consolidar a unidade nacional. A Liga
Comunista Internacionalista (LCI) fazia o chamado a Constituinte tendo como o
objetivo criar um espaço em que o proletariado pudesse intervir diretamente no
processo político que estava se definindo pelo alto, envolvê-lo na luta
política direta contra os interesses das classes dominantes. Acreditava-se que
apenas o proletariado, agindo independentemente das classes dominantes, poderia
fazer realizar-se as demandas democráticas.</span><br />
<span style="text-indent: 36pt;">O intuito era explicitar a que classe o governo
Vargas serviria. Já o PCB, por sua vez, seguindo as determinações do IV
Congresso da Internacional Comunista que havia definido que a revolução
socialista estava próxima de ser realizada em vários países do mundo, inclusive
no Brasil, posicionou-se contra a Constituinte. Esta determinação impediu a
unificação da LCI e o PCB em uma luta comum. Ironicamente, em 1935 o PCB,
seguindo as determinações da Internacional Comunista, adota a política das
“frentes populares”, que se tratava de constituir uma aliança do proletariado
com setores das classes médias e da burguesia progressista.</span></div>
<div class="MsoSubtitle" style="text-indent: 36.0pt;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">Conforme
vimos ao longo deste capitulo a Liga Comunista Internacionalista nasce buscando
resgatar os elementos da estratégia revolucionária desenvolvida pelo
proletariado russo e plasmado no programa do Partido Bolchevique até a primeira
metade de 1920. Já durante a segunda década de 1920, Trotski começara a
organizar a Oposição as ideias do grupo de Stalin, buscando resgatar o programa
e a estratégia do partido bolchevique sintetizados nas definições dos quatro
primeiros congressos da Internacional, conforme podemos apreciar em sua obras
Stalin, o grande organizador de derrotas. Inicialmente Trotski recusava-se a
romper com o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), por isso constituía
uma oposição dentro do mesmo, e orientava que no mundo todo, os partidários
defensores das ideias de Marx, Lênin e dos quatro primeiros congressos fizessem
o mesmo. No entanto, a capitulação ao fascismo levou Trotski a defesa de
criação de partido em separado aos partidos stalinistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-indent: 1cm;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: PT-BR;">As
ideias de Trotski e da Oposição de esquerda, a defesa intransigente das
resoluções dos primeiros congressos, bem com a necessidade de ação independente
de proletariado para a revolução socialista internacional passaram a ser
chamadas de trotskismo. No caso brasileiro isso implicava a luta direta contra
as ideias que balizavam o Partido Comunista do Brasil (PCB) um filial do PC
russo. A Liga Comunista dirigida por Pedrosa e Xavier será muito pequena se
comparada com as forças do PCB, ainda assim, durante a década de 1930,
baseando-se nas ideias da Oposição e de Trotski, organiza e dirige a greve dos
gráficos de São Paulo, a Liga também intervirá no sindicato dos comerciários,
bancários entre outros. Em 1933 a partir destas entidades a Liga Comunista
Internacionalista organiza a Frente Única Antifascista (FUA), por meio do
periódico <i>O Homem livre</i> propunham a
organização de uma política de frente única de todas as organizações operárias
como forma de contrapor-se ao desenvolvimento fascismo e do integralismo ao
mesmo tempo em que se lutava pela revolução socialista. A Liga, por meio FUA
combate exitosamente as correntes fascistas e integralistas que se organizam em
torno da Ação Integralista Brasileira, chegando inclusive em enfrentamento
armado na Praça da Sé em 7 de outubro de 1934.</span><br />
Dentro
do PCB, seus membros combatiam tal perspectiva por meio de diversas elaborações<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftn17" name="_ftnref17" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span class="MsoFootnoteReference"><span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">[17]</span></span></span></a>.
Centralmente influenciados pelo trotskismo, estes militantes serão expulsos do
PCB, como foi o caso por exemplo de Mario Pedrosa no inicio da década de 1930 e
depois de Hermínio Sachetta em 1937. Expulsando os divergentes, o partido
seguirá a risca a perspectiva stalinista, da “revolução por etapas”, do
“socialismo num só pais” da “aliança estratégica com a burguesia nacional”, que
deveria dirigir os processos revolucionário subalternizado o proletariado
brasileiro as necessidade de uma suposta “burguesia nacional”. O PCB também
assumirá a defesa das Frentes Populares, que era uma composição política que
privilegiava frações da burguesia.<br />
<span style="font-size: x-large;"><br /></span>
<b><span style="font-size: x-large;">................................</span></b><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; text-indent: 0px;">
<div style="text-indent: 47.2000007629395px;">
<span style="line-height: 24px;"><b>CRÍTICAS</b></span><span style="line-height: 24px; text-indent: 47.2000007629395px;"><b> DE TROTSKI ÀS TESES DO VI CONGRESSO DA INTERNACIONAL COMUNISTA - 1928 </b></span><br />
<span style="line-height: 24px; text-indent: 47.2000007629395px;"><b><br /></b></span></div>
<div style="line-height: 24px;">
<b>Resenha do livro: Stalin, o grande organizador de derrotas - a Terceira Internacional depois de Lênin. Sundermann, São Paulo, 2010.</b><br />
<b><br /></b>
<b><br /></b></div>
<div style="line-height: 24px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">Programa da revolução internacional ou programa para o socialismo em um só país?</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski destaca a necessidade da construção de um programa que de conta de responder a necessidades reais de cada momento. Buscando assimilar os balanços das experiências dos embates da luta de classe e dos partidos comunistas. Trata-se de um método de construir um programa. As formulações do programa de Stalin-Bukharin estão ligada as necessidade da burocracia e não dos desdobramentos da luta política, econômica que emergem da classes. Este referido programa busca referendar as demandas da burocracia dirigente do partido e não buscar as repostas revolucionárias as condições em desenvolvimento. A burocracia recusa-se afazer o balanço concreto da derrota da revolução alemã e chinesa. O programa deve conter experiências estratégicas da luta do proletariado. Lições estratégicas e que preparam as novas táticas e balanço da estratégia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
A questão mais importante na agenda do VI Congresso é a adoção de um programa. A natureza deste pode determinar e fixar a fisionomia da Internacional por um longo tempo. A importância do programa não está na maneira como formula concepções teóricas gerais (em ultima analise, estas se reduzem a uma “codificação”, ou seja, uma exposição concisa da verdade generalidades adquiridas firma e decisivamente); mas em principalmente fazer o balanço das experiências políticas e econômicas mundiais do último período, em particular da lutas revolucionárias dos últimos cinco anos – tão ricos em acontecimentos e erros. Para os próximos anos, o destino da Internacional Comunista dependerá da maneira que esses acontecimentos, erros e controvérsias serão interpretados e julgados pelo programa. (p. 89).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Seria equivocado reduzir o balanço apenas às experiências dos ascensos da luta de classes, é necessário fazer também balanço dos momentos de refluxo e passividade, desmoralização, adaptação que se desenvolvem no movimento operário em períodos que não há luta de classes abertas em caráter decisivo. O programa não pode ser reflexo apenas do que se pretende conquistar, mas um balanço profundo das ultimas experiências das lutas teóricas e políticas, bem como das estratégias empregadas, dos momentos de refluxo, reorganização e embates. Que balanço fazemos do ultimo período e como estamos? Toda a discussão de Trotski é contra a burocracia soviética e a III Internacional centrista e seus desvios socialdemocratas. Programa não pode ser colocado em separado das experiências do proletariado. A arte de orientar para a vitória da revolução proletária não pode seguir esta lógica centrista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">O que Trotski demonstra é que o programa parte de uma visão critica das experiências, estratégias empregadas, bem como critica à própria atuação do partido e do movimento de conjunto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A estrutura geral do programa</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Não se pode fazer um programa tendo por base apenas as questões nacionais. Marx e Engels já defendiam a revolução mundial no Manifesto de 1848. A generalização do modo de produção capitalista para todos os cantos do mundo, com a determinação da fase imperialista impõem com muito mais força esta assertiva. De acordo com Trotski “Em nossa época, a época do imperialismo, ou seja, da economia e política mundial sob hegemonia do capital financeiro, nenhum partido comunista pode elaborar seu programa avaliando apenas ou essencialmente as condições e tendências de desenvolvimento de seu próprio país. Isto também se aplica inteiramente para o partido que exerce poder no limites da URSS.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">O programa deve partir de uma leitura das condições internacionais, ligando as questões nacionais, as principais experiências da luta de classe e atuação do partido. Um programa internacional não é uma amalgama de todos os programas nacionais. “(...) Um programa comunista internacional não é a soma dos programas nacionais ou uma amalgama de seus acontecimentos comuns. Um programa internacional deve originar-se diretamente das condições e tendências da economia e política mundiais, do sistema como um todo, com conexões e contradições, isto é, com a mútua interdependência antagônica de suas partes”. (p. 90).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Para Trotski um programa deve partir de uma leitura da totalidade das relações internacionais, econômicas e políticas. O que marcou a morte dos programas nacionais foi o próprio desenvolvimento da nova fase do imperialismo, iniciado no inicio do século XX, fase em que o imperialismo chegou a todos os cantos do planeta. As transformações econômicas, Monopólios, o papel dos bancos, bem como o desenvolvimento das forças produtivas em escala planetária, o mercado mundial e a grande indústria mundializam-se e determinam um programa ainda mais internacionalista. “Em 4 de agosto de 1914 soou o alarme de morte de todos os programas nacionais. O partido revolucionário do proletariado só pode ser baseado em um programa internacional que responda às características da época atual, a época de maior desenvolvimento e colapso do capitalismo”. (p. 89-90). A mudança da fase monopolista da economia mundial para sua fase imperialista determina que a orientação da luta do proletariado nacional deve partir da orientação mundial. “Na época atual, assim como grande medida no passado, a orientação nacional do proletariado pode e deve partir de uma orientação mundial, e não vice-versa. Aqui está a diferença básica e primária entre o internacionalismo comunista e todas as variedades de socialismo nacional”. (p. 90). A análise cuidadosa das particularidades são elementos indispensáveis de um programa, mas esta deve ser tomada a luz do desenvolvimento internacional das forças produtivas, do imperialismo imposto pelos países potencia, seus sócios menores, seus domínios e assim, definir as tarefas internacionais. As questões nacionais não são apenas verruga no rosto, mas devem ser tomadas a luz das questões internacionais. Ganha centralidade o programa da Revolução permanente, que concebe que revoluções proletárias podem surgir de países atrasados, elos débeis do capitalismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">O método que ajuda a entender a inter-relação internacional é compreender que os países estão inter-relacionados economicamente, de forma contraditória e inclusive antagônica. Não só a experiência econômica e política predominante, mas também as tendências. Características comuns ou não, relacionar colônias, semi-colônias, países dependentes e suas relações com o imperialismo. A anarquia da econômica capitalista produz atritos entre potencias, colônias e países dependentes. Devemos descartar o foco isolado no mito da “formação nacional” e o da “globalização”. Trata-se de pensar a totalidade das relações, a partir de uma visão das questões internacionais e das particularidades. A interdependência mutua esta composta por contradições e enfrentamentos. Países e continentes com diversos níveis de desenvolvimento entram em relações diversas, contraditória de aproximação, expulsão e novas fusões contraditórias fundadas e destruídas permanentemente. O ponto de vista internacional deve ver a luta a luta de classes como uma totalidade em movimento. Deve-se pautar pela lei do desenvolvimento desigual e combinado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Vinculando países e continentes em diferentes níveis de desenvolvimento velando vários num sistema de mútua dependência e antagonismo, nivelando vários estágios de seus desenvolvimentos e ao mesmo tempo misturando imediatamente as diferenças entre eles, e contrapondo impiedosamente um país a outro, a economia mundial virou uma realidade poderosa que domina diversos países e continente. Só esse fato fundamental já dá um caráter profundamente realista a ideia de um partido comunista mundial.” (p. 91).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">É necessário considerar a definição da contradição das forças produtivas com as fronteiras nacionais. O internacionalismo não e uma questão moral, mas sim fruto da leitura da interdependência da econômica mundial e da luta proletária. O desenvolvimento econômico produtivo de cada país está interligado com o desenvolvimento das forças produtivas em nível internacional da Divisão Internacional do Trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Considerando-se que o imperialismo é uma época, e não uma política de governo (Americano, europeus, etc..), é necessário relacionar a Interdependência e contradição são conceitos chave nesta discussão. Passando pela definição de nivelamento e distanciamento entre as diversas economias internacionais. Existem sempre certos elementos de nivelamento na produção e distribuição, que são combinados com elementos de distanciamento em outros setores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Quando se pensa na analise da economia política brasileira, esta surge em oposição a noção stalinista que defendia o papel subordinado das economias dependentes e coloniais. A visão Cepalina e sua via esquerda, formada pela teoria da dependência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">EUA e Europa</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Porque Trotski dá mais peso aos Estados Unidos da Europa do que aos EUs da América do norte? 1) Os stalinistas querem apagar o peso da derrota da revolução alemã. Além disso, a Europa, por ser um conjunto de estados nacionais, abarca uma série de outras contradições, subalternização de países imperialistas (Inglaterra, Alemanha e França) imposta países dependentes (Itália, Portugal, Espanha, Irlanda). Os choques entre monopólios, as contradições econômicas podem levar a enfrentamentos militares, revoluções e guerras. Os países da Europa são países independentes sobre o mesmo continente. Estes, além disso, constituem subalternos dos EUA, que investem contra os países europeus como uma ave de rapina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) o caos interno, devido ao antagonismo entre Estados na Europa, tira desta a esperança de uma resistência séria e bem sucedida à cada vez mais centralizada república norte-americana. A resolução do caos europeu através dos Estados Unidos Soviéticos da Europa é uma das primeiras tarefas da revolução proletária; que está muito mais próxima da Europa do que na América – uma das razões, e não das enormes, é precisamente a divisão da Europa em Estados independentes – e terá, portanto, muito provavelmente que se defender da burguesia norte-americana. (p. 92-93).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Não admitir a importância da revolução européia justifica-se por dois elementos centrais: Buscar uma convivência pacifica com os EUA, para quem a Europa é continente chave, e 2) por uma outra via justificar o socialismo em um só país. No entanto, a tendência expansionista do imperialismo mais poderoso do mundo contra outros países coloca como utópica a convivência pacifica entre as potencias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) é precisamente a força internacional dos Estados Unidos e sua irresistível expansão que lhes obriga a introduzir nos sótãos do seu edifício armazéns de pólvora do universo inteiro: todos os antagonismos do Ocidente e do Oriente, a luta de classes na velha Europa, os levantes dos povos coloniais e todas as guerras e revoluções. Por outro lado, isto transforma o capitalismo norte-americano na principal força contra-revolucionária da época moderna, constantemente mais interessado na manutenção da “ordem” em cada esquina do globo terrestre; por outro lado, prepara o terreno para uma gigantesca explosão revolucionária neste poder imperialista, já dominante no mundo e ainda em expansão. A lógica das relações mundiais indica que o tempo dessa explosão não ficara muito atrasado em relação à revolução mundial. (93).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">O capitalismo europeu é o elo débil do imperialismo dominante. Os EUA entram em crise e apertam os cintos contra os países da Europa. Desta forma, as relaços entre EUA e Europa é que definem as relações políticas econômicas no mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Deste panorama, uma conclusão não menos importante é de que não faltarão situações revolucionárias na próxima década, assim como não faltaram na anterior. Por isso é muito importante entender corretamente os mecanismos do desenvolvimento para não sermos pegos de calças curtas com suas ações. Se na década passada a maior fonte de situações revolucionárias eram consequências diretas da guerra imperialistas, na segunda década do pós-guerra a fonte mais importante de levantes revolucionários será a relação entre Europa e América. Uma grande crise nos Estados Unidos será o sinal para novas guerras e revoluções. (p. 94).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Depois da revolução de 1923 a burguesia européia tem um novo fôlego para se reorganizar e se restabelecer sobre a luta proletária que está desmoralizada por conta da derrota da revolução alemã em 1921, em 1921 tem-se uma direção pouco preparada, em 1923 tem-se uma direção capituladora. Em 23 o PC é um fator da derrota, esta derrota é fator de estabilização da luta de classes, o stalinismo é um fator da estabilização. A burguesia francesa se sente a vontade para invadir a Alemanha para extrair carvão. Até a derrota de 1923 o partido Alemão poderia ter dirigido a revolução, mas frente a capitulação desperdiçou a vaga histórica. Ainda o partido alemão recusou-se a fazer o balanço, e mesmo depois da derrota, seguiu dizendo que o processo revolucionário permanecia aberto. Na verdade, o movimento operário já estava em refluxo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Estabilização e luta de classe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A estabilização é objeto da luta de classe, de disputa entre burguesia e proletariado: A burguesia quer fazer da estabilização uma plataforma para sua recuperação e dominação da luta de classe. O proletariado quer fazer da estabilização elemento de reorganização de suas forças, balanços e avanços. A estabilização mais profunda não implica paralisação da luta de classe. (p.286). A estabilização é preparação para novos conflitos e embates na luta de classes. Não há trégua entre capital e trabalho, pois segue-se a exploração e a dominação econômica e política. Estabilização é preenchida de contradições de classe, políticas e econômicas. Em 1923 proletariado e burguesia entram em relações diferenciadas, a burguesia vem de uma vitória contra o ascenso proletário. O proletariado vem de uma de suas principais derrotas. Estabilização também não se compreende a partir apenas nas fronteiras nacionais. É necessário partir da totalidade concreta que é a composição do capitalismo como economia mundial, a relação de cada pais imperialista, colônias e semi-colônias. É necessário buscar compreender quanto pode durar os episódios de estabilização.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Em 1923 o PC alemão era o segundo maior partido comunista do mundo. A derrota deste partido foi a primeira derrota da Internacional Comunista. Uma derrota deste partido tem impacto subjetivo profundíssimo na subjetividade operária, esta se somou ainda a derrota do terceiro maior PC do mundo, que era o PC chinês. A derrota destas duas revoluções teve grande impacto negativo sobre o proletariado russo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Também, em relação aos balanços da derrota da revolução alemã deve-se considerar, para um balanço, Relação entre economia mundial e nacional, relação entre Estados, luta de classe e a direção do proletariado. Com a crise econômica e política do inicio dos anos 1920, os EUA necessitava avançar ainda mais sobre a Europa e seus domínios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A palavra de ordem Estados Unidos Soviéticos da Europa</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A palavra de ordem Estados Unidos da Europa é que dá uma saída para a nova condição mundial, economicamente e também no terreno da luta de classe. Na Rússia a revolução já era um fato dado, e precisava de todo o apoio mundial. A Alemanha tem papel chave neste processo. Como o proletariado age no período de guerra em relação a unificação da Europa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Ao defender a palavra de ordem Estado Unidos Soviéticos da Europa, nós apontamos, em 1915, que a lei do desenvolvimento desigual não é em si argumento contra essa palavra de ordem, porque a desigualdade do desenvolvimento histórico dos diferentes países e continente é por si só <i>desigual</i>. Os países europeus têm desenvolvimento desigual uns em relação aos outros. Contudo, podemos ter absoluta certeza histórica de que nenhum desses países está destinado, pelo menos na época histórica em estudo, a avançar muito à frente em relação a outros países, como a América passou à frente da Europa. Para a América há<i> uma</i> escala de desigualdade, para a Europa há <i>outra</i>. As condições geográficas e históricas determinaram tal laço entre os países da Europa que não há como romper. Os governos burgueses modernos da Europa são como assassinos presos a uma única corda. A revolução na Europa, como já dissemos será, <i>em ultima análise</i>, de importância decisiva para a América também. Mas <i>diretamente</i>, no curso imediato da história, uma revolução na Alemanha terá muito mais significado para a França do que para os Estado Unidos da América. (p. 98).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A consigna Estados Unidos da Europa é também uma consigna defensiva, pois levanta um dialogo com o proletariado de outros países, buscando internacionalizar e defender a revolução. Assim, esta questão tem também determinações militares corretas. Isso porque para Trotski para que o socialismo triunfe em um pais é necessário que triunfe no mundo todo, pois para o autor, a revolução começa em terreno nacional, desenvolve-se na arena internacional e se completa com a revolução mundial. “A formulação das questões acima vem da dinâmica do processo revolucionário como um todo. A revolução internacional é considerada como um processo interconectado, cuja ordem dos acontecimentos não pode ser prevista em todos os detalhes, mas que está claramente delineada no horizonte histórico. Se isso não é compreendido, uma orientação política correta está totalmente fora de questão”. (99).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">No entanto, Trotski destaca que apenas sobre a base da ideia de que o socialismo pode ser desenvolvido em um país só, abstraindo as relações do imperialismo e a própria economia globalizada, é que se pode admitir abrir mão da consigna de Estado Unidos Soviéticos da Europa. Isso porque o proletariado que já fez a revolução não dependeria de nenhuma força externa para edificação do socialismo. Essa é para Trotski, uma perspectiva nacional-reformista e não internacionalista e revolucionária:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
No entanto, a questão torna-se bem diferente se partimos da ideia de um desenvolvimento socialista que está ocorrendo e está até sendo completado em um país. Nós temos hoje a “teoria” que ensina que é possível construir completamente o socialismo em um país e que as relações daquele país com o mundo capitalista podem ser estabelecidas na base de “neutralizar” a burguesia mundial (Stalin). A necessidade da palavra de ordem de Estados Unidos da Europa passa longe, ou no mínimo é diminuída, se esse ponto de vista essencialmente nacional-reformista e não internacionalista e revolucionário for adotado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Compreendendo a economia como uma totalidade integrada dialeticamente em movimento constante, o capitalismo como sistema mundial expansionista buscará sufocar a cada movimento o Estado operário. O sistema capitalista mundial integrado buscará submeter o Estado operário as leis do mercado e da concorrência. O Estado operário necessita trocar, comprar e vender mercadoria com o restante dos países que compõem a cadeia mundial. Como não há como a economia voltar ao período anterior ao mercado mundial integrado, a ideia de socialismo em um só pais é utópica e reacionária. A única forma de garantir que o Estado operário se mantenha é espalhando a revolução mundialmente e conquistando a implantação de novos estados operários, que debilite a economia burguesa e de impulso a revolução mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 106.35pt; text-indent: 0px;">
Mas a palavra de ordem é, no nosso ponto de vista, importante e vitalmente necessária, porque é baseada na condenação da ideia de um desenvolvimento socialista isolado. Para o proletariado de todos os países europeus, em grande medida mais do que para a URSS – a diferença, no entanto, é apenas de grau – será necessário espalhar a revolução para os países vizinhos e lá apoiar insurreições com armas nas mãos, não por qualquer consideração abstrata e solidariedade internacional, o que por si só não põe a classe em movimento, mas por consideração vital que Lênin formulou centenas de vezes, a saber, de que sem a <i>oportuna</i> ajuda da revolução internacional, não conseguiremos nos manter. A palavra de ordem dos Estados Unidos Soviéticos da Europa corresponde a dinâmica da revolução proletária, a qual não acontece simultaneamente em todos os países, mas passa de país a pais e requer grandes laços entre elas, especialmente na Europa, tanto para a defesa contra os fortes inimigos externos como para a construção econômica”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">Os critérios do internacionalismo</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Lei do desenvolvimento desigual e combinado reafirma a necessidade da revolução internacional. O desenvolvimento desigual não existe apenas na era imperialista, ele antecede a história do capitalismo. No entanto ganha novas determinações sobre a égide da fase imperialista do capitalismo, fase em que o capitalismo é controlado por um grupo de países. Trotski destaca que “Em primeiro lugar seria mais correto dizer que toda a história da humanidade é regida pela lei do desenvolvimento desigual. O capitalismo encontra várias partes da humanidade em diferentes estágios de desenvolvimento, cada qual com suas profundas contradições internas. A extrema diversidade de níveis atingidos e a extraordinária desigualdade no ritmo de desenvolvimento das diferentes partes da humanidade durante várias épocas são ponto de partida do <i>capitalismo</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Seguindo o mesmo método de análise de Marx e Engels, também para o Trotski, o avanço do capitalismo para todas as partes do globo, tem como uma de suas principais consequência a homogeneização da forma de produção e distribuição de mercadorias, sendo que, verifica-se uma salto qualitativo imenso na sua fase imperialista, demarcada desde o inicio do século XX. Com o mercantilismo e a grande indústria, o capitalismo deixa de ser um sistema circunscrito a seu nascedouro, à Europa pós-feudal, em sua necessidade expansionista, como sujeito automático, passa a ocupar todo o território terrestre. Isso faz com que o sistema capitalista passe a regular as desigualdades de acordo com suas necessidades. O capitalismo homogeneíza condições de produção sem eliminar por completo as formas menos desenvolvidas. Em uma totalidade orgânica, combina as formas homogeneizadas à elementos pouco desenvolvidos em relação aos seus próprios setores mais desenvolvidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) Apenas gradualmente este ganha o controle sobre a desigualdade herdada, quebrando-a e alterando-a, empregando seus próprios fins e métodos. Em contraste com os sistemas que o antecederam, o capitalismo busca inerente e constantemente a expansão econômica, a penetração em novos territórios, a superação das diferenças econômicas, a conversão de economias nacionais e regionais encerradas em si mesmas em um sistema de vasos comunicantes, aproxima-os de si, igualando o nível econômico e cultural dos países mais avançados e mais atrasados. Sem esse processo principal, seria impossível conceber o relativo nivelamento primeiro da Europa com a Grã Bretanha e depois da América com a Europa; industrialização das colônias, que diminuiu a diferença entre Índia e Grã Bretanha e todas as consequências desse processo sobre o qual é baseado não só o programa da Internacional Comunista, como também a sua própria existência. (102).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">É desta análise que compreende diversas fases de desenvolvimento do capitalismo, com importante salto sob as bases do imperialismo, que Trotski derivará a teoria do desenvolvimento desigual e combinado. A lei do desenvolvimento desigual e combinado pode ser compreendida em duas partes unas, indissolúveis. O elemento desigual complementa-se com o combinado. O desenvolvimento desigual acompanha toda história da industriosidade humana. O capitalismo se desenvolve no mundo inteiro produz homogeneizações dominantes, combinações estruturantes imediatas. Como um sistema orgânico que combina diferentes estágios da produção e distribuição, divisão do trabalho que organiza diversas partes da economia mundial de forma orgânica, como totalidade dependente. Existe uma interconexão orgânica entre as desigualdades que produz um todo estruturado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Ao aproximar economicamente os países e nivelar seus estágios de desenvolvimento, o capitalismo, no entanto, <i>usa seus próprios métodos</i>, quer dizer, métodos anarquistas que constantemente minam seu próprio trabalho, joga um país contra outro e um ramo da indústria contra outro, desenvolvendo algumas partes da economia mundial enquanto dificulta e atrasa o desenvolvimento de outras. Apenas a correlação dessas duas tendências fundamentais – centrípeta e centrífuga, nivelamento e desigualdade – ambas advindas da natureza do capitalismo, nos explica a textura viva do processo histórico. (p.102).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Analisando a economia como uma totalidade, fica evidente a desigualdade de seus níveis produtivos, econômicos e sua posição na economia mundial, evidencia-se a hierarquia entre os diversos países. Os países dependentes, semi-coloniais e coloniais são elos débeis produzidos pelo desenvolvimento desigual e combinado do sistema capitalista mundial. Estão sobre as pressões tanto das tendências centrípetas, como das tendências e centrífugas. Tanto das tendências de nivelamento como das de desigualdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
O imperialismo, graças à universalidade, penetração, mobilidade e à enorme velocidade na formação do capital financeiro como a sua força motora, empresta vigor a <i>ambas as tendências</i>. O imperialismo vincula incomparavelmente mais rápido e profundamente grupos nacionais e continentais em uma única entidade, colocando-os em mútua dependência vital e tornando seus métodos econômicos, formas sociais e níveis de desenvolvimento mais idênticos. Ao mesmo tempo, ele atinge esse “objetivo por tal método antagônico, tal pulo e assalto sobre países e áreas atrasados, que afeta a unificação e o nivelamento da economia mundial, com mais violência e convulsão que em outras épocas”. (p. 102).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Ou seja, os distintos níveis de desenvolvimento atuando em conjunto constituem parte ineliminaveis da cadeia global. E devem ser tomados dessa forma na elaboração da analise e programa para a revolução mundial, “(...) O desenvolvimento desigual ou esporádico de vários países atua constantemente para embaralhar, mas em nenhum caso para eliminar os laços e interdependências econômicas entre esses países que, logo no dia seguinte, depois de quatro anos de matança infernal, foram obrigados a trocar carvão, pão, óleo, energia e suspensórios entre eles”. É seguido tal perspectiva que Trotski conclui:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Depois do que foi dito não é difícil entender que a única formulação correta da questão é a seguinte: que Marx e Engels, mesmo antes da época imperialista, chegaram a conclusão de que, por um lado a irregularidade, ou seja, as sacudidas do desenvolvimento histórico, estenderão a revolução proletária por uma época inteira durante a qual nações entrarão em ondas revolucionárias uma após outra, enquanto, por outro lado, a dependência orgânica de diversos países, que se desenvolveu ao ponto de uma divisão internacional do trabalho, exclui a possibilidade de se construir o socialismo em um só pais. Isso quer dizer que a doutrina marxista, que postula que a revolução socialista só pode começar em uma base nacional, enquanto a construção do socialismo em um só país é impossível, revelou-se <i>duplamente ou triplamente verdadeira</i>, ainda mais agora, na época moderna, quando o imperialismo se desenvolveu, aprofundou e aguçou essas <i>duas</i> tendências antagônicas. Nesse ponto, Lênin apenas desenvolveu e caracterizou a formulação e a resposta que o próprio Marx deu a essa questão. (p. 104).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Oposta a análise defendida por Trotski, a perspectiva stalinista defende que o desenvolvimento desigual determina que a revolução só é possível em alguns países nos quais as forças produtivas estão em fase avançada de desenvolvimento: EUA e Inglaterra. Os outros países devem passar por outras fases de desenvolvimento até atingirem a forma política e produtiva plena da sociedade burguesa, tais como as do EUA e Inglaterra. Os outros países precisam livrar-se dos seus resquícios feudais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A tradição teórica do partido</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Abre o tópico denunciando que a burocracia atribui a teoria do socialismo num só país a Lênin, como se não pensasse a necessidade da revolução mundial. Trotski destaca que para Lênin poder-se-ia ter uma vitória da revolução socialista em um só país, no entanto, isso não o conduz a defesa da revolução num só país, para Lênin o socialismo só se completa em escala mundial. Necessariamente o socialismo deve começar em um país, com a tomada do poder, planificação econômica, monopólio do comércio exterior e expropriação das propriedades. 1) Poder do estado sobre a produção. 2) poder do estado nas mãos do proletariado 3) Aliança entre o proletariado e os camponeses. 4) hegemonia do proletariado sobre os camponeses. No entanto isto não implica acreditar que se poderia edificar o socialismo em um só país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski destaca a citação do texto <i>Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa</i> (um informe de 5 páginas), publicado por Lênin em 22 de agosto 1915. Lênin neste texto afirma que se entendia por Estados Unidos Europa a derrubada revolucionária das monarquias alemã, austríaca e russa simultaneamente. Lênin discorda que seja necessário que as três revoluções acorram ao mesmo tempo para que se tenha uma revolução socialista. Poder-se-ia tomar o poder em apenas um destes países e utilizá-lo como bastião na luta pelo socialismo na Europa, utilizando como peso objetivo na luta contra o capitalismo. De acordo com Lênin:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-left: 4cm; text-indent: 0px;">
No número 40 do <i>Sotsial-Demokrat</i><sup> </sup>informamos que a conferência das secções do nosso partido no estrangeiro<sup> </sup>decidiu adiar a questão da palavra de ordem de «Estados Unidos da Europa» até ao debate na imprensa do aspecto <i>econômico </i>do problema.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-left: 4cm; text-indent: 0px;">
A discussão sobre esta questão na nossa conferência adquiriu um caráter político unilateral. Em parte isto foi talvez provocado pelo fato de no manifesto do Comitê Central esta palavra de ordem ter sido formulada diretamente como política («a palavra de ordem <i>política </i>imediata...» -diz-se ali), e não só se propõem os Estados Unidos da Europa republicanos, mas também se sublinha em especial que «sem o derrubamento revolucionário das monarquias alemã, austríaca e russa» esta palavra de ordem não tem sentido e é falsa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin-top: 12pt; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Lênin prefere suprimir a palavra de ordem Estados Unidos da Europa a divulgar uma formulação equivocada. No mesmo texto afirma que “Objetar contra tal colocação da questão <i>nos limites </i>duma apreciação política desta palavra de ordem, por exemplo do ponto de vista de que encobre ou enfraquece, etc, a palavra de ordem de revolução socialista, é totalmente incorreto”. A burocracia stalinista, abstraindo da discussão que é feita no artigo, “utiliza-o impiedosamente, para não dizer criminosamente” para embasar sua própria política. Uma passagem deste texto é utilizada pela burocracia Stalinista para atribuir a Lênin a teoria do socialismo num só país. Confiramos a referida passagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia <i>contra </i>o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estados. A forma política da sociedade em que o proletariado é vitorioso, derrubando a burguesia, será a república democrática, que centraliza cada vez mais as forças do proletariado dessa nação ou dessas nações na luta contra os Estados que ainda não passaram ao socialismo. É impossível a liquidação das classes sem a ditadura da classe oprimida, o proletariado. É impossível a livre unificação das nações no socialismo sem uma luta mais ou menos longa e tenaz das repúblicas socialistas contra os Estados atrasados. (Confira: Lênin - <i>Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa. </i>Disponível no endereço: <a href="http://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/08/23.htm" target="_blank">http://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/08/23.htm</a>)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Lendo o artigo original de Lênin podemos ver com clareza que o autor não está afirmando que é possível edificar o socialismo em um só pais, mas sim que uma revolução socialista sendo desencadeada em um país, pode ser um pólo de organização socialista e uma base de apoio aos revolucionários de todo o mundo. Um bastião para atacar os demais países capitalista, causando baixa aos países capitalistas e mudando a correlação de forças em favor dos revolucionários. Lênin escreve em 1917 que a revolução russa deveria ser o prelúdio da revolução mundial. Depois da tomada do poder Lênin afirmava que sem a revolução mundial a revolução russa estaria fadada ao fracasso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">No entanto a citação é utilizada de forma criminosa contra Lênin e em favor da burocracia stalinista. Trotski afirma que por meio desta apropriação feita pela burocracia “todo o marxismo e leninismo foi simplesmente jogado fora”. A teoria de Bukharin-Stalin apóia-se sobre esta citação, e também sobre outra do texto <i>Sobre cooperação </i>(LENIN, 2012).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">São duas citações “extraídas artificialmente e grosseiramente e mal interpretadas pelos epígonos são usadas como base de uma nova teoria, profundamente revisionista, que é limitada do ponto de vista de suas consequências políticas” (p. 106). Trotski ainda buscar explicar o que Lênin realmente discutia no artigo <i>Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa.</i>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
O que Lênin tinha em mente? Apenas que a vitória do socialismo, sentido do estabelecimento da ditadura do proletariado, é possível primeiro em um país, que se contraporá ao mundo capitalista. O Estado proletário, para poder resistir a um ataque e assumir a ofensiva revolucionária, primeiro terá que “organizar a produção socialista em seu país”, ou seja, terá que reorganizar a operação das fábricas tomadas dos capitalistas. Isto é tudo. Tal “vitória do socialismo” foi, como se sabe, primeiro alcançada na Rússia; o primeiro Estado operário, para poder se defender contra a intervenção mundial, teve, antes de todo, que “organizar a produção socialista” ou criar trustes “consequentemente socialistas”. Pela vitória do socialismo em um país, Lênin consequentemente não entendia como a fantasia de uma sociedade socialista autosuficiente, sobretudo em um país atrasado como esse, mas algo mais realista, quer dizer, o que a Revolução de Outubro alcançou em nosso país durante o primeiro período de sua existência (p. 107).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Opondo-se a perspectiva de Lênin e Trotski, por outro lado, Bukharin e Stalin pensam que, uma vez no poder, contando com apoio dos camponeses, a manutenção do poder na Rússia estava assegurada. Trotski combate a teoria do socialismo em um só pais com a teoria da revolução permanente:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Havia duas teses fundamentais na teoria da revolução permanente. Primeiro, que apesar do atraso histórico da Rússia, a revolução pode colocar o poder nas mãos do proletariado russo antes de o proletariado de países avançados conseguirem isso. Segundo, que a saída para as contradições que acontecerão com a ditadura do proletariado em um país atrasado, cercado de um mundo de inimigos capitalistas, será encontrada na arena da revolução mundial. A primeira proposição é baseada num correto entendimento da lei do desenvolvimento desigual. A segunda depende de um correto entendimento da indissolubilidade dos laços econômicos e políticos entre os países capitalistas. (p. 118).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">Onde está o “desvio social-democrata”?</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Bukharin e Stalin acusam Trotski de um desvio social-democrata. Comparam sua posição a de Otto Bauer da II Internacional, Bauer afirmava que Rússia não estava suficientemente madura economicamente para sustentar o socialismo de forma independente, por isso, deveria recusar-se a construção do socialismo. A burocracia afirma que é sim possível construir o socialismo apenas na Rússia, mesmo que seja a passos de tartaruga, acusa Trotski de não querer assegurar a manutenção do socialismo na Rússia, que se dá apenas por meio do socialismo num só país. Trotski é acusado de ceticismo em relação às capacidades de edificação do socialismo em um só pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski explica pacientemente a posição de Otto para diferenciar as posições “(...) Os teóricos da II internacional excluem a URSS da unidade mundial e da época imperialista; eles aplicam para a URSS, como um país isolado, o critério abstrato de “maturidade” econômica; eles declaram que a URSS não está pronta para a construção independente socialista e daí tiram a conclusão da inevitabilidade da degeneração capitalista do Estado operário” (p. 120). Desconsideram que o determinante para o triunfo de uma revolução socialista não é o nível de desenvolvimento das forças produtivas de um determinado país onde ocorre uma revolução proletária, mas sim da possibilidade de desencadear a revolução em um dado país e expandi-la para outros países o quanto antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Esta posição, de Otto e companhia, não tem relação nenhuma com a posição de Trotski, uma vez que entende que não é possível socialismo em um só país, nem mesmo países mais desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos. Todos os países do mundo estão subordinados, mesmo que de forma distinta, em diferentes níveis e qualidade, a dinâmica da cadeia internacional que constitui uma totalidade econômica e política. “(...) na época do imperialismo é impossível abordar o destino de um país de outra forma que não tendo como ponto de partida as tendências do desenvolvimento mundial como um todo no qual esse país, com todas suas particularidades nacionais, está incluído e ao qual está subordinado” (p. 120). Trotski conclui esta seção apontando que na verdade os social-democratas são, na verdade, os defensores do socialismo em um só pais. Os teóricos da II e Bukharin-Stalin acabam de mãos dadas, ambos abstraem as relações econômicas e políticas mundiais:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Os autores do projeto de programa adotam o mesmo terreno teórico e aceitam inteiramente a metodologia metafísica dos teóricos social-democratas. Eles também “abstraem” a unidade mundial e a época imperialista. Eles partem da ficção de desenvolvimento isolado. Eles aplicam para a fase nacional da revolução mundial um critério econômico abstrato. Mas o “veredito” a que chegam é diferente. O “esquerdismo dos autores do projeto está no fato de que eles viram a evolução social-democrata do avesso”. (p. 120).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A dependência da URSS da economia mundial</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Nesta seção Trotski parte da análise desenvolvida por Vollmar, segundo o qual seria impossível construir o socialismo no mundo todo. Mas destacava que a Alemanha era suficientemente desenvolvida economicamente. Caso o socialismo triunfasse na Alemanha seria possível produzir mais e com preços abaixo dos principais países capitalista. Isso levaria a bancarrota a principais economias do mundo, o que por sua vez daria impulso extraordinário a construção do socialismo. Vollmar parte de uma formulação “errada e parcial como é a de nossos patrocinadores da teoria do socialismo em um só pais. Em sua exposição, Vollmar teve como ponto de partida a proposição de que a Alemanha socialista terá grande relações econômicas com a economia capitalista mundial, tendo ao mesmo tempo a vantagem de possuir uma tecnologia muito mais desenvolvida e um custo de produção muito menor. <i>Esta construção é baseada na perspectiva de uma coexistência pacifica dos sistemas socialista e capitalista</i>. Mas a medida em que o socialismo deve, com seu progresso revelar constantemente sua colossal superioridade produtiva, a necessidade da revolução mundial desaparecerá sozinha: o socialismo triunfará sobre o capitalismo por vender bens mais baratos no mercado. (p. 121). Um dos principais equívocos de Vollmar é acreditar que os países imperialistas assistirão passivamente a perda de seus mercados consumidores, que não promoverão boicotes conjuntos, que não se organização para impor sanções ao estado operário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A teoria do <i>socialismo em um só</i> país parte de equivoco semelhante, tem como pressuposto a possibilidade do desenvolvimento auto-suficiente do socialismo, convivendo pacificamente com os países capitalistas na era imperialista. “Bukharin, o autor do primeiro projeto de programa e um dos autores do segundo, em sua construção do socialismo em um só país, parte totalmente da ideia de uma economia isolada autosuficiente”. (p. 121). Isolando a URSS da cadeia mundial e considerando o socialismo como forma superior de produção “Bukharin constrói um sistema completo de uma econômica socialista autosuficiente sem nenhuma entrada ou saída que se comunique com o exterior. Quanto ao meio exterior, isto é, o mundo todo, Bukharin, assim como Stalin, só se lembra dele do ângulo da intervenção militar”. (p. 122). Por isso, a forma de edificar o socialismo é a coexistência pacifica e crescimento a passos de tartaruga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A coexistência pacifica entre socialismo e capitalismo é impossível. Ou predomina o capitalismo ou o socialismo, pois são dois modos de produção antagônicos. A única forma de defender as conquistas da revolução de outubro é por meio da expansão da revolução para outros países, e não a partir do fechamento da Rússia sobre si mesma. Para Trotski apenas a expansão do socialismo pelo mundo é que pode assegurar a manutenção do Estado operário na Rússia. A estratégia de desenvolvimento isolado do socialismo a passos de tartaruga está fora de questão! O proletariado russo não poderia ter se desenvolvido como se desenvolveu se não fosse parte do proletariado em nível internacional e das suas forças produtivas em escala mundial. A Rússia, em 1917 era um dos principais pólos mundial de industrialização. A tomada do poder neste país constitui um ataque a um setor importante do sistema capitalista internacional, instaurando uma dualidade de sistemas, na qual apenas um deve sair vitorioso. Assim, deve-se considerar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) A questão de luta interrupta entre os dois sistemas, o fato de que o socialismo só pode se basear nas forças produtivas mais avançadas; em uma palavra, a dinâmica marxista da substituição de uma formação social por outra base do crescimento das forças produtivas – tudo isso foi completamente descartado. A dialética revolucionária e histórica foi substituída por uma utopia reacionária e superficial de socialismo autosuficiente, construído com baixa tecnologia, desenvolvendo-se com a “velocidade de tartaruga” dentro das fronteiras nacionais, ligado ao mundo somente por seu medo de intervenção. (...). (p 122).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A abstração utópica e reacionária de Bukharin-Stalin “ignora” que a produtividade do trabalho está interliga o desenvolvimento das forças produtivas internas e externas. Quanto mais produtividade mais mercadorias se produz e melhor preço se consegue e assim tem-se vantagem no mercado mundial. A Rússia tem que disputar mercados com países com grande desenvolvimento técnico e mercadorias. O nível de exploração é muito maior nos Estados capitalistas. Assim, a Rússia não consegue disputar mercados com EUA, Inglaterra, França, etc. Ainda, a Rússia depende de outras mercadorias que são produzidas internacionalmente insumos e tecnologias. Fica em desvantagem na aquisição de divisas, de matérias primas, insumos e tecnologias. O Estado operário isolado, fica à mercê dos países capitalistas que são maioria e com meios de produção com índice de produtividade muito maior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Existe uma dependência ineliminável em relação às exportações e importações de mercadorias, existem ramos que são muito produtivos e precisam exportar, assim como outros ramos pouco produtivos que precisam indispensavelmente de produtos importados. “O nó de nossa economia, incluindo nossa indústria, são nossas exportações, que dependem inteiramente de nossas exportações. E como a força de resistência de uma cadeia é sempre medida por seu elo mais fraco, as dimensões de nossos planos econômicos têm que estar em conformidade como nossas importações”. (p. 123). Ou seja, para Trotski além das questões militares é necessário considerar a totalidade do sistema produtivo mundial em cadeia. Conforme destaca em outro trecho:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
O mundo capitalista nos mostra, por suas cifras de importação e exportações, que há outros instrumentos de persuasão além daqueles da intervenção militar. Como a produtividade do trabalho e a produtividade de um sistema social como um todo são mediadas no mercado pela correlação de preços, não é tanto a intervenção militar, mas a intervenção de mercadorias capitalistas mais baratas que constituem, talvez, a maior ameaça imediata para a economia soviética. Isso por si só mostra que não é de modo algum uma questão de vitória econômica isolada sobre “a sua própria burguesia”: “A revolução socialista que é imperativa para todo o mundo não consiste apenas na vitória do proletariado de cada país sobre a própria burguesia”. (Lênin. Obras completas. Vol XVI, p 388, 1919). Aqui está envolvida a luta de morte entre dois sistemas sociais, um dos quais apenas começou a ser construído sobre forças produtivas atrasadas, enquanto o outro ainda hoje funciona com forças produtivas imensuravelmente maior. (p. 124).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">É justamente esta desproporção entre a produção industrial global e a produção soviética que é desconsiderada pela burocracia. Ignora-se que o Estado operário possa ser levado a bancarrota e esmagado pelo peso do modo de produção capitalista mundializado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
A nova teoria fez de seu ponto de honra à esquisita ideia de que a URSS pode perecer por uma intervenção militar, mas nunca por seu próprio atraso econômico. Mas visto que em uma sociedade socialista a prontidão das massas em defender seu país deve ser muito maior que a prontidão dos escravos do capitalismo em atacá-lo, vem uma questão: porque uma intervenção militar deveria levar-nos ao desastre? Porque o inimigo é infinitamente mais forte em sua <i>tecnologia</i>. Bukharin enxerga o predomínio das forças produtivas apenas no seu aspecto militar. Ele não quer entender que um trator da Ford é tão perigoso quanto uma arma Creusot, com a única diferença que, enquanto a arma funciona apenas de quando em quando, o trator nos pressiona constantemente. Além disso, o trator sabe que a arma está por trás dele, como último recurso. (124-125).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A teorização do desenvolvimento do socialismo em fronteiras nacionais, em separado do mercado mundial, leva a uma indiferença inocente em relação ao desenvolvimento das forças produtivas mundiais. O coeficiente de produção interna deve ser medido com a produtividade externa, mundial. Uma vez que se trata de um sistema global, com monopólios, bancos e capital financeiro. Partindo de uma análise da economia internacional, torna-se imperativa a necessidade do apoio do proletariado internacional para que se sustente o Estado operário. Na medida em que a classe operária perde possibilidades revolucionárias nos outros países, sobretudo nos países imperialistas, mais forte fica a burguesia mundial. Avançar nas revoluções e expropriações fortalecesse a revolução russa, tanto politicamente como produtivamente.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin-bottom: 12pt; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">As contradições entre as força produtivas e as fronteiras nacionais como a causa da teoria utópica reacionária do “socialismo em um só país”</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Nesta seção Trotski demonstra o caráter reacionário e utópico da Teoria do Socialismo de um só país. Surgido das entranhas do feudalismo, aderindo das grandes navegações, baseando-se sobre o <i>Mercado Mundial</i> e na <i>Grande Indústria</i> (produção e distribuição em larga escala), o modo de produção capitalista é intrinsecamente expansivo. Em sua fase imperialista, a produção capitalista ocupou todos os países do globo atrelando-os a uma economia mundializada. Não há como fazer retroceder a produção mundial a sua fase pré mundialização econômica, os níveis de desenvolvimento das forças produtivas não podem retroceder a fase anterior a grande indústria e o mercado mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">É necessário apropriar-se dos níveis internacionais dos avanços das forças produtivas, para planificação mundial da produção e distribuição de mercadorias. Retomemos a formulação de Marx e Engels para os quais “A dependência multifacetada, essa forma natural de cooperação histórico-mundial dos indivíduos, é transformada, por obra desta revolução comunista, no controle e domínio conscientes desses poderes” (Boitempo, 2007, p. 41). Para os autores “Somente assim os indivíduos singulares são libertados das diversas limitações nacionais e locais, são postos em contato prático com a produção (incluindo a produção espiritual) do mundo inteiro e em condições de adquirir a capacidade de fruição dessa multifacetada produção de toda a terra”. (41). Também para Trotski <i>a</i> <i>teoria do socialismo é utópica e reacionária</i>, utópica porque existe uma contradição entre as forças produtivas e a fronteira nacional, reacionária porque quer retroceder o desenvolvimento das forças produtivas mundiais e a própria mundialização da economia, quer fazer retroceder a história do desenvolvimento humano da produção. As forças produtivas tornaram-se a muito tempo incompatíveis com as fronteiras nacionais. Não há como restringir a economia de um país a isto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A potencialização da produção, fruto do amplo desenvolvimento das forças produtivas, a intensa comercialização de mercadorias entre países impõe a necessidade da mundialização do intercambio entre as diversas nações. Não há como fazer retroceder a grande indústria e o mercado mundial para um período em que os povos de diversos países produziam de forma independente uns dos outros. Segundo analise de Trotski, a Teoria do socialismo em um só pais é “(...) uma teoria reacionária porque é inconciliavelmente oposta não só à <i>tendência</i> fundamental do desenvolvimento das forças produtivas, mas também ao <i>resultados materiais</i> que já foram atingidos por esse desenvolvimento. As forças produtivas são incompatíveis com as fronteiras nacionais”. (p. 128).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Sobre as determinações do capitalismo pressupõem-se não apenas o intercambio pacifico do “comércio exterior, a exportação de homens e capital”, mas a anarquia da produção e a consequente guerra fratricida entre os setores da burguesia de diversos países que disputam mercados. Mantém-se a atualidade da formulação de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista onde afirmavam que “A sociedade burguesa, com suas relações de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar os poderes infernais que convocou”. (p. 45).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Retomando as análises de Lenin no <i>Imperialismo, fase superior do capitalismo</i>, Trotski relembra que estas contradições indissolúveis no marco da sociedade capitalista foram qualitativamente aprofundadas na época imperialista, onde de tempos em tempos irrompem crises, guerras e revoluções. Desta dinâmica decorre “a tomada de territórios, a política colonial e a ultima guerra imperialista, mas também a impossibilidade econômica de uma sociedade socialista autosuficiente. As forças produtivas dos <i>países capitalistas</i> há muito tempo romperam as fronteiras nacionais.” (p. 128). Desta forma, para edificação da sociedade socialista, é preciso que o proletariado organizado aproprie-se do amplo desenvolvimento das forças produtivas e da distribuição mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski reafirma que “A sociedade socialista, no entanto, pode ser construída apenas sobre as mais avançadas forças produtivas, na ampliação da eletricidade e da química aos processos de produção, incluindo a agricultura; ou combinando, generalizando e trazendo ao desenvolvimento máximo os mais altos elementos da tecnologia moderna”. (p. 128). A revolução proletária deve ter como objetivo a tomada dos meios de produção para destravar as forças produtivas que estão sobre os limites impostos pela dominação burguesa. O objetivo é tomar os meios de produção e ultrapassar a largos passos os limites burgueses, estabelecendo novos patamares de produtividade para que, como formulou Marx em relação ao <i>Programa de Gotha</i>, cada um possa produzir segundo suas capacidades, e ser retribuído segundo suas capacidades. Segundo análise de Trotski<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
De Marx em diante, temos repetido constantemente que o capitalismo não pode domar o espírito da nova tecnologia que ele mesmo criou e que faz explodir não só o envoltório jurídico da propriedade privada burguesa mas, como a guerra de 1914 mostrou, também as esperanças nacionais do Estado burguês. O socialismo, no entanto, não deve apenas partir das mais desenvolvidas forças produtivas, mas deve elevá-las adiante, elevá-las ao nível máximo e dar a elas um estado de desenvolvimento de desenvolvimento como nunca visto no sistema capitalista. A pergunta que surge: como então pode o socialismo reduzir as forças produtivas aos limites de um Estado nacional com o qual, sob o capitalismo, elas lutam violentamente para sair? Ou, talvez, nós devamos abandonar a ideia de forças produtivas “desenfreadas”, comprimidas nas fronteiras nacionais, e consequentemente também nas fronteiras da <i>teoria do socialismo em um só país</i>? Teremos que nos limitar às forças produtivas domesticadas, isto é, à uma tecnologia atrasada? (p. 128).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Para os países atrasados da cadeia mundial, apropriar-se dos níveis mais elevados das forças produtivas internacionais possibilita-lhes saltar para novos patamares de produção e distribuição, o que rapidamente pode ser revertido para a classe trabalhadora em diminuição da jornada de trabalho, melhor qualidade de vida, acesso a bens e serviços, etc. A tomada do poder e da produção destrava estas forças produtivas, permitindo a distribuição em massa das forças produtivas mais desenvolvida do planeta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Por outro lado, deve-se considerar que os países com forcas produtivas altamente desenvolvidas têm alto índice de produção e distribuição de mercadorias. Esta produção não pode ser absorvida nos marcos das fronteiras nacionais, por isso demandam ser exportadas e trocadas por outras mercadorias que lhes faltam. Este alto índice de produtividade pode ser apropriado de forma igualitária entre todos os países do globo, permitindo-lhes apropriar-se do que a humanidade tem de mais desenvolvido em termos de capacidade e qualidade produtiva. Também em relação a estes aspectos, a teoria do socialismo em um só pais se mostra reacionária uma vez que, como lembra Trotski “a construção do socialismo em bases nacionais implicaria para esses países avançados um declínio generalizado, uma destruição em massa das forças produtivas, algo totalmente oposto as tarefas do socialismo”. (p.132). Em outra passagem analisa que a teoria do socialismo num só pais “quer dizer que nó temos apenas o direito de ter esperança nos recursos insuficientes da economia nacional, mas que não devemos ousar ter qualquer esperança nos recursos inesgotáveis do proletariado internacional”. (p. 136).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Estas duas medidas: a apropriação das forças produtivas mais desenvolvidas pelos países atrasados da cadeia mundial, somada coletivização mundial das forças produtivas e da produção dos países mais desenvolvido aportariam para um salto na produção e distribuição mundial de mercadorias. Além disso, estes países com forças produtivas mais desenvolvidas, e sobre a égide burguesa, produzirem em larga escala e com preços menores tornam-se inimigos muito poderosos dos países onde o proletariado estabeleceu Estados operários. A produção capitalista dos EUA, Inglaterra, Alemanha e França debilitam grandemente a manutenção das conquistas da revolução de outubro de 1917.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Assim, é necessário pensar a tomada do poder nos países com forças produtivas mais desenvolvidas como meio estratégico, tanto para a defesa do Estado operário, como para a vitória da revolução proletária mundial. Trotski alerta que “<i>forças</i> produtivas mais desenvolvidas não são de maneira alguma um obstáculo menor para a construção do socialismo em um só país que as forças produtivas pouco desenvolvidas, ainda que motivo inverso, a saber, enquanto nas últimas são insuficientes para servir como base, são as bases que provarão ser inadequadas para as primeiras. A lei do desenvolvimento desigual é esquecida exatamente no ponto em que é mais necessária e mais importante”. (p. 132). Desta análise conclui que: “No esforço para provar a teoria do socialismo em um só pais, o projeto de programa comete um erro triplo, quádruplo: exagera as forças produtivas na URSS; fecha os olhos à lei do desenvolvimento desigual dos vários ramos da indústria; ignora a divisão internacional do trabalho e, finalmente, esquece a contradição mais importante inerente à época imperialista, a contradição entre as forças produtivas e as barreiras nacionais.” (p. 133).<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A questão só pode ser resolvida no terreno da revolução mundial</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><br />
<b><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">É uma clara conclusão de que desencadeada um revolução socialista em qualquer país do mundo, este enfrentará imediatamente hostilidades de todos os governos burgueses de todos os outros países capitalistas. A preocupação com invasões militar é uma delas, mas ainda, para a manutenção do Estado operário existe o risco eminente imposto pelo próprio mercado capitalista. Desde a tomada do pode defronta-se com a preocupação a partir da constatação de que todo o mundo ainda é capitalista, estes buscarão de toda forma levar este país socialista a falência, impondo-lhe sanções de todas as formas, concorrência com mercadorias mais baratas e boicote político. A única forma de proteger o Estado operário é buscar o apoio do proletariado de todos os países capitalista, buscando ampliar o poder da revolução pelo estabelecimento de novos Estados operários. No entanto, não é esta a análise feita pela Internacional comunista stalinizada, idealizando a construção do socialismo em um só pais o discurso central da burocracia stalinista baseia-se na busca por convivência militar pacifica com outros países, deixando aberto a flanco do Estado operário ao mercado mundial capitalista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
A nova doutrina proclama que o socialismo pode ser construído na base de um Estado nacional <i>apenas se não houver intervenção</i>. Disso pode e deve seguir – apesar de todas as pomposas declarações do projeto de programa – uma política colaboracionista com a burguesia estrangeira com objetivo de prevenir uma intervenção, já que isso irá garantir a construção do socialismo, quer dizer, resolverá a principal questão histórica. A tarefa dos partidos da Comitern assume, portanto, um caráter auxiliar; sua missão é proteger a URSS contra a intervenção e não lutar pela conquista do poder. Isto é, evidentemente, não uma questão das intenções objetivas, mas da lógica objetiva do pensamento político. (p. 135).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">A teoria do socialismo em um só pais baseia-se então na busca por forma de convivência pacifica com as burguesias internacionalizadas, enquanto idealiza desenvolver o socialismo em um país só “a passos de tartaruga”. No que tange a estratégia internacional, esta perspectiva implica que a Internacional não deve lutar pela tomada do poder, mas sim por estabelecer tratados de paz com seus principais inimigos, as potencia imperialistas, como forma protege a URSS. Esta perspectiva muda radicalmente o papel da Internacional Comunista. Como explica Trotski<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
Se nossas diferenças, obstáculos e contradições internas, que são fundamentalmente um reflexo das contradições mundiais, podem ser resolvidas apenas pelas “formações internas de nossa revolução” sem entrar “no terreno da revolução proletária no mundo todo”, então a Internacional é um tanto auxiliar e decorativa e seu congresso pode ser convocado a cada quatro anos, a cada dez anos, ou talvez nunca mais. Mesmo se acrescentarmos que o proletariado dos outros países deva proteger nossa obra contra intervenções militares, a Internacional deve, de acordo com esse esquema, ter um papel de instrumento pacifista. Sua principal função, a de ser um instrumento da revolução internacional, estará então inevitavelmente relegada a um segundo plano. (135-136).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Para Trotski mesmo que existam breves períodos de estabilidade do desenvolvimento do Estado operário, ou tréguas militares com o imperialismo, os dois sistemas não podem coexistir, um deve aniquilar o outro. Mesmo que não se tenha a derrocada pelos fuzis, ainda pode haver a derrocada provocada pelos tratores e meios de produção mais desenvolvidos. Por isso desarmar apenas o inimigo não basta, é necessário aniquilá-lo. A burguesia pôde buscar fazer o Estado operário sucumbir frente a suas forças produtivas mundializadas e mais desenvolvidas, apoiando-se ainda nos erros da direção revolucionária, mas o oposto também poderia ter ocorrido, o proletariado poderia ter conseguido avançar contra os Estados burgueses, com a estratégia correta, as revoluções proletárias desencadeadas durante todo o século XX poderiam ter triunfado sobre o modo capitalista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) Essa situação instável, na qual o proletariado não pode tomar o poder nem a burguesia se sente firmemente dona da situação deve, mais cedo ou mais tarde, um ano antes ou um ano depois, ser decidida brutalmente em um ou outro sentido, no da ditadura do proletariado ou na consolidação séria e duradoura da burguesia, que se instalará sobre as costas das massas populares, sobre os ossos dos povos coloniais e, quem sabe?, sobre os nossos. “Não há situações absolutamente sem saída”. A burguesia pode escapar de maneira duradoura de suas contradições mais penosas unicamente seguindo o caminho aberto pelas derrotas do proletariado e pelos erros da direção revolucionária. Mas o contrário também pode acontecer. (p. 138).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Evidentemente é necessária uma correta e ajustada política interna no Estado operário que deve ser combinada com a luta pela tomada do poder em outros países. Trotski utiliza uma analogia para explicar esta questão, destaca que os “esforços econômicos internos, constituem uma pequena alavanca que deve ser combinada com outra longa, que é a da luta internacional do proletariado pela. Assim, é indispensável, porém limitada, a capacidade da alavanca curta para a construção do socialismo. A política interna é essencial, mas a política se determina na luta de classes e na economia mundial, por isso Trotski condiciona o triunfo do socialismo em um só país à expansão da revolução em outras partes do mundo, na arena internacional e por fim a revolução mundial. “Nossas contradições internas, que dependem diretamente do andamento da luta europeia mundial, podem regulamentar-se e atenuar-se inteligentemente graças a uma política interna justa, baseada em uma previsão marxista; mas só poderão ser vencidas eliminando as contradições de classe, o que não pode ocorrer antes do triunfo da revolução na Europa”. (p. 138).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">O stalinismo, por outro lado, subordina a revolução mundial aos êxitos da revolução em um só país. Todas as questões internacionais são orientadas a partir da defesa nacional, da convivência pacifica com o imperialismo. Para o stalinismo a revolução pode seguir sustentando-se isoladamente a partir de acordos com outros países capitalistas, esperando o desenvolvimento das forças produtivas internacionais até que a URSS tornasse-se forte o suficiente ao mesmo tempo em que o proletariado se desenvolvesse e fizessem novas revoluções. Com isso, mesmo na época de crises guerras e revoluções os partidos devem abster-se de organizar o proletariado para a tomada do poder, pois isso causa tencionamentos sem medida na cadeia das relações internacionais. Como o stalinismo não pretendia tomar o poder, mas sim, pretendia viver pacificamente com o capitalismo, desenvolvendo o socialismo a passos de tartaruga, fazia-se desnecessário discutir a estratégia de tomada do poder. No entanto não existe vácuo na política, se não se discute a tomada do poder, ela tende a ser improvisada, uma vez que na época imperialista as crises, guerras e revoluções são inevitáveis.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 0px;">
<b><span style="font-size: 12pt;">A teoria do socialismo em um só país, fonte de erros social-patriotas inevitáveis</span></b><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span><br />
<b><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski argumenta que não se pode exagerar as conquistas alcançadas pelo proletariado, nem tão pouco menosprezar as dificuldades colocadas a um Estado operário isolado em meio ao inferno capitalista. Mas é justamente o que faz a burocracia stalinista “A teoria do socialismo em um só país leva inevitavelmente a menosprezar as dificuldades que deve ser vencidas e a exagerar as realizações obtidas. Não se pode encontrar afirmação mais antissocialista e antirrevolucionária que a declaração de Stalin de que noventa por cento do socialismo já foi realizado em nosso país. Isso é produto da imaginação de um burocrata vaidoso. Dessa maneira pode se comprometer irremediavelmente a ideia de sociedade socialista ante as massas trabalhadoras”. (138-139). Ainda, o proletariado convive dia-a-dia com as dificuldades e consequências do socialismo ilhado em um só pais Esta realidade objetiva, somada a concorrência imperialista e as sanções do mercado burguês, constituem importantes determinações para que não se exagere as conquistas alcançadas nem menosprezar as dificuldade objetivas colocadas ao Estado operário, é com esta base que se deve considerar os grandiosos êxitos da revolução proletária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 12pt 0cm 12pt 4cm; text-indent: 0px;">
(...) Os êxitos obtidos pelo proletariado soviético são grandiosos se levarmos em conta as condições em que foram alcançadas e o baixo nível cultural herdado do passado. Mas essas realizações são muito pequenas se as colocarmos na balança do ideal socialista. Para não desanimar o operário, o trabalhador rural, o camponês pobre, que após onze anos da revolução veem ao seu redor a miséria, a pobreza, o desemprego, as filas nas padarias, o analfabetismo, os meninos vagabundos, a embriaguez, a prostituição, é preciso dizer rigorosamente a verdade e não mentir elegantemente. Em vez de mentir, afirmando que noventa por cento do socialismo já está realizado, é preciso dizer que atualmente, segundo nosso nível econômico e nossas condições de vida cotidiana e cultural, estamos muito mais próximos do capitalismo, e mais ainda do capitalismo atrasado e inculto, que da sociedade socialista. É preciso dizer que só começaremos a verdadeira organização socialista depois que o proletariado dos países mais avançados tenham conquistado o poder, que é preciso trabalhar sem descanso para instaurar o socialismo, usando duas alavancas: uma curta, a dos nossos esforços econômicos internos, a outra longa, da luta internacional do proletariado. (p. 139).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt;">Trotski coloca a questão na revolução em um patamar estratégico internacional. A Grande Estratégia é a referencia a revolução em termos internacionais como determinante das revoluções nacionais. Com isso deve-se apreender a necessidade eminente da revolução mundial, pois “não se pode construir o paraíso socialista como um oásis no inferno do capitalismo mundial”. Sem expandir a revolução proletária em nível mundial, com a conseqüente planificação econômica mundial, não se pode avançar rumo à extinção da moeda, do Estado, etc. A Grande Estratégia determina pensar as questões internacionais, como está a economia mundial, a política, as crises e guerras, bem como a necessidade da revolução internacional e suas implicações para as revoluções nacionais. As discussões em torno do Programa da Internacional Comunista, centrada sobre as questões da tática e estratégia desencadearam profundas discussões entre a militância dos Partidos Comunistas. O mesmo deu no Brasil.</span><br />
<span style="font-size: 12pt;"><br /></span>
<br />
<div style="font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: normal; text-indent: 0px;">
<b>REFERÊNCIAS</b></div>
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</div>
<div id="ftn3">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref3" name="_ftn3" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[3]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Confira fonte: <a href="http://www.marxists.org/portugues/stalin/1924/leninismo/index.htm">http://www.marxists.org/portugues/stalin/1924/leninismo/index.htm</a>
</span></div>
</div>
<div id="ftn4">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref4" name="_ftn4" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[4]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Importante destacar que Mazzeo, além de estudioso do tema é um dos
membros dirigentes que compõe o Comitê Central do PCB, isto desde o inicio da
década de 1980 até os dias de hoje. O partido também possui tendências
internas, sendo que Mazzeo pertence a ala caiopradiana do partido, os marxistas
que assimilam aspectos teóricos de Caio Prado tendem a revisar elementos da
perspectiva stalinista sem romper com a estratégia da revolução por etapas.
Confira: <i>Caio Prado Junior e a gênese do
marxismo reformista no Brasil</i>. (AFONSO, 2008).</span></div>
</div>
<div id="ftn5">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref5" name="_ftn5" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[5]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Confira: <a href="http://www.marxists.org/portugues/stalin/1924/tatica/index.htm">http://www.marxists.org/portugues/stalin/1924/tatica/index.htm</a></span></div>
</div>
<div id="ftn6">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref6" name="_ftn6" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[6]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> <a href="http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf">http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf</a>
</span></div>
</div>
<div id="ftn7">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref7" name="_ftn7" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[7]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> <a href="http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf">http://www.marxists.org/espanol/stalin/obras/oe1/Stalin%20-%20Obras%20escogidas.pdf</a></span></div>
</div>
<div id="ftn8">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref8" name="_ftn8" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[8]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Confira: <a href="http://www.hist-socialismo.com/docs/ProgramaIC1928.pdf">http://www.hist-socialismo.com/docs/ProgramaIC1928.pdf</a></span></div>
</div>
<div id="ftn9">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref9" name="_ftn9" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[9]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Cabe conferir o documento <i>Estatutos
da Internacional Comunista</i> no qual colaboraram diretamente Lênin e Trotski.
Neste documento, escrito em junho de 1920 sintetizando as deliberações do
Segundo Congresso da III Internacional Comunista, os autores reafirmam e
complementam as teses centrais desenvolvidas em uma série de obras por Marx e
Engels, tais como e necessidade da independência política e organizativa do
proletariado contra a burguesia e o patronato (do campo e das cidades) e seu
Estado burguês.</span></div>
</div>
<div id="ftn10">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref10" name="_ftn10" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[10]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Mas para que se efetive o ciclo a mercadoria tem que ser vendida. Em
momentos de crise de superprodução torna-se mais difícil vende-las e o ciclo
D-M-D’ não se realiza. As mercadorias ficam estocadas e desvalorizam-se.</span></div>
</div>
<div id="ftn11">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref11" name="_ftn11" title=""><span class="Caracteresdenotaderodap"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="Caracteresdenotaderodap"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[11]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Confira: </span><i><span lang="PT" style="font-size: 8.0pt;">Bolchevismo
e stalinismo: um velho debate.</span></i><span lang="PT" style="font-size: 8.0pt;">
Disponível no site: </span><span lang="PT"><a href="http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_06.pdf">http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/03/out3_06.pdf</a></span></div>
</div>
<div id="ftn12">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref12" name="_ftn12" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[12]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> O autor defenderá que o Brasil nutria “resquícios feudais” e a forma
de superá-los seria eleger como prioridade do Partido Comunista apoiar a
burguesia em sua luta histórica contra o feudalismo e não contra o capitalismo
e a totalidade da burguesia. Apenas numa próxima fase, depois de já
estabelecida a democracia burguesa, é que seria possível lutar pelo socialismo,
nesta fase sim o proletariado poderia ser a “cabeça da revolução”. Dentro do
mesmo partido Caio Prado Junior, assimilando elementos centrais da produção da
Liga Comunista Internacionalista LCI, defenderá que não existe resquícios
feudais no Brasil. Que ao invés de semi-feudal o país é um capitalismo de
desenvolvimento colonial e por isso atrasado. Mas Caio Prado não rompe com a
estratégia do PCB. O autor defende que a forma para o Brasil livrar-se dos
resquícios coloniais seria apoiar a burguesia nacional progressista e sua
revolução democrática, esta sim é que deveria ser a “cabeça da revolução”. Ou
seja, também para Caio Prado reafirma-se a necessidade da revolução por etapas
e a subalternização do proletariado aos interesses de frações da burguesia.
(Cf. Afonso, 2008: Mazzeo, 2003: Corsi, 2003).</span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span lang="PT"><br /></span></div>
<div class="MsoFootnoteText">
<span lang="PT"><br /></span></div>
</div>
<div id="ftn13">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref13" name="_ftn13" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[13]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> In: ABRAMO & KAREPOVS. <i>Na
contracorrente da história</i>. Editora brasiliense. 1987.</span></div>
</div>
<div id="ftn14">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref14" name="_ftn14" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[14]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Caio Prado Junior, no livro Formação do Brasil contemporâneo,
publicado em 1942, e em História Econômica do Brasil de 1945 partirá desta base
teórica desenvolvida pelos trotskistas da década de 1930.</span></div>
</div>
<div id="ftn15">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref15" name="_ftn15" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[15]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> O registro de correspondências entre Lívio Xavier e Caio Prado Júnior
atestam que este último teve conhecimento das teses dos troskistas (CEMAP). A
revista ISKRA nº 1, em matéria sobre Caio Prado Júnior de Daniel Angyalossy
Alfonso, debate essas correspondências.</span></div>
</div>
<div id="ftn16">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref16" name="_ftn16" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[16]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Essa decisão fora tomada em 01/10/1933 na realização de uma
Conferência Nacional extraordinária da LC que aprova a proposta de Trotski e da
Oposição de Esquerda de começar a organizar a IV Internacional.</span></div>
</div>
<div id="ftn17">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref17" name="_ftn17" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[17]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> In: ABRAMO & KAREPOVS. <i>Na
contracorrente da história</i>. Editora brasiliense. 1987. SACHETTA. <i>O caldeirão das bruxas</i>. Campinas.
Editora da Unicamp. 1992.</span></div>
</div>
<div id="ftn18">
<div class="MsoFootnoteText">
<a href="file:///C:/Users/Alessandro%20de%20Moura/Desktop/Tudo/Pesquisa%20doutorado/Doutorado/Livro/Livro%20-%20Ultima.doc#_ftnref18" name="_ftn18" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span lang="PT" style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 10.0pt;">[18]</span></span><!--[endif]--></span></span></a><span lang="PT"> Para uma critica a tal visão cabe conferir as obras: ABRAMO &
KAREPOVS. <i>Na contracorrente da história</i>.
Editora brasiliense. 1987: SACHETTA. <i>O
caldeirão das bruxas</i>. Campinas. Editora da Unicamp. 1992: O trotskismo no
Brasil (COGGIOLA, O. In:<i> Corações
vermelhos</i>, Mazzeo, 2003), <i>Caio Prado
Junior e a gênese do marxismo reformista no Brasil</i>. (AFONSO, 2008).</span></div>
</div>
</div>
</div>
Alessandro de Moura - Doutor em Ciências Sociais pela UNESP/Marília - alessandromouracs@yahoo.com.br.http://www.blogger.com/profile/12242386900401430523noreply@blogger.com0